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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA RURAL Topografia e Elementos de Geodésia Teoria, exercícios e práticas de campo Jaime Freiberger Junior Eno Darci Saatkamp Carlito Vieira de Moraes SANTA MARIA-RS – BRASIL Fevereiro, 2017 2 Ficha catalográfica elaborada por 3 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS Prof. Paulo Afonso Burmann Reitor da UFSM Paulo Bayard Dias Gonçalves Vice-Reitor da UFSM Prof. Irineo Zanella Diretor do CCR/UFSM Prof. Sandro Luis Petter Medeiros Vice-Diretor do CCR/UFSM 4 SUMÁRIO 1. CONCEITOS INTRODUTÓRIOS SOBRE MEDIÇÃO E LEVANTAMENTOS .................................................... 6 2. FUNDAMENTOS DE GEODÉSIA .................................................................................................................... 10 2.1 Aspectos históricos da Geodésia: definição, objetivos e importância ........................................................... 10 2.2 Superfícies de referência em Geodésia ........................................................................................................ 11 2.3 Modelo esférico ............................................................................................................................................. 12 2.3.1 Modelo elipsóidico ................................................................................................................................ 12 2.3.2 Modelo geoidal ...................................................................................................................................... 12 2.3.3 Modelo plano ........................................................................................................................................ 12 2.4 Altitudes, desvio da vertical e ondulação geoidal .......................................................................................... 13 2.5 Sistemas de referência em Geodésia ........................................................................................................... 14 2.6 Geometria do elipsóide de revolução. ........................................................................................................... 14 2.6.1 Elipse geradora ..................................................................................................................................... 14 2.6.2 Elipsóide GRS80 ................................................................................................................................... 16 2.6.3 Latitude geocêntrica e latitude reduzida ............................................................................................... 17 2.6.4 Raios de curvatura e seções normais ................................................................................................... 17 Raio de curvatura da seção meridiana .................................................................................... 18 Raio de curvatura da seção transversal meridiana ................................................................. 18 Raio de curvatura de seção α ................................................................................................. 19 Outros raios de curvatura ........................................................................................................ 19 Seções normais recíprocas ..................................................................................................... 20 2.7 Sistemas de Coordenadas ............................................................................................................................ 21 2.7.1 Sistema de coordenadas cartesianas ................................................................................................... 21 2.7.2 Sistema de coordenadas curvilíneas – caso esférico ........................................................................... 23 2.7.3 Sistema de coordenadas curvilíneas – caso elipsóidico ....................................................................... 23 2.7.4 Transformação de coordenadas geodésicas ........................................................................................ 25 2.8 Transporte de Coordenadas.......................................................................................................................... 28 2.8.1 Transporte de coordenadas no plano ................................................................................................... 28 2.8.2 Transporte de Coordenadas no Elipsóide ............................................................................................. 30 Problema Geodésico Direto (PGD) ......................................................................................... 30 Problema Geodésia Inverso (PGI) .......................................................................................... 33 2.9 Geodésia por Satélites Artificiais ................................................................................................................... 35 2.9.1 NAVSTAR-GPS .................................................................................................................................... 35 2.9.2 Métodos de posicionamento pelo GNSS .............................................................................................. 40 2.9.3 O GNSS ................................................................................................................................................ 42 3. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA TOPOGRAFIA ............................................................................................. 43 3.1 Definição de Topografia ................................................................................................................................ 43 3.2 Medição de alinhamentos ............................................................................................................................. 44 3.3 Medição de distâncias ................................................................................................................................... 46 3.3.1 Processos Diretos ................................................................................................................................. 46 3.3.2 Processos Indiretos .............................................................................................................................. 49 Taqueometria .......................................................................................................................... 49 Medição eletrônica de distâncias (MED) ................................................................................. 52 4. GONIOLOGIA .................................................................................................................................................. 54 4.1 Medição de ângulos horizontais e verticais ................................................................................................... 54 4.2 Instrumentação .............................................................................................................................................. 55 4.3 Conceitos de azimute, contra-azimute e rumo .............................................................................................. 55 5 4.3.1 Azimute .................................................................................................................................................55 4.3.2 Contra-azimute ..................................................................................................................................... 56 4.3.3 Rumo .................................................................................................................................................... 57 4.4 Operações com rumo e azimute ................................................................................................................... 58 4.4.1 Cálculo do azimute como função das coordenadas cartesianas dos vértices do alinhamento ............. 58 Cálculo do azimute como função do rumo .............................................................................. 58 Cálculo do azimute pela fórmula de Grafarend ....................................................................... 59 4.4.2 Transporte de azimute no plano ........................................................................................................... 60 4.5 Medição de direções horizontais e verticais .................................................................................................. 61 4.5.1 Medição de direções horizontais: cálculo de ângulos horizontais horários ........................................... 61 4.5.2 Medição de ângulos verticais ................................................................................................................ 62 5. PLANIMETRIA ................................................................................................................................................. 