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1 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado 2 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado SUMÁRIO Introdução ................................................................................................................................... 3 Assistência de enfermagem em grandes queimados ................................................................ 3 Etiologias das queimaduras ....................................................................................................... 4 Queimaduras Elétricas ............................................................................................................... 4 Queimaduras Inflamáveis ........................................................................................................... 5 Queimaduras Sólidas ................................................................................................................. 5 Queimaduras Gasosas ............................................................................................................... 5 Queimaduras por Radiação ....................................................................................................... 6 CLASSIFICAÇÃO DAS QUEIMADURAS .................................................................................. 6 QUEIMADURAS ANATÔMICAS ESPECÍFICAS .................................................................... 12 Fisiopatologia e manifestações clínicas da queimadura ......................................................... 16 Fisiopatologia geral das queimaduras ..................................................................................... 20 Fisiopatologia do metabolismo do queimado .......................................................................... 28 Assistência de enfermagem de urgência ................................................................................. 30 Primeiro atendimento do paciente queimado .......................................................................... 41 Assistência de enfermagem ao cliente queimado (casos) ...................................................... 49 Atendimento no centro de queimados ..................................................................................... 51 Fisiologia do Enxerto ................................................................................................................ 62 Assistência de enfermagem ao paciente portador de enxerto de pele ................................... 63 Assistência de enfermagem na prevenção e controle da úlcera de estresse no paciente queimado .................................................................................................................................. 78 Assistência de enfermagem nas complicações das queimaduras .......................................... 82 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 90 3 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Introdução Entende-se por queimadura o quadro resultante da ação direta ou indireta do calor sobre o organismo humano. A despeito de o prognóstico ter melhorado dramaticamente, em especial graças ao reconhecimento da importância do debridamento precoce e ao progresso no emprego de substitutos biológicos da pele, as queimaduras ainda configuram importante causa de mortalidade. Esta se deve principalmente à infecção que pode evoluir com septicemia, assim como à repercussão sistêmica, com possíveis complicações renais, adrenais, cardiovasculares, pulmonares, musculoesqueléticas, hematológicas e gastrointestinais. Além disso, as queimaduras resultam em considerável morbidade pelo desenvolvimento de sequelas, estando entre as mais graves a incapacidade funcional, especialmente quando atinge as mãos, as deformidades estéticas, sobretudo da face, e também aquelas de ordem psicossocial. As queimaduras, dependendo da localização, podem ainda causar complicações neurológicas, oftalmológicas e geniturinárias. Decorre daí o fato de a correta abordagem inicial do queimado ser essencial para o prognóstico a curto e longo prazo. Assistência de enfermagem em grandes queimados As lesões que resultam do contato direto ou exposição a quaisquer fontes: térmica, química, elétrica ou radio ativa, terminam em queimaduras. As lesões por queimadura podem ocorrer quando a energia de uma fonte de calor é transferida para os tecidos corporais. A profundidade da lesão varia em função da temperatura e duração da exposição. Na população em geral, as ocorrências são mais comuns no sexo masculino (57,74%), nos indivíduos de raça branca (71,745), nas crianças de 0-10 anos (46,5%), causadas por líquidos aquecidos (44,98%). 4 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Etiologias das queimaduras Queimaduras Térmicas São causadas por exposição ou contato com chamas, líquidos, semilíquidos e semissólidos quentes. Exemplo: explosão em acidentes de automóveis, lesões por substâncias escaldantes, roupas em chamas e combustão de depósitos de líquidos inflamáveis. Frio – Congelamento: As queimaduras por frio são raríssimas em nosso país, sendo verificadas algumas de origem profissional. Calor – Líquidos aquecidos: O calor é o grande responsável pela elevação do índice das queimaduras. Nos líquidos aquecidos encontramos a maior parte dos acidentes, principalmente no grupo infantil, provocado por sopas quentes, chás, água fervente, café, radiador de carro, etc. Queimaduras por Agentes Químicos São causadas por contato dos tecidos corporais com ácidos potentes, álcalis ou compostos orgânicos. Podem resultar do contato com certos produtos de limpeza doméstica e diversos agentes químicos usados na indústria e agricultura. As queimaduras químicas podem ter maior ou menor gravidade, dependendo do tipo de agente causador (ácido ou base), da concentração deste agente e da duração do contato. O primeiro cuidado deve ser uma limpeza da área afetada com água corrente, por um período mínimo de 30 minutos. Queimaduras Elétricas São provocadas pelas correntes elétricas, transmitidas por todo o corpo. A extensão da queimadura é influenciada pela duração do contato, nível de voltagem e trajeto que a corrente elétrica segue quando passa pelo corpo. Podem resultar do contato com fio elétrico exposto ou defeito da eletricidade ou poderosas linhas de alta voltagem. Caracterizam-se por apresentar lesão no ponto de entrada da corrente elétrica, no ponto de saída e em todo o trajeto. Um cuidado especial deve ser tomado nos casos em que há rabdomiólise. Ao se verificar uma urina muito escura, 5 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado o queimado deve ser hidratado até se obter uma diurese de 100 ml/hora. Se não houver melhora da turvação urinária, deve-se aumentar a infusão de líquidos e administrar manitol 25 g. Posteriormente, devem ser administradas doses de manutenção de 12,5 g de ringer/litro, para manter a diurese esperada. Se houver acidose metabólica, esta deve ser corrigida pela administração de bicarbonato de sódio. Queimaduras Inflamáveis As substâncias inflamáveis também são responsáveis por elevado número de queimaduras, sobretudo o álcool em suas diversas utilizações, até em desodorantes. Opetróleo e todos os seus derivados, como gasolina, querosene e todos os solventes de tintas geralmente produzem queimaduras graves por atingirem grande área corporal. O gás de cozinha é responsável por elevado índice de mortalidade. Nos inflamáveis ainda podemos incluir a pólvora, utilizada na fabricação de fogos de artifícios e até em trabalhos religiosos. Atingem com maior frequência mãos e face. Queimaduras Sólidas Nas queimaduras por sólidos aquecidos, aparece com maior frequência o ferro de passar roupa, chapas de fogão, escapamento de motocicleta e outros. Geralmente, este tipo de queimadura, embora de extensão corporal restrita, atinge camadas mais profundas. Queimaduras Gasosas Representados por caldeiras e panelas de pressão: geralmente seus candidatos são pessoas não habilitadas à cozinha. Atingem, com frequência, face e pescoço, podendo lesar também membros superiores e parte do tórax. A complicação mais traumatizante está relacionada com a queimadura dos olhos. 