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TEORIA GERAL DO PROCESSO RESUMO

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T.G.P.
1. Direito Processual e Acesso à Justiça. Os Impactos do Neoconstitucionalismo no Direito Processual
1.1 A nova feição da jurisdição neoconstitucional 
1.1.1 Introdução
Segundo Humberto Theodoro Jr. , a ampla aceitação e a obediência à ordem jurídica pelos membros da coletividade dão-se porque esta se estabeleceu fundamentada na garantia da paz social e do bem comum, o que autoriza ao Estado, diante de uma transgressão a essas garantias, a adoção de medidas de coação, tendo em vista a proteção do ordenamento e sua credibilidade. Não obstante o entendimento das funções do Estado Moderno estar rigorosamente associado à célebre obra de Montesquieu – O espírito das leis –, pela qual o Estado seria representado pela separação dos poderes, hodiernamente vem prevalecendo a ideia de que o poder, como expressão da soberania estatal, é, na verdade, uno e indivisível. Nesse sentido, na concepção da doutrina mais moderna, a clássica expressão “separação de poderes” deve ser interpretada como uma divisão funcional de poderes. Convencionalmente chamada de funções do Estado, a divisão compreende, por conseguinte, as funções legislativa, administrativa e jurisdicional. Respectivamente, estas são as chamadas funções típicas dos Poderes Legislativo, executivo e judiciário. 
1.1.2 A Jurisdição e o Estado Contemporâneo 
Desde a organização do sistema judiciário brasileiro, o conceito de jurisdição vem passando por grandes transformações, a exemplo do que também ocorreu com o próprio papel do Poder Judiciário. Num primeiro momento, a intervenção do Judiciário nos conflitos era tímida. O juiz era considerado como a "boca da lei", ou seja, um mero repetidor do texto legal, encarregado, apenas, de fazer a subsunção da norma ao fato. Em seguida, pudemos observar a mudança de padrão para um intervencionismo maior, dando azo ao fenômeno chamado judicialização ou ativismo judicial. Nessa fase eram comuns as manifestações judiciais que interferiam em atos que se encaixavam no rol de atribuições das demais funções do Estado (Legislativo e Executivo). Hoje, buscamos o equilíbrio entre esses dois perfis. Enquanto no Estado Liberal o juiz era contido, e no Estado Social ele deveria assumir uma postura mais ativa, hoje, no Estado Democrático de Direito, espera-se que o magistrado utilize seus inúmeros poderes de forma ponderada e razoável, devendo priorizar a busca de soluções conciliatórias e prestigiar o debate entre as partes. A partir dessa ideia, podemos identificar a jurisdição como sendo, simultaneamente, um poder – capacidade de impor suas decisões imperativamente –, uma função – como encargo que o Estado assume de pacificar os conflitos sociais – e uma atividade. Corroborando com o exposto até então, Cândido Rangel Dinamarco ressalta que a jurisdição não consiste em um poder, mas o próprio poder estatal que é uno1. Para Luiz Guilherme Marinoni : Diante da transformação da concepção de direito, não há mais como sustentar as antigas teorias da jurisdição, que reservavam ao juiz a função de declarar o direito ou de criar a norma individual, submetidas que eram ao princípio da supremacia da lei e ao positivismo acrítico. (...) Expressão concreta disso são os deveres de o juiz interpretar a lei de acordo com a Constituição, de controlar a constitucionalidade da lei, especialmente atribuindo-lhe novo sentido para evitar a declaração de inconstitucionalidade, e de suprir a omissão legal que impede a proteção de um direito fundamental. Assim, facilmente apreende-se por todo o exposto que não é possível conceber nos dias atuais a atividade jurisdicional divorciada dos princípios constitucionais, em especial os princípios do acesso à justiça e da dignidade da pessoa humana.
1.1.3 O Acesso à Justiça
 Cândido Rangel Dinamarco destaca, desde há muito, a relevância de se emprestar “interpretação evolutiva aos princípios e garantias constitucionais do processo civil”, reconhecendo que “a evolução das ideias políticas e das fórmulas de convivência em sociedade” repercute necessariamente na leitura que deve ser feita dos princípios processuais constitucionais a cada época . Com efeito, o acesso à justiça é um princípio essencial ao funcionamento do Estado de direito. Tal garantia, nas palavras de Cândido Rangel Dinamarco, “figura como verdadeira cobertura geral do sistema de direitos, destinada a entrar em operação sempre que haja alguma queixa de direitos ultrajados ou de alguma esfera de direitos atingida4” . Entretanto, antes de prosseguir no tema, é preciso fazer alguns esclarecimentos conceituais. Por acesso à justiça designamos o princípio constitucional previsto nos arts. 5°, XXXV da Carta de 1988 e 3° do CPC/2015, segundo o qual a todos é assegurada a busca da solução justa para o seu conflito. Nesse conceito se insere o de acesso à jurisdição, ou seja, a busca pela intervenção do Poder Judiciário. Assim sendo, a partir de um conflito de interesses entre duas partes, temos a noção de lide. Caso essa lide seja levada ao Poder Judiciário, ela se transforma numa demanda, e, por via de consequência, o acesso à jurisdição. Caso as partes prefiram que a lide seja resolvida por um árbitro, teremos acesso à justiça, mas não à jurisdição estatal, na medida em que o árbitro tem o poder de resolver o conflito, mas não integra os quadros do Poder Judiciário. Dentro do acesso à jurisdição, por vezes é necessário lançar mão de ferramentas para garantir que o cidadão tenha suas necessidades plenamente atendidas. Surgem, então, os conceitos de "justiça gratuita" e de "assistência jurídica". Pelo primeiro fenômeno, a lei dispensa o jurisdicionado do pagamento de custas, taxas e emolumentos em razão de sua situação de hipossuficiência. A matéria é regulada nos arts. 98 a 102 do CPC/2015. Por "assistência jurídica" entendemos a obrigação do Estado de fornecer um advogado (defensor público) para aqueles que desejem ingressar no Judiciário. Isso está previsto no art. 134 da Carta de 1988. Nunca é demais relembrar que as questões e problemas relacionados ao acesso à justiça têm sua origem na cidade de Florença, Itália, num projeto iniciado em 1971, com a Conferência Internacional relativa às garantias fundamentais das partes no processo civil. Nos dez anos subsequentes, o estudo teve continuidade, abrangendo o problema da assistência judiciária aos hipossuficientes, da proteção aos interesses difusos e, finalmente, da necessidade de implementação de novas solu- ções processuais. Esse movimento foi, então, difundido internacionalmente por Mauro Cappelletti, sendo fundamental esclarecer, resumidamente, as posições identificadas no bojo do movimento, a fim de que se compreenda melhor esse verdadeiro despertar da ciência processual para os problemas sócio-jurídicos enfrentados pelos países ocidentais . Sem dúvida, o acesso à justiça é direito social básico dos indivíduos, direito este que não deve restringir-se aos limites do acesso aos órgãos judiciais e ao aparelho judiciário estatal; deve, sim, ser compreendido como um efetivo acesso à ordem jurídica justa. Esse entendimento, trazido por Kazuo Watanabe6 , é de fundamental importância para a compreensão do movimento e para uma atuação sistemática e lúcida. Assim, inserem-se as propostas de modificação do Código de Processo Civil numa perspectiva reformadora mais consciente, no sentido de aprimorar a técnica e a substância do direito processual como meio essencial para que se permita o acesso à tão proclamada ordem jurídica justa. Ainda nas oportunas conclusões de Kazuo Watanabe, o direito de acesso à justiça tem como dados elementares: a) o direito à informação e ao perfeito conhecimento do direito substancial e à organização de pesquisa permanente, a cargo de especialistas e orientada à aferição constante da adequação entre a ordem jurídica e a realidade socioeconômica do país; b) direito de acesso à Justiça adequadamente organizada e formada por juízes inseridos na realidade social e comprometidos com o objetivo de realiza- ção da ordem jurídica justa; c) direito à pré-ordenação dos instrumentosprocessuais capazes de promover a efetiva tutela de direitos; d) direito à remoção de todos os obstáculos que se anteponham ao acesso efetivo à Justiça com tais características. Tais considerações nos levam a concluir que as velhas regras e estruturas processuais precisam, de fato, sofrer revisão e aprimoramento, com o intuito de que constituam instrumento cada vez mais eficaz rumo ao processo justo . Nesse ponto, Paulo Cezar Pinheiro Carneiro, após se propor a estudo com o objetivo de aferir se as reformas legislativas havidas em meio ao movimento de acesso à justiça foram fiéis às premissas iniciais, assevera que o desenvolvimento dessa empreitada depende da apresentação de proposta que contenha os quatro grandes princípios que devem informar o real significado da expressão acesso à justiça . Passemos, então, a uma breve análise desses princípios. O primeiro deles é a acessibilidade, que pressupõe a existência de sujeito de direito, com capacidade tanto de estar em juízo como de arcar com os custos financeiros para tanto, e que procedam de forma adequada à utilização dos instrumentos legais judiciais ou extrajudiciais, de tal modo a possibilitar a efetivação de direitos individuais e coletivos. A expressão desse princípio se dá por três elementos, quais sejam o direito à informação enquanto conhecimento dos direitos que se detém e da forma de utilizá-los; a garantia da escolha adequada dos legitimados para propositura das demandas; e, por fim, a redução dos custos financeiros do processo de forma que estes não dificultem ou inibam o acesso à justiça. O segundo princípio elencado pelo autor é o da operosidade, que se consubstancia no dever das pessoas que participam da atividade judicial ou extrajudicial de atuarem do modo mais produtivo e empenhado possível a fim de assegurar um efetivo acesso à justiça. Tal princípio tem aplicação nos campos objetivo e subjetivo. No primeiro, concretiza-se a partir de uma atuação ética dos sujeitos envolvidos no processo – incluindo os advogados e juízes – que devem sempre colaborar com as atividades direcionadas à democratização do processo. Já no campo objetivo, esse princípio indica a necessidade de utilização dos instrumentos