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PSICOLOGIA AMBIENTAL

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Territorialidade, privacidade e atenção em saúde mental.
Introdução
Qual a sua relação com seu lugar de origem?​
Como você reagiria se tivesse que se mudar do local onde se habituou e construiu uma identidade ou referência?
O pensar do ser humano em seu habitat e a forma como se relaciona com o meio em que vive é o objeto de estudo de diversas áreas, incluindo saúde mental​.
Tema que ganhou maior importância a partir da Revolução Francesa.
Qual o lugar dos portadores de sofrimento psíquico dentro da nossa sociedade?​
Como pensar formas de inclusão e reinserção social?
Privacidade e territorialidade
Psicologia ambiental: “O estudo do inter-relacionamento entre comportamento e ambiente físico, tanto o construído quanto o natural”​
Analisada como uma abordagem holista.​
“O ambiente influencia o indivíduo e o indivíduo influencia o ambiente”
Tende a estudar o mundo real e somente ir ao laboratório quando necessário, embora tenha um caráter multimetodológico e interdisciplinar.
Objeto de estudo: a influência mútua de fatores ambientais e comportamentais.​
Destaca-se a privacidade e territorialidade.
Privacidade
Conforme definição de Westin: “Consiste na demanda de parte das pessoas, grupos e instituições de determinarem por si mesmos quando, como e até que ponto pode dar informações sobre ele aos demais”
Seis dimensões da privacidade
Solidão​
Isolamento​
Anonimato​
Reserva​
Intimidade com a família​
Intimidade com os amigos
Territorialidade
Gifford (apud Valera; Vidal, 1988) define territorialidade como “um padrão de condutas e atitudes apresentadas por um indivíduo ou grupo, baseado no controle percebido, intencional ou real de determinado espaço físico, objeto ou ideia”​
Enquanto a privacidade ajuda a estabelecer a identidade pessoal e de grupo com determinado espaço, a territorialidade fornece os subsídios cognitivos e comportamentais para manutenção e defesa dessa identidade.​
Também entendida como “uma ação estratégica geográfica forte, ação carregada de efeito simbólico que, no jogo social através das interações dos agentes e de suas posições, tem o efeito de controlar pessoas e lugares ou demarcar um lugar como o próprio”​
A territorialidade está para além de uma expressão de poder, uma estratégia e tática fortemente dependente das relações e posições de seus agentes, evidenciando um modo de estar no mundo, revelando um estilo de vida e uma identidade cultural.​
Atenção em saúde mental
Conjunto de ações que inclui desde a proteção e a promoção à saúde até o diagnóstico e o tratamento de doenças.​
Orientada nos princípios básicos preconizados pelas Diretrizes da Política de Atenção Integral à Saúde Mental, que deverão atender a diferentes necessidades, e organizando-se a partir das seguintes diretrizes:​
Acolhida;​
Vínculo;​
Responsabilidade;​
Contrato de cuidados​.
Esse modelo aperfeiçoa as potencialidades dos serviços para se tornam mais resolutivos e responderem à necessidade do usuário por atendimento.​
Para saber sobre as mudanças na atenção à saúde precisamos entender como se instalaram as forças contraditórias.​
Marco inicial
Constituição da medicina moderna, com sua crítica à noção medieval de possessão demoníaca para explicar os fenômenos da loucura.​
Consolidação da disciplina psiquiátrica
Sustentada na noção de doença mental, ocorrendo assim o sequestro da loucura, pela imposição do poder/saber médico, passou a ser o pilar de sustentação do edifício psiquiátrico, baseadas nas práticas da internação e em diversas terapêuticas, indo desde o acorrentamento, a aplicação de banhos quentes e frios, passando pela lobotomia, pelos choques insulínicos e elétricos, até a administração de psicofármacos, a partir dos anos 1950-1960.​
Críticas
Nesse mesmo período, começaram a florescer as críticas ao modelo da psiquiatria clássica e o que antes era uma antítese a um modelo “arcaico” de tratamento passou a ser visto como algo a ser mudado.
Laing, Cooper e Szasz
Esses autores modificaram a visão acerca das determinantes da loucura ao trazer as implicações do contexto relacional familiar para o tratamento e estudo dos processos de sofrimento psíquico.​
Questionar a problemática da internação psiquiátrica foi só questão de tempo, principalmente após a gama de debates sobre a desumanização produzida por este tipo de tratamento, que isolou e retirou a voz e a cidadania do louco.​
Extinção dos hospícios 
Basaglia foi pioneiro ao colocar em prática a extinção dos hospícios, com a criação de serviços alternativos ao manicômio, construídos em forma de rede de atenção, e ao elaborar novas estratégias para o cuidado com as pessoas em sofrimento mental​.
