Buscar

O TRATAMENTO LEGAL DISPENSADO AOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO APÓS A DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 48 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 48 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 48 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O TRATAMENTO LEGAL DISPENSADO AOS ANIMAIS 
DE ESTIMAÇÃO APÓS A DISSOLUÇÃO DA 
SOCIEDADE CONJUGAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ewelline Sharon Ramos Nascimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conselheiro Lafaiete 
2016 
Ewelline Sharon Ramos Nascimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O TRATAMENTO LEGAL DISPENSADO AOS ANIMAIS 
DE ESTIMAÇÃO APÓS A DISSOLUÇÃO DA 
SOCIEDADE CONJUGAL 
 
 
 
Monografia apresentada como 
requisito parcial para a obtenção 
do título de Bacharel em Direito 
pela Faculdade de Direito de 
Conselheiro Lafaiete. 
Orientador: Prof. Renato Armanelli 
Gibson. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conselheiro Lafaiete 
2016 
 
DECLARAÇÃO 
 Aprovação e Responsabilidades 
 
 
 À Subcoordenação de Monografia. 
 
O Professor Renato Armanelli Gibson, Orientador da estudante Ewelline Sharon 
Ramos Nascimento na elaboração de Monografia intitulada “O tratamento legal 
dispensado aos animais de estimação após a dissolução da sociedade conjugal”, após 
acompanhar os trabalhos desenvolvidos pela discente e fazendo as correções 
necessárias, declara este Trabalho adequado para depósito definitivo e que a 
acadêmica está apta para defendê-la ante Banca Examinadora. Para tal, declara, 
também, ter pleno conhecimento das obrigações presentes no Regulamento do 
Trabalho de Curso vigente na FDCL. 
 
 A acadêmica declara, para fins de direito, que assume toda e qualquer 
responsabilidade pelo aporte ideológico contido neste Trabalho, isentando, totalmente, 
a Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete, a Subcoordenação de Monografia, o 
Professor, Orientador e os membros da Banca Examinadora. 
 
Conselheiro Lafaiete, de de 201__. 
 
 
 
 
 
 
 Renato Armanelli Gibson. 
 
 
 
 
 __ 
 
Ewelline Sharon Ramos Nascimento
 
 
AGRADECIMENTO 
 
 
 
 
 
⁠⁠⁠Agradeço a minha mãe que sempre esteve ao meu lado, me apoiando, 
me encorajando em horas que eu pensava não ser capaz, nas horas de desespero 
foi ela quem segurou minha mão, não me deixando desistir, me tornando mais forte 
e resistente! Ela é o amor da minha vida. 
Agradeço ao meu pai João, que nunca desistiu de mim, e fez o papel de 
pai como ninguém, não deixando nunca de me colocar pra cima! 
A próxima a ser agradecida não tenho palavras suficientes para 
expressar, por ser tão compreensiva, por eu abrir mão dela inúmeras vezes em 
função desse trabalho e ela entender, essa pessoa é a minha princesa Isabella, 
minha filha, é a minha vida, sem ela eu teria desistido de tudo! Agradeço aos meus 
irmãos Júlio e Julliana, que sempre, sempre me estenderam a mão, sempre 
estiveram ao meu lado. 
Quero agradecer também a minha amiga Adriana por todo seu incentivo, 
todo apoio e carinho, pelos puxões de orelhas... rs. A minha amiga Marcela também, 
que não se hesita em me colocar pra frente. 
Aos meus tios e primos, também quero agradecer, pois estão sempre 
presentes, me ajudam muito, e nunca deixam de acreditar em mim, eles são peças 
fundamentais na minha vida. 
E também agradeço ao meu orientador, Renato Armanelli. 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
Este trabalho buscou analisar a possibilidade de alteração no tratamento jurídico 
inexistente a um animal de estimação quando houver dissolução da sociedade 
conjugal. Para tal, primeiro se observará a relação ambígua do homem com os 
animais que o cercam, o momento da “Virada Animal” ou “Animal Turn” e como é o 
tratamento atual do ordenamento jurídico brasileiro quanto a estes animais. O 
casamento como um todo, será apresentado em sua natureza jurídica, capacidade e 
habilitação; além de apontar quais são as espécies de casamento presentes em 
nossa sociedade atualmente. Posteriormente serão salientados os regimes de bens 
e suas particularidades, como: conceito, princípios, tipos de regimes encontrados 
pelos casais que vão se casar, e o Pacto Antenupcial. Por fim, analisa-se como se 
dá a partilha dos animais de estimação após a dissolução da sociedade conjugal, 
sua impropriedade, do mesmo modo a inovação legal para que se dê a partilha dos 
animais da melhor forma possível. 
 
Palavras-chave: Bens. Animais de estimação. Separação conjugal. Partilha. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. O HOMEM E OS ANIMAIS ..................................................................................... 8 
1.1 A relação ambígua do homem com os outros animais (não humanos) . 8 
1.2 Virada Animal ou “Animal Turn” ................................................................ 10 
1.3 A atual situação dos animais no ordenamento jurídico brasileiro ........ 11 
2. DO CASAMENTO ................................................................................................. 14 
2.1 Conceito e Natureza Jurídica ............................................................................. 14 
2.2 Capacidade e habilitação para o casamento ............................................ 15 
2.2.1 Capacidade .............................................................................................. 15 
2.2.2 Habilitação ................................................................................................ 16 
2.3 Causas suspensivas do casamento .......................................................... 17 
2.4 Espécies de Casamento .............................................................................. 18 
2.4.1 Casamento Válido ....................................................................................... 18 
2.4.2 Casamento Putativo ................................................................................. 18 
2.4.3 Casamento Nuncupativo e em caso de moléstia grave ......................... 18 
2.4.4 Casamento Religioso Com Efeitos Civis................................................. 19 
2.4.5 Casamento Consular ............................................................................... 20 
2.4.6 Casamento Por Procuração .................................................................... 20 
2.4.7 Conversão de união estável em casamento ........................................... 21 
2.4.8 Casamento Homo afetivo ........................................................................ 21 
3. REGIME DE BENS ............................................................................................... 23 
3.1 Conceito ................................................................................................................ 23 
3.2 Princípios básicos ........................................................................................ 24 
3.3 Pacto Antenupcial ........................................................................................ 24 
3.4 Tipos de Regime de Bens ............................................................................ 25 
3.4.1 Comunhão parcial de bens ...................................................................... 25 
3.4.2 Comunhão universal de bens .................................................................. 26 
3.4.3 Participação final dos aquestos ............................................................... 27 
3.4.4 Separação de bens .................................................................................. 28 
 
4. DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL E A PARTILHA DE BENS DE 
ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO ......................................................................................... 30 
4.1 Dissolução da Sociedade Conjugal ...............................................................30 
4.2 Da partilha de bens ....................................................................................... 34 
4.3 Da partilha de animais de estimação ......................................................... 36 
4.4 Impropriedade da atual forma de partilha dos animais de estimação .. 37 
4.5 Inovação legal para a partilha de animais de estimação ........................ 39 
CONCLUSÃO .............................................................................................................. 42 
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
INTRODUÇÃO 
 
É fato inegável que os animais de estimação estão adquirindo cada vez 
mais importância na sociedade brasileira. O crescente aumento do faturamento do 
mercado de itens para animais de estimação, bem como a proliferação de pet shops 
demonstram uma conjuntura de maior cuidado, proteção e sentimento de afeto por 
cães, gatos, pássaros e diversos outros animais que tem a possibilidade de conviver 
com seres humanos. 
Igualmente notório é o crescente número de dissoluções de sociedades 
conjugais. Mudanças de cunho social, bem como alterações legais tornaram tal 
processo menos complicado e mais ágil, fazendo com que muitos divórcios e 
dissoluções de união estável tivessem menos discussões litigiosas. Contudo, há um 
ponto no qual nem sempre se chega facilmente a um consenso: com quem ficará o 
animal de estimação do casal? 
Parece descabido o tratamento dispensado pelo ordenamento jurídico 
pátrio aos aludidos seres, considerando-os como bens semoventes, sujeitos à 
partilha, como qualquer outro bem relacionado no patrimônio dos cônjuges, 
principalmente levando-se em consideração o vínculo emocional que os cônjuges 
adquirem pelo animal de estimação. Além disso, tem-se o fato de tais animais 
necessitarem de atenção e ambiente adequado, evitando-se, com isso, maus-tratos 
ou crueldade contra tais animais. 
Nesse sentido, faz-se importante analisar a viabilidade de mudança do 
tratamento jurídico dispensado a um animal de estimação na ocasião da partilha 
decorrente de dissolução da sociedade conjugal, no sentido de possibilitar que 
decisões pertinentes à guarda do animal possam dirimir com mais facilidade os 
litígios matrimoniais, bem como atender melhor aos interesses de todos os 
envolvidos, inclusive do animal de estimação. 
 
