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Trauina T é r m i c o : | Lesões Provocada pelo í a l o r Ao final deste capítulo, o leitor estará apto a: Listar as duas fontes de calor humano Listar quatro mecanismos de transferência de calor para o interior e exterior do corpo Listar os tipos de energia que provocam lesão local Listar os critérios para avaliar a gravidade da queimadura Listar as duas lesões que provocam risco iminente de morte que resultam de queimaduras que requerem tratamento préhospitalar Listar cinco sinais que indicam lesão por inalação e possíveis complicações respiratórias após queimaduras Aplicar a regra dos nove para adultos e crianças Listar os elementoschave na avaliação e atendimento de queimaduras químicas e elétricas Diferenciar entre hipertermia grave e não grave Listar os principais elementos de tratamento da hipertermia por causas diferentes Diferenciar entre congelamento superficial e profundo Formular um plano de atendimento para o paciente com lesão pelo frio Diferenciar hipotermia primária e secundária Formular um plano de atendimento para pacientes com hipotermia Diferenciar os mecanismos e cuidados da hipotermia por submersão e imersão 2 9 8 ATENDIMENTO P R É - H O S P I T A L A R AO TRAUMATIZADO CeBfrio U m jovem de 19 anos , empregado de um restaurante cozinhando com gordura quente , queima sua mão e derruba a gordura em toda a perna direita, onde agora estão se formando bolhas. hto é uma queimadura grave? Qual é a profundidade e a superfície envolvidas? Bombeiros retiram uma criança inconsciente de um prédio incendiado depois de achála sob uma cama. A criança não tem que imaduras visíveis. Qual seria a causa provável da inconsciência da criança? Um homem aclulto é encontrado inconsciente n uma casa sem aquecimento em New England, Estados Uni dos, numa manhã de fevereiro. Sua respiração é lenta e superficial, sua pulsação fraca e lenta na carótida. Que tipo de hipotermia você suspeita? Como o tratará? Um corredor de mara tona é en cont rado fora do percurso, confuso, t ransp i rando e andando com mui ta dificuldade. Quais são as possíveis causas de sua desorientação? Isto é um perigo para sua vida como resultado de um problema térmico ou outra causa? O fato de ele estar transpirando faz alguma diferença na sua avaliação? Em um dia com temperaturas abaixo de zero, uma mulhe r sem teto se queixa de falta de sensibilidade nas extremidades inferiores, nos pés e tornozelos. Você tenta reaquecer esta lesão na cena? Quais são as possíveis complicações do reaquecimento? Este capítulo cobre um leque de possíveis traumas e doenças causadas por trauma térmico. O trau ma térmico inclui uma variedade de lesões e condi ções diferentes. Para fins de aprendizado, estas lesões são divididas em duas categorias principais calor e frio. Cada uma delas é subdividida em lesões (cutãne as) localizcidas, como queimaduras ou congelamen tos causados pelo frio, e pwblcmas sistémicos, como hipertermia ou hipotermia, que produzem eíeitos ge neralizados no corpo inteiro. Dentro da categoria de calor estão as diferenças entre lesòes por queimadu ras (por fontes térmicas e não térmicas), aquelas con dições nas quais a temperatura do corpo é elevada e aquelas que são provocadas por calor, mas nas quais a própria temperatura do corpo não é elevada. A ca tegoria de frio inclui congelamento, hipotermia e le sões por imersão e submcrsão. Algumas lesões por frio são insidiosas e sorrateiras nos pacientes, especi almente os muito jovens e os mais velhos. Este capítulo também inclui a discussão sobre as diferentes prioridades necessárias para o atendimen to de pacientes com trauma térmico. Por exemplo, um paciente gravemente hipotérmico requer reaque cimento no ambiente hospitalar, mas a temperatura central do paciente pode necessitar de estabilização antes de ser transportado a um hospital sem causar fibrilação ventricular. Um paciente queimado com trauma multissistêmico é tratado primeiro do trau ma e qualquer deficiência sistêmica relacionada à queimadura e, só num segundo momento, das lesões de queimaduras na superfície. Anatomia A pele, o maior órgão do corpo, é composto de três ca madas de tecidos — a epiderme, a derme e o tecido sub cutâneo. A epiderme a camada mais externa é com posta inteiramente de células epiteliais sem vasos san güíneos. Abaixo da epiderme está a derme, a mais espes sa, composta de uma estrutura de tecidos conectivos, que contém vasos sangüíneos, terminações nervosas. glândulas sebáceas e sudoríparas. A camada subcutânea é uma combinaçào de tecido elãstico e fibroso, assim como depósito de gorduras (Figura 111). A pele tem várias funçõcs no corpo humano, a mais importante é a de formar uma barreira protetora contra o ambiente externo, que ajuda na prevenção de infec ções. A pele também previne a perda de fluidos e auxilia na regulação da temperatura coqDÓrea. A camada dér mica contém as terminações nervosas que comunicam impulsos entre o cérebro e o corpo. Quando uma lesão térmica ocorre na pele, muitas ou todas essas funções são destruídas ou gravemente comprometidas. Essa bar reira de proteção deve ter perfusão adequada, com célu las vermelhas e oulros nutrientes para manter a sua so brevivência. Calor, além de coagular a proleína pode comprometer o fluxo sangüíneo. O conhecimento da área superficial das várias re giões do corpo auxilia o socorrista a estimar o tama nho relativo da área queimada. Essa definição vai aju dar na determinação da quantidade de reposição vo lêmica que o paciente necessita. A porcentagem de área de superfície total do corpo representada por cada CAPÍTULO 11 T r a uma T é r m i c o : Lesões P r o v o c a d a s pe l o Ca l o r e F r i o 2 9 9 j Epiderme Derme Tecido celular subcutâneo Músculo Figura 11-1 A pele é composta de três camadas epiderme, derme e tecido subcutãneo c a musculatura associada. Algumas camadas contêm estruturas como glândulas, folículos pilosos. vasos sangüíneos c nervos. A profundidade da queimadura determina a porção dos órgãos envolvida. parte ou região do corpo varia com o tamanho de cada região. A porcentagem também varia conforme o in divíduo se desenvolve da infância até a maturidade. Um cálculo aproximado pode ser realizado utilizan dose a regra dos nove (Figura 112). Embora esse valor não seja totalmente preciso, é o suficiente para determinar a reposição volêmica necessária, estimar a mortalidade e calcular outros componentes de tera pia de queimados que utiliza a área de superfície cor pórea como fator cle cálculo. Fisiologia O corpo trabalha com uma variação estreita de tem peratura de aproximadamente 3 graus acima ou abai xo de 37°C. Se a temperatura central se altera além desses limites, pode haver graves lesões ou até a mor te. Esse lênue limite é mantido por mecanismos ho meostáticos regulados pelo hipotálamo. O hipotála mo recebe estímulos sensitivos das regiões internas e externas do corpo. Ele então inicia a produção de calor e toma medidas para preservação deste calor ou re duz a produção de calor e estimula mecanismos de perda de calor. O corpo ganha calor basicamentecomo um subproduto do metabolismo. O corpo pode au mentar a produção do calor ao aumenlar o metabo lismo, principalmente por grande atividade muscu lar como tremor. O corpo é muito menos eficiente em ganhar calor de fontes externas, tais como parar em frente de fogo ou deitar numa praia ensolarada. O corpo reduz a percla de calor através da vasoconstri ção e da formação de um circuito secundário de ca lor, carregando o sangue para longe da pele. Algumas medicações também podem interferir na termorre gulação (Quadro 111). O calor (energia) é transferido de uma área de maior concentração para uma de menor concentra ção, através dos qualro métodos seguintes. Como o calor é transferido de uma área mais quente para uma menos quente, o corpo humano pode tanto ganhar como perder energia por esses métodos. O socorrista deve entender como o calor se transfere para poder tratar um paciente com lesões provocadas pelo calor ou pelo frio. 1. Radíação é a transferência clirela de energia de um objeto aquecido para outro mais frio pela radia ção infravermelha. Esse método não usa interme diários como água ou ar. O sol aquece a terra atra Regra dos nove , 18% Adulto 9% 18% - — —18% \ Criança 18% 18% 9% " 9% 1% 13,5%— —13,5% II Figura 11-2 A determinação da quantidade da queimadura é uma importante consideração para a reanimação do paciente queimado. A regra dos nove é um método eficiente e simples para esta determinação. 