64 5.1 Métodos de levantamento topográfico planimétrico ...................................................................................... 64 5.1.1 Método das coordenadas polares ......................................................................................................... 64 5.1.2 Método das coordenadas bipolares ...................................................................................................... 65 5.1.3 Método da poligonação ......................................................................................................................... 66 Linhas poligonais abertas ........................................................................................................ 66 Linhas poligonais fechadas ..................................................................................................... 67 5.2 Medida de superfície no plano topográfico .................................................................................................... 69 5.2.1 Área de triângulos ................................................................................................................................. 69 5.2.2 Área de polígonos por coordenadas polares ........................................................................................ 70 5.2.3 Processo das coordenadas (fórmula dos trapézios segundo Gauss) ................................................... 72 5.3 Cálculo de cadernetas topográficas .............................................................................................................. 73 5.3.1 Cálculo em linha poligonal aberta ......................................................................................................... 73 5.3.2 Cálculo em linha poligonal fechada (polígono) ..................................................................................... 73 5.3.3 Desenho técnico topográfico ................................................................................................................ 75 6. ALTIMETRIA .................................................................................................................................................... 78 6.1 Levantamento Topográfico Altimétrico .......................................................................................................... 79 6.2 Métodos gerais de nivelamento..................................................................................................................... 79 6.2.1 Nivelamento Geométrico ...................................................................................................................... 79 Nivelamento geométrico simples ............................................................................................ 80 Nivelamento geométrico composto ......................................................................................... 81 Nivelamento de vértices de poligonais .................................................................................... 82 6.2.2 Nivelamento Trigonométrico ................................................................................................................. 84 Influência da curvatura terrestre .............................................................................................. 87 Influência da refração atmosférica .......................................................................................... 88 Influência da curvatura terrestre e da refração atmosférica .................................................... 88 6.3 Noções de Topologia .................................................................................................................................... 89 6.3.1 Traçado de curvas de nível ................................................................................................................... 90 6.3.2 Terraplenagem ...................................................................................................................................... 90 7. DIVISÃO DE ÁREAS E LOCAÇÃO .................................................................................................................. 92 7.1 Divisão de Glebas ......................................................................................................................................... 92 7.2 Locação de pontos e alinhamentos ............................................................................................................... 93 8. PERÍCIAS EM AÇÕES IMOBILIÁRIAS ............................................................................................................ 94 6 1. CONCEITOS INTRODUTÓRIOS SOBRE MEDIÇÃO E LEVANTAMENTOS No contexto da Geodésia e Topografia, levantar significa obter grandezas geométricas de uma determinada porção da superfície terrestre através da medição de elementos existentes no espaço geográfico. Estes elementos podem ser feições naturais, e.g., córregos, elementos geológicos e vegetação, ou artificiais, e.g., ruas, edificações, pontes e canais. A medição ou levantamento implica na determinação das posições relativas dessas feições que a rigor exige a utilização de instrumentos e métodos de medição. Por meio de um levantamento são obtidas as medidas ou observações. Geralmente, elas constituem grandezas geométricas de natureza linear (distâncias) e angular (direções e ângulos). As principais definições relacionadas a este tema são: a) Medição é o processo experimental por meio do qual uma grandeza física é determinada como múltiplo ou submúltiplo de uma unidade. É o ato de medir que gera a medida ou observação; b) Grandeza de medição é uma grandeza física cujo valor deve ser determinado por meio da medição. Tudo o que pode ser medido chama-se grandeza. Exemplos: peso, comprimento de um segmento de reta, tempo, ângulo entre dois alinhamentos, diferença de nível entre dois pontos, área, volume, temperatura e pressão atmosférica; c) Valor da medição (medida ou observação) é o valor de uma grandeza de medição com uma unidade. Exemplos: comprimento do segmento entre os pontos A e B de uma reta: AB =42,28 m; o ângulo entre dois alinhamentos: BOA ˆ = 38°42’30”; a diferença de nível entre doispontos: ΔHAB=2,956 m. As medidas podem resultar de observações diretas sobre a grandeza (por exemplo: um segmento de reta medido com trena) ou de observações indiretas, i.e., o valor de uma grandeza obtido via cálculo. A medida é uma estimativa numérica do valor de uma grandeza. Mas o quanto este valor é confiável? Resultado = ± É absolutamente seguro que o valor verdadeiro da grandeza esteja neste intervalo? Se não, quão provável é isso? Surge então o conceito de nível de confiança, que é a probabilidade de o valor verdadeiro da grandeza estar no intervalo indicado. Em distribuições normais dos erros, o desvio-padrão de 1 (um sigma) corresponde ao nível de confiança de 68%. Neste nível de confiança é comum apresentar o resultado x da grandeza medida na forma xx 1 onde x é a média das n observações (medidas) isentas de erros grosseiros e, se possível, de erros sistemáticos, e é o desvio-padrão dessas medidas. Considerando que toda medida ou observação possui um erro associado, tem-se os erros de medida cujas fontes podem ser: a) do meio, causados por variações do ambiente em que se procedeu a medição. Por exemplo, uma trena pode ter seu comprimento alterado em função da temperatura do meio; b) do instrumental, causados por imperfeições na construção do instrumento e no ajuste inadequado do mesmo. A maior parte dos erros instrumentais pode ser reduzida com a verificação e retificação periódica do instrumento e com o uso de técnicas de medição; c) humana, causados por falha humana decorrente de desatenção ou inabilidade na operação do instrumental. Os erros de medida decorrentes das fontes citadas são classificados em: a) erros grosseiros: geralmente causados por descuido ou distração do observador. Como exemplos, leitura equivocada nos instrumentos ou anotação errada de um valor (anotar 196 ao invés de 169), dúvida na contagem de lances na medição de uma distância com trena e a identificação incorreta de um alvo. Cabe ao estimativa do valor da grandeza medida estimativa de quão longe o valor verdadeiro pode estar da estimativa que temos dele. 7 observador cercar-se de cuidados para evitar esta ocorrência ou detectá-la caso ocorra. A repetição de leituras é uma forma de detectar este tipo de erro. b) Erros sistemáticos: Ocorrem sempre com certa tendência (sinal e magnitude), podendo, portanto, ser fisicamente determinados e matematicamente modelados. Podem ser causados por desajuste no instrumento e por influência do meio. Por exemplo, uma trena com muito uso pode ter sofrido extensão e, portanto, indicará um valor de medida menor que realmente é; outro exemplo é a influência da temperatura e da pressão atmosférica na velocidade de propagação da onda eletromagnética durante o processo de medição eletrônica de distâncias. No caso da trena, o desajuste pode ser corrigido, por exemplo, pela aplicação de um valor de correção determinado por aferição da trena. Em certos