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Língua Brasileira de Sinais - Libras - Unidade 2

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Caro(a) aluno(a), vamos conhecer agora um 
pouco sobre o percurso histórico da educação 
dos surdos.
Os surdos, ao longo da nossa história, foram 
considerados deficientes e, assim como estes, fi-
caram “escondidos” da sociedade. Este trabalho 
irá trazer alguns fatos que subsidiarão o conheci-
UM POUCO DA HISTÓRIA DOS SURDOS2
mento do ponto de vista histórico dos movimen-
tos dos surdos e dos intérpretes da Libras no Bra-
sil e seu reconhecimento no país. 
Há pessoas surdas em todas as partes do 
Brasil, porém muitos surdos são invisíveis à socie-
dade.
A língua que conhecemos hoje como Libras 
não é a língua de sinais como sua forma mais an-
tiga. Como muitas das línguas faladas, a língua de 
sinais, em sua forma mais antiga, não foi preserva-
da. Por meio de pesquisas, foi possível estabelecer 
algumas circunstâncias entre as quais a educa-
ção e a instrução formal de uma língua sinalizada 
aconteceu. 
Como vimos anteriormente, apesar da es-
cassez de informações sobre as línguas antigas, 
acreditar que pessoas surdas não possuíam uma 
língua sinalizada para sua comunicação, seria um 
equivocado. 
Saiba maisSaiba mais
“Em décadas passadas, existiam famílias ouvintes que ‘escondiam’ os filhos surdos pela ‘vergonha’ de terem concebido uma 
criança fora dos padrões considerados normais; e por isso os surdos quase não saíam de casa ou sempre ficavam acompa-
nhados dos pais. A comunicação dos pais com os filhos surdos era muito complexa, pois esses não sabiam a Língua de Sinais 
e também não a aceitavam; achavam que era ‘feio’ fazer ‘gesto’ ou ‘mímica’ (não Língua de Sinais) como forma de comunicação 
com sua criança e, consequentemente, não aceitavam a língua de sinais como a primeira língua dos surdos. Os filhos surdos, 
por sua vez, sentiam-se ‘isolados’ e sem comunicação alguma. Desse modo, muitas vezes criavam ‘complexos’ e/ou ficavam 
‘nervosos’. Por muitos anos, os próprios surdos não compreenderam a importância da comunicação através da Língua de 
Sinais para o processo de construção de sua Identidade Cultural, bem como para o desenvolvimento de sua cognição e 
linguagem. Consequentemente, o bloqueio no desenvolvimento da Língua de Sinais causou problemas sociais, emocionais 
e intelectuais na aquisição da linguagem nos surdos.
Além disso, esses indivíduos também não conseguiam alcançar suas metas e seus objetivos devido ao preconceito e à mar-
ginalização existentes, na sociedade, em relação à Língua de Sinais e à construção da Identidade e Cultura Surda Brasileira. A 
sociedade ignorava as comunidades surdas brasileiras, que eram ‘isoladas’ e ‘discriminadas’.
Ultimamente, observa-se um processo de mudança significativa do olhar da sociedade em relação à questão do surdo, sua 
língua e cultura. Entretanto, esse é ainda um processo muito lento dentro das políticas educacionais da sociedade brasileira. 
Até poucos anos atrás, a Língua de Sinais Brasileira era ainda vista como ‘tabu’, pois não havia sido atribuída a língua de sinais 
o status de língua. Essa era apenas considerada como ‘Linguagem’ e não ‘Língua’.” (MONTEIRO, 2006, p. 279).
Na história da nossa civilização e cultura, os 
surdos e sua comunicação aparecem pela primei-
ra vez no registro de dois grandes filósofos, Platão 
e Aristóteles. Infelizmente, o pensamento de Aris-
tóteles (século IV a.C.) reflete-se até hoje no modo 
como algumas pessoas encaram o surdo.
A audição contribui para a maior parte 
do pensamento, porque a linguagem é a 
causa da instrução. Compõe-se, com efei-
to, (a linguagem) de palavras e cada uma 
das palavras é um signo. É por isso, que 
entre os homens privados congenita-
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mente de um sentido, os cegos-natos são 
mais inteligentes que os surdos-mudos. 