3 0 0 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMATIZADO Quadro 11-1 Medicações que interferem com a termorregulação DROGAS QUE AUMENTAM A PRODUÇÃO DE CALOR Hormônios da tireóide Anfetaminas Antidepressivos tricíclicos Ácido lisérgico dietilamida (LSD) DROGAS QUE DIMINUEM A SEDE Haloperidol DROGAS QUE DIMINUEM A SUDORESE Antihistamínicos Anticolinérgicos Fenotiazínicos DROGAS QUE MODIFICAM ATERMORREGULAÇÃO PELA ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE VASOATIVA Álcool Nicotina vés do espaço por esse método de transferência de energia. As lâmpadas incandescentes de res taurantes também utilizam esse método. Alguns hospitais utilizam essas lâmpadas para aquecer os pacientes. 2. Condução é a maneira de se transferir calor atra vés do contato direto entre dois objetos. O calor "flui" da mão para o que ela tocar se esse local tiver menor temperatura. lsso é importante se o paciente estiver deitado sobre um gramado frio ou sobre o asfalto quente. O paciente geralmente perde calor duas vezes mais para o solo que para o ar, logo o socorrista deve retirar o paciente do chão assim que possível e não apenas cobrilo com um cobertor. Os pacientes perdem calor muito mais rapidamente na água que no ar (mesmo estando ambos na mesma temperatura), por isso é tão im portante que se mantenha o paciente seco. 3. Convecção é o aquecimento da água ou do ar em contato com o corpo. A remoção do ar ou da água fará com que o corpo tenha que aquecer o novo ar ou água que eventualmente substitua o que saiu. A roupa úmida utilizada pelo mergulhador o pro tege contra a convecção. Esse é também o meca ntsmo primário da sensação térmica causada pelo vento (Tabela 111). 4. Evaporação da água de líquido para vapor é um método extremamente eficiente de perda de ca lor. Um nível basal tanto de água e da conseqüen te perda de calor por ar exalado, da pele e mem branas mucosas é chamado de perdas insensíveis e é causado pela evaporação. Essa perda insensível é responsável por aproximadamente 10% da pro dução do calor basal, mas quando a temperatura do corpo aumenta, esse processo se torna mais ativo (sensível) e se produz suor. A quantidade de água produzida pode chegar a quase 4 litros por hora. O resultado é uma perda de calor de até 30 vezes mais do que a que ocorre nas perdas insen síveis normais. Muitas doenças e problemas iatrogênicos, incluin do medicações, podem comprometer a termorregu lação e, portanto, predispor o paciente ao trauma de calor ou de frio e doenças. Hipotermia ou hiperter mia provocada por essas condições são chamadas de doenças secnndárias. Condições e Traumas Relacionados com o Calor A pele humana não mostra lesão aparente quando exposta a temperaturas acima do normal 40°C, mes mo por períodos de tempo relativamente longos. En tretanto quando exposto a temperaturas muito mais altas por períodos mais curtos de tempo ou tempera turas moderadamente mais altas por períodos mais longos, ocorre destruição de tecido. O mesmo prin cípio temperatura/tempo é verdadeiro na exposição de várias temperaturas de frio. Traumas térmicos também diferem com relação ao local, extensão e profundidade. As lesões pelo ca lor nas mãos, pés, genitália ou face, e queimaduras que circundam completamente as áreas do corpo são traumas de alta prioridade. Outros fatoreschave para o socorrista considerar em pacientes com queimadu ras são lesões por inalação, tempo de exposição, tem peratura corpórea central, idade do paciente, estado geral de saúde, outras lesões e histórico méclico. Trauma por queimadura é a quarta causa de mor te por trauma, precedida apenas por incidentes com veículos automotores, traumas penetrantes e quedas. Milhões de pessoas todos os anos procuram por tra tamento médico por queimaduras. Aproximadamen te 75.000 pessoas requerem hospitalização e aproxi madamente 6.000 morrem cada ano. Esforços na pre venção, como campanhas de saúde pública mostran do a importância dos detectores de fumaça, são res ponsáveis por uma sigmficaliva diminuição no nú mero de mortes relacionadas com queimaduras. En tretanto a morbidade, a longo prazo, é aincla um pro CAPÍTULO 11 T rauma T é rm i c o : Lesões P r o vocacas : Í : '. : ar e F r í : : Tabeta Velocidade estimada do vento (em mph) Calma 5 10 15 20 25 30 35 40 ensação té rmica causada pelo vento Leitura real do termômetro (°C) 20 10 0 -10 - 2 0 - 3 0 Temperatura equivalente causada pelo vento (°C) 50 48 40 36 32 30 28 27 26 40 37 28 22 18 16 13 11 10 30 27 16 9 4 0 2 4 6 20 16 4 5 10 15 18 21 21 10 6 9 18 0 5 24 -10 15 20 -25 29 33 35 37 32 39 44 48 51 53 33 ^15 53 59 63 62 69 26 ^16 58 67 30 36 58 72 -40 -41 70 74 79 82 85 82 88 94 98 100 85 96 -104 -109 -113 -116 83 99 110 118 -125 -129 -132 .':': -140 -145 148 (Velocidade do vento maior que 40 mph tem pouco efeito adicional) Pouco perigo < que 5 horas com pele seca. Muito perigo pela falsa sensação de segurança Perigo crescente. Perigo de congelamento por exposição dos tecidos do corpo em 1 minuto Muito perigo. Áreas do corpo podem se congelar por exposição em 30 segundos Pé de trincheira ou pé de imersão podem ocorrer em qualquer ponto desse quadro De Sanders: M. Mosb/s paramedic textbook, 2 ed, St Louis,2001, Mosby. Instruções: Se possível, medira temperatura local e a velocidade do vento. Se não for possível, estime. Consulte a tabela na temperatura mais aproximada ao intervalo de 10°C, na parte superior da tabela, com a velocidade apropriada do vento na coluna da esquerda. O cruzamento desses valores dará a sensação térmica de temperatura (isto é, a temperatura que seria causada pelo mesmo parâmetro de resfriamento sob condições calmas). Note que não levando em conta o parâmetro de resfriamento, a pessoa não esfria abaixo da temperatura real do ar, a não ser que esteja molhada. blema importante associado a queimaduras. Os tipos de queimaduras variam dependendo da faixa etária envolvida. Por exemplo, escaldaduras com líquidos quentes são mais comuns em préescolares, já lesões provocadas por chamas são mais comuns em crian ças maiores. Queimaduras industriais por líquidos ou agentes cáusticos são mais comuns em aclultos. Lesões associadas são responsáveis por uma sig nificativa parte da morbidade e mortalidade causa das por traumas térmicos. Lesões por inalação são causas cle morte. Lesões químicas do tecido pulmo nar e subprodutos tóxicos decorrentes de combus tão são fatores primordiais na conlribuição de pato logia pulmonar. Traumas da árvore traqueobrônqui ca são geralmente causados por gases superaqueci dos. Traumas pulmonares são via de regra devidos a agentes químicos. Traumas cutâneos por calor (queimaduras) O calor coagula proteínas. É assim que se cozinha um ovo. Este é o mecanismo primário de trauma com queimaduras. Baixos níveis cle calor por perío dos prolongados ou altos níveis de calor por perío dos curtos com igual troca de energia produzem o mesmo resultado. As prioridades no cuidado às vítimas de queima duras seguem os mesmos princípios e prioridades que para qualquer vítima cle trauma: 1. Pare o processo de queimadura (térmica ou quí mica). 2. Realize o exame primário para avaliação e trata mento. 3. Providencie os cuidados específicos para lesões isoladas (queimaduras). Muitos pacientes morrem como resultado de um trauma térmico por que inalam os subprodutos car bônicos da combustão, inalam gases tóxicos ou por estarem em ambiente hipóxico por período prolon gado de tempo não pelas queimaduras propriamente ditas. Muitas vezes esses efeitos podem não se mos trar, com sinais e sintomas alarmantes, logo após o trauma. A probabilidade de essas lesões existirem deve ser identificada, uma alta concentração de oxigênk 3 0 2 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMATIZADO deve ser administrada e ventilação assistida poderá ser dada, se necessário. Uma vítima de incêndio, em local confinado por qualquer período de tempo, deve ser considerada corao tendo monóxido de carbono em seu sangue, assim como tendo problemas pulmonares e sistêmi cos causados por inalação de produtos tóxicos. Esse paciente deve ser considerado inslável, mesmo não se tendo encontrado alterações contraditórias no exa me primário e secundário. e deve ser transportado para um hospital apropriado sem demora. Oxigênio deve ser administrado em uma concentraçào de, no mínimo, 85% (FiO, de 0.85). A oximetria de pulso pode ser erroneamente alta nestes pacientes, porque o monóxido de carbono engana o oxímetro de pulso, ao dar uma leitura normal, quando o paciente pode estar hipóxico na verdade. Trauma por queimaduras com freqüência inclui outros traumas não térmicos, resultantes de quedas, saltos, ou ao ser atingidos por objetos. Em alguns casos essas lesões associadas podem ser mais sérias e apresentar riscos maiores que as queimaduras. O socorrista deve avaliar a presença de traumas asso ciados. AVALIAÇÃO DE QuEIMADURAS Avaliação da cena. Ao chegar na cena do inciden te, o socorrista deve avaliar a situação rápida e corre tamente. Ameaças potenciais à segurança do pacien te e da equipe devem ser identificadas e atendidas de imediato. Se o corpo de bombeiros já tiver chegado, o