casos, técnicas de medição permitem minimizar erros sistemáticos, por exemplo, o nivelamento geométrico pelo método das visadas iguais (seção 6.2.1) em que se posiciona o nível a igual distância entre as miras proporcionando minimização do efeito da curvatura terrestre no nivelamento e a falta de paralelismo entre a linha de visada e eixo do nível tubular. c) Erros aleatórios: são de pequena magnitude e ocorrem de forma aleatória. Os erros aleatórios de origem instrumental são intrínsecos aos sistemas físicos (mecânicos e eletrônicos) e sua magnitude está associada ao grau de qualidade do instrumento (indicada por sua precisão nominal). Os erros aleatórios de origem humana estão relacionados ao cuidado e habilidade do operador durante a medição. Como exemplos, a pontaria malfeita sobre o alvo durante a leitura de direções e a não-verticalidade da baliza sobre o ponto (alvo) no momento de realização da pontaria. Em uma amostra elevada de medidas de uma mesma grandeza física, a distribuição dos erros aleatórios tende para a distribuição normal considerando ausência de erros grosseiros. Há dois conceitos associados aos erros de medida e que indicam a qualidade da medida: a precisão e a acurácia (Moraes, 2001). A precisão expressa o grau de dispersão de um conjunto de medidas entre si, feitas em condições semelhantes, de uma mesma grandeza física. - A precisão está vinculada aos erros aleatórios (menor dispersão significa maior precisão e vice-versa), e seu valor é calculado pelo desvio padrão ( ) das medidas. - A acurácia expressa o grau de dispersão das medidas de uma grandeza física em relação ao seu verdadeiro valor. Está vinculada aos erros aleatório e sistemático. Erros sistemáticos fazem com que as medidas sofram um desvio em relação ao seu verdadeiro valor. Na prática, geralmente não se conhece o verdadeiro valor de uma medida. Neste caso, ele é considerado como a média aritmética do conjunto de medidas daquela grandeza, medidas estas isentas dos erros grosseiros e sistemáticos. Suponha a determinação das coordenadas do ponto da interseção central do círculo representativo em que diversas observações foram feitas no mesmo ponto. De forma geral, poderão ocorrer as situações mostradas na Figura 1. Figura 1 – Acurácia e precisão Em geral, toda medida possuirá uma incerteza associada mesmo que depurada de erros aleatórios e sistemáticos. Esta incerteza é dada pela precisão da medida. Sabe-se que os instrumentos de medida têm sua precisão determinada e indicada pelo fabricante. Por exemplo, na medição de uma distância realizada 8 cuidadosamente com uma trena aferida, graduada em centímetros, a incerteza da medida será na ordem do centímetro. Muitas vezes os valores de medida são utilizados como operandos em operações matemáticas, para que se determinem outras grandezas em função delas. Nessas operações, é importante que se utilizem os valores numéricos com precisão adequada. A forma como a precisão (ou a incerteza) das medidas interfere na precisão das grandezas resultantes, calculadas por meio de modelos matemáticos, é dada pela Lei de Propagação das Covariâncias, tema estudado na disciplina Ajustamento de Observações Geodésicas. Sabe-se que medidas com diferentes precisões promovem degradação dos resultados causada pela incerteza da medida menos precisa. Daí a importância de se considerar medidas com precisão homogênea em um mesmo projeto ou levantamento. Portanto, em relação à precisão numérica utilizada nos cálculos da presente disciplina adotar-se-ão simplificadamente os seguintes critérios: No resultado final, a precisão da grandeza resultante será a mesma das medidas de mesma natureza (linear ou angular). Por exemplo, coordenadas retangulares terão a mesma precisão das medidas de distância (arredonda-se o resultado, se necessário). Não faz sentido, por exemplo, apresentar as coordenadas de um ponto com precisão milimétrica ou submilimétrica se as distâncias utilizadas para seu cálculo foram medidas com resolução centimétrica. Assim, durante os passos intermediários da solução de um problema, teremos: a) para as operações de soma ou subtração, serão usados operandos e resultados com um (e basta um) dígito de fração decimal a mais que a precisão desejada no resultado final; e b) para as operações de multiplicação ou divisão, serão usados operandos com todos os dígitos apresentados pela calculadora (geralmente 9 ou 10 dígitos). Exemplo: avaliação das medições do comprimento de uma edificação com uma trena aferida e registro das observações ou medidas. A respeito dos dados apresentados no Quadro 1, perguntam-se: a) há indício de erro grosseiro em alguma medida? b) qual o valor estimado da medidae qual sua incerteza? Quadro 1 – Registro das observações Observação nº Comprimento [m] 1 13,29 2 13,28 3 13,29 4 13,92 5 13,27 6 13,30 Na observação nº4 o valor difere significativamente dos demais valores, provavelmente cometeu-se a inversão dos dois últimos dígitos, caracterizando um erro grosseiro. Portanto, essa observação deve ser eliminada para não “contaminar” a estimativa da grandeza (comprimento da edificação). E qual o valor estatisticamente mais provável do comprimento da edificação e qual sua precisão, ao nível de confiança de 68% (1 sigma)? Conforme visto, o resultado é dado na forma da equação 1, e como a trena usada estava aferida, considera-se que as medidas registradas contenham erros sistemáticos insignificantes, ou seja, que os valores registrados já estão corrigidos desse tipo de erro, caso exista. Portanto, supõe-se que a correção (desvio da média em relação ao valor verdadeiro) seja insignificante, ou seja, que o valor a ser estimado é acurado. Da estatística, 1n σ n 1i 2 1 2 9 onde 1 é o resíduo ou desvio em relação à média da observação i, dada por xxii 3 e x é a média das n observações isentas de erro grosseiro. Assim, temos: Quadro 2 – Estatística de um grupo de observações Observação nº Comprimento [m] Resíduo 1 2 1 1 13,29 0,004 0,000016 2 13,28 -0,006 0,000036 3 13,29 0,004 0,000016 4 13,92 --- --- 5 13,27 -0,016 0,000256 6 13,30 0,014 0,000196 x =13,286 0,00052 5 0ι 2 1 Cálculo de um sigma: 0,011m. 15 0,00052 σ Finalmente: 0,01m13,29x . Concluindo, o comprimento da edificação é estimado em 13,29 m com uma incerteza de 1 cm ao nível de confiança de 68%. Observar que cada parcela que compõe a resposta foi arredondada para a mesma ordem de grandeza das medidas, ou seja, ao centímetro. 10 2. FUNDAMENTOS DE GEODÉSIA 2.1 Aspectos históricos da Geodésia: definição, objetivos e importância Consta que o termo “geodésia”, do grego , foi usado pela primeira vez por Aristóteles (384-322 a.C.). Geodésia pode significar divisões (geográficas) da Terra como também o ato de dividir uma porção de terra, por exemplo, entre proprietários. A Geodésia é uma Engenharia que trata do levantamento e da representação da forma e da superfície da Terra (definição clássica de Helmert) global e parcial, com suas feições naturais e artificiais bem como a determinação do campo gravitacional terrestre. Dentre os fatos da antiguidade que se tem notícia e que marcaram o desenvolvimento dos estudos geodésicos está a comprovação da esfericidade da Terra por Eratóstenes (276-194 a.C.). Matemático, bibliotecário e astrônomo grego, ele comprovou pela trigonometria a esfericidade da Terra e mediu com relativa precisão o perímetro de sua circunferência. Na era moderna, com o Renascimento e a ascensão do Humanismo, houve grande estímulo à pesquisa científica e intelectual. A passagem do feudalismo da Idade Média para a Idade Moderna com a ascensão dos estados-nação europeus foi marcada pelos “descobrimentos” ou grandes navegações. Esta é a designação dada ao período da história que decorreu entre o século XV e o início do século XVII durante o qual os europeus exploraram intensivamente o globo terrestre em busca de novas rotas de comércio. Os historiadores geralmente referem-se à era dos descobrimentos como as explorações marítimas pioneiras realizadas neste período por portugueses e espanhóis, que estabeleceram relações com África, Américas e Ásia, em busca de uma rota alternativa para as “Índias”, movida pelo comércio de ouro, prata e especiarias. A passagem entre os séculos XVII e XVIII foi marcada pelo Iluminismo, movimento cultural que se desenvolveu na Inglaterra, Holanda e França. Nessa época, o desenvolvimento intelectual, que vinha ocorrendo desde o Renascimento, deu origem a ideias de liberdade política e econômica, por profundas mudanças na forma de pensar, pelas descobertas científicas e tecnológicas e pela Revolução Industrial. Além das ideias iluministas que se espalhavam pelo mundo (inclusive no Brasil, com a Inconfidência Mineira), a Europa e América do Norte também assistiam a novas descobertas e inventos. O avanço científico dessa época mostrou ao homem informações reais quanto à descrição da órbita dos planetas e do relevo da Lua, a descoberta da existência da pressão atmosférica e da circulação sanguínea e o conhecimento do comportamento dos espermatozoides, por exemplo. O século XVIII é também chamado