 
 
8 
1. O HOMEM E OS ANIMAIS 
 
 
1.1 A relação ambígua do homem com os outros animais (não humanos) 
 
Não é de hoje que homem e animais compartilham suas vidas uns com os 
outros, seja direta ou indiretamente esse contato é facilmente notado. 
Às vezes considerados amigos ou até mesmo parte da família, cães e 
gatos, por exemplo, vivem dentro da mesma casa ou apartamento com seus donos. 
Recebem carinho, afeto e cuidados essenciais à sua saúde e bem estar, como 
alimentos de boa qualidade e veterinários excelentes. E também a possibilidade de 
manter contato com outros animais, seja da mesma espécie ou não. 
Porém, o contrário também pode existir, já que o homem trabalha e passa 
o dia fora de casa, ficando assim o animal, na maioria das vezes, sozinho em casa. 
É extremamente necessário que o homem analise se terá tempo o suficiente para 
estar presente na vida do animal e não somete tê-lo para suprir suas carências ou 
status. Quando não há essa consciência por parte do homem, acabam ocorrendo 
casos de maus tratos, negligência e até mesmo abandono, onde os animais são 
entregues em abrigos, canis, laboratórios ou são deixados nas ruas. 
Não são apenas os animais domésticos que precisam deste cuidado e 
zelo. Os tão desejados e admirados animais silvestres, como as araras, que podem 
ser vistas em reservas ecológicas ou até mesmo nas cidades, são retirados de ser 
habitat natural para serem vendidos. Algumas espécies de insetos e ratos são 
brutalmente mortos pelo homem, por serem considerados uma ameaça às 
plantações e à vida da população, respectivamente. 
Nas ruas, observa-se a presença de cavalos e jegues fazendo trabalhos 
de tração, forçadamente. Além disso, cavalos são usados em corridas e rodeios, 
como também os bois ou touros; e há os galos também, usados em rinhas, mesmo 
sendo proibida no Brasil. 
Alguns animais são objetos de luxo quando se fala na indústria da moda, 
onde as peles são frequentemente usadas para ser artefato de guarda roupa. Outros 
9 
como porcos, boi, galinhas são criados para serem abatidos e vendidos 
posteriormente. 
Todos estes exemplos acima citados são para demonstrar esta relação 
ambígua do homem com o animal. Letícia Albuquerque e Fernanda Luiza Fontoura 
de Medeiros explanam sobre esta relação: 
 
É uma relação que nunca foi tranquila e que tem oscilado entre o medo e 
endeusamento, o descaso e o altar, a crueldade e a benevolência, entre ser 
caça e caçador, ou seja, entre atitudes que supunham um comportamento 
de propriedade irrestrita às atitudes de proteção. (2013, p. 1). 
 
É antiga a justificativa dada para explorar animais. Argumenta-se que sua 
falta de racionalidade, intelecto e inteligência são algumas das justificativas 
aceitáveis para que a exploração ocorra, ao considerarem grande a diferença entre 
o homem e o animal. 
Após evidências dadas pela Etologia (ciência que estuda o 
comportamento animal no meio em que vive) e Zoologia (ciência que estuda os 
animais), foi comprovado e documentado que não há mais que se argumentar que 
animais são ausentes de racionalidade, intelecto e inteligência. Carlos Michelon 
Naconecy complementa este pensamento ao dizer que “essa posição vem sendo 
paulatinamente derrubada desde os anos 1940” (2006, p. 138). 
Foi descoberto que os animais quando lidam com problemas de difícil 
solução, acham uma maneira de resolvê-la, montando uma estratégia e construindo 
uma ferramenta para chegar à solução do problema, provando que existe, mesmo 
que em nível básico, uma capacidade de raciocinar. 
Além disso, é evidente a presença de emoções e sentimentos entre os 
animais. Eles manifestam alegrias, tristeza, medo, dentre outros sentimentos, 
caracterizando-os como “seres sencientes”. 
 
A senciência é uma característica que está presente apenas em seres do 
reino animal. O sinal exterior mais amplamente reconhecido de senciência é 
a dor e, dessa forma, este conceito – ou sua ideia – tem sido usado, há 
tempos, como fundamento para a defesa da proteção dos animais não 
humanos contra o sofrimento, ou para a atribuição de direitos morais aos 
mesmos. (ANDA, 2009). 
 
A partir desta ideia de que os animais são seres sencientes, a relação 
ambígua entre homem-animal ficou mais evidente, recebendo críticas de diversas 
10 
formas. A maior indagação é no fato de que alguns animais, como os domésticos, 
são vistos como da família e outros são considerados animais comestíveis. 
Gary Francione chama de “esquizofrenia moral” a dificuldade de se 
enxergar todos os animais como seres sencientes. Ele argumenta que: 
 
Como parte dessa discussão, Francione identifica aquilo que ele chama de 
nossa "esquizofrenia moral", quando se trata de animais não humanos. Por 
um lado, dizemos que levamos os interesses dos animais a sério. Francione 
aponta para o fato de que muitos de nós vivemos com companheiros não 
humanos, os quais consideramos membros de nossas famílias, e de cuja 
personalidade — sua condição de pessoas ou de seres com valor moral 
intrínseco — nunca duvidamos. Por outro lado, devido ao fato de os animais 
serem propriedade, eles permanecem sendo coisas que não têm outro valor 
fora aquele que escolhemoslhes dar, e cujos interesses protegemos 
apenas quando fazer isso nos traz um benefício — geralmente econômico. 
De acordo com Francione, se for para os animais terem importância moral e 
não serem coisas, nós não podemos tratá-los como propriedade. 
(WIKIPEDIA, 2014). 
 
Ainda em relação a esta relação, a filósofa Christine Korsgaard, autora do 
artigo “Just Like All the Other Animals of the Earth” ou “Assim como todos os outros 
animais da Terra”, levanta a questão se nós humanos, deveríamos ver o animal 
como co-criatura ou apenas um recurso útil. (2008). 
Percebe-se que o jeito como o homem lida com o animal acaba tornando 
transparente a instabilidade que há entre estes dois. De um lado temos pessoas que 
condenam aquele que causa algum tipo de sofrimento ao animal indefeso e por 
outro lado, temos os que causam dor ao animal para poder dele se alimentar. 
Torna-se de extrema importância continuar estudando esta relação, a fim 
de evitar que mais animais sejam alvo de extinção. 
 
 
1.2 Virada Animal ou “Animal Turn” 
 
Ainda que a relação do homem com os animais tenha sido investigada 
por muito filósofos e estudiosos, um novo foco surgiu nas últimas décadas, 
chegando a uma nova compreensão do papel do animal, no presente e no passado. 
Maria Esther Maciel ensina que: 
 
11 
Nas últimas décadas, mais precisamente a partir dos anos 1970, o debate 
sobre a questão animal e as relações entre humanos e outros viventes tem 
mobilizado pensadores e pesquisadores de diferentes áreas do 
conhecimento, em várias partes do mundo. Esse crescente interesse pelo 
tema possibilitou, inclusive, o surgimento de um novo campo de 
investigação que, sob a denominação de estudos animais, vem se 
afirmando como um espaço de entrecruzamento de várias disciplinas 
oriundas das ciências humanas e biológicas, em torno de dois grandes 
eixos de discussão: o que concerne ao animal propriamente dito e à 
chamada animalidade, e o que se volta para as complexas e controversas 
relações entre homens e animais não-humanos. O que evidencia a 
emergência do tema como um fenômeno transversal, que corta 
obliquamente diferentes campos de conhecimento e propicia novas 
maneiras de se reconfigurar, fora dos domínios do antropocentrismo e do 
especismo, o próprio conceito de humano. (2011). 
 
Com este novo interesse surgiu diversos novos cursos e pesquisas, para 
aumentar o material científico, no Brasil e no estrangeiro. Países anglo-saxônicos 
usam o termo “Animal Turn” ou “Virada Animal” para definir este novo momento de 
interesse para estudar mais a relação homem-animal, que surge da preocupação do 
crescente aumento no consumo de produto animal. 
A causa maior desta virada é fazer com que a população mundial tenha 
uma mudança de pensamento, quando se trata de animais. A ideia de que o animal 
é um ser descartado podendo ser usado em, por exemplo, transportes, manipulação 
genética e abate, assusta os que defendem o animal como um ser senciente. O que 
se percebe que ainda se encontra e encontrarão muitas questões a serem 
respondidas a cerca desta relação homem-animal. Uma delas é como o atual 
ordenamento jurídico trata estes seres não humanos. 
 
