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Júlio Eduardo Rohenkohl 1 Moedas e crédito 1 Origem da moeda 2 As funções da moeda 3 O poder de emissão dos bancos 4 Inflação 5 O controle dos meios de pagamento Júlio Eduardo Rohenkohl 2 1 Origem da moeda Em tempos remotos, com a fixação do homem à terra, estes passaram a permutar o excedente que produziam. Surgia a primeira manifestação de comércio: o escambo, que consistia na troca direta de mercadorias. O preço relativo era estabelecido pela quantidade oferecida de uma mercadoria por certa quantia de outra. Júlio Eduardo Rohenkohl 3 1 Origem da moeda Com o aumento do número de operações comerciais, algumas mercadorias foram eleitas como unidade de conta e meio de troca. Isto deu origem ao surgimento de vocábulos como “salário”, o pagamento feito através de certa quantidade de sal; “pecúnia”, do latim “pecus”, que significa rebanho (gado) ou “peculium”, relativo ao gado miúdo (ovelha ou cabrito). Júlio Eduardo Rohenkohl 4 Sistema Econômico Atual Em uma economia contemporânea ocorrem milhares de operações diárias de compra e venda de bens e de serviços, e continuamente são criadas novas mercadorias. É impossível que os consumidores e as organizações participantes de um sistema econômico complexo operem através do escambo de objetos e de serviços. Júlio Eduardo Rohenkohl 5 Uma determinada mercadoria é socialmente escolhida para servir de moeda e facilitar as trocas. No passado, (pelo menos há 2.500 anos Turquia/Grécia) os metais foram muito utilizados como moeda devido a sua durabilidade e facilidade de subdivisão. Com a expansão do comércio, seu uso implicou dificuldade de transporte. Também ocorreram períodos de escassez de metal para cunhar moedas, levando a uma escassez de meio circulante ante as necessidades de operações. Júlio Eduardo Rohenkohl 6 A ambição humana e os períodos de escassez relativa de metais frente a necessidade de dinheiro levaram às fraudes. Houve tentativas de superá-las. Por exemplo, em 1609 foi criado um banco municipal em Amsterdam para resolver o problema da qualidade das moedas metálicas. Este banco conferia o peso das moedas e a quantidade de metal nobre nelas contido e creditava na conta do cliente o valor referente ao peso de metal puro. Júlio Eduardo Rohenkohl 7 Os banqueiros de Amsterdam perceberam, então, que parte do valor de metal puro ficava muito tempo em conta corrente. Escrituravam o valor na conta do dono do depósito original e emprestavam parte do valor depositado a terceiros, cobrando juros por este serviço. Quando recuperavam o valor emprestado, retornavam o principal à conta do depositante e embolsavam os juros. Este é o princípio de funcionamento bancário até hoje. Júlio Eduardo Rohenkohl 8 Recibos de depósitos em ouro e prata conversíveis em metal passaram a ser emitidos, contornando o problema de transporte e diminuindo os transtornos da escassez relativa de metal. Os bancos de diferentes regiões passaram a oferecer o sistema de compensação de recibos de depósito em metal. Ao final de uma rodada de compensações, apenas o saldo era movimentado fisicamente O sistema bancário conta com a improbabilidade de saques simultâneos de todos os valores guardados em sua confiança. Com a moeda escritural desenvolve-se a função de crédito do sistema financeiro. Júlio Eduardo Rohenkohl 9 Em 1690, o estado de Massachusetts (E.U.A.) encontrou-se sem moedas metálicas para pagar seus soldados. Ofereceu-lhes notas promissórias de pagamento futuro em moedas metálicas. Estas promissórias circularam para o quitação de operações comerciais. Elas transformaram-se em papel- moeda. O procedimento foi adotado por outros estados estadunidenses e depois generalizou-se. Inicialmente, havia uma proporção de metais lastreando (garantindo como opção de conversão) a emissão de papel-moeda. Júlio Eduardo Rohenkohl 10 Os Estados Nacionais soberanos permitem em seu território apenas a circulação de moeda emitida por eles ou por bancos autorizados. Isto dá à moeda um caráter coercitivo. A desvinculação da emissão da moeda de qualquer lastro em ouro ou prata, escancarou o caráter fiduciário e simbólico da mesma. Caráter este que, na verdade, veio se constituindo ao longo do tempo, desde o início da utilização de moeda sob qualquer forma material. Júlio Eduardo Rohenkohl 11 2 As funções da moeda A moeda tem três funções