comandante da unidade deve determinar este con trole. Os socorristas não devem tentar salvamentos para os quais não têm treinamento. experiência e_equi=_ pamenio. Uma vez que o paciente estiver em um local seguro, o processo de queimadura deve ser interrompido para eliminar o aumento do trauma e da lesão tecidual. Exame Primário - (Avaliação Inicial). Durante o exame primário, deve ser dada atenção redobrada à permeabilidade da via aérea do paciente incluindo a busca de sinais de trauma por inalação. Estes sinais incluem queimaduras da face e da parte alta do tó rax, chamuscamento da face e dos pelos nasais, es carro carbonáceo, rouquidão, estridor ou queima duras ao redor da boca e do nariz. O envenenamen to por fumaça, monóxido dc carbono e lesões respi ratórias deve ser considerado quando houver expo sição num espaço confinado. Uma vez que a via aé rea estiver segura, a avaliação deve incluir freqüên cia de pulso, esforço ventilatório, coloração da pele e nível de consciência. Exame Secundário (Histórico e Exame Físico Direcionado). Com pacientes críticos e em ambi entes potencialmente instáveis, a realização do exa me secundário é inapropriada até que ambos, paci ente e ambiente, estejam livres de perigo. Em vários casos a única maneira de garantir um ambiente segu ro é transportar o paciente. O socorrista deve prestar atenção a lesões críticas e à estabilização da coluna. Quando não houver condições críticas que requei ram atenção e o ambiente é seguro, um exame minu cioso da cabeça aos pés, avaliação das queimaduras e outras lesões, o histórico médico pertinente e iclenti ficação de alergias (quando esta informação for pos sível) devem ser realizados rapidamente. Durante este tempo. locais para punção de acesso intravenoso de vem ser localizados. TRATAMENTO DE QUEIMADURAS Via aérea e ventilação. Devido à grande possibili dade de oxigenação inadequada e de diminuição da circulação, qualquer paciente, consciente ou incons ciente, que apresente trauma térmico deve ser trata do com altas concentrações de oxigênio suplementar e a via aérea e ventilação, monitoradas. Monóxido de carbono e cianeto respondem bem a concentrações de oxigènio o mais próximo possível de 100% (FiO, de 1,0). O socorrista deve utilizar esse procedimento durante o transporte quando existir a possibilidade de um ou outro gás. Um paciente estável com reílexo de vômito intacto e via aérea pérvia deve receber oxi gênio e ser monitorado. Intubação endotraqueal cleve ser realizada se necessário. Queimaduras que levam a problemas laríngeos precoces incluem edema pro veniente cle lesão por vapor ou produtos químicos. Embora o tratamento com intubação endotraqueal possa ser necessário, o edema das estruturas da larin ge pode permitir uma só tentativa. A pessoa mais ca pacitada na cena deve fazer essa tentativa. A chance de laringoespasmo é maior em pacientes com lesão por calor na laringe. No paciente em apnéia ou em hipóxia, a intuba ção endotraqueal deve ser realizacla precocemente para iniciar ventilação com pressão positiva e preve nir aspiração. Quando o paciente hipóxico liver o reflexo de deglulição, a intubação em seqüência rá pida deve ser considerada.Intubação nasotraqueal às cegas pode ser necessária se a equipe no local não for habilitada para a utilização da intubação em seqüên cia rápida. Laringoespasmo pode ocorrer pelo toque do laringoscópio nas cordas vocais. Se a via aérea se tornar obstruída, a ventilação percutânea transtra queal a jato é adequada, se o protocolo local permitir. Pacientes com queimaduras chamuscadas ao re dor de todo o tórax podem ter a expansão da cavi CAPÍTULO 11 Trauma Térmico: Lesões Provocadas pelo Calor e Frio dade torácica limitada. Essa restrição dos movimen tos provocada pela diminuição da elasticidade do tecido queimado resulta em volume corrente e vo lume minuto inadequados. A minoria destes paci entes pode necessitar de incisões (escarotomias) no tecido queimado para permitir uma melhor expan são do tórax. Um pessoal bem treinado poderá ter que realizar este procedimento no local da ocorrên cia. A decisão de realizar esse procedimento deve ser tomada em conjunto com a equipe cirúrgica de queimados que irá receber o paciente. Se não hou ver equipe treinada, o paciente deve ser intubado e ventilado com balão dotado de válvula unidirecio nal com altas concentrações de oxigênio e transpor tado rapidamente ao hospital mais próximo, com condições de reanimar esse tipo de vítima de quei maduras graves. Circulação. Lesões associadas num paciente quei mado podem levar a uma redução no volume circula tório de sangue, diminuindo o transporte de oxigê nio para os órgãos do corpo. A queda do volume san güíneo comumente associada a queimaduras nào ocor re logo após a queimadura. Normalmente 6 a 8 horas passam antes que este tipo de choque ocorra. Cho que na cena ocorre mais comumente associado a ou tras causas. O tratamento da hipovolemia deve in cluir as seguinles medidas: Devem ser feitas avaliações de lesões associadas. Adminislração intravenosa de solução Ringer lac tato ou solução salina normal alravés de cateteres de grosso calibre a uma dosagem desejada deve ser feita a caminho do hospital, a menos que exis tam outras condições que contraindiquem ulili zação de fluidos. Um membro superior sem queimadura deve ser utilizado para o acesso intravenoso a não ser que ambos os membros estejam afetados. Neste caso o acesso venoso pode ser realizado através da área quei mada, utilizando um cateter um pouco mais longo para evitar deslocamento do cateter por um edema associado que pode se formar mais tarde. Ainda que existam várias fórmulas para a reposi ção volêmica, a fórmula de Parkland serve como um bom procedimento de atendimento em casos graves no ambiente préhospitalar, porque não depende de achados laboratoriais. Esta fórmula indica que o pa ciente deve receber 4 mL de íluido nas primeiras 24 horas para cada 1% de área corpórea queimada de segundo ou terceiro grau (veja pág. 305) por quilo de peso do paciente. A metade desse total deverá ser administrada nas primeiras 8 horas. Reposição de volume nas primeiras 24 horas = 4 mL x porcentagem de superfície corpórea queimada x peso (kg) O exemplo a seguir, usando este método. ... necessidade de reposição volêmica intravascula coce. Um paciente de 70 kg tem queimadura de se gundo grau em 50% da superfície corpórea. A reposi- ção de volume nas primeiras 8 horas pode ser calcu- lada como se segue: Reposição de volume nas primeiras 24 horas = 4 mL x 50% x 70 kg = 14.000 mLou 14 L 14 L —— = 7 L nas primeiras 8 horas A fórmula a seguir pode ser utilizada para calcu lar o número de gotas por minuto utilizando um equi pamento de 10goias: Gotas por minuto = quantidade a ser infundida x gotejamento do sistema Tempo (min) _ 7.000 mLx 10 gotas 480 min = 145 gotas/min por um acesso venoso ou 72 gotas/min por cateter em 2 acessos O total em 8 horas pode ser usado como base para calcular a taxa de gotejamento que se inicia no local da ocorrência. Entrelanto o estado hemodinâmico do paciente e a presença de outras lesões também de vem ser levados em conta. Atualmente muitos centros de queimados utilizam outros métodos aceitáveis para a reposição de fluí dos. Todos os socorristas devem conhecer e usar o método preferido do centro hospitalar ao qual trans portarão os pacientes queimados. TRATAMENTO DA DOR A dor que um paciente queimado experimenta está relacionada com a gravidade da queimadura. Quei maduras de terceiro grau (espessura total) são indo lores devido à destruição das terminações nervosas; no entanto queimaduras de segundo grau (espessu ra parcial) produzem muita dor. Como queimadu ras de segundo grau estão habitualmente associadas a queimaduras de terceiro grau, pacientes com quei maduras de terceiro grau podem sentir dores de for te intensidade. 