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APOSTILA HISTÓRIA MODERNA DA FORMAÇÃO DO SISTEMA INTERNACIONAL ESTACIO EAD

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HISTÓRIA MODERNA: DA FORMAÇÃO DO SISTEMA INTERNACIONAL
AULA 1: A EUROPA MODERNA
Ao começarmos a estudar história moderna vimos, desde o princípio, que a modernidade está longe de ser somente uma palavra, não é? 
Ela é um conceito, mas que assume diferentes formas, e pode ser entendido a partir de muitas teorias diferentes.  
 No caso do conceito de moderno, muitas vezes, a senso comum, acaba se apropriando de ideias que, ao serem analisadas historicamente, ganham outro sentido. É comum que moderno seja comumente utilizado para descrever algo novo, atual. Mas vejamos a acepção deste conceito, deixando de lado o senso comum.
E o que isso quer dizer?
ATENÇÃO: Se tomarmos como exemplo o sociólogo Jurgen Habermas, veremos que o conceito de modernidade assume a forma de um processo complexo, que permitira a formação da sociedade contemporânea. Estes processos acontecem-nos mais diversos aspectos da vida social.
O que isso quer dizer?
Imagine que a história é um quebra cabeças. Para montar todo o jogo, é preciso ter todas as peças. Se faltar uma parte, o quebra-cabeça não se completa. Para entender a história, é preciso, antes de tudo, compreender que todos os processos estão interligados.
Dessa maneira, se as transformações da chamada Idade Moderna podem ser mais facilmente observadas quando falamos sobre grandes movimentos, como a formação das economias nacionais, a centralização de poder, o fim do feudalismo, isso não quer dizer que estas transformações também não se operem nas ideias, no comportamento e nos hábitos sociais.
SAIBA MAIS: Ao tentarmos isolar um evento histórico, sem considerar o contexto e as forças que atuam em seu redor, estaremos esvaziando este fato, distanciando-o da realidade no qual ele foi produzido. Dessa maneira, ele acaba sendo esvaziado, ou seja, perdendo o sentido. Mesmo quando optamos por fazer um estudo de caso, é importante levarmos em consideração o contexto histórico.
Mas, o que é um estudo de caso?
É comum, ao realizarmos uma pesquisa histórica, que escolhamos um objeto, um recorte, ou seja, uma parte da história, para que possamos estudá-la com maior propriedade*. 
Idade Moderna é o termo que usamos comumente para designar o período entre os séculos XV e XVIII. É um período relativamente curto, se considerarmos que a Idade Média se situa entre os séculos V e XV.
*Assim, sobre História Moderna, pode-se escolher uma pequena parte dela para estudo: um processo, um governo, uma manifestação cultural. A isso chamamos estudo de caso, mas estes estudos jamais perdem de visto que cada caso faz parte de um todo. Entendido?
Um momento... Três séculos... Um período curto?!
Em História, sim. Devemos reformular também nosso entendimento de tempo. Nos dias de hoje, as mudanças ocorrem muito rapidamente. Regimes de governo desaparecem e são substituídos. Ideologias, sistemas políticos, ideias, tecnologias. Algo que hoje é “moderno”, amanhã já está obsoleto.
ATENÇÃO: Como um exemplo do nosso cotidiano, podemos citar o uso do celular. Vinte anos atrás, era uma tecnologia novíssima e super revolucionária. Hoje, grande parte da população possui um aparelho, que por sua vez, é constantemente substituído por novos com tecnologias cada vez mais avançadas.
Logo, não podemos pensar o tempo histórico considerando somente nossas experiências, certo?
Nos três séculos que durou a Idade Moderna, grandes transformações se operaram sob diversos pontos de vista. 
É claro que ainda restaram heranças do período medieval*, mas não só o modelo de estado e as práticas econômicas sofreram rupturas, como também a maneira de pensar e de encarar o mundo. 
Se pudéssemos resumir em uma só frase, poderíamos dizer que a Idade Moderna marca a transição entre o mundo medieval e o contemporâneo, em todos os aspectos da vida em sociedade.
*Vamos voltar um pouquinho e vermos o que era, exatamente, o mundo medieval.
A Idade Média, que começa no século V, com o fim do Império Romano do Ocidente e é dividida em Alta e Baixa Idade Média. O primeiro período, a Alta Idade Média, é o apogeu medieval e a Baixa Idade Média, o momento em que as estruturas do medievo entram em crise até serem substituídas por um novo modo de produção, que daria início a Idade Moderna.
SAIBA MAIS: Durante a Idade Média, vigorou o modo de produção feudal ou feudalismo. Nesse modo de produção, não havia um estado centralizado, mas diversos feudos, comandados por um senhor feudal com plenos poderes. Os senhores feudais tinham uma moeda e exército próprios, e a base da economia era a agricultura. Os servos aravam a terra para o senhor e recebiam em troca proteção e parte da colheita. A outra parte ia para o sustento do senhor. Os servos estavam ligados à terra e eram responsáveis por todo o trabalho, além de pagarem diversos impostos ao seu senhor.
Importante: não podemos confundir servidão com escravidão. Leia mais sobre esse assunto clicando aqui.
Conclusão
O processo de formação dos estados nacionais não pode ser entendido apenas no âmbito político. A unificação dos reinos consistia e conciliar diversos interesses e também diversas culturas. Nesse sentido, o papel da religião é fundamental para compreendermos como esses estados se formam e se consolidam.
Como dissemos antes, em uma realidade fragmentada como a medieval, não havia sentimento ou identidade nacional. A identidade que os diversos feudos tinham em comum era dada pelo catolicismo, já que a mesma religião era professada nas diversas regiões.
No caso ibérico, essa identidade religiosa foi imprescindível para aglutinar a população em torno dos reis. Isabel e Fernando, reis de Aragão e Castela, terão o titulo de reis católicos, concedido pelo papa, em uma demonstração de que a Igreja via a união com bons olhos.
SAIBA MAIS: A burguesia tinha grandes interesses em um estado centralizado. Ao rei concedia permissões para exploração territorial, unificaria a moeda e o sistema de pesos e medidas, além de estimular e investir no desenvolvimento comercial. A centralização do poder nas mãos do rei seria o ponto de partida para o modo de governo que caracterizaria a Idade Moderna: o absolutismo*.
*Ainda que Portugal e Espanha tenham sido os primeiros a se unificar, é a França que é considerada o modelo de absolutismo por excelência. Nesse sistema, todos os poderes são concentrados nas mãos do rei. Na Inglaterra, isso ocorre durante o reinado de Henrique VIII e o modelo de rei absoluto francês é Luis XIV, o Rei Sol.
É preciso compreender que, no momento em que a burguesia se consolida, esta aliança com o rei é fundamental. Entretanto, após afirmar-se enquanto classe social, durante a Idade Moderna, o estado absolutista, que antes era importante para os burgueses se torna um obstáculo para o desenvolvimento mercantil. 
À medida que o estado interfere diretamente na economia, este desenvolvimento encontra-se limitado, pois acaba tendo que abarcar as necessidades burguesas e as necessidades reais. Soma-se a isso a manutenção dos privilégios da nobreza*.
*Toda a carga de impostos necessária para manter as luxuosas cortes era paga pela população. Os nobres e a Igreja eram isentos de impostos. O palácio de Versalhes, na França, acabou por se tornar um símbolo da ostentação da Corte. Construído no século XVII para ser a residência da família real francesa, Versalhes possui centenas de cômodos e é, até hoje, um dos mais luxuosos palácios do mundo.
Cabe lembrar que a nobreza, que vivia na Corte, não perdera seu poder político, dominando os mais importantes cargos administrativos. Ou seja, a burguesia arcava com os custos do estado, mas estava fora das decisões politico administrativas. Essa situação precipitaria a queda dos regimes absolutistas, durante as revoluções burguesas, como veremos nas próximas aulas.
Resumo
Vamos fazer um pequeno resumo do que vimos até agora: 
 No século XVI, o sistema feudal começa a entrar em crise e, a partir do século XV, vai sendo substituído progressivamente por uma nova dinâmica política, no qual o poder é centralizado,que chamamos de formação dos estados nacionais.
 Para que isso ocorra, foi fundamental a aliança entre o rei e a burguesia, que estava se desenvolvendo e acumulando poder financeiro através da expansão do comércio, certo? 
Mas está faltando alguma coisa... O que um novo modelo de Estado pressupõe?
Novo modelo de estado pressupõe um novo modelo econômico
Durante a Idade Média, a economia era agrária e o coração econômico dos feudos era o campo. O sentido da riqueza era a posse de terras, reservada aos nobres. Com a expansão do comércio, o sentido de riqueza muda. Isso não quer dizer que a nobreza abriu mão das terras que possuía. 
A expansão do comércio implica na necessidade de moeda e para cunhar moedas é preciso metais preciosos. A busca por esses metais é um dos motores da expansão marítima que está inserida em um contexto maior: o das práticas mercantilistas.
O mercantilismo não é um sistema econômico, stricto sensu. Na verdade, denominamos mercantilismo como o conjunto de práticas econômicas característico dos estados modernos. É possível afirmar que o mercantilismo daria origem ao sistema capitalista, e alguns teóricos entendem esse momento como o início do capitalismo comercial.
SAIBA MAIS: Se na Idade Média a medida da riqueza era a terra, agora passa a ser o metal precioso que o estado acumula. Essa característica é chamada de metalismo. O metal é necessário para a cunhagem de moedas, que por sua vez, implica na compra de mercadorias, que por sua vez implica no lucro gerado pela venda destas mercadorias, que por sua vez, implica no acúmulo de moeda. A ideia geral é que ao acumular e investir na moeda, ela geraria lucro, tornando o estado, a nobreza e os burgueses, cada vez mais ricos.
