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Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital Autores: Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 5 de Agosto de 2020 1 Sumário Solução de Controvérsias.................................................................................................................................... 2 1 - Meios Pacíficos de Solução de Controvérsias ............................................................................................... 2 1.1 - Introdução .......................................................................................................................................... 2 1.2 - Meios diplomáticos ............................................................................................................................. 3 1.3 - Meios políticos .................................................................................................................................... 4 1.4 - Meios jurisdicionais ............................................................................................................................. 5 2 - Direito de Guerra e Neutralidade .............................................................................................................. 26 2.1 - Introdução ........................................................................................................................................ 26 2.2 - Evolução do Direito da Guerra ........................................................................................................ 28 2.3 - O Direito da Guerra ........................................................................................................................ 29 2.4 - Neutralidade .................................................................................................................................... 31 2.5 - Direito Internacional Humanitário ..................................................................................................... 31 Considerações Finais ......................................................................................................................................... 36 Lista de Questões .............................................................................................................................................. 37 Gabarito ........................................................................................................................................................... 45 INTRODUÇÃO Olá, amigos do Estratégia, tudo bem? A presente aula visa trabalhar o conceito de solução pacífica de controvérsias e como ela se dá nos tempos atuais, seja por meios diplomáticos, políticos ou jurisdicionais. Ainda, o Direito de Guerra, Neutralidade, e o Direito Internacional Humanitário, uma das vertentes da proteção internacional dos direitos humanos. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 2 Abraços, Prof. Ricardo Vale Prof. Matheus Atalanio Nosso contato para quaisquer dúvidas ou sugestões: Prof. Ricardo Vale E-mail: ricardovale@estrategiaconcursos.com.br Instagram: https://www.instagram.com/profricardovale/ Telegram: https://t.me/direitoconstitucionalconcursos/ Prof. Matheus Atalanio Instagram: https://www.instagram.com/matheus.atalanio/ Telegram: https://t.me/direitointernacionalcacd/ “O segredo do sucesso é a constância no objetivo”. SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS 1 - Meios Pacíficos de Solução de Controvérsias 1.1 - Introdução Antes de qualquer coisa, faz-se necessário definir conflito internacional. Para Francisco Rezek, conflito ou litígio internacional é todo desacordo sobre certo ponto de direito ou de fato ou, ainda, uma contradição ou oposição de teses jurídicas ou de interesses entre dois Estados.1 Pode haver, por exemplo, uma controvérsia entre dois Estados acerca de limites territoriais. Ou então, um Estado pode ter desrespeitado um tratado bilateral de extradição. Também é possível que um Estado tenha violado um compromisso assumido no âmbito da OMC. O direito internacional se preocupa em dar estabilidade às relações internacionais e garantir que os compromissos assumidos sejam cumpridos. É justamente em razão disso que há diversos meios de solução 1 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, PP. 335. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 3 de controvérsias, as quais devem ser resolvidas de forma pacífica. Os meios coercitivos somente poderão ser legitimamente empregados com a autorização de organizações internacionais. A Carta das Nações Unidas prevê em seu art. 33, parágrafo 1º, que “as partes numa controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem, via judicial, recurso a organizações ou acordos regionais, ou qualquer outro meio pacífico à sua escolha”. Como se percebe, a Carta da ONU enumera diversos meios de solução de controvérsias, os quais, no entanto, não encerram um rol exaustivo, mas apenas exemplificativo. Destaque-se, ainda, que não há hierarquia entre esses meios de solução de controvérsias, o que significa que não existe uma ordem ou gradação a ser seguida na aplicação desses métodos. De qualquer forma, fica claro que a busca pela solução pacífica de controvérsias é uma regra fundamental do direito internacional. No Brasil, tal regra foi alçada, inclusive, ao nível constitucional, com a expressão previsão no art. 4º, inciso VII, da CF/88, de que um dos princípios das relações internacionais da República Federativa do Brasil é a solução pacífica de controvérsias. Os meios pacíficos de solução de controvérsias recebem duas classificações diferentes: quanto à compulsoriedade das decisões (facultativos ou obrigatórios) e quanto à fundamentação da decisão (diplomáticos, políticos ou jurisdicionais). 1.2 - Meios diplomáticos Os meios diplomáticos têm como característica fundamental a realização de conversações amistosas com o objetivo de satisfazer os interesses mútuos das partes. Podem ser: negociação, bons ofícios, consultas, mediação, conciliação e inquérito. A negociação é o meio mais simples e mais comum de solução pacífica de controvérsias. Consiste em conversações diretas entre os litigantes objetivando alcançar um denominador comum (solução mutuamente aceita). As negociações ocorrem por via diplomática, seja oralmente ou por escrito, caracterizando-se pela informalidade. A solução de um conflito por meio de negociações poderá acontecer de três formas: i) um Estado renuncia a uma pretensão; ii) um Estado reconhece o direito pleiteado pelo outro; ou iii) há uma transação entre os Estados (concessões mútuas). Os bons ofícios não estão explicitamente previstos na Carta das Nações Unidas, mas consistem em meios diplomáticos de solução de controvérsias. Nos bons ofícios, um terceiro, espontaneamente, se oferece para colaborar na solução de uma controvérsia. Destaque-se que os bons ofícios não são considerados ingerência indevida nos assuntos de outros Estados e seu oferecimento, assim como sua recusa, não podem ser considerados gestos ofensivos ou inamistosos.2 O terceiro a oferecer seus bons ofícios pode ser um funcionário de uma organização internacional, um terceiro Estado ou mesmo uma organização internacional. 2 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, pp.937. Matheus Atalanio, RicardoVale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 4 Sua atuação limita-se a aproximar pacificamente os litigantes; nos bons ofícios, o terceiro não apresenta sua posição acerca da controvérsia, tampouco uma proposta para a solução desta. As consultas representam uma preparação para negociações futuras. As partes consultam-se mutuamente, levantando as questões controversas. Consistem em contatos preliminares, prévios a uma negociação. Para Portela, as consultas não são propriamente um meio de solução de controvérsias. 3 A mediação se caracteriza pela participação de um terceiro Estado, que colabora na solução da controvérsia. No entanto, à diferença do que ocorre nos bons ofícios (em que o terceiro não pode apresentar seu posicionamento), na mediação, o terceiro, além de aproximar as partes, apresenta proposta para a solução da controvérsia. Trata-se, portanto, de procedimento mais extenso e mais solene do que os bons ofícios. A mediação poderá ser facultativa ou obrigatória, oferecida ou solicitada, individual ou coletiva. As conclusões do mediador não são obrigatórias e, portanto, não vinculam as partes litigantes. A conciliação se assemelha muito à mediação, possuindo, todavia, maior grau de formalismo e solenidade. Enquanto na mediação existe apenas um “conciliador”, na conciliação há uma “comissão de conciliadores”. Esse grupo de conciliadores examina a controvérsia e, ao final, emite parecer propondo a solução do conflito. Destaque-se que as partes litigantes poderão aceitar ou rejeitar a proposta dos conciliadores, é dizer, esta não é dotada de força vinculante. O inquérito, por último, consiste em uma investigação destinada a apurar fatos relevantes ocorridos entre as partes, “preparando o terreno” para a utilização de um dos meios de solução de controvérsias internacionais (diplomáticos, políticos ou judiciários). Forma-se, então, uma comissão encarregada de investigar fatos controvertidos, que necessitem de maior esclarecimento. 