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História da Orientação Profissional no Brasil

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Revista Brasileira de Orientação Profissional
versão On-line ISSN 1984-7270
Rev. bras. orientac. prof v.6 n.1 São Paulo jun. 2005
 
ARTIGOS
 
 
Orientação profissional no Brasil: uma revisão histórica da produção científica1
 
Vocational guidance in Brazil: a historic revision of scientific production
 
Orientación profesional en el Brasil: una revisión historial de la producción científica
 
 
Flávia Lemos Abade2 *
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte
 
 
RESUMO
O presente artigo consiste em uma revisão bibliográfica das práticas e modelos teóricos em Orientação Profissional no Brasil. A revisão histórica foi feita a partir de consulta às principais bases de dados na área da Psicologia e a estudos sobre história da Psicologia. Restringimos nosso objeto às publicações brasileiras, mas algumas referências foram feitas às produções européias, norte-americanas e latino-americanas, posto que são importantes influências no desenvolvimento da Psicologia e, mais especificamente, da Orientação Profissional no Brasil. A história da Orientação Profissional reflete as definições que ela pode assumir, bem como as diferentes teorias e métodos dos quais se utiliza. Três perspectivas são relevantes na Orientação Profissional brasileira: a psicométrica, a clínica e a psicossocial.
Palavras-chave: Orientação profissional, História da psicologia, Modelos teóricos. 
 
Nosso objetivo é traçar um panorama da história da Orientação Profissional no Brasil a partir da literatura disponível. Daremos especial atenção aos estudos sobre Orientação Profissional em grupo. Acreditamos que, desta forma, poderemos identificar os principais referenciais teóricos e metodológicos que sustentam as práticas de Orientação Profissional no Brasil e circunscrever melhor a contribuição de nossa proposta de Orientação Profissional em grupo. Foge do nosso alcance analisar as condições de existência de cada modalidade de Orientação Profissional em diferentes períodos históricos, mas cumpre-nos destacar que a ciência não é produzida de forma alheia ao contexto político, social e econômico. As mudanças ocorridas no início e no final do século XX, como veremos, tiveram especial repercussão na produção científica brasileira sobre Orientação Profissional.
Ao construir este ensaio sobre a Orientação Profissional no Brasil, buscamos nos referenciar em outros estudos históricos sobre Orientação Profissional e sobre História da Psicologia. Consultamos os principais bancos de dados de Psicologia: Biblioteca Virtual em Saúde Psicologia (BVS-PSI), Scientific Eletronic Library On line (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); bem como o banco de teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e os livros e periódicos catalogados na biblioteca da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Vale destacar que foram consultadas as coleções completas das revistas atualmente denominadas Arquivos Brasileiros de Psicologia e Revista Brasileira de Orientação Profissional.
 