 
1.3 A atual situação dos animais no ordenamento jurídico brasileiro 
 
Muito se evoluiu até que se chegasse a tantos materiais relacionados aos 
animais, tanto que a Constituição de 1988 foi a primeira a falar sobre eles. 
Entretanto, Letícia Albuquerque e Fernanda Luiza Fontoura de Medeiros explicam 
que: 
 
tal fato não descarta uma abordagem, mesmo que discreta e progressiva, 
de uma orientação protecionista das Constituições brasileiras anteriores, 
nem que fosse somente ligada ao fato da repartição da competência 
legislativa e administrativa entre os membros da Federação, circunstância 
12 
que possibilitou a elaboração de legislação protetiva do ambiente como foi o 
caso do Código Florestal, do Código da Água e Pesca, dentre outros. (2013, 
p.16). 
 
Constata-se que a Constituição Federal fala sobre o animal direta ou 
indiretamente, quando usa termos como: fauna, espécies, qualidade de vida e meio 
ambiente. Ao se elaborar o texto constitucional, não se preocupou em definir tais 
termos, ficando essa incumbência a cargo da doutrina, do aplicador do Direito e até 
mesmo dos legisladores infraconstitucionais. 
Pode-se perceber isto, ao analisar o artigo abaixo, onde ora se usa o 
termo “animal”, ora usa-se “fauna” para se referir aos animais que habitam ao nosso 
redor, como podemos perceber no art. 225, §1º, VII: 
 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, 
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, 
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e 
preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 
 
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: 
 
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que 
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de 
espécies ou submetam os animais a crueldade. (CONTITUIÇÃO FEDERAL, 
2016). 
 
Também está implícita a preocupação com os animais, no art. 187, §1º: 
 
Art. 187. A política agrícola será planejada e executada na forma da lei, com 
a participação efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e 
trabalhadores rurais, bem como dos setores de comercialização, de 
armazenamento e de transportes, levando em conta, especialmente: 
§ 1º Incluem-se no planejamento agrícola as atividades agroindustriais, 
agropecuárias, pesqueiras e florestais. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 2016). 
 
A lei nº 13.123, de 20 de Maio de 2015, também conhecida como Lei da 
Biodiversidade, 
 
dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso 
ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios 
para conservação e uso sustentável da biodiversidade; revoga a Medida 
Provisória n
o
 2.186-16, de 23 de agosto de 2001. (2016). 
 
13 
Isto posto, pôde-se observar que a relação homem-animal ainda é um 
desafio para o direito contemporâneo, mas torna-se importante falar sobre este 
assunto que divide ainda algumas opiniões. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
2. DO CASAMENTO 
 
 
 2.1 Conceito e Natureza Jurídica 
 
O casamento é visto como a base da família e alicerce principal da 
sociedade. Ele se dá quando duas pessoas resolvem seguir suas vidas em conjunto 
a fim de compartilhar suas ideias e ideais. 
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves: “casamento é a união legal 
entre um homem e uma mulher, com objetivo de construírem família legítima” (2012, 
p. 25). 
Porém, devido às novas transformações este conceito foi considerado 
ultrapassado, já que por palavras do doutrinador acima citado, somente homem e 
mulher poderiam se casar. Mas, no final do ano de 2011, o Superior Tribunal de 
Justiça reconheceu ser possível o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou 
casamento homo afetivo. 
Quanto à natureza jurídica, esta tem diversos pontos controversos e 
possui três correntes em busca de sua compreensão. 
A concepção clássica afirma que o casamento se trata de uma relação 
exclusivamente contratual, já que é o resultado de um acordo de vontade entre duas 
partes. Já a concepção institucionalista acredita que o casamento é uma instituição. 
A terceira corrente é a eclética ou mista, que reconhece o casamento como uma 
mistura das duas primeiras correntes, já que “considera o casamento um ato 
complexo: um contrato especial, do direito de família, mediante o qual os nubentes 
aderem a uma instituiçãopré-organizada, alcançando o estado matrimonial” 
(GONÇALVES, 2012, p. 26). 
Casamento é ato complexo: na sua formação trata-se de contrato, e seu 
conteúdo é baseado na instituição. 
 
 
 
 
15 
2.2 Capacidade e habilitação para o casamento 
 
2.2.1 Capacidade 
 
 
A capacidade encontra-se presente no art. 1.517 do Código Civil (CC): “O 
homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de 
ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a 
maioridade civil”. (2016). 
Os artigos 1.518 a 1.520 do Código Civil trazem mais particularidades 
sobre a capacidade: 
 
Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem os pais ou tutores 
revogar a autorização. 
Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser 
suprida pelo juiz. 
Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda 
não alcançou a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou 
cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez. (CÓDIGO CIVIL, 
2016). 
 
Importante frisar que é diferente dizer que uma pessoa é incapacitada 
daquela que é impedida para casar. 
A incapacidade se dá àqueles que são menores de 16 anos (art. 1517, 
CC). A redação antiga do art. 3º do Código Civil, que trazia em seus incisos que os 
doentes mentais e enfermos eram incapazes de exercer atos da vida civil, foi 
revogada em 2015, com a Lei 13.146/2015, conhecida também como Lei da 
Inclusão da Pessoa com Deficiência. Ficando apenas os menores de 16 anos 
considerados como incapazes ao casamento. 
Já os impedimentos matrimoniais estão elencados no art. 1.521, CC: 
 
Art. 1.521. Não podem casar: 
 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o 
foi do adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro 
grau inclusive; 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
16 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de 
homicídio contra o seu consorte. (2016). 
 
Além do mais, qualquer pessoa capaz pode se opor a estes 
impedimentos, desde que faça antes da celebração, e o juiz ou o oficial de registro 
caso saiba de algum destes impedimentos, obrigar-se-á a declará-lo. Maria da Glória 
Perez Delgado Sanches nos explica que “se provada a imposição, ela impede o 
casamento. Se não provada, apenas adia o casamento” (2007). 
 
 
2.2.2 Habilitação 
 
Após comprovada a capacidade para se casar e a inexistência de 
impedimentos, os noivos darão início ao processo de habilitação para o casamento. 
O art. 1525, CC, traz em sua redação como se inicia este processo que 
deverá ser instaurado no cartório de domicílio dos noivos: 
 
Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será firmado 
por ambos os nubentes, de próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, 
e deve ser instruído com os seguintes documentos: 
 
I - certidão de nascimento ou documento equivalente; 
II - autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal 
estiverem, ou ato judicial que a supra; 
III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que 
atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento que os iniba de 
casar; 
IV - declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos 
contraentes e de seus pais, se forem conhecidos; 
V - certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de 
nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do 
registro da sentença de divórcio. (2016). 
 
Posteriormente, encontrando-se em ordem toda a documentação, extrair-
se-á o edital, ficando afixado durante 15 dias no cartório de Registro Civil da 
comarca de ambos os nubentes. E também, se houver imprensa local, será nela 
publicada. Caso exista motivo de urgência, esta publicação será dispensada por 
autoridade competente (oficial do cartório). 
 
 
17 
2.3 Causas suspensivas do casamento 
 
As causas suspensivas são consideradas menos graves, geralmente se 
dão para evitar e impedir confusão patrimonial, justamente por isso não geram 
nulidade absoluta ou relativa para o casamento. 
Elas estão elencadas no art. 1.523, CC: 
 
Art. 1.523. Não devem casar: 
 
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer 
inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; 
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido 
anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da 
sociedade conjugal; 
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a 
partilha dos bens do casal; 
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, 
cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não 
cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas. 
 
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes 
sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste 
artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o 
herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso 
do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de 
gravidez, na fluência do prazo. (2016). 
 
Nota-se que mesmo havendo casamento, sem a alegação de causa 
suspensiva, o casamento ainda será válido, “mas o regime de comunhão parcial de 
bens será ineficaz, tendo em vista que se aplicam as regras de separação de bens”. 
(TARTUCE, 2014, p. 166). 
Há uma divergência na doutrina quanto à suspensão. De um lado, 
doutrinadores, como Carlos Roberto Gonçalves, defendem que a suspensão deve 
ser verificada até que se veja afastada a causa suspensiva (GONÇALVES, 2005). 
Por outro lado, há a defesa de que a suspensão deveria ocorrer até a verificação da 
existência de causa suspensiva ou não. 
Tartuce defende que “esta segunda corrente parece ser a mais correta, 
eis que a suspensão só dura até a apuração da procedência ou não da causa 
suspensiva” (2014, p. 167). 
 
 
 
18 
2.4 Espécies de Casamento 
 
 
2.4.1 Casamento Válido 
 
Conhece-se como casamento válido aquele que seguiu todos os 
procedimentos exigidos por lei. 
 
 
2.4.2 Casamento Putativo 
 
É aquele em que um ou ambos os cônjuges desconhecem algum tipo de 
impedimento, podendo ser nulo ou anulável. Quando é apenas um dos cônjuges que 
desconhece, tendo ele boa-fé, o casamento produzirá seus efeitos normalmente, 
ocorrendo estes desde a celebração até a sentença anulatória. Passada a sentença, 
os deveres do casamento são considerados cessados. (VIA JUS, 2016). 
 