1.3 - Meios políticos São denominados de meios políticos de solução de controvérsias aqueles existentes no âmbito de organizações internacionais de vocação política, como a ONU e a OEA. Na atualidade, os conflitos de maior gravidade têm sido politicamente resolvidos no âmbito das Nações Unidas por meio de seus dois principais órgãos: o Conselho de Segurança e a Assembleia Geral. Em nível regional, os conflitos têm sido resolvidos, nas Américas, no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA), com atuação dos organismos especializados dessa organização internacional. Há grande semelhança entre os meios políticos e os meios diplomáticos, com a diferença que nos meios políticos a interação entre as partes ocorre no seio de uma organização internacional. Ambos são chamados de meios não-jurisdicionais, uma vez que a solução para controvérsia nem sempre terá fundamento jurídico. 3 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009, pp. 475. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 5 1.4 - Meios jurisdicionais Os meios jurisdicionais podem ser divididos em dois: meios semi-judiciais (arbitragem) e meios judiciários (tribunais internacionais). Ambos se distinguem dos demais meios de solução de controvérsias por serem obrigatórios para as partes litigantes. 1.4.1 - Meios semi-judiciais A arbitragem é um meio de solução de controvérsias que consiste no estabelecimento de um tribunal composto de vários árbitros para apreciar uma controvérsia. Trata-se de mecanismo jurisdicional, porém não judiciário. Os tribunais arbitrais não têm jurisdição permanente; ao contrário, possuem natureza “ad hoc”, sendo constituídos com o objetivo de apreciar um caso concreto. Competirá às partes na disputa eleger o árbitro, descrever a matéria conflituosa e delimitar o direito aplicável.4 Os laudos arbitrais têm a mesma força vinculante (obrigatória) que uma sentença emanada de um tribunal internacional. Vale destacar, quanto a esse ponto, que o descumprimento de um laudo arbitral sujeita o Estado à responsabilidade internacional. O laudo arbitral também se caracteriza por ser definitivo e não- executório. É definitivo porque dele não cabem recursos; é não-executório porque não há como impor o cumprimento de um laudo arbitral, uma vez que o Estado não conhece nenhuma vontade superior à sua no plano internacional.5 O cumprimento do laudo arbitral depende da boa-fé e da honradez das partes litigantes, em especial da parte “perdedora”. Em direito internacional público, se reconhece que a sentença arbitral poderá ser anulada caso tenha existido corrupção, excesso de poder dos árbitros ou mesmo algum erro fundamental que vicie o processo. Embora não sejam admitidos recursos dos laudos arbitrais, as partes litigantes poderão solicitar um pedido de interpretação do laudo arbitral. Assim, pode-se afirmar que, apesar de os laudos arbitrais serem definitivos, eles podem ser modificados. Para que uma controvérsia seja solucionada por arbitragem, é necessário que seja firmado um compromisso arbitral, que consiste em um tratado celebrado pelos litigantes. Ressalte-se que o compromisso arbitral é um tratado celebrado após o surgimento do litígio, a fim de resolvê-lo. Nele, são descritos todos os procedimentos aplicáveis à solução daquela controvérsia em particular (descrição do litígio, definição dos árbitros, regras procedimentais, prazos e o compromisso das partes em dar cumprimento ao laudo arbitral). A obrigatoriedade dos laudos arbitrais tem fundamento justamente no compromisso arbitral, em homenagem à regra “pacta sunt servanda”. Também é possível que um tratado multilateral já tenha previsão de cláusula arbitral (cláusula compromissória). A cláusula arbitral é, portanto, prévia ao surgimento da controvérsia, podendo ser tanto um tratado geral de arbitragem quanto uma cláusula prevista em um tratado. Atualmente, percebe-se que há vários tratados internacionais que trazem expressa uma cláusula arbitral. No MERCOSUL, por exemplo, o Protocolo de Olivos prevê, que, em primeira instância, uma controvérsia será levada à apreciação de um 4 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. 5 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 4ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 6 tribunal “ad hoc”, que funcionará, então, como um tribunal arbitral. Na OMC, os grupos especiais (primeira instância), também consistem em tribunais arbitrais. Não podemos nos olvidar de fazer menção à Corte Permanente de Arbitragem, que foi criada em 1899, na Primeira Conferência Internacional da Paz, realizada em Haia. Trata-se de uma organização internacional destinada a facilitar a solução de controvérsias na sociedade internacional. A Corte Permanente de Arbitragem mantém uma lista com pessoas qualificadas para atuarem como árbitros em uma controvérsia que envolva Estados, organizações internacionais e mesmo particulares. Uma forma especial de arbitragem é a arbitragem mista, que é aquela instaurada para resolver uma controvérsia entre um Estado e um particular estrangeiro. Ela ocorre quando um Estado celebra um contrato internacional com particular estrangeiro e esse instrumento prevê a arbitragem como meio de solução de controvérsias. A primeira arbitragem internacional moderna no direito internacional foi um caso emblemático para o direito internacional: ocaso Alabama entre Estados Unidos e o Reino Unido, em 1872. Os Estados Unidos acusaram o Reino Unido de ter rompido com o dever de neutralidade no contexto da guerra de secessão, tendo em vista que foram vendidas a uma das partes em conflito estaleiros navais ingleses, causadores de grande destruição no campo nortista. O Reino Unido contra-argumentou no sentido de que não possuía “meios legais” para a resolução desse conflito.6 Esse caso é um bom exemplo da impossibilidade de negativa de uma obrigação internacional sob a alegação de direito interno, tendo em vista a clara primazia da norma internacional – de que o Reino Unido continuasse neutro no conflito – em virtude da norma interna. Atenção para esse caso, nobre aluno, pois já foi objeto de prova! No Brasil, a legislação que trata da arbitragem é a Lei nº 9.307/1996. É uma legislação curta, que conta com somente 42 artigos em sua estrutura. Será interessante o estudo dessa legislação, principalmente, quando tratamos do viés internacional, caso, principalmente, do seu Capítulo VI, que versa sobre o reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais estrangeiras. Da sua leitura, encontramos alguns questionamentos. Poderíamos considerar uma sentença arbitral proferida no exterior como uma sentença nacional? Isso é um questionamento comum nos concursos públicos, que pode ser respondido pela leitura do art. 34 da Lei de Arbitragem, vejamos: “Art. 34. A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil de conformidade com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de acordo com os termos desta Lei. Parágrafo único. Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do território nacional.” O parágrafo único é direto ao aduzir que a sentença arbitral que foi proferida fora do território nacional é considerada estrangeira. Ela será reconhecida/executada no Brasil de acordo com as disposições 6 CARREAU, Dominique; BICHARA, Jahyr-Philippe. Direito Internacional, 2ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016, p.66. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 7 internacionais que o país reconhece, tendo em vista a adequação das normas com o ordenamento jurídico interno. Mas aí, eu te questiono: Essa sentença necessita, assim como as sentenças “comuns” de homologação para operar efeitos no país? Sim! Vejamos o art. 35 da Lei: “Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Superior Tribunal de Justiça.” Quando tratamos do reconhecimento ou da execução de sentença arbitral estrangeira, os tratados internacionais têm prevalência sobre a lei interna. A última possui apenas aplicação subsidiária e nos termos da legislação própria. A homologação de sentença arbitral estrangeira será requerida pela parte interessada, devendo a petição inicial conter as indicações da lei processual, e deverá ser instruída, necessariamente, com: (1) o original da sentença arbitral ou uma cópia devidamente certificada, autenticada pelo consulado brasileiro e acompanhada de tradução oficial; (2) o original da convenção de arbitragem ou cópia devidamente certificada, acompanhada de tradução oficial. No entanto, nos termos do art. 38, o réu poderá, se demonstrar, negar a homologação para o reconhecimento ou execução de uma sentença arbitral estrangeira. Nesse caso, será necessário que ele prove: I - as partes na convenção de arbitragem eram incapazes; II - a convenção de arbitragem não era válida segundo a lei à qual as partes a submeteram, ou, na falta de indicação, em virtude da lei do país onde a sentença arbitral foi proferida; III - não foi notificado da designação do árbitro ou do procedimento de arbitragem, ou tenha sido violado o