e meios mais eficazes pelas partes, atuando eticamente para otimizar a produtividade, que se relaciona, em última instância, à perfeita conjugação do binômio celeridade-eficiência na constante busca pela verdade real e pela conciliação. O terceiro princípio é o da utilidade. Por utilidade entende-se que o processo deve assegurar ao vencedor tudo aquilo que lhe é de direito, do modo mais rápido e proveitoso possível e com o menor sacrifício para a parte vencida. Menciona o autor9 que “a jurisdição ideal seria aquela que pudesse, no momento mesmo da violação, conceder, a quem tem razão, o direito material”. Para colocar em prática a almejada utilidade do processo, devem ser considerados os seguintes fatores: I. a tentativa de conjugação harmoniosa, caso a caso, da segurança e celeridade; II. a importância da tutela antecipada para o preenchimento de lacuna naquelas situações em que existe um direito líquido e certo e, destarte, não seria razoável aguardar a conclusão do processo; III. a priorização permanente da execução específica como único meio de se alcançar a perfeita efetividade da prestação jurisdicional; IV. a observância da fungibilidade da execução, uma vez que, sendo o processo um instrumento de realização do direito material, não deve impedir o alcance de resultados práticos que sejam fiéis ao fim objetivado, devido ao tratamento rigoroso de seus institutos ou na defesa cega do princípio da congruência entre o pedido, a sentença e a execução; V. ampliação do âmbito de incidência da coisa julgado no plano subjetivo, permitindo que a mesma atinja um maior número de pessoas e, ainda, com maior limite objetivo prático, e, por fim; VI. não se pode permitir que o processo retroceda a todo tempo em função de alegações processuais que, intencionalmente ou não, impeçam o alcance da verdadeira finalidade do processo, qual seja a justa composição do direito material. Desse modo, é preciso limitar a incidência das nulidades processuais, considerando, sobretudo, a instrumentalidade e a efetividade do processo. O quarto e último princípio apontado pelo jurista é o da proporcionalidade. O referido princípio se consubstancia na necessidade de escolha pelo julgador, que constantemente se vê diante de inúmeros dilemas, examinando as possíveis soluções que mais se harmonizem com os princípios informadores do direito, e com os fins que determinado conjunto de regras visa a alcançar, privilegiando, ao final, o interesse mais valioso. Todos os princípios elencados por Paulo Cezar Pinheiro Carneiro, uma vez observados como pontos norteadores dos esforços para o aperfeiçoamento dos institutos e regras processuais, sem dúvida conduzirão à ampliação do efetivo acesso à justiça em nosso país. Muitas das reformas que se almejam requerem apenas aperfeiçoamentos técnicos, outras dizem respeito ao melhoramento da tutela dos interesses difusos ou ao desafogamento dos tribunais nacionais. O fato é que se deve ter em mente não só a necessidade de proceder às reformas do ponto de vista técnico-legislativo, mas também a necessidade de se adotarem medidas que permitam colocar em prática as mudanças havidas no campo teórico. Deve-se, ainda, compreender que o movimento em prol do efetivo acesso à ordem jurídica justa visa garantir nada menos do que um direito verdadeiramente fundamental de todos os jurisdicionados , o qual já constitui o foco da ciência processual moderna .
1.2 A evolução histórica e as recentes reformas na legislação processual brasileira: as premissas do novo CPC.
 1.2.1 Evolução histórica do direito processual brasileiro
Durante o período colonial, o Brasil era regido pelas leis processuais portuguesas, como não poderia deixar de ser, visto que Brasil e Portugal formavam um Estado único . Foi o período das Ordenações emanadas da Corte.
Vigoravam, nessa época: a) as Ordenações Afonsinas, de 1456, inspiradas, principalmente, no direito romano, no direito canônico e nas leis gerais elaboradas a partir do reinado de Afonso II, vigorando à época do Descobrimento; b) as Ordenações Manuelinas, de 1521, as primeiras editadas em territó- rio nacional; e c) as Ordenações Filipinas, promulgadas em 1603. Dispunham as Ordenações Afonsinas, de forma quase completa, sobre a administração pública. O processo civil foi regulado em seu livro III, composto por 128 capítulos, abrangendo os procedimentos de cognição, execução, bem como os recursos. A partir das Ordenações Manuelinas, promulgadas em 1521, poucas mudanças puderam ser verificadas em relação às Ordenações Afonsinas, tendo em vista que ambos os diplomas procuravam garantir o fortalecimento do Poder Real, bem como os interesses da Nobreza. No entanto, a análise das Ordenações Manuelinas demonstra que não havia separação entre os processos de conhecimento e de execução. Em 1603, foram promulgadas pelo rei de Portugal as Ordenações Filipinas, que permaneceram em vigor mesmo após a independência brasileira. De grande importância para o direito brasileiro e com uma estrutura bastante moderna, as Ordenações Filipinas eram compostas por 5 livros, dentre os quais o terceiro tratava da parte processual civil. Apesar da vigência das Ordenações Filipinas, o Brasil também era regido, nessa época, pelas Cartas dos donatários, dos governadores e ouvidores e, ainda, pelo poder dos senhores de engenho, que faziam sua própria justiça ou influenciavam a Justiça oficial, ora pelo prestígio que ostentavam, ora pelo parentesco com os magistrados. Foram sucedidas pela Lei de 18 de agosto de 1769. Com a proclamação da independência em 7 de setembro de 1822, tornou se necessária uma reestruturação da ordem jurídica interna, o que foi alcançado por meio da Carta Constitucional de 1824, com a introdução em nosso ordenamento de inovações e princípios fundamentais, principalmente no campo criminal, em que a necessidade de mudançasse fazia mais evidente, tais como a abolição da tortura e de todas as penas cruéis. Em contrapartida, verificaram se a consagração da divisão dos poderes e o estabelecimento da harmonia destes com o Poder Moderador, buscando garantir os direitos ditados pela Carta Magna, assim como a composição e independência do Poder Judiciário. Estipularam se ainda a necessidade e a obrigatoriedade de um juízo conciliatório prévio. Todavia, apesar da nova ordem constitucional que surgiu nesse momento, as Ordenações Filipinas e as demais normas jurídicas de origem portuguesa não perderam vigência, pois o Decreto de 20 de outubro de 1823, adotando as como lei brasileira, determinou que só seriam revogadas as disposições contrá- rias à soberania nacional e ao regime brasileiro. Assim, atendendo às exigências da Carta Constitucional, no campo processual penal, tivemos a promulgação do Código de Processo Criminal em 1832, que, rompendo com a tradição portuguesa, inspirou se nos modelos inglês (acusatório) e francês (inquisitório), fornecendo ao legislador brasileiro elementos para a elaboração de um sistema processual penal misto. Além disso, o novo Código trazia, em um título único composto por 27 artigos, a “disposição provisória acerca da administração da Justiça civil”, simplificando o processo civil ainda regulado pelas Ordenações Filipinas. Em 3 de dezembro de 1841, no entanto, entrou em vigor a Lei n. 261, posteriormente regulamentada na parte processual civil pelo Decreto n. 143, de 15 de março de 1842, modificando a disposição provisória do Código de Processo Criminal através do cancelamento de algumas reformas por ela trazidas. Em 1850, logo após a edição do Código Comercial, entraram em vigor os Regulamentos n. 737 (considerado o primeiro diploma processual brasileiro) e 738, que disciplinavam, respectivamente, o processo das causas comerciais e o funcionamento dos tribunais e juízes do comércio. O direito processual civil, contudo, permaneceu regulado pelas disposições das Ordenações e suas posteriores modificações, levando o governo a promover, em 1876, uma Consolidação das Leis do Processo Civil, com força de lei, que ficou conhecida como Consolidação Ribas, em virtude de sua elaboração a cargo do Conselheiro Antônio Joaquim Ribas. Proclamada a República, o Regulamento 737 foi estendido às causas cíveis, mantendo se a aplicação das Ordenações e suas modificações aos casos de jurisdição voluntária e de processos especiais. Após o advento da Constituição de 1891, no entanto, conferiu se aos Estados a possibilidade de legislar sobre matéria processual, aumentando o espectro de competência antes pertencente somente à União Federal, após o que várias leis foram promulgadas, regulamentando as mais diversas questões processuais. Em 1º de janeiro de 1916, foi editado o Código Civil Brasileiro, tratando não só das questões de direito material, mas também de algumas processuais. No Rio de Janeiro, então Distrito Federal, veio à luz o Código Judiciário de 1919, promulgado pela Lei n. 1.580, de 20 de janeiro, seguido pelo Código de Processo Civil do Distrito Federal, de 31 de dezembro de 1924, e devidamente promulgado pelo Decreto n. 16.751. Finalmente, a Carta de 1934 consagrou a unificação processual, atribuindo novamente a competência para legislar em matéria processual exclusivamente à União, o que foi mantido pela Constituição de 193712 , em seu art. 16, XVI, possibilitando assim a edição do Código Brasileiro de Processo Civil, através do Decreto n. 1.608, de 18 de setembro de 1939. A unificação processual se justificava pela necessidade de uma normatiza- ção uniforme ante o grande número de leis existentes em cada Estado e que, há muito, se faziam obsoletas e incapazes de satisfazer ao objetivo primordial do processo civil, qual seja, o de tutelar efetivamente os direitos dos particulares. Não obstante, o art. 1º do Código deixou à apreciação de lei especial a regulamentação de algumas matérias específicas, tais como as desapropriações, as ações trabalhistas e os litígios entre empregados e empregadores. O Código de 1939 teve o mérito de se inspirar nas mais modernas doutrinas europeias da época, introduzindo importantes inovações em nosso ordenamento processual, como o princípio da oralidade e a combinação do princípio dispositivo e do princípio do juiz ativo, permitindo maior agilidade nos procedimentos. O diploma era composto por 1.052 artigos, dispostos em dez livros; foi modificado por diversas leis extravagantes e se manteve em vigor até o último dia do ano de 1973.
