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Biomecânica Biomecânica 1 PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS MATERIAIS Homogeneidade e Isotropia Um material homogêneo é aquele que é o mesmo em todos os pontos do espaço. A maioria dos materiais biológicos é constituída de diferentes materiais. Portanto, materiais biológicos são materiais NÃO HOMOGÊNEOS. Entretanto, estes materiais apresentam uniformidade de comportamento se analisar uma porção deste material com algumas ordens de grandeza maior do que a escala da não- homogeneidade local. Materiais compósitos podem aproveitar as propriedades desejáveis de cada um de seus componentes ou podem usar alguns componentes para compensar as propriedades de outros componentes. Biomecânica 2 Materiais Compósitos Exemplo mais comum é o uso de fibras de material duro ou fortes em uma matriz mais mole. As fibras podem possuir incrível força ou dureza, porém tendem a ser quebradiços e podem ser facilmente danificados. Trincas se propagam muito rapidamente nestes materiais. Quando estas fibras estão envoltas por uma matriz elástica, o compósito não irá possuir tanta força ou dureza, porém será muito menos susceptível a danos. Matrizes de epóxi, fibras de carbono e fibras de vidro são largamente usados na indústria aeroespacial para produzir estruturas fortes, duras e leves. O corpo humano usa princípios similares na construção de ossos e de tecidos. Biomecânica 3 Material Isotrópico Um material isotrópico é aquele que apresenta as mesmas propriedades em todas as direções. Muitos materiais compósitos são projetados especificamente para ser anisotrópicos. Um compósito de fibras de vidro alinhadas em uma direção numa matriz de epóxi será muito resistente na direção das fibras, porém as propriedades na direção transversal dependerão daquelas da matriz. A mesma situação ocorre em ossos e em tecidos. A princípio, o organismo tende a alinhar suas fibras para coincidir com as direções das cargas. Por exemplo: Um osso longo terá suas fibras orientadas ao longo do eixo e um tubo pressurizado terá suas fibras alinhadas de forma circunferencial. Além disso, em um organismo vivo ocorrerá o processo de remodelamento no qual a fibras podem se realinhar quando as direções da carga mudar. Biomecânica 4 Relação entre Carga/Deslocamento P Carga x L P Deslocamento Relação entre Tensão/Deformação P x L P Deformação, L x=ε Tensão, A P=σ Biomecânica 5 PROPRIEDADE DOS OSSOS O osso é um material compósito, contendo tanto componentes orgânicos (1/3 da massa) e inorgânicos. Parte orgânica a. Osteoblastos: Célula mono-nuclear que forma os ossos. A mistura de osteoblastos com proteína (colágeno tipo I) forma uma estrutura chamada Osteóide. Esta configuração produz hormônios (entre eles a prostaglandina). b. Osteócitos: Células que migram na matriz óssea e é responsável pela manutenção da própria matriz e do nível de cálcio (estase). c. Osteoclasto: Células multinucleares responsáveis pelo remodelamento do osso. Produz enzimas que dissolvem a parte mineral da matriz óssea. Parte inorgânica: Hidroxiapatitas (principalmente fosfatos de cálcio). Biomecânica 6 PROPRIEDADE DOS OSSOS - Osteóides contêm colágeno (proteína fibrosa encontrada em todos os tecidos conjuntivos). Possui baixo módulo de elasticidade (≈ 1,2 GPa) e serve de matriz para material mineralizado. O colágeno fornece muito da resistência a tração do osso (mas não da dureza). Um osso sem proteína é duro, quebradiço e com baixa resistência à tensão como um pedaço de giz. - Sais minerais conferem ao osso sua dureza, sua resistência e sua resistência à compressão. Módulo de elasticidade destes sais ≈ 165 GPa. Osso desmineralizado é mole, com aspecto de borracha e deformável. Biomecânica 7 O esqueleto é formado por osso cortical e por osso esponjoso. A diferença entre estes dois tipos está associada à sua porosidade (e conseqüente densidade). A divisão entre cortical e esponjoso é arbitrária, porém existe um consenso em torno de 30% de porosidade. Porosidade 5% 30% 90% Osso Cortical Osso Esponjoso Densidade Osso cortical é encontrado onde as tensões são altas. Osso esponjoso é encontrado onde as tensões são baixas, porém, onde é requerida grande resistência distribuída. Muitas situações em projetos de aeronaves exigem as mesmas condições nas quais estão sujeitos os ossos esponjosos. Na prática utilizam-se núcleos de formato de favos de abelha (honeycomb). Biomecânica 8 Limite de Resistência a Tração Módulo de Elasticidade Material σ [MPa] E [GPa] Fêmur 124 17,6 Aço 700 200 Madeira 40 11 Biomecânica 9 Biomecânica 10 Biomecânica 11 Biomecânica 12 Tarefa 1 Antropometria. Estimar a massa, volume e posição e centro de massa (em relação à articulação proximal) de cada segmento corporal. Fazer as seguintes aproximações: Pernas, braços, mãos, pés, dedos e tronco, aproximar por cilindros ou cones. Cabeça aproximar por esfera. Calcular o torque necessário para movimentar cada segmento contra