304 ATENDIMENTO PRÉHOSPITALAR AO TRAUMATIZADO Analgésicos, como a morfina ou óxido nitroso, po dem ser utilizados para aliviar a dor. Morfina pode cau sar vasodilatação, especialmente se houver hipovole mia e nesses casos a reanimação com volume deve ser adequada. Relatase que a morfina é metabolizada mais rapidamente na presença de queimaduras e sua dose deve ser corrigida. Tanto a morfina quanto o óxido nitroso podem levar à depressão venlilatória e são pe rigosos se houver choque ou problemas ventilatórios. Fentanil tem se tornado mais popular porque não pro voca as alterações hemodinãmicas e ventilatórias da morfina. O uso de qualquer analgésico deve ser basea do nas condições gerais do paciente, não apenas pela quanüdade de dor; contudo, a dor deve ser tratada cle forma adequada. Qualquer analgésico escolhido deve ser utilizado por via intravenosa. Outro mélodo de controle da dor é o resíriamento da ferida com curativos frios, úmidos e estéreis. Não há evidências que esse método produza controle da dor; entretanto a sensação de resfriamento traz muitas vezes benefícios psicológicos ao paciente. Utilizar com pressas frias e úmidas para esfriar a área queimada e reduzir a quantidade de tecido lesado também não está baseado em fatos científicos. Quando curativos frios, úmidos e estéreis são utilizados, eles devem cobrir ape nas 10% da superfície corpórea queimada e por ape nas 10 a 15 minutos cada vez. O método preferencial para utilização de curativos é com compressas secas estéreis. No paciente com queimaduras graves, a hipo termia provocada pelas compressas úmidas pode com prometer seriamente o paciente. A perda de calor por condução sejaz maior na água que no ar. CUIDADOS COM O FERIMENTO Os cuidados com o ferimento são realizados no paci ente queimado a fim de prevenir maior dano e infec ção. Todas as roupas ao redor da queimadura devem ser removidas com cuidado, para não retirar vestes aderidas à ferida. Curativos com compressão devem ser aplicados e quaisquer lesões associadas devem ser tratadas antes de cobrir a área queimada no local onde houver um sangramento ativo. O paciente deve ser envolvido em lençol seco, limpo ou estéril. Tecidos que soltem fragmentos ou partículas no ferimento e quaisquer pomadas ou soluções não devem ser utili zados. T^a^tecidojt^mad^ilexe^ ser coberto com c^miores^as^secas^ 0 socorrista não deve romper bo- Ihas, pois elas são um mecanismo de proteção. O des bridamento não deve ser realizado nacena clo inci dente. Anéis e jóias devem ser removidos do paciente. Jóias retêm calor, e os dedos queimados incharão; se não tiverem sido queimados, eles irão edemaciar mais tarde durante a movimentação dos fluidos. 0 fator tempo é essencial. Uma vez que as lesões com risco de vida estive rem controladas e o tratamento do choque tiver sido iniciado, o paciente deve ser transportado para um hospital apropriado. AVALIAÇÃO DE QUEIMADURAS POTENCIALMENTE C R Í T I C A S Sete fatores devem ser considerados para se determi nar quais pacientes queimados são os mais críticos: 1. Profundidade da queimadura. 2. Area de superfície corpórea envolvida. Queimaduras que devem ser levadas a Unidades de Queimados Pacientes com queimaduras graves devem ser atendidos em centros que tenham especialistas e recursos específicos. 0 transporte imediato ou a transferência precoce para uma uni dade de queimados deve resultar em menortaxa de mortali dade e menos complicações. Uma unidade de queimados deve tratar adultos, crianças ou ambos. 0 Comitê de Trauma do Colégio Americano de Cirurgiões acredita que pacientes com queimaduras que apresentarem essas alterações devem ser encaminhados a um centro de queimados: 1. Lesão por inalação. 2. Queimaduras de segundo grau em área superior a 10% da superfície corpórea total. 3. Queimaduras de terceiro grau em qualquer faixa etária. 4. Queimaduras que afetem face, mãos, pés, genitália, pe ríneo ou grandes articulações. 5. Queimaduras elétricas, inclusive por raios. 6. Queimaduras químicas. 7. Queimaduras em pacientes com patologias preexistentes quepossamcomplicarotratamento, prolongara interna ção ou alterar a taxa de mortalidade. 8. Quaisquer pacientes com queimaduras etraumasconco mitantes (como fraturas) nos quais a queimadura se apre senta como o maior risco de morbidade ou mortalidade; se o trauma é o maior risco imediato, o paciente pode ser levado inicialmente a um centro de trauma e depois ser transferido a um centro de queimados. 9. Crianças queimadas em hospitais sem pessoal ou equi pamento qualificado para o cuidado de crianças. 10. Queimaduras em pacientes que requeiram cuidados so ciais especiais, emocionais ou reabilitação portempo pro longado. De American College of Surgeons Committee on Trauma: Resources for optimal care ofthe injured patient-1999, Chicago, 1998, American College of Surgeons. CAPÍTULO 11 T r a u m a T é r m i c o : Lesões P r o v o c a d a s p e l o C a l o r e F r i 305 3. Idade do paciente. 4. Lesões pulmonares. a. inalação de fumaça b. inalação de subprodutos tóxicos 5. Lesões associadas. a. queimaduras de vias aéreas b. outras lesões associadas que não queimaduras 6. Situações especiais. a. queimaduras químicas b. queimaduras elétricas c. intoxicação por monóxido de carbono 7. Doença preexistente. Profundidade da queimadura. O primeiro passo na determinação cla profundidade da queimadura pro priamente dita é a avaliação visual (Figura 113). Esta avaliação é apenas uma estimativa já que a extensão e a profundidade da lesão podem não ser aparentes por vários dias. Queimaduras superficiais (c]ueimaduras de primei ro grau) (Figura 114) Lesão apenas da epiderme Vermelhidão, inflamação e dor na pele Queimaduras de espessura parcial (queimaduras de segundo grau) (Figura 115) Lesão tanto da epiderme quanto da derme Pele com áreas avermelhadas, bolhas íntegras ou rotas moslrando uma ferida secretante Queixas de muita dor Perdas significativas de líquidos, que podem ocorrer levando ao choque Queimaduras de espessura total (queimaduras de terceiro grau) (Figura 116) Trauma da epiderme, derme e tecido celular subcutãneo (possivelmente lesões mais profundas) Pele com aparência chamuscada ou de couro e que pode estar sangrando Nenhuma dor (entretanto queimaduras de se gundo grau associadas, provocam dor) Reenchimento capilar ausente Área de Superfície Corpórea Comprometida. O mapa da área de superfície corpórea (veja Figura 11 2) pode ser utilizaclo para se calcular a área total de pele afetada. Ao calcular a reposição volêmica, são usadas somente as áreas de queimaduras de segundo e terceiro graus. Em adultos cada membro superior equivale a 9% da área de superfície corpórea total. A área de superfície total do tronco é 36%. A face ante rior do tronco é 9% para a região que vai do tórax até o limite inferior do rebordo costal e 9% para o abdo me. A face posterior do tronco é 9% para a região que vai clos ombros até o limite inferior do rebordo costal e 9% para a regiào lombar. Cada membro inferior equi vale a 18% ou 9% para a região anterior e mais 9% para a regiào posterior de cada perna. A cabeça equi vale a 9% e a área genital a 1%. (Note que todas as áreas, exceto a última, são múltiplos de 9.) Para crian ças entre 3 e 9 anos, os membros superiores, frente e coslas do tronco e a região genital têm a mesma equi valência que os adultos, entretanto em crianças abai xo de 3 anos, clevido a um tamanho relativamente maior da cabeça e menor de seus membros inferio res, a porcentagem da cabeça é aumentada para 18% e de cada perna diminuída para 13,5%. (Comparan dose com um adulto, 4,5% de cada perna é subtraí do e a soma de 9% é acrescentada à cabeça.) Para queimaduras menores, a mão clo paciente (excluindo os dedos) pode ser utilizada como escala (palma da t Primeiro grau Segundo grau Espessura parcial Terceiro grau > Espessura total Figura 1 1 - 3 Queimaduras são divididas em catcgorias superíiciais (primeiro grau), espessura parcial (segundo grau) e espessura lolal (terceiro grau). Cada nível apresenta diíerentes prognósticos, diagnósticos e implicações terapêuticas. Figura 11-4 Queimadura superfkial (de McSwain N.E.. Jr. Paturas J.L., editors, Thc basic EMT: comprchcnsive prehospital patient care, 2 ed, Sl Louis, 2001, Mosby.) 3 0 6 ATENDIMENTO P R É - H O S P I T A L A R AO TRAUMATIZADO Figura 11-5 Queimadura de espessura parcial. (de McSwain N.E., Jr, Paturas J.L.. editors. Thc baúc EMT: comprehensive prehospital patient care, 2 ed, St Louis, 2001, Mosby.) mão = 1 % cla área da superfície corpórea total). En tretanto, a regra dos nove é simplesmente uma esti mativa inicial. A maioria dos estudos mostra que a utilização cla regra clos nove leva a uma subestimação do tamanho final do cálculo da área corpórea quei mada, usanclo um gráfico de peso/altura no hospital. Essa diferença não é relevante na maioria de situa ções préhospitalares. Idade do paciente. A idade do paciente queimado tem um efeito significativo na sua sobrevivência. Os muito jovens e os muito idosos têm pouca resposta ao tratamento da queimadura. Pacientes idosos po dem ter muitas doenças preexistentes que complicam o seu tratamento. Funções de órgãos vitais reduzi das, resposta diminuída às infecções, doença arteros clerótica vascular fazem a idade um fator importante no tratamento cle queimaduras. Conforme o paciente envelhece, ocorre um aumento gradual na mortali dade por queimaduras clevido à inabilidade geral do corpo de responder a uma agressão maciça. Essa queda gradual do índice de sobrevivência pode ser calcula da somandose a idade dopaciente em anos à por centagem de área corpórea queimada, de lesões de segundo e terceiro graus. Por exemplo, a probabili dade de morte de um paciente cle 60 anos com lesões de segundo e terceiro graus de 30% do seu corpo é estimada como se segue: 60 (idade em anos) + 