6 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Queimaduras por Radiação O mais frequente é o banho de sol de forma inadequada, tanto quanto ao período do dia quanto ao tempo de exposição, reforçado pelo uso indiscriminado de substâncias fotossensíveis em forma de bronzeadores que são sempre responsáveis pelas queimaduras de 2. º grau. Há ocorrências de preparados caseiros como o viticomim, chá de folha de figo que contém a furocumarina (substância química que provoca queimaduras graves), coquetéis de chá de beterraba, coca-cola, etc. A gravidade destas queimaduras está na grande extensão de área corporal atingida, geralmente quase cem por cento, devido ao uso de roupas de banho sumárias levando com frequência à hospitalização. Mais raras são as queimaduras acidentais produzidas por Raios X e Raios Gama (Césio 137 – isótopo radioativo) nos tratamentos radioterápicos aplicados por profissionais desatentos. Geralmente atingem áreas corporais restritas, porém já comprometidas por outras patologias. CLASSIFICAÇÃO DAS QUEIMADURAS As queimaduras podem ser classificadas de acordo com a quantidade de tecido cutâneo atingido. Essa classificação se faz associando a extensão corpórea lesada à profundidade da queimadura. Primeiro Grau São as mais superficiais e caracterizam-se pela perda da epiderme. A lesão se manifesta com eritema, e a queimadura é dolorosa. A epitelização se faz espontaneamente, sem deixar cicatrizes ressuscitantes. A queimadura solar é um exemplo. ✓ Lesão da epiderme ✓ Ausência de flictenas ✓ Hiperemia ✓ Sem repercussões hemodinâmicas ✓ Restauração 7 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Segundo Grau Há perda de toda a epiderme e parte da derme. Há possibilidade de cura espontânea através da epitelização originada das células da camada basal dos anexos contidos na derme residual. Queimaduras de segundo grau superficiais são dolorosas e há presença de bolhas. As queimaduras de segundo grau profundas assemelham-se, ao exame microscópico, às queimaduras de terceiro grau. Não são dolorosas e curam-se após várias semanas. ✓ Epiderme e derme são atingidas ✓ Presença de flictenas ✓ Hiperemia, edema e dor ✓ Preserva anexos epidérmicos ✓ Baixa probabilidade de sequelas ✓ Regeneração Segundo Grau – (Profundo): Quando toda a epiderme e a maioria dos elementos da derme são destruídos, as queimaduras são classificadas como parciais profundas. O tecido necrosado é aderido e geralmente não há presença de bolhas. A dor pode estar presente, mas com menor intensidade. ✓ Maior destruição do colágeno dérmico ✓ Apêndices cutâneos profundos preservados 8 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado ✓ Dolorosa, superfície esbranquiçada ✓ Sequelas cicatriciais ✓ Regeneração lenta Terceiro Grau A espessura total da pele está comprometida. Geralmente é indolor, não se cura espontaneamente e requer transplante de pele. Pode comprometer tecidos mais profundos. ✓ Necrose de coagulação da pele, TCSC, músculo, ossos. ✓ Esbranquiçada a carbonizada, indolor. ✓ Profundas alterações locais e sistêmicas ✓ Enxertia cutânea obrigatória RESUMO Primeiro Grau Restauração Segundo Grau Regeneração Terceiro Grau Enxerto 9 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado AVALIAÇÃO DA ÁREA QUEIMADA • Regra dos 9 • Tabela de Lund e Browder • Palma da mão Regra dos 9 É um método prático e rápido de calcular a área corporal comprometida. Porém, não é muito precisa, dando margem a erros de cálculo. É atribuído a cada segmento corporal o valor 9 ou múltiplo deste. Para queimaduras maiores e mais espalhadas, usa-se a REGRA DOS 9% (vide figura abaixo): Um adulto de frente: 9% = rosto 9% = tórax 9% = abdômen 9% = perna direita 9% = perna esquerda 9% = os 2 braços 1% = órgãos genitais. 55%=Sub-total Agora, de costas: 9% = costas 9% = abdômen 9% = perna direita 9% = perna esquerda 9% = os 2 braços 45%=Sub-total 55%(frente) + 45%(costas) = 100% da área do corpo. Palma Da Mão 10 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Uma regra prática para avaliar a extensão das queimaduras pequenas ou localizadas é compará-las com a superfície da palma da mão do acidentado, que corresponde, aproximadamente a 1% da superfície corporal. Método simples que, em condições de urgência, permiti avaliar a extensão das áreas lesadas, não sendo muito exato o seu resultado. Tabela De Lund e Browder 11 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado É um método mais exato de estimar a extensão de uma queimadura, que reconhece o percentual da ASCT de diversas regiões anatômicas, principalmente a cabeça e as pernas, e as alterações com o crescimento. Ao dividir o corpo em áreas muito pequenas e ao fornecer uma estimativa da proporção da ASCT compatível com certas regiões do corpo, pode-se obter uma estimativa confiável da ASCT queimada. A avaliação inicial é feita na chegada do paciente ao hospital e é revisada no segundo e terceiro dia pós-queimadura porque comumente a demarcação não está clara até esse período. ✓ O mais avançado método de cálculo de área queimada ✓ Levar em consideração as várias faixas de idade com precisão 12 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado QUEIMADURAS ANATÔMICAS ESPECÍFICAS Queimaduras de diferentes áreas anatômicas requerem tratamentos específicos. A consulta com um centro de queimados é fortemente recomendada para pacientes com queimaduras no rosto, pés, olhos, axilas, períneo, mãos e articulações importantes. A) Queimaduras Faciais Queimaduras faciais são consideradas lesões sérias e usualmente requerem tratamento em um hospital. A possibilidade de dano no trato respiratório deve sempre ser considerada. 13 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Devido ao rico suprimento de sangue e ao tecido areolar frouxo, as queimaduras faciais são associadas coma formação extensiva de edema. Para minimizar essa formação de edema, o tronco superior e a cabeça do paciente devem ser elevados a um ângulo de 30 graus se o paciente não estiver em choque. Nas crianças, a elevação da cabeça pode diminuir o potencial de convulsões durante a ressuscitação. B) Queimaduras dos Olhos Um exame cuidadoso dos olhos deve ser completado o mais rápido possível, porque a rápida evolução do edema de pálpebra tornará o exame extremamente difícil depois disso. A fluoresceína deve ser usada para identificar uma lesão de córnea. Queimaduras químicas nos olhos devem ser enxaguadas com grandes quantidades de soro fisiológico conforme o indicado. É indicada a instilação de um colírio leve durante o período máximo do edema da pálpebra. Pomadas ou colírios antibióticos podem ser usados se foi diagnosticada uma lesão de córnea, mas devem ser empregadas somente após consultar o centro de queimados. Soluções oftálmicas contendo esteroides podem ser perigosas e devem ser evitadas. A tarsorrafia (Operação de sutura das pálpebras) nunca é indicada na fase aguda. C) Queimaduras dos Ouvidos As queimaduras dos ouvidos requerem com antecedência um exame do canal externo e do tímpano, antes que o edema ocorra. É importante determinar se a otite externa ou a otite média estão presentes, especialmente nas crianças. Evite traumas adicionais ou pressão no ouvido. Não se deve usar curativos de pressão e não se deve permitir o uso de travesseiros sob a cabeça. D) Queimaduras das Mãos Queimaduras menores das mãos podem resultar somente em incapacidade temporária e inconveniência; contudo, lesões térmicas mais extensas podem causar perda permanente da função. 14 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado O aspecto mais importante da avaliação física é determinar a situação vascular e a possível necessidade de uma escarotomia. A presença de um pulso radial não exclui a síndrome de compartimento. A monitoração dos pulsos digitais e palmares com o medidor de fluxo ultrasônico é o meio mais preciso de avaliar a perfusão dos tecidos na mão. Eleve a extremidade queimada acima do nível do coração para minimizar a formação de edema. A movimentação dos membros envolvidos por cinco minutos a cada hora diminuirá o edema. Curativos somente prejudicarão a capacidade de monitorar a circulação e devem ser evitados. E) Queimaduras dos Pés Assim como com as queimaduras das extremidades superiores, é importante avaliar a circulação dos pés em intervalos regulares. O edema deve ser diminuído elevando-se a extremidade, e curativos devem ser evitados da mesma forma como com as queimaduras das mãos. 15 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado F) Queimaduras da Genitália e Períneo Queimaduras no pênis requerem a inserção imediata de um cateter Foley para manter a abertura da uretra. O cateter deve ser fixado externamente para reduzir o trauma mecânico da parede da bexiga ou da uretra. Uma escarotomia dorsal também pode ser indicada em queimaduras circunferências. O edema escrotal, embora geralmente impressionante, não necessita de tratamento específico. Queimaduras do períneo podem ser difíceis de controlar, contudo, não é necessária uma colostomia de desvio. Queimaduras por Piche Queimaduras por piche geralmente são queimaduras de contato. O componente betume não é absorvido por si mesmo e não tóxico. O tratamento de emergência consiste em resfriar o material derretido com água fria. A remoção física do piche não é uma emergência. A necessidade urgente é esfriar a queimadura. Aplicações frias são indicadas para parar o processo de combustão. O piche aderente deve então ser coberto com uma pomada a base de vaselina para estimular seu emulsionamento. Após a remoção do piche, avalie a profundidade e a seriedade da queimadura. 