 
2.4.3 Casamento Nuncupativo e em caso de moléstia grave 
 
O Código Civil abre duas exceções relacionadas às formalidades para 
que o casamento seja válido, que é o caso do casamento nuncupativo e em caso de 
moléstia grave. 
O primeiro ocorre quando um dos nubentes está em risco de vida, sendo 
prescindidas as formalidades. Dispensa-se também a autoridade competente para a 
celebração, podendo ser realizada com a presença de seis testemunhas, desde que 
não tenham nenhum parentesco com o casal. E o art. 1.541, CC, completa dizendo 
que: 
 
Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer 
perante a autoridade judicial mais próxima, dentro em dez dias, pedindo que 
lhes tome por termo a declaração de: 
 
I - que foram convocadas por parte do enfermo; 
II - que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo; 
III - que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e 
espontaneamente,receber-se por marido e mulher. 
 
19 
§ 1
o
 Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às 
diligências necessárias para verificar se os contraentes podiam ter-se 
habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados que o requererem, 
dentro em quinze dias. 
§ 2
o
 Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o 
decidirá a autoridade competente, com recurso voluntário às partes. 
§ 3
o
 Se da decisão não se tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, 
apesar dos recursos interpostos, o juiz mandará registrá-la no livro do 
Registro dos Casamentos. 
§ 4
o
 O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao 
estado dos cônjuges, à data da celebração. 
§ 5
o
 Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo antecedente, se o 
enfermo convalescer e puder ratificar o casamento na presença da 
autoridade competente e do oficial do registro. (CÓDIGO CIVIL, 2016). 
 
Já o casamento em caso de moléstia grave, encontra-se elencado no art. 
1.539, CC: 
 
Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do 
ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à 
noite, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever. 
 
§ 1
o
 A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o 
casamento suprir-se-á por qualquer dos seus substitutos legais, e a do 
oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato. 
§ 2
o
 O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no 
respectivo registro dentro em cinco dias, perante duas testemunhas, ficando 
arquivado. (CÓDIGO CIVIL, 2016). 
 
 
2.4.4 Casamento Religioso Com Efeitos Civis 
 
O casamento religioso com efeito civil ocorrerá desde que atenda todas 
as exigências legais para ser validado como casamento civil e seus efeitos serão 
contados da data da celebração. 
Importante frisar sobre o casamento religioso: 
 
Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos 
requisitos exigidos para o casamento civil. 
 
§ 1
o
 O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de 
noventa dias de sua realização, mediante comunicação do celebrante ao 
ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado, desde que haja 
sido homologada previamente a habilitação regulada neste Código. Após o 
referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação. 
§ 2
o
 O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas neste 
Código, terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a 
qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação perante a 
autoridade competente e observado o prazo do art. 1.532. 
20 
§ 3
o
 Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele, 
qualquer dos consorciados houver contraído com outrem casamento civil. 
 
 
2.4.5 Casamento Consular 
 
É aquele celebrado fora do país e por brasileiro, sendo validado desde 
que esteja presente o cônsul brasileiro. 
E ainda dispõe o art. 1.544, CC: 
 
Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as 
respectivas autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser registrado 
em cento e oitenta dias, a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges 
ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1
o
 Ofício 
da Capital do Estado em que passarem a residir. 
 
 
2.4.6 Casamento Por Procuração 
 
A lei brasileira permite aos nubentes, caso não possam estar presentes 
na celebração de seu matrimônio, casarem por procuração, desde que esteja o 
procurador munido de poderes especiais. 
Deverá ser feita, a procuração, com validade de 90 (noventa) dias, pelo 
tabelião de notas e ser por instrumento público. Devendo também haver menção 
incontestável por parte do outro contraente. 
Não importa se vai estar presente um ou ambos nubentes. 
 
A única exigência é que o procurador represente apenas um do casal. Na 
ausência dos dois, serão necessárias duas procurações, com mandatários 
distintos, um para cada qual dos consortes. A restrição se faz porque sendo 
o casamento um contrato bilateral, é necessária a manifestação de duas 
vontades, uma do varão, outra da varoa, e para tanto haveria 
incompatibilidade para que um somente representasse os dois polos 
contratuais. (LEAL, 2011). 
 
 
 
 
21 
2.4.7 Conversão de união estável em casamento 
 
A união estável entre homem e mulher, foi devidamente reconhecida 
como entidade familiar, desde que “configurada na convivência pública, contínua e 
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família” (art. 1.723, CC). 
Além disso, essa relação deverá obedecer alguns deveres como, “lealdade, respeito 
e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos” (art. 1.724, CC). 
A união estável ocorrerá desde que não existam impedimentos (art. 
1.521, CC). A única exceção quanto a este impedimento, está em relação à pessoa 
casada, mas que se encontra separada de fato ou judicialmente, neste caso, poderá 
haver união estável. 
Em caso de inexistência de contrato firmado entre os companheiros, 
acerca do tipo de regime de bens, este será o da comunhão parcial de bens, 
conforme redação do art. 1.725, CC. 
Por fim, na redação dada pelo Código Civil, o art. 1.726 versa sobre a 
conversão da união estável em casamento: “união estável poderá converter-se em 
casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil”. 
 
 
2.4.8 Casamento Homo afetivo 
 
Como já observado em tópico acima, no final do ano de 2011, o Superior 
Tribunal de Justiça, reconheceu ser possível o casamento entre pessoas do mesmo 
sexo ou casamento homo afetivo, por analogia à união estável. 
 
CASAMENTO. PESSOAS. IGUALDADE. SEXO. 
 
In casu, duas mulheres alegavam que mantinham relacionamento 
estável há três anos e requereram habilitação para o casamento junto a 
dois cartórios de registro civil, mas o pedido foi negado pelos respectivos 
titulares. Posteriormente ajuizaram pleito de habilitação para o casamento 
perante a vara de registros públicos e de ações especiais sob o argumento 
de que não haveria, no ordenamento jurídico pátrio, óbice para o 
casamento de pessoas do mesmo sexo. Foi-lhes negado o pedido nas 
instâncias ordinárias. O Min. Relator aduziu que, nos dias de hoje, 
diferentemente das constituições pretéritas, a concepção constitucional do 
casamento deve ser plural, porque plurais são as famílias; ademais, não é o 
casamento o destinatário final da proteção do Estado, mas apenas o 
intermediário de um propósito maior, qual seja, a proteção da pessoa 
humana em sua dignidade. Assim sendo, as famílias formadas por 
22 
pessoas homo afetivas não são menos dignas de proteção do Estado 
se comparadas com aquelas apoiadas na tradição e formadas por 
casais heteroafetivos. O que se deve levar em consideração é como 
aquele arranjo familiar deve ser levado em conta e, evidentemente, o 
vínculo que mais segurança jurídica confere às famílias é o casamento civil. 
Assim, se é o casamento civil a forma pela qual o Estado melhor 
protege a família e se são múltiplos os arranjos familiares 
reconhecidos pela CF/1988, não será negada essa via a nenhuma 
família que por ela optar, independentemente de orientação sexual dos 
nubentes, uma vez que as famílias constituídas por pares homo 
afetivos possuem os mesmos núcleos axiológicos daquelas 
constituídas por casais heteroafetivos, quais sejam, a dignidade das 
pessoas e o afeto. Por consequência, o mesmo raciocínio utilizado tanto 
pelo STJ quanto pelo STF para conceder aos pares homo afetivos os 
direitos decorrentes da união estável deve ser utilizadopara lhes 
proporcionar a via do casamento civil, ademais porque a CF determina a 
facilitação da conversão da união estável em casamento (art. 226, § 3º). 
Logo, ao prosseguir o julgamento, a Turma, por maioria, deu provimento ao 
recurso para afastar o óbice relativo à igualdade de sexos e determinou o 
prosseguimento do processo de habilitação do casamento, salvo se, por 
outro motivo, as recorrentes estiverem impedidas de contrair 
matrimônio. Resp. 1.183.378-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 
julgamento em 25/10/2011. (STJ, 2011). 
 
Assim como em 2013, com o surgimento da Resolução n. 175 do 
Conselho Nacional de Justiça: 
 
Art. 1º É vedada às autoridades competentes a recusa de habilitação, 
celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em 
casamento entre pessoas de mesmo sexo. 
Art. 2º A recusa prevista no artigo 1º implicará a imediata comunicação ao 
respectivo juiz corregedor para as providências cabíveis. 
Art. 3º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação. (2016). 
 
Após estas a decisão do STJ e a Resolução do Conselho Nacional de 
Justiça, o número de casamentos registrados por casais do mesmo sexo aumentou 
significativamente. No ano de 2015, “o Brasil registra a realização de 3,7 mil 
casamentos entre pessoas do mesmo sexo” (CNJ, 2015). 
 