Novo modelo de estado pressupõe um novo modelo econômico
*Mas nem todos os reinos conseguiram aplicar esta medida. Espanha e Portugal, por exemplo, mesmo recebendo toneladas de metais preciosos de suas colônias, viviam em constante déficit financeiro. Isso acontecia porque compraram muitas mercadorias da França e da Inglaterra, além de contraírem empréstimos com os holandeses. Por essa razão, ainda que tenham explorado continuamente os territórios ultramarinos, os países ibéricos não se desenvolveram na mesma proporção. O ouro e a prata da América apenas passavam por Portugal e Espanha, mas iria enriquecer os cofres dos outros reinos.
Parece bem lógico, não é?
Por último, devemos falar do protecionismo e da prática do monopólio. No estado absolutista, era importante desenvolver o comércio. 
Para isso, o estado taxava os produtos estrangeiros, como forma de estimular uma nascente manufatura nacional. Também estabelecia monopólios comerciais, como é o caso do pacto colonial. 
De acordo com o pacto colonial, as colônias eram obrigadas a estabelecer comércio somente com a metrópole. Isso garantia à Coroa pagar preços mais baixos pelas mercadorias, podendo revendê-las com lucro.
ATENÇÃO: Essas transformações no Estado e na economia são parte de intensas rupturas sociais, que continuarão se processando até o século XVIII, quando esse modelo entra em decadência. O que é importante perceber é que a Idade Moderna não rompe completamente com a estrutura medieval, mas a transforma, agregando novos elementos dando origem a um novo modelo de sociedade.
AULA 2: AS GRANDES TRANSFORMAÇÕES
Na aula passada, vimos a formação do Estado moderno. Entretanto, a compreensão deste processo não seria completa sem nos debruçarmos sobre a questão religiosa*, que permeia toda a era Moderna.
* Quando falamos sobre Idade Média, a influência católica é claramente percebida durante toda essa época. A Igreja possui não só o poder espiritual, mas um enorme poder político e econômico. Essa influência se transforma na era moderna, mas não desaparece. Essa será uma época em que o pensamento científico e o religioso irão conviver e provocar rupturas que se tornam mais evidentes ao falarmos sobre a reforma e a contrarreforma.
 Vamos ver primeiro, de que forma a Igreja se adapta ao estado moderno.
Influência católica
Em uma Europa fragmentada, o catolicismo acaba se tornando a única identidade que a sociedade possui.
Dessa maneira, a influência católica é tentacular. Ela está em toda a parte, submetendo tanto o servos quanto os senhores. Em uma realidade onde a maior parte da população é analfabeta, a Igreja dispunha do monopólio da leitura.
Importância da igreja
Os livros eram copiados a mão nos mosteiros e então distribuídos pelo continente. Nesse sistema, a Igreja claramente escolhia o que seria lido ou não pelos seus fiéis. Esse sistema funcionou durante séculos, como fonte de propagação das ideias e legitimação da Igreja católica.
  O que podemos concluir é que as tarefas eclesiásticas estavam muito além daquelas concernentes ao mundo espiritual.
Com a unificação dos estados, a Igreja passar a ser parte integrante, indissociável, da nova estrutura de poder. O melhor exemplo disso é seu papel desempenhado na unificação da Espanha e na partilha das colônias ultramarinas entre os reinos ibéricos.
SAIBA MAIS: Também cabia à Igreja a confecção dos chamados registros paroquiais. Além de documentos diversos, os registros de nascimento, morte, batismo e casamento eram realizados por esta instituição, que servia então como uma espécie de cartório. Não é a toa que os documentos eclesiásticos constituem, ate hoje, um dos mais ricos acervos de fontes históricas disponíveis e aos quais os historiadores recorrem em inúmeras pesquisas, no tocante ao período medieval e ao começo da era moderna.
A unificação espanhola ocorre através do casamento dos reis Isabel de Castela e Fernando de Aragão. O papa Alexandre VI atribuiu ao casal o título de reis católicos, em uma clara manifestação de apoio a união.
Em 1494, o papa serve como intermediário na assinatura do Tratado de Tordesilhas que divide as possessões ultramarinas entre Portugal e Espanha. A utilização do papado como intermediário garantiria aos reinos ibéricos a legitimidade do acordo, que estaria, portanto, aprovado por Deus, representado pelo papa.
Conflitos
Mas essa adequação não se deu sem conflitos. 
Durante toda a Idade moderna, há diversos embates entre ciência e religião e entre o poder do estado e o poder da Igreja. 
Se os ibéricos aceitaram como “natural” a intervenção da igreja católica nos assuntos do estado, o mesmo não ocorreu na Inglaterra.
Reformas religiosas
É certo que as reformas religiosas possuem um fundamento intrinsecamente político, mas é na reforma anglicana que este aspecto se torna mais evidente. 
De fato, devemos entender estas reformas no grande conjunto de transformações das mentalidades vivido entre o final da Idade Média e o início da Era Moderna.
ATENÇÃO: Podemos localizar essas transformações, que aconteceram nos mais diversos âmbitos, tendo como ponto de partida os renascimentos do período.
Um momento, não era renascimento?
Na verdade, há diversos renascimentos. São chamados de renascimento comercial, urbano, científico e cultural. O renascimento cultural é sempre o primeiro que nos vem à mente, pois este movimento nos deixou um enorme legado, a arte renascentista. Quem nunca ouviu falar de Leonardo da Vinci e Michelangelo, não é mesmo? 
 
Uma infinidade de manifestações culturais de nossos dias utiliza a arte renascentista de algum modo. Na literatura, o exemplo mais recente é o livro de Dan Brown, o Código da Vinci. Mas as referências estão presentes em toda a parte. Da Vinci é um dos mais citados porque produziu o mais conhecido quadro do mundo, a Mona Lisa e também o mais reproduzido, a Última Ceia. 
Leia mais!
Os artistas da renascença também retrataram temas religiosos – a igreja não perdera sua influencia, lembra? Mas sob uma nova perspectiva. Os trabalhos eram feitos sob encomenda e, em uma era de mudança, a própria arte transformou-se em uma mercadoria. Esse é o caso da Última Ceia. Da Vinci foi contratado pelo duque de Milão para pintar um afresco, um gênero de pintura que é feito diretamente na parede. A parede,neste caso, pertencia ao refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão. Como grande parte das obras de arte produzidas ao longo da história, também a arte renascentista só adquiriu o valor incalculável que possui nos dias de hoje bem depois do fim do renascimento. Um exemplo disso é que os próprios religiosos do convento, ao longo do tempo, descaracterizaram a obra, abrindo uma porta na parede onde ela estava. Esse valor não se refere somente à parte puramente artística, mas porque são vestígios de uma era de florescimento e desenvolvimento do pensamento humano. 
 Assim como a Última Ceia, boa parte das grandes obras do renascimento foi produzida na Itália, por artistas italianos, sobretudo florentinos. Isso não ocorre à toa.
ATENÇÃO: Mas o renascimento cultural faz parte de um contexto maior. Ele é fruto da mudança de mentalidades que ocorre em sua época, especialmente entre os séculos XIII e XVI. Na Idade Média, a arte, que privilegia temas religiosos, está sob influência direta da Igreja. Falta aos quadros a perspectiva, a sensação de profundidade, que a pintura irá adquirir no renascimento. As obras medievais são quase como uma ilustração da Bíblia, retratando passagens famosas ou o martírio e a vida dos santos católicos. Seu compromisso religioso serve como lembrete de que Deus está em toda parte.    
Por que a Itália é o berço do renascimento cultural?
Para respondermos essa pergunta, falemos de outro renascimento, o comercial e urbano.
Na Idade Média, os burgos, as cidades medievais, ficavam geralmente em uma confluência, caminhos de passagem entre vários feudos, cujos servos se dirigiam ate lá para trocar seu excedente agrícola. Nessas cidades ocorriam as feiras. 
 Com a crise do século XIV, da qual falamos na aula anterior, essas cidades se desenvolvem e se tornam grandes centros comerciais. Contudo, algumas cidades italianas, que possuíam uma posição geográfica privilegiada, se desenvolvem antes e mais rapidamente.
Esse comércio, extremamente lucrativo, fez surgir uma burguesia sólida, que passou a se dedicar não só ao comércio, mas também a atividades bancarias, acumulando grande capital. 
 Mas a fortuna acumulada pelos burgueses não permitiu somente o patrocínio de artistas – chamado de mecenato – em sua época. Ela tornou possível outro importante evento na história: as grandes navegações.
ATENÇÃO: De fato, a expansão marítima, embora tenha sido uma tarefa a cargo do Estado, ela não teria sido possível sem o investimento dos burgueses.
Por que a Itália é o berço do renascimento cultural?
O renascimento, a reforma e a expansão marítima evidenciam que não há só um novo mundo a ser conhecido, mas, sobretudo, um novo homem. Na Idade Moderna, se forma uma nova concepção de indivíduo, de Estado e de sociedade.
Segundo Jacob Burkhardt:
Na Idade Média [...] o homem reconhecia-se a si próprio apenas como raça, povo, partido, corporação, família ou sob qualquer outra das demais formas de coletivo. Na Itália, pela primeira vez, tal véu dispersa-se ao vento; desperta ali uma contemplação e um tratamento objetivo do Estado e de todas as coisas deste mundo. Paralelamente a isso, no entanto, ergue-se também, na plenitude de seus poderes, o subjetivo: o homem torna-se um indivíduo espiritual e se reconhece como tal. Extraído de BURKHARDT, Jacob. A cultura do renascimento na Itália: um ensaio. São Paulo: Cia das letras, 2009. p. 25
AULA3: A EUROPA NO SÉCULO XVII
Nas aulas anteriores, vimos as grandes mudanças operadas na transição do medievo para a modernidade. 