16 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Fisiopatologia e manifestações clínicas da queimadura A necessidade metabólica do queimado é 6 vezes superior ao normal, fazendo com que o índice calórico se torne insuficiente para alcançar a alta demanda do organismo. Fisiopatologia Local Noções anatomofisiológicas da pele As alterações locais que ocorrem na queimadura influenciam diretamente na fisiologia geral. Um adulto com peso corpóreo em torno de 70 Kg tem cerca de 4.000cm³ de pele. Ele especifica em 1 cm³ de pele os seguintes elementos anatômicos: - Células – 6.000.000 - Vasos sanguíneos – 1m - Nervos – 4 m - Corpúsculos sensitivos – 5.000 - Glândulas sudoríparas 100 - Glândulas sebáceas – 15 - Folículos sebáceos – 5 A pele e todos os seus anexos protegem o corpo contra invasões de microrganismos, produtos químicos e radiações ultravioletas. Tem importante função na regulação da temperatura corporal e atua como sensor, informando ao indivíduo o estado do meio ambiente. A pele é constituída por duas camadas principais: epiderme e derme. Epiderme: de origem ectodérmica, é constituída de várias camadas celulares, a maioria das quais originada das células germinativas que sofrem divisões frequentes do estado basal. A sua camada mais externa é constituída pelo estrato córneo, não vivo, que descama continuamente. A epiderme é desprovida de nervos e é também avascular, recebendo nutrição das papilas do tecido conjuntivo. Derme: de origem mesenquimal, é constituída de grossos feixes de tecido fibroso entre os quais encontram-se vasos sanguíneos, folículos pilosos, glândulas sebáceas e músculos eretores de pelo. A derme não tem capacidade regenerativa, é 17 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado constituída essencialmente por fibras. O organismo substitui a derme perdida através de processo cicatriciais de substituição e não recomposição. Funções da pele: Protege o organismo contra a invasão de microrganismos através das propriedades bactericidas, bacteriostáticas e da própria integridade. Impede as perdas hídricas e salinas, evitando a desidratação pela ação química e biológica. Mantém a temperatura corporal através de mecanismos termo-reguladores. Uma pessoa adulta normal evapora em torno de 700 a 800 ml/dia. Para a evaporação de 1g de água a 37ºC o organismo necessita uma quantidade de calor correspondente a 0,586 K/Cal. As perdas hídricas através das queimaduras chegam de 123 a 143 ml de água/hora/m², necessitando para isso o consumo médio de 1.730 a 2.010 K/Cal/dia. A pele tem função secretora através das glândulas sudoríparas e sebáceas, eliminando água, sais minerais, graxos e outros. Tem função sensorial, através das terminações nervosas sensitivas, que proporcionam a percepção da dor, tato, variações térmicas etc. É sintetizador da Vitamina D, com ajuda da luz solar, e um órgão delimitador do corpo. A atuação do calor sobre a pele produz uma série de alterações locais que resultam da dor, perda de líquidos, destruição dos tecidos e, consequentemente, a infecção, com repercussões gerais. Dor A dor é uma das primeiras queixas do queimado. É o resultado da ação do calor sobre a pele, excitando os filetes nervosos sensitivos. As queimaduras superficiais são mais dolorosas que as de 3.º grau, em virtude de grande número de filetes nervosos não terem sido destruídos. O inverso ocorre na queimadura profunda, quando a maior parte das células sensitivas são destruídas e as remanescentes são protegidas pelos tecidosdesvitalizados, só reaparecendo posteriormente, após a perda desta crosta. 18 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado A dor deve ser o primeiro sintoma a ser tratado, pois é um fator desencadeante de uma série de alterações neuroendócrinas que podem levar ao choque neurogênico. Perda local de líquidos O calor provoca no local queimado uma vasodilatação da rede capilar da derme, aumentando a permeabilidade capilar dos vasos, permitindo um extravasamento do plasma para o espaço intersticial. A formação de vesícula se deve possivelmente à ativação de enzimas proteolíticas na pele. O líquido coletado na superfície descola a epiderme da derme formando as vesículas. O rompimento destas flictenas leva a uma perda real deste conteúdo, ocorrendo o contrário no caso de ser mantida a integridade vesicular. Após 48 horas, a reabsorção do líquido se faz paulatinamente pela drenagem dos linfáticos e pelos capilares venosos, atingindo a sua totalidade, em média, no final de uma semana. Este líquido é importante para o organismo por ser semelhante ao plasma sanguíneo, rico em eletrólito e proteínas. Sua perda contribui para o desequilíbrio hidro-eletrolítico e hemodinâmico, interferindo em todo o organismo, necessitando uma intervenção que vise compensar essas perdas. Destruição dos tecidos A destruição dos tecidos no local queimado está diretamente relacionada com a intensidade e o tempo de ação do agente calórico. De uma maneira geral, existe uma proporcionalidade entre a profundidade das queimaduras e a quantidade de calor que atuou no local. As lesões apresentam-se com características diversas, segundo a maior ou menor intensidade da fonte calórica e o tempo de atuação de cada agente. Estas características se apresentam da seguinte forma: Consequência da ação de pouco calor Produz poças alterações, atingindo somente a camada externa da pele. O calor produz uma vasodilatação dos capilares superficiais da derme, levando a congestão intravascular local que se manifesta por eritema e dor. O epitélio permanece, mas não significa que suas células não estejam danificadas. 19 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado As queimaduras de 1.º grau estão caracterizadas nesta descrição; cicatrizam espontaneamente em poucos dias. Consequência do calor de intensidade média A ação do calor na pele produz vasodilatação e consequente permeabilização capilar aos líquidos. A histamina decorrente da destruição celular nas queimaduras ativa outros elementos que vão favorecer a permeabilidade vascular para a saída de eletrólitos e proteínas que, por sua vez, aumentam a evasão dos líquidos até produzir a hipovolemia. Uma das consequências da hipovolemia é o retardo da microcirculação local que, sofrendo outras interferências, leva à formação de microtrombos. A volta à normalidade só é possível mediante a recuperação da integridade capilar. A dor é intensa no princípio, atenuando com a formação das vesículas e voltando a se intensificar com a rotura do epitélio. As queimaduras do 2.º grau apresentam estas características e geralmente epitelizam espontaneamente em torno de 2 semanas. A infecção pode transformar uma queimadura de 2.º grau em 3.º grau, exigindo enxertia de pele para sua cicatrização. Consequência da ação do calor intenso em curto período O calor intenso e rápido atinge profundamente o local em que atua, produzindo destruição fulminante do tecido, levando à mumificação celular. Não há tempo para a formação de vesículas, pelo fato de o sangue coagular nos vasos. A região, mesmo à distância da área queimada, depende da irrigação destes vasos, produzindo a escara seca. A dor é intensa até a destruição parcial ou total das células nervosas, desaparecendo com a formação da escara e reaparecendo após a eliminação desta, que deixam descobertos alguns neurônios remanescentes. Geralmente, esta escara não tem tendência para infecção, devido ao dessecamento celular que dificulta a vida dos microrganismos. 20 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Estas características são compatíveis com as queimaduras de 3.º grau, que não regeneram espontaneamente, necessitando de enxertia de pele e longa internação. Consequência da ação de média quantidade de calor durante um longo período de tempo. Nesta intensidade calórica, a destruição dos tecidos processa-se em 2 fases. Primeiro, há todo o processo de formação de vesículas, semelhante à descrição da queimadura de 2.º grau. Na segunda fase, ocorre a coagulação do sangue nos vasos, surgindo todas as alterações já mencionadas com a ação do calor intenso num curto período. O edema transforma a necrose em escara úmida favorável à infecção. A dor está presente com intensidade, no início do processo, atenuando com a destruição dos tecidos nervosos. Estas características identificam uma queimadura de 3.º grau. O calor produz outras consequências sobre o revestimento cutâneo, como desequilíbrio iônico com a saída de potássio e entrada de sódio nas células, que por si só desencadeia uma série de alterações gerais. A anóxia tissular, como resultado da deficiência circulatória, é uma consequência. A destruição das hemácias, levando a hemoglobinemia e hemoglobinúria, presentes nas queimaduras elétricas significativas, altera a taxa de hematócrito e consequentemente o estado geral do paciente. Todas estas alterações, mesmo tratadas adequadamente, podem propiciar a infecção local com intensidade variável. Fisiopatologia geral das queimaduras Sistema Respiratório O envenenamento por fumaça resulta da inalação dos produtos de combustão. A resposta pulmonar inclui uma reação inflamatória localizada, uma redução na ação ciliar dos Brônquios e uma redução no surfactante alveolar. 