30% (área de superfície corpórea queimada) = 90% de probabilidade de óbito Lesão pulmonar e sepsis são os principais compo nentes que afetam a evolução clos pacientes. Doenças preexistentes, diagnosticadas ou não antes da admis são podem afetar adversamente ambos componentes. Doenças preexistentes em geral aumentam com o Figura 11-6 Queimadura de espessura total. (de Sanders, M., Mosbys paramedic textbook, 2 ed, St Louis, 2001, Mosby.) passar dos anos e são parte dos motivos que fazem com que a idade seja um importante fator na deter minação da queimadura grave. Lesão pulmonar Inalação de fumaça. A lesão por inalação de fu maça é responsável por mais de 50% das mortes anu ais por queimaduras. Das 75.000 vítimas hospitaliza das com queimacluras graves, 30% são tratadas por intoxicação com fumaça ou lesões inalatórias. A via aérea superior pode ser lesada diretamente por calor. Isso é parücularmente verdadeiro quando existe vapor. O ar não pode conduzir suficiente calo ria (calor) ao nariz e à boca para produzir queimadu ras, mas a água (vapor) pode. Lesões provocadas pelo vapor ocorrem com freqüência na laringe e cordas vocais, mas não mais profundas. As partículas de fumaça inaladas são a principal causa de lesão pulmonar. Esse tipo de lesào é uma forma de dano químico às células que recobrem os brônquios e os alvéolos. Se as partículas de fumaça forem filtradas, e não permitido que cheguem aos pulmòes, a lesão pode não ocorrer. O uso de qual quer tipo de mãscara (mesmo um lenço úmido) em um lugar com muita fumaça reduz significativamen te a presença de lesão. O socorrista não deve adentrar áreas repletas cle fumaça se não tiver treinamento e proteção adequados. Excesso de volume infundido depois de lal trau ma pode comprometer ainda mais a lesão pulmonar. A reposição volêmica intravenosa cleve ser realizada seguindo cuidadosos controles na reanimação do pa ciente queimado. Inalação de subprodutos tóxicos. Muitos dos trau mas aos pulmões, a longo prazo, em lesões por inala ção são causados por gases ou fumaça tóxica. Muitos CAPÍTULO 11 T r a u m a T é r m i c o : Lesões P r o v o c a d a s pelo Ca lo r e Fr io 3 0 7 desses subprodutos são muito ácidos e causam a des truição do epitélio que recobre os brônquios, alvéò los e os capilares pulmonares. Após a exposição, sin tomas pulmonares iniciais podem não aparecer por um período de 12 a 36 horas. De modo geral quanto mais precoces os sintomas, mais grave é a lesão. Além disso, várias substâncias tóxicas, subprodutos volá teis (como o cianeto) podem ser expelidos da quei ma de plásticos, resultando numa intoxicação por inalação. Lesões associadas Queimaduras de vias aéreas. Lesão por inalação de calor seco ou vapor é habitualmenle limitada às vias aéreas superiores, mas lesões de áreas inferiores, inclusive os pulmões, podem ser causadas por partí culas de fumaça. O calor durante sua passagem pela via aérea é dissipado pela nasoíaringe e pelas vias aé reas superiores, provocando queimaduras e inflama ção. Pode ocorrer obstrução das vias aéreas secundá rias ao edema nas primeiras 24 horas. Quando hou ver uma obstrução potencial das vias aéreas pela pro gressão do edema, devese considerar a possibilidade de se realizar uma intubação o mais cedo possível. Outras LesÕes Associadas sem Queimaduras. Quedas, colisões de veículos, traumas elétricos são outras possí veis causas de lesão durante um incêndio. Choque pro cluzido diretamente pela queimadura aparece mais tar diamente. Choque na fase inicial da queimadura é pro duzido por hipovolemia, hipóxia ou outras causas que não a queimadura. Um paciente queimado que estíver mostrando sinais de choque logo após o trauma provavel- mente não está em choque por queimadura, mas por lesões associadas que provocam hipovolemia, como hemoiragias internas de órgãos daníficados oufraturas ósseas, ou por hipóxia grave causada por lesão pulmonar. O mecanismo de trauma deve ser revisto e outras lesões que possam causar choque devem ser avaliadas. Em queimaduras, assim como em todos os trau mas, o choque ocorre quando o paciente tem uma deficiência de volume sangüíneo circulante com uma diminuição da oxigenação tecidual. O organismo res ponde à queimadura com a formação de edema. Qualquer queimadura, não imporla o tamanho, pro voca edema localizado. Quando ela atinge 20% da área de superfície corpórea, o deslocamento de flui do do compartimento vascular ao tecido será signi ficativo. Tsto produzirá a diminuição gradual do vo lume circulante que se torna identificável como hi poperfusão tecidual manifestada como hipotensão e outros sinais de choque. Esse deslocamento de flui clo não se mostra aparenle até que grande volume seja perdido. Tal deslocamento necessita de várias horas para ser notado. Choque hipovolêmico (e cho que de qualquer natureza) na fase préhospitalar não é decorrente da queimadura. mas é causado por ou tra lesão. A avaliação do volume de sangue circulante num paciente gravemente queimado pode ser difícil. e a pressão arterial pode não ser confiável. A taquicardia pode ser o primeiro sinal de choque iminente. mas pode também estar presente devido à dor associada a queimaduras de segundo grau. O paciente queimado deve ser tratado da mesma maneira que qualquer outro paciente traumatizado. Após a identificação dos sinais de choque, o paciente deve ser tratado como se tivesse um choque hipovolêmico. Reposição volêmi ca, conservação de calor (após a interrupção do pro cesso de queimadura), imobilização cle possíveis fra turas, controle de hemorragias e suplementação de oxigênio em alta concentração devem ser usados, conforme indicado. O controle adequado da dor tam bém deve ser providenciado. Considerações especiais Queimaduras químicas. Queimaduras químicas ocorrem quando a pele entra em contato com vários agentes cáusticos. O socorrista deve tomar cuiclado para nào se tornar uma vítima. Na mqiona_dosj.asos, a diluição e a lava^ejn_da área atingida com grande quantidade de água é o primeiro passo do alendimen J:a O produto químico continua a reagir até ser total mente removido. Isso também é verdade para produ tos em pó mesmo após serem escovados. A pele libe ra água que permite qualquer reação, portanto é me Ihor lavar e diluir com grande quantidade de água. A lavagem deve começar imediatamente. Agentes neutra lizantes não devem ser utilizados, porque podem pro vocar queimaduras exotérmicas (calor) adicionais por reações químicas, com a produção repentina de calor adicional, queimadura e lesão dos tecidos. O tempo exato de irrigação cla pele não pode ser previsto. Por tanto a lavagem deve ser iniciada na cena e manlida até a chegada ao hospital. A equipe de atendimento préhospitalar deve in formar a equipe hospitalar, previamente à chegada, para que estejam preparados para continuar a irriga ção e preparar uma área adequada para receber os resíduos. Se o produto químico for identilicado,o hospital deve ser informado para que se possa prepa rar possíveis antídotos antes da chegada do paciente. Se houver uma descrição sobre o antícloto ao produ to, ela deve ser transporlada junto com o paciente. Se o produto químico é em pó seco, a maior parte possível deve ser escovada antes de ser lavado para se diminuir sua concentração. Enquanto o processo de lavagem estiver em progresso, todas as roupas devem 3 0 8 A T E N D I M E N T O P R É - H O S P I T A L A R AO T R A U M A T I Z A D O ser removidas. Os calçados devem ser retirados pre cocemente para evitar o acúmulo de água, que tem alta concentração de produtos químicos. O socorris ta deve evitar que líquidos conlaminados caiam so bre suas roupas ou seu corpo. A segurança do socor- rista éprimordial. Cuidados padronizados (luvas, aven- Lais e óculos de proteção) são necessários. Queimaduras químicas nos olhos devem ser irri gadas com grandes quantidades de solução salina; agentes anestésicos tópicos (como a tetracaína) po ciem ser aplicados se necessário para o controle dos movimentos das pálpebras. As mãos do paciente po dem ler de ser contidas; mesmo o paciente mais cola borador pode ter dificuldade em permiür que outra pessoa irrigue seus olhos. A irrigaçào deve ser manti da durante o trajeto para o hospital. O paciente deve ser posicionado de tal forma que o líquido que escor ra de um olho não caia no outro. O uso de uma lente de Morgan pode facilitar o processo. O socorrista deve estar familiarizado com os protocolos locais. A seguir, produtos químicos que requerem trata mento especial: Cal e soda cáustica. Como qualquer substância em pó, deve ser escovada porque o contato com a água forma uma substância corrosiva. As áreas conta minadas não devem ser irrigadas a não ser que já estejam molhadas. Grandes quantidades de água devem ser ulilizadas se o processo de queimadura já tiver começado. Fenol. Fenol é muito utilizado como agente