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Material Teórico Direito de Família Introdução ao Tema, Casamento, Dissolução da Sociedade Conjugal Profª Marlene Lessa cod CivilFamiliaCDSG1907_ a01a03 2 Introdução ao Direito de Família Direito de Família é o complexo de normas que regulam a celebração do casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, as relações entre pais e filhos, união estável, o vínculo de parentesco e os institutos complementares da tutela, curatela e ausência1. Nelson Nery Júnior acrescenta que “o direito de família também cuida de estabelecer as bases de segurança jurídica para resguardar as relações de afeto entre pessoas não unidas pelos vínculos do casamento”2. Realmente, a função do direito de família se alarga para exibir a verdadeira sociedade que se espelha contemporaneamente. Assim, regular os direitos e balancear interesses é obrigação do legislador ao cuidar do direito do indivíduo como um todo, inserido em relação ao organismo familiar. Evolução Histórica A família brasileira sofreu as influências da família Romana, Canônica e Germânica. No Direito Romano o pater familiae, ascendente (homem) comum, vivo e mais velho, exercia sua autoridade sobre todos os seus descendentes não emancipados (potestas). Ele era uma pessoa sui juris e os que recebiam ordens, ou seja, sujeitos à autoridade do pater eram denominados de alieni iuris. O casamento se apresentava de dois modos: com manus em que a mulher ingressava na família marital ou casamento sem manus, em que a mulher continuava sob a autoridade paterna. Do Direito Canônico a peculiaridade que herdamos foi, sobretudo, a questão do divórcio. Os canonistas sempre se opuseram ao divórcio, considerando-o um instituto contrário à própria índole da família e ao interesse dos filhos, cuja formação prejudica: O que Deus uniu não o separe o homem (quod Deus conjunxit homo non separet). Até hoje nos deparamos com a diferença entre a posição canônica e a romana. Veja na ilustração a seguir... 1 BEVILAQUA, Clóvis apud SHIKICIMA, Nelson et al. Direito civil – 3.ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo: DJP Editora, 2008. – Coleção lições do direito para exame da OAB. 2 Nery Junior, Nelson. Novo código civil e legislação extravagante anotados – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p.512. 3 No Brasil, o Direito de Família antes do Código Civil Brasileiro seguia as regras portuguesas. O alvará 12.09.1564 – Concílio Tridentino, de Portugal delegava às autoridades eclesiásticas a competência para tratar dos assuntos de família. Somente em 1595 com as Ordenações Filipinas é que houve sensível diminuição de prestígio eclesiástico. Já no Código Civil de 1916 o Direito de Família estava entre os arts. 180 a 484, CC. Foi a Constituição Federal de 1988 que inovou e rompeu com a trajetória que o Direito de Família herdara em nosso país. O art. 226 (e seus parágrafos) reconheceu os direitos oriundos da união estável, da família monoparental, equiparação entre homens e mulheres e os direitos de filiação, para todos indistintamente. Todavia, tramitava desde 1975, no legislativo, um Projeto de Código Civil (o atual). Somente 11.01.2002 ele foi publicado. Nosso Novo Código Civil, Lei 10.406/02, emerge com um ano de vacatio legis, ou seja, vigência em 11.01.2003. O Direito de Família, então, ficou localizado entre os arts. 1511 a 1783. Atualmente, os julgados dos órgãos superiores estão trazendo facetas diferenciadas ao ramo do direito que estamos tratando: “As uniões afetivas plúrimas, múltiplas, simultâneas e paralelas têm ornado o cenário fático dos processos de família, com os mais inusitados arranjos, entre eles, aqueles em que um sujeito direciona seu afeto para um, dois, ou mais outros sujeitos, formando núcleos distintos e concomitantes, muitas vezes colidentes em seus interesses. Ao analisar as lides que apresentam paralelismo afetivo, deve o juiz, atento às peculiaridades multifacetadas apresentadas em cada caso, decidir com base na dignidade da pessoa humana, na solidariedade, na afetividade, na busca da felicidade, na liberdade, na igualdade, bem assim com redobrada atenção ao primado da monogamia, com os pés fincados no Princípio da Eticidade” (STJ; REsp No. 1157273-RN; Rel. Min. Nancy Andrighi; 3a. T.; public. 7/6/2010). 4 A Família Propriamente Dita A denominação “família” tem duas acepções: em sentido amplo designa as pessoas interligadas por vínculos sanguíneos, naturais, oriundas de um ancestral comum, admitindo também a inclusão dos afins (parentes do outro cônjuge). Em um sentido muito restrito envolve o vínculo entre os pais e sua prole (independente de formalização ou casamento). O fundamento Constitucional é o art. 226: CF: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração. § 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. § 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. § 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. § 6º - O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Parágrafo alterado pela EC/66 de 13 de julho de 2010). § 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. § 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. 5 Do texto da Carta Magna pode ser retirada a origem da célula familiar: casamento, união estável e família de um dos pais com sua prole (monoparental). A família, portanto, recebe proteção do ente estatal através de normas jurídicas e princípios que formam uma estruturação jurídica. São princípios apontados pela doutrina3: Princípio da ratio: o vínculo da vida conjugal é a afeição e comunhão de vida; Princípio da igualdade jurídica entre os cônjuges; Princípio da igualdade jurídica de todos os filhos. Os direitos referentes à família são muito importantes e transcendem a pessoa de cada membro. Assim, as normas que regem tais direitos obedecem normas cogentes, de ordem pública (significa que não podem ser afastadas unicamente por vontade do sujeito e dependem de solenidades específicas) e tutelam direitos personalíssimos4 e extrapatrimoniais. Há ainda, formatos familiares contemporâneos que constituem-se de: • União homoafetiva (reconhecimento STJ e STF através de ADIN/ ADPF, com força “erga omnes”) – pessoas do mesmo sexo que vivem como se casados fossem. Podem contrair matrimônio diretamente em Cartório. Todos os direitos sucessórios também são garantidos. Não está previsto na legislação este formato de família. Está na jurisprudência. • Filiação socioafetiva (padrasto e madrasta que tratam e cuidam de seu enteado como se filho fosse). Jurisprudência aceita que este vínculo suplanta o meramente biológico – há ação declaratória de filiação socioafetiva. Os pais socioafetivos substituem os pais meramente biológicos (retira na Certidão de Nascimento o genitor ou genitora que apenas possui o vínculo exclusivamente biológico). Pode ser realizado o reconhecimento até em caso de falecimento. Há a substituição,nos direitos sucessórios, do vínculo biológico pelo socioafetivo. Obs. Difere da união poliafetiva ou poliamorismo (é aquela em que três ou mais pessoas que vivem como se casados fossem: um homem com várias mulheres, uma mulher com vários homens - simultaneamente. Ou ainda, várias mulheres com vários homens). Não se fala em bigamia porque não há casamento, é união. 3 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 16. 4 Não podem ser renunciados tais direitos, nem transferidos a outrem, tão pouco admitem condição, termo ou exercício por meio de procuração. 6 Multiparentalidade – o padrasto ou a madrasta se vinculam ao menor e o reconhecem como filho na certidão de nascimento, sem excluir os verdadeiros pais, ou seja, os biológicos que também exercem bem a paternidade/maternidade com os vínculos afetivos. Exemplo de decisão judicial em Cascavel em que há dois pais e uma mãe (TJ – Paraná - Autos 0038958- 54.2012.8.16.0021) – disponível no material complementar. O Direito Convivencial O direito CONVIVENCIAL é aquele formado por normas e regras da união estável e do concubinato. A União Estável está definida no art. 1.723 do Código Civil: Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. Obs. Há julgados dos tribunais superiores acerca da união homoafetiva e os direitos de pensão entre os parceiros. Neste caso, para reconhecimento judicial do vínculo, deve ter, entre os interessados, a prova do objetivo do relacionamento: intenção de constituir família, de ser um núcleo familiar. A partir do reconhecimento das partes sob o status de núcleo familiar são possíveis consequências legais (ou seja, vínculo de efeitos patrimoniais no âmbito de partilha de bens, herança e alimentos). 