21 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado O edema de mucosa, ocorre nas vias aéreas de menor calibre, levando a uma sibilância audível à ausculta. Após várias horas, pode ocorrer o encharcamento do epitélio brônquico e pode desenvolver a traqueobronquite hemorrágica. O cliente pode apresentar discreta hipertensão arterial, resultando em uma redução nos níveis de tensão de oxigênio arterial. Insuficiência Respiratória A insuficiência respiratória pode ser definida como a incapacidade dos pulmões de arterializar o sangue circulante nos alvéolos. A taxa de arterialização do sangue é considerada normal quando o PO² arterial encontra-se entre 75 e 100 mmHg. A insuficiência respiratória pode ocorrer também quando há aumento da resistência das vias aéreas por obstrução, causando dispneia, mesmo quando o PO² e o PCO² são normais. A fisiopatologia da insuficiência respiratória pode ser dividida em duas fases, a aguda e a tardia. Insuficiência respiratória aguda Todo paciente crítico ou politraumatizado tem tendência a desenvolver insuficiência respiratória aguda e desequilíbrio ácido-básico. A insuficiência respiratória aguda, desencadeada insidiosamente com poucos sinais, é capaz de provocar distúrbios nos órgãos vitais, exigindo percepção aguçada da equipe que permanece ao lado do paciente. Clinicamente, pode-se suspeitar de hipoxemia na presença de agitação, taquicardia, taquipneia, sudorese ou cianose. O sistema respiratório alveolar é composto de alvéolos capilares e revestimento alveolar, onde estão presentes as células pneumócitos tipo I, ocupando 97% da superfície alveolar, que são responsáveis pelo transporte de gás. As células pneumócitostipo II revestem 3% da superfície restante. Carregam a substância surfactante que tem a função de impedir o colabamento alveolar por ocasião da expiração. 22 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Há dois tipos principais de alterações respiratórias agudas no queimado: lesões por gases tóxicos e superaquecidos e insuficiência respiratória pós- traumática. A inalação de substâncias aquecidas como ar quente, principalmente o vapor d’água, é capaz de produzir sérios danos à integridade do revestimento da árvore respiratória, podendo chegar até os alvéolos no caso do vapor d’água. Em geral, as queimaduras térmicas do aparelho respiratório limitam-se às vias aéreas superiores, podendo provocar o aparecimento de edema capaz de obstruir parcial ou totalmente as vias aéreas. A inalação de gases nocivos como a fumaça resultante da combustão de produtos tóxicos pode produzir alterações relacionadas coma fisiologia respiratória, dentre elas: Interrupção dos movimentos ciliares, prejudicando a remoção de resíduos nocivos do aparelho respiratório; Diminuição dos surfactantes, predispondo ao colapso alveolar; Lesão capilar-alveolar levando ao edema já discutido na fisiologia local das queimaduras; Obstrução das vias aéreas pelas rolhas de fuligem e outras. A inalação de fumaça geralmente contém altos índices de monóxido de carbono, um gás tóxico capaz de produzir hipóxia anêmica pelo fato de a hemoglobina apresentar uma afinidade de combinação de 200 a 300 vezes maior pelo monóxido de carbono do que pelo O², não ficando mais disponível para carrear O² até a sua reposição natural que ocorre em torno de 120 dias. Por conseguinte, a inalação de fumaça em ambiente fechado é uma ocorrência altamente letal por ser resultante da combustão de produto irritante, levando a hipóxia e asfixia. A insuficiência respiratória pós-traumática ou consolidação pulmonar progressiva, também chamada pulmão de choque, é uma forma de edema pulmonar que ocorre quando a integridade da membrana alvéolo-capilar pulmonar é rompida por combinação de diversas causas, geralmente não infecciosas. É uma alteração comum não só nos queimados, mas também em portadores de traumas em geral. O edema que ocorre na célula do endotélio leva à diminuição da complacência alveolar, interferindo diretamente no volume do ar movimentado nos alvéolos. O quadro poderá evoluir para o colapso alveolar, que é a fase culminante 23 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado do processo. O colapso pulmonar poderá ocorrer pela diminuição dos surfactantes, pela complacência pulmonar ou por outras causas. Diversos fatores contribuem para a diminuição dos surfactantes, destacando- se: ✓ O choque, que pode desencadear a hipofunção pulmonar e consequentemente a perda dos surfactantes; ✓ A toxidade por O², caracterizada pela dosagem excessiva de O² por longo período de tempo, principalmente através de respirador artificial, ✓ A toxemia por septicemia, produzindo lesão capilar alveolar. A alteração respiratória aguda específica do queimado é a obstrução das vias aéreas superiores decorrente do edema produzido por queimadura de face e pescoço. A limitação da expansão pulmonar, própria dos portadores de queimaduras extensas do tórax, é acentuada nas queimaduras circulares de 3.º grau, podendo ser indicada a escarotomia (incisão que vai relaxar as placas necróticas que circulam o tórax). A diminuição da complacência pulmonar também pode ocorrer por aplicação excessiva de líquidos por via endovenosa, decorrente da conduta terapêutica adotada, levando a hipervolemia, que pode evoluir para edema agudo do pulmão, principalmente após 48 horas de queimadura, quando o edema começa a ser absorvido. O conhecimento da fisiopatologia da insuficiência respiratória aguda permite detectar a gravidade da hipóxia e considerá-la como prioridade na conduta terapêutica do queimado. Insuficiência respiratória tardia O sistema respiratório do queimado é sede de inúmeras agressões que acompanham todo o processo da queimadura, desde a fase inicial até a recuperação total. Na fase tardia ocorrem várias complicações comuns no queimado, entre elas, pneumonia e broncopneumonia, embolia pulmonar e outros. 24 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Pneumonia e Broncopneumonia É um processo inflamatório do pulmão, geralmente causado por agentes infecciosos. Outros fatores contribuem, como agentes predisponentes desde a fase precoce, dentre eles a aspiração de conteúdo gástrico nas alterações de consciência, inalação de fumaça tóxica, imobilização no leito, dificuldade da expansibilidade pulmonar quando há queimadura circular do tórax, agravando-se nas de 3.º grau, diminuição da capacidade pulmonar de erradicar bactérias, como já descrito anteriormente. A própria queimadura infectada é uma fonte de infecção pulmonar. A desnutrição provocada pelo alto gasto energético no queimado produz fraqueza que interfere na expansão do tórax. Outro fator que favorece a infecção é a própria contaminação levada pelo instrumental usado na intubação, traqueostomia e aspirações de secreções. A pneumonia poderá evoluir para broncopneumonia, que é um processo inflamatório pneumônico dos brônquios e de todo o parênquima pulmonar adjacente. Embolia pulmonar Pode se originar na fase aguda, caracterizada pela destruição dos tecidos. A ação do calor sobre a pele ricamente vascularizada pode alterar o revestimento endotelial, podendo chegar até a coagulação intravascular. A destruição das hemácias, que põe em liberdade às hemoglobinas causando a hemoglobinemia, pode favorecer a formação de microtrombos. A tromboplastina liberada na destruição tissular em quantidades elevadas na corrente circulatória leva à trombose. Outras causas que desencadeiam o trombo-embolismo na fase tardia são a imobilização prolongada, a idade avançada, varizes de membros inferiores e alterações cardiovasculares. Toda condição que reduz a velocidade do fluxo sanguíneo pode produzir um trombo e consequentemente embolia. 25 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Choque O estado de choque é uma condição clínica frequente e uma das primeiras a ocorrer no queimado. O conhecimento da fisiopatologia do estado de choque é indispensável a toda equipe, para que as medidas sejam tomadas em tempo hábil. É difícil definir o estado de choque, devido às variáveis que interferem nas manifestações clínicas do organismo. Foi constatado que o resultado final é sempre uma perfusão tecidual inadequada com hipóxia celular em grandes áreas do organismo, podendo evoluir para a irreversibilidade na ausência de tratamento adequado em tempo hábil, com o que concordam vários autores. O choque pode ser classificado em hipovolêmico, cardiogênico, neurogênico e séptico. É difícil o aparecimento do choque isoladamente sem que ocorram outras alterações no organismo. Choque hipovolêmico – ocorre pelo déficit de volume líquido circulante, provocado pela perda de plasma e do sangue intravascular. Choque cardiogênico – resulta da insuficiência cardíaca, ou seja, funcionamento deficiente da bomba cardíaca, causando diminuição do débito cardíaco. Vários fatores funcionam como desencadeantes, entre eles, a embolia pulmonar e a hipovolemia tardia. Caracteriza-se pelo aumento da pressão no leito venoso e da resistência periférica. Choque neurogênico – tem como fatores desencadeantes à dor e o estresse causado pela queimadura.É caracterizado pelo aumento de volume do compartimento vascular, sem alterar o volume sanguíneo real, levando a baixa perfusão tecidual. Choque séptico – é decorrente de septicemia, causado por gram-positivos, gram-negativos e fungos (cândida albicans). Comum em queimados é reconhecido pela hipovolemia e depressão da função cardíaca. Fisiopatologia do Choque O organismo, sofrendo uma injúria como a queimadura, desperta a reação de compensação e libera pela medula adrenal catecolaminas que vão atuar nas arteríolas venosas e arteriais dos principais órgãos, produzindo vasoconstrição, favorecendo o fluxo sanguíneo cardíaco e cerebral. 