de lim peza industrial. A lavagem com grande quantida de de água pode ser benéfica, apesar de o fenol não ser solúvel em água. Metais de lítio e sódio. Essas sào substâncias que reagem com a água, liberando calor e fumaça tó xica. Todos os pedaços maiores que permanece rem ao redor da ferida devem ser removidos e co locados em óleo. Fluorido de hidrogênio e ácido hidroflúrico. Mortes decorrentes deste tipo de queimaduras têm sido relatadas com tão somente 2,5% de área de super fície corpórea atingida. Quando o tempo de trans porte for prolongado, gluconato de cálcio ou clo reto de cálcio podem ser misturados com pomada lubrificante (existe um produto prépreparado) e aplicado na área atingida, que talvez diminua a lesão. Se o socorrista não tiver certeza do tratamento para queimaduras químicas a ser adotado. deve entrar em contato com o médico regulador para solicitar conta to com um centro de intoxicações mais próximo. Queimaduras elétricas. O grau de lesão tecidual de uma queimadura elétrica depende cla quantidade de corrente e da duração da exposição. A principal prio ridade está em determinar se o paciente está aincla em contato com a rede elétrica. Se isso não puder ser feito com certeza, o paciente não deve ser tocado. As tentativas de retirar o paciente do contato com a ori gem da eletricidade devem ser realizadas somente por pessoas treinadas para tal. As queimaduras elétricas podem provocar paradas cardíacas. Reanimação car diopulmonar pode ser necessária nesses pacientes. Queimaduras elétricas são, na verdade, queima ciuras térmicas, pois a resistência dos tecidos con verte energia elétrica em calor, na proporção direta da amperagem e da corrente da rede. Quanto menor a área do corpo, maior a intensidade do calor e me nor a área para a dissipação do calor. Por essa razão, pec|uenas partes como dedos e artelhos, mãos, pés e antebraços apresentam maior dano que o tronco. A contração muscular pode causar fraturas de vérte bras lombares, úmero ou até fêmur e pode luxar ombros ou quadril. Lesões de células musculares li beram mioglobina e potãssio e podem provocar le sões semelhantes à síndrome de esmagamento. Le sões cardíacas por eletricidade incluem ruptura aguda da parede do coração ou de músculos papila res. Nos Estados Unidos a voltagem é de 110 V, ge ralmente provoca pouca lesão, mas pode provocar fibrilaçào ventricular. A corrente alternada pode pro vocar fibrilação mais facilmente que a corrente con tínua. Os três tipos de lesão pela corrente elétrica são: 1. Qucimaduras por corrente elétrica. A corrente elé trica passa pelos tecidos, causando grandes áreas de necrose pelo seu caminho. A pele fica chamus cada e em alguns casos Lem áreas panidas. Essas queimaduras lêm feridas de enlrada e de saída. EsLes pacienLes provavelmenLe têm lesões associ adas nos nervos, ossos, músculos, vasos sangtií neos e ouLros órgãos ao longo do caminho enLre os ponLos de entrada e saída. 2. Queimaduras pelo arco (Jaísca). Queimaduras por LrajeLória em arco ocorrem pela passagem da cor rente elétrica entre dois pontos de contato pró ximos da pele. Com isso a pele pode ser exposta à Lemperatura de 2.500°C a 3.000°C provocando grandes lesões cuLâneas. EsLas lesões são super ficiais e reconhecidas pela perda ou chamusca menlo dos pêlos ao longo do caminho do arco. Lesões profundas podem ser evidemes principal mente quando as articulações estão íletidas, pois a eletricidade pula de uma parte para outra do corpo como do antebraço para o braço ou do bra ço para o tórax. CAPITULO 11 Trauma T é r m i c o : Lesões P r o v o c a d a s pe le C a l i r e F r i t 309 3. Queimachiras por contato. Queimaduras por con tato ocorrem quando uma corrente elétrica passa através de um objeto metálico (como um arame ou ferramenta) e superaquece o metal. O objeto pode perfurar o tecido e resultar em queimaduras muito profundas. O atendimento inicial para pacientes com quei maduras elétricas inclui a infusão intravenosa de Ringer lactato ou soro fisiológico em grandes volu mes. Isso auxilia na prevenção da insuficiência re nal ao lavar a mioglobina, subproduto da lesão mus cular, através dos rins. Um tratamento adicional in clui a administração de bicarbonato de sódio. Os se guintes são pontoschave a considerar nas lesões por eletricidade: Não se torne parte clo circuito. Contudo, as víti mas não armazenam eletricidade e é seguro tocá las, se não estiverem em contato com a fonte elé trica. Antecipe a existência de lesões maiores que as vi síveis. Examine o paciente a procura de lesões associa das dos ossos ou órgãos internos e imobilize se necessário. Reponha o volume suficiente para proteger os rins contra a necrose tubular e colapso subseqüente. Mantenha monitoração cardíaca para possíveis arritmias. Encaminhe íodos os pacientes com queimaduras elétricas a hospitais apropriados. Intoxicação por monóxido de carbono. Em todos os pacientes que sofrem lesão por calor térmico em local confinado, com sintomatologia ou não, devese suspeitar e tratar por intoxicação de monóxido de carbono. Os sintomas_jla intoxicação_4K)r monóxido de carbono incluem hipóxia com alteração do estaclo mental, déficits neurológicose dor de cabeça grave. A presençã^cTè^coloração vermelhocereja, embora considerada clássica, é raramente encontrada, porque é mascarada pela cianose da hemoglobina não oxige nacla. Basearse apenas na coloração vermelhocereja para determinar a intoxicação por monóxido de car bono é perigoso e é um achado como crepitação, que auxilia quando presente, mas não oferece informa ção quando ausente. O monóxido de carbono é um gás, incolor, inodo ro e sem sabor, que tem 200 vezes mais afinidade com a hemoglobina que com o oxigênio. Isso diminui a capacidade da hemoglobina de transportar oxigênio. Além disso, a presença de monóxido de carbono di minui a liberação de oxigênio da hemoglobina, por tanto diminui a oferta de oxigênio aos " ■ " 4 ^ < a meiavida da carboxihemoglobiBa c longa, todos os pacientes com > r.iomas iifli li de intoxicação por monóxido de carbooo á& tratados com altas concentrações de 'vigcmo aumenta a pressão parcial de oxigênio arteru aumenta a retirada do monóxido de :: r: lécula de hemoglobina e aumenta a satu : moglobina com oxigênio. Em uma concentração de oxigênio de 100% (Fi02 de 1,0), a meiavida da caor boxihemoglobina é reduzida de mais de 4 horas paia 40 ou 60 minutos. O paciente deve ser transportadc para um hospital adequado. Se um centro de quei mados estiver acessível em um período razoável de tempo, outros hospitais devem ser descartados. Paci entes com altas concentrações de monóxido de car bono podem necessitar de tratamento com oxigenio terapia hiperbárica. Doenças preexistentes. Patologias existentes an tes da queimadura podem comprometer a evolução do paciente. As condições que ocorrem durante ou depois da reanimaçào do paciente queimado, como sepsis, grandes volumes de reposição volêmica, ede ma pulmonar, vãrias cirurgias prévias, permanência prolongada no leito, controle reduzido dos mecanis mos reguladores de temperatura e enxertos de pele são parte da recuperação por queimaduras. Qualquer condição, como insuficiência cardíaca congestiva, in~ suficiência renal, hipertensão ou cloença arteroscle rótica vascular periférica, pode provocar efeitos ne gativos no prognóstico do paciente. Lesões Sistêmicas Provocadas pelo Calor A temperatura corpórea elevada, derivada do meio ambiente ou do aumento do metabolismo, pode cau sar patologias ou até a morte quando suplantar a ca pacidade do corpo em dissipar calor. O tempo nor mal de aclimatação a mudanças em calor ambiental ocorre durante aproximadamente 2 semanas. A quan tidade de suor produzida por uma pessoa aclimatada aumenta. A perda de sais no suor diminui. A desidra tação devida à sudorese pode aumentar a suscetibili dacle a doenças provocadas pelo calor e pode causar seus próprios problemas. Uma desidratação tão pe quena como de 4% pode causar uma perda cle 50% cla força muscular e uma desidratação de 6% aumenta significativamente o risco de doença provocada pelo calor. A maioria das doenças provocaclas pelo calor ocorre após a exposição ao calor e à umidade por vá rios dias consecutivos, especialmente no início da estação e antes da aclimatação. Quando o acúmulo de calor for maior que a percla, ocorrerá mal funcio namento clos sistemas internos do corpo. A tempera 3 1 0 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMATIZADO tura celular aumentada causa lesão em todos os siste mas e órgàos do indivíduo. Nenhum órgão é alvo da maior parle da lesão. As células dos músculos, fíga do, rins, sistema cardiovascular e sistema nervoso central sofrem lesão. Em algumas situações somente uma intervenção rápida do socorrista pode alterar essa seqüência destrutiva. Diversos tipos ou estágios de sinais e sintomas de lesões