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Internacional 3 - Damásio

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Direito Internacional 
Prof. Emerson Malheiro 
Matéria: Cooperação Jurídica Internacional em Matéria Penal/ Tribunal Penal 
Internacional/ Aparente Inconstitucionalidade entre o Decreto 4.388/2002 e o Estauto de 
Roma/ Nacionalidade- Critérios Originários e Derivadas para a sua Atribuição. 
02/06/2011 
 
Cooperação Jurídica Internacional em Matéria Penal: 
É necessário que os Estados flexibilizem seus princípios basilares para a existência do 
TPI (Tribunal Penal Internacional), bem como dos institutos de – deportação, extradição 
e expulsão. 
A mera coexistência entre os Estados soberanos deu lugar a um sistema de cooperação 
entre as nações, a fim de que toda comunidade internacional caminhe para um bem 
comum: a paz. 
- Westphalia (1648); 
- Direito Penal Internacional; 
- Direito Internacional Penal. 
Essa preocupação (com a paz) ficou bastante evidente quando o modelo da soberania de 
Westphalia, surgido em 1648 e que durou até 1945, concebido como a estrutura orgânico-
jurídica dotada de poder normativo e força coercitiva exclusiva sobre determinada 
comunidade
 
– sucumbiu ante dos desmandos cometidos contra os direitos humanos 
durante a Segunda Guerra Mundial. 
Direito Penal Internacional: Temos um instituto conexo do Direito Internacional Privado 
(ligado as relações particulares). 
Direito Internacional Penal: Temos uma conexão direta com o Direito Internacional 
Público (ligado as relações entre Estados e as pessoas). 
A cooperação jurídica interna, traz consigo tribunais penais – julga pesssoas (e não 
Estados). 
Antes da criação do TPI (Tribunal Penal Internacional), houve a criação de tribunais “Ad 
Hoc” = Tribunais de Exceção (criado para o julgamento de um caso concreto, e após 
deixa de existir). 
O 1º Tribunal “Ad Hoc” criado é o Tribunal de Nuremberg – julgou os crimes que 
ocorreram na 2ª grande Guerra Mundial. 
O 2º Tribunal “Ad Hoc” criado é o Tribunal de Timeo (Tribunal Penal Militar para o 
Extremo Oriente, também conhecido por Tribunal de Tóquio). 
O 3º Tribunal “Ad Hoc” é o Tribunal Penal Internacional para à antiga Iugoslávia 
(TPIAI/ TPII), instituído em 1993. 
 
 
O 4º Tribunal “Ad Hoc” é o Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR), instituído 
em 1994. 
 
Os Tribunais “Ad Hoc”, desrespeitam o princípio da legalidade, princípio da 
anterioridade e o princípio do juiz natural. 
Porque? 
As normas que cuidam dos Tribunais “Ad Hoc” são criadas pós fato, ferindo os 
princípios supracitados. 
 
Tribunal Penal Internacional (TPI): É um tribunal permanente, criado pelo Estatuto de 
Roma (1998). 
Os Estados Unidos não ratificaram o Estatuto de Roma, consequentemente não fazem 
parte do TPI. 
Finalidade/Consequência do TPI: Julgar os seguintes crimes: 
- Crimes contra a humanidade; 
- Crimes de guerra; 
- Crime de genocídio; 
- Agressão internacional. 
 
O que é agressão internacional? 
É um atentado aos Direitos Humanos, sob a violação da soberania do Estado. 
 
O que é o genocídio? 
É um dos crimes contra a humanidade, porém foi destacado como um delito autônomo, 
por conta da gravidade das condutas perpretadas. 
 
No nosso ordenamento o Estatuto de Roma foi incorporado pelo Decreto 4.388/02 (cuida 
de normas de Direitos Humanos). Trata-se de uma norma supralegal. 
 
A atuação do TPI assenta-se sobre alguns princípios fundamentais, sendo talvez o mais 
importante o da complementariedade. De acordo com este princípio, a Corte somente 
atua se o Estado que tem jurisdição sobre determinado caso não iniciou o devido processo 
(o Estado manteve-se inerte, silente ou leniente – em qualquer outro caso o TPI não irá 
atuar). 
 
