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Acesso a Justiça e Sistema Multiportas

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AS TRÊS ONDAS RENOVATÓRIAS DO ACESSO À JUSTIÇA
Mauro Cappelletti e Bryant Garth - na célebre obra “Acesso à justiça”, dividiram em três ondas os principais movimentos renovatórios do acesso à justiça.
Primeira onda - diz respeito à assistência judiciária aos pobres e está relacionada ao obstáculo econômico do acesso à justiça.
Segunda onda - refere-se à representação dos interesses difusos em juízo e visa contornar o obstáculo organizacional do acesso à justiça.
Terceira onda- denominada de “o enfoque do acesso à justiça”, detém a concepção mais ampla de acesso à justiça e tem como escopo instituir técnicas processuais adequadas e melhor preparar estudantes e aplicadores do direito.
No Brasil, a primeira onda renovatória do acesso à justiça ganhou consistência jurídica com a entrada em vigor da Lei 1.060, de 5 de fevereiro de 1950 e, mais de quarenta anos após, com a instituição da Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios, por meio da Lei Complementar 80, de 12 de janeiro de 1994.
Hoje, com a Constituição Federal de 1988, a assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos está inserida no catálogo dos direitos e garantias fundamentais, mais precisamente no inciso LXXIV do artigo 5.º.
A Defensoria Pública foi consagrada no artigo 134 da Constituição como “instituição essencial à função jurisdicional do Estado” e, por ser uma garantia institucional, não pode ser suprimida do ordenamento jurídico.
Ação Popular
No que diz respeito à ação popular - regulamentada pela Lei 4.717, de 29 de junho de 1965 –, entendida por muito tempo como o mais moderno instrumento processual para a tutela de alguns direitos metaindividuais, cumpre dizer que, depois de séria análise, a doutrina concluiu pela insuficiência desse mecanismo para a proteção dos interesses de massa.
Criticou-se, dentre outros aspectos da ação popular: a) a restrição da legitimidade ativa somente ao cidadão-eleitor, isto é, apenas à pessoa natural em pleno gozo dos seus direitos políticos – artigo 1.º e Súmula 365 do Supremo Tribunal Federal[24]; b) o fato de haver tão-somente dispensado o adiantamento das custas, sem desobrigar o autor sucumbente dos encargos processuais finais – artigo 10, não recepcionado pela Constituição Federal de 1988, conforme se depreende do seu artigo 5.º, inciso LXXIII, que isentou de custas e ônus de sucumbência o autor de boa-fé; c) o caráter exclusivamente repressivo da ação – artigo 1.º, cuja letra vai de encontro com o direito fundamental do acesso à justiça, constante do inciso XXXV do artigo 5.º da Constituição Federal de 1988; e d) o objeto de proteção, que não abrange todos os direitos transindividuais, apesar da considerável ampliação concedida pela atual Constituição, sendo, portanto, taxativo. Há de se ressaltar, ainda, o desvirtuamento do uso da ação popular para fins político-partidários e desmoralização, muitas vezes infundada, de agentes públicos.
Ação Civil Publica
Os maiores avanços vieram com a entrada em vigor da Lei da Ação Civil Pública, em 1985, e do Código de Defesa do Consumidor, em 1990, que, conjuntamente, formaram o microssistema processual de tutela dos interesses de massa.
Legitimados
Tais legitimados atuarão em nome próprio, não havendo que se falar em procuração para tornar viável a defesa em juízo de direitos transindividuais, uma vez que se trata de regime específico e diferenciado de legitimação ativa. Esse tipo de legitimidade ativa faz com que seja dispensável a participação direta de todas as pessoas que poderão ser beneficiadas por eventual sentença de procedência, de forma que não precisem, em princípio, sofrer os dissabores rituais do processo.
Em relação a essa segunda onda renovatória do acesso à justiça, justificaram Mauro Cappelletti e Bryant Garth:
Uma vez que nem todos os titulares de um direito difuso podem comparecer em juízo – por exemplo, todos os interessados na manutenção da qualidade do ar, numa determinada região – é preciso que haja um “representante adequado” para agir em benefício da coletividade, mesmo que os membros dela não sejam citados individualmente. Da mesma forma, para ser efetiva, a decisão deve obrigar a todos os membros do grupo, ainda que nem todos tenham tido a oportunidade de ser ouvidos. Dessa maneira, outra noção tradicional, a da coisa julgada, precisa ser modificada, de modo a permitir a proteção judicial efetiva dos interesses difusos.