(COUTINHO, 2008, p. 31).
Como você pode perceber, a partir desse 
pensamento, podemos entender que os gregos 
defendiam que a fala era de origem divina e que, 
para as pessoas surdas, deveria ser negada a ins-
trução, pois não falavam, portanto não eram con-
sideradas pessoas dignas. 
Em outro momento histórico, têm-se as leis 
romanas e feudais que refletem a ideia de que o 
surdo deveria ser excluído da sociedade e que não 
possuía direitos: “ao surdo não era permitido o 
acesso a herança e aos privilégios feudais.” (COUTI-
NHO, 2008, p. 32). Nos casos mais comuns, viviam 
como camponeses ou eram tolerados como “idio-
tas ou débeis”.
Apesar da aparente exclusão dos surdos e 
da sua impossibilidade de participar ativamen-
te da vida comunitária, existem alguns registros 
de que, em algumas comunidades religiosas, os 
surdos eram recolhidos e esses religiosos se be-
neficiavam dos conhecimentos da comunicação 
gestual. São Jerônimo (final do século IV) obser-
va que havia surdos que aprendiam o evangelho 
por meio de gestos. Já Santo Agostinho aponta 
que conhecia uma família surda muito respeita-
da da burguesia milanesa, “cujos gestos formam 
palavras de uma língua e escreve que sua alma 
poderia ser enriquecida por meio dos gestos que 
produzem.” (COUTINHO, 2008, p. 32).
No século XVI, surgem as primeiras tentati-
vas de “educar” os surdos. Os primeiros educado-
res de pessoas surdas; Pedro Ponce de Leon, Juan 
Pablo Bonet, entre outros, não reconheceram ex-
plicitamente a comunicação por sinais como uma 
possibilidade linguística, mas defendiam a ideia 
de que, utilizando os seus “gestos naturais”, po-
deriam ensinar nossa própria língua (oral). Além 
disso, Juan Pablo Bonet afirma que as crianças 
“surdas e mudas” não são mudas em termos de 
pensamento, mas sim surdas, logo “são capazes 
de aprender qualquer língua ou ciência”. Já Mon-
taigne (século XVI) defende a seguinte ideia: 
Os nossos mudos disputam, argumen-
tam e contam histórias por gestos. Eu 
próprio os vi de tão flexíveis e formados 
sobre aquilo que a verdade se refere que 
não lhes falta nada para a perfeição de se 
saberem fazer entender [...] necessitam 
para se exprimir do alfabeto dos dedos e 
de uma gramática de gestos. (COUTINHO, 
2008, p. 34).
 
Até o presente momento do texto, pude-
mos observar que a sociedade renegou os sur-
dos, porém vimos que as experiências educa-
cionais promoveram uma modificação no modo 
de a sociedade encarar o surdo; concluiu-se que 
os surdos são pessoas inteligentes que podem 
aprender uma linguagem para exprimir seu pen-
samento.
Sendo assim, os professores passam a uti-
lizar os gestos para ensinar seus alunos surdos, 
mas apenas como um modo de eles aprende-
rem a língua oral e se expressarem através dela. 
Apesar do sucesso do trabalho de Ponce de Leon, 
entre outros, no século XVII e XVIII o conceito de 
homem educado é aquele que fala bem. Logo, se 
não há palavra, não há pensamento. 
Como estamos falando do percurso da edu-
cação e do reconhecimento dos surdos na socie-
dade, podemos apontar uma grande mudança 
na educação dos surdos que acontece em 1755, 
com o Abade L’Epée, que, apesar de não adotar 
na íntegra a língua gestual da comunidade surda 
parisiense, utiliza-a para criar uma língua supos-
tamente universal e estruturada de acordo com a 
sintaxe da língua francesa (o que hoje é chamado 
francês sinalizado). Ele juntou sinais dos surdos 
franceses e outros inventados por ele mesmo para 
demonstrar as inflexões, os artigos e outras carac-
terísticas do francês. O que muda, basicamente, é 
a importância da língua gestual, que passa a ser 
utilizada como meio de ensino. Em 1776, publica 
sua metodologia de ensino com seus “sinais me-
tódicos”.