O que podemos concluir, após estudarmos este período de transição, que as alterações na política e na economia propiciam o surgimento de uma nova mentalidade, um novo homem, moderno em diversos aspectos, mas que ainda conserva, em seus hábitos e cotidiano, uma forte herança medieval.
Um dos campos privilegiados, onde podemos notar esta herança é, sem dúvida, a religião, mas as manifestações artísticas do período também demonstram esses conflitos.
Sobre a arte
Quando pensamos em arte, imediatamente nos remetemos à pintura e à escultura, onde esta ideia nos parece mais evidente. 
Mas a arte engloba vários campos de produção, como a arquitetura. Vimos que o renascimento retoma conceitos estéticos da antiguidade clássica, valorizando a cultura greco-romana. 
Durante boa parte desse período, a Igreja encomendou obras aos artistas renascentistas*, como Rafael e Leonardo da Vinci, para adornar suas igrejas e mosteiros.
*Todavia, o movimento de contrarreforma, no século XVI, em especial após o Concílio de Trento, fez com que a igreja revisse sua posição em relação à arte renascentista, da qual ela tanto se beneficiara no século anterior. Com o concílio, cujo um dos objetivos era reagir à expansão do protestantismo, o catolicismo reforça seu aspecto moral especialmente no que concerne as artes plásticas. Podemos citar como exemplo, a Capela Sistina, uma das obras primas de Michelangelo.
O Papado
Para entendermos essa mudança na postura da Igreja, vamos ver rapidamente como funcionava a eleição papal.
Ou seja, como um eclesiástico se torna papa. Tradicionalmente, entre a Idade Média e a Moderna, havia na Itália algumas famílias particularmente poderosas. Essas famílias possuíam terras e, com o renascimento urbano e comercial, passaram também a se dedicar ao comércio e às atividades bancárias. 
O Barroco
No século XVII, a própria estética que havia sido tão cara aos renascentistas entrava em declínio. Outras formas de arte surgiam particularmente influenciadas pelo pensamento católico. Dentre elas, destacamos o barroco, um estilo importante não só na Europa, mas também nas colônias americanas, em especial no Brasil. 
Sobre a arte
Um dos mais importantes pintores do barroco espanhol foi Diego Velásquez, o pintor preferido do rei da Espanha, Felipe IV. O rei encantou-se com um retrato seu feito pelo pintor e, a partir de então, sua carreira de retratista foi notória. 
Um de seus mais famosos quadros, As Meninas (ao lado), é considerado um dos principais expoentes do estilo barroco, no qual o artista retrata a ele próprio como um dos personagens da cena. Sua obra influenciou diversos movimentos que se seguiram, como o impressionismo, bem como importantes pintores contemporâneos, como Picasso e Salvador Dalí.
Saiba mais: Ainda que a arte barroca tenha um viés religioso, ela em nada se parece com a arte medieval. Diversos elementos renascentistas foram incorporados nos estilos que seguiram o renascimento e com o barroco não foi diferente. As paisagens realistas, os retratos anatomicamente bem feitos, a noção de profundidade fazem parte do legado renascentista para a arte moderna.
Fé x Ciência
O embate entre classicismo e barroco reflete a luta entre a Igreja e a ciência, entre a fé e a razão, tão característica da Idade Moderna. 
Enquanto o barroco florescia nas artes, diversos cientistas faziam enormes avanços em suas áreas de conhecimento, como Kepler, com seus estudos sobre o movimento dos planetas e Isaac Newton, com a Teoria da Gravidade. 
Com a contrarreforma e as atividades intensas da Inquisição, os diversos cientistas que contestavam os princípios católicos eram expostos a constantes processos e investigações, que culminavam, em alguns casos, com a morte na fogueira, como ocorreu com Giordano Bruno.
Mas a igreja não se ocupava somente da questão cultural e cientifica. 
Dentre os pressupostos da contrarreforma, estava a expansão da fé católica, e as colônias americanas representavam um vasto território a ser conquistado, em termos espirituais. 
A proximidade entre a Igreja e o Estado Ibérico permitiu a chegada da cultura europeia ao continente americano.
Europa em ebulição
O século XVII foi o período de ouro espanhol, mas isso não quer dizer que não tenha sido um tempo de intensos conflitos, como atesta a perda de Portugal em 1640.
Somamos a isso uma guerra que alteraria definitivamente a constituição geopolítica europeia, a Guerra dos Trinta Anos, que opôs diversos reinosem disputa pela hegemonia territorial no continente europeu.
ATENÇÃO: Durante a Idade Média, eram comuns os conflitos armados, dentro e fora da Europa. Podiam se referir a disputas dinásticas, como a Guerra das Duas Rosas, na Inglaterra, ou longos embates religiosos, como é o caso das Cruzadas. Com a centralização dos Estados nacionais, essa situação não se alterou muito, mas agora as disputas assumiam um caráter nacional e estavam diretamente relacionadas a busca por territórios e a conquista de novos mercados, dentro dos parâmetros do mercantilismo.
Europa em ebulição
A Holanda, embora possuísse uma estrutura política descentralizada, destacava-se pelas relações mercantis que estabelecia através das companhias de comércio, as chamadas Companhias das Índias. 
Conhecida por sua tolerância religiosa, a Holanda recebeu uma enorme imigração judaica, especialmente após o século XV, quando a Espanha, em seu esforço para unificar seu território, expulsou os judeus do reino. 
Esses judeus levaram consigo tanto a riqueza que haviam acumulado quanto sua experiência mercantil e foram um fator determinante para a consolidação econômica dos países baixos.
O equilíbrio de poder entre as nações europeias, centralizadas ou não, era frágil. Havia a disputa pelas possessões ultramarinas, reivindicadas pela França, por exemplo, que não reconhecia o Tratado de Tordesilhas. 
Além disso, as lutas religiosas, provocadas pela reforma, opunham católicos e protestantes, e eclodiam em constantes guerras civis que, por sua vez, acabavam transcendendo as fronteiras de seus países e sendo disseminadas por todo o continente. 
Soma-se a esse contexto a ameaça de invasão dos turcos em regiões do Sacro Império Romano germânico e da Península Itálica e temos uma Europa em ponto de ebulição.
Nestas condições, um conflito armado não tardaria a acontecer e em 1618, tem inicio a Guerra dos Trinta Anos, que começou na cidade de Praga, na atual República Tcheca, que na época era governada pelos Habsburgos.
Os reis Habsburgos desejavam centralizar os territórios pertencentes ao Império, que juntos, somavam mais de 300 reinos diferentes. 
Mas, esses reinos careciam de uma identidade, um princípio que os unificasse. A Dinastia Habsburgo era católica e buscou na religião o princípio unificador entre os estados. Entretanto, a reforma já se espalhara pelos reinos e os protestantes se opuseram à iniciativa de consolidação do catolicismo na região, que opôs duas ligas: a Liga Evangélica, dos príncipes protestantes e a Liga Sagrada, dos príncipes católicos.
O avanço dos Habsburgos preocupou o rei francês Luís XIII e também seu primeiro ministro, o cardeal Richelieu. Embora a França fosse católica, as convicções religiosas foram superadas pelos temores políticos de que, sendo vencedores e unificando os estados, o sacro Império se tornaria uma potência e desestabilizaria o governo absolutista francês.
Por essa razão, os franceses buscam uma aliança com a Holanda, apesar da maioria protestante desse país e declaram guerra à Espanha católica. 
Isso não quer dizer que a religião era irrelevante ou apenas um pretexto. Ela foi o combustível que moveu a população no conflito e também a pólvora que se espalhou por todo o continente, envolvendo quase todos os reinos.
ATENÇÃO: Dessa forma, quando a França definitivamente ganha a guerra, em 1648, não podemos afirmar que o catolicismo tenha sido derrotado, pois o estado francês não abandonou essa religião. A derrota foi imposta a uma dinastia e seus aliados católicos, e não ao catolicismo.
A Paz na Europa
Para selar o fim do conflito foi assinada a Paz de Vestfália, uma série de tratados que alteraria a configuração geopolítica europeia.
A França incorpora a região da Alsácia, dentre outros territórios. 
A Holanda e a Suécia são reconhecidas como soberanas sob o nome de Províncias Unidas e Confederação Suíça, respectivamente. 
O Sacro Império Romano germânico, derrotado, fragmenta-se ainda mais, dividindo-se em reinos menores, o que pode ser considerado como um dos fatores para a unificação tardia da Alemanha, que ocorrerá somente no século XIX.
Do ponto de vista religioso, os tratados garantem liberdade de culto para católicos, luteranos e calvinistas, o que acaba com as pretensões dos Habsburgos de instituir o catolicismo como religião hegemônica. 
Vestfália é emblemática porque inaugura o chamado sistema internacional moderno, pois pela primeira vez são reconhecidos princípios de soberania e a ideia de estado-nação. 
Podemos dizer, então, que o homem moderno é um homem em conflito. Por um lado, a razão e as novas descobertas científicas apresentam um mundo novo, no qual o homem e capaz de desvendar os mecanismos da criação divina. Por outra, a fé, que insiste nos mistérios e dogmas religiosos.
A Europa do século XVII marca a consolidação das grandes rupturas que haviam ocorrido na transição do período Medieval para o Moderno, com o fortalecimento dos estados nacionais. No tocante às mentalidades, embora a reforma e o renascimento tenham aberto espaço para a proliferação de uma nova visão de mundo, as sociedades ainda guardam diversas heranças do catolicismo arraigado e das superstições do período anterior. 
 Ainda se contam histórias sobre os seres fantásticos que habitam as florestas, mesmo que haja um enorme avanço cientifico. O desenvolvimento tecnológico que permitiu aos navegadores atravessarem o Atlântico e conhecerem um novo mundo não impediu que ainda houvesse a crença em monstros marinhos, a Reforma aproximava o homem de Deus sem a necessidade de intermediários, mas ainda se acreditava no poder das bruxas e na magia negra.