1.2.2 O CPC/73 e as Reformas Processuais
Chegamos, assim, ao segundo Código de Processo Civil, introduzido em nosso ordenamento jurídico pela Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973, e baseado no anteprojeto de autoria de Alfredo Buzaid. Inaugurou se a Fase Instrumental, pela qual o processo não seria um fim em si mesmo, mas um instrumento para assegurar direitos. Com isso, surgiram a relativização das nulidades e a liberdade das formas para maior efetividade da decisão judicial. Para Buzaid, mais fácil se afigurava a criação de um novo Código processual civil que a correção do já existente, devido não só à pluralidade e diversidade de leis processuais então vigentes, mas também à necessidade de serem supridas diversas lacunas e falhas do Código de 1939, que o impediam de funcionar como instrumento de fácil manejo no auxílio à administração da Justiça . A superioridade técnica do novo diploma marcou um grande avanço no campo processual civil, muito embora o modelo processual ainda repousasse suas bases em institutos individualistas de tutela jurisdicional. O CPC de 1973 sofreu inúmeras alterações, sobretudo a partir do início da década de 1990. Teve início aí a chamada Reforma Processual, processo fragmentado em dezenas de pequenas leis que se destinam a fazer mudanças pontuais e ajustes “cirúrgicos”. Dentro dessas premissas, passamos a analisar o movimento do legislador brasileiro em prol das reformas processuais, sobretudo a partir da Emenda n. 45/04. Em dezembro de 2004, depois de intensos debates, foi finalmente aprovada e editada a Emenda Constitucional n. 45, que traz em seu bojo a chamada “Reforma do Poder Judiciário”. Tal Diploma inclui no Texto Constitucional temas relevantes, tais como a garantia da duração razoável do processo, a federalização das violações aos direitos humanos, a súmula vinculante, a repercussão geral da questão constitucional como pressuposto para a admissibilidade do recurso extraordinário e os Conselhos Nacionais da Magistratura e do Ministério Público. Em anexo ao texto da Reforma, é assinado pelos Chefes dos Três Poderes da República um “Pacto” em favor de um Judiciário mais rápido, eficiente e Republicano. Esse Pacto trouxe um novo pacote de reformas ao CPC, o que denotou, de maneira bem clara, que as modificações até então empreendidas não haviam sido suficientes para a efetiva melhora na qualidade da prestação jurisdicional. Vários projetos foram, então, encaminhados ao Congresso Nacional, principalmente pelo Instituto Brasileiro de Direito Processual Civil, originando outras alterações, dentre as quais a Lei n. 11.187/2005, que alterou novamente o regime do agravo e a Lei n. 11.232/2005, que deu novo tratamento à execução por quantia certa fundada em sentença, estendendo a essa a comunhão entre as instâncias cognitiva e executória, consagrando como regra o sincretismo, antes relegado à figura de situação excepcional no cenário executivo brasileiro. Já no ano de 2009, mais precisamente no dia 13 de abril, foi assinado o II Pacto Republicano. O referido Pacto, assinado pelos três poderes, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, em sua segunda versão, tem como objetivos: a) o acesso à Justiça, especialmente dos mais necessitados (inciso I), b) o aprimoramento da prestação jurisdicional (inciso II), e c) o aperfeiçoamento e fortalecimento das instituições do Estado (inciso III). Já em dezembro de 2010, a Lei n. 12.376 alterou apenas a ementa do Decreto n. 4.657/42, também conhecida como Lei de Introduçãoao Código Civil (LICC). Mais do que uma lei de introdução ao Código Civil, o referido diploma trata da regra geral de aplicação das normas, trazendo, inclusive, regras relevantes para o processo internacional e, por isso, a alteração veio apenas para dispor que o diploma, mais do que uma introdução ao Código Civil, deve chamar-se “Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro”. Todavia, não foram apenas essas novas leis em 2010 que caracterizaram menos alterações do que no ano anterior. Neste ano, houve também uma Emenda Constitucional, a EC n. 66, que trouxe impacto relevante não só para o direito civil, mas também para o processo civil. A partir da Emenda Constitucional n. 66/2010, surgiram inúmeras divergências no direito civil que influenciaram os procedimentos judicial e extrajudicial de separação e de divórcio. Alguns civilistas afirmam que teria acabado a separação no Brasil, enquanto outros acreditam que não se colocou fim à separação, mas apenas suprimiu os requisitos de 1 ano de separação judicial para o requerimento do divórcio ou de 2 anos de separação de corpos para o divórcio direto. Em consequência disso, questionou se qual seria a previsão dos procedimentos extrajudiciais a partir da Emenda Constitucional n. 66, se haveria a previsão de separação e de divórcio pela via extrajudicial ou apenas de divórcio direto. Em resposta ao pedido de providência ao Conselho Nacional de Justiça, feito pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família, solicitando que a Resolução n. 35 do CNJ, que regulamenta os procedimentos extrajudiciais, fosse adequada à emenda constitucional, ficou definido que o art. 53 da referida resolução estaria revogado e o art. 52 manteve a possibilidade de se requerer tanto a separa- ção como o divórcio direto pela via extrajudicial. Falemos, agora, um pouco sobre o novo Código de Processo Civil.
 1.2.3 O Código de Processo Civil de 2015
O P.L. n. 8.046/2010, que almejava a edição de um novo Código de Processo Civil, foi elaborado por uma Comissão composta por diversos juristas, que concluiu, em dezembro de 2009, a primeira fase de seus trabalhos. Depois, submeteu a proposta elaborada a oito audiências públicas, que resultaram na análise de mais de mil sugestões e, finalmente, ao processo legislativo. O projeto foi apresentado ao presidente do Senado no dia 8 de junho de 2010, sob o PL n. 166/2010. Foi, então, constituída uma Comissão no Senado para apresentar emendas ao projeto até o dia 27 de agosto de 2010 e, em novembro de 2010, já havia a divulgação dos relatórios parciais sobre o projeto. O relatório da Comissão do Senado, no dia 24 de novembro de 2010, veio com a apresentação de um projeto substitutivo, o PLS n. 166/2010, do Senador Valter Pereira, que foi, após algumas mudanças no texto do projeto substitutivo, aprovado no Senado, no dia 15 de dezembro de 2010. O projeto foi, então, para a Câmara dos Deputados, como PL n. 8.046/2010, seguindo, no dia 5 de janeiro de 2011, para a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. No dia 3 de fevereiro de 2011, o projeto estava na Coordenação de Comissões Permanentes e, no dia 4 de maio de 2011, em plenário, foi requerida a nomeação de comissão especial, para analisar o projeto para um novo Código de Processo Civil. Em 5 de julho, já na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, o Requerimento n. 1.560/2011, de criação da comissão especial para análise do projeto de lei, foi julgado prejudicado, tendo em vista a determinação de instalação da Comissão Especial. Já no ano de 2013, foram apresentadas duas novas versões, uma em janeiro e outra em junho. Em julho o texto foi aprovado pela Comissão Especial e remetido ao pleno. Em dezembro de 2013 e março de 2014 foram apresentados e votados Destaques. Finalmente em 25 de março foi votada e aprovada a versão final, que já foi devolvida ao Senado. O Senado reconvocou sua Comissão original, promoveu diversas alterações no texto e aperfeiçoou a redação. A versão final foi votada em dezembro de 2014, em dois dias. No primeiro o texto-base, e no segundo os destaques (maté- rias mais polêmicas, sobre as quais não havia consenso). Aprovado o texto final, a partir do Substitutivo apresentado pelo Sen. Vital do Rego, foi feita uma profunda revisão para evitar equívocos nas remissões ou antinomias no texto. Finalmente, foi enviado à sanção Presidencial em fevereiro de 2015. O texto foi sancionado com sete vetos, no dia 16 de março, e publicado no DO, no dia 17: Lei n° 13.105/15 – Institui o novo Código de Processo Civil brasileiro. A ideia norteadora do texto é a de conferir maior celeridade à prestação da justiça, atentando à premissa de que há sempre bons materiais a serem aproveitados da legislação anterior, mas, também, firme na crença de que são necessários dispositivos inovadores e modernizantes. O projeto, portanto, empenhou se na criação de um “novo Código”, buscando instrumentos capazes de reduzir o número de demandas e recursos que tramitam pelo Poder Judiciário. Trata se de uma nova ideologia, de um novo jeito de compreender o processo civil. Pela leitura do texto, é possível perceber a preocupação em sintonizar as regras legais com os princípios constitucionais, revelando a feição neoconstitucional e póspositivista do trabalho. Os institutos são revistos, o procedimento é abreviado, os recursos são reservados para os casos relevantes, os precedentes passam a ter maior prestígio, o processo eletrônico é viabilizado, e a efetividade, finalmente, parece tornar-se algo mais próximo e palpável. Tendo como premissa