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O que se pode observar, é que em pouco 
tempo, passa a existir na França uma escola de 
surdos em cada cidade e mais, graças ao reconhe-
cimento implícito da comunicação gestual, apare-
ce a figura do professorsurdo para ensinar alunos 
surdos. Os primeiros professores surdos foram 
ex-alunos de L’Epée, os quais tiveram destaque 
tanto como professores quanto em outras áreas 
de atuação. É importante esclarecer um aspecto 
em relação à metodologia de ensino utilizada por 
L’Epée, o abade criou seus sinais metódicos, que 
se referiam à utilização dos sinais aprendidos com 
os surdos de Paris, porém acreditava que essa lin-
guagem era desprovida de gramática, portanto 
precisando da gramática francesa para que tives-
se sentido. 
O principal sucessor de L’Epée foi o Abade 
Sicard, que teve outros sucessores, como os Aba-
des Clerc, Messieu e Bébian. Bébian percebeu 
que a linguagem de sinais natural era autônoma 
e completa, e modificou a metodologia de ensi-
no, passando a utilizar o bilinguismo, ou seja, a 
língua natural de sinais e o ensino da língua fran-
cesa escrita, cada uma com gramática e estrutura 
próprias. 
Ferdinand Berthier, aluno da escola de sur-
dos, teve a oportunidade de desenvolver sua 
escolaridade no ensino bilíngue. Ele é considera-
do um dos “sucessos” da educação tendo como 
metodologia de ensino o bilinguismo. Tornou-se 
professor, escritor e um dos mentores da primeira 
associação de surdos de Paris. 
O abade, por meio da educação ministrada, “[...] 
conduziu pela primeira vez na história da cultu-
ra ocidental, o acesso de muitos dos seus alunos 
surdos à cidadania. [...] os surdos já não eram edu-
cáveis pela palavra, pela oralidade: eram, reco-
nhecidamente, cidadãos como todos os outros; 
e, pela lei promulgada em 1791 pela Assembléia 
Francesa, reconhecia-se os surdos o direito de 
beneficiarem-se plenamente dos direitos dos ho-
mens.” (COUTINHO, 2008, p. 37).
CuriosidadeCuriosidade
Diversos fatores foram compondo e conso-
lidando o ensino de surdos através do bilinguis-
mo. 
Continuando a história, houve um fato im-
portante em 1816: Thomas Hopkins Gallaudet 
chega a Paris e encontra-se com Clerc, Massieu 
e Sicard. Gallaudet estava à procura de uma me-
todologia adequada de ensino de surdos nos Es-
tados Unidos, que permitisse fazer com que os 
surdos tivessem real acesso à palavra de Deus. Os 
franceses o convencem de que esta é a melhor 
metodologia de ensino, o bilinguismo, e assim, 
em 1817, Laurent Clerc vai aos Estados Unidos 
com Gallaudet e funda em Hartford uma escola 
para “surdos e mudos”, o American Asylum for the 
Education and Instruction of the Deaf and Dumb.
Como pudemos verificar, a educação dos 
surdos teve grande desenvolvimento ao longo 
dos anos, porém um fato irá modificar todo esse 
percurso. Em 1880, acontece o Congresso de Mi-
lão, marco histórico na educação dos surdos. Nes-
se congresso, a educação de surdos passa a ado-
Saiba maisSaiba mais
“Em 1779, um encadernador de livros surdo de Paris, 
Pierre Desloges, escreveu um livro ‘Observações de 
um surdo-mudo, parisiense’. Desloges sentiu-se com-
pelido a escrever o livro, ele disse, depois de ouvir as 
declarações de um certo abade Deschamps, afirman-
do que as línguas de sinais não poderiam ser consi-
deradas línguas e que, portanto, não teriam utilidade 
na educação das crianças surdas. Frente a essa decla-
ração, Desloges pensou ser seu dever falar em favor 
da língua sinalizada natural dos surdos franceses... Essa 
língua era passada de uma pessoa surda para outra, 
do mesmo modo que línguas que não sejam popu-
larmente aceitas em instituições educacionais são 
também transmitidas para as gerações mais novas 
falantes. Ao descrever um jovem surdo típico da Fran-
ça no século XVIII, Desloges escreveu o seguinte: Ele 
encontra surdos-mudos com mais conhecimento do 
que ele aprende a combinar e aperfeiçoar seus sinais... 
