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Capoeira Angola e Capoeira Regional

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Capoeira Angola x Regional 
 
É consenso que a Capoeira é uma manifestação cultural da identidade negra, ou pode-
se dizer afro-brasileira. É considerada uma mistura de esporte, dança, luta, jogo e filosofia de 
vida. 
Não há dúvidas de que a Capoeira Angola é a mais antiga forma de jogar capoeira que 
existe. O termo “Angola” foi inserido com o tempo, pela semelhança dos movimentos de um 
ritual africano chamado de N'golo, que marcava a passagem para a vida adulta. Neste ritual os 
jovens guerreiros das tribos disputavam, com movimentos baseados na luta das zebras, as 
jovens mulheres e cabia a quem melhor sobressaía-se, o direito de escolher sua esposa entre 
as jovens, sem o pagamento do dote matrimonial. 
Tais movimentos quando usados com rapidez, destreza e malícia poderiam ser fatais 
para o oponente. Diante de sua situação difícil como escravos e da violência a eles imposta, 
eles começaram, sempre que podiam, a ensaiar esta forma de luta nas capoeiras dos canaviais. 
 
Capoeira Angola 
 
A Capoeira Angola é o estilo mais próximo de como os escravos negros jogavam 
capoeira. A Capoeira Angola tem como referências o Mestre Pastinha (Vicente Ferreira 
Pastinha) e outros importantes mestres da Bahia, é a vertente da capoeira que ressalta os seus 
significados de dança pírrica, de dança-guerreira, brincadeira, vadiação, jogo, folclore. 
Desenvolvendo-se por intermédio, principalmente, do aprimoramento das qualidades criativas 
e intuitivas de seus praticantes. Mestre Pastinha pregava a tradição, o jogo matreiro, de 
malícia, estilo que passou a ser conhecido como Angola. 
A Capoeira Angola é quase ritualística, cheia de preceitos que devem ser obedecidos 
com muita atenção. É caracterizada por ser mais lenta, porém rápida e traiçoeira quando 
necessário, com movimentos furtivos executados próximo ao solo ou em pé . É um jogo de 
muita malícia, onde se entende por malícia, a capacidade do “capoeira” de enganar o seu 
parceiro fingindo aplicar um golpe e na verdade aplicar outro onde menos se espera e no 
momento em que menos se espera também, tem como característica principal um ritmo lento 
e cadenciado, suas ladainhas tristes e sofridas. 
A Capoeira Angola enfatiza as tradições da Capoeira, que em sua raiz está ligada aos 
rituais afro-brasileiros, caracterizado pelo Candomblé. Mestre Pastinha afirmava "...a capoeira 
angola se assemelha a uma dança graciosa em que a ginga maliciosa mostra a extraordinária 
flexibilidade dos capoeiristas. Mas, capoeira angola é, antes de tudo, luta e luta violenta". 
 
Capoeira Regional 
 
Principalmente nos anos 30, com o crescente nacionalismo estimulado por Vargas, 
cada vez mais eram atribuídos significados mais abrangentes à capoeira. Neste contexto surge 
um importante personagem na história da Capoeira Regional: Mestre Bimba (Manoel do Reis 
Machado). Esse se encontrava insatisfeito com a forma com que a capoeira estava sendo 
conduzida, dando ênfase aos aspectos lúdicos, visando ao lucro em apresentações turísticas e 
se distanciando do caráter de luta que a gerou. Isso levou esse mestre a realizar profundas 
transformações na capoeira. 
O fato de mestre Bimba ser um exímio lutador, que contava com um grande carisma 
popular, credenciou-o a impulsionar tais mudanças. Bimba percebeu que a Capoeira perdia 
espaço para as lutas estrangeiras, assim, procurou modernizar a Capoeira, sem perder suas 
tradições. 
Ele promoveu transformações nos aspectos físicos e simbólicos da capoeira, 
incorporando técnicas e golpes de outras lutas para aprimorar seu novo estilo de capoeira e 
torna-lo mais efetivo. Também criou rituais como, por exemplo, o da formatura, incorporando 
à capoeira uma linguagem acadêmica, que a aproximou, assim, da cultura das classes sociais 
mais elevadas. 
Outro fato importante promovido por mestre Bimba foi a sistematização do ensino da 
capoeira, por meio da criação de sua sequencias de ensino. 
Mestre Bimba tirou a capoeira das ruas e levou para a o Centro de Cultura Física e 
Capoeira Regional da Bahia, dando origem a Luta Regional Baiana, que passou a ser chamada 
de Capoeira Regional Baiana após a liberação da capoeira e hoje é conhecida como Capoeira 
Regional. 
Mestre Bimba afirmava: .[...] criei completa, a Regional, que é o batuque misturado 
com a Angola, com mais golpes, uma verdadeira luta, boa para o físico e para a mente”. 
 