A terceira onda renovatória do acesso à justiça, por sua vez, é ampla e leva em consideração, dentre outros, o papel do magistrado na condução do processo, com o objetivo de incentivar a sua atuação ativa e direcionada a contornar os obstáculos burocráticos e formalísticos que impedem seja a sua prestação jurisdicional efetiva.
A terceira onda propugna que os magistrados abandonem o tradicional papel de mero expectador para serem criativos e inovadores na condução do processo. Nesse sentido, deve o magistrado, por meio da ação civil pública e das técnicas processuais colocadas à sua disposição, fazer valer o seu poder geral de efetivação, buscando os meios idôneos para prestar a tutela adequada, tempestiva e efetiva aos direitos transindividuais, de modo a observar atentamente o cumprimento dos dispositivos do Código de Processo Civil – contempt of court brasileiro.
O Sistema de Múltiplas Portas (Multidoor Courthouse System) pode ser definido como um mecanismo de aplicação de métodos alternativos de resolução de conflitos no qual, a partir do conflito apresentado pelas partes interessadas em negociar, é disponibilizada uma variedade de meios ou “portas”, a fim de que se possa identificar qual a mais adequada para a propositura de um acordo eficaz e que seja cumprido e satisfatório por ambos os indivíduos. Assim, por meio deste estudo, desenvolvido de forma transversal e descritiva, revisando a literatura especializada, analisa-se a relevância do sistema multiportas como meio de promoção do direito fundamental de acesso à justiça e sua importância para a prestação jurisdicional do sistema de justiça criminal.
A diversidade dos conflitos vivenciados pelas pessoas requer mecanismos diversos de resolução a fim de que os indivíduos (analisados de forma individual ou coletivamente) satisfaçam seus interesses da melhor forma possível, visualizando a sociedade de forma sistêmica, além de levar em conta os princípios basilares da igualdade e da solidariedade.
O Sistema de Múltiplas Portas objetiva prover opções às partes envolvidas em um problema comum, ou seja, esse sistema disponibiliza métodos alternativos ao Poder Judiciário de resolução de conflitos, de modo que as partes, com mais alternativas, têm mais facilidade em encontrar uma forma de solução mais adequada ao conflito cerne da demanda. Assim, nota-se que os indivíduos sujeitos de uma demanda vislumbram mais opções, daí o nome múltiplas portas.
Assim, visando analisar a relevância do sistema multiportas como meio de promoção do direito fundamental de acesso à justiça e sua importância para a prestação jurisdicional do sistema de justiça criminal, desenvolveu-se esta pesquisa, através de uma metodologia qualitativa, que se caracteriza pelo entendimento detalhado de situações e significados, em que há o interesse em buscar o lado subjetivo do fenômeno e valorizar as palavras, pois estas se transformarão em dados relevantes sobre o tema a ser estudado, quando se deseja avaliar a complexidade da realidade; possibilitando, conseguintemente, que o investigador confirme ou despreze (DESLANDES; GOMES; MNAYO, 2007).
Este trabalho expõe os resultados finais de um estudo transversal, descritivo e do tipo revisão de literatura, visto que se se utilizará, como base teórica, produções bibliográficas que tratam do objeto a ser estudado, além da jurisprudência dos tribunais.
1 CONSIDERAÇÕES  SOBRE O  DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO À JUSTIÇA
 A ideia de tornar a justiça acessível a todos surgiu no século XX, tornando-se uma forte tendência nos sistemas jurídicos mais modernos daépoca. Isto porque, com a segunda grande guerra mundial a problemática da inclusão ganhou maior evidência, de forma que as constituições passaram a prever uma série de direitos fundamentais, bem como a própria garantia desses direitos. (ALVES, 2015)
No Brasil, de acordo com Celso Ribeiro Bastos (1999), a constituição de 1946 foi a primeira a prever o amplo acesso à justiça. Na Constituição de 1988, atualmente em vigor, o princípio do amplo acesso à justiça encontra-se expressamente previsto que em seu artigo 5º, inciso XXXV, abrange tanto a apreciação de lesão a direito em via repressiva (quando já constatada a violação do direito), como também a chancela em via preventiva, diante de qualquer ameaça que possa por em cheque um direito subjetivo (ALVES, 2015). Reza o supracitado artigo que: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. (CF, 1988).