Ele rapidamente adquire, nas interações com seus 
companheiros, a tão difícil – assim eles dizem! – arte 
de expressar e pintar seus próprios pensamentos, até 
os mais abstratos, através de sinais naturais, como se 
ele soubesse todas as regras da gramática, tamanha a 
ordem e precisão...” (MOODY, 1987 apud SACKS, 1990, 
p. 301). 
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tar como metodologia de trabalho o oralismo. 
Esse método considera a fala, ou a oralização, o 
único meio de comunicação e de educação para 
os surdos. 
A modificação histórica que acabamos de 
verificar reflete as consequências devastadoras 
que o Congresso de Milão trouxe. Vários autores, 
entre eles Coutinho (2008), apontam que o que 
aconteceu no ensino de surdos foi “um autêntico 
desastre educacional [que] resultou do uso da lin-
guagem oral, falada ou escrita, para instruir crian-
ças surdas.” Desde então, foram excluídas todas 
as possibilidades de uso das línguas de sinais na 
educação desses sujeitos. Atualmente, os surdos 
educados por esse método falam dos horrores e 
das perseguições que sofreram ao usarem a lín-
gua de sinais. 
Depois de quase um século de trabalho ora-
lista, na década de 1960, nos Estados Unidos, ini-
cia-se a implementação de uma nova filosofia de 
ensino chamada Comunicação Total e, nos anos 
1980, há um retorno ao bilinguismo como me-
lhor forma de ensino para pessoas surdas. O Brasil 
seguiu com alguns anos de atraso essas mesmas 
tendências e, hoje, procura o caminho do bilin-
guismo.
Saiba maisSaiba mais
A mudança na vida dos surdos! O Congresso de 
Milão
“O debate sobre a melhor forma de educar os surdos, 
se através da fala ou dos sinais, foi ganhando novos 
adeptos e culminou com a vitória do método oral, 
em 1880, no Congresso de Milão. Como conclusão do 
Congresso, decidiu-se que:
1- Dada a superioridade incontestável da fala sobre os 
sinais para reintegrar os surdos-mudos na vida social 
e para dar-lhes maior facilidade de linguagem, o con-
gresso declara que o método de articulação deve ter 
preferência sobre o de sinais na instrução e educação 
dos surdos-mudos.
2- O método oral puro deve ser preferido, porque o 
uso simultâneo de sinais e fala tem a desvantagem 
de prejudicar a fala, a leitura oro-facial e a precisão de 
idéias.” (LANE, 1989 apud SACKS, 1990, p. 394).
E no Brasil? 
Um pouco da História da Educação dos Surdos 
no Brasil
Como você pôde observar, a história dos 
surdos no mundo não foi simples! Como será que 
se deu então a educação dos surdos aqui n Brasil? 
Bem, podemos iniciar nossa história em 
1856, que foi quando chegou ao Brasil o professor 
Eduard Huet, surdo francês que trouxe o alfabe-
to manual francês e alguns sinais para o Brasil. Os 
surdos brasileiros, que já utilizavam um sistema 
de sinais próprio, em contato com a Língua de 
Sinais Francesa (LSF), produziram a Língua de 
Sinais Brasileira. No ano seguinte, no dia 26 de 
setembro de 1857, foi fundado o Imperial Institu-
to dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro e deno-
Outra história que se destaca é sobre a língua de 
sinais de Vineyard. Esta é uma situação única que 
se desenvolveu nesse local específico, no final do 
século XVII: 
“Martha’s Vineyard é uma ilha a cinco milhas da 
costa sudeste de Massachusetts. De 1690 até a 
metade do século XX, uma elevada taxa de sur-
dez genética aparecia entre a população da ilha. 