7 CARACTERÍSTICAS5 que a lei determina: • A União é entre homem e mulher; • A Convivência deve ser duradoura (sem prazo determinado); • Notoriedade pública, contínua, com reconhecimento pelo grupo social; • Objetiva constituir uma família (com fidelidade e respeito recíprocos): Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos (CC). Súmula 382 (STF)6. Alcança todos os não impedidos de se casarem, justamente para evitar confusão patrimonial e de filiação: § 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente. § 2o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável. Considerando que de fato não há sanção aos conviventes, se não observarem a regra civil, pode ser reconhecida a união entre: ➔ Solteiros ➔ Separados de fato ➔ Separados judicialmente ➔ Divorciados ➔ Viúvos Quanto ao regime legal do patrimônio, a união estável será o da comunhão parcial de bens: bens adquiridos na constância da união a título oneroso (excluídas as doações, heranças e legados), mesmo quando em nome de apenas um dos conviventes, se comunicam. Em caso de dissolução devem ser partilhados. Admite-se a convenção ou contrato que expresse outra vontade sobre o regime patrimonial dos companheiros (é o contrato de CONVIVÊNCIA): Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens. 5 SHIKICIMA, Nelson. Op. Cit. p. 226. 6 Súmula 382 do STF: A vida em comum sob o mesmo teto, more uxorio, não é indispensável à caracterização do concubinato. 8 A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil (Art. 1.726 CC). 1.2. Ainda no direito convivencial, há a previsão legal do Concubinato. No Código Civil ele se encontra no art. 1.727. Nas palavras do prof. Nelson Sussumo... Art. 1.727. As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, salvo os separados de fato e judicialmente, constituem concubinato. Vimos que a família é base da sociedade. O Código Civil de 1916 apresentava o modelo da família com ênfase no poder patriarcal, fruto do casamento indissolúvel. As demais formas de direito convivencial estavam excluídas da proteção legal, pois esbarravam e se incompatibilizavam com o conceito de família. Contudo, as mudanças que no Brasil se deram, alteraram profundamente as relações familiares. O divórcio fez com que o objetivo familiar passasse da manutenção do patrimônio para o afeto. O concubinato, até então, dividia-se em puro e impuro. O puro era a denominação para aqueles em que os conviventes não tinham impedimento para casar, enquanto o impuro era o contrário. O concubinato puro recebia a proteção do poder estatal, como pode ser verificado na súmula 380 do Supremo Tribunal Federal: "Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos é cabível a sua dissolução judicial com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum". A proteção ao concubinato puro foi aumentando até receber o status de casamento informal ou de fato, que é a chamada união estável hoje! Já o denominado concubinato impuro, também chamado de adulterino, era a relação afetiva, duradoura e pública entre homem e mulher, na qual uma das partes estava casada, configurando-se a existência de famílias simultâneas. Nesses casos, a proteção do Estado era mínima. 9 A Constituição Federal de 1988 reconheceu de modo expresso, conforme verificamos no art. 226, ao lado do casamento, outras entidades familiares como a união estável (conhecida antes por concubinato puro) e as famílias monoparentais, constituídas por um dos pais e os filhos. No concubinato o regime patrimonial dos conviventes funciona de forma diferenciada para com a união estável. É que no concubinato se mostra necessário provar com o que efetivamente cada um dos participantes contribuiu para a construção do patrimônio. É o esforço individual que será verificado, sendo o companheiro (a) prejudicado restituído, via de regra, com uma indenização. Resolução 175, de 14 de maio de 2013 do Conselho Nacional de Justiça Determina o direito de habilitação, celebração de casamento civil, ou de conversão de união estável em casamento, entre pessoas do mesmo sexo. Não há óbice legal para formalização de casamento ou de união estável, com os mesmos efeitos jurídicos referentes a institutos de Direito de Família em vigor. Parentesco (artigo 1.591 CC) É a relação vinculatória existente não só entre pessoas que descendem umas das outras ou de um mesmo tronco comum, mas também entre o cônjuge e os parentes do outro e entre adotante e adotado. O parentesco se divide em: 1. Linha Reta – é ascendente ou descendente, segundo se sobe da pessoa considerada para os seus antepassados (do filho para o pai, desta para o avô etc.) ou se desce da pessoa considerada para os seus descendentes (do avô para o filho, deste para o neto e assim por diante). O grau de parentesco em linha reta é infinito (artigo 1.591 CC). Ascendente (sobe da pessoa considerada* para seus antepassados): 10 Descendente (desce da pessoa considerada* para seus descendentes): 2. Linha Colateral ou Transversa - é colateral quando as pessoas, entre si, não descendem umas das outras, mas procedem de um tronco ancestral comum (artigo 1.592 CC). Vai até o 4° grau, para o vínculo consanguíneo, sendo que para a afinidade irá até o 2° grau.Exemplo: Família Matarazzo informações wikipedia. 11 João é colateral em 2o grau de André: • De João sobe a contagem para o pai Eduardo (ancestral comum) – 1o. Grau e deste para o irmão André – 2o. Grau João e Lenak: • De João sobe a contagem para o pai Eduardo – 1o. Grau • De Eduardo sobe a contagem para Filomena – 2o. Grau • De Filomena sobe a contagem para Andréa – 3O. Grau • De Andréa desce para Francesco (1910) – 4o. Grau • De Francesco desce para Lenak. João e Lenak não são considerados legalmente consanguíneos: vai até o 4° grau, para o vínculo consanguíneo. Para a afinidade são considerados parentes em 2° grau. Veja mais nas espécies agora... Espécies a) Consanguinidade é o vínculo entre pessoas descendentes de um mesmo tronco ancestral, portanto, umas às outras, pelo mesmo sangue. P. ex.: Pai e Filho, dois irmãos, dois primos etc. O parentesco natural ou consanguíneo pode ser duplo ou simples conforme derivação dos genitores, ou seja, dos dois ou de apenas um deles. Assim, teremos os irmãos germanos (nascidos dos mesmos pais), os irmãos UNILATERAIS consanguíneos (nascidos do mesmo pai) e os irmãos UTERINOS (nascidos da mesma mãe). b) Afinidade é estabelecida através do vínculo matrimonial (artigo 1.595 do CC), ou seja, entre um consorte e os parentes consanguíneos do outro estabelecido na lei. A afinidade é um vínculo pessoal, portanto os afins de um cônjuge não são afins entre si, logo não há afinidade entre concunhados. Se houver um segundo matrimônio, os afins do primeiro casamento não se tornam afins do cônjuge em segundas núpcias. Lembrar dos impedimentos em linha reta, pois não podem se casar genro e sogra, nora e sogro, mesmo após a dissolução da sociedade conjugal (1.595 § 2° do CC). Porém, na linha colateral, cessa a afinidade com a dissolução da sociedade conjugal, pois não está vedado o casamento entre cunhados. No “codex” atual, também faz parentesco por afinidade, através da união estável. Na linha reta tem-se, então, a afinidade entre sogro e nora, sogra e genro, padrasto e enteada, madrasta e enteado. São, portanto, afins em primeiro grau. 12 Em segundo grau, na linha reta, o marido será afim com os avós de sua mulher e esta com os avós de seu marido, porque na linha reta não há limite de grau. Na linha colateral, o parentesco por afinidade não vai além do segundo grau, existindo tão somente com os irmãos do cônjuge; assim, com o casamento, uma pessoa torna-se afim com os irmãos do cônjuge. Cunhados serão parentes por afinidade em segundo grau, mas entre marido e mulher não há parentesco, nem afinidade. c) Civil, é o que se refere à adoção. Estabelece um vínculo entre o adotante e o adotado, bem como os seus parentes. Pai e filho adotivo são parentes civis em virtude de lei (artigo 1.593 do CC): Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem. Casamento Esponsais ou Promessa de Casamento Os esponsais eram definidos no Direito Romano como a promessa mútua e recíproca de casamento futuro. Tratava-se de um contrato verbal (sponsio) que se realizava em forma não muito diferente do atual noivado. O compromisso de casamento se fazia com o assentimento dos pais dos noivos perante parentes e amigos, dando o noivo à noiva o anel esponsalício. O rompimento do noivado dava margem a uma ação de perdas e danos (actio de sponsu). Não tendo o Código Civil regulado os esponsais, houve dúvidas quanto à validade dos mesmos no direito brasileiro. Alguns autores defendem que: • Atos da vida social - quando violados não geram indenização; • Contratos preliminares - cuja violação foi injustificada dá margem a uma ação de indenização, pelos danos morais e materiais – se ocorridos. A jurisprudência tem, todavia, mandado indenizar - em caso de rupturas injustificadas de noivado, as despesas feitas com a compra de móveis para o casal e o prejuízo decorrente do abandono do emprego pela noiva, a pedido do noivo, afim de melhor atender aos seus encargos de família, entre outros. 