Século das Luzes. A Astronomia foi um dos campos que deu margem às maiores revelações. Seguindo a trilha de estudiosos da Renascença, como Nicolau Copérnico, Johann Kepler e Galileu Galilei, o inglês Isaac Newton (1642-1727) elaborou um novo modelo para explicar o universo. Auxiliado pelo desenvolvimento da Matemática, que teve em Blaise Pascal (1623-1662) um de seus maiores representantes, ele ultrapassou a simples descrição do céu, chegando a justificar a posição e a órbita de muitos corpos siderais. Além disso, anunciou ao mundo a lei da gravitação universal, que explicava desde o movimento de planetas até a simples queda de uma fruta. Newton foi ainda responsável por avanços na área do cálculo e pela decomposição da luz, mostrando que a luz branca, na verdade, é composta por sete cores, as mesmas do arco-íris. Tanto para o estudo dos corpos celestes como para a observação das minúsculas partes do mundo, foi necessário ampliar o campo de visão do homem. Os holandeses encarregaram-se dessa parte descobrindo que a justaposição de várias lentes multiplicava a capacidade da visão humana. Tal invento possibilitou a Robert Hooke (1635-1703) construir o primeiro microscópio, que ampliava até 40 vezes pequenos objetos (folhas, ferrões de abelha, patas de insetos). Este cientista escreveu um livro sobre suas observações e criou o termo célula, hoje comum na Biologia. Assim, houve progresso também no estudo do corpo humano com a identificação dos vasos 11 capilares e do trajeto da circulação sanguínea. Descobriu-se também o princípio das vacinas - a introdução do agente causador da moléstia no organismo para que este produza suas próprias defesas. Na Química, destaca-se Antoine Lavoisier (1743-1794), famoso pela precisão com que realizava suas experiências. Essa característica auxiliou-o a provar que, “embora a matéria possa mudar de estado numa série de reações químicas, sua quantidade não se altera, conservando-se a mesma tanto no fim como no começo de cada operação”. Atribuiu-se a ele a frase "na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma". Muitos outros inventores e estudiosos permitiram, por exemplo, a descoberta da eletricidade, a invenção da primeira máquina de calcular, a formulação de uma teoria, ainda hoje aceita, para explicar a febre, a descoberta dos protozoários e das bactérias. Surgiu a Geologia, a partir da qual se desenvolveu uma teoria que explicava a formação da Terra, refutando a versão bíblica da criação do mundo em sete dias. Neste período, a questão que envolvia a real forma da Terra ainda não estava resolvida. É nesse contexto de descobertas e invenções que se travou um dos grandes debates da época e que estava relacionado à forma da Terra ou, mais especificamente, relacionado ao seu achatamento. Essa questão, amplamente discutida no início do século XVIII, na Europa continental e na Inglaterra, contrapôs newtonianos e cartesianos. Eles buscaram, por diferentes caminhos, provas para solucionar essa polêmica. Supunha-se que a Terra era redonda e achatada. No entanto, nãose sabia em torno de qual direção se dava este achatamento: se no sentido dos polos ou do equador. Essa discordância estava diretamente ligada às diferentes concepções científicas que colocavam em jogo disputas filosóficas e políticas. No século XVIII, dois países disputavam a hegemonia mundial em todas as áreas: Inglaterra e França. Os franceses, de modo geral, seguiam a linha cartesiana e resolveram formar duas expedições para comprovar a hipótese de achatamento no sentido do equador. Uma expedição foi para a Lapônia e outra para Quito, no Equador. Nessas localidades, por meio do método da triangulação e pelo quadrante, eles mediram o raio da Terra. Essa movimentação científica (preparar expedições, estabelecer unidades de medida, comprovar hipóteses, etc.) não pretendia apenas confirmar a forma da Terra, mas, sobretudo ressaltar a importância cultural e científica de uma determinada linha de pensamento. No século XIX surge a figura do geodesista alemão Friedrich Robert Helmert, na época presidente do escritório central do Instituto Internacional de Medições da Terra em Potsdam. É considerado o pai da Geodésia moderna por criar e reunir fundamentos matemáticos e físicos das teorias modernas da Geodésia para a sua definição clássica: a ciência que estuda a forma, a dimensão e o campo gravitacional terrestre. Helmert divide a Geodésia em Geodésia Superior, composta pela Geodésia Física e Astronômica e pela Geodésia Matemática, e Geodésia Inferior, também chamada Topografia ou Geodésia Prática. 2.2 Superfícies de referência em Geodésia Devido às irregularidades da superfície terrestre, utilizam-se modelos para sua representação que devem ser simples, regulares e geométricos, e que mais se aproximem da forma real do globo. Em uma primeira aproximação, as irregularidades da superfície terrestre podem ser negligenciadas, reduzindo o problema à determinação das dimensões do modelo geométrico mais adequado. Devido a essas irregularidades, adotam-se modelos ou superfícies de referência mais simples, regulares e com características geométricas conhecidas que permitam a realização de reduções e sirvam de base para cálculos e representações. As superfícies utilizadas em levantamentos são o plano topográfico, a esfera, o elipsóide de revolução e o geóide. 12 2.3 Modelo esférico Em determinadas aplicações, por exemplo, na Astronomia, a Terra pode ser considerada uma esfera. Um ponto localizado na superfície desta esfera pode ser localizado por meio das coordenadas latitude e longitude astronômicas. 2.3.1 Modelo elipsóidico A Geodésia adota como modelo o elipsóide de revolução ou biaxial, figura geométrica regular proposta por Newton como a que mais se aproxima da figura da Terra. Esta figura é gerada pela rotação de uma semielipse em torno de um de seus eixos, então chamado eixo de revolução. Se o eixo de revolução for o eixo menor, tem- se um elipsóide achatado. Ao contrário, será um elipsóide alongado. Um elipsóide de revolução é definido por dois parâmetros de sua geometria: os semieixos maior e menor, denominados a e b, respectivamente. Também pode ser definido por seu semieixo maior, representado por a, e por seu achatamento f, que é a relação matemática entre os dois semieixos. Esta definição é a usada tradicionalmente na Geodésia. 2.3.2 Modelo geoidal É definido pelo nível médio dos mares (NMM) em repouso, prolongado através dos continentes. É o modelo natural da Terra, ou seja, da forma como ela se apresenta e por isso é o que mais se aproxima da forma da Terra. Trata-se de uma superfície irregular e de complexo tratamento matemático. O geóide é definido como uma superfície equipotencial do campo da gravidade ou superfície de nível que mais se ajusta ao NMM, que por sua vez é estabelecido por uma origem altimétrica denominada datum altimétrico. 2.3.3 Modelo plano Adotado na Topografia, onde não se considera a influência dos erros sistemáticos devidos à curvatura da Terra e ao desvio da vertical. Assume-se que a porção de Terra em estudo seja plana. Trata-se de uma simplificação, considerada válida dentro de certos limites a fim de facilitar os cálculos topográficos. A este plano, denominado plano topográfico local ou superfície de projeção, são lançados os pontos medidos na superfície do terreno. As características deste plano são (ABNT, 1994b): a) é horizontal, ou seja, é perpendicular à direção vertical naquele local; b) possui os eixos cartesianos: - das abscissas (coordenadas x), orientado positivamente no sentido leste; - das ordenadas (coordenadas y), orientado positivamente no sentido norte; - eixo z, quando se determinam informações altimétricas (capítulo 6), pode ser utilizado este terceiro eixo, ortogonal ao plano topográfico e com sentido oposto ao do vetor gravidade (ou direção vertical) naquele local. Idealmente, este eixo é materializado pelo eixo principal do instrumento quando instalado no ponto. c) dimensão máxima limitada a 80 km a partir da origem; Geralmente, este sistema cartesiano tem origem no ponto origem do levantamento topográfico e o mesmo é utilizado como referencial local para determinação das coordenadas dos pontos levantados. As projetantes de cada ponto são ortogonais ao plano topográfico. 