essa meta, construiuse a proposta de instituição de um incidente de resolução de demandas repetitivas, objetivando evitar a multiplicação das demandas, na medida em que o seu reconhecimento em uma causa representativa de milhares de outras idênticas imporá a suspensão de todas. Outra previsão é a redução do número de recursos hoje existentes, como a abolição dos embargos infringentes e do agravo retido, como regra, adotando se no primeiro grau de jurisdição uma única impugnação da sentença final, oportunidade em que a parte poderá manifestar todas as suas discordâncias quanto aos atos decisórios proferidos no curso do processo, ressalvada a tutela de urgência impugnável de imediato por agravo de instrumento. Prioriza se a conciliação, incluindo a como o primeiro ato de convocação do réu a juízo, uma vez que proporciona larga margem de eficiência em relação à prestação jurisdicional. As mudanças pensadas pela Comissão de juristas quando da elaboração do novo texto são diversas e objetivam não enfrentar centenas de milhares de processos, mas, antes, desestimular a ocorrência do volume atual de demandas, com o que visa tornar efetivamente alcançável a duração razoável dos processos. As principais mudanças estruturais trazidas pelo novo CPC são as seguintes: a) O Código é dividido em duas partes (geral e especial): na primeira encontramos os institutos fundamentais da teoria do processo; na segunda encontramos cinco livros assim intitulados: processo de conhecimento, procedimentos especiais, processo de execução, processo nos tribunais e disposições finais e transitórias. b) O processo de conhecimento passa a ter um procedimento genérico com rito único, não sendo mais contemplado o rito sumário. c) Toda a matéria de tutela provisória passa a ser tratada na Parte Geral e as suas modalidades são reorganizadas em urgência (cautelar e antecipatória) e evidência. d) O procedimento comum passa a ser enxugado, priorizando-se a concentração dos atos de defesa na contestação, a realização da audiência de conciliação ou de mediação antes da fluência do prazo da citação, a possibilidade mais ampla de adoção dos precedentes obrigatórios e a redução drástica do nú- mero de recursos, sobretudo contra as decisões interlocutórias. e) Os institutos do cumprimento de sentença e do processo de execução passam a ser tratados em livros distintos, evitando confusões frequentes no CPC/73, sobretudo após o advento das Leis de 2005 e 2006.
 1.2.4 O Código de Processo Penal (CPP) e a Consolidação dasLeis do Trabalho (CLT) 
1.2.4.1 O C.P.P
Nossa disciplina visa a oferecer elementos introdutórios não apenas à dimensão civil, mas também aos demais ramos da ciência processual. Entre eles, ganham relevo as áreas penal e trabalhista. O processo penal brasileiro é regido pelo Decreto-lei n° 3.689/41. Nele encontramos as principais etapas e ferramentas utilizadas pela justiça penal. Como regra, antes da ação penal há o inquérito policial (art. 6° do CPP), para as infrações médias e graves, e o termo circunstanciado para as infrações de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei n° 9.099/95), ou seja, aquelas cuja pena máxima cominada não ultrapassa dois anos. Em seguida, temos a ação penal, que pode ser pública ou privada, como veremos mais adiante. Finalmente, após a decisão condenatória, inaugura-se a etapa da execução penal que será orientada de acordo com o tipo de pena imposto (privativa de liberdade, restritiva de direitos ou simplesmente uma pena de multa). Todo o processo penal brasileiro se orienta pelo princípio da presenção de inocência, ou seja, ninguém é considerado culpado até que sobrevenha senten- ça penal condenatória transitada em julgado (ou seja, contra a qual não caiba mais recurso). Veremos mais sobre esse princípio no próximo capítulo. 
1.2.4.2 A C.L.T.
Já o processo trabalhista é regido pelo Decreto n° 5.452/43, conhecido como Consolidação das Leis do Trabalho. Esse Diploma rege as relações individuais e coletivas de trabalho, bem como conceitua as seguintes figuras : a) empregador: é a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. b) empregado: é toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. c) serviço efetivo: é o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada. As relações de trabalho são regidas pelo princípio protetor, o que será visto com mais detalhes no próximo capítulo.
2 .Normas e Princípios Processuais
2.1 A norma processual e seus reflexos no tempo e no espaço 
2.1.1 Fontes do Direito Processual 
As fontes de direito, em geral, podem ser conceituadas como os meios de produção, expressão ou interpretação da norma jurídica. São os meios pelos quais as normas jurídicas são estabelecidas de modo a prover o direito objetivo. Fontes formais são aquelas que detêm força vinculante e constituem o pró- prio direito positivo. A fonte formal do direito processual, por excelência, é a lei lato sensu, que é dotada de coercitividade e considerada a principal forma de expressão do direito. Após vermos que a lei é a fonte formal do direito processual em sentido amplo, apontamos inicialmente, como fonte formal em sentido estrito, a Constituição Federal, que consagra os chamados Princípios Constitucionais Processuais, tais como o Devido Processo Legal, a Ampla Defesa e o Contraditório, a Duração Razoável do Processo, bem como a Isonomia e a Inadmissibilidade de provas obtidas por meios ilícitos. Em seguida, temos a Lei Federal (art. 22, I, da Constituição de 1988) e a Lei Estadual, que podem tratar de matéria de procedimento e de criação e funcionamento dos Juizados Especiais (art. 24, X e XI), bem como disciplinar a organização judiciária e as normas de competência em razão de valor e matéria. Por fim, os Tratados Internacionais assinados e ratificados pelo Brasil e os regimentos internos dos Tribunais. Passado o estudo das fontes formais do direito, veremos agora as fontes materiais, que são as que não têm força vinculante nem caráter obrigatório, mas se destinam a revelar e informar o sentido das normas processuais. Essas fontes materiais são dotadas de caráter ético, sociológico, político, histórico, econômico, cultural etc. que, em determinado momento, servem para provocar, justificar e legitimar o ato de criação das normas legais, pois influenciam o legislador que elabora propostas legislativas frutos da observância de valores e interesses sociais. Nessa linha, podemos observar que, por diversas vezes, recomendações ou resoluções, sem caráter normativo, acabam, com o tempo, sendo convertidas em leis. Além das fontes formais e materiais do direito, existem os chamados meios suplementares de integração da norma, que são aqueles institutos jurídicos destinados a preencher lacunas no ordenamento, que, constatadas pelo magistrado, têm de ser preenchidas para que sejam executáveis sob pena de resultar em negativa de prestação jurisdicional (non liquet). Essa terceira fonte seria formada pela jurisprudência (entendimento dos tribunais) e pela doutrina (ensinamentos dos autores especializados). Para parte da doutrina, essa terceira fonte não tem nenhuma eficácia vinculativa ao aplicador do direito. Para outra parte doutrinária, essas seriam, sim, consideradas como princípios gerais do direito, ao lado do costume. A jurisprudência, tecnicamente, refere se a um conjunto de decisões dos Tribunais, e não a uma decisão isolada. Deve-se registrar que, hoje, a figura da súmula vinculante, prevista no art. 103 A da Carta de 1988 e regulada pela Lei n. 11.417/2006, torna o precedente judicial fonte formal do direito nesta hipótese. E aqui surgem os precedentes. Nesse sentido, o Código de Processo Civil de 2015 assim dispõe, no art. 927.
Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
I. as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; II. os enunciados de súmula vinculante; III. os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; IV. os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional; V. a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.
O novo Código criou o incidente de resolução de demandas repetitivas, objetivando o julgamento conjunto de demandas que gravitam em torno da mesma questão de direito. Pelo art. 976, o tribunal local decidirá, a partir de um “processo piloto”, qual a tese jurídica que deve ser adotada pelos demais processos nos quais se discuta a mesma questão de direito, sendo certo que essa decisão terá força vinculante horizontal e vertical, ou seja, será obrigatória para os demais órgãos do tribunal, bem como para todos os juízes de 1º grau. A preocupação do novo Código de Processo Civil é também com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, evitando pronunciamentos incompatíveis, que possam gerar inseguranças e incertezas. Encampou se, por isso, expressamente, princípio no sentido de que, uma vez firmada jurisprudência em certo sentido, esta deve, como norma, ser mantida, salvo se houver relevantes razões recomendando sua alteração. Dessa forma, trata se, em nosso sistema, de nítida tendência ao prestígio do precedente e de seu reconhecimento como fonte do direito. 