13 “RESPONSABILIDADE CIVIL - ROMPIMENTO DE NOIVADO AS VÉSPERAS DO CASAMENTO - FALTA DE MOTIVO JUSTO, GERANDO RESPONSABILIDADE E INDENIZAÇÃO - DANO MORAL – CONFIGURAÇÃO - VALOR DA INDENIZAÇÃO FIXADO MODERADAMENTE – RECONVENÇÃO IMPROCEDENTE FACE A CULPA DO RÉU PELO ROMPIMENTO - RECURSO DA APELANTE PROVIDO E DO APELADO DESPROVIDO. O noivado não tem sentido de obrigatoriedade. Pode ser rompido do modo unilateral até o momento da celebração do casamento, mas a ruptura imotivada gera responsabilidade civil, inclusive por dano moral, cujo valor tem efeito compensatório e repressivo, por isto deve ser em quantia capaz de representar justa indenização pelo dano sofrido; no que tange a reconvenção apresentada pelo réu, a fim de imputar a autora a culpa pelo rompimento ante os motivos expendidos, obrigando-a a devolução de quantia a ela enviada pelo então namorado, resta a mesma improcedente, pela a culpa exclusiva do réu no episódio analisado”7. Casamento É o vínculo jurídico entre o homem e a mulher que visa o auxílio mútuo material e espiritual, de modo que haja uma integração fisiopsíquica e a constituição de uma família legítima8. Portanto, o matrimônio não é apenas a formalização ou legalização da união sexual, mas a conjunção de matéria e espírito de dois seres de sexo diferente para atingirem a plenitude do desenvolvimento de sua personalidade, através do companheirismo e do amor. Natureza Jurídica do Casamento a) Concepção contratualista - originária do direito canônico - para essa corrente, o matrimônio é um contrato civil, regido pelas normas comuns a todos os contratos, ultimando-se e aperfeiçoando-se apenas pelo simples consentimento dos nubentes, que há de ser recíproco e 7 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná; Acórdão nº 4651; Processo nº 081708900; Relator: Desembargador Antônio Gomes da Silva; julgamento em 15 de fevereiro de 2000. 8 Conceito baseado em Gangi, Il matrimonio, Milano, 1947, p. 5 apud DINIZ, Maria Helena. Op. Cit. p. 1029. 14 manifesto por sinais exteriores. Há civilistas que vislumbram no casamento um contrato especial ou sui generis. b) Concepção institucionalista - vê no matrimônio um estado em que os nubentes ingressam. O casamento é tido como uma grande instituição social, refletindo uma situação jurídica que surge da vontade dos contraentes, mas cujas normas, efeitos e forma encontram-se preestabelecidos pela lei. As partes são livres, podendo cada uma escolher o seu cônjuge e decidir se casa ou não; uma vez acertada a realização do matrimônio, não lhes é permitido discutir o conteúdo de seus direitos e deveres, o modo pelo qual se dará a resolubilidade da sociedade ou do vínculo conjugal ou as condições de legitimidade da prole, pois não lhes é possível modificar a disciplina legal de suas relações; aderido o estado matrimonial, a vontade dos nubentes é impotente, sendo automáticos os efeitos da instituição que é de ordem pública, bem como as normas que a regem. Portanto, o estado matrimonial é um estatuto imperativo preestabelecido, ao qual os nubentes aderem. Assim, não é um contrato, uma vez que, na realidade, é a aceitação de um estatuto como ele é, sem qualquer liberdade de adotar outras regras. c) Concepção mista - um ato complexo, concomitantemente contrato (na formação) e instituição (no conteúdo), sendo bem mais do que um contrato. Objetivo do Matrimônio • A legitimidade da família - art. 226 §§ 1o e 2o CF; • A procriação dos filhos e educação da prole; • A legalização das relações sexuais, ao lado do direito convivencial; • A prestação do auxílio mútuo espiritual e material; • O estabelecimento de deveres patrimoniais e extrapatrimoniais;• A atribuição do nome (art. 70 da Lei 6.015/73 – art. 1565 § 1° CC). Características do Matrimônio a) Liberdade na escolha do nubente – há a possibilidade de se escolher o cônjuge não podendo ser imposta a opção; b) Solenidade do ato nupcial – a celebração é cercada de formalidades prescritas em lei, como a habilitação para o casamento e testemunhas; c) Legislação matrimonial é de ordem pública – são necessários proclamas (publicação do edital do casamento dos nubentes), não se pode negociar os direitos e deveres do matrimônio, já que estão definidos na lei civil; d) União permanente – não há prazo para sua duração, herança do direito canônico que o celebra como união indissolúvel; 15 e) União exclusiva – os direitos e deveres do casamento são pessoais e exigem a fidelidade recíproca, sob pena de, se infringidos, acarretarem divórcio. Princípios do Direito Matrimonial A livre união dos futuros cônjuges – art. 1.513 do CC: Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família. A monogamia – não é admissível a bigamia (manter dois casamentos simultâneos). A comunhão indivisa – art. 1.511 do CC: Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. Formalidades do Casamento (Art. 1525 do C.C.) 1. Formalidades preliminares à celebração do casamento - Devido à grande importância do matrimônio e dos efeitos dele decorrentes, a lei requer certas formalidades que o devem preceder, com o fim de verificar a inexistência de impedimentos e de demonstrar que os nubentes estão em condições de convolar núpcias, evitando a realização de casamento com infração às normas jurídicas vigentes. 2. Habilitação matrimonial - A habilitação matrimonial é o processo que corre perante o oficial do registro civil para demonstrar que os nubentes estão legalmente habilitados para o ato nupcial. Para tanto, os noivos deverão apresentar requerimento subscrito por eles ou por procurador. Se um ou ambos forem analfabetos, será assinado a rogo, com duas testemunhas (RT, 183:835). Tal requerimento deverá estar acompanhado dos documentos arrolados no artigo 1.525 do CC: a) Certidão de nascimento (para comprovar a idade) ou prova equivalente (os que possuem 16 anos devem apresentar a autorização dos pais –1.517 do CC); b) Declaração do estado, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos. c) Autorização das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra. 16 d) Declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou estranhos, que atestem conhecer os nubentes e afirmem não existir impedimento que os iniba de casar. e) Certidão de óbito do cônjuge falecido, da anulação do casamento anterior ou do registro da sentença de divórcio. f) Atestado, comprovado por duas testemunhas, de que o nubente que residiu a maior parte do último ano em outro Estado ou no exterior o deixou sem impedimento para casar ou de que cessou o existente. g) Certidão da sentença do divórcio proferida no estrangeiro, com a devida homologação pelo STJ (CPC, artigos 483 e s.; RT, 538:258; Lei n. 6.515/77, artigo 49, alterado pela E.C. n° 45/2004). h) Certificado de exame pré-nupcial, se tratar de casamento de colaterais do 3° grau (Dec.-lei n. 3.200/41) - o impedimento entre TIOS e SOBRINHOS (colaterais de 3ograu) apenas vigorará se houver conclusão médica desfavorável, portanto, com ressalvas. HOMOLOGAÇÃO - após o requerimento e entrega dos documentos da habilitação deverá ser ouvido o Ministério Público - art. 1526 do CC: Art. 1.526. A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a audiência do Ministério Público. Apresentados os documentos necessários para as formalidades preliminares do casamento, o oficial do registro verificará se estão em ordem e lavrará os proclamas do casamento, mediante edital, que será afixado, durante quinze dias, em local do edifício, onde se celebram os matrimônios, e publicado pela imprensa, onde houver (artigo 1527 do CC). Se houver urgência, o oficial poderá dispensar a publicação (art. 1527 § único do CC) Se após este prazo de 15 dias da publicação dos proclamas não houver oposição de impedimentos matrimoniais, o oficial do registro deverá passar uma certidão declarando que os nubentes estão habilitados para casar dentro nos 90 dias imediatos. Se os nubentes não convolarem núpcias nesse período, terão de renovar o processo de habilitação, com a publicação de novos proclamas e nova certidão, por se tratar de prazo de caducidade (artigos 1531 e 1532 do C.C.). Celebração do Casamento (art. 1.533 Do C.C) 1. Celebração do casamento Preenchidos todos os requisitos do processo de habilitação, os contraentes, de posse da certidão do Registro civil, requererão à 17 autoridade competente a designação de dia, hora e local para celebração do casamento (art. 1533 do C.C.). Caso um dos nubentes não souber ou não puder escrever ou a celebração for se realizar em recinto particular deverá haver 4 testemunhas - art. 1.534, § 2° do CC. A celebração do ato nupcial é da competência do juiz do lugar em que se processou a habilitação. O casamento pode realizar-se em qualquer dia da semana, inclusive domingos e feriados (Lei n. 1.408/51 artigo 5°, parágrafo único). 