importantes. a) Unidade de Conta – qualquer mercadoria pode ter o seu valor comparado com outras se expresso em unidades monetárias, por exemplo, em Reais. Júlio Eduardo Rohenkohl 12 b) Meio de Pagamento – todas as operações de compra e venda podem ser liquidadas utilizando valores expressos em uma certa moeda independente da forma específica da operação – papel-moeda, moeda metálica, cheque ou débito eletrônico em conta corrente. Os Estados Nacionais costumam utilizar sua autoridade e promover o uso coercitivo da moeda por eles emitida como único meio de pagamento válido em seu território. Tal prática é o curso forçado da moeda. Júlio Eduardo Rohenkohl 13 c) Reserva de Valor – Os indivíduos guardam moeda para adquirirem a satisfação de necessidades futuras. Para servir como reserva de valor é necessário que a moeda possua estabilidade de seu poder aquisitivo ao longo do tempo. Esta propriedade não é exclusiva da moeda. Porém, a sua perda denota perda de confiança em seu poder de compra. Outros ativos podem ter a propriedade de reserva de valor. Ex.: ouro (físico ou em títulos), títulos públicos. Júlio Eduardo Rohenkohl 14 Títulos de crédito A expansão da produção e do comércio implicou a venda a crédito. Nela, uma mercadoria é fornecida mediante a promessa de pagamento posterior em dinheiro, em data estabelecida. Os documentos que formalizam este direito de receber um pagamento em data certa são denominados títulos de crédito. Júlio Eduardo Rohenkohl 15 A moeda é um título de crédito especial porque é meio de pagamento Aquele que recebe um nota de dinheiro ou um cheque está na realidade aceitando em troca do fornecimento de uma mercadoria um título que lhe dá direito a uma aquisição de outra mercadoria a qualquer tempo. Os demais títulos (como as promissórias, duplicatas e o Certificado de Depósito Bancário - CDB) têm seu vencimento (data) preestabelecido para o resgate em dinheiro e, por isto, não são aceitos como meio de pagamento. Júlio Eduardo Rohenkohl 16 O que é moeda atualmente? O título de crédito com poder de compra imediato – moeda -, consubstancia-se como o papel- moeda e moeda metálica em circulação e os depósitos à vista em conta-corrente (que permitem débitos em conta corrente e emissão de cheques). A liquidez expressa o tempo para conversão de um título em poder de compra. A liquidez da moeda é total porque ela tem poder de compra imediato. Júlio Eduardo Rohenkohl 17 3 O poder de emissão dos bancos comerciais O montante depositado por um correntista é escriturado em sua conta. Entretanto, apenas uma fração é efetivamente guardada na forma de reserva bancária. O restante é emprestado a juros a terceiros. Desta forma, cada depósito bancário transforma-se em crédito e aumenta o total de moeda disponível no sistema econômico. Júlio Eduardo Rohenkohl 18 Reservas bancárias As reservas bancárias dos bancos comerciais representam o montante de dinheiro mantido em seus próprios cofres acrescido dos recursos depositados no BACEN compulsória e voluntariamente. Júlio Eduardo Rohenkohl 19 A releitura da identidade S=I incorporando a emissão escritural dos bancos Caso seja incorporada ao funcionamentodo SE a capacidade de emissão de moeda escritural pelos bancos, não se faz necessário um estoque de S para financiar o I. O que passa a ser necessário são expectativas positivas e custo de oportunidade baixo para os bancos. Um mercado de capitais (bolsa de valores) transparente facilita o crescimento do sistema, embora não seja imprescindível ao seu funcionamento. Júlio Eduardo Rohenkohl 20 O I inicia a descoberto, mesmo sem S, pela emissão de moeda escritural que é emprestada como crédito para investimento. Maior produção gera maior Y. Parte da Y maior vira S também maior do que a obtida no período econômico (ex.: 1 ano) anterior aos I. Assim, essa nova S aumentada é igual ao I do início do período. Os I que encontram mercado permitem a precoce emissão de ações em bolsas de valores. Desta forma, as firmas captam diretamente parte da poupança aumentada e pagam os bancos antes do fim do período em questão, alongam a dívida e diminuem seu ônus. Com os lucros de produção e de vendas, as firmas pagam a dívida com os bancos e dividendos aos acionistas. A Y do SE foi aumentada e com ela a parcela poupada. Júlio Eduardo Rohenkohl 21 Org. da Produção Proprietários dos fatores: Salários, Lucros, Juros e aluguéis Mercado de Consumo Mercado de Investimento Poupança Bens de Consumo Bens de Capital Crédito ConsumoConsumo S = I depois do ciclo de investimento I = S Júlio Eduardo Rohenkohl 22 4 Inflação A inflação é o aumento generalizado de preços em um Sistema Econômico. Quando este aumento é persistente, ou seja, repete-se ao longo do tempo, ele implica um processo de perda contínua do poder de compra da moeda. Um movimento inverso, o de contínua redução dos preços de um S.E., é chamado de deflação e implica um aumento do poder de compra da moeda. Júlio Eduardo Rohenkohl 23 Problema inflacionário Nem todos os produtos e todos os salários sobem na proporção do nível médio da alta dos preços. Isto significa que alguns empreendimentos, alguns rentistas e alguns trabalhadores têm suas remunerações elevadas abaixo da inflação. Em um processo inflacionário há, portanto, um conflito distributivo, e uma parcela da população fica relativamente mais pobre ante aqueles que conseguem reajustar seus preços ao nível da inflação. Júlio Eduardo Rohenkohl 24 Principais causas da inflação A inflação de procura decorre da expansão exagerada de meios de pagamento no S.E., ou seja, há aumento de moeda em uma economia em plena capacidade produtiva. O governo central aumenta a oferta de moeda, primeiramente. Por exemplo, pode fazê-lo pela redução do compulsório, pela compra de títulos, pela compra de moeda estrangeira. Os bancos, com mais dinheiro em caixa, expandem o crédito e os agentes econômicos compram mais. Há uma escassez de oferta de bens e serviços, que demora a elevar-se porque depende do aumento da capacidade produtiva instalada. Júlio Eduardo Rohenkohl 25 A inflação de custos ante uma procura crescente por consumo. No passado, a tese estruturalista dava conta de que os alimentos e as matérias-primas agrícolas causavam inflação no Brasil. O argumento é que havia uma grande produção agrícola para exportação (café). Por outro lado, a produção de alimentos para os trabalhadores urbanos e para as agroindústrias que vendiam no mercado interno era pouca devido à concentração fundiária e a baixa produtividade da agricultura para o mercado interno. Isto elevava o preço dos alimentos, os salários industriais e de serviços e, indiretamente, o preço dos bens industriais e de serviços. Júlio Eduardo Rohenkohl 26 O “custo Brasil” é uma outra versão de inflação de custos. Os gastos com transporte e energia, as despesas de manutenção e seguros decorrentes da falha infraestrutura de transportes e comunicações, as dificuldades de desembaraço alfandegário e tributário, e a elevada taxa de juros são elementos componentes dos preços dos bens e serviços ofertados no Brasil. Caso o conjunto estes itens venha a onerar significativamente o custo de vida e reduzir o poder de compra da população, ou seja, alcancem um efeito de propagação, terão efeito inflacionário. Esta tese ainda é incipiente. Júlio Eduardo Rohenkohl 27 Inflação Inercial A população adianta-se à alta dos preços, temendo perder renda relativa. Todos procuram elevar os preços antecipadamente à alta de seus custos. Neste contexto a inflação torna-se resistente à política monetária (alta de juros para reduzir o consumo). A velocidade de circulação da moeda costuma subir. Júlio Eduardo Rohenkohl 28 A fabricação de moeda O volume de moeda circulante era de 1% do PIB brasileiro em 1994 e alcançou 3,7% do PIB nacional em 2008. A mesma unidade monetária troca de mãos várias vezes ao longo de um ano e cobre diversas operações comerciais neste período de tempo. Isto faz com que o valor da quantidade de moeda em circulação seja menor do que a Renda Nacional. Júlio Eduardo Rohenkohl 29 A razão entre quantidade de moeda e PIB varia conforme as convenções de pagamento predominantes no S.E. e à propensão das pessoas a reterem moeda. Quanto maior o prazo aceito entre a venda e o respectivo pagamento, menor a necessidade de moeda em circulação. Ex.: O comerciante (A) que compra a um prazo longo tem tempo de vender à vista e obter o recurso para pagar a fatura do seu fornecedor (B). A mesma nota que o fornecedor (B) da mercadoria utilizou para pagar seus empregados chega ao vendedor final (A), e ele a utiliza para pagar o fornecedor (B). Júlio Eduardo Rohenkohl 30 Por outro lado, quanto maior a confiança na moeda, maior a sua retenção e maior a quantidade