2.1.2 Identificação da norma processual 
O Estado é o responsável pela determinação das normas jurídicas, que estabelecem como deve ser a conduta das pessoas em sociedade. Tais normas podem ser definidoras de direitos e obrigações ou do modo de exercício desses direitos. As primeiras constituem aquilo que convencionamos chamar de normas jurídicas primárias ou materiais. Trata-se do chamado Direito Substantivo. Elas fornecem o critério a ser observado no julgamento de um conflito de interesses. Aplicando as, o juiz determina a prevalência da pretensão do demandante ou da resistência do demandado, compondo, desse modo, a lide que envolve as partes. Definem os direitos e as obrigações, mas não lidam com as consequências jurídicas do descumprimento dos deveres. As segundas, de caráter instrumental, compõem as normas jurídicas secundárias ou processuais. Elas determinam a técnica a ser utilizada no exame do conflito de interesses, disciplinando a participação dos sujeitos do processo(principalmente as partes e o juiz) na construção do procedimento necessário à composição jurisdicional da lide. Portanto, a diferença básica entre elas é quanto ao âmbito de incidência. Disso se infere que, para classificar uma norma como processual ou material, pouco importa o diploma legislativo do qual ela deflui. Embora a maior parte das normas processuais emane de diplomas destinados à disciplina do processo, também é possível, examinando diplomas tipicamente materiais, encontrarem se normas dessa categoria. É chamado de Direito Adjetivo, embora hoje seja reconhecida sua autonomia em relação ao Direito Material. 
2.1.3 A dimensão espacial e temporal da norma processual 
A eficácia espacial das normas processuais é determinada pelo princípio da territorialidade, conforme expressa o art. 13 do CPC/2015. O princípio, com fundamento na soberania nacional, determina que a lei processual pátria é aplicada em todo o território brasileiro (não sendo proibida a aplicação da lei processual brasileira fora dos limites nacionais), ficando excluída a possibilidade de aplicação de normas processuais estrangeiras diretamente pelo juiz nacional1 . Devido ao sistema federativo por nós adotado, compete privativamente à União legislar sobre matéria processual, conforme determina o art. 22, I, da CF. Não ocorre, pois, como nos EUA, em que as leis processuais divergem de um Estado para outro. Não obstante, as normas procedimentais estaduais brasileiras podem variar de Estado para Estado, uma vez que o art. 24, XI, da CF, outorgou competência concorrente à União, aos Estados membros e ao Distrito Federal, para legislar sobre “procedimentos em matéria processual”, que, segundo Vicente Greco Filho2 , seriam os procedimentos de apoio ao processo, e não o procedimento judicial3 . Como se vê, determinar a extensão da competência concorrente dos Estados é tarefa extremamente complexa. No tocante à eficácia temporal, aplica se o art. 14 do CPC/2015. Fica definido, assim, que a lei processual tem aplicação imediata, alcançando os atos a serem realizados e sendo vedada a atribuição de efeito retroativo, para não violar o ato jurídico perfeito4 . No que tange ao início de sua vigência, no entanto, de acordo com o art. 1º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, nome atualmente conferido à Lei de Introdução ao Código Civil, a lei processual começa a vigorar quarenta e cinco dias após a sua publicação, salvo disposição em contrário (na prá- tica, é comum que se estabeleça a vigência imediata), respeitando se, todavia, o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, em conformidade com o art 5º, XXXVI, da Magna Carta e art. 6º da LINDB. Não custa lembrar que, caso haja republicação do texto da Lei durante o período de sua vacatio, por motivo de correção, novo prazo deve ser computado (interrupção); é a regra do art. 1º, § 3º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
No novo CPC, a matéria vem regulada no art. 1.048, que traz a seguinte redação:
rt. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os procedimentos judiciais: I. em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim compreendida qualquer das enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da Lei n. 7.713, de 22 de dezembro de 1988; II. regulados pela Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). § 1º. A pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando prova de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade judiciária competente para decidir o feito, que determinará ao cartório do juízo as providências a serem cumpridas. § 2º. Deferida a prioridade, os autos receberão identificação própria que evidencie o regime de tramitação prioritária. § 3º. Concedida a prioridade, essa não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se em favor do cônjuge supérstite ou do companheiro em união estável. § 4º. A tramitação prioritária independe de deferimento pelo órgão jurisdicional e deverá ser imediatamente concedida diante da prova da condição de beneficiário.
Por fim, devemos ressaltar que a vigência de um novo Código sempre traz um grande número de questões de direito intertemporal. Apenas para exemplificar, transcrevemos o art. 1.046, que traz as regras básicas.
Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo aos processos pendentes, ficando revogada a Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. § 1º. As disposições da Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973, relativas ao procedimento sumário e aos procedimentos especiais que forem revogadas aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas até o início da vigência deste Código. § 2º. Permanecem em vigor as disposições especiais dos procedimentos regulados em outras leis, aos quais se aplicará supletivamente este Código. § 3º. Os processos mencionados no art. 1.218 da Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973, cujo procedimento ainda não tenha sido incorporado por lei submetem-se ao procedimento comum previsto neste Código. § 4º. As remissões a disposições do Código de Processo Civil revogado, existentes em outras leis, passam a referir-se às que lhes são correspondentes neste Código. § 5º. A primeira lista de processos para julgamento em ordem cronológica observará a antiguidade da distribuição entre os já conclusos na data da entrada em vigor deste Código.
2.1.4 O neoconstitucionalismo e seus impactos na atividade hermenêutica
Com a premissa do neoconstitucionalismo, os métodos tradicionais de interpretação, ainda que auxiliados pelos meios de integração, não podem mais ser avaliados independentemente do Texto Constitucional. Dessa forma, Luís Roberto Barroso5 afirma que a interpretação constitucional necessita de outros parâmetros, a saber: 1. a superioridade hierárquica (nenhuma norma infraconstitucional pode existir validamente se for incompatível com preceito constitucional); 2. a natureza aberta da linguagem (ordem pública, igualdade perante a lei, dignidade da pessoa humana, razoabilidade proporcionalidade, moralidade); 3. o conteúdo específico (organização dos Poderes, definição de direitos fundamentais e normas programáticas, estabelecendo princípios ou indicando fins públicos); 4. o caráter político (a Constituição é o documento que faz a interface entre a política e o direito, entre o poder constituinte e o poder constituído). Ainda de acordo com Barroso6 , tais peculiaridades levaram ao desenvolvimento de princípios específicos para a interpretação constitucional, que funcionam como premissas conceituais da interpretação constitucional. Tais princípios são os seguintes: I. Princípio da supremacia da Constituição; II. Princípio da presunção de constitucionalidade das leis; III. Princípio da interpretação conforme a Constituição, o qual é operacionalizado por meio de três grandes mecanismos: a) Adequação do sentido da norma infraconstitucional à Constituição; b) Declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto, o que significa a declaração de inconstitucionalidade de um sentido possível da norma, ou, mais tecnicamente, de uma norma extraída de determinado enunciado normativo; e c) Declaração da não incidência da norma infraconstitucional a determinada situação de fato, sem declaração de inconstitucionalidade. IV. Princípio da unidade; V. Princípio da razoabilidade proporcionalidade; VI. Princípio da efetividade. Esses parâmetros hoje devem ser observados por todos os ramos do direito, inclusive o direito processual, sob pena de violar as garantias constitucionais básicas e, com isso, inviabilizar o processo justo. Completando esse raciocínio, no modelo tradicional, ou seja, positivista, o papel do juiz era o de tão-somente descobrir e revelar a solução contida na norma; em outras palavras, como ressalta Barroso7 , formulava juízos de fato, e não de valor. Mais do que isso, muitas vezes a interpretação não era lastreada na Constituição. Agora, no modelo pós positivista, o magistrado deve estar preparadopara constatar que a solução não está integralmente na norma, o que demanda um papel criativo na formulação da solução para o problema. Ele se torna, assim, coparticipante do papel de produção do direito, mediante integração, com suas próprias valorações e escolhas, das cláusulas abertas constantes do sistema jurídico. Faz-se necessário verificar a constitucionalidade das normas, sabendo que se subdividem em regras (comandos) e princípios (valores). No conflito entre regras, apenas uma pode prevalecer. Para tanto, são utilizados os métodos: a) temporal (revogação); b) hierárquico (invalidação); e c) da especialidade. No conflito entre princípios, não se fala em revogação, mas, sim, em ponderação, de forma que dois ou mais podem coexistir, devendo ser aplicados proporcionalmente. Em razão dessa nova postura, como adverte Marinoni8 , é imprescindível que o juiz fundamente adequadamente suas decisões. Essa fundamentação deve ser analítica, ou seja, o julgador deve expor não apenas o fundamento de sua decisão, mas o que costumamos chamar do fundamento do fundamento, ou seja, as razões que levaram o juiz a fazer aquela interpretação, a optar por aquele caminho, quando tinha outras alternativas. O motivo pelo qual aquela providência lhe pareceu mais apropriada do que as demais, diante do caso concreto. Voltando ao texto de Barroso9 , a necessidade da adoção de Princípios na atividade hermenêutica se faz necessária justamente em razão dessa “discricionariedade” do intérprete. Isso torna toda a atividade mais complexa, e os fenômenos mais comuns são: a) o emprego de cláusulas gerais pelo Constituinte, sob a forma de princípios jurídicos indeterminados, aliado à força normativa dos próprios princí- pios, que passam a ser aplicados diretamente ao caso, independentemente de norma infraconstitucional10 ; b) a colisão de normas constitucionais; c) a ponderação, entendida como técnica utilizada nos casos em que a subsunção não é suficiente. Será necessária para resolver os chamados “casos difíceis” nas hipóteses que envolvam ou a colisão de normas constitucionais ou quando se verificar um “desacordo moral razoável”; d) argumentação jurídica: à medida que a decisão judicial para envolver uma atividade criadora do Direito, o juiz precisa demonstrar que a solução dada por ele ao caso concreto é a que realiza de maneira mais adequada a vontade constitucional. No novo CPC, o art. 6º determina que o juiz, ao aplicar a lei, deverá atender aos: “fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência”. O art. 15, por sua vez, dispõe que, na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. Originalmente, esse dispositivo incluía ainda o processo penal, mas, na votação final do texto, essa expressão foi suprimida (não custa lembrar que o Projeto do novo Código de Processo Penal tramitou no Congresso Nacional e está paralisado desde 2010 – PLS n. 156/2010). Contudo, o art. 3º do CPP11 em vigor (DL n. 3.689/41) admite a interpretação extensiva e a analogia.