AULA 4: O PROJETO COLONIAL EUROPEU
Nas aulas anteriores, estudamos as mudanças operadas nas sociedades europeias na transição da Idade Média para a Idade Moderna, que permitiu a formação dos estados nacionais daquele continente. Vimos de que forma a expansão marítima estava ligada aos interesses mercantis praticados por estes estados. Vamos relembrar?
O conjunto de práticas econômicas que denominamos mercantilismo está vinculado à gênese do capitalismo. Ou seja, na Idade Média, embora existisse moeda, não havia uma economia monetária de fato, já que não havia um estado para regulá-la. 
Além disso, a economia feudal era basicamente agrária, o que manteve o comércio como uma atividade secundária durante quase todo este período. Com a centralização de poder moderna, este panorama econômico muda.
O renascimento urbano e comercial aumentou a atividade mercantil e tornou-a o centro da economia dos estados nacionais. 
É claro que a agricultura não desapareceu, já que dela dependia o abastecimento de gêneros alimentícios, mas perdeu espaço na conjuntura econômica e nos interesses políticos. 
O comércio gerava lucros maiores e era largamente estimulado pelos governantes, apoiados pelas burguesias nacionais.
Os estados centralizados adotaram então uma série de práticas, como o monopólio comercial e o metalismo. 
O metalismo altera o sentido de riqueza. A solução era buscar esses metais fora da Europa, sendo esta uma das razões para a expansão marítima. 
Além de buscar um caminho alternativo para as Índias, ricas em especiarias, a possibilidade de colonizar novas terras surgia como uma alternativa as necessidades dos novos estados nacionais.
Busca por novas terras
A existência das novas terras, embora não estivesse provada, não era exatamente um mistério. Vários navegadores, cartógrafos e astrônomos já haviam indicado que estas terras deveriam existir. Mas as expedições eram caras e esse era um investimento de alto risco. Somamos a isso a imensa superstição que havia acerca do mar, desconhecido por parte dos navegadores, dos marinheiros e da população em geral. Foi necessária uma série de fatores para que esta expansão pudesse de fato ocorrer, dentre elas, com apoio político e financeiro do estado e a existência de uma burguesia disposta a investir naquilo que seria, a princípio, uma aventura arriscada.
Os ibéricos saíram na frente. Em parte por sualocalização geográfica privilegiada, em parte pela centralização precoce de seus estados. Entretanto, as experiências europeias na colonização das novas terras foram bastante diferentes. 
 Vimos anteriormente, na disciplina Moderna I, de que maneira os estados se organizaram e a forma como cada um deles se lançou ao Atlântico. Pudemos perceber então, as diferenças inerentes a cada um destes processos, a saber, Espanha, França, Inglaterra e Holanda.
Na aula passada, estudamos mais atentamente, de que forma a expansão holandesa interferiu na história do Brasil, com as invasões no Nordeste brasileiro. Essas invasões foram parte do processo de expansão marítima holandesa que, como notamos, é radicalmente diferente do que foi empreendido pela Espanha, por exemplo.
A tendência na historiografia tradicional era estudar esses dois momentos – expansão marítima e colonização – separadamente. Mas, ao compreendermos a história como processo, torna-se necessária a análise do contexto de uma forma mais ampla, avaliando não só as motivações europeias, mas o que significaram para as sociedades das regiões que foram colonizadas pelos europeus.
Ao falarmos sobre a colonização, temos que ter também nossos olhos voltados para a conjuntura europeia do momento certo?
 Então, já analisamos as razões e as diferenças entre as iniciativas de expansão e as relacionamos à política mercantilista da época correto? 
Não podemos perder nunca isto de vista!
Projetos coloniais
Se o inicio da expansão foi diferente, mais ainda é a empresa colonial, montada por cada uma dessas nações. 
Durante muito tempo, convencionou-se dividir os projetos coloniais em colônia de exploração e de povoamento. 
Essa convenção tem caído em desuso. Ela foi formulada com os olhos postos nos Estados Unidos, o caso mais contundente de colonização inglesa. Mas a Inglaterra também colonizou outras ilhas do Caribe, como a Jamaica, e quando observamos estas diferenças, vemos que esta definição não se aplica.
EXPLORAÇÃO: Em uma análise superficial, apontava-se que a colonização ibérica era de exploração, pois tinha como objetivo fundamental explorar as terras descobertas sem o intuito de desenvolvê-la.
POVOAMENTO: Já a colonização inglesa seria de povoamento, pois a aplicação da negligência salutar teria concedido às colônias autonomia suficiente para que tivessem uma organização política própria, sofrendo uma interferência menor da Coroa do que o que foi aplicado no Brasil e em boa parte da América.
OBJETICO DAS COLONIZAÇÕES
Ainda que as colonizações tenham sido diferentes, tinham um objetivo em comum: gerar lucro para a metrópole. Esse lucro poderia ser obtido de diversas formas, exploração mineral, agrícola, impostos. Mas todas as metrópoles exerceram, com maior ou menor intensidade, o monopólio comercial sobre suas colônias. As diferentes nos processos também dependeram das sociedades que se formaram e daquelas que já existiam no continente americano.
A Jamaica foi descoberta pela Espanha e conquistada pelos ingleses no século XVII que estabeleceram nela a mesma estrutura açucareira e escravocrata das demais colônias americanas. 
Mesmo considerando apenas a história dos Estados Unidos, não podemos dizer que havia um padrão econômico aplicado pela metrópole. 
As colônias do Sul mantinham a mesma economia de plantation que os portugueses aplicaram no Brasil: monocultor, latifundiário, agroexportador e escravocrata.
VEJA MAIS: Mesmo considerando que a Inglaterra tenha sido mais leniente no caso das treze colônias que deram origem aos Estados Unidos do que outras metrópoles, isto não foi uma regra nas suas possessões. Expressões como bom ou mau colonizador, metrópole melhor ou pior, não fazem sentido quando avaliamos o processo histórico desenvolvido entre colonizadores e colonizados. A herança dessa relação se evidencia, sobretudo, no século XIX, quando as colônias se independem e dão origem aos Estados Nacionais Americanos, como veremos adiante.
Antes dos espanhóis chegarem
A Espanha, enquanto metrópole buscou sempre impor um rígido controle sobre suas colônias, através da criação de diversos mecanismos administrativos. 
Quando falamos sobre a chegada dos espanhóis na América e o contato com as civilizações pré-colombianas, sempre nos vêm à mente os grandes impérios, como o Inca e o Asteca. 
 Embora essas sociedades tenham sido as mais notórias, devido ao seu grau de desenvolvimento e organização político social, não eram as únicas existentes no continente. De fato, existiam diversas outras sociedades indígenas, em diferentes graus de desenvolvimento.
A grandeza dos impérios da América impressionou os espanhóis, mas isso não os impediu de subjugar essas sociedades, em busca do ouro e da prata que a Europa tanto necessitava. Nesse aspecto, é importante levarmos em consideração o papel da Igreja, já que a catequização dos indígenas permitiu aos espanhóis a utilização de recursos cruéis para a conversão e utilização dos indígenas como mão de obra.
 Note que não estamos falando aqui que a catequização era um pretexto para a conquista. Como reino católico, a Coroa espanhola, amparada pelo papado, acreditava firmemente na necessidade de conversão e na salvação das almas dos indígenas, considerados pagãos, bárbaros e selvagens.
O apogeu
No século XVIII, a Espanha havia formado um extenso império, que ocupava grande parte das terras americanas. Mas os conflitos sociais eram recorrentes e os problemas administrativos como a corrupção, constantes.
No tocante às classes sociais, os espanhóis natos, chamados de chapetones, ocupavam os cargos máximos da administração, como o de vice-rei. 
Os criollos, filhos de espanhóis nascidos na América, constituíam a elite local e ocupavam os cargos administrativos do cabildo, a câmara municipal. 
Mestiços, índios e negros ocupavam a base da pirâmide social. 
As disputas de poder entre criollos e chapetones acabaram sendo um dos principais motores da independência das colônias espanholas, no século XIX, pois, durante o século XVIII, por questões internas da Espanha, o poder metropolitano foi se tornando cada vez mais frágil.
Durante o século XVIII, a Espanha passou por uma grave crise sucessória, que provou a Guerra de Sucessão, envolvendo diversos reinos europeus. 
O Rei Carlos II, da dinastia Habsburgo, casado com uma princesa francesa, não tinha herdeiros. 
O rei francês, Luís XIV, reivindicava a posse do trono espanhol para seu neto, Felipe, já que com a morte de Carlos II, o trono ficaria vago. 
Houve uma enorme oposição a esta manobra política no continente espanhol, já que um herdeiro francês, no trono espanhol, abriria para a França as portas do continente americano. 
Inicia-se então um conflito culminando com a vitória francesa e a ascensão de Felipe V ao trono. Mas a vitória teve um preço e o novo rei precisou fazer concessões aos demais reinos, assinando o Tratado de Utrecht*, que garantiria sua permanência no trono espanhol.
*Permitiu a Inglaterra comercializar com as colônias espanholas, o que quebrou o monopólio sobre o comércio que a Espanha mantivera até então.  
O declínio
De fato, o século XVIII foi extremamente conturbado no continente europeu. Além da guerra sucessória na Espanha, toda a Europa sofreu o reflexo da Revolução Francesa de 1789 e da expansão napoleônica que a seguiu. Os laços que prendiam colônias e metrópoles começaram a se esfacelar e o primeiro passo para que isso ocorresse foi o rompimento dos monopólios comerciais que até então, asseguravam o poder metropolitano e sua prosperidade econômica. 
As independências, que ocorreram no século XIX, têm sua origem nos acontecimentos do século XVIII. A Espanha foi invadida por Napoleão, o que abalou sua estabilidade e tornou-a incapaz de administrar suas colônias com o rigor usual.