Carlos Henrique Bezerra Leite (2011) afirma que é possível considerar o direito de acesso à justiça sob três perspectivas. Com relação a primeira observa que  o acesso à justiça possui o mesmo sentido que justiça social. Quanto a segunda, entende que o acesso à justiça consiste no alcance à tutela jurisdicional e, no que diz respeito à terceira compreende os escopos jurídico, social e político do processo. Dessa forma, o sistema deve ser alcançado por todos e os seus efeitos devem ser baseados na ideia de justiça.
José Roberto dos Santos Bedaque (2003) ensina que:
Acesso à justiça, ou mais propriamente, acesso à ordem jurídica justa, significa proporcionar a todos, sem qualquer restrição, o direito de pleitear a tutela jurisdicional do Estado e de ter à disposição o meio constitucionalmente previsto para alcançar esse resultado. Ninguém pode ser privado do devido processo legal, ou, melhor, do devido processo constitucional. É o processo modelado em conformidade com garantias fundamentais, suficientes para torna-lo équo, correto, justo. (BEDAQUE, 2003, p.71)
Na mesma lógica, Mauro Cappelletti e Bryant Garth ( 1988):
A expressão “acesso à justiça” é reconhecidamente de difícil definição, mas serve para determinar duas finalidades básicas do sistema jurídico – o sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar seus direitos e/ou resolver seus litígios sob os auspicios do Estado que, primeiro deve ser realmente acessível a todos; segundo, ele deve produzir resultados que seja individual e socialmente justos. (CAPPELLETTI; GARTH, 1998, p. 3).
Destaca-se que o acesso à justiça não se limita à possibilidade de se ingressar em juízo, uma vez que para sua efetivação é imprescindível que se estenda este acesso a todos que necessitarem, disponibilizando-se meio para demandarem e se defenderem satisfatoriamente, inclusive quando se tratar de processo criminal. (CINTRA; GRINOVER E DENAMARCO, 2007).
Desta feita, o princípio do amplo acesso à jurisdição consubstancia-se em uma verdadeira busca à realização da justiça, contrapondo-se a todos os obstáculos formais ou materiais que impeçam o cumprimento das garantias fundamentais previstas em um Estado Democrático de Direito.
O termo acesso à justiça deve ser percebido como a proteção de qualquer direito indistintamente, sem restrição econômica, social, política, cultural etc. Não basta que a Constituição Federal e demais legislação pátria dê ao cidadão somente a garantia formal da defesa dos direitos e o acesso ao Poder Judiciário, é preciso antes de tudo, dar a todas as pessoas a garantia material de proteção desses direitos (ALVES, 2015).
No mesmo viés, ao se falar em acesso à justiça deve-se falar também na busca da proteção de qualquer direito, sem nenhum tipo de restrição social, econômica, geográfica. Não se pode imaginar somente a garantia formal da defesa dos direitos e o acesso ao Poder Judiciário, mas deve-se assegurar a garantia de proteção material destes direitos, a fim de possibilitar a todos os indivíduos, igualmente, a segurança de que terão a adequada tutela jurisdicional.
De acordo com Pedro Lenza (2014), em decorrência do princípio em análise, não mais se admite no sistema constitucional pátrio a chamada jurisdição condicionada ou instância administrativa de curso forçado, tal como se verifica no art 153, p.4º, da EC n.1/69, na redação dada pela EC n. 7, de 13.04.1977. Para ingressar (“pater às portas”) no Poder Judiciário não é necessário, portanto, o prévio esgotamento das vias administrativas.
Corroborando com esse entendimento Alexandre de Moraes afirma que:
Inexiste a obrigatoriedade de esgotamento da instância administrativa para que a parte possa acessar o judiciário. A Constituição Federal de 1988, diferentemente da anterior, afastou a necessidade da chamada jurisdição condicionada ou instância administrativa de curso forçado, pois já se decidiu pela inexigibilidade de exaurimento das vias administrativas para obter-se o provimento judicial, uma vez que exclui a permissão que a Emenda Constitucional nº7 à Constituição anterior estabelecera, de que a lei condicionasse o ingresso em juízo à exaustão das vias administrativas, verdadeiro obstáculo ao princípio do livre acesso ao Poder Judiciário. (MORAES, 2012, p.87).