sistêmicas por calor exis tem, incluindo cãibras, síncope, edema, exaustão e insolação. Esses termos não descrevem as mudanças fisiológicas que ocorrem; contudo, graças ao uso fre qüente desses termos, eles continuam sendo usados. O socorrista deve entender que esses termos são ape nas nomes. Não são doenças isoladas, mas represen tam pontos, ao longo da evolução de uma doença provocada pelo calor. de riscos menores até os com ameaça à vida. INTERMAÇÃO A intermação pelo calor resulta da perda excessiva de líquidos e eletrólitos através do suor com uma defici ente reposição de líquidos, quando o paciente é ex posto a temperaturas ambientais altas por períodos de tempo prolongado. geralmente por vários dias. As ati vidades durante tal período de exposição podem au mentar a perda de líquidos e até chegar à hipovolemia. Os sinais e sintomas do paciente são os de desidrata ção. O tratamento é o mesmo que para a desidratação. Avaliação. Os pacientes com intermação pelo ca lor podem se queixar de dores de cabeça, tontura, euforia, náuseas. vertigens leves ou ansiedade; ou ain da apresentar sintomas de fadiga e apatia. Eles se sen tem melhor enquanto deitados, mas apresentam ver tigens quando tentam se levantar ou sentar (hipoten são ortostática). Sua pele habilualmente fica fria e úmida, e sudorese profusa não é incomum. A freqüên cia ventilatória e cardíaca podem estar aumentadas e o pulso radial pode estar fino. A pressão arterial sis tólica pode estar normal ou levemente diminuída, e um teste ortostático de sinais vitais pocle ser positivo. A temperatura corpórea central pode ser normal ou levemente elevada. Tratamento. O tratamento do paciente com inter mação é semelhante a qualquer paciente hipovolê mico, embora ele deva ser movido para um ambiente fresco em lugar de um ambiente morno. O paciente deve ser mantido em posição supina, e qualquer rou pa pesada deve ser retirada. Mesmo que o paciente esteja alerta, a reidratação oral não é tão efetiva, por que os pacientes estão habitualmente com náuseas e a absorção de Iíquidos em outros segmentos do trato digestivo, exceto o estómago, é limitada a 200 gra mas a cada 20 minutos. Administrase solução de Ringer lactato ou soro fisiológico intravenoso. A in fusão, para um adulto, de dois a quatro litros de cris talóide intravenoso não é incomum. E essencial man ter o controle de temperatura e monitorar os sinais vitais durante o transporte. CÃIBRAS POR CALOR As cãibras por calor ocorrem em indivíduos com in termação, que não estão aclimatados a ambientes quentes. Elas acompanham a intermação em até 60% dos casos, correm em pacientes em repouso e são fre qüentemente confundidas com cãibras de exercício, que são decorrentes do aumento de acido lático. As cãibras por calor são decorrenles da perda do equilí brio hidroeletrolítico. Os eletrólitos perdidos nesses casos são sódio e potássio. A perda de água pode au mentar o aparecimento de cãibras por calor, mas tam bém a hiperhidratação com água livre, sem eletróli tos. O resfriamento rápido dos músculos também é uma causa. Entre 15 e 20 gramas de sódio podem ser perdidos pelo suor durante atividades musculares pesadas em ambientes quentes. Avaliação. Pacientes com cãibras por calor habitual mente reclamam de cãibras musculares nas extremida des inferiores, costas, abdome ou braços. Geralmente, os músculos compromelidos são os grandes grupos muscu lares. Os músculos estão tensos e duros à palpação. Tratamento. O tratamento imediato envolve a retirada da vítima do ambiente quente e alongamento suave da musculalura atingida para aliviar a cãibra. O paciente deve beber líquidos que conlenham solu ções eletrolíticas. Tabletes de sal não devem ser utili zados, porque o movimento osmótico pode provocar vômitos e danos à mucosa gástrica. Raramente um paciente, vítima de cãibras por calor, necessita de lí quidos intravenosos. A intermação, que pode coexis tir com cãibras por calor, não deve ser descartada. INSOLAÇÃO A insolação por calor pode ocorrer subitamente por circunstâncias como uma criança deixada no interior de um veículo quente, um adulto transportado em um veículo com ventilação deficiente, ou exposto a locais confinados com pouca ventilação, como em um recinto com caldeiras ou um sótão. A insolação por calor também pode se desenvolver vagarosamente durante alguns dias, em especial nos idosos. Um gran de grupo de pacientes, muitas vezes sobrecarrega os serviços de emergência durante ondas de calor. Os dois tipos de insolação por calor são: CAPÍTULO 11 T r a u m a T é r m i c o : L e s õ e s P r o v o c a d a s pe lo C a l o r e F r i o 3 1 1 1. Insolação clássica é mais freqüentemente encon trada em idosos. Este problema, em geral relacio nado com a idade, pode piorar pelos vários medi camentos que um idoso pode estar utilizando. A exposição a temperaturas ambientais altas sem ar condicionado, por tempo prolongado, pode levar a desidratação e se apresenta durante os meses de verão. Isto é muito comum em cidades grandes, onde a ventilação nas casas não é possível ou não é usada. A avaliação da cena trará informações úteis para a identificação dessa patologia. 2. Insolação por esforço se deriva da associação de alta temperatura ambiental, alta umidade e ativi dade física. Todas essas situações podem rapida mente eleyar a produção interna de calor e limi tam a capacidade do corpo de perder calor. O cor po pode chegar a uma situação onde não conse gue mais regular os ganhos e perdas de calor. Sob certas condições, quando a umidade atinge mais de 75%, o corpo não consegue mais perder calor pela transpiração. Atletas que praticam esporte em ambientes altamente úmidos estão sujeitos à in solação por esforço. A combinação entre a temperatura ambiente (lida no termõmetro) e a umidade relativa é chamada de índicc dc estresse por calor (Quadro 112). Essa é uma maneira melhor de se prever lesões potencias por ca lor sistêmico que apenas a aferição da temperatura isoladamente. Se o paciente estava trabalhando ex posto ao sol, próximo a superlícies que irradiam muito calor ou com roupas pesadas de proteção, devese adicionar 10 graus à tabela do Quadro 112. A utili zação de roupas impermeáveis ou roupas para aten dimento de acidentes com produtos perigosos, du rante aüvidade física, leva a uma rápida sobrecarga de calor e insolação. Se essa condição nào for identi ficada e tratada imediatamente, a temperatura corpó rea pode chegar a 41°C e 42°C e morte ou lesões per manentes, são iminentes. Avaliação. Pacientes com insolação apresentam pele quente e corada. Eles podem ou não estar suando, dependendo de onde foram encontrados e se têm in solação clássica ou de esforço. A pressão arterial pode estar elevada ou diminuída e o pulso está freqüente mente taquicárdico e fino. O nível de consciência do paciente varia de alterado e confuso à inconsciente, e convulsões podem estar presentes. Os indícioscha ve que separam a insolação de outras patologias rela cionadas com o calor são a elevação da temperatura corpórea e o nível de consciência do paciente. Qual quer paciente que estiver quente ao toque e com es tado mental alterado (confuso, clesorientado ou com bativo) deve ser considerado suspeito de ter insola ção e deve ser tratado adequadamente. Tratamento. A insolação por calor é ama mergên cia verdadeira. Quanlo mais alta a temperarura e mais tempo o paciente mantiver a temperatura interna ele- vada, mais destrutiva e mortal se torna a situação lemperatura cenlral elevada (e, portanto. do cérebro é mais destrutiva quando combinada com idade avan çada. Pacientes adultos geralmente não toleram tem peraturas que pacientes pediátricos podem tolerar. O tratamento consiste no resfriamento rápido do paciente com os meios que estiverem disponíveis. Agoa gelada despejada sobre o paciente é o meio mais rápi do de resfriamento. Se não houver gelo disponível ime diatamente, a imersão em água fresca, ou o uso de água fresca com evaporação forçada com o uso de ventila dor é eficiente. A vasoconstrição provocada pela água gelada não impede a ocorrência do resfriamento dese jado. O resfriamento deve ser iniciado antes do trans porte, com atenção especial ao resfriamento da cabeça e do couro cabeludo. Os vasos sangüíneos são superfi ciais na virilha, axilas e face anterior e lateral do pes coço. Cerca de 40% da perda de calor ocorre na cabeça e no pescoço. Alguns procedimenlos que o socorrista pode realizar incluem a remoção de peças de roupa pesada, colocar o pacienle em uma ambulância com ar refrigerado e derramar fluidos engarrafados de irriga ção sobre o paciente. Ventilar o paciente promove eva poração e remove o calor. Pacotes de gelo devem ser colocados na região das virilhas, axilas e ao redor do pescoço. Convulsões, que aumentam a temperatura, devem ser interrompidas com o uso de benzodiazepí nicos ou mesmo drogas paralisantes. Condições e Traumas Relacionados com o Frio As lesões por frio diferem das lesões por queimadu ras, embora a pele esteja envolvida em ambas. As com plicações pulmonares predominam em pacientes quei mados, enquanto as alterações na temperatura cen tral e na circulação reduzida são as principais com plicações associadas com traumas por frio. As condi ções clínicas de traumas por frio são freqüentemente menos drásticas que as provocadas pelo trauma de calor, tanto por não ser de início tão rápido, como por não ter sintomas imediatamente diagnosticados. A extensão da lesão da pele pode parecer muito mais superficial nas lesões por frio que aquela produzida por uma queimadura de mesmo grau por calor. Ex posição prolongada e umidade são os fatores usuais causadores de lesões por frio. 3 1 2 ATENDIMENTO P R É - H O S P I T A L A R AO TRAUMATIZADO Quadro 112 Indice de estresse por calor 140 130 120 110 (0 a5 100 Q. E 90 70 60 10 20 30 Umidade relativa 40 50 60 70 90 De Sanders M., Mosby's paramedic textbook. 