Segundo o historiador Istvan Jancsó: “A guerra revolucionária europeia desdobra-se na América espanhola em aumento dos impostos e exigência de doações extraordinárias, o que, apesar de significar um formidável aumento da pressão fiscal,não evita que a monarquia espanhola se aproxime cada vez mais da indigência. A debilidade militar da Espanha implicou na impossibilidade prática de assegurar o regime de comércio que as reformas anteriores tentaram implementar como norma”.
Os desdobramentos da invasão francesa à Espanha não tardaram. Com o aumento das exigências metropolitanas, o clima de insatisfação entre a elite criolla local cresceu, disseminando as propostas de rompimento. 
Somamos a isso a influência das ideias iluministas e os princípios de cidadania e liberdade que circulavam entre essa elite letrada e a independência das treze colônias inglesas, em 1776. 
Os criollos reivindicavam autonomia política e os dois principais líderes do processo de emancipação foram Jose San Martin e Simon Bolívar. Em meados do século XIX, todas as ex-colônias já eram independentes e a Espanha perdia seu domínio americano. Mas a formação dos estados latinos apenas começava.
Simon Bolívar defendia que as ex-colônias deveriam formar um único pais, de dimensões continentais, em uma ideologia que ficou conhecida como Bolivarismo. Entretanto, embora aparentemente as antigas possessões espanholas tivessem muito em comum, tinham também muitas diferenças e interesses conflituosos. Devido a estrutura montada pela Espanha durante os séculos de dominação colonial, diversas regiões tinham a mesma economia, como Paraguai, Uruguai e Argentina, cuja base econômica era a pecuária. Isso as tornava concorrentes e cada elite local defendia seus próprios interesses, inviabilizando o projeto de Bolívar.
A estrutura majoritariamente agrária da América latina permaneceu no pós-independência e manteve-se como um legado do passado colonial. 
Também na estrutura política este legado se fez presente, com o predomínio das oligarquias rurais no estado e na defesa dos interesses de uma minoria. 
 Quando comparamos os processos de formação dos estados nacionais latinos e norte americano, vemos que, embora diferentes, ambos mantiveram resquícios de seus legados coloniais.
Enquanto isto, na América do Norte.
Quando a Inglaterra tomou posse de sua parcela no território americano, não encontrou de imediato, riquezas minerais, como havia ocorrido com os espanhóis. Não havia a principio, nada que justificasse um intenso esforço dos reis ingleses para explorar os novos territórios. 
Além disso, a Inglaterra passava internamente por duras disputas religiosas entre católicos e protestantes, que se arrastavam por vários anos, até encontrar uma paz relativa no reinado de Elizabeth I. 
As guerras de religião na Inglaterra acabaram por se tornar um estimulo a imigração para as colônias. 
Além disso, a Coroa concedia terras aqueles que se dispusessem a fazê-las produzir. O acesso a terra é uma das diferenças fundamentais entre a colonização latina e inglesa. 
Entre os ibéricos, a posse da terra era concedida a ricos fidalgos ou a nobres, enquanto na América inglesa, pequenos lotes eram distribuídos ao cidadão comum. 
 Embora todas as treze colônias estivessem igualmente submetidos à legislação inglesa e ao pacto colonial, a colonização não foi hegemônica.
Enquanto as colônias do Norte e do Centro eram caracterizadas pela pequena propriedade e pelo trabalho livre, no Sul prevalecia a mesma estrutura de plantation já disseminada pelos ibéricos, latifúndio, agroexportador e escravocrata, sendo o tabaco e o algodão alguns dos principais produtos de exportação.
No aspecto político, os colonos ingleses possuíam maior autonomia, embora seguissem as leis inglesas, estavam organizados em câmaras e legislavam sobre os assuntos locais. 
A Inglaterra era o exemplo de organização política e a prática da negligência salutar resultou em uma liberdade legislativa que as demais coloniais do continente desconheciam.
Entre 1756 e 1763, a Inglaterra envolveu-se na Guerra dos Sete Anos, contra a França. Esse conflito evidencia o frágil equilíbrio no qual viviam os reinos europeus e as constantes disputas por território e domínio econômico no continente. Embora tenha saído vitoriosa, a Inglaterra sofreu grandes prejuízos e viu na exploração colonial a maneira de diminuir a crise econômica que se alastrava pelo reino. 
 
Se até então as colônias gozavam de relativa autonomia, essa situação estava com os dias contados. A Coroa aumentou impostos e criou novas taxas para poder recuperar seus cofres e estabeleceram diversas novas leis nas quais submetiam os colonos ao jugo metropolitano. Essas leis foram chamadas de “Leis Intoleráveis” e provocaram uma enorme reação colonial.
Em 1774, foi convocado o primeiro congresso continental da Filadélfia, no qual se buscava negociar um acordo com os ingleses. Mas a Coroa permaneceu irredutível e, em 1776, os Estados Unidos declaram sua independência e entram em guerra contra a Inglaterra em um conflito que se arrastou até a derrota inglesa e o reconhecimento da emancipação das treze colônias pela Coroa, em 1783.
Entretanto, se a América Latina pós-independência tinha uma aparente homogeneidade, as diferenças entre as ex-colônias britânicas eram mais do que evidentes. Não só a economia era diversificada, tendo o Norte se tornado mais industrial e o Sul, marcadamente agrário, mas a escravidão era um problema aparentemente inconciliável. 
Enquanto no Norte predominava a mão de obra livre, no Sul os escravos compunham não só a maior parte dos trabalhadores, mas também da população. A independência não trouxe a abolição, embora também estivesse influenciada pelos ideais iluministas de liberdade e cidadania. A contradição da escravidão se manteve até 1863, com a Guerra de Secessão.
Após as independências
O primeiro desafio empreendido pelo novo governo republicano foi a unidade territorial. Dessa forma, foi adotado o sistema federativo, concedendo autonomia política a cada unidade da federação. 
Em 1787, foi promulgada a Constituição, a mesma que vigora até os dias de hoje, garantindo os direitos nacionais. Contudo, cabe a cada estado legislar sobre os aspectos que não estão contemplados na Constituição, permitindo a manutenção do sistema escravista. 
Embora a abolição tenha ocorrido no século XIX, o sistema federativo permitiu a manutenção do preconceito e da segregação racial nos EUA até o século XX. Nos estados do Sul, os negros possuíam suas próprias escolas, eram separados nos transportes coletivos e proibidos de frequentar os mesmos estabelecidos que os brancos, em uma realidade que perdurou até a década de 1960.
Segundo Márcia Miranda Soares:
  “Os interesses centrífugos determinaram o surgimento do experimento federalista nos EUA e a formação destes interesses deve ser buscada no período colonial na ampla condição de autonomia de que as treze colônias inglesas gozaram, o que propiciou a formação de uma forte identidade territorial e o apego à condição de autonomia de que desfrutavam.”  
Fonte: SOARES, Márcia Miranda de. Federação, democracia e instituições políticas. In: Lua Nova: revista de Cultura e Política. São Paulo, 1988. n. 44. p. 139
Como pudemos perceber as ex-colônias, sejam inglesas ou latinas, guardam em suas estruturas socioeconômicas uma enorme herança de seu passado colonial. 
Também a conjuntura metropolitana foi responsável pela formação dos sistemas sociais que se desenvolveram, e na relação de dependência econômica que se estabeleceu como um entrave na economia da América Latina.
No conjunto da era moderna, o processo colonial foi fundamental para a consolidação dos estados nacionais europeus e à medida que estes enfraqueciam, ruía igualmente seu poder sobre as colônias.
Foram os conflitos vivenciados pelos reinos europeus que proporcionaram as condições para os movimentos de independência e para a formação dos estados nacionais americanos que, mesmo livres do jugo metropolitano, ainda se mantiveram atrelados a um passado colonial.
AULA5: O ORIENTE MODERNO
Quando falamos sobre História Moderna, imediatamente nos vem à mente a ascensão dos reis absolutistas europeus e a formação dos Estados Nacionais, cuja melhor traduçãoé a emblemática imagem de Luis XIV, o rei sol, que governou a França entre os séculos XVII e XVIII e a quem é atribuída a famosa frase “O Estado sou eu”, que transmite a síntese perfeita do absolutismo em seu apogeu.
Esta representação do poder real, cercado de luxo e ostentação, é encontrada em inúmeros livros didáticos, pois demonstra com clareza a conjuntura e o espírito da Europa de seu tempo. Mas, se a ilustração de Luis XIV nos é extremamente familiar, o mesmo não ocorre quando pensamos a Idade Moderna fora do contexto europeu.
Se hoje os olhos do mundo contemporâneo se voltam para a China com admiração pelo seu progresso econômico, nem sempre os reinos orientais foram encarados com essa mesma perspectiva. Na historiografia ocidental, há um claro predomínio das teorias elaboradas na Europa, mais notadamente na Inglaterra e na França. Esta ultima assumiu, durante décadas, o sentido de civilização a ser seguido e copiado em diversas partes do mundo, sobretudo na América.
Mas o Oriente sempre atraiu os olhares curiosos dos europeus. Um exemplo disto é a jornada do veneziano Marco Polo, no século XII. Polo teria vivido na corte de Kublai Khan, um dos mais poderosos imperadores de seu tempo e, ao regressar para a Europa, descrevera as maravilhas e os mistérios orientais. Essas narrativas faziam parte do imaginário medieval que foi legado à mentalidade moderna.
Para melhor compreendermos a história do Oriente, é necessário vermos alguns pontos teóricos que nos ajudam a embasar nosso conhecimento. Ao entendermos a história como um processo, abre-se um novo campo para o estudo, a história comparada.