2. A SOBRECARGA DO PODER JUDICIÁRIO: AS DIFICULDADES QUE COMPROMETEM A AGILIDADE NA TRAMITAÇÃO DE PROCESSOS
Cabe salientar preliminarmente que as mais diversificadas espécies de sociedade evoluíram de modo a encontrar a melhor maneira de solucionar seus litígios. Partindo da premissa de que o Estado exerce seu poder, basicamente, em três vertentes distintas, conforme sua área de atuação, como por exemplo, as funções de administrar, legislar e julgar, pode- se perceber que o Estado-Juiz assume a responsabilidade de compor os conflitos de interesses que sobrevenham a ele.
A base de sustentabilidade do conceito de Mínimo Existencial, sendo o acesso à justiça, tem sido um dos grandes desafios do legislador nos múltiplos trabalhos projetados no sentido de Reformar o Poder Judiciário.
Vale mencionar o entendimento de Dinamarco (2004, p. 45), quando afirma com muita propriedade que:Só tem acesso à ordem jurídica justa quem recebe justiça, e auferir justiça além de ter a demanda recebida em juízo é poder participar, contar com a participação adequada do juiz e, ao fim, receber um provimento jurisdicional consentâneo com os valores da sociedade.
          
A Constituição Federal de 1988 é incisiva ao declarar em seu Artigo 5º incisos LIV e XXXV, que:LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
Sabe-se que há muitos processos em que não possuem fundamento, qualidade na propositura e na instrução, mas diante desta garantia constitucional, mencionada acima, não se pode negar a prestação jurisdicional com a escusa de que está atribulada, por este fato é necessário analisar o caso concreto com a finalidade de se buscar outros meios para resolução de conflitos.
                   Atualmente a sobrecarga é um dos principais problemas do Poder Judiciário brasileiro que apresenta uma série de precariedades e deste modo torna a tramitação processual morosa, fato este que se dá também pelas dificuldades de solução de conflitos, como os custos, o excesso de formalidades e a crescente procura por seus serviços. A solução para a redução deste excesso de trabalho passa inevitavelmente pela utilização de meios alternativos de resolução de conflitos, sendo que este se pode dar por meios processuais ou até mesmo extraprocessuais, como nos traz o sistema multiportas.
Uma das consequências acarretadas pela morosidade do judiciário na esfera criminal é a prescrição do jus puniendi, ou seja, se a demora for exagerada pode advir a extinção do poder punitivo do Estado. Deste modo, deve-se notar como causas da demora nas decisões judiciais, a quantidade insuficiente de juízes em contrapartida com o elevado número de ações que se tem no judiciário e o extremo formalismo processual que, se deixar de ser observado, pode ensejar protelações,anulações ou nulidades.
Neste contexto, o problema a ser abordado consiste em avaliar qual a solução para combater a morosidade do Poder Judiciário e permitir maior acesso à Justiça.
2.1 - Meios alternativos para solução de litígios no Poder Judiciário        Os meio extraprocessuais nos quais o Poder Judiciário utiliza nas situações concretas levadas pela população em busca de soluções aos Juizados Especiais contribuem para com a desjudicialização, estes meios são a conciliação, a mediação, a arbitragem e a negociação.
Toma-se como partida a obra “Acesso à Justiça”, de Mauro Cappelletti, na qual mostra o objetivo principal dos juizados, onde visam além da celeridade, à melhoria na prestação jurisdicional e destacando a dimensão social do processo.
Conforme entendimento de Joel Dias Figueira Júnior (2002 p. 169-181):
Os meios ou formas alternativas de solução de conflito não visam o enfraquecimento do Poder Judiciário. A escolha entre a solução do conflito através da tutela estatal ou paraestatal não significa que uma é melhor ou pior, mas duas formas distintas colocadas à disposição dos jurisdicionados para a solução de seus conflitos.
É uma forma de resolução de conflitos em que as partes confiam a uma terceira pessoa, sendo ela neutra e imparcial, denominado conciliador, com autoridade ou indicado pelas partes.
O conciliador, juntamente com as partes, buscará a transação, submissão ou renúncia, sendo que este ajuda nas negociações, resolve, sugere e indica propostas ao mesmo tempo no qual aponta falhas, vantagens e desvantagens fazendo sempre jus à composição.