princípio do contraditório, impossibilitando a ampla defesa; IV - a sentença arbitral foi proferida fora dos limites da convenção de arbitragem, e não foi possível separar a parte excedente daquela submetida à arbitragem; V - a instituição da arbitragem não está de acordo com o compromisso arbitral ou cláusula compromissória; VI - a sentença arbitral não se tenha, ainda, tornado obrigatória para as partes, tenha sido anulada, ou, ainda, tenha sido suspensa por órgão judicial do país onde a sentença arbitral for prolatada. A outra hipótese de denegação do reconhecimento ou execução de sentença arbitral estrangeira será quando o STJ constatar que, segundo a lei brasileira, o objeto do litígio não é suscetível de ser resolvido por arbitragem, ou seja, a matéria não é arbitrável. Ou, quando a decisão ofender a ordem pública nacional. Mas, atenção! Pois, de acordo com o parágrafo único do art. 39: não será considerada ofensa à ordem pública nacional a efetivação da citação da parte residente ou domiciliada no Brasil, nos moldes da convenção de arbitragem ou da lei processual do país onde se realizou a arbitragem, admitindo-se, inclusive, a citação Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 8 postal com prova inequívoca de recebimento, desde que assegure à parte brasileira tempo hábil para o exercício do direito de defesa. Atenção! Se a denegação, por parte do STJ, tratar de vícios meramente formais, nada obsta que a parte interessada renove o pedido, desde que sanados os vícios apresentados. 1.4.2 - Meios judiciais Na atualidade, o direito internacional vive um fenômeno de multiplicação das instâncias de solução de conflitos, com o surgimento de diversos tribunais internacionais. Anteriormente, já havíamos estudado sobre a Corte Internacional de Justiça. Agora, veremos alguns outros dos principais tribunais internacionais. 1.4.2.1 - Corte Interamericana de Direitos Humanos A Corte Interamericana de Direitos Humanos (1979) é uma instituição judiciária autônoma cujo objetivo é a aplicação e interpretação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica (1969). Trata-se de órgão de natureza jurisdicional e consultiva. A CIDH é composta por sete juízes, todos nacionais dos Estados-membros da OEA, eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida competência em matéria de direitos humanos, que reúnam as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os propuser como candidatos. Destaque-se que não pode haver mais de um juiz da mesma nacionalidade. A tomada de decisões no âmbito da CIDH ocorrerá por maioria dos juízes presentes, cabendo ao Presidente, no caso de empate, o voto de qualidade. Para que a CIDH possa deliberar a respeito de alguma matéria é necessário o quórum mínimo de 5 juízes, ou seja, devem estar presentes na votação pelo menos 5 juízes. A competência jurisdicional da CIDH é regulada pelos arts. 61, 62 e 63 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. O art. 61 determina que somente poderão submeter casos à decisão da CIDH os Estados- partes da Convenção e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. No sistema interamericano de proteção aos direitos humanos, os indivíduos não poderão peticionar diretamente junto à CIDH. É possível, todavia, que os indivíduos recorram à Comissão, nos termos do que prevê o art. 44 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, segundo o qual “qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não- governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados membros da Organização, pode apresentar à Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação desta Convenção por um Estado- Parte”. O responsável pelaproteção dos direitos humanos de seus nacionais é o próprio Estado. Os tribunais internacionais possuem uma atuação apenas subsidiária. No sistema interamericano de direitos humanos, como já dito, há a possibilidade de que o indivíduo ajuíze petição diretamente na Comissão, desde que preencha certos requisitos, nos termos do art. 46 do Pacto de San José da Costa Rica: Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 9 (1) Esgotamento dos recursos internos no país de origem7; (2) Impossibilidade de litispendência internacional, ou seja, não pode haver mais de uma petição de cunho internacional além da ajuizada na Comissão; (3) Apresentação da ação no prazo máximo de 6 (seis) meses, a partir da data em que o presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva; (4) Morosidade excessiva, também chamada de atraso injustificado na decisão sobre os mencionados recursos. Também há uma outra possibilidade, que é o caso de que no país de origem não haver, na legislação interna, devido processo legal para a proteção do direito ou dos direitos violados. A sentença da CIDH é definitiva e inapelável. Os Estados-partes da Convenção se comprometem a cumprir a decisão da Corte em todos os casos em que forem partes. Destaque-se que a submissão à jurisdição da CIDH não é automática. A CIDH somente terá competência para conhecer de um caso relativo à interpretação e aplicação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos se os Estados Partes no caso tiverem reconhecido ou reconheçam a referida competência. O Brasil reconhece a competência contenciosa da CIDH. Quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade protegidos pela Convenção Americana de Direitos Humanos, a CIDH determinará que assegure ao prejudicado o gozo do seu direito ou liberdade violados. Além disso, a CIDH determinará também, se isso for procedente, que sejam reparadas as consequências da medida ou situação que haja configurado a violação desses direitos, bem como o pagamento de indenização justa à parte lesada. Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, nos assuntos de que estiver conhecendo, poderá tomar as “medidas provisórias” que considerar pertinentes. Caso se trate de assuntos que ainda não estiverem submetidos ao seu conhecimento, a CIDH poderá conceder “medidas provisórias” a pedido da Comissão. As medidas provisórias aplicadas pela CIDH têm natureza tutelar (e não apenas cautelar). Isso porque elas não visam apenas garantir a eficácia da prestação jurisdicional, mas também proteger (tutelar) direitos fundamentais da pessoa humana. Não há previsão, na Convenção Americana de Direitos Humanos, de um mecanismo de supervisão de sentenças condenatórias da CIDH. Por isso, segundo Flávia Piovesan, “dada a carência institucional do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos nesta área específica, a Corte Interamericana vem exercendo motu próprio a supervisão da execução de suas sentenças, dedicando-lhe um ou dois dias de cada período de sessões”. 8 7 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado: Incluindo Noções de Direitos Humanos e de Direito Comunitário, 9ª ed, Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 859-860. 8 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional. São Paulo: Saraiva, 2007, pp. 115 Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 10 No que diz respeito à sua função consultiva, qualquer membro da OEA, inclusive aqueles que não são parte da Convenção Americana de Direitos Humanos, poderá solicitar o parecer da CIDH sobre a interpretação da Convenção e de qualquer outro tratado relativo à proteção de direitos humanos nos Estados americanos. A Corte também poderá opinar, em abstrato, a respeito da compatibilidade entre a legislação interna de um Estado-parte em face dos tratados internacionais de direitos humanos, realizando, assim, o “controle de convencionalidade das leis”.9 Segundo o Prof. Valério Mazzuoli, as decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos são consideradas sentenças internacionais, e não sentenças estrangeiras. Portanto, elas não precisam passar pelo procedimento de homologação de sentenças estrangeiras previsto na legislação brasileira. 10 Dessa forma, as sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos têm eficácia imediata, independentemente de qualquer homologação pelo STJ. Há, então, a obrigação de que o Estado dê execução a essas sentenças. No Brasil, as decisões da CIDH constituem título executivo e, dessa forma, caso condenem o Estado brasileiro ao pagamento de indenização pecuniária, ficarão sujeitas aos procedimentos estabelecidos na legislação nacional para a execução de provimentos jurisdicionais contra o Estado. A execução das indenizações determinadas pela CIDH não tem causado grandes problemas. A prática nos mostra, todavia, que há grande dificuldade em se executar sentenças da CIDH que envolvam a imputação ao Estado dos deveres de investigar e punir. Sobre isso, chama-nos a atenção, na jurisprudência da CIDH, o caso Gomes Lund e outros vs Brasil, envolvendo o desaparecimento forçado de pessoas por ocasião da Guerrilha do Araguaia. Na ocasião, a CIDH decidiu que os crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura militar (tortura, mortes e desaparecimento) deveriam ser investigados e punidos pelo Estado brasileiro. Segundo a CIDH, a Lei da Anistia, ao impedir a investigação e punição de graves violações de direitos humanos, seria incompatível com a Convenção Americana. Nas palavras da Corte, “a prática de desaparecimentos forçados implica um crasso abandono dos princípios essenciais em que se fundamenta o Sistema Interamericano de Direitos Humanos e sua proibição alcançou o caráter de jus cogens”. Apesar da decisão da CIDH ter determinado que o Brasil investigasse e punisse os crimes praticados durante a Guerrilha do Araguaia, o STF já havia se posicionada de forma contrária, reconhecendo a recepção da Lei da Anistia pelo ordenamento jurídico nacional. 