 
 
 
 
 
23 
3. REGIME DE BENS 
 
 
3.1 Conceito 
 
 
Trata-se de um conjunto, composto de diretrizes e princípios, que irá 
reger o patrimônio e os interesses dos cônjuges. 
O regime de bens torna-se importantíssimo na vida dos cônjuges e se faz 
valer a partir da celebração do matrimônio. 
Flávio Tartuce conceitua-o da seguinte forma: 
 
 O regime matrimonial de bens pode ser conceituado como sendo o 
conjunto de regras relacionadas com interesses patrimoniais ou econômicos 
resultantes da entidade familiar, sendo as suas normas, em regra, de ordem 
privada. (2014, p. 307). 
 
O regime de bens escolhido pelos cônjuges trará respostas para algumas 
perguntas, como o rol exemplificativo abaixo: 
 
a) Maria e João possuíam bens de solteiro (cada um o seu), estes bens 
serão partilhados entre os dois? 
b) Ou Maria ficará com o que é seu e João com o que é dele? E somente 
o que foi adquirido após o casamento será de ambos? 
c) Ou ainda, se o que foi adquirido antes e após o casamento não será 
compartilhado entre eles. 
d) Também há a possiblidade de todos os bens serem particulares e 
apenas determinado bem será usufruído em comunhão. 
e) Ou todos os bens serão usufruídos em comunhão, exceto aquele 
único que será particular de um dos dois. 
 
Convém observar que, a decisão pelo regime de bens será de grande 
importância a partir do momento da dissolução da sociedade conjugal. Por isso, os 
cônjuges tem que escolher qual será o melhor regime de bens para eles. 
 
24 
3.2 Princípios básicos 
 
Os regimes de bens são regidos por alguns princípios: autonomia privada; 
indivisibilidade do regime de bens; variedade de regimes de bens; mutabilidade 
justificada. 
De acordo com o princípio da Autonomia da Vontade, os nubentes 
poderão escolher de livre e espontânea vontade qual dos regimes de bens será 
aquele que melhor se adequará à sua relação. E o art. 1.639, caput, CC, reforça 
esta ideia: “É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto 
aos seus bens, o que lhes aprouver” (2016). 
O princípio da Indivisibilidade do Regime de Bens trata da impossibilidade 
de que cada cônjuge tenha, particularmente, seu regime de bens, isto é: o regime é 
para o casal. Flávio Tartuce acrescenta que “como aplicação prática desse princípio, 
será nulo o pacto antenupcial que determinar o regime da comunhão universal de 
bens para o marido e o da separação de bens para a esposa” (2014, p. 311). 
Já o princípio da Variedade de Regime de Bens, diz que são 4 (quatro) os 
regimes permitidos por lei: comunhão parcial, comunhão universal, participação final 
dos aquestos e separação de bens, podendo escolher entre um destes. Ressalta-se 
que se não for escolhido regime algum, ou se o pacto antenupcial foi nulo ou 
ineficaz, o regime de bens imposto aos cônjuges será o da comunhão parcial. 
Finalmente, o princípio da Mutabilidade Justificada diz que só poderá 
haver mudança de regimes em casos excepcionais, e o art. 1.639, §2º completa 
dizendo que: 
 
Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, 
quanto aos seus bens, o que lhes aprouver. 
 
§ 2
o
 É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização 
judicial em pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência 
das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros. 
 
 
3.3 Pacto Antenupcial 
 
Trata-se de um documento que será assinado pelos cônjuges definindo a 
escolha do regime de bens que prevalecerá entre os dois, sendo classificado como 
um contrato condicional e solene. É considerado condicional por sua eficácia 
25 
depender da concretização do casamento e sua solenidade decorre de escritura 
pública devidamente registrada (art. 1.653, CC). Além do mais, a capacidade para 
casar também é exigida neste caso, portanto, os menores de 16 (dezesseis) anos 
irão precisar do consentimento de seus responsáveis que deverão estar presentes 
na celebração deste contrato. 
Como já mencionado, caso inexista este pacto, ele seja nulo ou ineficaz, 
prevalecerá como regime de bens escolhido, a comunhão parcial, de acordo com a 
redação do art. 1.640, CC. 
Uma importante observação é a respeito da redação do art. 1.657: “as 
convenções antenupciais não terão efeito perante terceiros senão depois de 
registradas, em livro especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos 
cônjuges”. 
Nota-se que caso o regime escolhido não tenha sido registrado, para 
terceiros (a sociedade) o que vigorará entre aquele casal é o regime da comunhão 
parcial. 
 
 
3.4 Tipos de Regime de Bens 
 
 
3.4.1 Comunhão parcial de bens 
 
Presente no Brasil a partir de 1977, com a Lei nº 6.515, a comunhão 
parcial ou regime legal é o mais adotado no Brasil, e ocorre na quando não houve 
escolha por parte do casal ou então o pacto antenupcial selado por eles for 
considerado nulo. 
A característica marcante deste regime é que: o que era de cada cônjuge 
antes do casamento não será compartilhado pelos dois, e sim somente o que foi 
adquirido, a título oneroso, após a união em matrimônio. 
Conceitua-se legalmente no art. 1.658, CC: “no regime de comunhão 
parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do 
casamento, com as exceções dos artigos seguintes” (2016). 
Na definição de Carlos Roberto Gonçalves: 
 
26 
Caracteriza-se por estabelecer a separação quanto ao passado (bens que 
cada cônjuge possuía antes do casamento) e comunhão quanto ao futuro 
(adquiridos na constância do casamento), gerando três massas de bens: os 
do marido, os da mulher e os comuns. (2012, p. 363). 
 
Quanto aos bens que se excluem da comunhão: 
 
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: 
 
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na 
constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em 
seu lugar; 
II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos 
cônjuges em sub-rogação dos bens particulares; 
III - as obrigações anteriores ao casamento; 
IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito 
do casal; 
V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; 
VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; 
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. 
(CÓDIGO CIVIL,2016). 
 
Também se excluem os bens que “cuja aquisição tiver por título uma 
causa anterior ao casamento” (art. 1.661). Assim, o bem que foi parte de um 
processo judicial e o resultado desta ação foi dado após o casamento já oficializado, 
não se comunicará com o outro cônjuge. Do mesmo modo que o dinheiro recebido 
de um bem que foi colocado a venda antes do casamento, e só foi vendido após o 
beneficiário ter casado. 
O patrimônio em comum será administrado por qualquer um dos 
cônjuges, e o patrimônio particular será administrado pelo proprietário do bem. 
Dá-se a dissolução deste regime quando: houver divórcio ou um dos 
cônjuges vier a óbito, ou, ainda, em caso de ser nulo ou anulado o casamento. 
Caso ocorra esta dissolução, em caso de morte, os bens que pertenciam 
ao cônjuge falecido passarão aos seus herdeiros. E em caso de divórcio ou 
separação judicial, a partilha será feita somente entre os bens comuns do casal. 
 
 
3.4.2 Comunhão universal de bens 
 
Este era considerado o regime legal até o surgimento da Lei nº 6.515/77. 
Neste regime, comunicam-se todos os bens do casal independente se 
foram adquiridos antes ou após o casamento. 
27 
De acordo com redação do art. 1.668, CC: 
 
Art. 1.668. São excluídos da comunhão: 
 
I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os 
sub-rogados em seu lugar; 
II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, 
antes de realizada a condição suspensiva; 
III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas 
com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum; 
IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a 
cláusula de incomunicabilidade; 
V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659. (2016). 
 
Caso seja extinta a comunhão, efetivar-se-á a partilha do passivo e do 
ativo, interrompendo a obrigação de um dos cônjuges com os credores do outro. 
 
 
3.4.3 Participação final dos aquestos 
 
É um regime misto uma vez que durante a vigência do casamento o 
regime será o da separação total, e caso ocorra a dissolução da sociedade conjugal, 
o regime a ser adotado é o da comunhão parcial. Foi trazido pela Lei nº 
10.406/2002. 
O art. 1.672, CC traz suas particularidades: 
 
Art. 1.672. No regime de participação final nos aquestos, cada cônjuge 
possui patrimônio próprio, consoante disposto no artigo seguinte, e lhe 
cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade dos 
bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento. 
(2016). 
 
Neste regime de bens, caso o casal decida pela dissolução da sociedade 
conjugal, os aquestos serão calculados, excluindo-se desta forma o patrimônio 
particular de cada cônjuge. 
 
 
 
 
 
28 
3.4.4 Separação de bens 
 
Neste regime nada se comunica: nem os bens do presente (da época de 
solteiro até a data do casamento) e nem os bens do futuro (o que o casal constituirá 
conjuntamente). Os bens do futuro ficarão a cargo de quem os adquiriu. 
Assim sendo: 
 
Nesse regime nada se comunica, ou seja, o que o marido e a mulher já 
possuíam ao casar, continuará a ser de cada um deles, com 
exclusividade, não se comunicando com o patrimônio do outro. 
Da mesma forma, tudo o que for adquirido na constância do casamento, 
seja por compra, doação ou herança, será exclusivo daquele que adquiriu, 
não integrando qualquer patrimônio comum. (DANTAS, 2013). 
 