A Orientação Profissional no Brasil
A aplicação da Psicologia às relações de trabalho aparece no Brasil na década de 20 principalmente em razão da regulamentação dos cursos destinados à profissionalização para o comércio, indústria e agricultura. Do ponto de vista prático, a primeira experiência de aplicação sistemática da Psicologia à organização do trabalho ocorreu em 1924, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, sob a direção do engenheiro suíço Roberto Mange e consistiu na seleção de alunos para o Curso de Mecânica Prática da referida escola. A esta experiência muitas outras se seguiram das quais cabe destacar as relativas às empresas ferroviárias: em 1930, foi criado o Curso de Ferroviários de Sorocaba e o Serviço de Ensino e Seleção Profissional da Estrada de Ferro Sorocabana. A partir de então, a aplicação da Psicologia ao trabalho teve acelerado desenvolvimento, expandindo-se para um grande número de empresas (Antunes, 1991). O cenário político-econômico brasileiro era composto pelo governo ditatorial de Getúlio Vargas (1930-1945) e pela mudança de um modelo de economia agrário-exportadora para uma economia urbano-industrial.
O governo do General Dutra (1946-1950), por sua vez, foi marcado pela ideologia liberal e pela mudança na Constituição (1946), que passou a dar grande ênfase à cultura e à educação e neste sentido era bastante divergente da Constituição de 1937. Se até então a preocupação da Educação era o preparo das elites, na década de 40 passava a ser o atendimento aos contingentes que se formavam nos centros urbanos. A defesa da educação como direito de todos teve sua contrapartida na hipótese de que as pessoas não eram igualmente dotadas pela natureza para usufruírem a oportunidade que o Estado lhes dava e, para justificar essa conclusão, os testes psicológicos, e seu caráter científico, foram amplamente usados. Neste clima social, foi criado o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) da Fundação Getúlio Vargas (Goulart, 1985).
O ISOP foi criado em 1947 com o objetivo básico de contribuir para o ajustamento entre o trabalhador e o trabalho, mediante estudo científico das aptidões e vocações do primeiro e dos requisitos psicofisiológicos do segundo (Instituto de Seleção e Orientação Profissional, 1949). O ISOP desenvolveu nos dez primeiros anos de seu funcionamento um trabalho voltado principalmente para a implantação de técnicas de seleção e orientação profissional, dando atendimento à classe média alta, numa tentativa de orientação da futura elite dirigente. Esse instituto também foi responsável pela formação dos primeiros especialistas na área da Psicologia (Bomfim, 2003).
A instalação do ISOP no Rio teve especial importância para a criação do Serviço de Orientação e Seleção Profissional (SOSP) em Belo Horizonte. O SOSP foi criado pela Lei nº 482, de 11 de novembro de 1949, com o objetivo de orientar vocações no meio escolar e estabelecer critérios para a seleção de pessoal destinado à administração pública e organizações particulares. O SOSP foi o primeiro instituto no país sob responsabilidade governamental. Ele foi dirigido pelo professor Bessa, que era orientado pelo diretor do ISOP, o espanhol Mira y Lopez (Goulart, 1985).
Os projetos desenvolvidos tanto pelo SOSP quanto pelo ISOP enquadravam-se na perspectiva da administração científica do trabalho. O psicotécnico era o profissional que adquiria o domínio do conhecimento sobre a natureza humana e buscava adaptá-la ao novo contexto da sociedade urbanoindustrial. Segundo Antunes (1991), a finalidade da Orientação Profissional incorporava-se ao ideal de organização e racionalização do trabalho da época, com vistas a uma maior produtividade – orientada segundo o pensamento do homem certo no lugar certo. Os testes vocacionais tinham a finalidade de orientar profissionalmente os jovens para uma escolha coerente com suas aptidões, mas principalmente com vistas à maior eficiência do processo produtivo. Direcionando os indivíduos para diferentes profissões pelas suas capacidades, sem considerar as diferentes condições de classe ou a história de vida do sujeito, a Orientação Profissional transformava as determinações sociais em características inerentes ao indivíduo.
Ao exame dessa abordagem das origens da Orientação Profissional no Brasil é possível notar que ela se constitui no início do século XX como uma modalidade estritamente psicométrica. Os empresários foram seus principais defensores e os engenheiros os pioneiros neste campo de atuação. Até então, a formação de psicólogos se fazia nos cursos de Filosofia, Pedagogia e Ciências Sociais, cujos concluintes realizavam estágios em instituições especializadas, habilitando-se deste modo, ao exercício profissional. O reconhecimentolegal da profissão de psicólogo ocorreu no Brasil em 1962.
No início da década de 60 a metodologia de diagnosticar e aconselhar utilizando como instrumentos os testes psicológicos estava sendo substituída pelo auxílio ao autoconhecimento, influência de Rogers nos Estados Unidos, e à focalização de aspectos inconscientes, influência de Freud na Europa. No Brasil, a Psicologia Clínica só tinha valor de conhecimento científico quando conjugada aos estudos experimentais.
A revista Arquivos Brasileiros de Psicotécnica foi, nos anos 50 e 60, o principal instrumento de divulgação dos trabalhos de Orientação Profissional, em sua maior parte baseados na Psicometria. A partir de 1960 a revista ainda publicou muitos artigos sobre Orientação Profissional, porém, com enfoques um pouco mais diversificados. Além dos estudos experimentais de testes, apresentava estudos sobre, por exemplo, os valores do orientador profissional, as dinâmicas da personalidade, os fatores culturais envolvidos na motivação da conduta humana, psicologia aplicada à infância e à adolescência, entre outros.
Ruth Scheefer Simões, professora do ISOP e representante do corpo redatorial da revista (atuando também, em alguns momentos, como redatorachefe e secretária), era considerada pelos pares especialista em Psicologia Clínica e Educacional. Ela ministrou aulas no ISOP sobre a teoria não-diretiva de Carl Rogers e produziu vários artigos ressaltando a importância de conhecer e analisar os aspectos clínicos não apenas relacionados à Orientação Profissional, como também à Educação de maneira geral. Contudo, ao estudar, por exemplo, a validade do aconselhamento profissional (Scheefer & Bessa, 1961; Scheefer, 1967) ou a problemática emocional como determinante da preferência profissional (Scheefer, 1966) – temas essencialmente clínicos – os métodos de pesquisa por ela utilizados eram predominantemente quantitativos.
Lourenço Filho, também professor do ISOP, em 1963 teve sua aula inaugural do Curso de Formação de Orientadores Profissionais publicada nos Arquivos. Nessa aula, ele definiu como elementos da Orientação Profissional a análise das profissões e a caracterização dos atributos individuais, acrescentando em seguida que a estes elementos os especialistas estavam juntando outro: o gosto ou preferência pessoal por uma espécie de trabalho e pelas relações pessoais que o tipo de trabalho engendra. No editorial dos Arquivos Brasileiros de Psicotécnica de 1967, ele afirma que as análises interpretativas de natureza clínica eram fecundas, mas não isentas de perigo e, portanto, deveriam se apoiar em dados experimentais.
Um novo cenário político e econômico foi delineado no período que vai de 1964 a 1968, quando se implantou o novo regime, o governo militar: foram traçados os rumos da política de recuperação econômica, houve repressão e contenção dos movimentos estudantis. Houve uma ruptura dos canais de participação política e a pretensa participação na estrutura de poder, que antes já era garantida a bem poucos foi totalmente eliminada. Toda a visão crítica e não-quantitativa foi bloqueada e restaram à Psicologia a abordagem experimental e psicométrica (Goulart, 1985).
Na orientação dos cursos de Psicologia no Brasil, regulamentados em 1962, portanto, predominou inicialmente a perspectiva técnica e observa-se uma significativa influência da perspectiva positivista. Uma direção diversa da psicotécnica pode ser observada na iniciativa pioneira de aplicação da Psicologia à problemática do trabalho, representada na experiência do Departamento de Orientação e Treinamento do Banco da Lavoura de Minas Gerais no início da década de 60. Sob a orientação de Pierre Weil e Célio Garcia, entre outros, foram promovidas experiências de Desenvolvimento em Relações Humanas que incentivavam a autonomia e a abertura em uma atmosfera democrática; destaca-se a adoção de uma abordagem psico-sociológica à conduta dos indivíduos em grupo. Tratava-se de uma abordagem inovadora no Brasil, que sofreu influência tanto da Psicanálise quanto da vertente socioanalítica de origem francesa (Campos, 1992).
Na década de 60 houve um aumento significativo de pretendentes ao nível superior. A expansão do ensino superior, contudo, foi realizada via privatização o que não implicou democratização do ensino, conforme anunciaram os governantes, pois a abertura de mais vagas não modificou significativamente o elitismo no ensino superior e a classe trabalhadora ficou de fora desta expansão. De certa forma, a permissão para que novas escolas superiores entrassem em funcionamento encobriu as reivindicações dos movimentos estudantis que clamavam pelo aumento de vagas e verbas para o ensino superior (Goulart, 1985).