2. Formalidades da cerimônia de casamento A publicidade do ato nupcial é de ordem pública. É essencial para a celebração a presença real e simultânea dos contraentes, embora se admita casamento por procuração, em casos excepcionais. Presentes os nubentes (ou, se for o caso, o procurador) e as testemunhas, o juiz perguntará, sucessivamente, ao futuro marido e à futura mulher se persistem no propósito de se casar por livre e espontânea vontade. Obtendo a resposta afirmativa pura e simples, sem qualquer condição ou termo, o celebrante declara contraído o matrimônio, ao pronunciar as seguintes palavras: “de acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes como marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados” - art. 1.535 do CC. Completando os atos formais do casamento, que se iniciam com a habilitação e prosseguem com a cerimônia solene, dever-se-á lavrar o casamento no livro de registro, para perpetuar o ato e servir de prova, art. 1536 do CC. 3. O ato é formal e solene - não se admitem gracejos, sob pena de suspensão da cerimônia. 4. Suspensão da cerimônia O matrimônio não se efetivará, sendo sua celebração suspensa, se um dos nubentes recusar a solene afirmação de sua vontade ou manifestar- se arrependido (artigo 1.538, I CC.). O nubente que der causa a suspensão do ato não poderá retratar-se no mesmo dia, mesmo que afirme sua intenção de reiniciar a celebração suspensa, que poderá ser celebrada somente nas próximas 24 horas (artigo 1538, parágrafo único). 5. Casamento por procuração Embora imprescindível a presença real e simultânea dos contraentes para que se realize o casamento, permite nosso Código Civil que, se um deles não puder estar presente ao ato nupcial, se celebre o matrimônio por procuração, desde que o nubente outorgue poderes especiais a alguém, para comparecer em seu lugar e receber, em seu nome, o outro contraente (artigo 1.542 do CC), indicando o nome deste, individuando-o de modo preciso, uma vez que, ninguém pode conferir poderes para o 18 procurador casar com quem quiser. A forma da procuração será a pública: Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se mediante procuração, por instrumento público, com poderes especiais. § 1o A revogação do mandato não necessita chegar ao conhecimento do mandatário; mas, celebrado o casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da revogação, responderáo mandante por perdas e danos. § 2o O nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá fazer-se representar no casamento nuncupativo. § 3o A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias. § 4o Só por instrumento público se poderá revogar o mandato. Portanto, é cabível a procuração como meio de viabilizar o casamento nuncupativo, art. 1.542 § 2° do CC. 6. Casamento nuncupativo (artigo 1.540 do CC.) • Casamento nuncupativo ou in extremis é uma forma excepcional de celebração do ato nupcial. Possibilita o não cumprimento das formalidades vistas (1533 do CC) ante a urgência do caso, já que um dos nubentes se encontra em iminente risco de vida. O oficial do Registro, mediante despacho da autoridade competente, à vista dos documentos exigidos nos artigos 1.525 do CC, independentemente de edital de proclamas, dará certidão de habilitação. • Chega-se até mesmo a dispensar a autoridade competente, se impossível sua presença e a de seu substituto, caso em que os nubentes figurarão como celebrantes, declarando que querem receber-se por marido e mulher, perante seis testemunhas que com eles não tenham parentesco em linha reta ou colateral em 2° grau (artigo 1.540 do CC). • Todavia requer esse casamento habilitação a posteriori e homologação judicial em 10 dias (artigo 1.541, I, II, III e §§ do C.C.) • Não se confunde com o casamento em caso de moléstia grave (artigo 1.539 do CC). 7. Casamento perante autoridade diplomática ou consular Previsto na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, artigo 7°, § 2°, com alteração da Lei nº 3238/57. 19 Em seu artigo 18, permite que brasileiros convolem núpcias, no exterior, perante nosso cônsul: Art. 18. Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o casamento e os mais atos de Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do Consulado.(Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1957) § 1º As autoridades consulares brasileiras também poderão celebrar a separação consensual e o divórcio consensual de brasileiros, não havendo filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, devendo constar da respectiva escritura pública as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção do nome adotado quando se deu o casamento. (Incluído pela Lei nº 12.874, de 2013).Vigência § 2o É indispensável a assistência de advogado, devidamente constituído, que se dará mediante a subscrição de petição, juntamente com ambas as partes, ou com apenas uma delas, caso a outra constitua advogado próprio, não se fazendo necessário que a assinatura do advogado conste da escritura pública.(Incluído pela Lei nº 12.874, de 2013). Vigência Todavia esse casamento deve ser registrado no Brasil, pois a Lei n. 6.015/73, no seu artigo 32 e em seus parágrafos dispõem: os assentos de casamento de brasileiros em país estrangeiro serão considerados autênticos, nos termos da lei do lugar em que forem feitos, legalizadas as certidões pelos cônsules ou, quando por estes tomados, nos termos do regulamento consular. Os assentos deverão ser trasladados nos cartórios do 1° Ofício do domicílio do registrado ou no 1° Ofício do distrito federal, em falta de domicílio conhecido, quando tiverem de produzir efeito no país, ou, antes, por meio de segunda via que os cônsules serão obrigados a remeter por intermédio do Ministério das Relações Exteriores. Por fim, confirma o artigo 1.544 do CC, acrescentando que, devem ser registrados em 180 dias da volta de um dos cônjuges ao Brasil. 8. Casamento civil e religioso Até o advento da República, o único casamento válido para os católicos era o religioso, e para os não católicos somente em 1861 é que surgiu a possibilidade de realizar o casamento civil. Com a ruptura entre o Estado e a Igreja, veio o Decreto 181, de 1890, que admitia como casamento válido somente o civil (artigo 180): http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L3238.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12874.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12874.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12874.htm#art3 20 O casamento civil, único válido nos termos do artigo 108 do Dec. 181, de 24 de janeiro último, precederá sempre às cerimônias religiosas de qualquer culto, com que desejem solenizá-las os nubentes. O ministro de qualquer confissão, que celebrar as cerimônias religiosas do casamento antes do ato civil, será punido com seis meses de prisão e multa correspondente à metade do tempo. Com a Constituição de 24.02.1891, no artigo 72, parágrafo 4°, só reconhecia o casamento civil sem cogitar no religioso, tornando problema de consciência individual. Em 1937 veio a Lei No. 379, que dizia que o casamento religioso teria efeitos civis, sendo modificada pelo Decreto 3.200 de 1941. Atualmente a matéria é regulada pelo artigo 226 e parágrafos 1° e 2° da Constituição Federal: § 1° “O casamento é civil e gratuita a celebração”. § 2° “O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei”. A Lei 6015 de 31.12.73 cogita da habilitação prévia e da habilitação posterior. Admite, assim, que terminada a habilitação para o casamento perante o oficial do Registro Civil, os nubentes, munidos da certidão de que estão habilitados, possam celebrar o matrimônio perante a autoridade civil ou religiosa, devendo no prazo de trinta dias, a contar da realização, ser requerida a inscrição do casamento religioso no Registro Civil. A prova do ato do casamento religioso subscrita pelo celebrante deverá conter os requisitos estabelecidos no artigo 70 da referida Lei. Também é possível que seja efetuada a habilitação posterior, quando realizado o casamento religioso sem a habilitação prévia. Nesta hipótese as partes fazem a habilitação após o casamento religioso, publicam os editais, suprem as falhas da certidão da autoridade religiosa se a mesma não estiver completa com os requisitos exigidos pela lei civil, sendo finalmente inscrito o casamento religioso, produzindo (a inscrição) efeitos jurídicos a contar da sua celebração (artigos 74 e 75 da Lei 6015/73). Com o advento do Código Civil de 2002, o casamento religioso tem a mesma validade que o civil, desde que atenda todas as exigências legais e desde que o faça registrar no Registro Civil no prazo de 90 dias, mediante prévia habilitação. Deve-se salientar que tal modalidade de casamento não estava prevista no Código Civil de 1916, no entanto, a Constituição Federal a trouxe em seu bojo. 21 Provas do Casamento Os casamentos anteriores a 1889 se provam pelos assentos das autoridades eclesiásticas. 