Isso quer dizer que podemos e devemos entender a história oriental e a ocidental interligadas entre si, sem que isso signifique uma esteja submetida à outra. Utilizamos para isso o conceito de histórias conectadas, conforme citado pela historiadora Maria Ligia Coelho Prado: 
“A expressão histórias conectadas foi proposta por Sanjay Subrahmanyam, historiador indiano radicado na França, que desmonta o que considera ser a “visão tradicional” da historiografia europeia sobre o mundo asiático. 
Enfatiza que a história da Eurásia moderna não pode ser vista como mero produto ou resultado do “comando” da história europeia, sem a qual, supostamente, não existiria. Propõe que ela seja entendida em suas conexões com a Europa e com as outras partes do mundo, sem que se estabeleçam polos, um determinante e outro subordinado”.
De modo geral, o que os historiadores contemporâneos questionam é a própria visão de Oriente, construída pelos europeus ao longo de sua história. Ainda que o continente asiático tenha suas próprias especificidades e dinâmicas de funcionamento, ele tem sido analisado a partir das categorias mentais europeias. Um dos maiores estudiosos sobre o tema foi Edward Said, que discute a construção do orientalismo a partir do olhar etnocêntrico europeu.
Segundo Said:“O Oriente não é apenas adjacente à Europa; é também o lugar das maiores, mais ricas e mais antigas colônias europeias, a fonte de suas civilizações e línguas, seu rival cultural e uma de suas imagens mais profundas e mais recorrentes do Outro. Além disso, o Oriente ajudou a definir a Europa (ou o Ocidente) com sua imagem, ideia, personalidade, experiência contrastante”.
Fonte: SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 27-8.
Para Said, o Oriente constitui a imagem privilegiada do outro, segundo o qual a Europa reafirma sua própria identidade. Essa perspectiva etnocêntrica – falamos sobre etnocentrismo quando estudamos a chegada dos europeus no continente americano, lembra? – acabou por construir uma visão equivocada na qual o Oriente é descrito como exótico ou misterioso, sem que tenha sido compreendido, de fato.
Atenção: Partindo destes pressupostos, veremos a expansão e a consolidação dos impérios chinês e japonês, entendo a história oriental e ocidental como conectada. Nas aulas anteriores, abordamos os Estados europeus e americanos e, na disciplina de Moderna I, vimos acerca da fragmentação e formação do Império Chinês. Veremos agora como esse império se expande, bem como seu declínio.
O apogeu do  Império Chinês
O apogeu do Império Chinês ocorreu durante a Dinastia Ming, que governou a China entre os séculos XIV e XVII. Os grandes símbolos chineses, como a Muralha da China e a Cidade Proibida foram construídos durante o governo Ming. Durante o último período desse governo, a China passou por uma crise agrária, provocada, sobretudo, pelas condições climáticas desfavoráveis. Os problemas no campo deram início à fome que aliada à cobrança de impostos por parte do Estado, provocou uma enorme insatisfação na população chinesa. O governo Ming mostrava claros sinais de declínio e era vulnerável, sobretudo, nas fronteiras, onde estava sujeito a diversas invasões.
O início da última Dinastia chinesa – Qing
Em meados do século XVII, os manchus, que habitavam a região da Manchúria, no Nordeste chinês, invadiram a China e tomaram o poder, inaugurando uma nova dinastia, a última que a China conheceria, a Dinastia Qing, governando do século XVII até o século XX, quando o império foi derrubado e a república estabelecida.
Assim como havia sido ocorrido durante a Dinastia Ming, a figura do imperador era sagrada. Seu poder remete ao dos reis absolutos europeus, tendo o poder decisório definitivo nas questões políticas e religiosas. Entretanto, na prática, esse poder acabava por ser limitado pelos funcionários do Estado, que geriam as decisões administrativas. O Estado chinês era extremamente complexo e possuía diversos ministérios. Embora todas as instâncias estivessem submetidas ao imperador, esses funcionários possuíam enorme poder político e grande influência no governo.
A relação da China com o Tibet durante a dinastia Qing
CHINA: O poder não era, necessariamente, hereditário, nem seguia aos direitos de primogenitura, recorrentes na Europa. O imperador podia escolher seu sucessor entre seus filhos ou entre um parente, sempre do sexo masculino. Os Qing montaram um extenso aparato burocrático e administrativo. Embora esse sistema tenha funcionado por algum tempo, a crescente corrupção pode ser considerada um dos fatores fundamentais para o declínio desse império durante o século XVIII. Sob essa dinastia, a China conheceu uma enorme expansão territorial englobando a Manchúria, a Mongólia e o Tibet.
TIBET: O caso do Tibet é particularmente interessante, em especial pelas condições atuais do país. Em 1950, o Tibet foi invadido pela China, durante o governo comunista de Mao Tse Tung. O líder político do país era também o líder religioso, o Dalai Lama, que foi expulso pelas forças chinesas e que permanece, até nossos dias, exilado político. Essa demonstração de força e autoritarismo do Estado comunista, em uma manobra que custou a vida de milhares de tibetanos, provoca protestos no mundo inteiro, clamando pela liberdade do país e pelo retorno do Dalai Lama ao seu lugar de direito. 
A presença chinesa no Tibet não é uma novidade, embora o caráter violento que ela assumiu, no século XX, não tenha tido precedente. Desde sua história mais remota, o Tibet adotou o budismo como religião e tornou-se um Estado no qual o líder politico, o Dalai Lama, acumulava as funções administrativas e espirituais e, de acordo com a filosofia budista, era a reencarnação de Buda. 
Durante a Dinastia Qing, o Dalai Lama tornou-se o conselheiro espiritual do imperador e, embora houvesse representantes do governo chinês na administração tibetana, aos quais o Dalai Lama deveria se reportar.
SAIBA MAIS: Segundo a antropóloga Ana Cristina Lopes Nina, em sua obra Ventos da Impermanência, acerca da tomada de poder pelos Qing e suas relações com o Tibet, ela explicita que um dos fatores fundamentais para o sucesso da invasão e a deposição dos Ming se deve ao fato dos manchus terem prometido que respeitariam as diferenças religiosas chinesas e, que no caso do Tibet, essa promessa teria sido cumprida.O fim da Dinastia Qing e a queda do  Império Chinês – Fatores determinantes
Durante o século XVII, o catolicismo europeu passa a exercer uma influência significativa na China e também no Tibet. Isso se deveu as missões jesuíticas, que disseminaram parte do conhecimento europeu da época entre o governo chinês que, em troca, tolerava o culto ao cristianismo. Contudo, cisões dentro da própria igreja católica e conflitos entre as ordens religiosas fizeram com que, no século XVIII, o cristianismo fosse banido do país.
O cristianismo está intimamente ligado ao declínio do Império Qing. Além da corrupção do aparelho de Estado, em 1851 estourou a Rebelião Taiping, de caráter religioso. O conflito começou em Guangxi, uma província chinesa, liderado por um grupo que pregava o cristianismo e tinha como objetivo derrubar as religiões dominantes, o confucionismo e o budismo.
 O Estado reprimiu a rebelião com uma enorme violência, em um conflito que durou até 1864 e deixou milhares de mortos. O prejuízo causado por essa crise foi imenso, não só do ponto de vista financeiro, mas também politico, pois o Império Chinês mostrara uma face autoritária denunciando sua fragilidade politica.  
A Dinastia Qing já havia conhecido a derrota em outro conflito, a Guerra do Ópio, travada contra o Reino Unido. Desde o século XVII, a Companhia Britânica das Índias Ocidentais, que havia sido criada por comerciantes ingleses, tinha a permissão da Coroa Britânica para realizar o comércio colonial. Um dos principais produtos da Companhia era o comércio de chá, do qual a China era uma grande produtora. As relações econômicas entre o império britânico e chinês eram recorrentes, mas, em 1839, a China negou-se a permitir o livre comércio do ópio aos britânicos, provocando uma reação imediata do Estado inglês.
A derrota chinesa implicou no pagamento de uma indenização aos ingleses, além da concessão de portos que seriam administrados pelos britânicos. Mas a maior perda foi territorial, com a cessão de Hong Kong para a Inglaterra, conforme estabelecido no Tratado de Nanquim, assinado em 1842
Hong Kong voltaria a ser parte do território chinês somente em 1997, após diversas negociações diplomáticas.
A incapacidade de conter a corrupção, as perdas financeiras e retomar a administração efetiva do império corroía o Estado. O último grande golpe foi a Guerra dos Boxers, de caráter nacionalista, que estourou em 1899. Os boxers protestavam contra o cristianismo e reivindicavam uma diminuição do comércio e da interferência estrangeira no país. Oito nações diferentes se envolveram no conflito: Japão, Império Alemão, Áustria-Hungria, Itália, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia.
A derrota dos boxers marcou o crescente declínio dos Qing além do aumento da interferência estrangeira no país, que durou até 1912, quando um golpe liderado por Sun Yat-sen extinguiu a monarquia e estabeleceu a República da China.
China e Japão
A história da China está intrinsecamente ligada à história do Japão. A China exerceu não só uma influência cultural sobre o Japão, mas também os dois impérios tiveram, ao longo de suas trajetórias, diversas disputas territoriais. Entretanto, por se tratar de uma ilha, o Japão manteve sua cultura milenar bastante preservada das interferências estrangeiras.
Japão -  Xogun ou shogun
A formação das classes sociais, no Japão, remete ao século III, no chamado Período Yayoi. A cultura do arroz e a posse de terras promoveram a ascensão de uma aristocracia de caráter militar que daria origem a um dos maiores símbolos da história japonesa, os samurais.
Durante o período medieval, no século XII, o imperador, preocupado com os conflitos que se espalhavam pelo reino, concedeu a Minamoto no Yoritomo o título de xogum.