1.4.2.2 - Corte Europeia de Direitos Humanos A Corte Europeia de Direitos Humanos foi criada em 1959 e está sediada em Estrasburgo, França. Possui competência jurisdicional, examinando casos em que ocorram violações da Convenção Europeia sobre 9 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional. São Paulo: Saraiva, 2007, pp. 99-100. 10 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos, 1a edição. Ed. Método. São Paulo: 2014, pp. 121-124. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 11 Direitos Humanos. Ressalte-se que, no sistema europeu de direitos humanos, admite-se o acesso direto do indivíduo à Corte Europeia de Direitos Humanos (CEDH). Atenção, pois essa questão é comum entre as questões de concursos públicos pelo Brasil! O examinador costuma fazer um paralelo entre a Corte Europeia de Direitos Humanos (CEDH) e a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Na primeira, o indivíduo pode – de forma direta – ajuizar uma ação, enquanto, na segunda, o indivíduo tem que ajuizar uma ação para que a Comissão o represente na Corte Interamericana de Direitos Humanos. 1.4.2.3 - Tribunal Penal Internacional O Tribunal Penal Internacional (TPI) foi criado pelo Estatuto de Roma, que foi adotado em 1998 na Conferência de Roma, entrando em vigor internacional em 2002. O Tribunal Penal Internacional constitui-se no primeiro tribunal de natureza permanente destinado a apurara responsabilidade de indivíduos por crimes perpetrados contra os direitos humanos, concretizando grande avanço do processo de internacionalização dos direitos humanos e de humanização do direito internacional. Antes da criação de TPI, já haviam sido criados tribunais para apurar crimes de alta gravidade contra os direitos humanos, como, por exemplo, o Tribunal de Nuremberg e o Tribunal de Tóquio, instituídos após a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, esses tribunais, criados por tratados internacionais, tinham natureza “ad hoc” e são criticados por serem juízos de exceção, criados pelos “vencedores” para julgar os “vencidos”. O TPI possui jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional, notadamente os seguintes: crime de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e o crime de agressão. São crimes que afetam a comunidade internacional como um todo. Perceba- se que o TPI estabelece o princípio da responsabilidade penal individual, ou seja, o indivíduo responde a título pessoal pelos crimes de alta gravidade que tenha praticado. Pela gravidade desses crimes, eles são imprescritíveis. O Estatuto de Roma detalha as condutas classificadas como cada um desses crimes: a) Genocídio: qualquer um dos atos que a seguir se enumeram, praticado com intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal: i) homicídio de membros do grupo; ii) ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo; iii) sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição física, total Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 12 ou parcial; iv) imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo; v) transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo. b) Crimes contra a Humanidade: qualquer um dos atos seguintes, quando cometido no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque: i) Homicídio; ii) extermínio; iii) escravidão; iv) deportação ou transferência forçada de uma população; v) prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais de direito internacional; vi) tortura; vii) agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável; viii) perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, tal como definido no parágrafo 3o, ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional, relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime da competência do Tribunal; ix) Desaparecimento forçado de pessoas; x) crime de apartheid; xi) outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental. c) Crimes de guerra: O TPI tem competência para julgar os crimes de guerra, em particular quando cometidos como parte integrante de um plano ou de uma política ou como parte de uma prática em larga escala desse tipo de crimes. São considerados crimes de guerra: i) as violações graves às Convenções de Genebra, de 1949; ii) outras violações graves das leis e costumes aplicáveis em conflitos armados internacionais no âmbito do direito internacional; iii) no caso de conflitos armados que não sejam de índole internacional, as violações graves às Convenções de Genebra, de 1949; iv) outras violações graves das leis e costumes aplicados aos conflitos armados que não têm caráter internacional d) Crime de agressão: O crime de agressão não foi originalmente definido pelo Estatuto de Roma. Somente foi adicionado posteriormente por emendas ao Estatuto. No entanto, até hoje não há uma boa definição para o crime de agressão. A punição para o cometimento desse crime só passou a ser permitida a partir do ano de 2018. Com fundamento no art. 27 do Estatuto de Roma, o TPI poderá julgar todas as pessoas, independentemente de qualquer distinção baseada na qualidade oficia. Trata-se do princípio da irrelevância da qualidade oficial, que admite sejam julgados pelo TPI quaisquer indivíduos, ainda que governantes de um determinado Estado. A Emenda Constitucional nº 45/2004 introduziu a chamada “Reforma do Judiciário”. Nela foram instituídos diversos instrumentos de proteção aos direitos humanos. Um exemplo disso é o art. 5º, § 4º da Constituição Federal, que dispõe que “o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”. Assim, dois anos depois que o Estatuto de Roma entrou em vigor, o Brasil ratificou o Estatuto de Roma (2002), aceitando a sua jurisdição. Resalte-se que os Estados que ratificaram o Estatuto de Roma (2002) aceitam a jurisdição do Tribunal Penal Internacional. Quando estudamos direito dos tratados (vide aulas 01 e 02), percebemos que há a menção ao instituto da reserva. Estão lembrados?! Em algumas convenções internacionais, vale ressaltar que não são admitidas reservas. Um exemplo disso é o próprio Estatuto de Roma (2002). De acordo com o art. 120 do mesmo Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 13 documento. Mas, atenção, não é porque um Estado não pode reservar um dispositivo de uma convenção, que ele não pode se retirar de um tratado, por meio de outro instituto, chamado de denúncia. A jurisdição do TPI é complementar às jurisdições nacionais, o que significa que somente será exercida caso o Estado que tenha jurisdição sobre um determinado caso não tenha iniciado o devido processo ou, caso o tenha feito, agiu com o intuito de subtrair o acusado à justiça ou de mitigar-lhe a sanção. Assim, a atuação do TPI é apenas subsidiária, competindo originariamente aos Estados a repressão dos crimes de alta gravidade previstos no Estatuto de Roma. O TPI poderá exercer sua jurisdição em relação aos crimes praticados por nacionais de Estados-parte do Estatuto de Roma ou, ainda, em relação a crimes praticados no território de Estados-parte do Estatuto de Roma. No caso de crimes cometidos em navios ou aeronaves o TPI exercerá sua jurisdição se o Estado de matrícula do navio ou da aeronave for parte do Estatuto de Roma. O Estatuto de Roma não admite a pena de morte, o que, aliás, seria totalmente contrário aos princípios que levaram à sua criação. O TPI poderá impor as seguintes penas às pessoas por ele condenadas: i) prisão por um número determinado de anos, até o limite máximo de 30 anos; ii) prisão perpétua, se o elevado grau de ilicitude do fato e as condições pessoais do condenado o justificarem. Questão controversa, que gerou discussões anteriores à adesão do Brasil ao Estatuto de Roma foi saber se, ao entregar brasileiro nato para ser julgado pelo TPI, estaria o Brasil ferindo dispositivo constitucional que veda a extradição de brasileiro nato. Sobre o assunto, é importante estabelecermos a diferença entre esses dois institutos: entrega e extradição. A extradição se caracteriza pela entrega de uma pessoa por um Estado a outro Estado, enquanto pelo instituto da entrega o Estado entrega uma pessoa a um Tribunal Internacional. Dessa forma, se um brasileiro cometer um crime passível de ser julgado pelo TPI – crime de genocídio, crime contra a humanidade, crimes de guerra, crime de agressão – ele será entregue a esta Corte para ser julgado. Enfatize-se que isso não se configura extradição de brasileiro,mas sim mera entrega, uma vez que o requerente não é Estado estrangeiro, mas um Tribunal Internacional. 