1. Provas diretas específicas a) O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do Registro Civil (1.543 do CC.). Se houve casamento religioso registrado nos livros competentes, a prova se fará pela certidão do assento no Registro Civil atualizada. É o melhor meio de se provar o casamento. b) Se o casamento se celebrou fora do Brasil, a sua prova reger-se-á pela lei do país em que se realizou, salvo se tiver sido celebrado perante agente consular brasileiro. Mesmo o casamento realizado no estrangeiro pode ser provado mediante justificação perante a Justiça brasileira quando interessados forem domiciliados em nosso País, quer a lei do país em que se realizou o casamento admita ou não essa forma de prova. Os casamentos de brasileiros no estrangeiro deverão ser registrados no Brasil - art. 1.544 do CC (já mencionado). 2. Provas diretas supletórias a) Justificada a falta ou perda do registro civil (1.543 § ún.CC.), é admissível qualquer outra espécie de prova que pode ser feita mediante ação declaratória ou por simples justificação judicial. Ex: quando houver destruição ou perda dos livros do registro ou mesmo falta de registro por ato culposo ou não do oficial (passaporte, testemunhas do ato, certidão dos proclamas e documentos). b) Provada a celebração do casamento por processo judicial (ação declaratória ou justificação), a sentença deverá ser inscrita no livro do Registro Civil competente, produzindo, no tocante aos cônjuges e aos filhos, todos os efeitos legais desde a data do casamento. 3. Provas indiretas A posse do estado de casado (art. 1.545 do CC.). Para comprovar indiretamente casamento de pessoas falecidas, em benefício da prole; para eliminar dúvidas entre provas a favor ou contra o matrimônio e para sanar eventuais falhas de forma no respectivo assento. Os filhos só poderão invocar a posse de estado de casados se seus pais já faleceram ou, por analogia, se, embora vivos, sofrem de alguma doença mental. 22 Requisitos Nomen utilização do sobrenome do outro cônjunge Tractatus ambos, ostensivamente, devem tratar-se, como casados. Fama a sociedade deve reconhecer a condição de cônjuges. 4. “In dubio pro matrimonio” (artigo 1.547 do CC.): Art. 1.547. Na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias, julgar- se-á pelo casamento, se os cônjuges, cujo casamento se impugna, viverem ou tiverem vivido na posse do estado de casados. Impedimentos do Matrimônio e Causas Suspensivas 1. Conceito de impedimento matrimonial É a falta de requisito para o casamento. 2. O objetivo é evitar uniões que afetem a prole, a ordem moral ou pública, por representarem um agravo ao direito ou aos interesses de terceiros, tal a influência que exerce o matrimônio nas relações familiares e em toda esfera social, impedindo a celebração do casamento. Se alguém mesmo impedido de se casar, contrair o matrimônio a norma o fulminará com a decretação de nulidade, com efeitos ex tunc (retroagem como se o casamento não tivesse existido). 3. Não se confunde incapacidade para casar com impedimento. Exemplo: o irmão está impedido de casar com sua irmã, mas tem capacidade para se casar com outra moça. O irmão é capaz, estando somente proibido de casar com sua irmã, por impedimento legal. Já o menor de 10 anos de idade não tem aptidão para se casar com pessoa alguma, sendo, portanto, incapaz. Incapacidade obsta convolar núpcias (com quem quer que seja, já que é inerente à pessoa). Impedimento é falta de requisito para contrair casamento somente nas condições estabelecidas pela lei. 4. Causas suspensivas Se arguidas antes das núpcias, poderá suspender o processo de celebração. A violação das causas suspensivas previstas no artigo 1523 CC, não acarreta nulidade ou anulabilidade matrimonial, mas tão somente aplicação de sanção de ordem econômica: 23 Art. 1.523. Não devem casar: I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal; III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal; IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas. Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo. 5. Classificação a) Impedimentos dirimentes públicos ou absolutos (artigo 1.521, I a V, do CC.), podem ser levantados por qualquer interessado e pelo Ministério Público, na qualidade de representante da sociedade, acarretando a nulidade (1548, II CC.) do matrimônio realizado com a inobservância da proibição. Impedimentos resultantes de parentesco (1521, I a V) se subdividem: • Impedimento de consanguinidade (I e IV), que se funda por razões morais (impedir núpcias incestuosas) e biológicas (para preservar a prole de taras fisiológicas, malformação somática, defeitos psíquicos).Em linha reta os impedimentos vão, teoricamente, até o infinito.Os colaterais impedidos até o 3° grau, salvo nas hipóteses do decreto 3.200/41 (podem casar desde que o exame pré-nupcial lhes seja favorável). • Impedimento de afinidade (II), parentesco por afinidade é aquele que se estabelece em virtude de casamento entre um dos cônjuges e os parentes do outro. Ex: sogro e nora, cunhados. O impedimento por afinidade se dá somente em linha reta. Ex. sogra e genro, sogro e nora; padrasto e enteada, madrasta e enteado ou qualquer outro descendente do marido (neto, bisneto) nascido ou não de uma união legítima, embora tenha sido dissolvido o 24 casamento ou união estável que originou a afinidade Art. 1.595, § 2°, CC. • Impedimento de adoção (III e V), esse impedimento é uma decorrência natural do respeito e da confiança que deve haver na família. Impedimento de vínculo (VI), que deriva da proibição da bigamia, por ter a família base monogâmica. A monogamia é a forma natural e mais apropriada de aproximação sexual da raça humana, passo que a poligamia, é o estágio menos avançado da moral. Impedimentos de crime (VII). O homicídio ou tentativa de homicídio cometido contra um dos cônjuges constitui impedimento ao matrimônio entre o criminoso e o cônjuge sobrevivente, por razão de ordem moral. Observação: os Impedimentos dirimentes privados ou relativos (hoje são tidos como casamentos anuláveis - artigo 15509 do CC), não existem mais com tal denominação no Código atual. b) Impedimentos Impedientes ou Causas Suspensivas (artigo 1.523, I a IV), proíbem o ato nupcial, sem, contudo acarretar a sua invalidação, mas sujeitam os infratores a determinadas sanções de ordem econômica. Ex. imposição do regime obrigatório da separação de bens, artigo 1.641, I, CC e hipoteca legal, artigo 1.489, II, CC. O objetivo é evitar a confusão patrimonial dos filhos do primeiro casamento com o da nova sociedade conjugal. Exceção artigo 1523, § único do CC. Art. 1.523. Não devem casar: I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal; III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal; IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto 9 Art. 1.550. É anulável o casamento: I - de quem não completou a idade mínima para casar; II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento; V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; VI - por incompetência da autoridade celebrante. Parágrafo único. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada. 25 não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas asrespectivas contas. Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo. Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser argüidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consangüíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam também consanguíneos ou afins. Oposição dos Impedimentos do Casamento É um ato praticado por pessoa legitimada que, antes do casamento, leva ao conhecimento do oficial do cartório. • Impedimentos dirimentes públicos ou absolutos (1522 e § único, CC) podem ser arguidos: ➔ “ex officio” pelo oficial do cartório; ➔ por quem presidir à celebração do casamento; ➔ por qualquer pessoa maior que, sob sua assinatura apresente declaração escrita, instruída com as provas do fato que alegar. • Impedimentos impedientes ou proibitivos (1524, CC), só poderão ser opostos (por interessarem exclusivamente à família): ➔ pelos parentes, em linha reta (ascendentes ou descendentes e afins); ➔ pelos colaterais, em segundo grau, consanguíneos ou afins (irmãos ou cunhados) Da Invalidade do Casamento Nulidade e Anulação do matrimônio (artigos 1.548 a 1.564, do CC.) 1. Nulo é o casamento contraído com infração a impedimento dirimente ou absoluto (art. 1.548, II do C.C.): 26 Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. Ainda, nulo é o casamento contraído por enfermo mental sem o discernimento para os atos da vida civil (art. 1.548, I, CC): Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil; A decretação da nulidade pode ser promovida mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público (artigo 1.549 CC) 2. Casamento putativo, casamento nulo em que ao menos um dos cônjuges estava de boa-fé. O casamento nulo passa a ser putativo provando-se a boa-fé de um dos cônjuges e o erro em que incidiu, cabendo ao tribunal apreciar as circunstâncias de cada caso concreto. A ignorância pode decorrer de erro de fato ou de direito. Ex.: casam-se duas pessoas, que são irmãs, mas desconhecem tal parentesco,que só é descoberto após o casamento. Artigo 1.561 do CC: Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória. § 1o Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão. 27 § 2o Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão. A decretação da nulidade pode ser promovida mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público (artigo 1.549 CC). 