Japão -  O império diante  do Shogunato
É importante lembrar que o imperador jamais deixou de existir. O Japão possuía um imperador, uma corte e diversos senhores de terras. Por direito, o imperador teria supremacia sobre os xoguns, mas na prática, não era o que acontecia. Cronistas estrangeiros, quando visitavam o Japão, constatavam o poder figurativo que detinha o governante e prestavam suas homenagens ao xogum, a quem consideravam o líder de fato.
Politicamente, os Tokugawa procuraram manter os senhores de terras sob o mais rígido controle. Enquanto concederam terras e bens para o imperador, de quem seriam, a princípio, vassalos, estabeleceram diversas leis para os daimyos, já que essa classe era a principal ameaça ao seu poder. Por seu caráter militar, o Japão promoveu diversas tentativas expansionistas, investindo contra a Coreia e contra territórios chineses. Durante o último xogunato, o cristianismo foi banido e a religião foi mantida sob severa vigilância.
O sistema de xogunato era tradicional e fechado e manteve o Japão preso a um sistema feudal que já havia sido extinto na maior parte dos países.
Sua base econômica era agrária e seu principal produto o cultivo de arroz. No século XIX, o mundo é sacudido por uma revolução que começara um século antes, na Inglaterra, a Revolução Industrial.
A partir do século XIX o modelo de sistema produtivo inglês se espalha por outros países como Estados Unidos e França e a busca por novos mercados tanto consumidores quanto fornecedores de matéria-prima tem início. 
Nesse contexto, o Oriente não poderia se manter alheio e embora o xogunato tenha tentado manter seu isolamento, as pressões internacionais e as constantes ameaças de invasão forçaram o Japão a abrir-se para o mercado exterior.  
SAIBA MAIS: Embora seu governo tenha durado 200 anos, o xogunato Tokugawa jamais repudiou a autoridade do imperador e, em 1868, o último xogum restaura os poderes imperiais, dando origem à chamada restauração Meiji, marcando o início do Japão moderno.
Japão – Período Meiji
O Período Meiji teve apenas um imperador, Mutsuhito, que assumiu o governo aos 16 anos e reinou até sua morte, em 1912. Por ser o único imperador dessa era, é comumente conhecido apenas como Imperador Meiji. Seu governo durou pouco mais de 4 décadas, mas as transformações realizadas inseririam o Japão no sistema capitalista e permitiram que o país se tornasse a potência industrial mais importante da Ásia do início do século XX.
O novo imperador reformou profundamente todas as áreas fundamentais do Estado, realizando um projeto de reforma agraria e acabando com os privilégios pessoais dos antigos senhores feudais. Também extinguiu a classe samurai e, a exemplo do Ocidente, adotou um modelo de exército nacional. A principal característica da Era Meiji, ao reformular a economia e intensificar as relações econômicas internacionais foi o chamado processo de ocidentalização.
Japão – A repercussão de sua ocidentalização
A ocidentalização japonesa sofreu críticas ferrenhas e também um apoio fervoroso, por diferentes críticos do regime. Por um lado, a rapidez com que as mudanças foram implementadas fez com que uma parte importante da tradição japonesa fosse legada ao esquecimento, tendo sido recuperada somente séculos depois. 
Um exemplo disso ocorre com relação aos samurais. Durante séculos, estes guerreiros seguiram um rígido código de conduta além de serem estimulados a se aperfeiçoar intelectual e fisicamente.
Esse código, conhecido como Bushido, levou a sofisticação da classe samurai, que dominava não só técnicas de batalha e manejo de armas diversas como espada e arco & flecha, mas também fez surgir uma classe letrada e intelectualmente significativa. 
Além disso, no Período Edo, o título de samurai passou a ser hereditário e por 200 anos se tornou um modo de vida de diversas famílias tradicionais. Quando os samurais foram extintos, parte desta tradição também o foi, embora o bushido ainda seja praticado enquanto filosofia no Japão.
Por outro lado, os atrasos provocados pela manutenção do sistema feudal se fizeram sentir rapidamente. As reformas no sistema educacional, político e econômico eram de caráter urgente e negligenciá-las poderia ter feito com que o Japão jamais conseguisse se recuperarnovamente. O momento era propício às reformas, que foram feitas em velocidade recorde.
Embora a monarquia existisse ha séculos, somente em 1889 foi promulgada uma constituição, estabelecendo o regime de monarquia constitucional a ser adotado pelo país. Criou-se uma nova moeda, o iene, e estimulou-se a produção industrial, com a criação de estradas e ferrovias que fornecessem infraestrutura para o escoamento de mercadorias.
As famílias tradicionais e que tinham posses e investimentos industriais formaram os zaibatsus, conglomerados industriais, como a Mitsubishi, criada em 1870 e que permanece até nossos dias. Esses conglomerados incorporaram as pequenas indústrias japonesas, criando extensos impérios econômicos e proporcionando a rápida industrialização. As reformas do Período Meiji são consideradas como a Revolução Industrial japonesa.
Vários estudantes, intelectuais e políticos foram enviados ao Ocidente, em especial Estados Unidos e Inglaterra, para conhecer a aprender sobre o sistema capitalista que o imperador pretendia ver consolidado. A intensa troca de conhecimento permitiu a introdução de inúmeras inovações tecnológicas que beneficiaram sobretudo a indústria.
Mas a modernização teve um preço. Além dos investimentos necessários nas áreas estratégicas, o Estado havia financiado indústrias modelo, para estimular o processo de industrialização. A construção civil e o sistema de transportes precisam de minério e energia para serem executados e postos em funcionamento.
As reservas nacionais não bastavam e o Japão foi obrigado a invadir outros países, como a Coreia e a Manchúria, não só para garantir sua soberania, mas também para obter recursos, gerando uma série de conflitos internacionais que envolveriam a Rússia, a França e a Alemanha. Quando o Imperador Meiji morreu, em 1912, legou ao seu filho um país moderno, mas, com muitos problemas financeiros, que, a princípio, só podiam ser resolvidos a partir da expansão territorial culminando com a entrada do Japão na Primeira Guerra Mundial, em 1914.
AULA 6: O ILUMINISMO
De fato, quando falamos em modernidade, alguns temas nos vêm à mente de imediato: reforma religiosa, absolutismo, mercantilismo, são alguns deles. Isso ocorre porque nos currículos escolares, o estudo de Idade Moderna está ligado, sobretudo à realidade europeia.
Aprendemos, nas aulas anteriores, entretanto, que modernidade é muito mais do que apenas o contexto europeu e ela ocorre de diferentes maneiras, seja no Oriente, seja na América. Se tivéssemos que escolher uma palavra para definir o momento, provavelmente escolheríamos “transformação”, pois esta é a que melhor sintetiza as mudanças que temos estudado.
Assim, falamos anteriormente sobre a formação dos estados nacionais, certo? Vamos relembrar:
 Idade Média – Estado descentralizado e economia agrária baseada no feudo.
Idade Moderna – Estado centralizado, absolutismo e economia mercantil.
Estado na era moderna
Por que, dentre todos os assuntos que já abordamos, o Estado na era moderna é tão importante?
Porque é nesse momento em que se origina o modelo de Estado que temos atualmente. Não só em termos práticos, como sua organização e forma de administrar, mas também em sentidos ideológicos. 
Na Idade Moderna, surgem questionamentos sobre para que serve o Estado e como ele deve funcionar para ser legítimo. São estas ideias que fornecem a base da nossa política atual. 
Ao conjunto de teorias formuladas para entender e analisar o homem, a sociedade e o Estado modernos, damos o nome de iluminismo.
Sabemos que, com a crise do feudalismo, os reinos europeus passaram a se unificar e que, progressivamente, esta centralização deu origem ao absolutismo. 
Em termos ideológicos, o absolutismo teve diversos defensores entre os filósofos e os pensadores da época, sendo os mais notáveis: Jean Bodin, Jacques Bossuet, Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes. 
Estudaremos, a seguir, parte da história de cada um deles.
Jean Bodin
Jean Bodin viveu no século XVI, na França. Sua formação como jurista levou-o a se dedicar a elaborar teorias sobre a soberania, sendo por isso considerado o pai da Ciência Política. 
Sua principal obra é A República, onde defende os princípios da soberania e do direito divino dos reis. 
Reconhecia a existência de três tipos de regime: monarquia, aristocracia e democracia.
Cada um desses regimes era definido conforme quem exercia o poder: na monarquia, um único indivíduo; na aristocracia, uma minoria e na democracia, uma maioria.
Apesar de defender as instituições democráticas e de ser um admirador da legislação da antiguidade – em especial, as leis gregas e romanas, e a possibilidade do povo eleger seus representantes como ocorria na Grécia Clássica – Bodin acreditava na monarquia como o regime necessário à manutenção da ordem.
Para este filósofo, a organização de um Estado legítimo tem como finalidade combater o estado de anarquia, que, sob seu ponto de vista, levaria a humanidade à catástrofe. 
O Estado soberano, amparado no direito divino, pode assegurar a ordem, necessidade fundamental para o desenvolvimento da sociedade.
“Nada havendo de maior sobre a terra, depois de Deus, que os príncipes soberanos, e sendo por Ele estabelecidos como seus representantes para governarem os outros homens, é necessário lembrar-se de sua qualidade, a fim de respeitar-lhes e reverenciar-lhes a majestade com toda a obediência, a fim de sentir e falar deles com toda a honra, pois quem despreza seu príncipe soberano despreza a Deus, de Quem ele é a imagem na terra.”
BODIN, J. In: MARQUES, A.; BERUTTI, F.; FARIA, R. História moderna através de textos. São Paulo: Contexto, 1999. p. 61-62.
Jacques Bossuet
Bossuet era teólogo e viveu na França, entre os séculos XVII e XVIII. Suas ideias o aproximaram do poder e do rei e sua experiência de vida na corte fez com que retomasse a teoria do direito divino, que justificava o absolutismo.