Martha’s Vineyard é um exemplo de uma comu-
nidade surda... O primeiro educador surdo que 
lá chegou com sua esposa e família em 1692 era 
fluente em algum tipo de língua sinalizada. Mui-
tas das famílias que habitaram a ilha provinham 
da área de Boston e, antes disso, muitas outras 
haviam imigrado de uma região da Inglaterra co-
nhecida como Weald, no interior de Kent... Com o 
florescimento da comunidade surda, consolidou-
-se também a sua língua... essa língua se expan-
diu por toda a ilha, e quase todos os habitantes 
da ilha, surdos ou não, foram capazes de utilizar 
a língua de sinais... A surdez não era vista como 
uma incapacidade. Naquela ilha, os surdos parti-
cipavam, integralmente, em todos os aspectosda 
vida social.” (GROCE, 1985 apud WILCOX; WILCOX, 
2005, p. 36).
CuriosidadeCuriosidade
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minado o atual Instituto Nacional de Educação de 
Surdos (INES).
É interessante ressaltar que esse Instituto 
era ligado ao governo central e possuía uma co-
missão de alto nível, formada por juristas, minis-
tros e sacerdotes, que deveriam supervisionar os 
trabalhos. Fica claro que essa e outras instituições 
para deficientes da mesma época só foram cria-
das porque houve a intermediação de pessoas 
influentes que possuíam interesse nessas escolas. 
Essas pessoas importantes da época procuraram 
transmitir ensinamentos especializados aceitos 
como fundamentais e ficaram diretamente liga-
das à administração pública de tais instituições.
Como você sabe, antigamente, diferente-
mente de agora, as pessoas estudavam em in-
ternatos; e com os surdos acontecia o mesmo. 
Os surdos vindos de outras cidades do Brasil dor-
miam na escola, que era um internato. Os surdos 
que viviam no INES aprendiam por meio da língua 
de sinais, mas nessa época não existia a Libras, en-
tão eles utilizavam a Língua de Sinais Francesa e 
a Língua de Sinais Brasileira antiga. Esse fato foi 
importante, pois dessa instituição partiram os lí-
deres surdos que têm divulgado, durante muitos 
anos, a língua de sinais em todo o país.
Sabemos que grande número de crianças 
surdas são filhas de pais ouvintes, mas algumas 
famílias que possuem a surdez pela hereditarieda-
de transmitem a seus filhos a Libras como forma 
de comunicação efetiva. Esse fato fez com que a 
língua de sinais, mesmo com o oralismo imperan-
do durante muitos anos na educação dos surdos, 
não se extinguisse e criou resistências significati-
vas, as quais acabaram por refletir na sociedade o 
crescente movimento que hoje se dá através da 
aprendizagem da língua de sinais por ouvintes e 
surdos.
É importante saber que a primeira icono-
grafia dos sinais realizada aqui no Brasil foi em 
1873, de autoria do aluno surdo Flausino José 
de Gama, que estudava no Imperial Instituto dos 
Surdos-Mudos.
Em 1881, a história narra o fato de a língua 
de sinais ter sido proibida no INES e em todo o 
Brasil. Como consequência dessa proibição, em 
1895, teve o declínio do número de professores 
surdos nas escolas para surdos e aumentou o nú-
mero de professores ouvintes.
A Importância da Convivência entre Pessoas 
da mesma Cultura
Como você sabe, é fundamental para que 
possamos desenvolver uma língua o convívio com 
pessoas que a utilizem, certo? Quando pessoas de 
uma mesma cultura convivem, elas desenvolvem 
uma linguagem própria. Com as pessoas surdas 
não é diferente, elas desenvolveram uma lingua-
gem própria, visual-motora, chamada língua de 
sinais. 
Muitas pessoas perguntam: a Língua de Si-
nais é universal?
Não!
Existe, no mundo, um grande número de 
línguas de sinais, diferente do que muitas pessoas 
ouvintes pensam. Quando falamos em língua de 
sinais, não estamos falando de alguma forma de 
comunicação manual do Português ou, mesmo, 
de um Português sinalizado, mas de uma língua, 
com gramática e léxico próprios, expressiva, elo-
quente e graciosa.
Outra escola que é importante na história dos 
surdos é o Instituto Santa Terezinha, em São Pau-
lo, fundado em 1925 e dedicado à educação de 
moças surdas. Nessa época, as surdas comunica-
vam-se somente fora das salas de aulas utilizan-
do sinais. Dentro das salas de aula, era utilizado 
principalmente o oralismo, visando ao desenvol-
vimento da fala. 