13 2.4 Altitudes, desvio da vertical e ondulação geoidal Conforme visto, o geóide é uma superfície equipotencial do campo gravitacional terrestre que mais se aproxima do NMM. O geóide serve para a definição da coordenada altitude ortométrica, representada por H, por isso diz-se que o geóide é uma superfície de referência das altitudes. A altitude ortométrica (H) de um ponto P qualquer na superfície física é a distância contada ao longo da linha vertical do ponto P ao geóide. A vertical do lugar, direção tangente à linha vertical é a linha de força do campo da gravidade que passa neste ponto. Ela representa a direção do vetor gravidade g e é materializada pelo fio de prumo ou pelo eixo vertical de um teodolito nivelado corretamente. A altitude geométrica ou elipsóidica do ponto P, representada por h, é a distância contada ao longo da normal ao elipsóide que passa pelo ponto P (Figura 2). Foi visto que a superfície de referência em Geodésia é o elipsóide de revolução. Trata-se de uma superfície geométrica que se aproxima da forma da Terra, contudo, geralmente não é paralela nem coincide com o geóide. Dessa forma, ocorre um desvio entre a normal ao elipsóide, ao longo do qual é medida a altitude geométrica (h) e a vertical, ao longo da qual é medida a altitude ortométrica (H). Esta diferença é denominada desvio da vertical, representado por θ. A distância de separação entre o elipsóide e o geóide é denominada ondulação geoidal ou ondulação do geóide, representada por ∆N. Ela indica a variação do geóide em relação ao elipsóide e normalmente oscila de 30 metros, podendo chegar a 100 metros (TORGE, 2001, p. 77). A altitude geométrica pode ser convertida em altitude ortométrica por meio da relação: NhH 4 Figura 2 – Altitudes, desvio da vertical e ondulação geoidal A ondulação geoidal pode ser obtida por diferentes processos, tais como: método astrogeodésico (nivelamento astronômico), altimetria celeste, coeficientes do geopotencial (harmônicos esféricos) e rastreio (medição de sinais) de satélites artificiais para determinação de perturbações orbitais. No Brasil, a ondulação geoidal é disponibilizada pelo IBGE (aplicativo MapGeo). Outra forma de se obter a ondulação geoidal aproximada de uma região é por meio do rastreio de uma RN de altitude ortométrica conhecida (capítulo 6). 14 2.5 Sistemas de referência em Geodésia Posicionamento consiste na determinação da posição de objetos noespaço em relação a um referencial específico convencionado. Assim, georreferenciar um ponto da superfície física terrestre significa associa-lo a um referencial especifico denominado sistema geodésico de referência (SGR). Basicamente, o estabelecimento de um SGR consiste de duas fases: a) Sua concepção ou definição teórica. São estabelecidos: a origem do sistema, o fator de escala, a orientação dos eixos e o sólido geométrico de referência entre outros parâmetros. Esta concepção é chamada system (sistema). b) Sua realização. É a materialização de uma rede de estações com coordenadas determinadas no próprio sistema de referência que formará o arcabouço de referência para o posicionamento de mais pontos neste referencial. A realização do sistema é chamada frame (arcabouço). Um sistema de referência é formado por um conjunto de regras que especifica os infinitos pontos no espaço por meio de um conjunto de números reais denominados coordenadas. Um dos principais objetivos da Geodésia e Topografia é a determinação da posição relativa destes pontos. Fundamental é que seja expressa em um sistema de coordenadas, pois os sistemas de coordenadas regulamentam a localização de pontos em superfícies, como por exemplo, uma esfera, um elipsóide ou um plano. É com base em determinados sistemas de coordenadas que é descrita geometricamente a superfície terrestre. Ao se posicionar um ponto, são atribuídas coordenadas que indispensavelmente deverão estar referenciadas a um sistema de coordenadas. Existem diversos sistemas, alguns empregados em disciplinas como a Geometria e a Trigonometria, que normalmente representam um ponto no espaço bidimensional ou tridimensional. 2.6 Geometria do elipsóide de revolução. O elipsóide de revolução foi proposto por Isaac Newton (1643-1727) como figura geométrica fundamental para a representação da Terra. Em geometria, revolução significa a rotação de um corpo em volta de um eixo real ou imaginário. A rotação de uma elipse em torno de um de seus eixos gera o elipsóide de revolução, que poderá ser oblato se a rotação for dada em torno do semieixo menor e prolato se a rotação for em torno do semieixo maior. 2.6.1 Elipse geradora A elipse é definida por dois parâmetros: o semieixo maior a e o semieixo menor b. 15 Figura 3 – Elipse Outros parâmetros fundamentais são derivados a partir da relação matemática entre dois elementos. Normalmente, empregam-se os parâmetros a e f para se definir um elipsóide. Denomina-se achatamento polar f à razão da diferença entre o semieixo maior e o semieixo menor pelo semieixo maior: a b-a f 5 O valor do achatamento, situado no intervalo 0 ≤ f ≤ 1 indica o quanto o elipsóide se aproxima ou se afasta da forma esférica. Excentricidade linear E é o segmento que liga o centro ao foco da elipse: 22222 baEEba 6 Figura 4 – Excentricidade linear E A partir da excentricidade angular α, definem-se as duas excentricidades numéricas: f1 a b cosa 7 e a E sena (primeira excentricidade numérica) 8 e' b E tana (segunda excentricidade numérica) 9 16 Relaciona-se a primeira excentricidade numérica com os semieixos a partir da substituição do termo da excentricidade linear E na primeira parte da equação 6 2 22 22222 a ba eaeba 10 Da mesma forma, relaciona-se a segunda excentricidade numérica com os semieixos a partir da substituição do termo da excentricidade linear E: 2 22 22222 b ba e'be'ba 11 Após manipulações algébricas, deduzem-se as relações matemáticas entre as excentricidades numéricas: 2 2 2 e'1 e' e 12 2 2 2 e-1 e e' 13 A partir das equações anteriores, obtêm-se as seguintes relações: f1 b e'1ba 2 14 f)a(1e1ab 2 15 2 2 e'1 1 1e11f 16 22 f2fe 17 2 2 2 f)-(1 e e' 18 2.6.2 Elipsóide GRS80 Existem vários tipos de elipsóides utilizados em diferentes países e continentes. Podem ser elipsóides com orientação local – que melhor se adapte à porção de superfície da Terra que se deseja representar – ou com orientação global, de origem geocêntrica (centro do globo), que é um modelo generalizado para toda a Terra. 17 Atualmente, o Sistema Geodésico Brasileiro adota como modelo geométrico o elipsóide GRS80 (ingl. Geodetic Reference System – 1980), atualmente recomendado pelo IAG, cujos parâmetros são: Quadro 3 – Parâmetros do elipsóide GRS80 Semieixo maior a = 6378137 m Semieixo menor b = 6356752,3141 m Excentricidade linear E = 521854,0097 m 1ª excentricidade e2 = 0,00669438002290 2ª excentricidade e’2 = 0,00673949677548 Achatamento f = 0,00335281068118 Inverso do achatamento 1/f= 298,257222101 2.6.3 Latitude geocêntrica e latitude reduzida Em questões teóricas de Geodésia, são uteis os conceitos de latitude geocêntrica e latitude reduzida. A latitude geocêntrica ψ de um ponto P à superfície do elipsóide é o ângulo formado entre o raio vetor, constituído a partir deste ponto ao centro do sólido, e a projeção deste vetor no plano do equador. A latitude reduzida (ou paramétrica) β de um ponto P corresponde ao ângulo formado entre o raio vetor, constituído a partir de um ponto em um círculo circunscrito ao elipsóide – o qual corresponde à projeção no círculo do ponto P sobre o elipsóide – ao centro geométrico deste círculo e a projeção daquele vetor no plano do equador. Figura 5 – Latitudes geocêntrica e reduzida A relação entre as latitudes geodésica (φ), geocêntrica (ψ) e reduzida (β) é dada por: tanf)-(1f)tanβ-(1tanψ 2. 19 2.6.4 Raios de curvatura e seções normais Seções normais no elipsóide de revolução são as seções determinadas pela intersecção de qualquer plano que contém a normal e a superfície do elipsóide. O raio de curvatura de uma seção normal ao elipsóide depende do azimute dessa seção normal. Em cada ponto da superfície existem sempre duas seções normais mutuamente 18 perpendiculares entre si, cujas curvaturas assumem o valor máximo e mínimo. As seções normais que verificam o valor máximo e mínimo de curvatura dizem-se seções normais principais, que são: - seção meridiana (símbolo: M), gerada pelo plano normal de um ponto que passa pelos dois polos; e - seção transversal meridiana ou seção de curvatura do primeiro vertical (símbolo: N), gerada pelo plano normal de um ponto, perpendicular ao plano do meridiano, também designada por grande normal. Raio de curvatura da seção meridiana Para uma curva qualquer sobre o plano, F(x)z , o raio de curvatura em um dado ponto desta curva é dado por: 3/2 2 2 2 dx zd dx dz 1 ρ . 20 Da aplicação desta fórmula ao arco de meridiano chega-se à expressão do raio de curvatura da seção meridiana: Figura 6 – Raio de curvatura da seção meridiana 322 2 )sine(1 )ea(1 M 21 Raio de curvatura da seção transversal meridiana A relação entre o raio de curvatura da seção transversal meridiana e o raio do paralelo é mostrada na seguinte. O raio de curvatura de paralelo (símbolo: p) que contém um dado ponto na superfície do elipsóide é expresso pelo Teorema de Meusnier, equação 24, onde φ é a latitude do ponto. Substituindo na expressão do raio do paralelo, igual a x, vem a equação do raio de curvatura da seção transversal meridiana: 22sine1 a N 22 A pequena normal (símbolo: N’) édada por: )eN(1N' 2 23 19 Figura 7 – Raio de curvatura da seção transversal meridiana Ncos)Nsin(90ºp 24 Raio de curvatura de seção α Conforme o teorema de Euler, a curvatura de qualquer secção normal em função das curvaturas das secções principais é dada por 2 2 1 2 ρ θsin ρ θcos ρ 1 , 25 onde ρ é o raio de curvatura arbitrário, ρ1 e ρ2 os raios de curvatura principais máximo e mínimo, respectivamente, e θ é o ângulo medido a partir da seção principal de maior raio de curvatura. Como N é normalmente maior que M, logo α = 90º – θ e M αcos N αsin R 1 22 α 26 . O raio de curvatura para uma seção orientada pelo azimute geodésico Ag assume a forma: AgNcosAgMsin MN R 22α . 