 2.2 Os princípios processuais mais relevantes
 2.2.1 Considerações iniciais 
Nelson Nery Junior12 assevera a importância dos princípios no direito processual, elevando a disciplina à categoria de ciência jurídica dissociada do direito privado, ressaltando a contribuição dos estudos do jurista alemão Oskar on Bülow, no início do século XIX, dado o tratamento principiológico dedicado ao tema, que possibilitou a autonomia da disciplina diante de outros ramos do direito. J. J. Gomes Canotilho13 defende que regras e princípios devem ser entendidos como espécies do gênero norma, de modo que teríamos normas-regras e normas-princípios e, portanto, tal distinção residiria, em última análise, em uma diferenciação entre dois tipos de normas. Daí resulta que ambas teriam aplicação prática e força cogente. Entretanto, enquanto a norma-regra regularia aspectos pontuais, sendo aplicada ou não – de forma peremptória –, a norma-princípio regularia situações mais elásticas, comportando ponderações no caso concreto, em virtude do seu maior grau de abstração. Note-se ainda que as normas-princípios desempenham importante papel tanto na atividade do legislador quanto na do operador do direito. O primeiro, ao ditar normas-regras, deve considerar as normas-princípios já existentes no sistema. O operador do direito, por sua vez, utiliza as normas-princípios no momento da interpretação e da aplicação das normas-regras, muitas vezes recorrendo àquelas para precisar o exato sentido e alcance destas últimas. Além disso, as normas-princípios auxiliam o operador na tarefa de colmatagem de lacunas. 
2.2.2 Os princípios processuais no Brasil 
Passemos, agora, a ver os princípios processuais mais relevantes:
 2.2.2.1 Devido processo legal
Sem dúvida um dos mais importantes princípios processuais foi introduzido em nosso ordenamento de forma expressa pela Constituição de 1988, em seu art. 5º, LIV, segundo o qual “ninguém será privado da liberdade ou dos seus bens sem o devido processo legal”. Ao analisar, sob uma perspectiva comparativa, os modelos constitucionais, Luigi Paolo Comoglio coloca o sistema constitucional de garantias processuais brasileiro, previsto na Constituição de 1988, na vanguarda das constituições modernas, em razão do seu caráter analítico e inovador em alguns aspectos, com inspiração tanto nos valores que orientam o modelo do due process of law anglo-americano quanto na matriz europeia ligada à proteção dos direitos humanos14. Embora o termo em inglês due process of law tivesse sido utilizado pela primeira vez em 1354, no reinado de Eduardo III, na Inglaterra, sua origem remonta à Magna Carta (art. 39), de 1215, assinada por João Sem-Terra. Nota-se que, embora a garantia do devido processo legal tenha surgido com índole eminentemente processual, adquiriu, depois, relevante aspecto de direito material. Assim, teríamos dois aspectos distintos: a) Substantive due process of law – representando a garantia do trinômio vida, liberdade e propriedade. Não basta a regularidade formal da decisão, é necessário que a decisão seja substancialmente razoável. É dessa garantia que surgem os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; b) Procedural due process of law – entendido como garantia do pleno acesso à Justiça (ou, como prefere Kazuo Watanabe, “acesso a uma ordem jurí- dica justa”). É o direito a ser processado e processar de acordo com as normas previamente estabelecidas para tanto. Assim, sendo fruto de importação do direito anglo-saxônico, o princípio representa, sob este último aspecto, um conjunto de garantias constitucionais (ou o núcleo central da maioria das garantias processuais15 ) destinadas a assegurar às partes a participação, com o exercício de suas faculdades e poderes processuais, bem como a legitimidade do exercício da jurisdição. Decorrem dele outros importantes princípios processuais, como o princípio do contraditório, o da ampla defesa e o da duração razoável do processo, também consagrados em sede constitucional16. Por isso, além de afirmar que o due process of law é mais que uma garantia, sendo um conjunto de garantias que assegura às partes o exercício de faculdades e poderes processuais, Cândido Rangel Dinamarco dispõe que funciona também como sistema de limitação ao exercício do poder. O devido processo será uma "garantia de justiça" e "direito ao serviço jurisdicional corretamente prestado" a partir das normas processuais constitucionais17. Como bem assevera Barbosa Moreira, não se pode esperar que o processo, por si só, tenha força suficiente para dirimir as desigualdades sociais através do aparelho judicial, mas servirá como importante meio para alcançar interesses socialmente relevantes da maneira mais desimpedida possível a todos os cidadãos18. Os meios disponibilizados pela Constituiçãopara viabilizar a eficácia dos direitos fundamentais através da Jurisdição revelam a importância do princí- pio do devido processo legal na tangibilidade a esses direitos. Assim, a prática que melhor atende aos anseios de uma eficaz prestação da tutela jurisdicional, é aquela que não se restringe apenas à garantia formal de acesso à justi- ça, mas que se estende a todos os princípios e garantias que compõem o devido processo. O devido processo traduz a supremacia da lei, base de uma sociedade democrática que protege os direitos fundamentais através da Constituição, evitando que qualquer atitude arbitrária possa restringir seu conteúdo. Para Humberto Theodoro Júnior, a mescla de processo justo e devido processo legal, a par da regularidade formal, impõe a adequação do processo à realização do melhor resultado concreto em face do direito material, prevalecendo a proporcionalidade e a razoabilidade na harmonização dos princípios. Dessa forma, o juiz não será apenas "a boca da lei", mas agirá pela interpretação e aplicação do direito positivo, adequando a norma aos fatos e também os valores em jogo no caso concreto, afastando a ideia de que o devido processo é apenas um simples procedimento desenvolvido em juízo19. Não se pode olvidar, portanto, a busca da eficácia concreta no exercício do devido processo legal. Leonardo Greco entende que, para o processo equânime, as garantias são também direitos fundamentais, e o Estado não estará prestando a tutela jurisdicional de forma plena "se elas não forem respeitadas ou se as decisões judiciais resultarem de procedimentos em que o juiz sofre profundas limitações na apuração da verdade e na apreciação do direito das partes20". Enfim, com o objetivo único e central de garantir o acesso à Justiça através de um processo justo e celebrado com os meios adequados, traduz, em termos processuais, os princípios da legalidade e da supremacia da Constituição, inerentes à democracia participativa pós-moderna. Dentro do conceito maior de devido processo legal, encontramos as noções de contraditório e de ampla defesa. Esses princípios impõem que, ao longo do procedimento, seja observado verdadeiro diálogo, com participação das partes, que é a garantia não apenas de ter ciência de todos os atos processuais, mas de ser ouvido, possibilitando a influência na decisão. Desse modo, permite que as partes, assim como eventuais interessados, participem ativamente da formação do convencimento do juiz, influindo, por conseguinte, no resultado do processo. Trata se do binômio: a) informação – a regra é ser informado dos atos do juiz e da contraparte; e b) possibilidade de manifestação – abertura de prazo para se pronunciar quanto ao alegado pela contraparte. Assim, o contraditório pode ser conceituado como a garantia de ciência bilateral dos atos e termos do processo (jurisdicional ou não), com a consequente possibilidade de manifestação sobre eles. Abrange a garantia de meios previstos em lei ou moralmente legítimos para a participação das partes no processo, viabilizando a defesa de seus interesses, a serem franqueados pelo juiz; bem como a participação do magistrado na preparação do julgamento, exercendo, ele próprio, o contraditório. Trata se, portanto, de direito das partes e dever do juiz. Além do mais, tal princípio deve ser visto sob dois enfoques, quais sejam: a) Jurídico: os fatos alegados e não contestados são tidos como verdadeiros, sendo declarada a revelia do réu. b) Político: assegura às partes a participação na formação do provimento jurisdicional, ou seja, é a possibilidade que o jurisdicionado tem de influir nas decisões que irão repercutir em sua vida. Juntamente com o princípio da isonomia, o contraditório constitui importante premissa democrática que com ele se relaciona, de modo a garantir um efetivo equilíbrio entre as partes. O contraditório é consequência do princípio político da participação democrática e pressupõe21 : a) audiência bilateral: adequada e tempestiva notificação do ajuizamento da causa e de todos os atos processuais através de comunicações preferencialmente reais, bem como ampla possibilidade de impugnar e contrariar os atos dos demais sujeitos, de modo que nenhuma questão seja decidida sem essa prévia audiência das partes; b) direito de apresentar alegações, propor e produzir provas, participar da produção das provas requeridas pelo adversário ou determinadas de ofício pelo juiz e exigir a adoção de todas as providências que possam ter utilidade na defesa dos seus interesses, de acordo com as circunstâncias da causa e as imposições do direito material; c) congruidade dos prazos: os prazos para a prática dos atos processuais, apesar da brevidade, devem ser suficientes, de acordo com as circunstâncias do caso concreto, para a prática de cada ato da parte com efetivo proveito para a sua defesa; d) contraditório eficaz é sempre prévio, anterior a qualquer decisão, devendo a sua postergação ser excepcional e fundamentada na convicção firme da existência do direito do requerente e na cuidadosa ponderação dos interesses em jogo e dos riscos da antecipação ou da postergação da decisão; e) o contraditório participativo pressupõe que todos os contrainteressados tenham o direito de intervir no processo e exercer amplamente as prerrogativas inerentes ao direito de defesa e que preservem o direito de discutir os efeitos da sentença que tenha sido produzida sem a sua plena participação. Entretanto, a figura do contraditório diferido excepciona o princípio do contraditório e da ampla defesa, permitindo ao juiz tomar certas providências sem antes submeter ao contraditório. Pontifica-se que contraditório diferido não significa contraditório suprimido. A contraparte será informada e terá oportunidade de se manifestar após a cessação do risco de perecimento do direito. O contraditório diferido resulta de uma ponderação de interesses. Em um polo há o Princípio do Acesso à Justiça e, no outro, os Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa. Perceba que tal figura representa um aumento de poder do juiz, pois este fará a ponderação em concreto concluindo pelo cabimento ou não da exceção. Logo, reforça-se a exigência de fundamentação . Do primitivo conceito de igualdade formal e negativa (ou seja, de que o Direito não deve estabelecer diferenças entre os indivíduos), clama-se, hoje, pela igualdade material, isto é, por uma Justiça que assegure tratamento igual para os iguais e desigual para os desiguais (na medida de suas diferenças), conforme a máxima aristotélica, constituindo um pilar da democracia. Em âmbito processual, significa restabelecer o equilíbrio entre as partes e possibilitar a sua livre e efetiva participação no processo, como corolário do princípio do devido processo legal. Também constitui isonomia assegurar acesso dos menos favorecidos numa condição de igualdade processual com os que têm maior força econômica, política ou social. Assim é a visão de José Carlos Barbosa Moreira, ao destacar o princípio como um dos pilares na configuração do processo socialmente efetivo, garantindo-se às partes igual possibilidade de fruição de todos os instrumentos processuais constitucionalmente previstos, uma vez que o desequilí- brio de forças entre as partes litigantes compromete a igual possibilidade de êxito no pleito22.