CuriosidadeCuriosidade
O Imperial Instituto dos Surdos-Mudos foi criado 
por Dom Pedro II, em 1857.
CuriosidadeCuriosidade
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Podemos dizer que os seres humanos pos-
suem uma capacidade inata de adquirir lingua-
gem, seja a fala ou o sinal. 
Nenhum de nós é capaz de lembrar como 
adquiriu a linguagem. Santo Agostinho propõe a 
seguinte ideia: 
Também não somos como pais, chama-
dos a ‘ensinar’ a linguagem a nossos fi-
lhos; eles adquirem ou parecem adquirir 
de uma forma automática, pela virtude 
de serem crianças, nossas crianças, e pe-
los intercâmbios comunicativos entre 
nós. (SACKS, 1990, p. 77).
O primeiro uso da linguagem é, normal-
mente, através da mãe; a linguagem acontece en-
tre os dois, portanto o que podemos depreender 
é que ninguém aprende a língua sozinho. É im-
possível aprender, adquirir linguagem sem uma 
capacidade inata, mas essa capacidade é ativada 
apenas se o sujeito estiver em um meio no qual 
possa ser desenvolvida, ou seja, se outra pessoa 
já possuir competência linguística. 
Segundo Vigotsky, é através da “negocia-
ção” com outras pessoas que se adquire a lingua-
gem. O intercâmbio social e emocional começa 
desde o primeiro dia de vida. Mãe, pai, professor, 
qualquer pessoa que fale com a criança leva o 
AtençãoAtenção
“A aquisição do sinal, da fala ou de ambos, de-
pende do intercâmbio com as pessoas à volta, 
do ouvir sua fala, ou do assistir seu sinal. Se aos 
cinco ou seis anos a criança já tiver desenvolvido 
a fluência em linguagem, seja o sinal ou a fala, 
ela pode esperar ter uma vida rica de comunica-
ção e de intercâmbio comunitário, e desenvolver 
fluência em leitura e escrita. Mas se ela não tiver 
tido a oportunidade de desenvolver a linguagem 
a esta altura, então, ela pode esperar ter uma 
vida de restrições e empobrecimento cultural, e 
de incapacidade de ler e escrever. Naturalmente 
para pessoas que nascem surdas, é muito mais 
fácil adquirir uma linguagem visual como primei-
ra língua; e, dada uma firme fundação nessa lin-
guagem elas podem aprender a ler e escrever e, 
talvez, a falar, ou seja, tornam-se bilíngues e bicul-
turais, o que é ideal para elas.” (SACKS, 1990, p. 75).
bebê a níveis superiores de linguagem. Contu-
do, as palavras da mãe não teriam sentido se não 
correspondessem a alguma coisa em sua própria 
experiência. É necessário lembrar, também, as re-
lações de afeto que ocorrem, refletindo necessi-
dades e interesses pessoais do indivíduo.
As crianças aprendem a língua como apren-
dem a andar. Ninguém lhes ensina a andar ou a 
falar. Aprender a andar ou aprender a falar é dife-
rente de aprender a ler ou aprender a andar de bi-
cicleta. Embora todas essas atividades envolvam 
habilidades cognitivas, em condições normais, as 
duas primeiras acontecem inexoravelmente, en-
quanto as duas últimas podem não ser desenvol-
vidas e permanecer desconhecidas, sem que isso 
represente um distúrbio.
Portanto, caro(a) aluno(a), a aquisição da 
linguagem acontece de forma assistemática, des-
contínua, com interrupções e ruídos de comuni-
cação. Entretanto, o resultado é surpreendente: a 
criança não só aprende a língua, com todas as su-
tilezas de sua articulação gramatical, semântica e 
pragmática, como o faz de forma completa, isto é, 
não existe conhecimento de língua materna pela 
metade ou parcial, qualquer pessoa normal sabe 
a língua de sua comunidade e a utiliza de forma 
natural. 