1.4.2.4 - Tribunal Internacional sobre o Direito do Mar O Tribunal Internacional sobre o Direito do Mar foi criado pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (1982), também conhecida por Convenção de Montego Bay. Possui competência para julgar as controvérsias que envolvam a interpretação e aplicação da Convenção de Montego Bay. Vale ressaltar que o TIDH será trabalhado na aula de nº 14, que versa sobre o Domínio Público Internacional, que tem, como seu principal tópico, o Direito Internacional do Mar. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 14 1. (TRF 3ª Região – Juiz Federal/TRF 3ª Região – 2018) Mesmo que a arbitragem tenha transcorrido totalmente em território nacional (audiências, reuniões), se a sentença arbitral for proferida fora do Brasil, tratar-se-á de sentença estrangeira, exigindo, unicamente, a homologação pelo Superior Tribunal de Justiça para a regular produção de efeitos. Comentários: No caso em que a sentença arbitral for proferida fora do Brasil, compreende-se que ela será uma sentença estrangeira. É o que se percebe pela leitura do art. 34, parágrafo único da Lei de Arbitragem. No país, para que uma sentença estrangeira de arbitragem, termos do art. 35 da Lei de Arbitragem, opere efeitos é necessária a homologação a ser realizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Questão correta. 2. (TRF 3ª Região – Juiz Federal/TRF 3ª Região – 2018) No tocante ao reconhecimento ou execução de sentença arbitral estrangeira, os tratados internacionais têm prevalência sobre a lei interna, que só possui aplicação subsidiária e nos termos da legislação própria. Comentários: Na última questão, vimos justamente essa ideia. O art. 960, §3º do Código de Processo Civil corrobora com a ideia ao compreender que os tratados internacionais possuem prevalência sobre a lei interna, que só possui aplicação subsidiária, nos termos da própria legislação. Questão correta. 3. (TRF 3ª Região – Juiz Federal/TRF 3ª Região – 2018) Nos termos da Convenção de Nova Iorque (Decreto 4.311/2002), pode ser indeferido o reconhecimento ou execução de uma sentença arbitral se houver prova de que a parte contra a qual a sentença é invocada não recebeu notificação adequada sobre a designação do árbitro ou do processo de arbitragem, ou lhe foi impossível, por outras razões, apresentar seus argumentos; Comentários: Essa foi uma questão muito difícil. Exigia do candidato o conhecimento prévio da Convenção de Nova Iorque. Isso está previsto no art. V, 1, b). A afirmação está correta, pois, de fato, poderá ser indeferido o reconhecimento ou execução de uma sentença arbitral se houver prova de que a parte conta a qual a sentença é invocada não recebeu notificação adequada sobre a designação do árbitro ou do processo, além do caso em que, por outras razões, foi impossível apresentar os argumentos. No entanto, nos termos do art. 38, III, da Lei de Arbitragem, utilizando-nos da lógica, também seria possível o acerto da questão. Esse dispositivo trata da possibilidade que o réu possui de ter a ação de reconhecimento Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 15 negada, no caso em que demonstre que não foi legitimamente notificado, ou ainda, que o princípio do contraditório tenha sido violado, impossibilitando a ampla defesa. Questão correta. 4. (TRF 3ª Região – Juiz Federal/TRF 3ª Região – 2018) É causa bastante ao indeferimento do reconhecimento ou execução de sentença arbitral estrangeira a comprovação de que referida sentença ainda não se tornou obrigatória para as partes, foi anulada ou suspensa por ordem de autoridade do país em que foi proferida. Comentários: Sim. Um exemplo é o da sentença que ainda não se tornou obrigatória para as partes ou que foi anulada/suspensa por autoridade competente do país em que, ou conforme a lei do qual, a sentença tenha sido proferida. Questão correta. 5. (Consultor Legislativo / Câmara dos Deputados – 2014) Um marco na proteção internacional dos direitos humanos foi a celebração da Conferência de Roma, em 1998, que aprovou a criação de um tribunal penal internacional para julgar crimes contra a humanidade e crimes de genocídio e de guerra. Comentários: Em 1998, na Conferência de Roma, foi aprovada a criação do Tribunal Penal Internacional, o que representou um grande marco na proteção internacional dos direitos humanos. Inicialmente, o Estatuto de Roma, que criou o TPI, não previa o crime de agressão, que só foi acrescentado por emenda anos mais tarde. O Estatuto de Roma entrou em vigor internacional em 2002. Questão correta. 6. (Procurador do Banco Central-2009) A primeira arbitragem moderna no direito internacional foi instalada na I Conferência de Paz da Haia para resolver controvérsias entre Reino Unido e França. Comentários: A primeira arbitragem internacional moderna no direito internacional foi um caso que envolveu Estados Unidos e Inglaterra, em 1872, em que os Estados Unidos acusaram a Inglaterra de ter rompido com o dever de neutralidade no contexto da guerra de secessão. Além disso, o que ocorreu na I Conferência de Paz da Haia de 1889 foi a criação da Corte Permanente de Arbitragem. Questão errada. 7. (Procurador do Banco Central-2009) Assim como os meios judiciários, a arbitragem possui o caráter de permanência. Comentários: Ao contrário dos meios judiciários, a arbitragem não possui o caráter de permanência. Os tribunais arbitrais são “ad hoc”, isto é, são formados para apreciar um caso concreto específico, enquanto as Cortes Internacionais possuem composição fixa. Questão errada. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 16 8. (Procurador do Banco Central-2009) Arbitragens mistas são aquelas em que mais de dois Estados figuram na causa. Comentários: Na arbitragem mista, figuram na causa um Estado e um particular estrangeiro. Questão errada. 9. (Procurador do Banco Central-2009) Decisões arbitrais são meramente recomendatórias. Comentários: A decisão arbitral (sentença arbitral) é obrigatória para as partes litigantes. Apesar de ser obrigatória, a sentença arbitral não possui executoriedade, já que não existe nenhuma vontade superior à dos Estados no plano internacional. Questão errada. 10. (Consultor Legislativo / Senado Federal-2002) Em 1991, os presidentes do México, da Colômbia e da Venezuela resolveram oferecer seus bons ofícios conjuntos aos governos de Cuba e dos Estados Unidos da América, para viabilizar-lhes o diálogo. Entretanto, a oferta foi recusada. Nessa situação, o oferecimento caracterizou uma intromissão indevida nas relações bilaterais daqueles Estados e a recusa representou um ato inamistoso para com os Estados que ofertaram seus bons ofícios. Comentários: O oferecimento de bons ofícios, assim como sua recusa, não constituem atos inamistosos. Questão errada. 11. (Consultor Legislativo / Senado Federal-2002) Pela via do inquérito, instaura-se uma instância prévia para a posterior solução do conflito. Trata-se da investigação preliminar, por uma comissão conjunta, da materialidade dos fatos controvertidos. Posteriormente, parte-se para uma das esferas — diplomática, política ou judiciária — de solução de controvérsias. Comentários: O inquérito é uma instância prévia à solução de controvérsias. Busca-se, por meio do inquérito, apurar fatos controvertidos para, depois, partir para a soluçãodo conflito com a utilização de meios políticos, diplomáticos ou judiciários. Questão correta. 12. (Consultor Legislativo / Senado Federal-2002) As sentenças arbitrais são definitivas e imodificáveis. Comentários: As sentenças arbitrais são definitivas, porém podem ser modificadas. Questão errada. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 17 13. (Consultor Legislativo / Senado Federal-2002) Para o direito internacional contemporâneo, o uso de meios coercitivos para a solução de controvérsias apenas se legitima com a aprovação e determinação das organizações internacionais. Comentários: O direito internacional tem como princípio básico o de que as controvérsias deverão ser resolvidas com a utilização de meios pacíficos. Os meios coercitivos somente poderão ser legitimamente empregados com autorização de organizações internacionais. Questão correta. 14. (Instituto Rio Branco-2008) O sistema de solução de controvérsias da OMC corresponde à forma arbitral de composição de conflitos e, como tal, não é passível de pedido recursal. Comentários: Os grupos especiais atuam como tribunais arbitrais, mas da decisão deles caberá recurso ao Órgão de Apelação da OMC. Questão errada. 15. (AFC/CGU-2008) Constituída em 1998, essa corte internacional dedica-se a julgar as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade de alcance internacional, sendo complementar às jurisdições nacionais. Indique qual das instituições abaixo corresponde a essa descrição. a) Corte Internacional de Justiça. b) Corte Interamericana de Direitos Humanos. c) Tribunal Penal Internacional. d) Corte Permanente de Arbitragem. e) Conselho de Segurança das Nações Unidas. Comentários: A Corte com competência para julgar os crimes de maior gravidade de alcance internacional é o Tribunal Penal Internacional. O gabarito é a letra c). 16. (OAB-2008.1) Acerca de tribunais internacionais e de sua repercussão, assinale a opção correta. a) O Tribunal Penal Internacional prevê a possibilidade de aplicação da pena de morte, ao passo que a Constituição brasileira proíbe tal aplicação. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 18 b) O § 4.º do art. 5º da Constituição Federal prevê a submissão do Brasil à jurisdição de tribunais penais internacionais e tribunais de direitos humanos. c) O Estatuto de Roma não permite reservas nem a retirada dos Estados-membros do tratado. d) O Estatuto de Roma, que criou o Tribunal Penal Internacional, estabelece uma diferença entre entrega e extradição, operando a primeira entre um Estado e o mencionado tribunal e a segunda, entre Estados. Comentários: Letra A: errada. Não há previsão, no Estatuto de Roma, para a aplicação de pena de morte. Letra B: errada. O art. 5º, § 4.º, da CF/88 prevê apenas que o Brasil se submete à jurisdição do Tribunal Penal Internacional (e não de todos os Tribunais de direitos humanos). Letra C: errada. O Estatuto de Roma não admite reservas. No entanto, ele admite a retirada dos Estados- parte. Letra D: correta. A extradição se caracteriza pela entrega de uma pessoa por um Estado a outro Estado, enquanto pelo instituto da entrega o Estado entrega uma pessoa a um Tribunal Internacional. Atenção para esse item! Já foi objeto de questão. 17. (Procurador da Fazenda Nacional / 2003) Pode-se mencionar como exemplos de tribunais internacionais: a Corte Internacional de Justiça (sede em Haia), a Corte Interamericana de Direitos Humanos (San Jose da Costa Rica), o Tribunal Penal Internacional (Haia) e a Corte Constitucional Italiana (Roma). Comentários: A Corte Constitucional Italiana não é um tribunal internacional, ao contrário dos demais. Questão errada. 18. (Instituto Rio Branco-2009) Entre os princípios que regem as relações internacionais do Estado brasileiro, estão a prevalência dos direitos humanos e a solução pacífica dos conflitos (art. 4.º da Constituição Federal). Com relação à tendência contemporânea de institucionalização jurídica internacional, assinale a opção correta. a) Todos os Estados-membros da Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos estão, ipso facto, sujeitos à jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos, com sede em São José, na Costa Rica. b) A Corte Internacional de Justiça foi o primeiro tribunal internacional de caráter permanente estabelecido por tratado multilateral. c) Os tribunais de Nuremberg e de Tóquio, instituídos ao final da Segunda Guerra Mundial, foram estabelecidos com base em resoluções do então recém-criado Conselho de Segurança das Nações Unidas. d) A jurisdição do Tribunal Penal Internacional restringe-se a situações ocorridas no território de um Estado-Parte do Estatuto de Roma. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 19 e) Como mecanismo para a solução de controvérsias marítimas, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (também conhecida como Convenção de Montego Bay), estabeleceu o Tribunal Internacional do Direito do Mar. Comentários: Letra A: errada. Os Estados se submetem, facultativamente, à jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Letra B: errada. Antes da CIJ, tivemos a Corte Permanente de Justiça Internacional – CPJI, tribunal criado no âmbito da Liga das Nações. Letra C: errada. Os tribunais de Nuremberg e de Tóquio não foram criados por resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Letra D: errada. A jurisdição do Tribunal Penal Internacional não se restringe aos crimes praticados nos territórios dos Estados-parte do Estatuto de Roma, ou seja, a jurisdição do TPI independe de onde tenha sido praticado o crime. Letra E: correta. O Tribunal Internacional do Direito do Mar foi criado pela Convenção de Montego Bay para solucionar controvérsias marítimas. Esse é o gabarito da questão. 19. (Procurador da Fazenda Nacional / 2007) Indique V para os itens verdadeiros e F para os falsos. Em seguida, assinale a sequência correta. ( ) O Brasil ratificou o tratado internacional que constitui o Tribunal Penal Internacional. ( ) O Tribunal Penal Internacional, ademais de poder julgar Estados, exerce jurisdição sobre indivíduos acusados dos crimes previstos em seu Estatuto. ( ) Entre as penas previstas pelo Estatuto de Roma, que cria o Tribunal Penal Internacional, estão a prisão perpétua e a pena de morte. ( ) Entre os crimes da competência do Tribunal Penal Internacional estão os crimes de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra. ( ) O Estado condenado pelo Tribunal Penal Internacional está sujeito a sanções econômicas. a) V,V,F,V,V b) V,V,F,V,F c) V,V,V,V,V d) V,F,F,V,F e) F,F,F,F,V Comentários: Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 20 A primeira assertiva está correta. De fato, o Brasil ratificou o Estatuto de Roma (2002), internalizando-o, mediante a EC nº 45/04, no seu art. 5º, §4º da Constituição Federal. A segunda assertiva está errada. O Tribunal Penal Internacional não pode julgar Estados. A competência do TPI é para o julgamento de indivíduos que cometeram crimes contra a humanidade, crimes de guerra, além de genocídio e agressão. A terceira assertiva está errada. O TPI não admite a pena de morte. A quarta assertiva está correta. O TPI tem competência para apurar os seguintes crimes: crimes de guerra, crimes contra a humanidade, genocídio e crimesde agressão. A quinta assertiva está errada. O TPI não julga Estados; ele apura a responsabilidade penal de indivíduos. Logo, o gabarito é a letra d). 20. (Procurador da Fazenda Nacional / 2004) A violação das leis de guerra por parte de um combatente nos conflitos internacionais implica sua punição. Em 17 de julho de 1998 foi adotado o Estatuto do Tribunal Penal Internacional, seus Anexos e a Ata Final da Conferência de Roma sobre o estabelecimento de um Tribunal Penal Internacional. O principal dispositivo do Estatuto, que figura no artigo 1o , consagra o princípio da complementaridade, nos termos do qual a jurisdição do Tribunal Penal Internacional a) será exercida em qualquer circunstância, mediante provocação da Organização das Nações Unidas, comprovada a violação das leis de guerra, com exceção dos crimes de genocídio. b) será exercida em qualquer circunstância, mediante provocação da Organização das Nações Unidas, a menos que o país prejudicado não tenha ratificado a Ata Final da Conferência de Roma. c) será exercida permanentemente, independente de provocação da Organização das Nações Unidas e de comprovação de violação das leis de guerra, dependendo, no entanto, de instalação de um tribunal ad hoc a ser designado pela Corte de Haia, mediante provocação de no mínimo cinco países signatários da Ata Final da Conferência de Roma. d) terá caráter excepcional, isto é, somente será exercida em caso de manifesta incapacidade ou falta de disposição de um sistema judiciário nacional para exercer sua jurisdição primária, ou seja, os Estados terão primazia para investigar os crimes previstos no Estatuto do Tribunal. e) terá caráter eventual, isto é, somente será exercida em caso de comprovada violação de crimes contra a humanidade, dependendo, no entanto, de instalação de um tribunal a ser organizado pelas forças de ocupação. Comentários: A jurisdição do TPI é complementar à dos Estados, o que significa que “terá caráter excepcional, isto é, somente será exercida em caso de manifesta incapacidade ou falta de disposição de um sistema judiciário nacional para exercer sua jurisdição primária, ou seja, os Estados terão primazia para investigar os crimes previstos no Estatuto do Tribunal”. O gabarito da questão é a letra d). 21. (Procurador BACEN-2006) Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 21 No âmbito da Corte Internacional de Justiça, é cláusula facultativa de jurisdição obrigatória a que: a) permite ao Estado membro da ONU decidir se adere ou não ao Estatuto da Corte. b) uma vez aceita pelo Estado-parte no Estatuto, garante a jurisdição da Corte em todos os conflitos internacionais que envolvam aquele Estado, verificada a reciprocidade. c) uma vez aceita pelo Estado-parte no Estatuto, garante a jurisdição da Corte em todos os conflitos internacionais que envolvam aquele Estado, independentemente de reciprocidade. d) possibilita aos Estados membros da ONU a opção, no caso concreto, de se submeter à jurisdição da Corte. e) garante ao Estado-parte no Estatuto ampla imunidade de jurisdição ratione materiae. Comentários: Questão bem direta! Se um Estado aderir à cláusula facultativa de jurisdição obrigatória, isso significa que ele se submete automaticamente à jurisdição da CIJ em todos os conflitos internacionais que o envolvam. Há que se observar, ainda, a reciprocidade, pois se um Estado se submete à jurisdição da CIJ, o outro litigante também deverá fazê-lo (ainda que no caso concreto) para que a controvérsia seja apreciada. Se o Estado não aderir a essa cláusula, terá que declarar, caso a caso, sua submissão à jurisdição da CIJ. A resposta é, portanto, a letra b). 22. (Juiz Federal – TRF-2ª Região-2009) O fato de um Estado oferecer ajuda a outros dois Estados para resolver certa controvérsia, sem, contudo, interferir nas negociações, configura o meio de solução de controvérsias denominado: a) mediação. b) conciliação. c) bons ofícios. d) inquérito. e) troca de notas. Comentários: Se o terceiro auxilia na solução da controvérsia sem interferir nas negociações, o meio de solução usado é o denominado de “bons ofícios”. O gabarito é a letra d). 