A história brasileira dos tratamentos da loucura segue a mesma lógica dos movimentos mundiais, isto é, afirmação da tese psiquiatrizante a partir do século XIX, em conformidade com o movimento higienista, que previa a limpeza das cidades do “lixo social”, produzindo a chamada “psiquiatrização do social”​
Reforma psiquiátrica
O processo de Reforma Psiquiátrica, possui uma história própria, inscrita em um contexto internacional de mudanças pela superação da violência asilar e pautada na defesa dos direitos dos usuários de Saúde Mental.​
“A Reforma Psiquiátrica é um processo político e social complexo, composto de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos” (Brasil, 2005, p.6).​
O ano de 1978 foi o marco inicial da luta pelos direitos dos pacientes psiquiátricos no Brasil, denunciando, a violência nos manicômios, a mercantilização da loucura e a hegemonia de uma rede privada de assistência, fazendo críticas ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais. 
Mudanças
Surge em São Paulo (1987) o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e os Núcleos de Atenção Psicossocial (Naps) que funcionam 24 horas por dia.​
Lei do deputado federal Paulo Delgado (MG) em 1989, regulamentação dos direitos da pessoa e extinção dos manicômios do país.​
"Programa de volta para casa"​
Residências terapêuticas​
Reforma Psiquiátrica: Qual o lugar da territorialidade e o espaço da privacidade ?
Reforma psiquiátrica
O principal objetivo é promover ao indivíduo estratégias de enfrentamento de seus problemas e sofrimentos psíquicos dentro do contexto territorial em que foram desenvolvidos.
A reforma psiquiátrica foi estabelecida a partir dos princípios do SUS.
A implementação do CAPS com a rede básica de saúde é fundamental para a implementação do verdadeiro sentido da reforma, que implica ações em saúde baseadas na hierarquização dos graus de complexidade das intervenções, visando oferecer ao usuário uma saúde integral em seu território.
Princípio básico da reforma psiquiátrica :  Porta aberta, em que o usuário tem acesso direto aos CAPS , independente de encaminhamento.
 Entre os fatores importantes no processo estão questões relativas ao planejamento urbano e às condições de trabalho dos funcionários.
 A saúde mental dentro da rede de assistência a em saúde e suas interações com outras áreas de uso social é estabelecido um paralelo com a psicologia ambiental.
 A Reforma Psiquiátrica com a sua proposta de reinserção ou reintegração social, tem profunda ligação com os conceitos de territorialidade e privacidade.
Desafio encontrado pela reforma psiquiátrica:
Usuários que já foram isolados de seu território, e que muitas vezes  perdendo completamente seus vínculos familiares e círculos relacionais.
Diante aos desafios enfrentados pela reforma psiquiátrica foram criados programas como “De volta para casa” e “Residência terapêuticas”
Dificuldades dos ex-asilados:
Enfrentam muitas restrições e/ou cobranças ao retomar suas vidas fora dos hospitais, com poucas oportunidades para reconstruir um cotidiano digno e de qualidade que exigiria: trabalho/ofício compatível com sua potencia singular, relações afetivo/sociais com familiares e/ou amigos,cuidado satisfatório com a saúde e criação de vínculos afetivos, através de bons encontros na circulação pela cidade.
Não é raro encontrar casos em que o usuário pede a re-hospitalização, visto as dificuldades de adaptação enfrentadas.
Paralelo a psicologia ambiental:
Há necessidade de incorporar a cultura na explicação das relações ambiente-comportamento, estudando o modo como a cultura influencia visões de mundo, normas, sentimentos e comportamentos.
Os modelos de gestão característicos da administração brasileira, cujos aspectos “tendem a facilitar a prática de valores nem sempre democráticos e a reprodução de uma lógica corporativista”, acaba privilegiando ações imediatistas de interesses pessoais diversos, em detrimento de ações estratégicas de médio e longo prazo, com maior poder de provocar mudanças de paradigmas.
Acerca da abordagem territorial na atenção em saúde mental encontra-se modelos de gestão característicos da administração brasileira, cujos aspectos “tendem a facilitar a prática de valores nem sempre democráticos e a reprodução de uma lógica corporativista”, o que acaba por privilegiar ações imediatistas de interesses pessoais diversos, em detrimento de ações estratégicas de médio e longo prazo, com maior poder de provocar mudanças de paradigmas.
Conclusão
A reforma psiquiátrica não visa criar um modelo estático para se tornar uma tese dominante, mas sim criar um modelo dinâmico de constante reforma, em que o novo e o "velho", a tese a antítese, possam convergir no melhor acesso à saúde do usuário e também dos cuidadores, representados nas figuras dos familiares e amigos, além dos próprios profissionais envolvidos no processo, que muitas vezes são esquecidos na hora de se pensar a política de atenção em saúde mental.
Referências
Faria, J. G. Territorialidade, privacidade e atenção em saúde mental. 
Kuhnen, A., Felippe, M. L., Luft, C. D. B., & Faria, J. G. (2010). A importância da organização dos ambientes para a saúde humana. Psicologia & Sociedade, 23(3), 538-547.

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