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Jornalismo Especializado Jornalismo Econômico Jornalismo Econômico no Brasil • Informações de natureza econômica sempre estiveram presentes no jornalismo desde os primórdios da imprensa. No Brasil, jornais do final do século XIX já publicavam colunas de temática econômica. Nos anos 30, o jornalista Austregésilo de Athayde assinou por anos uma coluna sobre o mercado de café, principal produto da economia brasileira da época • O jornalismo econômico começa a se desenvolver no país na Era Vargas, entre a déc. de 40 e meados dos anos 50, quando o presidente Getúlio Vargas impulsiona o setor com a criação de grandes empresas estatais nacionais, como a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), a Petrobras e a Vale do Rio Doce (hoje Vale), iniciando uma política de investimentos públicos em infraestrutura e na construção de uma indústria de base no Brasil. • Esse projeto nacionalista desenvolvimentista terá sequência nos planos de modernização e industrialização do governo Juscelino Kubistchek, que pretendia fazer o Brasil crescer 50 anos em 5. Nessa época, porém, o jornalismo econômico ainda não ocupa lugar próprio nos jornais. Até a primeira metade dos anos 50, tem-se na verdade um colunismo de economia, isto é, artigos de análise econômica, publicados em espaços reduzidos e assinados em geral por alguém que mantinha também um emprego na área pública ou privada. • Da segunda metade da década em diante, período de modernização da imprensa brasileira, começa a surgir um jornalismo propriamente econômico, com produção de notícias (ou seja, de informação, e não apenas opinião) da economia. Datam desse período de profissionalização do jornalismo no país as primeiras seções dedicadas à cobertura jornalística de economia. Contudo, ainda não se pode falar em um jornalismo especializado em economia, pois não há então uma cobertura sistemática dos assuntos da área. • Esse jornalismo surgirá no momento de censura à imprensa com a ditadura instituída pelo golpe de 1964, que impõe silêncio principalmente ao jornalismo político. Com os jornais sob vigilância dos censores e proibidos de publicar matérias contrárias aos interesses dos dirigentes militares, a imprensa encontra na economia uma área pródiga em boas notícias, em função do dinamismo alcançado pelo país no setor, resultado da industrialização, do crescimento do PIB e do mercado interno. • Surgem enfim as editorias de economia nos jornais, e os jornalistas da área tornam-se os mais bem pagos da redação. A setorização da cobertura, com jornalistas acompanhando de perto as notícias de órgãos como o Banco Central, a Bolsa de Valores, o IBGE e o Ministério da Fazenda, contribuiu para o processo de qualificação dos jornalistas para o jornalismo especializado em economia que acontece a partir dessa época. • No contexto de euforia com o “milagre econômico" brasileiro, o crescimento do país torna-se pauta constante da agenda política e do noticiário: Para os militares, as editorias de economia representavam um espaço de menor risco porque as informações eram basicamente sobre o setor público, e os dados e índices eram oficiais, fornecidos pelo BNDE, pelo CMN, pela Associação Comercial, pelas Federações das Indústrias, e pelo Ministério da Fazenda. • Além de se organizarem as primeiras editorias de economia, o momento marca também o surgimento ou a consolidação de publicações especializadas, como a criação, no jornal Correio da Manhã, do caderno Diretor Econômico, considerado um marco dessa especialização jornalística, com suas 16 páginas diárias dedicadas à economia. Outro marco é a Gazeta Mercantil, a primeira experiência de sucesso como jornal econômico informativo. (CALDAS, 2008, p. 20) • Com as editorias de economia e as publicações especializadas, o brasileiro começa a travar contato com um jornalismo de serviço voltado para a economia popular que se desenvolve nessa época, não só na imprensa escrita como também na televisão, que enfrenta o desafio de traduzir o economês da área para uma linguagem popular, compreensível para a massa de espectadores de diferentes classes sociais. Há um cuidado em ser didático