Existem duas formas para este regime de bens ser a escolha: por pacto 
antenupcial ou por exigência de lei (legal ou obrigatório). 
Será exigido por lei quando: 
 
Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: 
 
I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas 
suspensivas da celebração do casamento; 
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 
12.344, de 2010). 
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial. 
(CÓDIGO CIVIL, 2016). 
 
Em relação à dissolução da sociedade conjugal, ao final desta, cada 
cônjuge não teria direito a nada se este não tiver ajudado a adquirir, porém o 
Supremo Tribunal Federal abriu uma exceção com a Súmula 377: 
 
SÚMULA 377 
 
No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na 
constância do casamento. 
 
Como a própria súmula diz “regime de separação legal de bens”, não 
valendo, portanto, quando a separação de bens foi opção do casal. 
Em caso de dissolução do casamento, e este for regido pela separação 
de bens convencional, cada um dos cônjuges retirará seu patrimônio. E caso a 
dissolução se dê por morte de qualquer um dos cônjuges, o cônjuge sobrevivente 
29 
passa aos herdeiros a parte do falecido e continuará administrando os bens em 
comum até chegar à partilha. 
O Código Civil exige que os cônjuges deverão arcar com as despesas do 
casal e serão encarregados de arcarem com as dividas que adquirirem. (arts. 1.642 
e 1.687, CC). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
4. DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL E A PARTILHA DE BENS DE 
ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO 
 
 
Após conhecer a respeito de como os animais são tratados em nosso 
ordenamento jurídico, passando também pelos tipos de casamento e regime de 
bens, resta-nos analisar como se dá a partilha de bens após a dissolução da 
sociedade conjugal e, em foco, a partilha dos animais de estimação. 
 
 
 4.1 Dissolução da Sociedade Conjugal 
 
Estudar o fim do casamento e da sociedade conjugal se tornou importante 
para o Direito de Família, visto que com a evolução da sociedade, este precisou 
evoluir junto. Para se chegar ao que dita o Código Civil atual, sobre a dissolução da 
sociedade, muita coisa mudou. 
Bem antigamente a mulher era considerada um ser inferior em relação à 
figura do homem, não podendo, desta forma, ter voz ativa. Um fato notório desta 
época era que muitas vezes seus casamentos eram arranjados por sua família, 
fazendo com que, raramente, ela se casasse com alguém do seu interesse. 
Quando este casamento arranjado ocorria, a mulher rejeitava o homem, e 
nada poderia ser feito, já que se casavam para o resto da vida. 
 
O casamento era fortemente protegido pela Igreja Católica, a qual exercia 
grande influência no ordenamento jurídico brasileiro, havendo, inclusive, 
disposições quanto à indissolubilidade do casamento nas Constituições 
passadas. (PACHECO, 2014). 
 
Caso a mulher decidisse pelo fim de seu casamento, era tudo sua culpa, 
em razão de que era inaceitável que isto ocorresse. Passavam a tratá-la com 
preconceito e repúdio. 
Contudo, com a evolução da sociedade brasileira, em 1916 o Código Civil 
trouxe uma importante mudança para o casamento, que era a previsão do desquite 
(ou separação de corpos) em sua redação: 
 
Art. 317. A ação de desquite só se pode fundar em algum dos seguintes 
motivos: 
31 
 
I. Adultério. 
II. Tentativa de morte. 
III. Sevicia, ou injuria grave. 
IV. Abandono voluntário do lar conjugal, durante dois anos contínuos. 
(CÓDIGO CIVIL, 1916). 
 
Caso houvesse o desquite: 
 
novos casamentos não poderiam ser feitos, uma vez que estes ficavam 
ilegitimados de possuir uma nova união conjugal, ou seja, o casamento. As 
pessoas que se separavam eram conhecidas como “desquitadas” e muito 
mal vistas pela sociedade. A situação era tão constrangedora, que rumores 
sobre o possível término do casamento corriam por toda parte. (SOUZA, 
2015). 
 
Somente a partir de 1977 é que o divórcio foi definido como legal no 
Brasil. Pelas palavras de Caroline Pacheco: 
 
Com o advento da Lei nº 6.515/77, surgiram duasmodalidades que 
colocavam termo ao vínculo matrimonial. A primeira, chamada de divórcio-
conversivo, previa que o casal primeiramente devia se separar 
judicialmente, e após três anos estavam aptos a requerer a conversão em 
divórcio. Por sua vez, o chamado divórcio direto, permitia o divórcio ao casal 
que já estava separado de fato há cinco anos antes da publicação da 
emenda constitucional. (2014). 
 
Além da Lei do Divórcio e da Separação Judicial (Lei nº 6.515/77), com a 
Emenda Constitucional nº 9, que dava nova redação ao art. 175 da CF/69 foi 
possível se divorciar no Brasil. 
Uma das regras é que só poderia haver o divórcio uma única vez por 
pessoa, não sendo possível se divorciar diversas vezes se assim quisesse. Isto 
muda em 1989 com a revogação do art. 38 da Lei 6.515/77 pela Lei 7.841/89, que 
dizia: “art. 38. O pedido de divórcio, em qualquer de seus casos, somente poderá ser 
formulado uma vez” (LEI 6.515/77, 2016). Portanto, passa-se a ser permitido o 
divórcio mais de uma vez. 
Com o surgimento da nova Carta Magna em 1988, a dissolução da 
sociedade conjugal ganha mais um avanço, visto que a redação do art. 226, §6º, CF 
dizia que: 
 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado: 
 
32 
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia 
separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou 
comprovada separação de fato por mais de dois anos. (FERRIANI, 2016). 
 
O Código Civil de 2002 trouxe em seu art. 1.571: 
 
Art. 1.571. A sociedade conjugal termina: 
 
I - pela morte de um dos cônjuges; 
II - pela nulidade ou anulação do casamento; 
III - pela separação judicial; 
IV - pelo divórcio. 
 
§ 1
o
 O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou 
pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto 
ao ausente. 
§ 2
o
 Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o 
cônjuge poderá manter o nome de casado; salvo, no segundo caso, 
dispondo em contrário a sentença de separação judicial. (2016). 
 
Avançando mais ainda, em 2010, com a Emenda Constitucional nº 66, 
conhecida como Emenda do Divórcio, o §6º, ganha nova e atual redação: 
 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado: 
 
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação dada 
Pela Emenda Constitucional nº 66, de 2010). (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 
2016). 
 
Comparando as duas redações do art. 226, §6º, CF, resta claro que a 
mudança foi em relação ao prazo que foi definitivamente afastado, tanto o do 
divórcio-conversivo quando o do divórcio direto. 
Outra percepção que se pode ter da nova Emenda Constitucional, é que 
ela baniu totalmente do nosso ordenamento jurídico a separação judicial, já que: 
 
Esta apenas dissolvia a sociedade conjugal pondo fim a determinados 
deveres decorrentes do casamento como o de coabitação e o de fidelidade 
recíproca, facultando também a partilha patrimonial. Contudo, pessoas 
separadas não podiam casar novamente, em razão de o vínculo matrimonial 
não ter sido desfeito. (FERNANDES, 2010). 
 
Portanto, somente com o divórcio e com a morte de um dos cônjuges é 
que se chega à dissolução da sociedade conjugal. 
A morte de um dos cônjuges traz a dissolução tanto da sociedade 
conjugal quanto do vinculo matrimonial e é a primeira causa de dissolução do art. 
33 
1.571 do Código Civil. Após ocorrer a morte de um dos cônjuges, o cônjuge 
sobrevivente poderá se casar novamente, porém os vínculos de afinidade ainda 
continuam com os parentes do cônjuge falecido. 
 
Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro 
pelo vínculo da afinidade. 
 
§1º. O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos 
descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro. 
§2º. Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do 
casamento ou da união estável. (CÓDIGO CIVIL, 2016). 
 
Desta forma, o Código Civil trouxe algumas particularidades a serem 
observadas pelo cônjuge sobrevivente, que são: 
 
Art. 1.523. Não devem casar: 
 
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer 
inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; 
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido 
anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da 
sociedade conjugal; (2016). 
 
As causas acima são suspensivas e caso queiram suspendê-las, deve-se 
seguir o disposto no Parágrafo Único do mesmo dispositivo acima citado: 
 
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes 
sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste 
artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o 
herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso 
do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de 
gravidez, na fluência do prazo. (CÓDIGO CIVIL, 2016). 
 