Após várias manifestações sociais de descontentamento com o ensino superior brasileiro, foi instituída, em 1968, a Reforma Universitária que propunha a departamentalização das faculdades universitárias. As instituições que mantinham cursos de Psicologia promoveram um agrupamento em departamentos que reuniam professores de disciplinas afins. Com relação à Psicologia Social, disciplina obrigatória do currículo mínimo de Psicologia, a tendência foi a formação de departamentos que incluíam, além da disciplina Psicologia Social, as disciplinas: Dinâmica de Grupo e Relações Humanas, Seleção e Orientação Profissional e Psicologia da Indústria. Contudo, os programas da disciplina Seleção e Orientação Profissional pautados no uso excessivo de testes psicométricos, nem sempre se aliavam com os de Psicologia Social (Bomfim, 2003).
Os anos 70, no Brasil, representaram os primeiros anos do processo de abertura política e contaram com a reserva do povo que, acostumado ao sistema repressivo, evitava as manifestações públicas (Goulart, 1985).
Nos Arquivos Brasileiros de Psicotécnica houve um maior número de publicações sobre outras aplicações da Psicologia e apareceram os primeiros artigos sobre Psicologia Social e Dinâmica de Grupo. A padronização de testes, dentre outros tipos de estudos experimentais de Orientação Profissional que constituíam a quase totalidade dos artigos publicados nos números anteriores da revista, foi substituída pelas publicações de Informação Ocupacional (IO): descrições de diferentes ocupações e profissões de nível técnico e universitário. A partir desta década, em cada número da revista havia uma publicação que informava sobre alguma ocupação: o que é, o que faz o profissional, local de trabalho, estudos e exigências. O Centro de Informação e Pesquisa Ocupacional (CIPO) é o principal responsável por essas produções.
A revista Arquivos Brasileiros de Psicotécnica mudou de nome duas vezes no período de 1969 a 1979. Em 1969 ela passou a se chamar Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada e a partir de 1979 o nome mudou definitivamente para Arquivos Brasileiros de Psicologia. Os títulos anteriores eram por demais restritivos para a Psicologia que engendrava novos campos e possibilidades de estudo: Aconselhamento, Psicologia Cognitiva, Psicologia Social, etc. A Orientação Profissional deixava de ser o principal objeto de estudo e produção científica da Psicologia e passava a ser contemplada por um olhar extremamente crítico.
Ruth Scheefer, citada anteriormente como especialista em Psicologia Clínica e professora do ISOP, publicou em 1973 um artigo no qual apresenta o conceito tradicional de Orientação Profissional em contraposição a novos conceitos, com destaque para o estudo de maturidade vocacional. Segundo a autora, durante quase meio século a Psicologia Vocacional tinha sido dominada pela teoria traço e fator. Além disso, até a década de 50 a Psicologia vocacional desenvolvera-se à custa de conceitos e teorias emprestadas por outras áreas da Psicologia: diferencial, clínica e personalidade. Segundo a perspectiva dessa autora, os trabalhos de Ginzberg, de Roe e de Bordin na década de 40 constituem os primeiros esforços para estruturar e testar teorias próprias da Orientação Profissional, contudo, o que é mais destacável é a concepção de Super, na década de50, de escolha vocacional como um processo evolutivo.
De acordo com Scheefer (1973), o constructo maturidade vocacional foi o primeiro que Super (1957) se propôs a conceituar e operacionalizar. Há, a partir de então, dois aspectos do desenvolvimento do comportamento vocacional que têm sido objeto de interesse: o processo de escolha e a maturidade vocacional. Esta é definida como o grau de capacidade de enfrentar e executar as tarefas evolutivas vocacionais, características das progressivas etapas vitais.
Na década de 70, o número de publicações sobre Orientação Profissional diminuiu muito, mas neste período houve produções bastante significativas para a área. Rodolfo Bohoslavsky publicou em 1971, na Argentina, seu livro sobre a estratégia clínica em Orientação Vocacional que, desde então, passou a exercer grande influência nos trabalhos desenvolvidos por brasileiros. Nesse período também estão registrados os primeiros trabalhos de Orientação Profissional em grupo. Em conversas informais com a Prof. Iris Barbosa Goulart soubemos que alguns profissionais realizavam Orientação Profissional em grupo em Belo Horizonte, mas não encontramos nenhum artigo sobre essas experiências. O trabalho de Bomfim (2003) reafirma que as dinâmicas de grupo tornaram-se freqüentes desde a década de 60, embora não exista registro dessas publicações no país, apenas alguns relatórios pessoais.
O primeiro artigo sobre Orientação Profissional em grupo foi publicado em 1978 por psicólogos formados pela Universidade Federal do Rio de Janeiro com o título: Orientação clínico-vocacional. Eles buscavam uma maneira não-diretiva de orientar que se fundamentava pela fenomenologia e pela estratégia clínica proposta por Bohoslavsky (Aguiar, F.; Müller, H.; Filho, J. M.;Fontes, I.; Vaz, S., 1978).
Os alunos do último ano do curso de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) atendiam pessoas da comunidade com supervisão dos professores. Além do aumento do número de atendimentos que eram feitos individualmente, a insatisfação com a teoria traço e fator que fundamentava os trabalhos até então, contribuíram para que uma nova proposta de trabalho fosse construída pelos professores e alunos da USP: trabalho em grupo com início, meio e fim no qual eram abordados aspectos da personalidade, bem como do trabalho e as condições de mercado. Carvalho foi a primeira professora da disciplina e do estágio em Orientação Profissional na USP. Ela também é responsável direta pela vinda de Bohoslavsky ao Brasil ; ao conhecer seu livro sobre a estratégia clínica em Orientação Vocacional, ela o convidou para ir à USP dar um curso, que se repetiu várias vezes em São Paulo e também no Rio de Janeiro (Carvalho, 1995).
Carvalho defendeu sua tese de doutorado sobre Orientação Profissional em grupo em 1979. O processo de Orientação Profissional em dinâmica de grupo que ela desenvolveu consta de cinco sessões de três horas de duração cada uma e, em seu conjunto, tem por objetivo ensinar a escolher e possibilitar a decisão por meio dos fatores básicos para uma boa escolha profissional: autoconhecimento, informação ocupacional e mercado de trabalho. Superando a abordagem estritamente estatística em Orientação Profissional, ela buscava ligar a aprendizagem experiencial com a cognitiva, num processo de valor terapêutico para os participantes (Carvalho, 1995).
Carvalho ainda realizou com os alunos do último ano de Psicologia da USP, nos anos 1980 e 1981, um projeto que ela denominou Orientação Profissional em grupos de periferia, cujo objetivo era avaliar a pertinência do modelo teórico e metodológico que ela havia usado com adolescentes de classe média em classes populares.
A Psicologia, no início dos anos 80, buscava se redefinir e as práticas de Orientação Profissional também. O momento de transição do regime militar para uma democracia estava favorecendo esse questionamento.
Bosi (1982), por exemplo, incentivava a saída da Psicologia dos consultórios e o contato dos alunos de Psicologia com a educação popular, isto é, com as escolas públicas. Os ensaios publicados nos periódicos de Psicologia da época questionavam os determinantes e a liberdade de escolha profissional e as pesquisas tinham a preocupação de validar e adaptar os testes vocacionais para o contexto brasileiro.
Nota-se que, nesse período, o termo vocacional era usado preferencialmente, pois remetia à dimensão clínica da Orientação Profissional. Houve mudanças também no ISOP, ou seja, no principal centro de produção e aplicação da Orientação Profissional. Em 1981 ele deixou de ser Instituto de Seleção e Orientação Profissional e passou a ser denominado Instituto Superior de Estudos e Pesquisas Psicossociais.
O evento mais importante dessa década foi o I Seminário de Informação Ocupacional do Centro de Informação Ocupacional (CIPO) em 1980. As discussões no Seminário, bem como as publicações dos Arquivos se referiam à necessidade de construção de um banco de dados com informações sobre as profissões. Os debates giravam em torno das finalidades e objetivos da Informação Ocupacional e sobre o processo de Informação Ocupacional nos (antigos) primeiro, segundo e terceiro graus. Eram questionadas as formas de comunicação da informação e também quais seriam os profissionais responsáveis pelo trabalho de Informação Ocupacional: comunicadores sociais ou psicólogos (Anônimo. I Seminário de Informação Ocupacional, 1980; Figueiredo, 1980).
A Orientação Profissional em grupo também era objeto de estudo nesse período. Em 1983 Soares apresentou, em sua dissertação de mestrado em Educação na Universidade Federal de Santa Catarina, um processo de Orientação Profissional estruturado (passível de alterações de acordo com o desenrolar dos encontros) para realizar-se em sete encontros de aproximadamente duas horas, com grupo de oito pessoas, um coordenador e um observador participante. Com o objetivo de facilitar a escolha, a autora compreende que devem ser trabalhados o conhecimento de si mesmo, o conhecimento das profissões e a escolha propriamente dita que implica decisão pessoal e viabilização da escolha. Seus referenciais teóricos e práticos foram o psicodrama, os estudos de Bohoslavsky e as obras de Pelletier e Zaslavsky (Soares, 1993).
No final dos anos 70 e início dos anos 80 surgiram, então, as primeiras de teses de doutorado e dissertações de mestrado em Orientação Profissional. Carvalho defendeu sua tese em 1979 e Soares em 1983, ambas publicaram seus trabalhos mais tarde na forma de livros - Carvalho (1995) e Soares (1993); Lehman (1980; 1988); Lassance (1987) e Ferreti (1987). Em seu artigo sobre a Trajetória ocupacional de trabalhadores das classes subalternas Ferreti (1988) salienta que a Orientação Profissional deve se voltar para os interesses das classes trabalhadoras e com menos ênfase para os jovens oriundos da burguesia. A Orientação Profissional que operava ignorando as desigualdades sociais e partindo do pressuposto de que as diferenças no tocante à escolha ocupacional são individuais foi veementemente criticada por este autor. “Bock (1986, citado por Melo-Silva & Jacquemin, 2001, p. 20) também faz sérias críticas quanto a Orientação Profissional, baseada na concepção de vocação, que esconde a realidade que é socialmente injusta, por colocar no indivíduo toda a culpa pelo seu insucesso profissional”.