2.2.2.3 Juiz natural
A Corte Europeia dos Direitos Humanos entende que a legal constituição do juízo e o direito ao julgamento por um tribunal instituído e submetido à lei é uma garantia essencial, encontrando parâmetro nos países de direito escrito, em que a organização do sistema judiciário não pode ser entregue ao poder discricionário de uma autoridade judiciária. Com previsão constitucional no art. 5º, XXXVII e LIII, da Lei Maior, o princípio processual do juiz natural há de ser analisado sob duas vertentes: em rela- ção ao órgão jurisdicional que julgará e à sua imparcialidade. Assim, quanto ao órgão julgador, subsiste a garantia de julgamento pelo juiz natural, isto é, pelo juiz competente segundo a Constituição. Significa que a competênciapara o julgamento deve ser predeterminada pelo Direito. O termo “juiz legal” poderia ter sido adotado, mas a doutrina consagrou a alcunha “juiz natural”. Tem o intuito de: I. evitar os odiosos tribunais de exceção que já se apresentaram nas ditaduras: II. garantir que não haverá nenhum tipo de ingerência na escolha do juiz que julgará a causa.
 2.2.2.4 Inafastabilidade do controle jurisdicional
O direito à tutela jurisdicional é reconhecido na Convenção Europeia de Direitos Humanos como direito essencial que comporta o acesso ao juiz e à coisa julgada, dotando as decisões de força definitiva e obrigatória, sendo um elemento constitutivo da essência do Estado de Direito. Com sede constitucional no art. 5º, XXXV, o referido princípio: I. impede que o legislador restrinja o acesso à ordem jurídica ou ao ordenamento justo, bem como II. impõe ao juiz o dever de prestar a jurisdição, isto é, garantir a tutela efetiva a quem detenha uma posição jurídica de vantagem, sendo vedado o non liquet, e III. constitui garantia para as partes que existe ao lado das condições de procedibilidade para o exercício do direito de ação. Num sentido político, o princípio coloca sob o controle dos órgãos jurisdicionais todas as crises jurídicas que possam gerar um estado de insatisfação. Não se trata, portanto, de mera garantia de acesso ao juízo (direito à ação), mas da própria tutela (proteção) jurisdicional (adequada, tempestiva e, principalmente, efetiva) a quem tiver razão. Ou seja, significa o próprio Acesso à Justiça. Sob o prisma do acesso à jurisdição, o princípio se impõe como uma garantia fundamental essencial, possibilitando o início da relação processual e permitindo-se invocar a tutela do Estado. O bem individual e o bem comum serão regulados pela função jurisdicional, não podendo o Estado deles afastar o seu controle, sempre motivado a manter o equilíbrio social e econômico das relações. Confirma-se a imediata importância do direito processual para a realiza- ção dos direitos, sendo imprescindível, na visão de José Roberto dos Santos Bedaque, "dotar o processo de efetividade prática", pois "a via estatal continua sendo a principal forma de solução das controvérsias23".
 2.2.2.5 Publicidade dos atos processuais
Mauro Cappelletti afirma que a internacionalização dos direitos fundamentais sugeriu maior consideração de direitos universalmente compreendidos como direitos humanos e elevados à qualidade de essenciais, fazendo com que os Estados entendessem que estes direitos deveriam gozar de maior proteção legal, firmando-se no texto constitucional. São, portanto, garantias que se destacam, como a independência e imparcialidade do juiz e, muito especialmente, a garantia de um processo aberto e público, diretamente ligadas ao devido processo legal e que se firmam como conquistas do direito processual civil24. Inserto nos art. 5º, LX, e 93, IX, CF/88, constitui projeção do direito constitucional à informação e suporte para a efetividade do contraditório, garantindo o controle da sociedade sobre a atividade jurisdicional desenvolvida. A administração da justiça faz parte da Administração Pública, que tem como Princípio a Publicidade (art. 37 da CRFB). Significa que, em regra, o processo deve ser público e, apenas excepcionalmente, sigiloso – quando houver expressa previsão legal, notadamente quando a defesa da intimidade ou do interesse público o exigirem. Há uma íntima relação entre os princípios da publicidade e da motivação das decisões judiciais, na medida em que a publicidade torna efetiva a participação no controle das decisões judiciais. 
2.2.2.6 Motivação das decisões judiciais
Consoante dispõe o art. 93, IX, CF, todas as decisões do Poder Judiciário devem ser fundamentadas, sob pena de serem consideradas nulas de pleno direito. Trata-se de dupla garantia: I. de existir um fundamento e II. de este ser explicitado. Dessa forma, é garantida às partes, para efeito de segurança das relações jurídicas e controle da atividade jurisdicional, a possibilidade de impugnar aquelas decisões que não estejam devidamente fundamentadas. Daí se revela essencial a motivação, demonstrando cuidadosa análise dos fatos e fundamentos aduzidos e a melhor interpretação e aplicação da lei, evitando surpreender as partes tanto quanto possível. Dessa forma também se eleva o interesse público na prestação jurisdicional, corroborando a segurança jurídica25. Verifica-se a assertiva na medida em que, após a fase cognitiva, será possível constatar, pelo exame da decisão proferida, se os elementos apresentados foram ou não apreciados pelo julgador em todas as suas minúcias. A motivação analítica reforça a decisão com fundamentos que esclarecem as razões pelas quais foram superados os elementos vencidos, ou, quanto aos que foram considerados, o motivo de terem sido total ou parcialmente acolhidos. A motivação permite às partes controlar se as razões e provas por elas apresentadas foram devidamente consideradas na decisão. Seria inútil assegurar o direito de ação e o direito de defesa, se as alegações e provas trazidas aos autos pelas partes não precisassem ser obrigatoriamente examinadas pelo juiz no momento da decisão. A fundamentação está intimamente ligada à atividade cognitiva do juiz. É um dos chamados requisitos da sentença, na forma do art. 489, § 1° do NCPC. No Estado contemporâneo, o dever de fundamentação ganha uma especial relevância, tendo em vista o agigantamento dos poderes dos magistrados, bem como a utilização de cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados nos textos legais. A motivação também disponibiliza às partes e à sociedade como um todo a possibilidade de compreender quais os motivos pelos quais o juiz tomou determinada decisão, permitindo a fiscalização da atividade judiciária. 
2.2.2.7 Duração razoável do processo 
A consagração do direito à duração razoável do processo como um direito fundamental pela Constituição Federal fez com que o princípio deixasse de ser considerado uma subespécie de outros princípios ou mero acessório da efetividade processual. Assim, a efetividade do processo poderá ocorrer, ainda que não realizada num prazo razoável. O princípio da duração razoável do processo é parte do denominado "processo justo", que engloba outros princípios e garantias que regem o processo civil. As questões que tornam o Judiciário mais lento na entrega da prestação jurisdicional refletem a insatisfação social com as mazelas públicas levadas ao Judiciário, avolumando o número de processos. Na intenção de solucionar a questão da morosidade, foram criados mecanismos de simplificação e adoção de institutos, que, segundo Greco, relegaram a segundo plano "a preocupação com a qualidade das decisões" e permitiram a supressão das garantias fundamentais do processo26. Daí que a forte pressão por celeridade processual não garante uma presta- ção jurisdicional satisfatória. Os meios criados para agilizar as decisões no volume cada vez maior de demandas acabam por suprimir outros direitos.