Dada a constatação de que as crianças têm 
o domínio do sistema complexo da língua em um 
curto prazo, sem esforço, com poucos desvios 
ou erros (em face das opções que podem ser ex-
traídas dos dados a que são expostas), indepen-
dentemente da natureza do ambiente (com mais 
ou menos reforço ou correção) e na ausência de 
certos tipos de evidência cruciais em situações de 
aprendizagem por instrução, conclui-se que o ser 
humano é dotado de um estado cognitivo inicial 
rico, complexo, uma faculdade inata de adquirir 
AtençãoAtenção
É importante ressaltar que a linguagem é um in-
trincado mundo de significados gramaticais, ver-
bais e intenção comunicativa, sendo que todos 
esses elementos estão juntos no aprendizado e 
uso da linguagem.
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linguagem, porém essa capacidade é ativada ape-
nas por outra pessoa que já possui competência 
linguística. David Wood, em seu estudo, de longo 
prazo, de crianças surdas, escreve: 
Imaginem um bebê surdo com pouca 
ou nenhuma consciência do som. [...] 
Quando olha para um objeto ou evento, 
não recebe nada da ‘música de clima’ que 
acompanha a experiência social do bebê 
auditivo. Vamos supor que desvie os 
olhos de um objeto que atrai sua atenção 
para um adulto que está partilhando sua 
experiência com ele, e o adulto fala sobre 
o que o bebê acabou de olhar. Será que 
o bebê sequer percebe que está ocorren-
do uma comunicação? Para descobrir os 
relacionamentos entre uma palavra e seu 
referente, o bebê surdo precisa lembrar 
alguma coisa que acabou de observar e 
relacionar essa lembrança com outra ob-
servação [...] o bebê surdo precisa fazer 
mais, precisa ‘descobrir’ os relacionamen-
tos entre duas experiências visuais muito 
diferentes que estão deslocadas no tem-
po. Essas e outras importantes considera-
ções, eles acham, podem causar graves 
problemas de comunicação muito antes 
do desenvolvimento da linguagem. As 
crianças surdas filhas de pais surdos tem 
boas possibilidades de serem poupadas 
dessas dificuldades interacionais, pois 
os pais sabem muito bem, por sua pró-
pria experiência, que toda comunicação 
e todos os jogos devem ser visuais e que 
a ‘conversa de bebê’, em particular, deve 
se realizar em termos visuais e gestuais. O 
corolário de tudo isso é que se a comuni-
cação não se tornar significativa, afetará 
o crescimento intelectual, o intercambio 
social, o desenvolvimento da linguagem 
e as atitudes emocionais, tudo ao mesmo 
tempo, de forma simultânea e insepará-
vel. Isso é o que normalmente acontece 
quando uma criança nasce surda. (SACKS, 
1990, p. 79-80).
Então, o que podemos depreender desse 
relato?
É que as crianças surdas acabam por viver 
em um mundo diferente, muitas vezes sem que 
haja uma comunicação, e ela passa a tentar rea-
lizar as conexões com o mundo ouvinte, mes-
mo que este lhe forneça poucas pistas. Vygotsky 
aponta que a comunicação é a percepção de um 
mundo e essa percepção leva a um mundo con-
ceitual. Ele fala de um “salto da sensação para o 
pensamento”; isso envolve não somente a fala, 
mas o tipo certo de fala, um diálogo rico em in-
tenção comunicativa. Para que a criança possa 
realizar esse “salto” com sucesso,
não importa essencialmente se a comu-
nicação, o diálogo entre mãe e filho, é 
pela fala ou sinal, o que importa é a in-
tenção comunicativa. Essa intenção pode 
estar na direção saudável de promover 
seu crescimento, autonomia e expansão 
da mente. Mas o uso de sinais torna clara-
mente a comunicação mais fácil no início 
da vida, porque os bebês surdos espon-
taneamente absorvem os sinais, mas não 
podem absorver a fala da mesma forma. 
(SACKS, 1990, p. 84).
Vários estudos foram realizados nos últimos 
anos em relação à surdez e à aprendizagem da 
língua de sinais por surdos. 