o campo gravitacional. Determinar o centro de massa do seu corpo (fornecer informações sobre a massa total e altura). Biomecânica 13 Modelo simples para o cotovelo e o antebraço W Fm α θ a L Vj Hj Simplificações: 1. Sistema composto de um músculo e de uma viga; 2. Geometria simples para o ponto de conexão do músculo ao osso no ângulo conhecido. Na prática, a conexão do músculo com o osso é distribuída; 3. A articulação não possui atrito; 4. O músculo aplica força somente ao longo seu eixo; 5. O peso do antebraço é desprezível; 6. A situação é estática. Biomecânica 14 Satisfazendo a condição ∑ = 0oarticulacaM αθ cosWLasenFm = θ α sena LWFm cos= Resolvendo para a direção vertical: ( ) ( )⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛ +−=+−= θαθ αθα sen sena LWsenFWV mj cos1 Resolvendo para a direção horizontal: ( ) ( )θαθ αθα +=+= coscoscos sena LWFH mj Determinando a resultante: 22 jj VHR += Para o caso particular onde απθ −= 2 a LWFm = 8= a L é um valor típico de para seres humanos. Ou seja, a força que o músculo deve fazer é 8 vezes maior que o peso do objeto !! Biomecânica 15 Desequilíbrio do Centro de Massa ou a arte de andar e correr h Energia cinética associada ao movimento para frente do centro de massa 2 2 1 xx mvEc = Energia cinética associada ao movimento vertical do centro de massa 2 2 1 yy mvEc = mghEpy =Energia potencial associada com a posição vertical do centro de massa Biomecânica 16 Comportamento Diferenciado Carregamento/Alívio: Histerese 1 2 3 Deformação 0 2 4 6 8 Tensão [MPa] Carregamento Alívio A figura acima se refere ao comportamento típico de uma borracha (material viscoelástico). Viscoelasticidade é a característica de um material que possui sua relação tensão/deformação dependente do tempo e da taxa de carregamento. Um material visco elástico apresenta, ao mesmo tempo, características de um material viscoso e de um material elástico: 1. Apresentam deformação quando tensão de cisalhamento é aplicada (comportamento viscoso); 2. Deformam-se imediatamente quando submetidos à tensão e retornamà forma original quando a tensão é retirada (comportamento elástico). Biomecânica 17 Comportamento elástico versus comportamento viscoelástico Um material elástico não perde energia em um ciclo de carregamento. Ao contrário, um material viscoelástico perde energia em um ciclo de carregamento. A área marcada na figura acima dá conta desta energia perdida. Esta perda de energia ocorre por dissipação térmica. Biomecânica 18 Materiais viscoelásticos caracterizam-se pela sua capacidade de apresentar deformação viscosa sob cargas constantes e de relaxar sob deslocamentos constantes. Deformação Viscosa Força constante Deslocamento Tempo Relaxação Deslocamento constante Força Tempo Biomecânica 19 Elementos básicos da Equação Constitutiva Mola F x A deformação da mola é determinada pela carga aplicada: k Fx k Fx molamola && == Amortecedor Viscoso Um amortecedor viscoso produz uma velocidade que é proporcional à carga aplicada a cada instante: ∫== dtFxFx ramortecedoramortecedo ηη& F x& xF &η= F Coeficiente de viscosidade, η x& Constante da mola, k F x L F = k x L é o comprimento inicial Biomecânica 20 Modelos de Viscoelasticidade F x& x Modelo de Maxwell η F k Fx += && ( )tft k x ⎟⎟⎠ ⎞⎜⎜⎝ ⎛ += η 11 F x& x Modelo de Voigt kxxF += &η ( )( ) ( )tfe k x tk η/11 −−= F x& x Modelo de Kelvin ( )xxEFF R +=+ && σε ττ Onde 1 1 1 2 2 1 2 1 kk k k kER ητητ εσ =⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ +== ( )tfe E x t R ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ⎟⎟⎠ ⎞ ⎜⎜⎝ ⎛ −−= − στ σ ε τ τ /111 Biomecânica 21 Definição da função unitária f(t) Tempo 1 A utilização da função unitária é um artifício matemático para que seja possível o modelo de um sistema onde uma carga é aplicada no momento t=0 e depois permanece constante. Funções de deformação viscosa para os três modelos de viscoelasticidade. Deslocamento Carga Tempo Deslocamento Carga Tempo Deslocamento Carga Tempo Maxwell Voigt Kelvin Biomecânica 22 Tecidos Os tecidos compõem a estrutura do corpo humano. Existem 4 tipos de tecido: - Tecido Epitelial (cobertura) - Tecido Conjuntivo (suporte) - Tecido Muscular (movimento) - Tecido Nervoso (controle) Tecido Conjuntivo (Areolar, Adiposo, Denso e Reticular) Tecido conjuntivo denso (ou fibroso): principal constituinte de tendões e ligamentos (fibras de colágeno empacotadas de forma densa, que possuem grande resistência à tração). Tendão: Usualmente possui estrutura de cordas ou lâminas de tecido conjuntivo denso. Servem para a conexão dos músculos aos ossos ou a outros músculos. Ligamento: Possui estrutura semelhante a dos tendões. Fazem a conexão osso com osso. Biomecânica 23 O comportamento de tecidos como tendão, ligamento e pele, em condições de carregamento, é semelhante a um material viscoelástico. Modelos de Maxwell, Voigt e Kelvin podem ser empregados para descrever adequadamente tecidos específicos sob diferentes condições. Biomecânica 24