27 Outros raios de curvatura O raio médio de curvatura, também conhecido como raio de curvatura médio Gaussiano, é definido pelo valor médio integral de R ao longo da variação de azimute de 0º a 360º: 2π 0 22 2π 0 α0 dα αMsinαNcos MN 2π 1 dαR 2π 1 R 28 MNR0 (média geométrica dos raios principais). 29 20 Seções normais recíprocas As normais relativas a dois pontos sobre a superfície de uma espera convergem para o centro do sólido, logo, são coplanares. O mesmo não acontece no caso do elipsóide de revolução salvo no caso particular de ambos pertencerem ao mesmo paralelo ou ao mesmo meridiano. Ou seja, duas normais ao elipsóide somente definem um plano no caso de pertencerem a pontos situados em mesma latitude ou em mesma longitude. Na Figura 8, a normal ao elipsóide no ponto A e o ponto A1 determinam um plano interceptador da superfície elipsóidica conforme uma seção normal (trajeto AaA1) que não contém a normal de A1. Analogamente, a normal de A1 e o ponto A definem um plano do qual resulta outra seção normal (trajeto A1a1A) distinta da primeira. O trajeto A1aA1 é a seção normal que contém a normal de A, sendo então chamada direta em relação a A e recíproca em relação a A1. O trajeto A1a1A é a seção normal que contém a normal de A1, sendo chamada direta em relação a A1 e recíproca em relação a A. Figura 8 – seções normais recíprocas Considerando agora três pontos quaisquer na superfície do elipsóide de maneira que formem um triângulo elipsóidico. Se fosse possível, de cada um dos vértices P, Q e R visar os outros pontos com um teodolito, o triângulo PQR, devido à duplicidade das seções normais, não ficaria determinado de maneira única. Figura 9 – Definição de linha geodésica 21 O menor caminho entre dois pontos na superfície do elipsóide não é representado nem pela seção normal direta nem pela recíproca, mas sim por uma curva reversa1 situada entre as duas seções normais, denominada geodésica. Ela pode ser definida como uma linha ou curva que liga dois pontos sobre uma determinada superfície, pela menor distância, de forma que a normal em cada ponto coincide com a normal à superfície. Exemplos: a) No plano: a geodésica é uma linha (segmento de reta); b) Na esfera: a geodésica é um arco de círculo máximo; c) No elipsóide: a geodésica é uma curva reversa situada entre as seções normais direta e recíproca. 2.7 Sistemas de Coordenadas Basicamente, são utilizados dois tipos de sistemas de coordenadas para a definição unívoca da posição de pontos: o sistema de coordenadas cartesianas (ou retangulares) e o sistema de coordenadas curvilíneas (elipsóidicas ou esféricas), cuja base é a geometria de um elipsóide ou esfera. 2.7.1 Sistema de coordenadas cartesianas No caso bidimensional, utiliza-se normalmente o sistema de coordenadas cartesianas (ou retangulares). Trata-se de um sistema de eixos ortogonais no plano denominados eixos coordenados. Este sistema é constituído de duas retas orientadas X e Y, perpendiculares entre si e com origem no cruzamento delas. Figura 10 – Eixos cartesianos (caso bidimensional) Um ponto P qualquer é definido neste sistema por meio de duas coordenadas: uma, denominada abscissa (coordenada do eixo x) e outra denominada ordenada (coordenada do eixo y). A representação matemática deste ponto P com abscissa x e ordenada y é P(x, y) ou P=(x,y). No caso tridimensional, ao sistema de eixos coordenados é adicionado um terceiro eixo coordenado Z. São mutuamente perpendiculares e se interceptam em um único ponto, que define a origem. A representação de um ponto neste sistema de coordenadas é dada por P(x,y,z) ou P=(x,y,z). 1 Curva reversa: é uma curva que não está circunscrita em um plano. 22 Figura 11 – Eixos cartesianos (caso tridimensional) Em Geodésia, um sistema de coordenadas é denominado global quando sua origem for geocêntrica (origem no centro de massa da Terra), e local ou regional quando sua origem estiver deslocada do geocentro. Figura 12 – Sistema de coordenadas geodésicas cartesianas geocêntrico global Assim, o sistema de coordenadas geodésicas cartesianas geocêntrico global, utilizado como sistema de coordenadas terrestres fundamental, possui as seguintes características: a) Possui sua origem no centro de massa (CM) da Terra, incluindo a hidrosfera e a atmosfera; b) É fixo à Terra, isto é, gira com ela; c) Eixo Z aponta para o polo Norte terrestre convencional médio (sentido positivo); d) O plano equatorial contém os eixos X e Y e é perpendicular ao eixo Z; e) O plano XZ é gerado pelo meridiano convencional médio de Greenwich; f) O eixo Y completa o sistema destrogiro; 23 2.7.2 Sistema de coordenadas curvilíneas – caso esférico Outra forma de se posicionar um ponto P qualquer no espaço tridimensional é por meio de coordenadas curvilíneas. Supõe-se que, ao sistema de coordenadas cartesianas, seja sobreposto o sistema de coordenadas esféricas. Neste sistema, as coordenadas do ponto P são dadas pelo afastamento r entre a origem do sistema e o ponto P, pelo ângulo β formado entre o segmento r e a projeção ortogonal deste segmento sobre o plano xy, e pelo ângulo α que a projeção do segmento r sobre o plano xy forma com o semieixo X. Assim, o ponto P, determinado pelo terno cartesiano (x,y,z), pode ser expresso também pelas coordenadas esféricas (r,α,β), ou seja, P(r,α,β) ou P=(r,α,β), de forma que a relação entre os dois sistemas é obtida pelo vetor posicional β βα. βα. r z y x sin cossin coscos 30 Figura 13 – Sistema de coordenadas curvilíneas – caso esférico 2.7.3 Sistema de coordenadas curvilíneas – caso elipsóidico Supõe-se agora que, ao sistema de coordenadas cartesianas, seja sobreposto o sistema de coordenadas elipsóidicas. Quando é utilizado o elipsóide como superfície de referência, a determinação das coordenadas de um ponto P qualquer de sua superfície acontece de forma semelhante ao sistema de coordenadas cartesianas e ao sistema de coordenadas esféricas. A definição dos eixos coordenados é a mesma, contudo a origem do sistema cartesiano OXYZ é o centro do elipsóide de semieixo maior a e semieixo menor b que pode ser reescrita com os elementos que descrevem o posicionamento geodésico de um ponto P qualquer na superfície terrestre com suas coordenadas elipsóidicas definidas por (Figura 14): a) Latitude elipsóidica (φ): ângulo que a normal2 forma com sua projeção no plano do equador, sendo positiva para o Norte e negativa para o Sul; e 2 Normal: é a reta ortogonal à superfícieelipsóidica que passa pelo ponto em questão. 24 b) Longitude elipsóidica (λ): ângulo diedro formado entre o meridiano de Greenwich e o meridiano do lugar, sendo positivo para Leste e negativo para Oeste, tomada como origem o meridiano de Greenwich. Figura 14 – Sistema de coordenadas curvilíneas – caso elipsóidico Figura 15 – Sistema de coordenadas geodésicas cartesianas e curvilíneas 25 Este sistema de coordenadas é denominado sistema de coordenadas geodésicas cartesianas e curvilíneas (Figura 15) pois é utilizado para a representação geométrica da Terra, onde: - P’: ponto de interceptação da normal de P; - φ: latitude geodésica ou elipsóidica. É o ângulo formado entre a normal de P e sua projeção no plano do equador. Seus intervalos são: 0 < φ ≤ 90º no hemisfério norte; -90 < φ ≤ 0º no hemisfério sul; e φ = 0º no equador. - λ: longitude geodésica. É o ângulo formado entre o plano meridiano médio de Greenwich e o plano meridiano do ponto P que contém a normal de P, convencionada positiva para Leste. Seus intervalos são: 0 < λ ≤ 180º a leste de Greenwich; -180 ≤ λ < 0º a oeste de Greenwich; e λ = 0º em Greenwich. - h (segmento PP’): altitude geométrica ou elipsóidica do ponto P. É medida ao longo da normal entre a superfície do elipsóide e a superfície topográfica. - Segmento P’Q: pequena normal (N’); - Segmento P’O’: grande normal (N). Assim, o ponto P localizado na superfície física é caracterizado univocamente no sistema de coordenadas geodésicas cartesianas pelas suas coordenadas cartesianas (x,y,z), ou seja, P(x,y,z), e no sistema de coordenadas geodésicas curvilíneas (φ,λ,h), pelas suas coordenadas elipsóidicas, ou seja, P(φ,λ,h), de forma que a relação entre os dois sistemas é obtida pelas equações cosλcos)hN(x 31 sinλcos)hN(y 32 sin)h'N(z 33 , onde N’ é calculado a partir da equação 23). 