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A partir dos aspectos apontados, entende-
-se que um surdo que tenha acesso à convivência 
com falantes de sua própria língua irá se desenvol-
ver sem atrasos e dificuldades. Significa dizer que 
as crianças surdas possuem muito mais que um 
diagnóstico médico apontando uma “deficiência”, 
mas, na verdade, o que ocorre é um fenômeno 
cultural, no qual os padrões sociais, emocionais e 
linguísticos estão intrinsecamente ligados.
Saiba maisSaiba mais
McCleary (2000, p. 672-681) destaca: “Natissurdos, por não terem acesso ao som da fala, não podem adquirir a fala natural-
mente, através dos processos com que toda criança adquire língua desde sua infância, na interação com falantes da língua, 
com o processamento cognitivo dos inputs lingüísticos auditivos. Quando aprendem a língua oral, o fazem através de um 
processo de ensino e treinamento mais artificial do que qualquer programa de ensino de língua estrangeira, e a língua que 
acabam falando carrega as marcas desse processo. O quadro ideal para o desenvolvimento lingüístico de uma criança surda 
é o de crescer dentro de uma família fluente em língua de sinais, para não sofrer nenhum atraso de aquisição de linguagem. 
Mas isso ocorre apenas com os cerca de 10% de surdos que nascem em famílias de surdos. A grande maioria de natissurdos 
nasce em famílias de pais ouvintes. No melhor dos cenários, os pais descobrem logo que o filho é surdo, começam a aprender 
língua de sinais para poderem se comunicar com o filho e colocam o filho em contato com surdos fluentes na língua. Isso 
raramente acontece. Na maioria dos casos, os pais não têm informações sobre a língua de sinais, ou, tendo, rejeitam-na por 
preconceito e por medo de o filho ser ‘diferente’ e excluído. Na pior das hipóteses, os pais rejeitam o filho e interagem mini-
mamente com ele. 
Dessa forma, muitos surdos crescem até a idade escolar essencialmente sem língua, com apenas alguns sinais ‘caseiros’ (quan-
do há), estabelecidos na comunicação com os familiares. Existem evidências de que esse atraso até o limite da ‘idade crítica’ 
de aquisição de linguagem (cerca de cinco anos) pode causar seqüelas lingüísticas, cognitivas e psicológicas.
Por outro lado, crianças (surdas e ouvintes) expostas a uma língua de sinais nos primeiros anos de vida adquirem essa língua 
com tanta naturalidade, como acontece com frequência, então, que surdos começam a adquirir sua primeira língua já em 
idade escolar, ou até em idade mais avançada, quando começam a ter contato com outras pessoas surdas. Existem relatos de 
indivíduos surdos adultos que experimentam um ‘segundo nascimento’ ao descobrir o mundo surdo e sua língua totalmente 
acessível e expressiva.”
Há dois tipos de surdos: 
•	os Natissurdos pré-linguais: ficaram surdos antes de aprender a falar (têm muita dificul-
dade em aprender a falar); 
•	os Ensurdecidos ou pós-linguais: Ficaram surdos após terem adquirido a linguagem 
falada. 
Fonte: http://www.asgfsurdos.org.br/?page_id=17.
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2.1 Resumo do Capítulo
Aprendemos neste capítulo sobre a história da língua de sinais, suas raízes e como ela se mantém 
até os dias atuais em nossa sociedade. Pudemos analisar o percurso realizado no Brasil, a criação da pri-
meira escola para surdos e como ela era restrita em seu atendimento. 
Estudamos também a importância da comunicação e da interlocução na língua materna dos sur-
dos, a língua de sinais (Libras), para que este sujeito possa ter um desenvolvimento cognitivo e linguístico 
significativo e equivalente aos das crianças ouvintes. 
2.2 Atividades Propostas
Responda às questões abaixo e verifique se você aprendeu. 
1. Quem é a personagem histórica que modifica o percurso da educação dos surdos, passando a 
utilizar a linguagem gestual no ensino?
2. Complete: 
a) Em 1880 ocorre o _________________________ que modifica a educação dos surdos para 
o _______________.
b) Hoje, o Brasil busca a metodologia ________________________ na educação dos surdos.
3. Os surdos, quando têm acesso na primeira infância à língua de sinais, terão um desenvolvi-
mento similar aos ouvintes?

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