26 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Todos os choques em suas diversas fases afetam diretamente a microcirculação. Primeiramente, produzindo uma hipovolemia, através da contração dos esfíncteres précapilares das arteríolas, levando à hipotensão capilar que, consequentemente, resulta em movimentos de líquidos para o espaço vascular, aumentando o volume sanguíneo. Após a compensação do volume sanguíneo, os esfíncteres pré-capilares que tinham se fechado voltam à função normal. Na ausência de tratamento o organismo sofre outra crise. É o choque que persiste, instalando-se a 2.ª fase e agravando o quadro. Nesta fase os shunts arteriovenosos se dilatam desviando o fluxo arterial de volta para o sistema venoso. As células que recebiam sua nutrição através da microcirculação entram em sofrimento, o metabolismo se processa com déficit acentuado de oxigênio, glicose, e outros elementos trazidos pelo sangue arterial. Os produtos residuais decorrentes do metabolismo aumentam. A histamina é liberada e o esfíncter pós-capilar se fecha tornando o fluxo lento com poucos capilares em atividade. Inicia-se a 3.ª fase ou fase de descompensação, com interferência da acidose metabólica no esfíncter pré- capilar, que se abre, enquanto os pós-capilares permanecem fechados. A atuação da histamina ativa a hialuronidase que, por sua vez, atua sobre o ácido hialurônico, favorecendo a permeabilidade capilar, permitindo a evasão do líquido plasmático e das moléculas dos eletrólitos, seguidos de proteínas de menor volume molecular (como a albumina) para o espaço intersticial. Este fato produz um aumento da pressão hidrostática e oncótica, de modo a atrair líquidos das áreas próximas. O extravasamento do líquido plasmático com os elementos do sangue do espaço vascular para o intersticial produz um retardo na microcirculação local. Agrava-se o quadro, aumentando a acidose que, em presença da tromboplastina, ativa o sistema de coagulação intravascular, favorecendo a aglutinação das hemácias, leucócitos e plaquetas, resultando em microtombos. Enquanto tudo isto ocorre, a circulação arteriovenosa continua a suprir os elementos necessários às áreas vitais do cérebro e do coração. Na 4.ª fase, ou de recuperação, se for administrado o tratamento correto, o volume sanguíneo efetivo é restabelecido, os esfíncteres pré e pós-capilares são relaxados permitindo a remoção dos elementos figurados do sangue para a circulação sistêmica. As células muito danificadas são recuperadas total ou parcialmente. Na ausência de conduta adequada, o processo evolui para o óbito. 27 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Os sintomas mais comuns do choque são: palidez, frio, pele úmida, taquipneia, isquemia dos lábios, gengivas, língua e pálpebras, pulso filiforme, hipotensão, taquiesfigmia. Sistema Cardio vascular Imediatamente após uma lesão de queimadura, substâncias vaso ativas como: catecolamina, histamina e serotonina, são liberadas dos tecidos lesados. Essas substâncias causam aumento na permeabilidade capilar, permitindo que o plasma extravase para dentro do tecido ao redor. O calor direto lesa os vasos e aumenta a permeabilidade capilar; a lesão direta da membrana celular permite a entrada de sódio e saída de potássio da célula, levando a um aumento do líquido intracelular e intersticial e depleção do volume de líquido intravascular. Queimados extensos apresentam edema corporal generalizado, tanto no tecido queimado como no não queimado e aumento da circulação do volume de sangue intravascular. A frequência cardíaca aumenta, pela liberação de catecolaminas. A perda de líquido por evaporação através do ferimento queimado é 4-20 vezes maior que o normal e permanece elevada até que seja obtido o fechamento completo do ferimento. Se o espaço intravascular não for reposto com líquidos intravenosos, o cliente pode ter um choque hipovolêmico. Sistema Gastrintestinal e Renal O organismo reage inicialmente, desviando sangue dos rins, reduzindo a taxa de filtração glomerular, causando oligúria. O fluxo de sangue para o mesentério também é diminuído, levando ao desenvolvimento do íleo paralítico e disfunção gastrintestinal em clientes com queimaduras superiores a 255 de área total superficial do corpo. Sistema imune Ocorre alteração no funcionamento dos neutrófilos e macrófagos, depressão da atividade linfocitária, resultando em aumento do risco para infecção e septicemia. 28 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Fisiopatologia do metabolismo do queimado O queimado sofre uma série de alterações gerais, cuja intensidade varia de acordo com o paciente e a gravidade do caso. Entre as diversas áreas atingidas, a metabólica tem influência decisiva sobre as respostas do organismo ao tratamento. O metabolismo pode ser definido como um conjunto de fenômenos sofridos pelos alimentos capazes de transformá-los em elementos complexos integrantes dos tecidos (anabolismo) e, destes, em substâncias simples (catabolismo), produtora de energia para todo o organismo. O gasto metabólico aumenta progressivamente com a queimadura. O consumo de O² se torna elevado, normalizando-se gradativamente por ocasião da cicatrização da lesão. O estresse da queimadura é um fator desencadeante de uma série de alterações endócrinas nas glândulas supra-renais, dentre elas a liberação aumentada das catecolaminas que atuam diretamente na glicogenólise hepática, liberando glicose e ácidos graxos e sobre o pâncreas, dificultando a liberação de insulina. A glicose é o suporte energético que sustenta o hipermetabolismo do queimado. Portanto, o organismo busca todos os meios para aumentar a taxa de glicose. Diversos outros hormônios atuam como mediadores dessa resposta metabólica, como os glicocorticoides, o hormônio do crescimento e o glucagon. O resultado final no grande queimado é sempre um balanço nitrogenado negativo. Parte do nitrogênio eliminado pela urina é decorrente da degradação proteica na área queimada, sendo que a maior quantidade da degradação de aminoácidos é proveniente da massa muscular. Diante da demanda crescente de energéticos, o organismo utiliza os aminoácidos para manter a taxa metabólica. O fornecimento de calorias abaixo dos gastos, em cada caso, resulta no rápido consumo das reservas do organismo, levando à destruição, com todas as consequências graves para o queimado, como: Diminuição da massa muscular pelo consumo de seus aminoácidos, o que torna os músculos respiratórios débeis, propiciando a insuficiência respiratória e consequentes patologias secundárias; Dificuldade de cicatrização das lesões, mantendo a exposição do organismo a infecções; Deficiência imunológica, levando a infecções graves. Outros fatores que interferem no equilíbrio metabólico do queimado são anorexia, íleo paralítico, úlcera 29 www.estetus.com.brAssistência de enfermagem ao paciente queimado de Curling e até os distúrbios metabólicos decorrentes de medidas terapêuticas, como administração de antibióticos e terapêuticas tópicas. Tanto quanto possível, deve-se manter um balanço nitrogenado positivo durante a evolução pós- queimadura. A manutenção positiva deste balanço resulta em acentuada redução nas complicações infecciosas, caindo à taxa de mortalidade e propiciando a recuperação precoce. Um grande queimado deve receber o dobro das demandas calóricas e proteicas normais para poder manter um balanço nitrogenado positivo, isto é, em torno de 4.000 Kcal por 24 horas. FASE DE EMERGÊNCIA / REANIMAÇÃO DO CUIDADO DA QUEIMADURA Cuidado do Local Qualquer pessoa que encontre uma vítima de queimadura pela primeira vez pode se sentir indefesa. A aparência da pessoa queimada pode ser, aterrorizante. Pode ser difícil não dar atenção à aparência da pessoa em lugar de se concentrar nas feridas por queimadura consiste em evitar a lesão para o agente de resgate. PROCEDIMENTO DE EMERGÊNCIA NA CENA DO FOGO Extinguir as chamas Quando as vestes pegam fogo, as chamas são extintas como as vítimas deitando no chão e rolando (“cair e rolar”); pode ser usada qualquer coisa disponível que abafe as chamas como um cobertor, tapete ou capa. Ficar em pé força a vítima a respirar as chamas e a fumaça e correr aumenta as chamas. Se a fonte da queimadura for elétrica, a fonte de eletricidade deve ser desconectada. Resfriar a queimadura Depois que as chamas são extintas, a área queimada e as roupas aderidas são embebidas em água fria, por breve período de tempo, a fim de resfriar a ferida e estancar o processo da queima. Quando uma queimadura for sustentada, a aplicação da água fria é a melhor medida de primeiros socorros. Embeber intermitentemente a área queimada em água fria ou aplicar toalhas frias propicia o alívio evidente e imediato da dor e limita o edema e a lesão tecidual 30 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado locais. Entretanto, nunca aplique gelo diretamente nas queimaduras, nunca envolva as vítimas de em queimaduras em gelo e nunca use curativos ou compressas