A Orientação Profissional, na década de 80, foi discutida enquanto processo no qual a escolha é multideterminada, a profissão e o indivíduo têm caráter dinâmico e o coordenador o papel de informar e compreender a realidade psíquica dos indivíduos. As problemáticas da escolha profissional, o dilema da escolha profissional e a identidade profissional são categorias centrais nos estudos sobre Orientação Profissional. Os autores mais citados em publicações brasileiras são Super, Pelletier e Bohoslavsky (Melo-Silva & Jacquemin, 2001, p. 20).
Embora o enfoque clínico estivesse se consolidando, o número de publicações sobre Orientação Profissional ainda era bastante reduzido principalmente se compararmoscom o número de publicações dos anos 50 e 60. As questões sociais já eram consideradas relevantes para a Orientação Profissional, mas as teorias e metodologias ainda buscavam seus referenciais na Psicologia Individual.
Em 1990 o ISOP foi extinto e, a partir de então, a produção científica deixou de estar concentrada nos Arquivos Brasileiros de Psicologia. Desde 1970 novos periódicos foram criados como a revista Psico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Psicologia Teoria e Pesquisa da Universidade de Brasília e Psicologia: Reflexão e Crítica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, dentre outras. No início da década de 90, as publicações sobre Orientação Profissional, que haviam diminuído enormemente nos anos 70 e 80, voltam a aparecer nos seguintes periódicos: Psicologia Argumento (Paraná), Cadernos de Psicologia (Belo Horizonte), Estudos de Psicologia (Campinas), Estudos de Psicologia (Natal).
A criação, em 1993, da Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP) foi um marco histórico importante para a Orientação Profissional, já que esta associação objetiva consolidar um espaço onde exista a possibilidade de construção da identidade do orientador profissional, bem como representa a possibilidade de organização da categoria e a definição de políticas para este campo de atividades em nosso país (Melo-Silva & Jacquemin, 2001). A ABOP organizou e lançou, em 1997, o primeiro número da Revista da ABOP, atualmente denominada Revista Brasileira de Orientação Profissional, e até hoje vem contribuindo para que a produção de novos trabalhos em Orientação Profissional torne-se novamente expressiva. Se no início do século XX as publicações sobre esta área estavam concentradas nos Arquivos Brasileiros de Psicotécnica, sob a responsabilidade do ISOP, atualmente podemos dizer que a ABOP é o novo centro organizador e promotor da Orientação Profissional no Brasil.
Em nossa revisão bibliográfica constatamos que, nos artigos publicados na década de 90, Bohoslavsky (1971/1998) é o autor mais citado pelos pesquisadores brasileiros. Sua influência, em parte, justifica a exacerbada crítica quanto ao uso de testes em Orientação Profissional, bem como a contraposição entre enfoque clínico e estatístico discutida na maior parte dos artigos publicados nesse período.
Um estudo preliminar sobre práticas em Orientação Profissional no Brasil indicou que as teorias psicológicas ainda sustentam a prática da Orientação Profissional no Brasil. Entre os treze serviços analisados, (Melo-Silva, Bonfim, Esbrogeo & Soares, 2003) oito atuam conforme referencial teórico psicanalítico, dois no sócio-histórico, um no referencial psicopedagógico, outro nas teorias desenvolvimentistas de Pelletier e Super, um psicodramático e outro evolutivo-cognitivista (Melo-Silva & Jacquemin, 2001). Difere da maioria a abordagem sóciohistórica (Melo-Silva, Bonfim, Esbrogeo & Soares, 2003).
A Abordagem integrada em Orientação Profissional desenvolvida por Maria Célia Lassance na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), com base nas idéias de Super; o Modelo de Ativação da Aprendizagem proposto por Maria da Glória Hissa e Mariita Pinheiro, com base em Bohoslavsky, Pichon-Rivière, Perls, Piaget e Paulo Freire; o paradigma ecológico em Orientação Profissional desenvolvido por Jorge Sarriera e a Abordagem sócio-histórica de Orientação Profissional proposta por Sílvio Bock são alguns exemplos de novas abordagens desenvolvidas no Brasil atualmente (Sparta, 2003). Além destas, dois testes projetivos vêm sendo estudados no Brasil: o Teste de Fotos de Profissão (BBT) por André Jacquemin e Lucy Leal Melo-Silva na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto e o teste Projetivo Omega, por Inalda Oliveira no curso de Psicologia da Faculdade de Filosofia do Recife (FAFIRE) (Sparta, 2003).
As publicações da década de 90 revelam que não existe um único referencial teórico e metodológico no qual se baseia a Orientação Profissional, mas é possível reconhecer que a Psicologia oferece importantes referenciais e que predominam as perspectivas clínica e psicométrica.
O cenário do mundo do trabalho, no final do século XX, é marcado pela ruptura com o paradigma industrial e tecnológico, pelo advento da microeletrônica, pelo avanço das telecomunicações e pelo incremento da automação. Junto a isso, o capital mundial foi reestruturado sob a dominância financeira e não mais produtiva (Lisboa, 2002). Essas transformações no mundo do trabalho afetam diretamente a Orientação Profissional, no que diz respeito à formação técnica e teórica do orientador. Nossa posição é a de que a Orientação Profissional não pode prescindir de um referencial psicossocial, ou seja, mais que considerar a relevância dos fatores sociais no processo de escolha, é importante que o orientador baseie sua prática em referenciais teórico-metodológicos psicossociais.
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo dessa revisão histórica foi identificar os elementos do passado que contribuem na produção do presente e na construção de um novo sentido para as práticas futuras. O quadro complexo e diverso da produção científica dificulta a classificação das abordagens utilizadas em Orientação Profissional. A avaliação dessas abordagens é uma questão para futuras pesquisas, mas consideramos importante ressaltar que, em seu início, a Orientação Profissional visava a analisar aptidões para melhor ajustamento do trabalhador ao trabalho, descobrindo na década de 60 a importância do autoconhecimento para a realização pessoal na profissão. O contexto político marcado pela ditadura, no entanto, não permitiu o desenvolvimento de Psicologia Clínica e contribuiu para que a Psicologia permanecesse restrita as perspectivas experimentalistas e psicométricas por muitos anos. Foi no início da década de 80 que emergiu uma perspectiva realmente clínica em Orientação Profissional, assim como novos questionamentos e posicionamentos diante da realidade social. A partir da década de 90, notamos que a Orientação Profissional tem sido enfocada em três diferentes perspectivas: a perspectiva psicométrica, a perspectiva clínica e a perspectiva que valoriza as discussões sobre o trabalho no modo de produção capitalista.
Embora a Orientação Profissional estivesse presente em Departamentos de Psicologia Social quando foi definido o currículo mínimo do curso de Psicologia em 1962, somente na década de 90 identificamos trabalhos que abordam a Orientação Profissional a partir de referenciais da Psicologia Social. O paradigma ecológico desenvolvido por Jorge Sarriera e a abordagem sócio-histórica proposta por Sílvio Bock e Ana Bock, configuram uma modalidade de Orientação Profissional baseada na Psicologia Social. Esperamos que a pesquisa que estamos desenvolvendo venha se somar a esses trabalhos configurando uma nova perspectiva em Orientação Profissional.
Esse panorama também nos permitiu identificar que a proposta de Orientação Profissional em grupo surgiu, inicialmente, associada à necessidade de atender a um maior número de pessoas. Essas experiências, contudo, indicaram que mais do que atender a um número maior de pessoas, essa forma de atendimento apresenta algumas vantagens: o enriquecimento do processo devido à dinâmica do grupo que envolve o confronto com a diversidade e a heterogeneidade (Bock, 2002); o processo grupal é uma amostra do processo social a visão do outro auxilia na própria visão de si, as aspirações e limitações são dosadas porque o grupo facilita a percepção das influências familiares, sociais e econômicas (Carvalho, 1995); é próprio do adolescente o convívio em grupo e há possibilidade de compartilhar sentimentos de dúvida, confusão e insegurança em relação ao futuro (Soares, 1993).
A lacuna que identificamos nos estudos de Orientação Profissional em grupo foi que, embora as vantagens dessa modalidade de atendimento sejam reconhecidas, bem como sua eficácia no processo de Orientação Profissional, ainda é necessário explicitar os processos psicossociais envolvidos nogrupo e sua influência no processo de Orientação Profissional, ou seja, esclarecer sobre o processo de formação do grupo, de afiliação e pertencimento, de comunicação, sobre o papel do coordenador, entre outros. Nossa hipótese é que a metodologia de Oficinas em Dinâmica de Grupo poderá trazer ao campo da Orientação Profissional em nosso país uma grande contribuição, pois esta metodologia apresenta pontos inovadores no trabalho com grupos, mas expressa também uma tradição que vem desde a pesquisa-ação de Kurt Lewin e longe de se opor a outras formas de trabalho com grupos, como o sociodrama e o grupo operativo, tem com elas uma afinidade assumida e não pretende superá-las nem substituí-las.
 