A razoável duração do processo tem como características: a) universalidade, b) limitabilidade, c) cumulatividade e d) irrenunciabilidade, 
2.2.2.8 Boa-fé e Cooperação
O artigo 5º do novo CPC tem a seguinte redação: “aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé”. Com isso, o princípio da boa-fé, que já vinha previsto no atual Código de Processo Civil, no rol dos deveres dos sujeitos processuais, é deslocado para o capítulo referente aos princípios e garantias fundamentais do processo civil, impondo a sua observância em todo o procedimento. O artigo 6º, por sua vez, estabelece que “todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha a solução do processo com efetividade e em tempo razoável”. Parece, portanto, que o legislador infraconstitucional quis adotar definitivamente o modelo cooperativo para o processo civil brasileiro. Aponta-se que o Princípio da Cooperação é decorrente dos Princípios da Boa-Fé, da Lealdade e do Contraditório. Esses dois princípios,que tiveram sua incidência inicial no direito privado, já têm a sua inserção nos ramos do direito público como certa, pois o que se espera de qualquer litigante, em qualquer esfera, é que atue de maneira a não frustrar a confiança da outra parte. O princípio da boa-fé se manifesta através de ouros dois subprincípios: a proteção da confiança, pela qual se protege a ideia que o sujeito tem sobre determinada coisa, e a prevalência da materialidade subjacente, ou seja, a regra jurídica será aplicada de acordo com as circunstâncias que envolvam o contexto fático. O Princípio da Cooperação também provoca reflexos necessários sobre os procuradores das partes. De fato, não haveria sentido se essas estivessem dispostas a colaborar de forma ampla com o juiz, e seus advogados não, uma vez que estes são os responsáveis por se dirigir, por escrito e oralmente, ao Estadojuiz e exercem atividade essencial para o desenvolvimento do processo. 
2.2.2.9 O Princípio Protetor no Processo do Trabalho 
O Estado, seja pela lei, seja pela jurisprudência, estabelece, frequentemente, tratamento desigual entre os sujeitos do processo, na intenção de diminuir o abismo que os separa, e tenta promover, substancialmente, a igualdade entre ambos. São exemplos27 de aplicação concreta desse princípio: a) a assistência judiciária prevista tão só para o empregado (art. 14, da Lei nº 5.584/70); b) as consequências mais severas para a ausência do réu, via de regra empregador (CLT, artigo 844); c) a não aplicação de dispositivos do processo civil que prejudiquem o acesso à justiça pelo empregado (CPC, art. 268, caput, segunda parte; o CPC/2015 tem disposição semelhante, porém aperfeiçoada, no art. 486, § 1º ); d) competência territorial fixada para atender aos interesses do empregado (CLT, art. 651, parágrafos 1º a 3º); e) inversão do ônus probatório por força da jurisprudência (TST, Súmulas 212 e 338). 
2.2.2.10 O Princípio da Presunção de Inocência no Processo Penal 
Esse princípio garante ao acusado, pela prática de uma infração penal, um julgamento minimamente justo. A Constituição de 1988 traz o princípio da presunção de inocência em seu rol de direitos e garantias: “Art. 5. (…) LVII- ninguém será culpado até o trânsito em julgado de senten- ça penal condenatória”; De acordo com Alexandre de Moraes28 _, as normas constitucionais definidoras de direitos fundamentais são de eficácia e aplicabilidade imediata. De acordo com essa norma, o acusado que cometer uma infração penal tem direito a um processo justo, com a observância das garantias do contraditório, da ampla defesa e da duração razoável do processo. Mesmo diante de uma primeira decisão condenatória, tem direito a recorrer, em regra em liberdade, até que sobrevenha uma decisão irrecorrível, por força do trânsito em julgado. Aí, então, será recolhido à prisão, caso a pena imposta seja a privativa de liberdade, e caso não seja cabível a substituição pela pena restritiva de direitos ou pela pena de multa. Segundo Pacelli29 , o "estado de inocência" impõe ao Poder Público os seguintes deveres: a) o réu não pode sofrer restrições pessoais com base na simples possibilidade de condenação; b) todo o ônus da prova deve recair, exclusivamente, sobre os ombros da acusação (Ministério Público, no caso das ações públicas, ou querelante, nas ações de iniciativa privada).
3. Meios Adequados de Solução de Conflitos. Conciliação, Mediação e Arbitragem
3.1 Principais espécies de meios adequados de solução de conflitos 
3.1.1 Evolução histórica dos meios de solução de conflitos
A doutrina tradicionalmente classifica as formas de resolução de conflitos em autodefesa, autocomposição e heterocomposicão. Esta última poderia ser feita pelo Estado (jurisdição) ou por um particular, em certos casos específicos permitidos pela Lei (arbitragem). A autodefesa seria a forma mais primitiva de resolução de conflitos. Utilizava se da força física contra o adversário para vencer sua resistência e satisfazer uma pretensão. Remonta ao Código de Hamurabi, que consagrou a Lei do talião – “olho por olho, dente por dente” –, a qual impunha o revide na mesma medida que a injustiça praticada, sendo utilizada, principalmente, no combate ao crime1 . Restringia se à imposição de uma solução pelo mais forte sem que houvesse a afirmação da existência ou inexistência de direito, apresentando como características essenciais a ausência de juiz imparcial e a imposição do interesse da parte mais forte. Deve ser observado que a Lei de Talião trouxe apenas uma regra de proporcionalidade. O limite da agressão retribuída seria o da lesão causada. Por não garantir a justiça, mas somente a vitória do mais ousado sobre o mais tímido, tal prática foi vedada pelos Estados modernos. Nesse sentido, um passo muito importante foi a garantia do due process of law, cuja origem remonta à Magna Carta (1215), pois esta impedia que qualquer pessoa fosse privada de seus bens ou de sua liberdade sem que fosse observado o devido processo legal, ficando proibida, portanto, a autotutela. Além dessa garantia, hoje prevista em nosso ordenamento jurídico no art. 5º, LIV, da CF, temos também a regra do art. 345 do CP, que caracteriza a autotutela como ilícito penal, ao tipificar o crime de exercício arbitrário das próprias razões. Todavia, o Estado permite a autodefesa em situações excepcionais, tais como: na legítima defesa no âmbito penal (art. 25 do CP); no desforço possessório conferido ao possuidor turbado (art. 1.210, § 1º, do CC/2002); no direito de retenção do locatário (art. 578 do CC/2002) e do depositário (art. 644 do CC/2002); bem como no direito de greve, garantido constitucionalmente (art. 9º da CF), no âmbito do direito do trabalho. Tais exceções se justificam pelo fato de o Estado nem sempre estar presente no momento em que um direito é violado. Assim, para evitar o perecimento do direito, seu titular poderá realizar atos por conta própria para garanti lo, nos casos em que a lei permitir, desde que o faça imediatamente após a violação ou quando o direito estiver prestes a ser vulnerado, devendo haver, sempre, a proporcionalidade entre o agravo sofrido e a resposta. Já a autocomposição assume maior relevância na fase positivista de nosso direito. Nessa época, era vista como forma intermediária de solução de conflitos, ainda precária, porém mais evoluída do que a autodefesa. Trata se de solução parcial (por ato dos sujeitos em conflito) na qual as partes chegam a um acordo quanto à existência ou inexistência de um direito, seja pela renúncia, pela transação (concessões recíprocas) ou mediante o reconhecimento da pretensão alheia, pondo fim ao conflito de interesses existente. Tal método não desapareceu dos ordenamentos jurídicos modernos, sendo consentido e até mesmo estimulado em muitas situações. Em nosso ordenamento, a autocomposição pode ocorrer extra ou endoprocessualmente, isto é, antes da instauração do processo ou durante a sua pendência, sendo que, na segunda hipótese, haverá a extinção do processo com a resolução do mérito. São exemplos de autocomposição em nosso ordenamento jurídico: a transação civil (arts. 840 a 850 do CC/2002); a conciliação (arts. 21 a 26 da Lei n. 9.099/95 e art. 165, § 2º, do CPC/2015); a mediação (art. 165, § 3º, do CPC/2015 e PL n. 7.169/2014); e a transação penal (arts. 72 a 76 da Lei n. 9.099/95). Finalmente, a heterocomposição. A parcialidade característica da autocomposição fundamentou a crença de que a solução de conflitos deveria ser entregue a pessoa desinteressada no objeto da disputa. O Juízo Arbitral é uma modalidade de heterocomposição (julgamento do litígio por terceiro escolhido consensualmente pelas partes), também voltada à fixação de existência ou inexistência de um direito. Diferencia se da conciliação porquanto esta, além de consistir em meio alternativo de autocomposição induzida, permite apenas que um terceiro imparcial conduza as partes a um acordo, nada mais podendo fazer se isso se mostrar inviável. Já no caso da arbitragem, não havendo possibilidade de acordo entre as partes,

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