23. (Juiz Federal – TRF-2ª Região-2009) O instrumento no qual as partes elegem a arbitragem internacional como forma de solução de possíveis litígios futuros caracteriza: a) o compromisso arbitral. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 22 b) a qualificação prévia arbitral. c) a cláusula de eleição do foro. d) o reenvio prejudicial arbitral. e) a cláusula compromissória. Comentários: O compromisso arbitral é um tratado celebrado após o surgimento do litígio! A cláusula arbitral ou cláusula compromissória é o instrumento por meio do qual as partes elegem a arbitragem como forma de solução de um conflito futuro. A cláusula compromissória é, portanto, prévia ao surgimento do conflito. O gabarito é a letra e). 24. (Instituto Rio Branco – 2010) Assinale a opção que apresenta o mecanismo de solução pacífica de controvérsias internacionais a que corresponde a descrição abaixo: “Quando as negociações diretas mostram-se ineficazes, é utilizado mecanismo que recorre à participação de um terceiro Estado, que tem como função aproximar os litigantes. A característica principal do mecanismo consiste em que o Estado harmonizador não tome parte nas negociações entre os contendores nem na solução da controvérsia, pois seu papel consiste apenas em colocá-los em contato, a fim de que sejam retomadas as negociações interrompidas.” a) bons ofícios b) sistema consultivo c) negociação direta d) mediação e) conciliação Comentários: A assertiva descreve o meio de solução de controvérsias conhecido como bons ofícios. Nos bons ofícios, o terceiro apenas irá buscar aproximar os litigantes, sem tomar parte nas negociações e sem apresentar seu posicionamento. Na mediação, ao contrário, o terceiro, além de aproximar os litigantes, apresenta proposta para a solução da controvérsia. Letra a). 25. (Juiz Federal / TRF 5a Região – 2013) Com relação aos crimes de competência do TPI, assinale a opção correta. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 23 a) A transferência, à força, de crianças de um grupo religioso para outro é classificada como crime contra a humanidade. b) O TPI pode exercer jurisdição sobre o Estado como um todo apenas em caso de crime de agressão. c) O crime de apartheid é praticado no contexto de um regime institucionalizado de opressão e domínio sistemático de um grupo racial sobre um ou mais grupos nacionais e com a intenção de manter esse regime. d) O TPI não tem jurisdição em relação aos crimes de guerra cometidos em conflitos armados não internacionais se não existir declaração formal de guerra. e) As normas costumeiras sobre crimes de guerra somente podem ser base para o julgamento do TPI se estiverem codificadas em tratados. Comentários: Letra A: errada. A transferência, à força, de crianças de um grupo religioso para outro é classificada como crime de genocídio. Letra B: errada. A jurisdição do TPI não se dá sobre os Estados, mas sim sobre as pessoas. Letra C: correta. O crime de apartheid é um crime contra a humanidade e, segundo o Estatuto de Roma, é praticado no contexto de um regime institucionalizado de opressão e domínio sistemático de um grupo racial sobre um ou mais grupos nacionais e com a intenção de manter esse regime. Letra D: errada. A definição de crimes de guerra abrange atos praticadosem conflitos armados não internacionais. Atenção! Esse item já caiu mais de uma vez nos certames públicos. Letra E: errada. Não há necessidade de que normas costumeiras estejam codificadas para que sirvam de base para o julgamento do TPI. O gabarito é a letra C. 26. (Juiz Federal / TRF 3a Região – 2011) No que se refere ao Tribunal Penal Internacional, assinale a opção correta. a) De acordo com o Estatuto de Roma, esse tribunal tem competência expressa para julgar o terrorismo como crime contra a humanidade. b) As línguas de trabalho, nesse tribunal, são o inglês e o francês. c) Trata-se de organismo especializado da ONU. d) De acordo com o que prevê o Estatuto de Roma, esse tribunal pode decidir pela pena de morte em casos graves. e) Essa corte começou a funcionar em 1998, com a conclusão do Estatuto de Roma. Comentários: Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 24 Letra A: errada. O terrorismo não se enquadra como crime contra a humanidade. Letra B: correta. De fato, as línguas de trabalho do TIP (também chamadas de línguas oficiais) são o inglês e o francês. Letra C: errada. O TPI não é órgão da ONU. Letra D: errada. O TPI não poderá decidir pela aplicação da pena de morte. Letra E: errada. O TPI começou a funcionar em 2002, com a entrada em vigor do Estatuto de Roma. O gabarito é a letra B. 27. (Juiz Federal / TRF 1a Região – 2011) O TPI, instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade e funções complementares às jurisdições penais nacionais, constitui corte internacional vinculada à ONU, não dispondo de personalidade jurídica própria. Comentários: O TPI possui personalidade jurídica própria e não está vinculado à ONU. Questão errada. 28. (Juiz Federal / TRF 1a Região – 2011) Nos termos do Estatuto de Roma, o TPI só poderá exercer os seus poderes e funções no território de qualquer Estado-parte, sendo-lhe defeso agir em relação a atos praticados no território dos Estados que não tenham subscrito o Estatuto. Comentários: O TPI também poderá exercer sua jurisdição em relação aos crimes praticados por nacionais de Estados-parte do Estatuto de Roma, independentemente de onde tenham praticado o crime. Questão errada. 29. (Juiz Federal / TRF 1a Região – 2011) O TPI poderá impor à pessoa condenada pelos crimes que afetem a humanidade no seu conjunto a pena de prisão perpétua, se o elevado grau de ilicitude e as condições pessoais do condenado o justificarem. Comentários: De fato, é possível que o TPI aplique a pena de prisão perpétua, se o elevado grau de licitude e as condições pessoais do condenado o justificarem. Questão correta. 30. (Procurador da República / MPF – 2011) A jurisdição do Tribunal Penal Internacional é desencadeada (“trigger”) pelo princípio da complementaridade, segundo o qual: Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 25 a) a jurisdição somente incide nas hipóteses em que o Estado-Parte do Estatuto de Roma falha na persecução penal de crime da competência material do tribunal, por incapacidade efetiva ou falta de vontade para a promover; b) o procurador do tribunal é independente e não pode ser impedido de iniciar uma investigação, sempre que constatar a falta de vontade ou a incapacidade efetiva de um Estado-Parte do Estatuto de Roma de promover a persecução penal de crime da competência material do tribunal; c) a admissibilidade de caso depende da falha na persecução penal doméstica de crime da competência material do tribunal, por incapacidade efetiva ou falta de vontade do Estado com jurisdição sobre o mesmo; d) o tribunal tem primazia na persecução penal de crime de sua competência material, sem prejuízo da jurisdição dos Estados-Parte. Comentários: Letra A: errada. A falha na persecução penal é um requisito para admissibilidade do caso. Assim, não diz respeito à jurisdição do TPI. Letra B: errada. A falha na persecução penal não é um requisito para que o Procurador do TPI inicie uma investigação. Letra C: correta. A atuação do TPI é subsidiária, ou seja, a admissibilidade do caso depende da falha na persecução penal doméstica, por incapacidade efetiva ou falta de vontade do Estado. Letra D: errada. A primazia na persecução penal não é do TPI, competindo aos Estados a repressão dos crimes de alta gravidade de competência do Tribunal. O gabarito é a letra C. 31. (Diplomata – Instituto Rio Branco – 2015) O Estatuto de Roma, ratificado pelo Brasil, obriga a entrega, para julgamento, de brasileiros acusados de crimes contra a humanidade, bastando, para isso, solicitação de qualquer dos demais países signatários do tratado. Comentários: Os brasileiros que praticarem crimes contra a humanidade poderão ser entregues para o Tribunal Penal Internacional (TPI). A entrega (“surrender”) depende, todavia, de requerimento do próprio TPI (e não da solicitação de Estados signatários do Estatuto de Roma!). Questão errada. 32. (Diplomata – Instituto Rio Branco – 2014) A regra do esgotamento das vias internas, ainda que comporte exceções, configura requisito de admissibilidade das demandas no Sistema Interamericano de Direitos Humanos, dado o caráter subsidiário dos tribunais internacionais de direitos humanos. Comentários: Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 26 O Estado é o principal responsável pela proteção aos direitos humanos dos seus nacionais, sendo a atuação dos tribunais internacionais apenas subsidiária. No sistema interamericano de direitos humanos, é um dos requisitos de admissibilidade das demandas o esgotamento dos recursos internos. Questão correta. 