	
		 
 
	  
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Revista Brasileira de Orientação Profissional
versão On-line ISSN 1984-7270
Rev. bras. orientac. prof v.4 n.1-2 São Paulo dez. 2003
 
ARTIGOS
 
 
A orientação profissional e as transformações no mundo do trabalho
 
Vocational guidance and the changes in the work world
 
La orientación profesional y las transformaciones en el mundo del trabajo
 
 
Maria Célia Lassance* 1; Mônica Sparta** 2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre
  
As práticas de Orientação Profissional precederam historicamente os modelos teóricos. Seu nascimento foi demarcado pela criação dos Centros de Orientação Profissional na Europa e nos Estados Unidos, na primeira década do século XX3, que tinham como principal objetivo identificar trabalhadores inaptos para determinadas tarefas industriais a fim de evitar acidentes de trabalho e garantir a produtividade (Carvalho, 1995). A Orientação Profissional nasceu para resolver problemas práticos da próspera sociedade industrial da época e a sua história está intimamente ligada à história das relações de trabalho do mundo ocidental. A partir desta perspectiva, este ensaio tem como objetivos identificar as características da sociedade capitalista ocidental contemporânea e refletir à cerca de seus reflexos sobre a Orientação Profissional brasileira da atualidade.
Referências ao papel do trabalho na vida do ser humano já apareciam na Bíblia (De Masi, 1999b; Whitaker, 1997). O trabalho era definido como castigo divino imposto aos homens por sua desobediência a Deus. Na Antigüidade Clássica, o trabalho era função desprezada que cabia aos escravos; o que garantia aos cidadãos o direito ao ócio, às atividades políticas e contemplativas. Durante a Idade Média, o trabalho cabia aos servos, que sustentavam os senhores feudais, donos da terra e do poder. Até este momento histórico, a vida laboral confundia-se com a vida doméstica; o trabalho era realizado em casa, em família e os filhos aprendiam seus futuros ofícios com seus pais ou, no máximo, com vizinhos que conhecessem ofícios diferentes. Até o fim da Idade Média, o trabalho era visto como castigo e sofrimento e a profissionalização era determinada por nascimento ou por conveniência.
Esta noção do trabalho perdurou nas sociedades ocidentais até o início do século XV, sofrendo significativas alterações com o advento da Idade Moderna e das profundas transformações sociais, culturais, científicas e econômicas a ela atreladas (Albornoz, 1992; De Masi, 1999b; Whitaker, 1997). Estas transformações trouxeram um novo conceito de trabalho e influenciaram enormemente as novas formas de relação de trabalho da sociedade capitalista nascente. Em primeiro lugar, a Reforma Religiosa trouxe consigo a idéia de que o trabalho é salvação, é virtude; o ócio passou a ser condenado em seu lugar. O Renascimento Cultural promoveu o desenvolvimento das artes e da ciência e contribuiu com a idéia do trabalho como libertação, como possibilidade de domínio do homem sobre a natureza. As Grandes Navegações e o Mercantilismo trouxeram o desenvolvimento do comércio e promoveram a ascensão da burguesia enquanto classe social. Com o Iluminismo vieram avanços científicos e tecnológicos inovadores. Todos estes movimentos históricos trouxeram consigo o germe da futura sociedade industrial, contribuíram para a idéia de trabalho como um valor positivo e permitiram a possibilidade de ascensão social através do exercício laboral.
De acordo com De Masi (1999b), o desenvolvimento da sociedade industrial passou por três momentos distintos. O primeiro deles corresponde à chamada Primeira Revolução Industrial, que foi impulsionada pela invenção da máquina a vapor e teve Adam Smith, idealizador do Liberalismo Econômico, como seu maior teórico. A sociedade capitalista industrial nasceu na Europa do final do século XVIII, centrada na produção manufatureira em larga escala (Albornoz, 1992; De Masi, 1999a, 1999b). A partir deste momento, a vida laboral separou-se da vida doméstica e o trabalho foi mecanizado e segmentado em tarefas especializadas. Um grande contingente de agricultores e artesãos passou a vender sua força de trabalho para a indústria em troca de salários. Duas classes sociais emergiram neste novo cenário: a burguesia, detentora dos meios de produção industrial, rica e ávida de consumo, e o proletariado, mão-de-obra necessária para a produção de bens e serviços. Esta foi uma época de supervalorização da produção industrial, em que os trabalhadores assalariados enfrentavam jornadas de trabalho extensas e não possuíam qualquer direito ou garantia social.
No final do século XIX, ocorreu a Segunda Revolução Industrial, na esteira da descoberta da eletricidade (De Masi, 1999b). Carl Marx e Friedrich Engels foram seus contemporâneos e apontaram as perversidades das relações de trabalho engendradas pela sociedade industrial do seu tempo, marcada pela exploração do trabalho assalariado e pela alienação do trabalhador. Marx e Engels (1848/2001) defenderam a idéia da luta de classes como motor do desenvolvimento social, demonstraram como a burguesia foi revolucionária ao diluir o poder feudal e como o proletariado deveria ocupar o seu papel revolucionário e destituir o poder burguês. O saldo mais positivo do pensamento destes autores foi a fundação das lutas por direitos e garantias sociais do trabalhador industrial assalariado.4
A Terceira Revolução Industrial ocorreu nas primeiras décadas do século XX, com o desenvolvimento da automação (De Masi, 1999b). Teve sua maior expressão nos Estados Unidos, através das idéias da organização científica do trabalho de Taylor, que visavam ao aumento da produção com a diminuição do trabalho, e da criação das linhas de montagem na indústria automobilística por Henry Ford (De Masi, 1999b; Harvey, 1989/ 1996). O movimento taylorista-fordista deu origem à sociedade capitalista de produção e consumo em massa, que atingiu seu auge na década de 1920, começou a mostrar sinais de decadência com a Primeira Guerra Mundial e a Crise de 1929 e chegou ao seu fim, de acordo com De Masi (1999a, 1999b), na década de 1960. Foi nesta fase que a sociedade industrial atingiu seu auge de desenvolvimento. A produção industrial, ou setor secundário da economia, ocupou lugar de destaque no desenvolvimento de riquezas e na geração de postos de trabalho dentro da sociedade capitalista.
A Orientação Profissional nasceu como prática neste contexto sócio-econômico da Terceira Revolução Industrial, caracterizada pela produção e pelo consumo em massa, em que as indústrias eram instituições gigantescas que empregavam um grande contingente de trabalhadores assalariados para a execução de tarefas específicas, segmentadas e repetitivas. A Orientação Profissional caracteriza-se, neste momento, como atividade diretamente vinculada à indústria e à ordem sócio-econômica vigente, com o objetivo de garantir o aumento da produtividade industrial. Os primeiros processos de intervenção desenvolvidos foram influenciados pelos mesmos princípios de cientificidade e pela bandeira da eficiência que balizavam a produção industrial.
Neste momento,enquanto o teylorismo-fordismo prosperava na indústria norte-americana, a Orientação Profissional, que nasceu como uma prática cujo objetivo era garantir a eficiência industrial, foi influenciada pela Psicologia Diferencial e pela Psicometria nascentes (Brown & Brooks, 1996; Carvalho, 1995; Super & Bohn Jr., 1970/1976). Esta influência culminou com o desenvolvimento da Teoria do Traço e Fator, que passou a servir como paradigma para a realização de processos de Orientação Profissional baseados na utilização de testes de aptidões, habilidades e interesses e cujo baluarte era o ajustamento do homem à ocupação, com vistas na excelência da eficiência industrial.
A Orientação Profissional, em sua origem, foi largamente influenciada por um comprometimento ideológico com a sociedade industrial. A formação dos orientadores profissionais residia na aprendizagem de técnicas para a avaliação de características do indivíduo e no acesso a descrições das diversas ocupações do mundo laboral da época. A ética da atividade realizada por estes orientadores profissionais era a ética da produção. O foco desta atividade era a busca da eficiência através do ajustamento da pessoa à função, a partir da avaliação das habilidades e competências, independentemente da autopercepção do sujeito quanto aos seus interesses e perspectivas de satisfação e auto-realização.
De acordo com De Masi (1999a), a sociedade industrial foi uma fase breve na história da humanidade, que teve início no final do século XVIII e chegou ao fim na metade do século XX. A segunda metade deste século foi um momento de transição entre a sociedade industrial e uma nova ordem sócio-econômica da sociedade capitalista, que vem despontando na atualidade, no início do século XXI. De Masi (1999a, 1999b) denomina esta nova ordem de sociedade pós-industrial, enquanto Harvey (1989/1996) a chama de acumulação flexível.
Para De Masi (1999b), o embrião da sociedade pós-industrial surgiu na Europa, ainda na primeira metade do século XX, durante o ápice da produção industrial norte-americana baseada nos princípios da organização do trabalho do modelo taylorista-fordista. Na Europa, inovações nos campos das artes e das ciências trouxeram a revalorização da criatividade e da emoção. Inovações na literatura e na música surgiram com Joyce e Stravinsky; nas artes plásticas, Picasso revolucionou com o Cubismo; Freud com a criação da Psicanálise propôs uma nova forma de compreensão do homem; Einstein com a Teoria da Relatividade inaugurou a física moderna. Novas idéias sobre a organização e as relações de trabalho, baseadas na criatividade e na busca de qualidade de vida, começaram a despontar neste ambiente.
Durante a segunda metade do século XX, com a decadência da sociedade industrial e a revalorização da criatividade, a Orientação Profissional tomou novos rumos. Em primeiro lugar, a influência da Terapia Centrada no Cliente de Carl Rogers, que pregava a não-diretividade dos processos psicoterápicos e do aconselhamento psicológico, influenciou sobremaneira a visão sobre os papéis dos sujeitos da Orientação Profissional, pelo deslocamento do lugar do saber e da decisão do orientador para o orientando. Em segundo lugar, o surgimento da idéia de que a escolha profissional é um processo integrado ao desenvolvimento vital do sujeito, através das Teorias Evolutivas, cujo representante mais importante foi Donald Super (Brown & Brooks, 1996; Super & Bohn Jr., 1970/1976). O foco da Orientação Profissional transferiu-se da produção resultante para o sujeito de escolha, sendo a eficiência e a produtividade tomadas como conseqüências naturais de uma escolha adequada, centrada na satisfação e nos sentimentos de realização do indivíduo.
Além da revalorização da criatividade e da emoção, o crescimento da classe média, não previsto por Marx e Engels, e o desenvolvimento tecnológico, principalmente da micro-eletrônica e da informática, foram fundamentais para a transição da sociedade industrial para a pós-industrial (De Masi, 1999a, 1999b). O capitalismo pósindustrial contemporâneo apresenta novas características, que são apontadas por diversos autores (De Masi, 1999a, 1999b; Harvey, 1989/ 1996; Jenschke, 2001; Lassance, 1997; Lisboa, 2000, 2002; Pochmann, 2001; Sarriera, 1998; Silva & Magalhães, 1996). A sociedade capitalista atual é pautada pelo aumento do setor terciário ou de serviços; pela globalização da economia; pelo modelo enxuto de empresa; pelo uso de tecnologias de ponta, como eletrônica, telecomunicações, informática, biotecnologia; pela alta produção de bens não-materiais, como serviços, informação, educação, estética. Em conseqüência destas mudanças, postos de trabalho na indústria vêm diminuindo e o decréscimo do emprego estrutural vem gerando desemprego e dando lugar ao trabalho autônomo e à economia informal; ocupações antigas vêm desaparecendo e novas vêm surgindo a cada dia. Estas mudanças no mundo do trabalho geram instabilidade e exigem do trabalhador uma série de novas habilidades para a empregabilidade, como flexibilidade, polivalência, capacitação tecnológica, adaptabilidade. A organização, a estabilidade, a certeza, a previsibilidade, ícones da sociedade industrial, foram substituídas pela flexibilidade da produção e das relações de trabalho, que passaram a ser guiados pelas flutuações do mercado de consumo.
Esta nova ordem econômica mundial trouxe consigo uma onda de individualismo, que vêm enfraquecendo as organizações sindicais na luta pela defesa dos direitos dos trabalhadores e vêm provocando um retrocesso em termos dos direitos sociais anteriormente conquistados. Espera-se cada vez mais do trabalhador e se oferece a ele cada vez menos. Ao mesmo tempo em que a sociedade pós-industrial seduz com seu discurso de que o trabalho deve estar vinculado à busca por qualidade de vida, mantém um contingente cada vez maior de indivíduos à margem do processo produtivo.
Estas mudanças no mundo do trabalho afetam diretamente a Orientação Profissional, não só no que diz respeito à formação do orientador profissional e ao seu cabedal teórico e técnico, mas também com relação à sua postura ética frente a esta nova configuração da sociedade capitalista contemporânea. Cabe aqui discutir qual o papel do orientador profissional dentro deste novo panorama: reprodutor social ou agente de mudança.
Da mesma forma que a Orientação Profissional nasceu com o objetivo de responder à demanda da sociedade industrial, atualmente, ela deve responder às necessidades da nova sociedade pósindustrial que está sendo construída. No entanto, caso a Orientação Profissional não queira ser apenas um agente de reprodução social, estas necessidades devem ser discutidas em consonância com questões éticas, que transcendam as preocupações com o crescimento econômico ou a satisfação individual e se vinculem a um comprometimento com o desenvolvimento social. Uma dimensão ideológica sempre está presente no processo de Orientação Profissional, mesmo que de forma inconsciente e mesmo que o orientador profissional tente colocar-se em uma posição de neutralidade. A própria neutralidade é uma postura ideológica que, na maioria das vezes, apenas esconde passividade e falta de crítica.
O Brasil vem sofrendo conseqüências específicas desta nova ordem econômica mundial. De acordo com Pochmann (2001), nas décadas de 1980 e 1990 houve um grande aumento do desemprego no setor industrial, enquanto o setor de serviços evoluiu notavelmente. No entanto, o incremento do setor terciário não foi suficiente para arrefecer o fenômeno do desemprego estrutural que vem assolando o país. Paralelamente, alguns autores têm analisado as características do jovem brasileiro que vai aos serviços de Orientação Profissional em busca de auxílio para a escolha de uma profissão. Este jovem é conservador, individualista, não se preocupa com mudanças sociais, deseja realização pessoal, prazer no trabalho, estabilidade profissional e conforto material (Lisboa, 1997; Silva & Magalhães, 1996). Este jovem busca a escolha de um curso superiorque lhe garanta acesso ao mercado de trabalho através da conquista de um emprego estável e bem remunerado, no qual permaneça por toda a vida (Lassance, 1997). Este jovem busca uma permanência e rigidez que já não existem na nova sociedade pósindustrial.
A partir deste panorama, pode-se pensar qual o papel que o orientador profissional brasileiro tem de assumir. É ratificar estas crenças do jovem de classe média e unicamente orientá-lo para a escolha de um curso superior, assumindo o papel de reprodutor social? Ou é orientar este jovem para que possa avaliar criticamente a sociedade contemporânea e assumir uma postura ética de comprometimento social, tornando-se um agente de mudança? A Orientação Profissional tem um importante papel na construção da sociedade pós-industrial e, neste sentido, a postura ideológica por ela assumida terá conseqüências no desenvolvimento social futuro.
Para que as práticas da Orientação Profissional brasileira possam tornar-se agentes de mudança social é preciso que a formação do orientador profissional siga determinados passos. Em primeiro lugar, é importante apontar a necessidade de que o orientador profissional possua uma fundamentação teórica sólida, que embase seu trabalho prático (Lassance, 1999). Em segundo lugar, é necessário que o orientador profissional conheça as mudanças atuais no mundo do trabalho e oriente o jovem para as incertezas e instabilidades que dela advêm (Jenschke, 2001; Lisboa, 2000, 2002). Por fim, é imprescindível que o orientador profissional aceite o caráter político e ideológico do seu trabalho e o compromisso social a ele inerente (Lassance, 1997; Lisboa, 2000, 2002; Luna, 1997; Sarriera, 1998).
Na prática, a Orientação Profissional brasileira ainda não é capaz de responder a estas necessidades. Lisboa (1998) denuncia a alienação não só dos jovens, mas dos próprios orientadores profissionais, que, na maioria das vezes, continuam a fazer seu trabalho sem reflexões sobre as mudanças no mundo do trabalho e sem a assunção de qualquer compromisso social. No Brasil, muitos esforços ainda têm que ser feitos para que os orientadores profissionais sejam mais bem preparados, não só teórica e tecnicamente, mas também criticamente, para a execução do seu trabalho.
A Orientação Profissional nasceu como produto da sociedade industrial e suas práticas, inicialmente, estavam voltadas para o incremento da produção industrial. O compromisso ideológico da Orientação Profissional, neste momento, era com a produção. O declínio da sociedade industrial trouxe consigo um novo paradigma de Orientação Profissional, cujo foco deixou de ser a produção e passou a ser o indivíduo, sujeito de escolha. O novo compromisso ideológico assumido pelas práticas de Orientação Profissional foi com o sujeito de escolha. Atualmente, na sociedade pós-industrial, a Orientação Profissional tem dois caminhos a seguir: contribuir para a supervalorização do individualismo, assumindo a postura ideológica de reprodutora social das perversidades da nova ordem econômica mundial, ou promover uma reflexão crítica e ética sobre o compromisso social implicado nas escolhas profissionais dos indivíduos, assumindo um papel de agente de mudança social. Acreditamos que a segunda opção é o melhor caminho a ser seguido pela Orientação Profissional, defendendo a necessidade urgente de reflexão acerca da formação de orientadores profissionais no Brasil, de forma a alinhar nossos procedimentos com as especificidades de nossas necessidades de produção e inserção no trabalho.
 