2.7.4 Transformação de coordenadas geodésicas Uma transformação de coordenadas geodésicas é necessária quando se exige: a) Expressar as coordenadas de um ponto em um sistema de referência diferente do que foi utilizado originalmente para sua obtenção; b) Alterar a natureza das coordenadas. No Brasil, é relevante o fato de que o sistema de referência oficial está em transição. O SAD-69 (South American Datum 1969) é diferente do sistema utilizado pelo NAVSTAR-GPS, o WGS-84 (World Geodetic System 1984). Aquele é um sistema de referência local pois atende uma região específica do globo terrestre, enquanto este é geocêntrico, além das características geométricas do elipsóide empregado em cada sistema. O sistema de referência oficial vigente no Brasil desde 2010 é o SIRGAS 2000, geocêntrico e compatível com o WGS-84 para finalidades práticas. Entretanto, ainda coexistem com o sistema oficial outros sistemas mais antigos que compartilham a necessidade de transformação. Uma transformação de coordenadas entre sistemas de referência pode ser conduzida conforme a posição e a dimensão relativas dos conjuntos dos eixos cartesianos, de forma que serão necessárias: a) Apenas translações dos eixos cartesianos; b) Translações e escalonamento dos eixos cartesianos; c) Translações, escalonamento e rotações dos eixos cartesianos; 26 O objetivo é aproximar o sistema de referência original ao sistema de referência de destino. Nos casos mais usuais da Geodésia, são necessárias apenas translações dos eixos cartesianos, dado o paralelismo dos eixos cartesianos dos sistemas de referência normalmente empregados. Na prática, a transformação de coordenadas geodésicas pode ser identificada conforme quatro necessidades: 1º caso: transformação de coordenadas cartesianas entre sistemas de referência O que ocorre é a translação dos eixos cartesianos por meio da adição de parâmetros de transformação fornecidos pelo órgão oficial, o IBGE. Δz Δy Δx z y x z y x 12 34 Os parâmetros de transformação entre SAD69 e SIRGAS2000 encontram-se na resolução R.PR 1∕2005 (de 25∕02∕2005, folha 7∕7) publicada pelo IBGE: SAD69 para SIRGAS2000 a1=6.378.160 m ∆X= –67,35 m f1=1 ∕ 298,25 ∆Y= +3,88 m a2=6.378.137 m ∆Z= –38,22 m f2=1 ∕ 298,257222101 SIRGAS2000 para SAD69 a1=6.378.137 m ∆X= +67,35 m f1=1 ∕ 298,257222101 ∆Y= –3,88 m a2=6.378.160 m ∆Z= +38,22 m f2=1 ∕ 298,25 Onde: a1, f1 = parâmetros geométricos do elipsóide do sistema de origem; a2, f2 = parâmetros geométricos do elipsóide do sistema de destino; (∆X, ∆Y, ∆Z) = parâmetros de transformação entre os sistemas. ►As coordenadas geodésicas cartesianas do marco M031 no referencial SAD-69 são X=3.280.714,480m; Y=–4.468.862,882m; e Z=–3.143.523,715m. Transformá-las em SIRGAS2000. 2º caso: transformação de coordenadas elipsóidicas entre sistemas de referência Podem ser empregadas as equações simplificadas de Molodenskii: π 180 ΔzcossinλΔysincosλΔxsensen2ΔafΔfa M 1 Δ 11111111 1 35 π 180 ΔycosλΔxsinλ cosN 1 Δλ 11 11 36 111111 2 11 ΔzsinsinλΔycoscosλΔxcosΔasinΔafΔfaΔN 37 27 Onde: Δa : diferença entre semieixos maior ( 12 aa ); f : diferença entre achatamentos ( 12 ff ); Δx : diferença entre coordenadas x; Parâmetros de translação: Δy : diferença entre coordenadas y; Δz : diferença entre coordenadas z; 1a : semieixo maior do elipsóide no sistema de referência S1; 1f : achatamento do elipsóide no sistema de referência S1; 1 : latitude geodésica no sistema de referência S1; 1λ : longitude geodésica no sistema de referência S1; 2 : latitude geodésica no sistema de referência S2; 2λ : longitude geodésica no sistema de referência S2; ΔN : diferença de ondulação geoidal. A latitude e a longitude do ponto 2 são dadas pelas equações 38 e 39, respectivamente: Δ12 38 Δλλλ 12 39 ►As coordenadas geodésicas elipsóidicas do marco M031 no referencial SAD-69 são φ=29º43’09,31843 S”; λ=53º42’59,72120 W”; h=97,041m. Obtenha as coordenadas em SIRGAS- 2000. 3º caso: transformação de coordenadas cartesianas em coordenadas elipsóidicas São usadas as fórmulas de Grafarend para o cálculo da longitude λ e a fórmula de Bowring para o cálculo da latitude φ: , x y arctansgn(x)sgn(y) 2 1 sgn(y) 2 1 1180λ 360λ0|Rλ 40 , ucosaeyx usinf)-a(1e'z arctan 3222 32 9090|R 41 onde: b a yx z tanu 22 42 28 . N a sinzcosyxh 2 22 , 0h|Rh 43 ►As coordenadas geodésicas cartesianas do marco M031 no referencial SIRGAS-2000 são X=3.280.674,231m; Y=–4.468.895,919m; e Z=–3.143.481,711m. Obtenha as coordenadas elipsóidicas. 4º Caso: transformação de coordenadas elipsóidicas em coordenadas cartesianas Podem ser usadas as fórmulas deduzidas da geometria do sistema de coordenada curvilíneas e cartesianas – equações 31, 32 e 33. ►As coordenadas geodésicas elipsóidicas do marco M031 no referencial SIRGAS-2000 são φ=29º43’11,07185 S”; λ=53º43’01,65573 W”; e h=101,513m. Obtenha as coordenadas retangulares. 2.8 Transporte de Coordenadas No contexto daGeodésia e da Topografia, posicionamento refere-se à determinação da localização em relação a um referencial. Em outras palavras, conhecer a posição de um ponto significa conhecer suas coordenadas relativamente ao referencial. Geralmente um dos principais objetivos de um levantamento Geodésico ou topográfico é realizar o posicionamento do(s) ponto(s) levantados. O transporte de coordenadas consiste em determinar a posição (coordenadas em relação a um referencial) de um ponto, por meio de cálculo, a partir da posição conhecida de outro ponto e da relação geométrica existente entre esses dois. De forma geral, a relação geométrica necessária de ser conhecida é a menor distância entre os dois pontos sobre a superfície de referência considerada, e a orientação geográfica (azimute) do alinhamento por eles formado. Na prática, essas grandezas geométricas são obtidas por meio de levantamento em campo. Quando a superfície de referência (modelo de Terra) for o plano topográfico, o transporte será caracterizado por transporte topográfico de coordenadas, em que são aplicados conhecimentos básicos da geometria no plano. E quando a superfície de referência for curvilínea (a esfera ou o elipsóide), o transporte será caracterizado por transporte geodésico de coordenadas, em que são aplicadas equações (e.g. fórmulas de Puissant, fórmulas de Sodano), geradas com auxílio da geometria diferencial, que modelam o transporte na superfície curvilínea. O transporte topográfico conduzirá às coordenadas cartesianas topocêntricas locais do ponto transportado, e o transporte geodésico conduzirá às coordenadas georreferenciadas do ponto. 2.8.1 Transporte de coordenadas no plano Fundamentalmente, a obtenção de coordenadas retangulares no plano cartesiano exige o conhecimento dos dados angulares e lineares medidos em campo. O cálculo analítico das coordenadas consiste em locar os pontos principais do polígono levantado pelas suas coordenadas referidas a um sistema de eixos coordenados retangulares. Neste sistema, o eixo dos y é dado pela direção da linha meridiana magnética ou verdadeira, conforme a referência dos rumos (seção 4.3.3), e tem o nome de meridiana principal ou de referência. O eixo dos x denomina- 29 se paralelo principal e se estende na direção Leste-Oeste. A ordenada de um ponto é a distância desse ponto ao paralelo principal e pode ser orientada para Norte ou Sul, enquanto a abscissa de um ponto é a distância desse ponto ao meridiano principal. A projeção algébrica obtida pela diferença algébrica entre a ordenada do fim e a ordenada da origem de uma linha será a projeção desta linha sobre o meridiano principal (denominada y) e do mesmo modo a projeção de uma linha sobre o paralelo principal, mas entre as abscissas do fim e da origem dessa linha (denominada x). Observa-se que qualquer linha como P1P2, por exemplo, é a hipotenusa de um triângulo retângulo cujos catetos são as projeções sobre o meridiano ou paralelo dessa linha. A projeção sobre a meridiana é positiva quando a linha se orienta para o norte e é negativa quando alinha se orienta para o sul. Figura 16 – Transporte de coordenadas no plano Assim, estas duas expressões permitem avaliar as projeções quando são conhecidos o comprimento e a orientação do alinhamento: ).sen(AzdΔx d Δx )sen(Az 2121 21 21 44 ).cos(AzdΔy d Δy )cos(Az 2121 21 21 45 O transporte de coordenadas cartesianas no plano topográfico como a determinação das coordenadas de um ponto P2(x2;y2) a partir de um ponto conhecido P1 é dado por: ).sen(AzdxxΔxxx 21211212 46 ).cos(Azdyyyyy 21211212 47 ►São dadas: coordenadas cartesianas do ponto C=(118,351;4.022,132)m; coordenadas polares do deslocamento de C ao ponto 8: 8Cd = 1.000,289 e 8CAz =315º59’00,8”. Calcule as coordenadas x e y do ponto 8. Elabore um croqui. 30 2.8.2 Transporte de Coordenadas no Elipsóide Transportar coordenadas significa “determinar valores de pontos na superfície da Terra em função de uma origem”. Para o transporte de coordenadas utilizam-se dois processos denominados: 1) Problema Geodésico Direto (PGD) ou Primeiro Problema Principal Geodésico; e 2) Problema Geodésia Inverso (PGI) ou Segundo Problema Principal Geodésico. Problema Geodésico Direto (PGD) O PGD consiste do transporte de coordenadas no elipsóide de revolução quando se conhece as coordenadas geodésicas de um ponto P1 do elipsóide (φ1, λ1), a distância s e azimute geodésico Ag para um segundo ponto P2, e o objetivo é calcular as coordenadas do segundo ponto. Figura 17 – Problema Geodésico Direto São realizadas transformações de coordenadas geodésicas em: - diferença de latitude geodésica ∆φ; - diferença de longitude geodésica ∆λ; e - diferença de azimute ∆Ag. Δ12 48 Δλλλ 12 49 ΔAgAgAg 1221 50 Os problemas geodésicos direto e inverso são resolvidos com o emprego das fórmulas de Puissant. São adequadas para linhas de até 80 km e oferecem precisão de 1ppm (1mm/km). As equações seguintes consideram dois pontos denominados 1 e 2. 