A conciliação judicial ocorre quando o conflito de interesses já está ajuizado, nestes casos, o juiz do processo, atuará como conciliador, ou um conciliador poderá se nomeado e treinado para o exercício da função, geralmente, nos Juizados Especiais Criminais, os conciliadores são bacharéis em Direito e são supervisionados pelo Juiz de Direito, que atue no Juizado Especial Criminal.
A principal vantagem deste instituto é a pacificação das partes após o término da lide, buscando uma efetiva harmonização social e a restauração, dentro dos limites possíveis, da relação social das partes. Deste modo, magistrados, advogados, membros do Ministério Público e da administração pública têm adquirido consciência sobre a importância da conciliação, sendo que atualmente este método tem sido utilizado em grande escala, obtendo sucesso e desafogando o poder judiciário.
A Mediação é uma forma de solução de conflitos na qual uma terceira pessoa, neutra e imparcial, facilita o diálogo entre as partes, para que elas construam, com autonomia e solidariedade, a melhor solução para o problema, visando o consenso e a realização do acordo.
 O mediador deve proceder, preservando os princípios éticos. Nas declarações públicas e atividades promocionais o mediador deve restringir-se a assuntos que esclareçam e informem o público por meio de mensagens de fácil entendimento.
É utilizado, em regra, em conflitos multidimensionais, ou complexos, sendo este um procedimento estruturado, não possui prazo definido, e podendo terminar ou não em acordo, pois as partes têm autonomia para buscar soluções que compatibilizem seus interesses e necessidades.
Neste ano, em 03 de maio de 2016, o Conselho Nacional de Justiça criou o Sistema de Mediação Digital, no qual permite que as partes do processo que estejam distantes fisicamente celebrem acordos virtuais, assim com a possibilidade de troca de mensagens e informações trazidas pelo sistema as partes podem chegar a um solução da lide. Caso seja considerado necessário pelas partes, esses acordos podem ser homologados pela Justiça. Caso ocorra um acordo, será marcada uma mediação presencial que ocorrerá nos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSCS), criado pela Resolução CNJ n. 125.
A mediação segundo SALES (2004, p. 23) é “um procedimento em que através do qual uma terceira pessoa age no sentido de encorajar e facilitar a resolução de uma disputa, evitando antagonismos, porém sem prescrever a solução”. Nas palavras de Braga Neto (2008, p.76), “a mediação é parte de uma premissa de devolução às partes do poder de gerir e resolver ou transformar o conflito, no sentido de que são elas as mais indicadas para solucionar suas questões”.
A arbitragem é uma alternativa extrajudicial e voluntária de solucionar conflitos, não cabendo à tutela do poder judiciário, por sua vez tem como característica um terceiro a elaborar a decisão final da solução de um conflito, que atuará de forma neutra e imparcial para solucionar controvérsias.
São as partes que definem o método a ser adotado durante o todo procedimento da arbitragem, escolhem do árbitro, chamado juiz arbitral, e também o prazo para finalizar essa forma alternativa de resolução de conflitos. A decisão final tem caráter definitivo, pois sua sentença terá força judicial, e nesse sistema não cabe recurso.
A lei 9307/96 preceitua em seu art. 1º que “as pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis”.
O art. 852 do Código civil de 2002 trata de vedações ao compromisso arbitral, estabelecendo que “é vedado compromisso para solução de questões de estado, de direito pessoal de família e de outras que não tenham caráter estritamente patrimonial”.
Esses dispositivos estabelecem as restrições subjetiva e objetiva. É necessário que as partes sejam capazes e só será instaurado quando o conflito versar sobre direitos patrimoniais disponíveis.
O conceito de arbitragem segundo Carmona (2008, p.76):
Uma técnica para solução de controvérsias através da intervenção de uma ou mais pessoas que recebem seus poderes de uma convenção privada, decidindo com base nesta convenção, sem intervenção do Estado, sendo a decisão destinada a assumir eficácia de sentença judicial.
A negociação trata-se de uma via alternativa pura para dirimir controvérsias, destacando-se na solução de litígios de natureza comercial em razão de evitar incertezas e os custos de um processo judicial, bem como preservar o relacionamento das partes envolvidas de maneira discreta e sigilosa. Caracteriza-se pela presença da confiança e credibilidade entre os negociadores.