para falar com leitores e espectadores não familiarizados com temas e termos como inflação, correção monetária, PIB, etc. • Ao fim da ditadura em 1985, a política volta ao centro das atenções com a redemocratização do país e todo o processo de remover os entulhos do regime militar. Mas o jornalismo econômico já está consolidado como um segmento importante da imprensa e se especializa ainda mais nos anos seguintes, em função da instabilidade da moeda no país e dos planos econômicos que se sucedem, até meados da década de 90, na tentativa de domar a inflação: Cruzado (início de 1986), Cruzadinho (meados de 1986), Cruzado II (final de 1986), Bresser (junho de 1987), Verão (janeiro de 1989), Collor (março de 1990), Collor 2 (janeiro de 1991) e Real (1994). • Nunca as decisões do governo em relação à economia afetaram tanto a vida dos brasileiros como nesse período. Foram quase dez anos de turbulências, que incluíram o traumático confisco da caderneta de poupança - até então considerada blindada contra riscos - no governo Collor. Até a estabilização da economia, em 1994, o jornalismo especializado na área precisou decifrar para todos os brasileiros os “pacotes” econômicos, seus gatilhos e congelamentos de preços explicando didaticamente as • mudanças e avaliando a repercussão dos mesmos na sociedade e na vida de cada um. E, hoje, com o Brasil despontando como potência econômica mundial e com a globalização a interligar o planeta principalmente no aspecto econômico e financeiro, o papel do jornalismo econômico é essencial. Principais veículos da atualidade no exterior: • - EUA: The Wall Street Journal • - Inglaterra: Financial Times • - França: Les Echos • - Alemanha: Handelsblat Formação e Mercado • O jornalista que atua na editoria de economia ou em publicações especializadas na área necessita adquirir conhecimentos específicos para melhor se capacitar para o exercício da profissão. • Embora esses conhecimentos possam ser obtidos através da experiência, é possível se preparar através de cursos oferecidos por instituições como a Bovespa, a BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) e entidades empresariais, em geral gratuitos. Além disso, existem pós-graduações lato-sensu (especializações) em jornalismo econômico, em geral de 360 horas, que proporcionam uma formação qualificada na área, não exatamente técnica, mas acadêmica, fornecendo fundamentos de macroeconomia, finanças, mercado de capital, empreendimentos e indicadores, além de abordar criticamente todos os aspectos envolvidos na cobertura jornalística da área. O Mercado • O mercado de jornalismo econômico oferece muitas oportunidades para o bom profissional. Além da grande mídia, jornais, revistas e TV, principalmente, existe uma série de publicações de empresas, entidades e instituições da área econômica (house organs), além de assessorias de imprensa, em que o jornalista com experiência em cobertura econômica encontra um bom campo de atuação, tendo em vista a demanda de profissionais especializados em finanças para atendimento a empresas e órgãos públicos em suas necessidades de comunicação com o público e divulgação de suas ações. • Um novo mercado de trabalho surgiu com a internet e o jornalismo on-line. Além dos sites de empresas, bancos e provedores - queprosperaram na bolha da Web no início dos anos 2000 - o surgimento de novas plataformas de comunicação, como o celular, abriu um novo mercado para informações econômicas ao longo da década, que tira proveito da mobilidade e da instantaneidade das novas tecnologias, oferecendo informação em tempo real para executivos e investidores, ou o cidadão comum, que precisa ser permanentemente atualizado e deve tomar decisões rápidas. • Embora o jornalismo on-line seja um mercado em expansão, os principais veículos de jornalismo econômico no país ainda são representantes da mídia tradicional, jornais e revistas impressas. Dentre os especializados devemos destacar o jornal Valor Econômico (criado em 2000, divide sua cobertura em cinco áreas: macroeconomia e política; legislação e tributos; internacional; finanças; empresas e tecnologia) e a revista Exame, publicação especializada de maior tiragem no