Na verdade, como religioso, é compreensível que este pensador tenda a buscar na religião os fundamentos da política. Assim, defende também a teoria do direito divino segundo a qual um rei ocupa este cargo porque esta é a vontade de Deus e como tal não pode ser questionada nem sofrer oposição. Desta forma, opor-se ao rei era opor-se ao próprio Deus, o que fazia com que os assuntos de Estado não estivessem circunscritos ao campo da politica, mas também ao espiritual.
As revoltas populares e a oposição ao poder real, passam então a ser consideradas como heresia, sob este ponto de vista.
Sua principal obra é A Política tirada da Sagrada Escritura, publicada após sua morte, no inicio do século XVIII, na qual o autor explicita a teoria do direito divino.
Esta associação entre política e religião pode ser considerada uma herança medieval, já que na Idade Média a igreja detinha um enorme poder político.
Na Idade Moderna, embora exista uma noção sobre a separação Igreja e Estado, em alguns casos, a Igreja acaba servindo como uma instituição que legitima o poder real, como é o caso da Espanha e da França católicas.
“O trono real não é o trono de um homem, mas o trono do próprio Deus. Os reis são deuses e participam de alguma maneira da independência divina. O rei vê de mais longe e de mais alto; devemos acreditar que ele vê melhor, e devemos obedecê-lo sem murmurar, pois o murmúrio é uma disposição para a sedição.”
BOSSUET, Jacques-Benigne. Política tirada da sagrada escritura. In: FEITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano, 1977.
Nicolau Maquiavel
Um dos mais notórios filósofos absolutistas foi Nicolau Maquiavel. 
De sua principal obra, O príncipe, publicada no século XVI, uma citação, que de fato não se encontra no livro, ficou famosa: “o fim justifica os meios”. Na verdade, esta é uma interpretação um tanto equivocada da obra de Maquiavel que defendia o uso de qualquer meio para atingir um objetivo, desde que esse objetivo fosse justo e contribuísse para o bem maior.
Devido à distorção de sua obra, o senso comum atribuiu o adjetivo maquiavélico a tudo oque é ardiloso ou astuto.
Maquiavel nasceu e viveu parte de sua vida em Florença, na Itália. 
Durante sua vida, participou do governo de Lorenzo de Médici, um dos grandes patrocinadores do renascentismo, em cujo governo, Florença atingiu seu auge.
É importante lembrarmos que a Itália era dividida em reinos autônomos, e que só seria unificada no século XIX. 
Essa divisão fez com que, mesmo na Idade Moderna, algumas famílias dominassem os reinos italianos e não era raro disputarem o poder, como é o caso dos Médici, em Florença e dos Sforza, de Milão.
Thomas Hobbes
Por último, é importante analisarmos a obra de Thomas Hobbes. 
Hobbes era um contratualista, ou seja, defendia a teoria do contrato social, que será retomada, entre outros, pelo iluminista Jean-Jacques Rousseau. Para ele, os homens nascem iguais, e, no estado de natureza – nosso estado primitivo, sem Estado ou leis – tendem a se destruir para obter o que desejam.
Como não existe nenhum poder que limite ou puna os homens, a tendência é que estes vivam em permanente luta por recursos ou por bens materiais.
É a chamada guerra de todos contra todos, o que nos remete à frase pela qual Hobbes é constantemente lembrado: “O homem é o lobo do homem”.
De acordo com o contrato social, o homem precisa do Estado para poder sobreviver em sociedade. Dessa forma, abrimos mão de nossa liberdade e da igualdade natural, a que temos direito ao nascer, em prol de um poder maior, forte e centralizado, que administraria os homens e os impediria de viver em luta constante. Dai a defesa do absolutismo, pois só um Estado único e soberano é capaz de conter as paixões humanas.
Veremos adiante que existem diversos tipos de pensamento formulados a partir da ideia do contrato social, mas de modo geral, podemos dizer que este é o contrato tácito entre o homem e o estado, e que justifica a existência e a necessidade de um poder centralizado.
Qualquer governo é melhor que a ausência de governo. O despotismo, por pior que seja, é preferível ao mal maior da anarquia, da violência civil generalizada, e do medo permanente da morte violenta.
Citado por Eduardo Giannetti. A respeito da filosofia de Thomas Hobbes. In: Vícios privados, benefícios públicos? a ética na riqueza das nações – p.81. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
O iluminismo
O movimento intelectual que surge no século XVII, o iluminismo ou ilustração, está em diálogo constante com as teorias que haviam sido formuladas pelos defensores do absolutismo.
Algumas vezes, temos dificuldade em compreender as ideias destes filósofos. Isso acontece porque eles abordam questões que hoje nos parecem evidentes, como a necessidade de um Estado.
Para o homem contemporâneo, é quase inconcebível pensar uma sociedade sem Estado.
Mas, mesmo hoje, questionamos frequentemente a legitimidade dos Estados. Entendemos que um governo legítimo necessita ser democrático e que o voto é a ferramenta mais comum e importante de participação popular.
Pensamento iluminista
Para podermos entender o pensamento iluminista, é necessário considerarmos o contexto no qual estas ideias foram gestadas.
IDADE MÉDIA: Na Idade Média, não havia pensamento corrente sobre o Estado na Europa porque não havia Estado. Porém, com a centralização dos Estados nacionais, é necessário um embasamento teórico, pois o que para nós hoje é absolutamente comum, a existência de um governo central, ainda era uma novidade no período.
IDADE MODERNA: Na Idade Moderna, discutia-se o que era cidadania, formas de participação popular, até onde alcança o poder de um soberano, quais são os elementos necessários para um estado forte, e assim por diante.
IDADE CONTEMPORÂNEA: Hoje discutimos Estados autoritários, liberais, capitalistas ou socialistas. São as nossas preocupações contemporâneas.
Pensamento iluminista – continuação
As teorias não surgem do nada. Elas são fruto da observação, do contexto onde são formuladas e das preocupações de cada época. No caso tanto do iluminismo quanto das teorias absolutistas, elas são o resultado de um período de grande transformação, na qual o estado não é algo “natural”, mas construído, social e politicamente.
As ideias iluministas foram pensadas a partir da existência do Estado absolutista e apontam para o esgotamento deste modelo administrativo. Não só na politica, mas também na economia.
Estas teorias estão olhando para uma nova ordem social, na qual a burguesia surge como uma classe economicamente ativa, mas ainda politicamente insignificante e apontam para a necessidade de transformações na estrutura de poder.
Ao olhar para a organização do Estado fragmentado em feudos da Idade Média, os iluministas enxergam aquele período como “idade das trevas”, e sua influência foi tão grande que só há bem pouco tempo passamos a questionar o termo e a entendê-lo como pejorativo.
A fragmentação do Estado é vista como algo primitivo, desorganizado e a centralização como indispensável, mas não da maneira que foi aplicada, dando origem ao absolutismo, mas com uma maior participação popular e a partir de princípios fundamentais, como liberdade e igualdade.
Revolução Científica
Entre os séculos XVI e XVIII, ocorre na Europa, um movimento denominado Revolução Científica.
*Durante séculos, a ciência esteve atrelada à Filosofia, e muitos cientistas eram também filósofos.
*O renascimento, a reforma e, sobretudo, a invenção da imprensa, contribuíram para uma nova forma de pensar a ciência.
*A imprensa foi um dos mais importantes fatores para essa revolução do pensamento, pois perdia a disseminação das ideias por toda a Europa.
*Hoje, quando pensamos em compartilhar nossas ideias e trabalhos, temos uma infinidade de meios disponíveis: revistas, internet, redes de relacionamento, redes profissionais.
SAIBA MAIS: Em poucos minutos podemos saber o que está sendo produzido sobre um determinado assunto no mundo inteiro. Esse era, aliás, o objetivo primeiro da internet: criar um meio de divulgação de trabalhos acadêmicos que permitisse a cooperação de cientistas do mundo todo. 
Mas, entre as idades Média e Moderna, compartilhar ideias era algo muito mais complicado.
No século XV, com a imprensa de Gutemberg, essa tarefa ficou um pouco mais fácil. Grandes obras de cientistas como Copérnico e Galileu podiam ser lidas em outros países, traduzidas para outros idiomas e se tornariam mais acessíveis do que jamais foram. 
É claro, havia limitações e a principal delas era a Igreja, que condenava varias teorias científicas e julgava os cientistas como hereges, como ocorreu com Galileu Galilei e Giordano Bruno. Não era à toa que os iluministas pregavam a separação entre Igreja e Estado e a limitação dos poderes eclesiásticos.
Principais representantes da Revolução Científica
Dentre os principais representantes desta revolução cientifica estão:
Novos olhares
A revolução científica abriu caminho para uma nova ordem de questionamentos. 
Os princípios defendidos pelos matemáticos e físicos foram ampliados a partir da ótica filosófica e utilizados para compreender a sociedade do Antigo Regime.
Os iluministas valorizam a racionalidade, assim como Descartes e repudiam as explicações de fundo religioso. A superstição passa a ser vista como obscurantismo e fases da história onde a religião teve grande influência, como a Idade Média, é encarada com preconceito, como uma verdadeira “idade das trevas”.
Hoje, avaliamos que a Idade Média teve uma grande contribuição cultural e que o feudalismo é fruto de seu tempo. Não podemos julgar um período como bom ou ruim, melhor ou pior, mas entendê-lo em seu contexto.
Compreender as estruturas políticas e econômicas significa também compreender o homem e a sociedade do período com suas particularidades, enfim, com a sua própria história.
Voltaire
Um dos iluministas que defendia a separação entre Igreja e Estado com mais fervor foi o francês François Marie Arouet, que ficou conhecido como Voltaire. 
Ele viveu entre os séculos XVII e XVIII e produziu diversas obras importantes, não só trabalhos científicos,

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