frias por mais de alguns minutos; esses procedimentos podem agravar a lesão tecidual e levar a hipotermia nos pacientes com grandes queimaduras. Remover objetos restritivos Quando possível, remova imediatamente as roupas. As roupas que aderiram podem permanecer na posição, quando resfriadas. As outras roupas e todas as joias devem ser removidas para possibilitar a avaliação e para evitar a constrição secundária ao edema em desenvolvimento rápido. Cobrir a ferida A queimadura deve ser coberta o mais rápido possível para minimizar a contaminação bacteriana e diminuir a dor ao evitar que o ar entre em contato a superfície lesada. Os curativos esterilizados são melhores, mas qualquer tecido limpo e seco pode ser utilizado como um curativo de emergência. Não devem ser usados pomadas e cremes. Além do curativo, nenhum medicamento ou material deve ser aplicado à ferida por queimaduras. Irrigar as queimaduras causadas por substâncias químicas As queimaduras por substâncias químicas decorrem do contato com material corrosivo são imediatamente irrigadas. Muitos laboratórios de substâncias químicas possuem um chuveiro de alta pressão para essas emergências. Quando essa lesão acontece em casa, afaste o agente químico, remova as roupas de imediato e lave todas as áreas do corpo que tenham entrado em contato a substância química. O enxágue pode ocorrer no chuveiro ou em qualquer outra fonte de água corrente contínua. Quando uma substância química penetra nos olhos ou fica próxima a eles, os olhos devem ser imediatamente lavados com água limpa e fria. Os resultados para paciente com queimaduras por substâncias químicas melhoram com a lavagem rápida da lesão no local. Assistência de enfermagem de urgência Este tipo de assistência geralmente é prestado em prontos-socorros ou hospitais. 31 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Deve atuar no atendimento de urgência equipe especializada ou devidamente treinada. O paciente queimado apresenta características próprias, como estresse, medo, ansiedade, irritabilidade, depressão, etc., que vão intensificar o sintoma da dor, influenciando diretamente em todos os demais sintomas presentes no quadro clínico do queimado. A qualidade da assistência de enfermagem é decisiva na recuperação precoce do paciente e na prevenção de sequelas físico-psicossocias. O paciente deve ser recebido em sala própria para atendimento de queimados até 24 horas após o acidente (considerado não infectado); colocado em mesa revestida de campo estéril, removidos toda vestimenta, joias e demais objetos de adorno, para melhor observação da área queimada. A equipe deve estar devidamente paramentada, isto é, usando avental, gorro, máscara e luvas estéreis. A assistência, para fins didáticos está dividida em local e sistêmica. Tratamento geral ou sistêmico imediato Visa prevenir os sintomas de anóxia, dor, choque e infecção que devem ser tratados o mais precocemente possível. Tratamento da anóxia A anóxia pode ser resultante da insuficiência respiratória ou da anóxia tecidual. Deve ser corrigida imediatamente, através de administração de O2 úmido por cateter nasal, principalmente nos casos evidentes de acidentes ocorridos em ambientes fechados com inalação de fumaça. O paciente pode apresentar, além de rouquidão, queimadura total ou parcial dos pelos das narinas e edema. Quando associada às queimaduras da face e pescoço que apresentam edema acentuado, o paciente corre o risco de edema de orofaringe, o que deve ser evitado, mediante observação constante e, se necessário, entubação ou traqueostomia. O material necessário para estes procedimentos deves estar em condições de uso na sala de urgência. Os pacientes com este quadro deverão ser observados constantemente durante 48 horas após o acidente. 32 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Tratamento do Choque O tratamento do choque se caracteriza pelo restabelecimento e manutenção do volume líquido circulante. O desencadeamento do choque se dá só pela perda de líquidos, mas por vários outros fatores já descritos anteriormente, como a dor, o estresse etc. O choque é um dos sintomas principais da fase aguda das queimaduras e se não prevenido ou tratado precocemente causa vários problemas, chegando a ser irreversível e levando o paciente à morte prematura. O tratamento consiste na reposição dos líquidos perdidos, a qual deverá ser iniciada imediatamente após a coleta de amostra de sangue para exames e da sedação do paciente na sala de urgência. A via escolhida deve ser a periférica, até a avaliação geral da necessidade quantitativa de hidratação. Para o cálculo dos líquidos que serão infundidos deverão ser consideradas a extensão e profundidade da área queimada, o peso do paciente e fatores de risco, como idade, patologias preexistentes que influenciarão no estado geral do paciente, entre elas, as cardiopulmonares, as nefropáticas, vasculares e outras. Em geral, adultos com queimaduras acima de 20% de Superfície Corporal Queimada e crianças com queimaduras acima de 10% de (SCQ) deverão ser hidratadas por via endovenosa, além da oral. Em todos os casos de grandes queimados e em alguns de médio queimados, a hidratação deverá ser fita através de uma veia calibrosa (flebotomia ou intracath). Controle de reposição de líquidos O cálculo da quantidade e volume dos líquidosa ser reposta não deve ser inflexível e sim adaptado às necessidades específicas de cada paciente, evitando a super ou subhidratação. O indicador mais preciso da quantidade adequada é o volume urinário. Porém, há outros fatores que devem ser observados, como: - Condições gerais do acidentado; - Exame do sistema cardiovascular ou respiratório; - Idade (geriátricos e crianças toleram menos infusões rápidas, devido às características do sistema cárdio-respiratório); - Outras patologias preexistentes. 33 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Controle laboratorial O hematócrito permite acompanhar a regressão ou progressão da hemoconcentração na fase aguda. Outros fatores podem surgir, interferindo nas características e no volume sanguíneo, como hemólise das hemácias, úlcera de Curling e outros, alterando o resultado do hematócrito a ponto de não servir mais como parâmetro para a hidratação adequada. Controle dos dados vitais: pulso e P.A, frequência respiratória e P.V.C. Controle da diurese Deverá ser cateterizada a bexiga com sonda vesical de demora. O volume urinário horário no adulto deve manter-se entre 30 a 60 ml/h, principalmente nas primeiras 48 horas e, na criança, 1 ml/kg de peso. A redução da diurese indica hidratação insuficiente e consequentemente problema renal. O volume aumentado indica administração hídrica excessiva ou lesão renal. Estas alterações deverão ser corrigidas mediante mudança na conduta terapêutica. Prevenção de infecção A infecção é muito temida no queimado, pois os resultados são funestos, retardando a recuperação ou levando a morte. A prevenção deve ser iniciada o mais precocemente possível, no hospital, já no atendimento de urgência, usando sala asséptica, pessoal treinado e adequadamente paramentado. Em alguns casos, onde as condições higiênicas da queimadura são precárias, utiliza-se antibiótico profilático. Rotineiramente, é feita a prevenção do tétano em queimados. Esta infecção é grave e quase sempre fatal. Os pacientes não imunizados ou que receberam vacina completa há mais de 10 anos, ou aqueles que não receberam as 3 doses da vacina, devem receber imunização ativa e passiva. Alguns serviços preferem fazer a imunização completa nos pacientes com mais de 5 anos de vacinação, com 3 doses, fundamentados no princípio do risco da conservação inadequada da vacina. 34 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Imunização ativa Compreende a administração de um antígeno para estimular a formação de anticorpos contra o tétano. Em geral, são necessárias 2 a 3 semanas para se formarem os anticorpos. Imunização passiva Compreende a administração de anticorpos formados previamente, tem vida curta de atuação, em torno de 3 semanas. Geralmente, as crianças estão vacinadas, de acordo com esquema de imunização, com a vacina tríplice e os pais ou responsáveis precisam ser ajudados a relembrar o mesmo acontece com as jovens que foram vacinadas no pré-natal. Na indecisão quanto a estar ou não imunizado, o paciente deverá receber a imunização ativa e passiva como se não tivesse recebido a vacina anteriormente. Tratamento imediato, no local da área queimada. O tratamento local tem por objetivo aliviar e tratar os sinais e sintomas que surgem na queimadura, como a dor, perda de líquidos, destruição dos tecidos e infecção. O curativo local tem por objetivo isolar e proteger a lesão do meio ambiente por tempo suficientemente capaz de recuperá-la. O manejo consciente da área queimada é de extrema importância, visando à profilaxia de infecções e a epitelização rápida da área. Método de tratamento local das queimaduras Os métodos empregados no tratamento local das queimaduras são dois, o de exposição e o de oclusão, já preconizados e usados por seus pesquisadores no início deste século. Geralmente, na assistência ao médico e grande queimado são usados simultaneamente, o que intitularemos de misto. Método de oclusão O curativo fechado, ou método de oclusão, compreensão e pouso (OCR), é indicado nas queimaduras dos pés, mãos, membros, queimaduras de 3.