31 a) Transporte da latitude 2 2 22 2 f2f a ba e 51 3/2 1 22 2 1 sene1 e1a M 52 1/2 1 22 1 sene1 a N 53 sen1"M 1 B 1 54 sen1"NM2 tg C 11 1 55 1 22 11 2 sene12 sen1"sencos3e D 56 2 1 1 2 N6 tg31 E 57 sen1"M cosAS h 1 g1212 58 g12 22 12g12 22 12g1212 AsenSEhAsenSCcosASB"δ 59 2 121212 "δD"δ"Δ 60 1212 Δ 61 32 b) Transporte da longitude 1/2 2 22 2 sene1 a N 62 22 1212 12 cosN senAS T 63 6 T N6 S 1 sen1" T "Δλ 2 12 2 2 2 1212 12 64 1212 Δλλλ 65 c) Transporte do azimute: 2 21 m 66 1"sencossen 12 1 F 2m 2 m 67 3 1212m1212 "ΔλFΔ2 1 secsen"Δλ"γ 68 180ºγAA g12g21 69 São conhecidos: - 1 e 1 (latitude e longitude elipsóidicas do ponto 1); - Ag12 (azimute geodésico no sentido do ponto 1 ao ponto 2); e - S12 (distância geodésica entre os dois pontos). Devem ser calculados: - 2 e 2 (latitude e longitude elipsóidicas do ponto 2); e - Ag21 (azimute geodésico no sentido do ponto 2 ao ponto 1). 33 Problema Geodésia Inverso (PGI) No PGI, são conhecidas as coordenadas geodésicas de dois pontos P1(φ1,λ1) e P2(φ2,λ2) do elipsóide e o objetivo é calcular a distância geodésica s entre os pontos. Figura 18 – Problema Geodésico Inverso 1/2 m 22 m sene1 a N 70 2/3 m 22 2 m )sene(1 )e-a(1 M 71 sen1"M 1 B m m 72 2 γ AsenSsen1"NcosΔλ"x 12g12mm 73 2 γ AcosS B )cos(0,5Δ y 12g12 m 12 74 Azimute geodésico : y x 2 γ Atan 12g 75 , 2y x arctanysgnxsgn 2 1 xsgn 2 1 1180A 12g γ 76 34 em que o valor da primeira parcela efetua a determinação da solução final no quadrante correto; 2 Acos y 2 Asen x S 12g12g 12 γγ 77 São conhecidas: - 1 e 1 (latitude e longitude elipsóidicas do ponto 1); e - 2 e 2 (latitude e longitude elipsóidicas do ponto 2). Devem ser calculados: - Ag12 (azimute geodésico no sentido do ponto 1 ao ponto 2); e - S12 (distância geodésica entre os dois pontos). Apresenta-se na Figura 19 a caracterização mais completa e detalhada do transporte de coordenadas geodésicas na superfície do elipsóide de referência. Prática de campo 1: transporte de coordenadas no elipsóide Determinação das coordenadas geodésicas de um ponto no referencial SIRGAS2000 por transporte de coordenadas no elipsóide. Emprego de planilha eletrônica (arquivo: PGD_PGI_Eno_rev2010.xls) ou programa GNU Octave (arquivo: transport.m). Figura 19 – Transporte de coordenadas geográficas geodésicas na superfície do elipsóide de referência 35 2.9 Geodésia por Satélites Artificiais Desde a antiguidade o homem precisou se orientar e conhecer seus percursos a fim de ocupar e explorar o espaço geográfico. Isso explica a necessidade de encontrar referências no terreno ou em seu horizonte visível. Os viajantes marcavam seus caminhos com pedras ou referências que se ocultavam ou desapareciam com a neve ou chuvas intensas. Na exploração por oceanos não havia possibilidade de se introduzir registros em alto mar, ou seja, estabelecer marcações físicas. As únicas referências eram as estrelas, visíveis somente em noites claras e com medições cuidadosas e mesmo assim pouco precisas. Na idade média, instrumentos astronômicos tal como o astrolábio serviu para a determinação da altura dos astros acima do horizonte, e com base na localização dos astros no céu era realizada a navegação marítima. Mais tarde o astrolábio foi simplificado e substituído pelo sextante, instrumento astronômico usado para se determinar latitudes e que podia ser utilizado também na medição de ângulos horizontais entre objetos visíveis para o cálculo de posições. O astrolábio teve seu declínio na segunda metade do século XVII mas sua produção continuou até o século XIX, particularmente no mundo árabe. A invenção do relógio de pêndulos e outros instrumentos científicos mais acurados, como os telescópios, representou grande avanço nas técnicas de posicionamento e navegação. Mas foi o desenvolvimento da eletrônica que possibilitou a concepção dos atuais sistemas de posicionamento baseados em sinais de rádio emitidos da superfície terrestre ou de satélites artificiais em órbita. Os satélites possibilitam a localização espacial por meio de coordenadas geodésicas associadas a um instante de tempo. Ou seja, por si só eles não realizam outra tarefa senão gerar dados de posição e tempo. Esta informação é entregue a outras aplicações que geralmente requerem outros elementos de processamento e controle, e que, apesar de associados ou mesmo integrados aos sistemas satelitais, são alheios à função fundamental do sistema de posicionamento. O posicionamento por satélites está presentes em praticamente todas as atividades que requerem localização geográfica. O conjunto de sistemas de posicionamento por satélites é denominado GNSS (ingl. Global Navigation Satellite Systems) do qual o NAVSTAR-GPS e o GLONASS são os principais sistemas em operação ao lado de outros sistemas que estão em desenvolvimento, como o Galileo e o Beidou. 2.9.1 NAVSTAR-GPS O NAVSTAR-GPS (ingl. NAVigation System with Time And Ranging Global Positioning System) é um sistema de radionavegação baseado em satélites artificiais que provê informações de posicionamento tridimensional, navegação e tempo aos usuários dos chamados simplesmente por receptores GPS. Foi desenvolvido a partir de 1973 pelo Departamento de Defesa dos EUA para constituir o principal sistema de navegação militar norte-americano. Baseia-se em uma constelação de 24 satélites distribuídos em seis planos orbitais com cerca de 20.200 km de altitude cuja configuração final foi completada em 1995. As órbitas estão arranjadas de modo que em qualquer ponto da superfície da Terra e em qualquer instante sejam visíveis no mínimo 4 satélites acima do horizonte o que possibilita a determinação de posições tridimensionais sob qualquer condição meteorológica. O NAVSTAR-GPS revolucionou as técnicas de comunicação e posicionamento. Graças à tecnologia dos circuitos integrados foi possível a construção de receptores cada vez mais compactos, destinados a diversas aplicações e em diferentes níveis de precisão. A partir da função básica de posicionamento surgiram outras aplicações em diversos segmentos das engenharias como o mapeamento sistemático, a agricultura de precisão, as pesquisas científicas envolvendo determinação de referenciais, o monitoramento de estruturas, o estudo das placas tectônicas e outras aplicações que ainda não foram descobertas. 36 Figura 20 – Ilustração da constelação NAVSTAR-GPS Apesar da alta tecnologia empregada, o princípio fundamental do posicionamento pelo GNSS é baseado na medição do raio de ação dos satélites, ou seja, da distância entre a antena do usuário e as antenas de um grupo de satélites. Devido à influência de erros, estas distâncias são denominadas pseudodistâncias e podem ser estimadas por meio da equação t S c 78 As frentes das ondas eletromagnéticas emitidas por cada satélite se propagam no espaço de forma semelhante às ondas formadas por uma pedra atirada na superfície de um lago (entretanto, ondas eletromagnéticas se propagam tridimensionalmente). Assumindo que em um determinado instante a posição dos satélites nas órbitas sejam conhecidas, e que estas coordenadas tridimensionais definem cada qual o centro de uma esfera cujo raio é a distância até o receptor. A posição do receptor será dada pela intersecção de três esferas (frentes de onda) no espaço, que define um único ponto na superfície terrestre exatamente onde o usuário está com o receptor (Figura 21). Para o cálculo da distância receptor-satélite em um determinado momento, o sistema utiliza a determinação do tempo que leva o sinal emitido pelo satélite para sensibilizar a antena do receptor posicionado na superfície terrestre. No exato instante em que o sinal foi gerado no satélite uma cópia deste código também é gerada no receptor (Figura 22). Ao receber o sinal do satélite, o receptor compara este sinal com a réplica gerada internamente e por meio de correlação do código obtém-se a defasagem entre os sinais, que corresponde ao tempo de propagação do sinal. Considerando a velocidade das ondas eletromagnéticas de aproximadamente 300.000 km/s, compreende-se a necessidade de os intervalos de tempo serem medidos com extrema precisão a fim de que a distância seja calculada com erro de pequena magnitude. E pelo fato de haver erros na medida da distância devido às imprecisões – principalmente dos relógios – a distância receptor-satélite calculada não corresponde à distância geométrica verdadeira e por isso ela é denominada pseudodistância. Os códigos pseudorandômicos utilizados pelo NAVSTAR-GPS são uma genial invenção da engenharia de telecomunicações. Trata-se de um conjunto complexo de códigos digitais e aparentam ser um sinal de ruído, por isso denominados PRN (ingl. Pseudo-Random Noise), que se repetem mil vezes por segundo. Com eles é possível captar sinais extremamente fracos para comunicação de dados de modo inequívoco o que torna o sistema robusto e prático pois não exige receptor equipado
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