3. Anulável é o casamento contraído com infração aos artigos 1.550, 1.556, 1.557 e 1.558 do CC, incidindo erro essencial (boa fama, honra), tornando insuportável a vida em comum e de defeito físico irremediável ou de moléstia grave transmissível por herança ou contágio, capaz de pôr em risco a vida do outro cônjuge ou de sua prole. • Honra e boa fama - ex.: mulher prostituta e homem homoafetivo. A recusa da mulher em ter relações sexuais com o marido é interpretada em erro quanto à pessoa. • Ignorância de crime, anterior ao casamento, desde que torne insuportável a vida em comum . • Ignorância de defeito físico, anterior ao casamento, irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência. O defeito físico irremediável importa em anulação. Ex.: impotência “coeundi”, a coitofobia, moléstias (lepra, tuberculose, moléstias venéreas) graves e transmissíveis, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência. Prazos para propor a anulação do casamento Artigo 1560 do CC: Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data da celebração, é de: II - dois anos, se incompetente a autoridade celebrante; III - três anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557; IV - quatro anos, se houver coação. § 1o Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o casamento dos menores de dezesseis anos, contado o prazo para o menor do dia em que perfez essa idade; e da data do casamento, para seus representantes legais ou ascendentes. 28 § 2o Na hipótese do inciso V do art. 1.550, o prazo para anulação do casamento é de cento e oitenta dias, a partir da data em que o mandante tiver conhecimento da celebração. Efeitos do Casamento Efeitos Jurídicos do casamento - com o casamento realizado, são três os tipos de efeitos na órbita jurídica (efeitos sociais, pessoais e patrimoniais). 1. Efeitos sociais - cria família “legítima”, faz afinidade entre os parentes dos cônjuges com outro cônjuge, emancipa menor, nos termos do artigo 5°, § único, II, CC. 2. Efeitos pessoais do casamento (arts. 1.565 e ss. do CC): Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família. § 1o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro. § 2o O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou públicas. Direitos e Deveres de ambos os cônjuges - com o ato matrimonial nascem, automaticamente, para os consortes, situações jurídicas que impõem direitos e deveres recíprocos, reclamados pela ordem pública e interesse social, e que não se medem em valores pecuniários, tais como fidelidade recíproca, vida em comum no domicílio conjugal, mútua assistência, sustento, guarda, educação dos filhos, respeito e consideração mútuos (art. 1.566, I, II, III, IV, V do C.C.). a) fidelidade recíproca – são deveres recíprocos entre os cônjuges, os de fidelidade, que é entendida no sentido físico, moral e virtual, ou seja, como manutenção de relações sexuais exclusivamente com o outro cônjuge e dever de lealdade de cada membro do casal em relação a outro. A infração da infidelidade pode trazer justa causa para a separação litigiosa (art. 1573, I, CC) quando comprovada a traição física. A infidelidade moral não está munida de sanção eficiente, podendo, todavia, a deslealdade de um cônjuge em relação ao outro (namoro com 3ª pessoa) autorizar o divórcio litigioso. A infidelidade virtual não 29 está prevista no código, mas é aceita pelos Tribunais e doutrina (é aquela em que é praticada a infidelidade através da internet, com aces so a sites eróticos e e-mails com indicação ao namoro). b) Washington de Barros salienta que, somente o homem ou a mulher terá a liberdade sexual com o divórcio, não com a separação de fato. c) A vida em comum ou coabitação – é a residência no mesmo local, escolhidode comum acordo e no interesse do casal e não por coação. Se descumprido o dever de vida em comum pode gerar abandono do lar, que pode ser causa para o divórcio. Antonio Chaves divide o tema em dois aspectos fundamentais: viverem juntos os consortes e o de prestarem mutuamente o débito conjugal. d) Mútua assistência – moral, ou seja, tanto nos momentos felizes como nos instantes cercados de infortúnios deve haver a mútua assistência. Econômica ou material – obrigação alimentar, de vestuário, transporte, medicamentos, etc. (arts. 1.566, III, 1.694, 1.695, 1.699, 1.702, 1.704, 1.708 e 1.709 do CC). e) Sustento, guarda e educação dos filhos – criando-os, amparando- os, educando-os e preparando-os para os embates da vida. f) Respeito e considerações mútuas – devendo ambos os cônjuges velar pela integridade física ou moral um do outro. A igualdade jurídica entre os cônjuges - é um princípio que determina a tomada de decisões de comum acordo entre o casal, com paridade de direitos e deveres – art. 1567 e segs do CC. Art. 1.567. A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos. Parágrafo único. Havendo divergência, qualquer dos cônjuges poderá recorrer ao juiz, que decidirá tendo em consideração aqueles interesses. Art. 1.568. Os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e dos rendimentos do trabalho, para o sustento da família e a educação dos filhos, qualquer que seja o regime patrimonial. Art. 1.569. O domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, mas um e outro podem ausentar-se do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício de sua profissão, ou a interesses particulares relevantes. Art. 1.570. Se qualquer dos cônjuges estiver em lugar remoto ou não sabido, encarcerado por mais de cento e oitenta dias, interditado judicialmente ou privado, episodicamente, de consciência, em virtude de enfermidade ou de acidente, o outro exercerá com exclusividade a direção da família, cabendo-lhe a administração dos bens. 30 Outorga Uxória e Autorização Marital A lei determina que certos atos o marido não pode praticar sem a outorga uxória ou a esposa não pode praticar sem a autorização marital (1647, I a IV, C.C.): Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos; III - prestar fiança ou aval; IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação. Restringe, portanto, a atuação dos cônjuges, desde que possa afetar ou comprometer a estabilidade econômica do lar. Assim, não pode o cônjuge, sem consentimento do outro, excetuando-se o regime da separação absoluta de bens, alienar, hipotecar ou gravar ônus real sobre os imóveis, pleitear ação referente a estes bens, dar aval e fazer doação que implica em bens comuns. Fiança - também não pode o marido ou a esposa ser fiador comprometendo o imóvel da família sem o consentimento do consorte. • Forma da outorga uxória ou autorização marital deverá ser expressa e deve constar de instrumento público ou particular, desde que autenticado (artigo 1649, § único do CC): Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária (art. 1.647), tornará anulável o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal. Parágrafo único. A aprovação torna válido o ato, desde que feita por instrumento público, ou particular, autenticado. • Suprimento Judicial – Cabe ao juiz suprir a autorização do marido e a outorga da mulher, quando esta a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível dá-la (artigo 1.648 do CC): Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga, quando um dos cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la. 31 • A recusa pode ser justa, hipótese em que será negada a concessão da alienação dos bens imóveis: ➔ O bem é único imóvel e moradia do casal; ➔ A venda está sendo efetuada por preço vil; ➔ Casal está separado de fato e a mulher ou o marido não tem a garantia da meação; ➔ Se não há prova da necessidade da venda; ➔ Se vender para sustentar concubino (a). • Falta de outorga e prazos prescritivos A anulação dos atos praticados pelo cônjuge deverá ser pleiteada pelo consorte ou seus herdeiros quando praticados sem o consentimento do outro ou suprimento do juiz: Art. 1.650. A decretação de invalidade dos atos praticados sem outorga, sem consentimento, ou sem suprimento do juiz, só poderá ser demandada pelo cônjuge a quem cabia concedê-la, ou por seus herdeiros. • Prazo O lapso temporal para o prejudicado requerer a anulação do ato é de 02 (dois) anos, a partir do término da sociedade conjugal (artigo 1649 do C.C.): Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária (art. 1.647), tornará anulável o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal. Parágrafo único. A aprovação torna válido o ato, desde que feita por instrumento público, ou particular, autenticado. 