O TPI rege-se também pelo princípio da anterioridade (só julga os crimes regidos após a 
sua criação – 2002). 
Regra: Um Estado só pode ter o seu nacional julgado pelo TPI se for signatário do 
Estatuto de Roma (ratificou e assinou), salvo as seguintes exceções: 
1º Se houver indicação de investigação pelo Conselho de Segurança da ONU (poderá o 
TPI julgar o nacional de um Estado que não seja signatário do Estatuto). 
Ex.: Presidente do Sudão (pertence a um Estado não signatário do Estatuto), porém teve a 
expedição do mandado de prisão, em 2010. 
Ex.: Presidente da Líbia (pertence a um Estado não signatário do Estatuto), porém o 
Procurador requereu a Corte a expedição de um mandado de prisão. 
 
 
2º Quando o Estado não for signatário do Estatuto, e o seu nacional cometer um dos 
crimes citados – ao pisar em um Estado que seja signatário, poderá ser preso. 
 
O TPI é composto por 18 juizes e 1 Procurador. 
 
Principais pontos levantados por alguns doutrinários, com relação ao Decreto 4.388/2002. 
 
1. Conflito: Com relação ao Decreto 4.388/2002. 
1º Argumento : 
O Art. 89, p.1º, do Decreto: cuida da entrega de nacional ao TPI. 
 
Art. 89, Entrega de Pessoas ao Tribunal - 1. “O Tribunal poderá dirigir um pedido de 
detenção e entrega de uma pessoa, instruído com os documentos comprovativos referidos 
no artigo 91, a qualquer Estado em cujo território essa pessoa se possa encontrar, e 
solicitar a cooperação desse Estado na detenção e entrega da pessoa em causa. Os 
Estados Partes darão satisfação aos pedidos de detenção e de entrega em conformidade 
com o presente Capítulo e com os procedimentos previstos nos respectivos direitos 
internos.” 
 
Segundo, o Art. 5º, LI: é vedada a extradição de brasileiro nato. Obs.: O naturalizado 
também não pode ser extraditado, salvo quando cometer o crime antes da naturalização 
ou se praticar o crime de tráfico de drogas. 
 
Art. 5º, LI – “nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de 
crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em 
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.” 
 
Extradição/Conceito: É a entrega de refugiado criminoso ou acusado à pedido de outro 
Estado, para que naquele território seja julgado ou lá cumpra sua pena. 
 
A extradição e a entrega são dois fenômenos jurídicos diferentes, por conta da própria 
natureza de cada instituto. 
- Extradição: Opera-se entre Estados. 
- Entrega: Opera-se entre Estado e uma pessoa. 
 
O Art. 102, do Estatuo de Roma – apresenta a diferença entre entrega e extradição. 
Artigo 102 - Termos Usados para os Fins do Presente Estatuto: 
a) Por "entrega", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado ao Tribunal nos 
termos do presente Estatuto. 
b) Por "extradição", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado a outro Estado 
conforme previsto em um tratado, em uma convenção ou no direito interno. 
 
Trata-se de uma inconstitucionalidade real? 
Resp. Não, apenas aparente, pois a entrega e a extadição são dois insitutos 
completamente diferentes. 
 
 
 
2º Argumento: Em face do princípio da complementariedade o Brasil julga o agente, 
razão pela qual não precisará entrega-lo ao TPI. 
 
3º Argumento: Relaciona-se ao Art. 5º, p.4º, da CF. 
 
Art. 5º § 4º “O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja 
criação tenha manifestado adesão.” 
 
2. Conflito: Prisão Perpetua. 
O Art. 5, XLVII, “b”, da CF – veda a prisão perpétua. Por outro lado, o Art. 77, p.1º, “b”, 
do Estatuto de Roma permite a aplicação da prisão perpétua. 
 
O conflito não é real (inexiste a inconstitucionalidade), pois a vedação do Art. 5º é 
aplicada apena ao território nacional, não podendo alcançar a jurisidição internacional 
(TPI). 
 
Art.5º, XLVII – “não haverá penas: 
b) de caráter perpétuo.” 
 