Com muita propriedade, Vezzula (2001, p. 15) considera a negociação como uma técnica salutar e autocompositiva de resolução de conflitos, que pela sua singeleza e por meio do diálogo, deve ser empregada como uma das primeiras formas de solução de um problema.
Vezzula (2001, p. 15), ao abordar esta técnica, chamada por ele de negociação cooperativa, ressalta que, ‘‘a negociação é sem dúvida, o mais rápido e econômico meio de resolver controvérsias, quando os negociadores conhecem as técnicas que os auxiliarão a obter satisfação para ambas as partes.”
Pode-se observar que a celeridade do Judiciário está ligada a sua eficiência, é necessário prezar pela qualidade das decisões, quando encontrar argumentos para recursos protelatórios se tornaria tão difícil que evitaria a sobrecarga das instâncias subsequentes.     
O presente tema em comento tem estimulado o legislador constitucional, infraconstitucional, juízes, tribunais, estudiosos e juristas a se dedicarem a estudos e elaboração de leis e projetos que sejam focados no aperfeiçoamento dos meios processuais e alternativos. As mudanças operadas no Poder Judiciário buscando sua agilidade e desafogamento encontram-se em fase inicial.
Mister salientar que se tem verificado um crescente interesse pelo estudo dos métodos alternativos de solução de conflitos, de modo a concretizar o espírito das ondas renovatórias propostas pelo Mauro Cappelletti em sua obra Acesso à justiça (1988). O procedimento comum não mais corresponde aos anseios do jurisdicionado que reclama por formas descomplicadas e dinâmicas para solucionar os conflitos, nos quais são trazidas pelo sistema multiportas.
 
3 O SISTEMA MULTIPORTAS COMO DINAMIZADOR DA JUSTIÇA CRIMINALFrente às constantes mudanças e dificuldades que permeiam o nossosistema jurídico, como a sobrecarga do poder judiciário, ora explanado de forma breve neste estudo, surgem mecanismos aptos a melhorar e atualizar o nosso cenário jurídico, para que este possa se moldar e adequar-se ás evoluções que nossa sociedade passa.
É necessário um aprimoramento da efetividade e racionalidade dos serviços judiciais prestados. Um dos notórios mecanismos que vem ganhando cada vez mais espaço, visando a emprestar maior celeridade à resolução dos conflitos, é inspirado em experiências que vêm sendo desenvolvidas nos países anglo-saxônicos referente à criação dos chamados tribunais multiportas (Multi-door Courthouse).
Trata-se de um novo conceito. O chamado Sistema Multiportas é um modelo alternativo de solução de litígios, conforme já dito, que prevê a integração, em um único espaço físico, de vários modos de processamento de conflitos, sendo judiciais ou extrajudiciais. Desta forma, em vez de se oferecer apenas um único caminho, uma única "porta" – o processo judicial – o tribunal "multiportas" considera vários tipos de procedimentos concentrados em uma verdadeira central de Justiça, em que o Estado conduz os litigantes para a melhor opção de resolução de litígio, a melhor “porta”.