O que isso Suscita à Psicologia no Campo da Orientação Vocacional/ Profissional?
À Psicologia, enquanto ciência e profissão fundada numa práxis, interessa como, no movimento social, vem-se formando um novo homem. Novaes (1996, p. 128) afirma: “O olhar do psicólogo é aquele que se debruça sobre um terreno estruturado através de um jogo de relações e de interações dinâmicas que requerem uma compreensão sistemática, baseada na relação da implicação, envolvendo a dialetização entre o pólo individual (auto) e o coletivo (hetero)”.
A problemática de escolha profissional requer esse tipo de olhar para que o seu atendimento na prática da orientação vocacional/ profissional seja efetivo.
O modelo tradicional em orientação vocacional/ profissional surgiu amparado no paralelo psicometria/ análise ocupacional. Importava-se, de um lado, com as características de personalidade do sujeito e, do outro, com a análise do que as ocupações do mercado exigiam. Indivíduo e sociedade ficavam, assim, dicotomizados. Embora ainda se observe uma espécie de herança desse modelo de cunho psicometrista no campo da orientação, muitos estudiosos têm criticado e contribuído para uma ressignificação do trabalho em orientação vocacional/ profissional. Este deve contribuir para que os sujeitos ultrapassem a barreira da desinformação e dos estereótipos, atingindo uma conscientização do significado do trabalho como atividade social, num mundo em movimento, na medida em que atua como agente catalisador da apreensão das multideterminações implicadas no ser social, facilitando, assim, a construção de um pensamento crítico pelos sujeitos a respeito de sua realidade social, cultural, econômica, e, ainda, a um auto-conhecimento, ao mesmo tempo em que propicia melhor consciência de si como seres singulares. Nesse sentido, há um posicionamento dos sujeitos diante de si mesmos, que vislumbram sua identidade pessoal e profissional questionando e experienciando o sentido e as implicações de se “escolher” uma profissão, de modo a se evidenciar a própria escolha como algo dinâmico, podendo comportar em si outras escolhas.
Não há, no presente artigo, a tentativa de se reduzir a orientação vocacional/ profissional. Observamos, contudo, que o novo desafio posto a essa prática é integrar informação, no sentido de incitar a reflexão crítica a respeito do trabalho e da sociedade, e auto-conhecimento, considerando-se que essas dimensões da prática de orientação se articulam num movimento único. Um recurso frente a esse desafio é lançar mão da reflexão sobre os meios de comunicação para o sujeito bem como trabalhar a problemática de escolha através de processos grupais.
Num trabalho de orientação vocacional/ profissional que vise a promoção de saúde e a qualidade de vida dos sujeitos, busca-se criar condições para que os indivíduos possam se conhecer melhor como sujeitos concretos, percebendo suas identificações e singularidades, percebendo e analisando suas determinações, ampliando e transformando, dessa maneira, sua consciência e adquirindo, assim, melhores condições de organizar seus projetos de vida (Bock & Aguiar, 1995, p.16).
A orientação vocacional/ profissional configura-se em algo mais do que um momento para descoberta da profissão a seguir. É um processo onde emergem conflitos, estereótipos e preconceitos que devem ser trabalhados para sua superação, onde a desinformação é enfrentada e possíveis caminhos são traçados, onde o auto-conhecimento adquire o status de algo que se constrói na relação com o outro e não como algo que se dá a partir de uma reflexão isolada, descolada da realidade social ou que se conquista através de um esforço pessoal (idem, p. 17).
Nessa perspectiva, a discussão sobre a influência dos meios de comunicação de massa pode e deve fazer parte de programas de orientação vocacional/ profissional, uma vez que é fator de pressão e grande interferência nas escolhas. Sobre a inclusão dessa temática em orientação profissional, Bock, S. (2002) expõe que:
A questão que versa sobre os meios de comunicação tem por objetivo evidenciar os valores sociais dominantes em nossa sociedade estabelecendo uma relação com a escolha profissional, bem como a confiabilidade das informações apresentadas. Analisam-se algumas peças publicitárias, novelas, filmes e procura-se extrair deles as mensagens implícitas. De forma geral, aponta-se que são valorizados o poder, o prestígio, o dinheiro e o individualismo por meio do poder de consumo. Esses valores delineiam a escolhaprofissional, mas destaca-se que podem existir outros valores que demarcam outras possibilidades. Aqui se propõe que o orientando pense em seus valores, isto é, relacione-os, analise-os e critique-os estabelecendo sua própria hierarquia (que pode ou não estar de acordo com os dominantes) (p. 85).
Incluir a temática da influência dos ideais de ser e dos valores veiculados pela mídia na problemática da escolha profissional é, pois, uma forma de se avançar na práxis da orientação vocacional/ profissional, integrando indivíduo e sociedade. Isso contribui, ainda, para a saída efetiva do campo de práticas meramente psicometristas e para ampliar o alcance social da orientação vocacional/ profissional, intervindo, assim, na lógica da alienação, do conhecimento equivocado, baseado em estereótipos, fomentando discussões e questionamentos sobre os modelos impostos para primar pela promoção de saúde e qualidade de vida.
 