Já a dissolução pelo divórcio ocorre de duas formas: judicial litigioso e 
judicial consensual. O primeiro se dá quando as partes não chegam a um acordo. Às 
vezes a confusão acontece por uma das partes não querer o fim da relação ou até 
mesmo se discute, por exemplo, sobre alimentos, guarda dos filhos e partilha dos 
bens. 
 
No divórcio, definido atualmente na legislação brasileira, não há que se 
dizer que haja culpado vínculo com a culpa, pelo fim do casamento, nem 
mesmo qualquer responsável pelo seu fim. Caso algum outro conflito tenha 
sido a causa do término do casamento, no âmbito da responsabilidade civil 
é que devem ser discutidos tais aspectos, mas jamais dentro de um 
34 
processo de divórcio. Ou seja, ação de danos morais, bem como danos 
materiais, etc. (SOUZA, 2015). 
 
Alguns dos casos que possa se levar ao divórcio litigioso são: casos de 
adultério, brigas e desentendimentos constantes, a vida conjugal não mais acontece, 
em caso de doença grave, dentre outros. 
E nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves: 
 
O divórcio direto requerido por um só dos cônjuges (litigioso) seguirá o 
procedimento ordinário, segundo dispõe o art. 40, § 3º, da Lei do Divórcio. 
Não há necessidade da tentativa de reconciliação, nem se aplica a regra do 
art. 447 do Código de Processo Civil. (2012, p. 230). 
 
Já o divórcio consensual, como o próprio nome diz ocorre por vontade de 
ambas as partes e estas deverão seguir as regras do art. 40, §2º da Lei do Divórcio 
(Lei 6.515/77): 
 
Art. 40. No caso de separação de fato, e desde que completados 2 (dois) 
anos consecutivos, poderá ser promovida ação de divórcio, na qual deverá 
ser comprovado decurso do tempo da separação. (Redação dada pela 
Lei nº 7.841, de 1989). 
 
§ 2º - No divórcio consensual, o procedimento adotado será o previsto 
nos artigos 1.120 a 1.124 do Código de Processo Civil, observadas, ainda, 
as seguintes normas: 
 
I - a petição conterá a indicação dos meios probatórios da separação de 
fato, e será instruída com a prova documental já existente; 
II - a petição fixará o valor da pensão do cônjuge que dela necessitar para 
sua manutenção, e indicará as garantias para o cumprimento da obrigação 
assumida; 
III - se houver prova testemunhal, ela será produzida na audiência de 
ratificação do pedido de divórcio a qual será obrigatoriamente realizada. 
IV - a partilha dos bens deverá ser homologada pela sentença do divórcio. 
(2016). 
 
Após conhecer um pouco de como se dá a dissolução da sociedade, 
passemos a conhecer sobre como se dá a partilha de bens. 
 
 
4.2 Da partilha de bens 
 
Em caso de dissolução matrimonial, partilhar os bens significa “dividir o 
patrimôniodo casal”, e a forma como será feita esta divisão se dá de acordo com 
qual regime de bens o casal era casado. 
35 
Em resumo, quando o regime for comunhão parcial de bens, somente o 
que foi adquirido em conjunto após o casamento é que será partilhado. Em caso de 
comunhão universal de bens, se efetivará a partilha do passivo e do ativo, 
interrompendo a obrigação de um dos cônjuges com os credores do outro. Na 
participação final dos aquestos, faz-se um levantamento do que foi comprado pelo 
casal em conjunto e divide pela metade. Já na separação total de bens independe 
se continuam casados ou estão em partilha de bens, o patrimônio é individual de 
cada um, por isso, só em casos de o bem estar registrado no nome de ambos é que 
se fará a divisão entre eles após a dissolução do matrimônio. 
Anteriormente com o art. 31 da Lei 6.515/77 ou Lei do Divórcio, o 
momento da partilha era da seguinte forma: “não se decretará o divórcio se ainda 
não houver sentença definitiva de separação judicial, ou se esta não tiver decidido 
sobre a partilha dos bens” (2016). 
Atualmente, com o art. 1.581, CC: “O divórcio pode ser concedido sem 
que haja prévia partilha de bens” (2016). 
Portanto, a partilha de bens pode se dar durante o processo de divorcio 
ou depois, devendo o casal voltar ao judiciário para a devida divisão dos bens. 
 
Há casos excepcionais em que é aconselhável a partilha depois, como no 
caso de sociedades empresariais e atividades econômicas que dependam 
de levantamento pericial de valores, ou ainda, em caso do único imóvel do 
casal ainda com financiamento hipotecário. (ACONTECE NAS MELHORES 
FAMÍLIAS, 2016). 
 
Importante também, os advogados descreverem todos os bens a serem 
partilhados a fim de evitar perda ou desperdício do acervo conjugal. 
Depois de resolvido com qual bem cada parte ficará, caso um deles esteja 
empossado de um bem que seja do outro ou se recuse a entregá-lo, estará 
cometendo “esbulho possessório” e desta forma: 
 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de 
turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se 
tiver justo receio de ser molestado. 
 
§ 1
o
 O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se 
por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de 
desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição 
da posse. 
§ 2
o
 Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de 
propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. (2016). 
36 
 
Um dos casos atuais de esbulho possessório é em relação ao animal de 
estimação e veremos a seguir como se dá a partilha destes. 
 
 
4.3 Da partilha de animais de estimação 
 
Após apresentar como é a relação homem-animal e o como é o 
procedimento da partilha de bens após a dissolução do casamento, faz-se a 
seguinte pergunta: o animal de estimação, ser senciente, que traz uma mistura de 
sentimentos às família, como amor e alegria, convivendo diariamente com seus 
donos, merece ser tratado pelo ordenamento jurídico como mero como um objeto a 
ser partilhado? 
A priori, destaca-se que existem inúmeros tipos de animais, como aqueles 
que servem de força motriz (cavalo), companhia (cães, gatos, pássaros), criação em 
grande escala (gado, galinha, porco). Porém são os animais que podem ser 
domesticados que são mais viáveis de se conviver com seres humanos. 
Um exemplo é o cachorro que pode servir de companhia, de guarda 
costas, de guia para um cego, ou como o mascote da casa, nascendo assim um 
vínculo entre ele e seus humanos. 
É sabido que os animais de estimação ganharam mais e mais espaço 
dentro das famílias em toda parte do mundo, passando a serem tratados como “da 
família” em alguns casos. Ao mesmo tempo, em contrapartida, aumentou-se o 
número de divórcios no Brasil: 
 
Nas ultimas três décadas (de 1984 a 2014), o numero de divórcios cresceu 
de 30,8 mil para 341,1 mil, com taxa geral de divórcios passando de 0,44 
por mil habitante na faixa de pessoas com 20 anos ou mais de idade, em 
1984, para 2,41 por mil habitante em 2014. (OLIVEIRA, 2015). 
 
Desta forma, em casos de dissolução da sociedade conjugal, não são 
raras as vezes em que o animal da família encontra-se no meio da partilha de bens. 
Porém, a questão não é tão simples de ser resolvida, visto que o pedido de guarda 
compartilhada de um animal não é bem visto por todos do judiciário, como o caso 
abaixo, ocorrido no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: 
37 
 
O curioso é que em tempos de assoberbamento do Poder Judiciário, 
lotadas as mesas e os armários dos operadores do Direito da área de 
família com questões de grande relevância, tais como invest igações de 
paternidade ou destituições de poder familiar, não estamos aqui tratando 
da busca e apreensão de um menor, cuja guarda se discute, mas sim de 
uma cachorrinha. E as petições lançadas por autor e requerida, eminentes 
colegas, não perdem de vista as expressões de “direito de guarda” e 
“direito de visita”, não sendo de estranhar que surgisse, em algum 
momento, alusão à defesa do “melhor interesse canino”. (JUSBRASIL, 
2013). 
 
Destarte, resta-nos apresentar como se dá a partilha dos animais de 
estimação na esfera jurídica brasileira quando não há acordo entre as partes. 
 
 
4.4 Impropriedade da atual forma de partilha dos animais de estimação 
 
O ordenamento jurídico brasileiro vê o animal como um objeto móvel ou 
coisa: “art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de 
remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-
social” (CÓDIGO CIVIL, 2016). 
Outro artigo que demonstra que o Direito Civil trata os animais como 
objetos é pelo art. 1.232: “Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda 
quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, 
couberem a outrem” (CC, 2016). Desta forma, caso o animal dê cria, fica com seu 
proprietário também. 
Apesar disto, o direito de propriedade não é absoluto, a Carta Magna 
dispõe em seu art. 225, §1º, VII, que: 
 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, 
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, 
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e 
preservá- lo para as presentes e futuras gerações. 
 
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: 
 
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que 
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de 
espécies ou submetam os animais a crueldade. (2016). 
 