Artigo 77 Penas Aplicáveis - 1. “Sem prejuízo do disposto no artigo 110, o Tribunal 
pode impor à pessoa condenada por um dos crimes previstos no artigo 5º do presente 
Estatuto uma das seguintes penas: 
b) Pena de prisão perpétua, se o elevado grau de ilicitude do fato e as condições 
pessoais do condenado o justificarem.”Consequência: Uma pessoa julgada pelo TPI, sendo decretada a prisão perpetua – poderá 
cumprir a pena em qualquer dos Estados que tenha ratificado e assinado o Estatuto de 
Roma, exceto aqueles que não admitem a prisão perpetua, logo não poderá cumprir esta 
pena no Brasil. 
 
A prisão perpétua é exceção no TPI, apenas aplicada em situações graves, sendo revista 
no prazo de 25 anos. Obs.: Nota-se que a pena é menor do que a máxima no Brasil (30 
anos). 
 
3. Conflito: Homologação de Sentença (?) 
O Art. 105, I, “i”, da CF – aduz à cerca da homologação de sentença estrangeira, pelo 
STJ, para produzir efeitos em território nacional. 
 
Art. 105 – “Compete ao Superior Tribunal de Justiça: 
I - processar e julgar, originariamente: 
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas 
rogatórias.” 
 
A sentença do TPI, não precisará ser homologada. 
 
Existe uma flagrante inconstitucionalidade ou um conflito aparente? 
Um conflito aparante, porque o Art. 105 refere-se a uma sentença estrangeira. Já a 
sentença do TPI é internacional, razão pela qual não precisa ser homologada. 
 
Diferença: A sentença estrangeira é proferida em um Estado, por outro lado a sentença 
internacional é proferida por um Tribunal Internacional. 
 
4. Conflito: Imprescritibilidade de Crimes. 
A prescrição é a regra no ordenamento jurídico brasileiro, principalmente na esfera penal. 
No Brasil a CF prevê a imprescritibilidade para os crimes de: 
- Racismo; 
- Contra à ordem constitucional. 
 
Os 4 crimes julgados pelo TPI são imprescritíveis, conforme o decreto, porém sem 
nenhuma previsão na CF. 
 
O conflito é aparente, pois o rol que apresenta os crimes imprescritíveis na CF – é 
meramente exemplificativo, razão pela qual podem ser incluídos outros delitos além dos 
previstos. 
 
Os Direito Fundamental traz um piso protetivo mínimo nos Direitos Humanos – que pode 
ser ampliado. 
 
5. Conflito: Imunidades e Foro de Prerrogativas de Funções. 
No Brasil existem as imunidades e o foro de prerrogativas de funções. 
No TPI não existe a imunidade e o foro de prerrogativas de funções. 
 
Trata-se de um conflito aparente, porque tanto o TPI quanto o Brasil – são regidos pelo 
princípio da igualdade e pelo princípio da dignidade da pessoa humana, que devem ser 
respeitados. 
 
Nacionalidade: 
1. Conceito:É o intrínseco vínculo político jurídico que conecta uma pessoa ao território 
de um Estado, capacitando-a à exigir sua proteção e a cumprir deveres inerentes ao 
nacional. 
 
2. Critérios de Atribuição da Nacionalidade: 
2.1. Critérios Originários: 
1º “Ius Solis” (direito de solo):A nacionalidade é atribuida observando o local do seu 
nascimento. Adotado, nos Estados de ocupação mais recente – Americas e no Continente 
Africano. Este critério é a regra adotada no direito brasileiro. 
 
2º “Ius Sanguinis” (direito de sangue): A nacionalidade é atribuida observando o sangue 
– pela filiação (do pai ou da mãe – linha reta). 
 
2.2 Critérios Derivados: 
1º “Ius Domicili”: Atrbuição da nacionalidade pelo domicílio. 
Regra brasileira: No Brasil é possível a atribuição de nacionalidade via “ius domicili”, 
desde que, o estrangeiro estabeleça seu domicílio em território nacional por 15 anos 
ininterruptos, exceto aqueles que possuem como língua materna o português – para estes 
1 ano ininterrupto. 
 
2º . “Ius Laboris” (direito de trabalho): Atribuição da nacionalidade pela prestação de 
serviços, no território de determinado Estado, por um certo lapso temporal. Destaca-se 
que não adotamos este critério no Brasil. 
 
3º . “Ius Comunicatio” (direito de comunicação): A nacionalidade é atribuida através do 
casamento.

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