3. Efeitos Jurídicos Patrimoniais do Matrimônio Regime de bens entre o marido e a mulher É um estatuto patrimonial dos consortes. 32 • Princípios do Regime de Bens entre o marido e a mulher: ➔ O da variedade de regime de bens: Não impõe um só regime de bens aos nubentes, mas oferece quatro tipos diferentes: Comunhão Universal de Bens; Comunhão Parcial de Bens; Separação de Bens; Participação final dos aquestos. ➔ O da liberdade dos pactos antenupciais permite aos nubentes a livre escolha do regime que lhes convier (artigo 1.639 do C.C.) que deverá ser feito mediante pacto antenupcial (ou seja, contrato solene, realizado antes do casamento, por meio do qual as partes dispõem sobre o regime de bens que vigorará entre elas durante o matrimônio) – arts. 1.640, 1.653 a 1.657 do CC: Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial. Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos regimes que este código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas. (...) Art. 1.653. É nulo o pacto antenupcial se não for feito por escritura pública, e ineficaz se não lhe seguir o casamento. (...) Art. 1.657. As convenções antenupciais não terão efeito perante terceiros senão depois de registradas, em livro especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges. O pacto antenupcial deverá ser feito por escritura pública (art. 1.653, CC), se não feito desta forma acarreta em nulidade. Devendo ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis do domicílio (6015/73 e art. 1.657, CC) para ter validade contra terceiros e efeito “erga omnes”. Caso não registrado no Cartório de Registro de imóveis, não torna nula, mas terá efeito somente perante os cônjuges e herdeiros. No caso de empresários, deverá ser averbada no Cartório de Registros Públicos de Empresas Mercantis - art. 979 do CC: 33 Art. 979. Além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público de Empresas Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade. Para que o pacto antenupcial tenha validade exige-se que ocorra o casamento. O pactoantenupcial somente se diz respeito aos efeitos patrimoniais do casamento. O pacto antenupcial não é um contrato regulado no direito das obrigações, por ser de ordem institucional, pois após o casamento, o casal é regido por normas de ordem pública. ➔ O da mutabilidade do regime adotado, desde que justificada. Com o advento do novo Codex, uma vez adotado o regime de bens, e celebrado o casamento, é possível que os nubentes alterem o regime de bens, desde que com motivo e a pedido de ambos os consortes perante autoridade judicial (artigo 1.639, § 2°, CC). A disposição é diferente de como previa o CC de 1916, o qual, uma vez adotado o regime de bens, não poderia mais ser modificado (artigo 230 do C.C./1916). Somente será extinto pela dissolução da sociedade conjugal o regime de bens. A jurisprudência tem admitido a comunicação de bens adquiridos na constância do casamento, pelo esforço comum de ambos os consortes, mesmo se casados no estrangeiro pelo regime de separação de bens, pois justo não seria que esse patrimônio, fruto do mútuo labor, só pertencesse ao marido ou a esposa apenas porque, em seu nome, se fez a respectiva aquisição. Regime da comunhão parcial de bens Também é chamado de regime legal da comunhão de aquestos, ou seja, aquele que advém da falta ou nulidade de pacto antenupcial, intervindo a lei sobre a opção dos nubentes. Inclui na comunhão somente os bens adquiridos posteriormente ao casamento, conservando os bens dos nubentes como estavam antes do casamento. Introduzido pela Lei n. 6.515/77 este regime passou a ser o regime legal de bens. Não sendo necessário pacto antenupcial. Com o advento do 34 Novo Código, no artigo 1640 e 1.658 e ss, também ficou denominado de regime legal da comunhão de aquestos. Os bens que não se comunicam são aqueles que constituem patrimônio pessoal do marido ou da mulher (artigo 1.659 e 1.661 do CC): ➔ Os bens que cada cônjuge possuir ao casar e os que lhe sobrevierem, na constância do matrimônio, por doação ou sucessão. Ex.: Se um dos nubentes é herdeiro necessário e seu pai faz doação a este, não se comunica o bem, pois há expectativa de direito. ➔ Os adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges, em sub-rogação dos bens particulares. Se um dos nubentes ao convolar núpcias tinha um terreno, vendendo-o posteriormente, e adquirindo uma casa com o produto dessa venda, o imóvel comprado continua a lhe pertencer com exclusividade. Tem-se uma sub-rogação real. ➔ As obrigações anteriores ao matrimônio. Responde exclusivamente o cônjuge que contraiu obrigações anteriores ao casamento, com seus bens particulares. ➔ As obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo se reverterem em proveito comum. O cônjuge que praticar o ato ilícito responderá exclusivamente, com o seu patrimônio, salvo se provar que o outro também se aproveitou do ilícito, onde ambos responderão com seus patrimônios. ➔ Os bens de uso pessoal, os livros e instrumento de profissão. ➔ Os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge. O produto do trabalho dos consortes e os bens com ele adquiridos não se comunicam. ➔ As pensões, meio-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. Essa vantagem pecuniária não se comunicará ao seu cônjuge, por ser uma renda pessoal. ➔ Bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento. Bens que se comunicam (artigo 1.660 do CC.) 35 ➔ Os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso (troca, venda etc.) ainda que só em nome de um dos cônjuges. ➔ Os bens adquiridos por fato eventual (jogo, aposta, rifa, loteria, etc.), com ou sem concurso de trabalho ou despesa anterior. ➔ Os adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges. ➔ As benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge. ➔ Os frutos dos bens comuns ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão dos adquiridos. Por serem ganhos posteriores ao casamento. ➔ Os direitos do patrimônio do autor, excetuados os rendimentos resultantes de sua exploração, salvo pacto antenupcial em contrário. Regime da Comunhão Universal de Bens Por meio do pacto antenupcial os nubentes podem estipular que o regime matrimonial de bens será o da comunhão universal. Neste regime todos os bens presentes ou futuros, adquiridos antes ou depois do matrimônio, tornam-se comuns, constituindo uma só massa. Instaura-se o estado de indivisão, passando a ter cada cônjuge o direito à metade ideal do patrimônio comum. Antes da dissolução e partilha não há meação, mas tão-somente metade ideal de bens e dívidas comuns. Há comunicação do ativo e passivo, pois há na comunhão universal de bens uma espécie de sociedade, disciplinada por normas próprias e peculiares. Logo, nenhum dos consortes tem a metade de cada bem, enquanto durar a sociedade conjugal, muito menos a propriedade exclusiva de bens discriminados, avaliados na metade do acervo do casal. Excepcionalmente são excluídos da comunhão - artigo 1.668 do CC. (por terem efeitos personalíssimos ou pela sua própria natureza): ➔ Os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar, assim se um imóvel doado com cláusula de incomunicabilidade vier a ser desapropriado, a indenização é paga pelo poder público só ao cônjuge que lhe detinha. 36 ➔ Os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizar a condição suspensiva, pois a propriedade do fiduciário é resolúvel, contrariando o princípio da imutabilidade do regime matrimonial. ➔ As dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum. Pelos débitos anteriores ao matrimônio, que não se comunicam, responde, exclusivamente, o devedor com os seus bens particulares ou com os bens que ele trouxe para a comunhão conjugal. Só com a dissolução do casamento, a meação do devedor responde pelos seus débitos contraídos antes das núpcias. Se o credor provar que as dívidas são oriundas de despesas com os aprestos do casamento, como aquisição de móveis, enxoval ou festa, ou que reverteram em proveito de ambos os consortes, como o dinheiro emprestado para comprar imóvel destinado à residência do futuro casal ou para a viagem de núpcias, ter-se-á a comunicabilidade. ➔ As doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com cláusula de incomunicabilidade, a fim de proteger o donatário ainda que o doador seja o outro consorte. ➔ As roupas de uso pessoal, as joias esponsalícias dadas antes do casamento pelo esposo, os livros e instrumentos de profissão e os retratos de família, devido a seu cunho nitidamente pessoal. ➔ As pensões, meio-soldos, montepios, tenças e outras rendas semelhantes, por se tratarem de bens personalíssimos: Pensão é a quantia que se paga, periodicamente, em virtude de lei (Lei n° 8255/64), decisão judicial, ato “inter vivos” ou “causa mortis”, a alguém, visando sua subsistência; Meio-soldo é a metade do soldo que o Estado paga a militar reformado (Dec. Lei 9.698/46, art. 108); Montepio é a pensão que o Estado paga aos herdeiros de funcionário falecido, em atividade ou não; Tença é a pensão alimentícia, geralmente em dinheiro, paga periodicamente, pelo Estado, por pessoa de direito 37 público ou privado, para assegurar a subsistência de alguém; ➔ Os frutos civis do trabalho ou indústria de cada cônjuge ou de ambos. ➔ Os direitos patrimoniais do autor, excetuados os rendimentos resultantes de sua exploração, salvo pacto antenupcial em contrário (Lei n. 9.610/98, artigo 39). 