38 
O Decreto nº 24.645 de 10 de julho de 1964, trouxe em seu art. 3º, 
diversos exemplos do que seja maus tratos contra animais, ao todo são 31 (trinta e 
um incisos), logo abaixo se destacam alguns destes: 
 
Art. 3º Consideram-se maus tratos: 
 
I – praticar ato de abuso ou crueldade em qualquer animal; 
V – abandonar animal doente, ferido, extenuado ou mutilado, bem coma 
deixar de ministrar-lhe tudo o que humanitariamente se lhe possa prover, 
inclusive assistência veterinária; 
X – utilizar, em serviço, animal cego, ferido, enfermo, fraco, extenuado ou 
desferrado, sendo que este último caso somente se aplica a localidade com 
ruas calçadas; 
XV – prender animais atrás dos veículos ou atados ás caudas de outros; 
XX – encerrar em curral ou outros lugares animais em úmero tal que não 
lhes seja possível moverem-se livremente, ou deixá-los sem Agua e 
alimento mais de 12 horas; 
XXV – engordar aves mecanicamente; 
XXX – arrojar aves e outros animais nas casas de espetáculo e exibi-los, 
para tirar sortes ou realizar acrobacias; (2016).Reconhece-se então que os animais não podem ser alvo de crueldade e 
diante desta preocupação percebe-se uma visão de que eles não são somente 
meros objetos para o ordenamento jurídico. Devendo ter direitos à liberdade, vida, 
integridade física, dentre outros. 
 
Diante desse novo quadro, as normas em vigor não apresentam solução 
adequada aos casos apresentados ao Poder Judiciário. Cabe ao 
magistrado, diante de suas convicções (especistas, antropocêntricas ou 
biocêntricas), dos argumentos lançados nos autos e do fundamento legal e 
filosófico apresentado, julgar as ações. Muitas vezes as decisões não levam 
em conta o interesse do animal, mas apenas e tão somente o título de 
propriedade, na manutenção da visão arcaica do Direito. (SILVA, 2015). 
 
Em que reflete tais pensamentos, no sentido de que se normatize tal 
partilha, torna-se o momento ideal para o Poder Legislativo pensar a respeito deste 
assunto. 
 
 
 
 
 
 
39 
4.5 Inovação legal para a partilha de animais de estimação 
 
Com a finalidade de se adequar as normas legais relacionadas aos 
animais de estimação quando houver partilha de bens em consequência do fim da 
sociedade conjugal, surge novas propostas do Legislativo. 
Em 2010, Márcio França, deputado federal do PSB-SP apresentou um 
Projeto de Lei à Câmara dos Deputados, nº 7.196, onde seu desejo era de que se 
regulasse a guarda dos animais de estimação quando houvesse a dissolução da 
sociedade conjugal. Porém, de acordo com o site da Câmara dos Deputados, tal 
Projeto de Lei encontra-se arquivado desde 2012. (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 
2016). 
Contudo, apesar de ter sido arquivado, em 2011, através do Projeto de 
Lei nº 1.058 do Deputado Marco Aurélio Ubiali, do também PSB-SP, fez-se cópia 
autêntica do Projeto de Lei de Márcio França, este tem o mesmo assunto: “dispõe 
sobre a guarda dos animais de estimação nos casos de dissolução litigiosa da 
sociedade e do vínculo conjugal entre seus possuidores, e dá outras providências ” 
(CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016). Mas este PL também foi arquivado em 31 de 
janeiro de 2015. 
Atualmente, o Projeto de Lei que aborda a guarda dos animais de 
estimação e está em tramitação na Câmara dos Deputados é o do deputado, do 
PSDB-SP, Ricardo Trípolli, com o número de 1.365/2015. 
Tal projeto traz uma inovação que o de 2011 não trazia, sobre casais 
homo afetivos. Pelo Projeto de Lei nº 1.058/2011: 
 
Art. 2º Decretada a separação judicial ou o divórcio pelo juiz, sem que haja 
entre as partes acordo quanto à guarda dos animais de estimação, será ela 
atribuída a quem revelar ser o seu legítimo proprietário, ou, na falta deste, a 
quem demonstrar maior capacidade para o exercício da posse responsável. 
 
Parágrafo único Entende-se como posse responsável os deveres e 
obrigações atinentes ao direito de possuir um animal de estimação. (PL 
1058/2011). 
 
Pelo atual Projeto de Ricardo Trípolli, tal art. 2º, seria da seguinte forma: 
 
Art. 2º Decretada a dissolução da união estável hetero ou homo afetiva, a 
separação judicial ou o divórcio pelo juiz, sem que haja entre as partes 
acordo quanto à guarda dos animais de estimação, será essa atribuída a 
40 
quem demonstrar maior vínculo afetivo com o animal e maior capacidade 
para o exercício da posse responsável. 
 
Parágrafo único. Entende-se como posse responsável os deveres e 
obrigações atinentes ao direito de possuir um animal de estimação. (PL 
1365/2015). 
 
Como se pode observar, Ricardo abrange casais héteros e homo afetivos 
para disputarem a guarda de seus animais de estimação. Mas muito mais do que 
isso, tal Projeto de Lei, vem para proteger os animais diante de uma dissolução da 
sociedade conjugal, o que antes não estava previsto em nosso ordenamento 
jurídico. 
O projeto passará a regular, por exemplo, como se dará a guarda dos 
animais, se será unilateral ou compartilhada. E também o que será observado pelo 
judiciário quando for decidir como ficará o animal após o fim da sociedade conjugal: 
 
Pela proposta, o animal deve ficar com quem demonstrar maior vínculo 
afetivo com o animal e maior capacidade para exercer a posse responsável, 
ou seja, quem puder cumprir com os deveres e obrigações com o pet. Para 
conceder a guarda, o juiz observará as condições do ambiente para morada 
do animal, disponibilidade de tempo, zelo e sustento dele e o grau de 
afinidade entre o bichinho e seu tutor. Serão observadas demais condições 
que possam ser imprescindíveis para a sobrevivência do pet de acordo com 
suas características. (CIPRIANI, 2016). 
 
Além disso, com esta nova norma, Juliana Cipriani explica que: 
 
Se o juiz entender que nenhum dos dois do casal tem condições de ficar 
com o animal, ele pode dar a guarda para uma terceira pessoa. Entre as 
restrições estabelecidas está a de realizar cruzamento. Nenhuma das 
partes pode tomar essa decisão sem o aval da outra e, se houver filhotes, 
eles serão divididos em igual número. (2016). 
 
Na data de 09 de agosto deste ano, o Projeto havia sido aprovado pela 
Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. E até a data de 25 de 
outubro de 2016, o PL havia sido encaminhado para publicação e encontra-se na 
seguinte situação: “Aguardando Designação de Relator na Comissão de 
Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC)” (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 
2016). 
Durante o tempo que ainda não estiver o Projeto de Lei valendo de fato, 
cabe ao juiz estipular critérios legais sobre a matéria, dirimindo os casos que lhe 
serão denotados. Como o magistrado não pode deixar de julgar casos desta 
41 
natureza e nem de nenhuma outra, poderá utilizar meios como analogias, princípios 
gerais do direito, além de costumes. 
Importa-se salientar que tomando tais medidas de se regular a guarda 
dos animais, não será um caso de se modificar a natureza judicia destes e sim 
passar a tratá-los de um jeito adequado, já que sua posição na sociedade tanto se 
modificou nos últimos anos. Cabendo-se assim ter uma norma que regule e dê 
garantias melhores a estes animais quando ocorrer o fim das sociedades conjugais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
CONCLUSÃO 
 
 
Indiscutível é a percepção de que cada vez mais os animais de estimação 
vêm tendo mais valor na sociedade brasileira. Compreende-se com isto o amplo 
crescimento de pet shops, fazendo com que o mercado de artigos para animais 
ganhe cada vez mais prestígio e arrecade muito dinheiro. Nota-se com este 
crescimento, portanto, que os donos de animais domésticos se preocupam 
gradativamente com proteção e cuidado para com estes bichinhos. 
Em contraparte, ampliou-se também o número das dissoluções das 
sociedades conjugais no Brasil, principalmente após o divórcio ficar mais rápido, 
mas a grande questão é sobre a partilha de bens, e em especial à partilha dos 
animais de estimação. 
Após analisar, neste trabalho, os principais aspectos sobre a relação 
homem-animal, percebe-se a incompatibilidade entre o não tratamento dado para os 
animais em nosso ordenamento jurídico e o valor a que estes vêm tendo, às vezes 
sendo protegidos como membros da família. 
Neste sentido, necessita-se de uma norma que regule melhor como se 
dará a partilha dos animais de estimação, visando o bem estar deste e não fazer 
com que aumente a briga entre aqueles que se encontram em processo de 
dissolução da sociedade conjugal. 
Tais normas não vão modificar a natureza jurídica dos animais de 
estimação e sim passar a tratá-los de um jeito adequado, já que sua posição na 
sociedade tanto se modificou nos últimos anos. Cabendo-se assim ter uma norma 
que regule e dê garantias melhores

Outros materiais