país, foca a chamada microeconomia (empresas e negócios). • Até maio de 2009, os dois dividiam espaço com a tradicional Gazeta Mercantil, fundada em 1920, que, de modesto boletim econômico-financeiro voltado ao mercado paulista, chegou a ser referência nacional e latino-americana em jornalismo especializado em economia e negócios. Fechou naquele ano, em função de crise financeira. Dentre os jornais não- especializados, destacam-se O Estado de S. Paulo, jornal que publica o maior caderno diário de economia, Folha de S. Paulo e O Globo. O Texto • A economia é uma das áreas da especialização jornalística que mais exige do repórter/redator na hora de escrever a matéria: a fim de traduzir em linguagem clara e objetiva o vocabulário especializado dos economistas - indecifrável para o público - é preciso, em primeiro lugar, conhecer os fundamentos do setor para poder compreendê-los e transmiti-los com simplicidade, convertendo jargões, siglas, conceitos, expressões e termos técnicos na maioria das vezes importados, como o subprime (hipotecas norte-amercicanas) que causou uma crise econômica internacional (aparentemente já sanada nos EUA), em palavras e contextos que façam sentido para quem é leigo na área. • É verdade que muitos termos que um dia foram considerados economês, como inflação, juros embutidos ou recessão, já foram assimilados pelo público não especializado graças ao trabalho didático da mídia e ao aprendizado forçado do brasileiro no passado recente, mas a área econômica é pródiga em criar novos termos ou trazê-los à baila em função das circunstâncias. O cuidado com a linguagem tem a tarefa não só de tradução, mas também de desfazer possíveis intenções deliberadas de restringir o entendimento de determinado assunto, tendo em vista os aspectos ideológicos e políticos envolvidos nos fatos econômicos. • Além do vocabulário específico, o jornalista de economia deve traduzir os números frios - índices, fatores, balanços - que povoam o noticiário da área, oferecendo ao público informação contextualizada, interpretada, que resulte em definição de tendências e indicativos capazes de proporcionar um quadro claro ao leitor, que vai orientá-lo em decisões práticas no seu cotidiano. Executivos ou trabalhadores, todos devem encontrar no jornalismo econômico material acessível e útil para sua vida profissional, doméstica, financeira, empreendedora. • Em síntese, o texto no jornalismo econômico deve se empenhar em fugir da aridez do vocabulário técnico para garantir a comunicabilidade da matéria, uma vez que uma linguagem ininteligível compromete a leitura. Mesmo que não seja possível banir os termos específicos da área - uma vez que eles sejam consagrados no segmento, inclusive internacionalmente - sempre há a alternativa de explicá-los didaticamente, com expressões mais simples, e de apresentar os temas em geral complexos da macroeconomia de forma atraente e jamais enfadonha ou burocrática. As páginas de economia também podem ser arejadas com as histórias da microeconomia, isto é, trajetórias individuais ou de grupos (empresas, negócios) que ilustram tendências, situações, problemas, soluções e iniciativas, imprimindo humanidade ao jornalismo econômico. Principais veículos no Brasil Principais nomes do jornalismo econômico Exercício Entregar na próxima aula impresso. Máx. 2 laudas com 20 toques. • Fazer uma matéria para jornal impresso diário a partir dos seguintes dados: • - Atividades de 'hoje' na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) • - Ações da Petrobras: aumento de 4% do Índice Bovespa (Ibovespa). • - Motivo: barril de petróleo subiu 2% na Bolsa de Nova York. • - No dia anterior, ações da Petrobras tinham caído 3% • - Bovespa fechou com alta de 1,5% • - Ações da Petrobras representaram 20% do movimento da Bovespa. • - Índice Bovespa (Ibovespa) perdeu 3% na semana passada, pela previsão de recessão mundial feito pelo FMI. Referência bibliográfica • O jornalismo econômico ontem e hoje: resgate histórico de sua expansão no Brasil. Hérica Lene, • Jornalismo Econômico, Bernardo Kucinski, São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo. 2007.
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