 
As mudanças introduzidas por mestre Bimba não foram aceitas por toda a comunidade 
da Capoeira, que, a partir daí, dividiu-se em duas vertentes: Capoeira de Angola e Capoeira 
Regional. 
Os angoleiros, guardiões das tradições, alegam que mestre Bimba descaracterizou a 
capoeira, “embranquecendo-a”. Já os defensores da Capoeira Regional alegam que a Capoeira 
Angola foi superada em sua eficiência combativa, sendo preciso recuperar a sua característica 
de luta. 
Na verdade a capoeira é uma só. Devemos compreender essas diferenças entre Angola 
e Regional como consequência de um período histórico em que o contexto e as influências 
sociais foram determinantes para que elas ocorressem, uma vertente não anula a outra nem 
tampouco a ela se sobrepõe, ambas se complementam, formando o universo da capoeira. 
As transformações implementadas no âmbito da capoeira baiana, fizeram deste 
estado, a partir da primeira metade do século XX, o maior centro de referência da capoeira 
brasileira. Grandes mestres baianos ficaram consagrados na memória da capoeira nacional, 
dentre eles, além de Bimba e Pastinha, já citados, podemos destacar: Traíra, Cobrinha Verde, 
Onça Preta, Pivô, Nagé, Samuel Preto, Daniel Noronha, Geraldo Chapeleiro, Totonho de Maré, 
Juvenal, Canário Pardo, Aberrê, Livino, Antonio Diabo, Bilusca, Cabelo Bom, Canjiquinha, 
Gigante, João Grande, João Pequeno, Caiçara, Curió, Ferreirinha e Waldemar do Pero Vaz. 
A partir dos anos 60 houve um grande movimento de migração de capoeiristas baianos 
para vários estados brasileiros, principalmente para São Paulo e Rio de Janeiro. Decorrente 
deste fato surgiram os grupos de capoeira. Esses grupos são organizações que congregam seus 
participantes sob princípios filosóficos e técnicos, princípios estes que não são hegemônicos. 
Isto explica a grande quantidade de grupos existentes atualmente no Brasil, se ndo esta 
distribuição em grupos a forma no qual a capoeira brasileira se encontra organizada. 
Apesar da crescente “esportização” da capoeira, com o aval do Estado, sua inserção no 
contexto esportivo não é uma unanimidade entre as lideranças e os grupos. No contexto 
desportivo, a capoeira como instituição cultural, pode estar sendo decodificada, regrada e 
normalizada, negando, alguns de seus elementos essenciais, como a ludicidade e 
espontaneidade. 
Assim, para compreensão do processo de manifestação do fenômeno Capoeira, é 
possível perceber que de, se de um lado, se colocam os velhos mestre s da capoeira, 
principalmente os adeptos da Capoeira Angola, com seus discípulos e seguidores, valorizando 
ao extremo a tradição, a transmissão dos conhecimentos específicos e princípios filosófico-
existenciais que lhes dão suporte, bem como a relação mestre-aprendiz, baseada na 
experiência vivida para se chegar à sabedoria e percepção do mundo. Do outro lado, 
encontram-se aqueles que inventaram novas tradições e criaram uma nova vertente, 
enfatizando principalmente o seu sentido de esporte, atribuindo novos significados à Capoeira.

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