Este sistema tem como principal característica o seu procedimento inicial. Ao procurar o tribunal, o litigante passa por uma triagem para verificar qual processo seria mais recomendável para o conflito que o levou ao Poder Judiciário. Sendo assim, é direcionada primeiramente para a porta da Administração Pública ou, então, para a porta dos conciliadores extrajudiciais, conforme cada caso, antes de ser encaminhada ao processo judicial propriamente dito. Marco Antônio Lorencini sintetiza da seguinte maneira o procedimento inicial realizado num Tribunal Multiportas:
A metáfora das portas remete a que todos os meios alternativos estejam disponíveis em um só lugar [juntamente com os meios oficiais]. Em geral, depois de apresentado um formulário pelo requerente, o requerido é também chamado e igualmente preenche um formulário igual. Esses formulários são encaminhados pelo funcionário ao julgador que, então, designa uma audiência para as partes para dar-lhes conhecimento acerca do meio indicado. [...] Dois pontos são centrais: quem exerce a triagem e o meio trilhado. [...] A escolha do meio pode, assim, dependendo do programa, ser feita pelo autor, pelo réu, ou por ambos, de forma consensual. Pode, ainda, ser mecanicamente feita por um funcionário do tribunal, por um perito externo ou, ainda, pelo próprio julgador. No caso de pluralidade de autores, prevalece o critério da maioria. Nas hipóteses em que a escolha cabe a uma pessoa que não as partes, elas respondem a um questionário detalhado que, entre outras coisas, discrimina (i) a quantidade de partes envolvidas, (ii) os 59 fatos e as possíveis questões daí advindas, (iii) pedidos (iv) relacionamento entre as partes, (v) a natureza das questões a resolver e sua natureza. Essa análise objetiva é seguida de um outro formulário no qual a parte expõe o seu objetivo, respondendo sua expectativa com relação à (i) celeridade, (ii) confidencialidade, (iii) o interesse em preservar o relacionamento com a parte contrária, (iv) disposição em negociar com a parte contrária.” (LORENCINI, 2006, p. 117)
No Brasil o sistema multiportas vem, aos poucos, ganhando espaço e notoriedade. Principalmente com o advento da Resolução nº 125 do Conselho Nacional de Justiça – CNJ. Este instrumento institui a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário, abrangendo, assim, os meios alternativos de resolução de conflitos no ordenamento jurídico além de prestar atendimento e orientação ao cidadão através do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos do Tribunal de Justiça e os CEJUSCs que é uma forma de centralizar a estrutura judiciária.
 A Resolução, em seu Capitulo III, explana sobre as atribuições dos Tribunais, dentre elas a criação dos Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos, criação dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos, da responsabilidade pelos mediadores e conciliadores, da criação e manutenção de banco de dados com estatísticas das atividades de cada Centro. Neste caminho, esta técnica já foi experimentada com sucesso no trato do conflito juvenil (atos infracionais), em crimes de menor potencial ofensivo, nos Juizados Especiais, dentre outros.
Na área criminal, o sistema multiportas se concretiza, de modo mais contundente, na chamada Justiça Restaurativa. Esta, por sua vez, baseia-se num procedimento de consenso, em que a vítima e o infrator, e, quando apropriado, outras pessoas ou membros da comunidade afetados pelo crime, como sujeitos centrais, participam coletiva e ativamente na construção de soluções dos traumas e perdas causados pelo crime.
Esta denominação de Justiça Restaurativa é atribuída a Albert Eglash, que, em 1977, escreveu um artigo intitulado Beyond Restitution: Creative Restitution, publicado numa obra por Joe Hudson e Burt Gallaway, denominada “Restitution in Criminal Justice”. Eglash sustentou, no artigo, que havia três respostas ao crime – a retributiva, baseada na punição; a distributiva, focada na reeducação; e a restaurativa, cujo fundamento seria a reparação.
A Justiça Restaurativa tem como principal objetivo reparar o mal causado pela prática do ilícito, que não é tido, de começo, como um fato jurídico contrário á norma positiva imposta pelo Estado, mas sim como um fato ofensivo à pessoa da vítima e que quebra o bem-estar social. Com isso, o crime, para a justiça restaurativa, não é apenas uma conduta típica e antijurídica que atenta contra bens e interesses penalmente tutelados, mas, antes disso, é uma transgressão nas relações entre infrator, o paciente e a comunidade, cabendo, então, à Justiça Restaurativa encontrar as precisões e obrigações advindas dessa relação e do trauma ocasionado e que deve ser restaurado.
Com o objetivo de reparar o dano causado com o exercício da infração, a Justiça Restaurativa se vale do diálogo entre as pessoas envolvidas no conflito, quais sejam, autor e vítima.
Apesar de se buscar a reparação do dano causado pelo ilícito, não há que se enfocar somente a reparação material do dano. Esta poderá se materializar de qualquer outra forma, como por exemplo, o simples reestabelecimento do convívio social saudável dos envolvidos.
Consubstancia-se em um processo estritamente voluntário, relativamente informal e caracterizado pelo encontro e inclusão. Os envolvidos no conflito em questão, por voluntariedade absoluta, optam por este método alternativo de solução de conflito, o que faz desta característica, a escolha voluntária, um elemento imprescindível.
Em meio às diversas modalidades de Justiça Restaurativa podemos destacar a mediação (mediation), reuniões coletivas abertas à participação de pessoas da família e da comunidade (conferencing) e círculos decisórios (sentencing circles).

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