Considerações Finais
Sabemos que a compreensão da problemática da escolha profissional, bem como do seu atendimento, através da orientação vocacional/ profissional, não se esgota com o que foi exposto nem se limita a essa compreensão a discussão em torno da comunicação social.
Pontuamos, neste ensaio, apenas uma forma de se lutar pelo alcance social da Psicologia no campo da orientação vocacional/ profissional a partir da inclusão em sua prática da reflexão acerca da influência dos meios de comunicação de massa na realidade que tem sido, pode-se dizer, virtualmente construída. Acreditamos que iniciativas nesse sentido contrapõem completamente práticas alienadas em orientação vocacional/ profissional que dicotomizem indivíduo e sociedade.
As interfaces entre a Psicologia e a comunicação social tomam muitas dimensões, sendo possível à Psicologia abarcá-las em várias frentes de atuação. A Psicologia pode contribuir para a democratização da comunicação social, visando o estabelecimento de um autêntico diálogo social, no recorte específico da orientação vocacional/ profissional, na medida em que se caracteriza como agente catalisador da apreensão das multideterminações sociais dos sujeitos, no sentido de uma conscientização, ou seja, de uma consciência ativa e crítica vinculada à ação transformadora.
A Psicologia, no seu alcance social, deve estar atenta para o exercício da cidadania, para a autonomia, para a qualidade de vida em sociedade bem como para os mecanismos impeditivos desse processo. Um desses mecanismos pode ser representado pela mídia quando utilizada por uma minoria como instrumento de poder, controle e manutenção do movimento opressor-oprimido (Freire, 1987), no qual a classe dominada é destituída de sua identidade cultural, impossibilitando-se o diálogo social transformador, havendo, assim, um aprofundamento dos antagonismos sociais.
Como psicólogos, podemos contribuir para um controle social no que se refere à capacidade de a comunidade interferir na gestão pública, nas ações do Estado, na direção dos interesses da mesma (Barros, 2002), e a orientação vocacional/ profissional pode ser uma espécie de mola impulsionadora desse processo, já que transitam, em torno dela, reflexões sobre as relações entre sujeito e trabalho, categoria fundamental da engrenagem social, o ato produtivo que nos produz como pessoas.
	
		 
 
	  
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Revista Brasileira de Orientação Profissional
versão On-line ISSN 1984-7270
Rev. bras. orientac. prof v.8 n.1 São Paulo jun. 2007
 
ARTIGOS
 
Avaliação psicológica em processos dinâmicos de orientação vocacional individual
 
Psychological assessment in dynamic processes of individual vocational guidance
 
Evaluación psicológica en procesos dinámicos de orientación vocacional
 
 
Regina Sonia Gattas Fernandes do Nascimento* 1
Pontifícia Universidade Católica, São Paulo
 
 
 