33. (Diplomata – Instituto Rio Branco – 2018) A jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos reconhece a responsabilidade do Estado por violações de direitos humanos não apenas como resultado de uma ação ou omissão a ele diretamente imputável, mas também em virtude da falta de devida diligência do Estado em prevenir uma violação cometida por particulares. Comentários: Além de responder pelas ações e omissões a ele diretamente imputáveis, os Estados também respondem por não atuarem com a devida diligência a fim de coibir e prevenir violações cometidas por particulares. Acerca desse tema, faz-se necessário relembrar um caso interessantes em que o Brasil foi julgado pela CIDH, que foi o Caso Damião Ximenes Lopes, em 2006. Damião Ximenes Lopes foi um cidadão portador de deficiência mental, que estava sendo tratado na Casa de Repouso de Guararapes, que era um Centro de atendimento psiquiátrico privado, contratado pelo Estado para prestar serviços de atendimento psiquiátrico sob a direção do Sistema Único de Saúde, localizada em Sobral, Ceará. O Brasil foi condenado por deixar que Damião morresse, vítima de maus tratos por particulares munidos de atribuições públicas. Observe que, nesse caso, a violação não foi praticada diretamente pelo Estado, mas sim por particulares. O Estado deveria, entretanto, atuar no sentido de prevenir violações praticadas por particulares. Questão correta. 2 - Direito de Guerra e Neutralidade 2.1 - Introdução O general Carl Von Clausewitz tem uma frase muito conhecida sobre a definição da real natureza da guerra. Para ele, “a guerra é a continuação da política por outros meios”. Tal associação entre guerra e política nos deixa bem claro que a guerra é uma forma pela qual um Estado tenta impor a sua vontade a outro. A guerra é, assim, um conflito armado envolvendo Estadossoberanos por meio do qual busca-se uma solução para um litígio. É, portanto, uma forma não-pacífica de resolução de controvérsias. Quando a diplomacia e a política não conseguem prosperar, a guerra muitas vezes tem início. Durante a maior parte da história da humanidade, a guerra foi um dos principais instrumentos utilizados pelos Estados para impor sua vontade a outros. É por isso que o direito internacional sempre se ocupou, ao longo dos anos, do estudo da guerra. O próprio Hugo Grócio, considerado por muitos o “pai do direito internacional”, tratou do tema em sua célebre obra “O direito da guerra e da paz”. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 27 Já imaginou que a guerra poderia ser um meio lícito de solução de conflito? Isso mesmo. Lícito! É isso que nos propomos a estudar em um primeiro momento: O direito de guerra. Esse direito pode ser subdividido em duas grandes vertentes: o jus ad bellum e o jus in bellum (ou jus in bello). A noção de jus ad bellum, que significa “direito à guerra”, ou, como preferimos, “direito do uso da força”, está associada à ideia de que há situações em que os Estados têm o direito a promover a guerra. Para falar como Santo Agostinho, há casos em que se pode considerar que há uma “guerra justa”. Atualmente, com a declaração de que a guerra é um ilícito, admite-se que esta ocorra apenas em duas situações: (1) Sabemos que a regra da Carta das Nações Unidas é a proposição da paz. Inclusive, há de se ressaltar o art. 2º, 4 da CNU, vejamos: “Artigo 2. A Organização e seus Membros, para a realização dos propósitos mencionados no Artigo 1, agirão de acordo com os seguintes Princípios: 4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.” Há, todavia, a possibilidade de argumentar quanto a uma exceção à regra. É o caso do art. 51 da CNU, vejamos: “Artigo 51. Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa individual ou coletiva no caso de ocorrer um ataque armado contra um Membro das Nações Unidas, até que o Conselho de Segurança tenha tomado as medidas necessárias para a manutenção da paz e da segurança internacionais. As medidas tomadas pelos Membros no exercício desse direito de legítima defesa serão comunicadas imediatamente ao Conselho de Segurança e não deverão, de modo algum, atingir a autoridade e a responsabilidade que a presente Carta atribui ao Conselho para levar a efeito, em qualquer tempo, a ação que julgar necessária à manutenção ou ao restabelecimento da paz e da segurança internacionais.” É o caso da legítima defesa individual ou coletiva, em caso de ocorrer um ataque armado contra um Estado. A legítima defesa deverá ser dada a uma agressão atual ou iminente, de forma proporcional. Ato contínuo, deverá haver a comunicação imediata ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU). Há de se ressaltar, no entanto, que essa reação só deverá ocorrer até que o CSNU tome as rédeas da situação. Essa ação, que denominamos de agressão consiste no emprego da força armada, por parte de um Estado, contra a soberania, a integridade territorial ou. A independência política de um outro Estado, de forma incompatível com a Carta da ONU11. Mas, atenção! Pois o ataque pode ainda não ter ocorrido, mas estar na sua iminência. Nesse caso, o Estado poderá, dentro da perspectiva da legítima defesa, reagir a fim de neutralizar as capacidades de outro Estado em ataca-lo. O Prof. Marcello Dias Varella aduz a presença da legítima defesa a uma agressão iminente em algumas polemicas internacionais relativamente recentes. É o caso, por exemplo, da Guerra dos Seis Dias (1967), quando o Estado de Israel atacou o Egito alegando legítima defesa, tendo em vista que o ataque egípcio era iminente e irremediável.12 11 Resolução 3314 (XXIX) de 1974. 12 VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público, 8ª Ed., São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pp. 516. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 28 Quanto a essa possibilidade, existe, ainda, uma teoria mais extensiva, caso da legítima defesa preventiva. Ela fundamenta-se na defesa a um ataque armado futuro. Apesar dos EUA defenderem fortemente a sua utilização, a ONU, além de grande parte da sociedade internacional, não concorda com essa teoria. (2) No caso de medidas referentes à segurança coletiva, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) pode utilizar-se de medidas para manutenção da paz e da segurança internacionais13. Consiste em uma ação conjunta da Comunidade Internacional contra um Estado ou um grupo considerado pela maioria dos Estados como culpado por violar a paz internacional. Varella ressalta que a criação desse instrumento se deu com vistas a evitar uma Terceira Guerra Mundial14. Essa hipótese ocorrerá nos termos do famoso Capítulo VII da CNU. O jus in bello, que significa “direito na guerra”, por sua vez, é o conjunto de normas que os Estados devem observar ao entrarem em um conflito armado. É também chamado de “direito da Haia”, regulando práticas como a declaração formal de guerra e o armistício. Em sua maior parte, todas essas práticas já caducaram desde que a guerra foi considerada um ilícito. É possível considerar que a noção de jus in bellum também abrange as normas de direito internacional humanitário, que estão consubstanciadas nas Convenções de Genebra e têm como preocupação central a proteção da pessoa humana em situações de conflito armado. Atualmente, a guerra é considerada um meio ilícito para a solução de controvérsias. 2.2 - Evolução do Direito da Guerra O direito da guerra era, inicialmente, de caráter costumeiro (consuetudinário). Foi apenas no século XIX e XX que começaram a ser elaboradas as primeiras convenções internacionais regulando os conflitos armados. Em 1907, foram elaboradas as Convenções da Haia, que tratam do direito da guerra. É importante não as confundir com as Convenções de Genebra, que versam sobre o direito humanitário. Nas Convenções da Haia, são disciplinados rituais como a declaração de guerra e o armistício. Segundo Francisco Rezek15, as normas aplicáveis aos conflitos armados se agrupam em torno de três princípios básicos: a) limites ratione personae: Os não-combatentes deverão ser poupados de qualquer ataque ou dano intencional. b) limites ratione loci: Os lugares atacáveis são somente aqueles que configuram objetivos militares cuja destruição represente para o autor uma clara vantagem militar. c) limites ratione conditionis: As armas e os métodos de guerra que causem sofrimento excessivo aos combatentes inimigos serão proibidos. 13 VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público, 8ª Ed., São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pp. 514-515. 14 VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público, 8ª Ed., São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pp. 520. 15 REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar, 11ª ed, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, PP. 371. Matheus Atalanio, Ricardo Vale Aula 08 Direito Internacional Público p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 29 Hildebrando Accioly16, ao explicar sobre o direito da guerra, defende que há dois princípios que o regem. a) Princípio da necessidade: A guerra seria a “ultima ratio regis” (“ultima voz dos reis”). Um Estado somente deverá atacar o outro após ter esgotado todos os recursos para alcançar, seja por meios pacíficos ou coercitivos, o seu objetivo.
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