2a ed, St Louis, 2001, Mosby. 100 \ x \ Quente Muito rr ^ orno ""^-^. ■ Quais são os perigos em cada variação de temperaturas aparentes Extremamente quente Insolação iminente. Insolação possível com exposição prolongada. Prováveis cãibras e intermação. Quente Prováveis cãibras por calor e intermação. Muito morno Atividade f ísica pode ser mais fatigante que o normal. Alíerações Cuíâneas por Frio A não ser que a lesão seja devida ao derramamento de líquido supergelado, as lesões da pele por frio são ge ralmente isoladas a algumas áreas do corpo como de dos das mãos ou dos pés, mãos, pés, face e orelhas — lugares onde existe uma diferença significativa entre a área de superfície externa e o volume de sangue que circulanestas áreas. Estas áreas do corpo são mais ex postas e mais distantes da região central do tronco, tornandoas mais susceptíveis a lesões por frio. As le sões mais comuns nessas áreas são o congelamento. CONGELAMENTO O congelamento é, na verdade, um congelamento da água no tecido corpóreo como resultado da exposi ção à temperatura de congelamento ou abaixo. A resposta normal do corpo a temperaturas abaixo das desejadas é reduzir o fluxo sangüíneo para a super fície da pele, para diminuir a troca de calor com o meio ambiente. O corpo realiza isso através da va soconstrição dos vasos sangüíneos periféricos na tentativa de levar o sangue aquecido para a região central do corpo e manter a temperatura corpórea normal. A redução deste fluxo sangüíneo reduz gran demente a quantidade de calor enviada para as ex tremidades distais. Quanto maior o período de exposição, maior a redução do fluxo sangüíneo para a periferia. O cor po mantém a temperatura central à custa da redu ção da temperatura das extremidades e da pele. A perda de calor pelo tecido se torna maior que o ca lor levado àquela área. Em casos de temperaturas abaixo dos níveis cie congelamento, quando as ex tremidades são deixadas sem proteção, os líquidos intra e extracelulares podem congelar. Isso resulta na formação de cristais de gelo. À medida que os cristais de gelo se formam, eles se expandem e pro vocam lesões aos tecidos locais. Coágulos sangüí neos também podem se formar, dificultando ainda mais a circulação para o local. O uso de drogas, como a nicotina, ou o álcool e roupas molhadas e aperta das ou que provoquem constrição contribuem ain da mais para a formação de congelamento. A avaliação de qualquer paciente que ficou ex posto a temperaturas abaixo dos níveis de conge lamento, sem roupas ou abrigo apropriado, deve sempre incluir um exame das áreas mais propen CAPÍTULO 11 Trauma Térmico. Lesões Provocadas pelo Calor e Frio 313 sas ao congelamento. Líquidos derivados de hidro carbonetos, como gasolina, podem causar conge lamento logo após serem derramados sobre a pele exposta a temperaturas abaixo dos níveis de con gelamento, graças a sua rápida condução e evapo ração. O congelamento também pode ocorrer ime diatamente na pele aquecida e úmida que entra em contato com metal muito frio devido à rápida con dução que ocorre. O congelamento é dividido em dois tipos: 1. Congelamento superficial, também chamado de congelamento em crestadura (ou frost-nip), é o tipo menos grave. O paciente sente dor suave ou uma sensação de queimação na exlremidade afe tada, que evolui para dormência. A pele da área afetada tem coloração acinzentada ou amarela da. Quando a compressão digital é aplicada na área, o tecido abaixo da extremidade descolora da tem consistência mole e maleável como o te cido normal. 2. Congeiamento projuudo ocorre se o paciente não percebe e não reage à sensação de dormência da extremidade. Se o congelamento do tecido conti nuar, a área afetada toma aspecto cerúleo. Quan clo as terminações nervosas se congelam, a dor mência e a dor desaparecem. As partes congela das são duras e não se flexionam quando o tecido afetado é comprimido. Quanto mais tempo se mantiver congelada uma extremidade e quanto mais baixa a temperatura do ambiente, mais gra ve será a lesão. A gravidade do congelamento pro fundo não pode ser determinada até que a área do corpo congelada seja descongelada e o corpo co meçar sua recuperação. As extremidades com con gelamento podem apresentar uma melhora gra dual durante vários dias ou várias semanas. As resseções precoces ou o rompimento de bolhas não são recomendados. Avaliação. O congelamento superficial é geralmen te avaliado por uma combinação de reconhecimento das condições ambientais; considerando a principal queixa clo paciente de dor ou dormência em um declo, mãos, pés ou face, e observando a alteração de cor da pele da mesma área. A temperatura ambiente tem que estar abaixo do ponto de congelamento. A palpação delicada do local pode determinar se o tecido subcutà neo está maleável ou endurecido quando comprimi do. O paciente com congelamento superficial, habitu almente se queixa de desconforto progressivo durante a palpação da área afetada. Nos casos de congelamen to profundo o tecido congelado está endurecido e fre qüentemente sem dor à palpação ou compressão. Tratamento. O tratamento imediato do congela mento é afastar o paciente do ambiente frio para uma área aquecida. O socorrista deve sempre suspeitar de hipotermia sistêmica. Pacientes com congelamento superficial devem ser colocados com a área afetada em contato com uma área aquecida do corpo. como proteger orelhas congeladas com as mãos aquecidas ou colocar dedos afetados das mãos na axila. Conge lamentos superficiais só necessitam de reaquecimen to para temperatura corpórea normal. O atendimento préhospitalar para o congelamen to profundo deve consistir em um ambiente apropri ado, medidas de cuidados de suporte e transporte rápido para um hospital aclequado. O paciente pode ingerir líquido aquecido (e não alcoólico) se dispo nível, dependendo de seu nível de consciência e de outras lesões. O uso de tabaco (cigarros. fumo de mascar ou adesivos de nicotina) deve ser contrain dicado, porque a nicotina provoca vasoconstricção adicional. As tentativas de começar o reaquecimento de paci- entes portadores de congelamento profundo no local da ocorrência podem ser prejudiciais à eventual recupera- ção do paciente, e não são recomendadas, a não ser que o tempo de transporte seja muito prolongado. Congela mentos profundos devem ser reaquecidos em ambi ente controlado, pelas seguintes razões: O processo de reaquecimento de extremidades deve ser uma imersào rápida em água de 38.5:C a 42°C. O processo de reaquecimento é muito doloroso para o paciente. É comum a necessidade de anal gésicos inlravenosos. 5e o processo de reaquecimento for iniciado e por algum motivo a extremidade volta a se congelar. pode ocorrer gangrena e uma parte ou toda extre midade afetada pode necessitar de amputação. Como já mencionado, a gravidade dos congela mentos profundos é determinada após o processo de descongelamento ser completado. O congelamen to é dividido em 4 graus de gravidade como nas quei maduras. O congelamento superficial é classificado como de primeiro grau. O mais grave, o quarto grau, geralmente evolui para gangrena logo após o des congelamento. Se o reaquecimento for iniciado, a região afetada deve ser elevada suavemente para evitar edema en c[uanto for mantido o reaquecimento. Os dedos de vem ser separados com gazes ou algodão para dimi nuir a irritação da pele e reduzir a chance de aderên cia entre eles. Se houver formação de bolhas, elas deverão ser deixadas intatas e não perfuradas. Ao 3 1 4 ATENDIMENTO P R É - H O S P I T A L A R AO TRAUMATIZADO transportar o paciente, uma vez iniciado o reaqueci mento, o socorrista não deve permitir que a parte descongelada volte a se congelar. Analgésicos podem ser necessários durante o transporte. ALTERAÇÕES SISTÊMICAS
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