º grau, circular de tórax e em tratamento ambulatorial. 35 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Material para confecção do curativo - Pacote de curativo (pinça anatômica, pinça dente de rato, tesoura); - Cuba rim; - Gazes cirúrgicas; - Gazes de morim ou rayon; - Gazes de rolo ou para queimados, medindo 10x150 cm; - Algodão hidrófilo, na ausência deste usar algodão ortopédico; - Atadura de crepe; - Fita adesiva ou esparadrapo. Soluções e material acessório - Soro fisiológico; - Sabão líquido neutro; - Benzina; - Éter; - Hamp revestido de saco plástico para lixo. Procedimento Limpar a área com soro fisiológico, com auxílio das pinças, tesouras e gazes; retirar os tecidos desvitalizados, detritos e corpos estranhos, como resíduos de vestes; tratamento aplicado nos primeiros socorros. Existem serviços (Clínica de Queimados e Cirurgia Reparadora – C.Q.C.R – H.M.C.C) onde é feita a ressecção de vesículas existentes, mesmo as que não estão rotas. Conduta a que não se alinham. Há duas correntes que deferem condutas diferentes a respeito do tratamento das queimaduras com vesículas. Aqueles que defendem o não debridamento das vesículas justificam que o líquido contido nestas é semelhante ao plasma do sangue e a drenagem favorece a espoliação do paciente. Parte deste líquido é reabsorvida posteriormente para o espaço intravascular, razão pela qual as vesículas deverão permanecer até a troca do curativo, quando serão ressecadas. O debridamento expõe precocemente a área queimada à ação de microorganismos. 36 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Os que usam o método de debridamento das vesículas afirmam que o líquido acumulado no interstício dérmico descola a epiderme do derma formando as vesículas. Quanto maior a coleção de líquidos dentro das vesículas maiores a área de descolamento tornando mais vulnerável o rompimento espontâneo com perda real de líquidos. A percentagem de líquidos reabsorvida das vesículas até a troca do curativo não é tão significativa. Também no cálculo da reposição hídrica não é considerada esta reabsorção. Portanto, a drenagem não altera a volemia do paciente. O rompimento espontâneo das vesículas mais vulneráveis sob o curativo funciona como meio de cultura para os germes, que invadem as vesículas não rotas, transformando-as em bolsa de secreção purulenta. Confecção do curativo 1.ª camada – cobrir a área queimada e uns 10 cm de pele íntegra adjacente com gazes de rayon ou morim, embebidas em soro fisiológico ou vaselina. O morim ou rayon deve ser cortado em cada volta circular ao redor do membro ou tórax, prevenindo o garroteamento pela formação de edema, facilitando a retirada na troca do curativo; 2.ª camada – cobrir as gazes de malha fina com gaze para queimado ou gaze de rolo. Esta deve ser colocada em ziguezague ou vaivém, atendendo a mesma finalidade de prevenção de garroteamento; 3.ª camada – cobrir a gaze de rolo com um algodão hidrófilo em forma circular e uniformemente por toda região; 4.ª camada – enfaixar compressivamente com ataduras de gazes elásticas (tipo crepom). Fixar o curativo com fita adesiva ou tiras de esparadrapo, de tal forma que garanta a integridade do curativo por 3 a 4 dias, apesar da movimentação do paciente. Cuidados especiais devem ser tomados ao se fazero curativo nas mãos e pés. Os dedos da mão deverão ser envolvidos separadamente com rayon ou morim e, na 2.ª camada, com gaze cirúrgica. Posteriormente, deverão ser enfaixados em posição funcional, isto é, com os dedos levemente fletidos, como se estivessem segurando uma bola de vôlei. Os dedos dos pés também deverão ser envolvidos separadamente, até a 2.ª camada, e colocados posteriormente em posição de 90 37 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado graus em relação à perna. Esta medida visa prevenir a queda plantar, tão comum em pacientes de longa internação com movimentos limitados. As queimaduras de 3.º grau com circular de membros e tórax geralmente necessitam da escarotomia, que consiste em incisões longitudinais, feitas com bisturi, para aliviar a compressão que o tecido lesado pode exercer neste local, trazendo dificuldade circulatória nos membros e respiratória do tórax. Estes locais, após a oclusão com curativos, devem ser observados visando sustar hemorragias, que são frequentes. A observação da aparência externa do curativo é importante. Quando o revestimento externo (atadura de crepe) do curativo está úmido ou sujo, é sinal que deixou de ser oclusivo. Está sujeito a infecção e deve ser trocado mesmo que a data prevista esteja distante. Finalidade das gazes utilizadas no curativo ✓ Gaze de malha fina (rayon ou morim) visa a não aderência na área queimada, facilitando a troca de curativos e favorecendo a drenagem de secreções. O rayon é mais indicado porque os fios não absorvem secreções; portanto, não aumentam o diâmetro, favorecendo a drenagem de secreções de forma mais abundante. ✓ Gaze de rolo ou para queimados – favorece a absorção da secreção que drena através da 1.ª camada e permite a proteção da área queimada de maneira uniforme, o que não seria possível com gazes cirúrgicas, que dificultam a confecção do curativo pelo deslizamento das unidades. ✓ Algodão hidrófilo – permite a absorção da secreção que drena através da 2.ª camada do curativo e promove a compressão uniforme da área queimada, reduzindo a dor e oferecendo maior conforto ao paciente, protegendo-o de traumas secundários na movimentação. O algodão ortopédico não é o mais indicado porque tem menos capacidade de absorção. Sua elasticidade é inexistente, o que pode prejudicar a circulação na área envolvida, principalmente na formação do edema. 38 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Atadura de crepom – tem por objetivo a compressão uniforme e suave, além de fixação do curativo. O enfaixamento deve obedecer ao princípio fisiológico da circulação sanguínea, permitindo compressão uniforme decrescente da extremidade para a raiz dos membros. A absorção da perfusão periférica e edemas acentuados permite a avaliação do enfaixamento. O curativo deverá ser reforçado com fita adesiva ou tiras de esparadrapo, permitindo a sua integridade apesar dos movimentos, até a troca, que poderá ocorrer 3 a 5 dias após. Método de exposição Consiste na exposição completa da área queimada ao meio ambiente. Este método é usado para o tratamento de queimaduras de face, pescoço, períneo e tórax de pacientes internados e adultos conscientes. Deve ser evitado nestas regiões, se houver exposição de ossos, vasos sanguíneos, nervos e tendões. Procedimento O curativo da área queimada consiste na limpeza da queimadura e região circunvizinha com soro fisiológico e sabão neutro, retirando-se corpos estranhos e ressecando as vesículas com auxílio de gazes, pinças e tesouras manuseadas com delicadeza e habilidade. Nos pacientes com queimadura circular de tórax aos quais for indicada a hospitalização, optar pela exposição, mantendo um coxim sob a parte do tórax que ficará apoiada no leito. O coxim compreende as mesmas camadas do curativo oclusivo, sendo substituída à atadura de crepe pelo campo estéril. Este é confeccionado com técnica asséptica, de forma inversa à que se faria no paciente, isto é, de dentro para fora, seguindo a sequência descrita: abre-se o campo estéril em tamanho proporcional ao da região a ser protegida, usando-se uma mesa ou a própria cama do paciente, acolchoando-se todo o campo com algodão hidrófilo; recobre-se todo o algodão com gaze de rolo aberta, coloca-se em cima o morim ou rayon umedecido com soro fisiológico. Põe-se o paciente no leito sobre o coxim, no decúbito indicado, de maneira que não flexione o corpo, evitando enrolar as camadas e permitindo uniformidade em toda a extensão. Toda extensão da área queimada exposta deve repousar sobre campos estéreis que deverão revestir o leito. A sustentação de lençóis e cobertores é feita 39 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado com arco de proteção de metal estéril ou, na impossibilidade, devidamente lavado com água e sabão e desinfetado. A primeira peça que fica em contato com o arco deve ser campo estéril. Sobre este repousarão o lençol, cobertores e colcha. O ambiente deve ser aquecido em lugares de clima frio. Em geral, após as 48 horas, surge uma crosta fina e lisa semelhante ao esmalte sobre a área queimada, resultante do dessecamento do plasma. Esta crosta é chamada de curativo biológico. Tem a finalidade de proteger o local queimado contra microrganismos, diminui a perda de líquidos, impedindo a evaporação, atenuando a dor e isolando as terminações nervosas do contato com o ar. Comparação entre os dois métodos de curativos Os empregos dos dois métodos (oclusivo e explosivo) dão bons resultados, desde que tenham indicação precisa para a aplicação. Exposição – Vantagem Custo: mais econômico gasto mínimo de material e mão-de-obra. Porém, nem todos concordam com esta afirmativa. Observação das lesões: permite a observação constante das lesões, possibilitando surpreender no início qualquer foco infeccioso. Aplicação do método: ideal para face e períneo, locais onde se abrem vários artifícios com drenagem de secreções naturais exigindo higiene frequente. Proliferação dos germes: o dessecamento do plasma sobre as lesões constitui um meio desfavorável à proliferação de germes. Curativos: não há troca de curativos dolorosa. Os curativos são simples, restringindo a limpeza diária das secreções sem causar grande desconforto ao paciente. Mobilização: permite movimentação espontânea, possibilitando a observação de deformidades de posição e sua correção precoce. No entanto, esta mobilização deve ser a estritamente necessária para evitar solução de continuidade e conservar a integridade da crosta protetora, podendo haver focos infecciosos em pontos onde esta se rompe. Desvantagens - Aplicação do método: limitado, contra-indicado em queimaduras profundas, extensas ou circulares e não indicada para aplicação em ambulatório. 