necessária para as atividades econômicas Júlio Eduardo Rohenkohl 31 Com k definido como a quantidade de meios de pagamento (M) em relação à renda (Y), tem-se: k = M/Y k = 3,7/100 = 0,037 Para V igual a velocidade-renda da moeda, o número de vezes que a moeda deve ser convertida em rendimento ao longo de um período de tempo, tem-se: V = Y/M V = 100/3,7= 27,02 Provavelmente o Real conquistou a confiança do brasileiro que reteve mais a moeda depois do Plano Real. O V caiu de 100 em 1994 para 27,02 em 2008 e o BACEN precisou colocar mais moeda em circulação. Júlio Eduardo Rohenkohl 32 Equação da Teoria Quantitativa da Moeda: VM = Qp Y = Qp, Q é a quantidade de mercadorias. Com p sendo o índice geral de preços, diante de uma estabilidade de p e da Q, uma queda de V tem de ser compensada por uma alta de M. Por outro lado, em uma economia em equilíbrio com o uso de toda a sua capacidade produtiva - com Q e V constantes -, uma alta de M implicará inflação. Este é o caso da inflação de procura. Júlio Eduardo Rohenkohl 33 5 O controle dos meios de pagamento O BACEN é o emissor de moeda nacional, controlador das divisas internacionais que ingressam no país e emprestador de última instância do sistema financeiro. É o executor da política monetária através da emissão de moeda, da compra e venda de títulos federais, do encaixe compulsório e da taxa de juros de redesconto. Júlio Eduardo Rohenkohl 34 Quem coloca a moeda em circulação é o Banco Central. A Casa da Moeda é uma empresa pública que imprime o Real. Também produz selos de controle fiscal para a Receita Federal, passaportes para a Policia Federal, documentos seguros para Tribunais de Justiça, companhias de metrôs. Pode inclusive produzir a moeda de outros países. Júlio Eduardo Rohenkohl 35 1 – Banco Central (BACEN) adquire dinheiro novo da Casa da Moeda do Brasil (CMB). 2 – O BACEN e o Custodiante (Bco do Brasil) distribuem numerário e atendem aos saquese depósitos da Rede Bancária. 3 – Os bancos comerciais têm uma conta bancária no BACEN, com recolhimentos compulsórios e depósitos voluntários; 4 – A Rede Bancária atende diretamente aos saques e depósitos do Público. Casa da Moeda Bacen e Custodiante Bancos Comerciais Empresas ePúblico em geral Júlio Eduardo Rohenkohl 36 É de É de competência exclusivado Banco Central do Brasil - emitir papel moeda e moeda metálica - receber os recolhimentos compulsórios dos bancos comerciais; - realizar empréstimos de assistência à liquidez às instituições financeiras; - regular a execução dos serviços de compensação de cheques; - efetuar, como instrumento de política monetária, operações de compra e venda de títulos públicos federais -autorizar, normatizar, fiscalizar e intervir nas instituições financeiras; - controlar o fluxo de capitais estrangeiros, garantindo o correto funcionamento do mercado cambial Júlio Eduardo Rohenkohl 37 O BACEN cria meios de pagamento (coloca moeda nacional em circulação) quando: - Compra dólares; - Compra títulos públicos; - Empresta a bancos comerciais. Por vezes ocorrem duas ações compensatórias para evitar excesso de moeda. São as operações de “esterilização da moeda”. Exemplo: Compra dólares em um dia (coloca Reais em circulação) e vende títulos de dívida no outro (recolhe Reais). Júlio Eduardo Rohenkohl 38 Exercício 1 Considere uma situação inicial (n = 0) na qual os bancos de um Sistema Econômico recebem depósitos à vista de R$ 200 milhões. As reservas bancárias são constituídas na proporção de 30% dos depósitos à vista e a retenção de moeda pelo público ocorre na proporção média de 30% do valor emprestado. a) Qual o multiplicador da moeda escritural? b) Após três períodos, qual o total depositado nos bancos? Júlio Eduardo Rohenkohl 39 2 Um S.E. apresentou os seguintes dispêndios setoriais no ano de 2009. Calcule o o total de compras de bens intermediários, o Produto e o Valor Bruto da Produção. Setor Agricultura (milhões US$) Indústria (milhões US$) Serviços (milhões US$) Insumos 20 30 30 Salários 10 20 15 Juros 5 10 10 Lucros 5 15 20 Aluguéis 10 10 15 Júlio Eduardo Rohenkohl 40 3 Um pequeno Estado opera com sua economia em pleno emprego. A V é 10 e constante, o Q é de 1000 e constante e a Y é de € 1000. Inicialmente o M era 100 e o Banco Central aumentou a oferta em 20%. Qual o valor de p para a nova situação?
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