4. Regime de Participação Final nos Aquestos Em substituição ao regime dotal, o novo código trouxe o regime de participação final nos aqüestos,constantes nos artigos 1.672 a 1.686. Deve-se salientar que, não se confunde com o regime da comunhão parcial de bens. Consiste em uma formação de massa patrimonial particular incomunicável durante o casamento, tornando-se comum no momento da dissolução da sociedade conjugal. Assim, cada cônjuge é credor de 50% dos bens que foram adquiridos pelo casal, onerosamente na constância do matrimônio, bem como os frutos dos bens particulares. Este é o chamado REGIME MISTO. ➔ Quanto à administração – cada cônjuge administrará os bens adquiridos antes e posteriormente ao casamento, podendo alienar bens móveis livremente. No entanto, se forem imóveis deverá o interessado obter a autorização de outro cônjuge, sendo que, excepcionalmente, para se abster desta exigência o fato deve constar no pacto antenupcial e desde que o bem seja particular - artigo 1.656 do CC. ➔ Da incomunicabilidade dos débitos efetivados durante a vigência matrimonial – cada consorte arcará com suas dívidas, salvo se provar que reverteram em proveito comum - artigo 1.677, CC. ➔ Da apuração do montante dos aquestos – é efetuada no momento da dissolução da sociedade conjugal, excluindo-se os bens particulares, os adquiridos através de doação, legado ou herança - artigo 1.674 do CC. Porém os frutos dos bens particulares se comunicam. Cabe salientar que é um regime misto, pois na vigência do casamento, aplicam-se normas semelhantes ao do regime da separação de bens, e ao final do matrimônio é aplicada regra que se assemelha ao regime legal. 38 5. Regime da Separação de Bens O regime de separação de bens vem a ser aquele em que cada consorte conserva, com exclusividade, o domínio, posse e administração de seus bens presentes e futuros e a responsabilidade pelos débitos anteriores e posteriores ao matrimônio. Há incomunicabilidade não só dos bens que cada qual possuía ao se casar, mas também dos que veio a adquirir na constância do casamento, havendo uma completa separação de patrimônio dos dois cônjuges. Esse regime nada influi na esfera pecuniária dos consortes, art. 1.647, “caput” do CC. O passivo dos cônjuges também é separado, não se comunicando os débitos anteriores ou posteriores ao casamento, pelos quais responde o consorte que os contraiu, isoladamente, e, se créditos houver entre os consortes. A lei impõe a certos casos, que esse regime seja obrigatório (art. 1.641, CC)... a) Pessoas que o celebrarem o casamento com infração ao artigo 1.523, I, II, III e IV, CC. b) Da pessoa maior de 70 anos (porém, se suceder de união estável de mais de 10 anos ou do qual tenham nascido filhos, não se aplica a regra, podendo os nubentes, de acordo com o artigo 45 da Lei 6.515/77, escolher livremente o regime matrimonial de bens). ATENÇÃO: A Lei 12.344, de 09 dezembro de 2010, publicada no D.O.U em 10/10/2010, alterou este inciso do Código Civil aumentando para 70 anos a idade a partir da qual se torna obrigatório o regime da separação de bens no casamento. Segundo Clóvis Beviláqua, no Código Civil de 1.916, visava o regime da separação obrigatória, evitar a prática do que popularmente conhecemos hoje, “golpe do baú” contra idosos. Hodiernamente, com os avanços da medicina, o ser humano desfruta de melhores condições de vida, resultando daí, em uma maior longevidade. Ainda assim, a idade não deveria ser impedimento para a escolha do regime de bens no casamento. c) De todos os que dependem, para casar, de autorização judicial (artigos 1.517, 1.519, 1.634, III, 1.747, I e 1.774 do CC). É controvertida a questão, quanto à comunicabilidade de bens no regime da separação imposta pela legislação, pois nada esclarece o código sobre o tema. 39 A súmula 377 do STF afirma que no regime da separação obrigatória deverão se comunicar os bens adquiridos na constância do matrimônio a título oneroso, como no regime da comunhão parcial de bens. Para que haja permanência da separação absoluta de bens (ou seja, não se comunicarem após o casamento) basta fazer o pacto antenupcial, afastando o determinado na Súmula. A Separação de bens pode ser pura ou absoluta e limitada ou relativa. a) Pura ou absoluta é a que estabelece a incomunicabilidade de todos os bens adquiridos antes e depois do matrimônio, inclusive frutos e rendimentos. b) Limitada ou relativa circunscreve-se aos bens presentes, comunicando-se os frutos e rendimentos futuros. De forma que os nubentes disporão na escritura antenupcial acerca dos aquestos como bem lhes aprouver, impondo-lhes a comunicabilidade ou incomunicabilidade. Das Doações Antenupciais 1. Doações pelos próprios cônjuges – Pelo Código Civil de 1916 o marido não podia constituir dote em favor da mulher, mas não havia impedimento de fazer doações no pacto antenupcial, salvo se o regime de bens fosse o da separação, por imposição da lei (artigo 258, parágrafo único/ CC-1916). Hodiernamente, não existe o regime dotal, no entanto, as doações antenupciais permanecem na maior parte dos regimes, conforme artigos 546 e 1.668, IV do CC. 2. Proibição das Doações Antenupciais - “Salvo o caso de separação obrigatória de bens (Artigo 1.641 do C.C.), é livre aos contraentes estipular, na escritura antenupcial, doações recíprocas, ou de um ao outro, contanto que não excedam à metade dos bens do doador”. Da Dissolução da Sociedade Conjugal A lei 6.515/77 regulava os casos de dissolução da sociedade conjugal e do casamento, com os efeitos e respectivos processos e dava outras providências, em seu artigo 54, revogando expressamente os artigos 315 a 328 do Código Civil de 1916. Hoje a matéria está regulada pelo estatuto Substantivo Civil, conforme arts. 1.571 a 1.582. 40 1. Fim do Vínculo Conjugal A sociedade conjugal termina de acordo com o art. 1571 do CC: a) pela morte de um dos cônjuges (real ou presumida, com ou sem declaração de ausência); b) pela nulidade ou anulação do casamento; c) pelo divórcio. Depois de várias restrições, o divórcio foi introduzido em nossa legislação. Observação.– Antes do advento da Emenda Constitucional 66/2010 havia ainda a separação judicial - terminologia proposta pelo legislador, em substituição ao termo clássico e tradicional desquite, o qual, todavia, sem embargo da relutância da nova lei, subsiste ainda em numerosos diplomas, como por exemplo, na Lei n° 6015/73 (artigos 100 e 167, II, 5) – Lei de Registros Públicos. A separação judicial, desconhecida do direito romano, introduzida em nosso direito em substituição ao antigo desquite, teve origem canônica. Ela colocava ponto final à vida em comum, terminava a comunhão conjugal e separava os cônjuges. Entretanto, conservava intacto o vínculo, de modo que NÃO era lícito não a qualquer deles contrair novas núpcias. A separação constituía um abrandamento ao princípio da indissolubilidade, mas não acarretava a desintegração do vínculo. Pois no artigo 2°, parágrafo único, da Lei 6.515/77, “casamento válido somente se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio”. 2. A sociedade conjugal é dissolvida (art. 1571, § 1° do CC): a) pela morte; b) pelo divórcio. 3. A chamada “Separação Judicial” Com o advento da Emenda Constitucional 66/2010 não se utiliza mais o hiato entre o fim do casamento e o divórcio. A separação judicial colocava termo ao dever de coabitação, fidelidade recíproca e ao regime matrimonial, como se o casamento fosse dissolvido (artigo 3° da Lei 6.515/77), com o trânsito em julgado da sentença. Decretada a separação era encerrada a situação econômica que derivava da sociedade conjugal. Caberá propor a separação somente aos cônjuges (ação personalíssima), e no caso de incapacidade, admite a representação por curador, ascendente ou irmão. 41 Outros efeitos (1.576 do CC): • Término da sociedade conjugal; • Extinção
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