40 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado - Tolerância: nas primeiras 48 horas, enquanto as crostas não se formarem, a dor e a sensação de desconforto são mais intensas, exigindo a administração de sedativos. - Contaminação: favorece a contaminação mesmo em isolamento parcial, com observação de técnica asséptica e limpeza rigorosa do ambiente, exigências não comumente encontradas na maioria dos hospitais da comunidade brasileira. - Proteção contra as variações térmicas: A exposição protege menos o paciente contra as variações térmicas do meio ambiente. A temperatura deve ser mantida constantemente no verão e inverno. O paciente descoberto não deve sentir frio ou calor. - Perda de líquidos: Nas primeiras 48 horas,a perda de líquidos é maior devido à evaporação, intervendo-se esta situação na fase tardia. Duas condições básicas interferem na evaporação da água através da pele: uma relacionada com o paciente e outra relacionada com o meio ambiente (umidade do ar, temperatura ambiente e aeração local). Curativo oclusivo – Vantagens - Aplicação do método: Em geral, tem menos contra-indicações. Mantém a lesão em repouso durante a fase de agressão, facilitando a recuperação. É indicado especialmente para queimaduras circulares e profundas, tratamento ambulatorial, crianças, pessoas agitadas ou deficientes mentais. - Tolerância: O alívio da dor é mais rápido, a oclusão isola os ferimentos dos estímulos externos; posteriormente, a situação é inversa. - Contaminação: Evita a contaminação pela oclusão. Ideal para ambientes de hospitais superlotados e com déficit de pessoal especializado. - Proteção contra as variações térmicas: Nos climas frios, a oclusão é mais tolerada, protegendo melhor o paciente. No verão a situação é inversa. - Perda de líquidos: A perda inicial de líquidos é menor na oclusão, por evitar a evaporação. O contrário ocorre posteriormente, em virtude da absorção dos líquidos nas bandagens dos curativos, intensificando as perdas reais. 41 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Desvantagens da Oclusão - Custo: é mais dispendioso, exigindo muito material e mão-de-obra especializada para troca de curativos. - Observação das lesões: a presença ou ausência de infecção só pode ser avaliada através de hipertermia, dor, odor fétido, aspecto externo do curativo (dados indiretos). - Proliferação de germes: a oclusão da área possibilita condições favoráveis à proliferação de germes pelo calor, umidade e ausência de claridade. - Curativos: a necessidade da troca do curativo periódica torna a aplicação do método mais traumatizante para o paciente e equipe de enfermagem. Nos intervalos da troca há queixas de desconforto geral, odor fétido, prurido, calor etc. Na confecção do curativo, se a compressão não for uniforme, o paciente se queixa de dor e formigamento e apresenta alteração da perfusão periférica e edema local. - Mobilização: a oclusão dificulta a mobilização das articulações do membro afetado, impossibilita a verificação de deformidades de posicionamento e sua correção precoce. No entanto, o paciente fica mais livre para se movimentar, sendo também mais fácil o seu transporte. Primeiro atendimento do paciente queimado Exame básico (ATLS) A – Vias Aéreas Suspeitar de lesão de via aérea sempre que a história ou o exame físico justificarem. Lembrese que os sinais de comprometimento podem ser tardios e não devemos aguardar que se instale uma insuficiência respiratória franca, já que isso pode inviabilizar o acesso a uma via aérea definitiva por intubação e exigir uma abordagem cirúrgica. B – Boa Respiração Além dos danos causados pelas lesões térmicas da via aéreas, da inalação de produtos tóxicos que produzem traqueobronquites químicas, edema e pneumonia, outro importante fator de agravamento respiratório é a intoxicação por monóxido de carbono. 42 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Sempre considere a possibilidade de intoxicação por monóxido de carbono em queimado com história de lesão em ambiente fechado. O diagnóstico da intoxicação é clínico e é feito principalmente pela história. Quando os níveis séricos de CO são inferiores a 20%, não costuma haver sinais clínicos. Com níveis mais elevados, pode haver: Cefaleia e náusea (20 a 30%), confusão (30 40%), coma (40 a 60%) e morte (>60%). O tratamento consiste em oferecer O2 em altas concentrações por máscara ou ventilação assistida, sempre em sistema sem recirculação. C – Circulação D – Dano Neurológico E – Exposição Volume sanguíneo circulante: Num queimado, até mesmo a medida da pressão arterial pode ser difícil. A monitoração do débito urinário é uma das formas mais fidedignas de se avaliar a qualidade do volume circulante. Torna-se então obrigatória à sondagem vesical nos queimados com mais de 20% de superfície corpórea queimada. A diurese recomendada é de 1 ml/Kg por hora para crianças com menos de 30 Kg, ou 30 a 50 ml por hora para os adultos. A estimativa do volume a ser infundido pode ser feita através da formula: Este volume deve ser infundido com solução de Ringer lactato. Nas primeiras 8 horas após a queimadura, o paciente deve receber 50% do volume calculado, nas outras 16 horas deve receber os outros 50%. É bom lembrar que esta formula serve somente para estimar o volume necessário, o objetivo final é garantir volume circulante e a perfusão tecidual, avaliada através do débito urinário. Outros cuidados: 1. Pesar o paciente: muitas vezes a única oportunidade de se avaliar o peso do queimado é na admissão, já que nos casos mais graves os cuidados intensivos não permitem a pesagem. 43 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado 2. Sondagem nasogástrica: está indicada em queimados com mais de 20% de superfície queimada. Ela vai diminuir a distensão gástrica e evitar náuseas, vômitos e distensão abdominal. 3. Sedação da dor: deve ser administrada por via endovenosa. Como pode haver hipoxia ou hipovolemia, a administração de sedativos deve ser feita em doses pequenas e frequentes. 4. Antibióticos: não há indicação para uso profilático de antibióticos. Eles devem ser utilizados somente para tratar as infecções que podem surgir durante o tratamento. 5. Cuidados com a ferida: Não devemos romper as bolhas na fase aguda da queimadura. Para dar mais conforto ao paciente, podemos lavar a área queimada e cobri-la com compressas úmidas em soro morno. 6. Queimaduras circunferências: pacientes com queimaduras de terceiro grau que acometem toda a superfície de um membro podem desenvolver um quadro isquêmico progressivo relacionado à instalação de edema tecidual. Nestes casos, está indicada uma escarotomia, procedimento que deve ser realizado na sala de emergência e que garante a viabilidade funcional do membro. Critérios para transferência: A tabela traz os critérios da Associação Americana de queimaduras para a transferência de pacientes vítimas de queimaduras. Estes critérios não devem ser encarados como normas rígidas, mais sim como orientações gerais. Lembre-se que na transferência toda documentação referente ao atendimento prestado deve acompanhar o paciente, inclusive: 1. Folha de registro do atendimento ao queimado, contendo superfície queimada e respectiva profundidade de cada área. 2. Descrição de todos os cuidados prestados no atendimento, inclusive do volume e tipo de infusões oferecidas, drogas administradas e resultados de exames. 44 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado Tabela: Triagem de pacientes vítimas de queimaduras Reposição hidro-eletrolítica (grande queimado) Cateterizar preferencialmente veia periférica de grosso calibre e calcular reposição inicial: Pela fórmula de Parkland: 4 ml/kg de peso corporal/percentagem SQC, de Ringer com Lactato. Sendo que, para fins de cálculo inicial, programa-se que a metade deste volume deva ser infundida nas primeiras 8 horas após a queimadura. Exemplo: Homem 70kg com 30% SQC Volume de Ringer = (4ml/kg x 70kg) x 30 = 8400ml 45 www.estetus.com.br Assistência de enfermagem ao paciente queimado
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