A Orientação Vocacional (OV), como qualquer outra modalidade de atendimento em Psicologia, comporta olhares múltiplos e diversas técnicas e modos de atuação, coerentes com seus pressupostos teóricos e metodológicos. Neste artigo será proposta uma forma de inserir o teste psicológico em um modelo dinâmico de orientação, a partir da conceituação teórica e da experiência profissional pessoal. Estamos denominando modelo dinâmico uma abordagem que leva em conta a participação ativa do orientando, a partir de um referencial teórico para compreender o processo de escolha que considera o sujeito em diversas dimensões, sejam as subjetivas ou objetivas, que inclui os aspectos sociais e do mundo do trabalho, mas cuja compreensão da pessoa fundamenta-se em conceitos teóricos da psicanálise. De acordo com a psicanálise o termo dinâmico “qualifica uma perspectiva que considera os fenômenos psíquicos como resultantes do conflito e da composição de forças que exercem uma certa pressão, forças que são, em última análise, de origem pulsional”. (Laplanche & Pontalis, 1967/1983, p. 165), contrapondo-se a uma concepção estática do inconsciente. Mas com relação ao próprio processo, consideramos que este também não deve ser estático. Ele deve pressupor movimento, mudança e criatividade (conforme definição do verbete por Houaiss, 2001), ou seja, as técnicas podem ser variadas, as sessões devem ter uma movimentação, incluir diversas atividades e, pelas intervenções do orientador, sofrer mudanças, bem como deve ser um processo que pode ou deve variar de acordo com cada orientando. E ainda, consideramos que a própria questão da escolha profissional também é dinâmica, por estar sujeita a mudanças.
O paradigma a ser apresentado já não é recente. Há mais de 30 anos Rodolfo Bohoslavsky (1971/1977) propôs o que denominou de “estratégia clínica”, muito difundida no Brasil, na qual o orientando saiu de uma posição passiva para uma ativa, processo de orientação no qual o indivíduo passou a ser auxiliado para realizar uma escolha reflexiva, consciente e autônoma. Como afirma Carvalho (1995), “a posição de encontrar um diagnóstico e fornecer conselhos, foi substituída pelo auxílio ao autoconhecimento e a uma tomada consciente de posições e escolhas” (p. 32).
A respeito dos movimentos teóricos que favoreceram esta mudança, Carvalho (1995) acrescenta, Freud e o movimento psicanalítico subseqüente focalizando aspectos inconscientes e subjetivos; a terapia não-diretiva e a modalidade de aconselhamento proposto por Rogers e outros movimentos, como da escola behaviorista ou comportamental, enriqueceram a orientação vocacional com novas visões e novas técnicas de trabalho. (p.32).
Esta forma de trabalhar em OV também não é a única. Existem outros modelos para desenvolver esta modalidade de atendimento psicológico, especialmente em outros países e continentes. Mas, neste artigo, discorreremos sobre o modelo de OV, a partir da perspectiva apresentada, considerando-o uma tarefa complexa, que tem por objetivo oferecer um trabalho reflexivo em que a contribuição do profissional visa reconhecer os conflitos da pessoa, que podem envolver aspectos estruturais, dinâmicos, familiares, sociais, ou mesmo econômicos que podem interferir em suas decisões, sejam estes conflitos permanentes ou situacionais em sua vida. Como já afirmamos, o processo de OV “deve levar em conta o indivíduo como um todo e considerar o meio social que vive” e “entre os aspectos individuais, incluem-se processos cognitivos e afetivos, estruturais e dinâmicos da personalidade” (Nascimento, 2004, 32). Ou seja, a OV trabalha com as pessoas a partir de uma visão holística, de conhecimentos pluralistas e multidimensionais. Embora a OV possa ser oferecida a pessoas de todas as idades e em contextos variados, quem mais a procura são os adolescentes. Este fato implica em ter que lidar freqüentemente também com as angústias próprias desta fase da vida neste processo (Nascimento, 2004).
O orientador tem um papel ativo, e o processo tem poucas regras fixas,determinadas, especialmente no atendimento individual. Diversos profissionais que trabalham na área consideram a entrevista um instrumento privilegiado neste processo. Este privilégio tem a ver com a história da OV, construída paralelamente à da Psicologia, que foi dando ênfase à entrevista psicológica, em detrimento ao uso dos testes psicológicos. Devemos considerar ainda que a OV foi ganhando um espaço de destaque na área da Psicologia e além de mostrar sua importância para as pessoas que dela necessitam, construiu um campo de conhecimentos complexos, pois o avanço trouxe uma contribuição mais profunda do processo da escolha, que vai além das questões acadêmicas, profissionais e econômicas. Este trabalho, de duração limitada, deve levar a pessoa a analisar a interação de diversos elementos de sua vida, compreender em que estes aspectos interferem em sua escolha e quais os conflitos que desencadeiam as dificuldades para escolher um curso ou uma profissão.
A OV faz interface com a psicanálise e esta teoria pode contribuir para compreensão das escolhas. Freud fez a conexão entre a pulsão e o desempenho profissional, utilizando-se do conceito de sublimação nas obras de 1905, 1910 e 1915 (Freud, 1905/1994; 1910/1994; 1915/1994) e Bohoslavsky (1971/1977) fez a conexão entre a profissão e a reparação, conceitos fundamentados na teoria de M. Klein, temas que não vamos discorrer por não se tratar do objetivo deste trabalho (idéias a este respeito podem ser encontradas em Nascimento, 1995). A partir destes conceitos teóricos podemos compreender os aspectos dos processos de escolha cujo significado do objeto de uma opção profissional tem um sentido pessoal e profundo. De acordo com a psicanálise também podemos compreender escolhas cujo conflito centra-se na dinâmica intrapsíquica, como por exemplo, entre o id e superego, ou quando os mecanismos de defesa não estão sendo suficientes para elaborar determinados conflitos da esfera inconsciente e a ansiedade evidencia-se em um processo de escolha de profissão. Diversos outros processos e conflitos também podem estar na origem das escolhas profissionais, da mesma forma que se manifestam nos demais aspectos das vivências pessoais.
Mais uma perspectiva de muita importância a considerar é que as escolhas não são construídas em um determinado momento, mas sim na história objetiva e subjetiva de cada um, ao longo da vida de uma pessoa, a partir de uma série de experiências cognitivas (sua escolaridade, tarefas que desempenha, etc.) e afetivas (relacionamentos familiares, sociais), identificações com figuras parentais, com os pares, com figuras idealizadas, além de toda uma construção e internalização dos valores transmitidos nas diversas etapas de sua vida. Apenas para esclarecer, a historicidade da escolha da profissão pode ser encontrada em textos de orientação teóricas diversas e por vezes contrárias, tais como na teoria desenvolvimentista de Donald E. Super (Super & Bohn , 1972), bem como na teoria sócio-histórica, tal como proposta por Ana Bock e Wanda M. de Aguiar (1995) e Silvio Bock (2002) e na proposta fundamentada na psicanálise, que referencia nosso trabalho e que se encontra em Nascimento (1995, 2004).
As várias experiências interagem de forma única e dinâmica em cada pessoa, em relação com uma dinâmica e estrutura de personalidade de forma não linear, construindo uma identidade vocacional. Esta identidade vocacional faz parte da identidade do indivíduo como um todo, que está em pleno processo de formação na adolescência, etapa da vida em que a maioria das pessoas procura a orientação. O processo de OV a ser apresentado acompanha esta referência conceitual a respeito da escolha profissional. Neste processo, não diretivo, cabe ao psicólogo compreender a dinâmica da escolha e compete ao indivíduo tomar suas decisões.
 
O Processo de Orientação Vocacional
Para realizar este trabalho, temos que escolher, inicialmente, um referencial teórico e desenvolver uma estratégia de atendimento coerente com ele. Temos resistido a apresentar estratégias e formas de atendimento com receio de cristalizá-las e torná-las mecânicas. Contudo, algumas diretrizes têm sido utilizadas e já foram apresentadas pela autora (Nascimento, 1999, 2004), propondo algumas fases, a ser melhor definidas em cada atendimento, mas quase sempre presentes em um processo. O primeiro momento refere-se ao autoconhecimento, com o foco na escolha da carreira, mas tomando o indivíduo como um todo. Nesta etapa, o psicólogo deve colaborar para que o orientando possa desenvolver o máximo conhecimento possível relativo a suas características, projeto de vida e integrar este conhecimento com seu processo de escolha de profissão. Em um segundo momento, deve-se introduzir a informação sobre as profissões e por último, um momento de finalização, em que os conhecimentos desenvolvidos nas duas primeiras etapas devem ser integrados pelo orientando, com uma fundamental contribuição do orientador. Devemos salientar que estas 3 etapas não ocorrem obrigatoriamente e, quando ocorrem, não é necessariamente nesta ordem. Quanto ao número de sessões, costumamos trabalhar no processo individual com cerca de 10 sessões de 50 minutos. Este processo pode incluir ou não a aplicação de algum teste psicológico.
 
Os Testes Psicológicos e a Avaliação Psicológica 
Como afirma Gislene Macedo,
Discutir sobre as muitas questões que envolvem os testes psicológicos no Brasil é, de certa forma, discutir o eixo estrutural da Psicologia como ciência e profissão. Ao longo dos anos, a Psicologia foi-se legitimando como ciência em função da sua capacidade de descrever, prever e explicar comportamentos. A Psicologia não se resume a esse tipo de constructo. Sua episteme é muito mais complexa e diversificada. No entanto, no curso da história do conhecimento, a criação de instrumentos para avaliar os aspectos psicológicos de um sujeito veio corroborar essa visão de ciência comprobatória e abrir espaço e credibilidade para a Psicologia em suas intervenções. (2004, p. 7)
No início, o modelo do diagnóstico psicológico privilegiava atividades predominantemente classificatórias, centralizando suas conclusões sobre os resultados dos testes e não em uma apreensão integrada da pessoa. Esta visão apoiava-se no modelo médico-psicopatológico (Plaza, 1989) mais do que em uma abordagem integrada e dinâmica do indivíduo, em todas as suas dimensões. Ao se realizar um trabalho com uma proposta mais objetiva, deixavam-se de lado as relações do psicólogo e do cliente, bem como tratavam da aplicação de testes dando pouca atenção ao contexto em que ocorria. Apesar de existirem textos desta época nos quais já foi analisada a relevância de se considerar a entrevista, bem como as relações transferenciais e contra-transferenciais na avaliação psicológica, como é o caso, por exemplo, de Roy Schaffer, em seu livro de 1954 sobre o método de Rorschach, na orientação vocacional, predominou um tipo de atendimento no início, que Bohoslavsky (1971/1977) denominou de modalidade estatística, muito semelhante ao modelo classificatório do psicodiagnóstico.
No entanto, nas décadas de 70 e 80, este modelo passou a ser questionado, em decorrência dos debates a respeito do uso dos testes psicológicos, que ocorreram nos anos 60, 70 ou 80, década que foi distinta nos diversos países envolvidos com estas críticas. Podemos encontrar artigos com temas relativos ao questionamento a respeito dos testes em diversas comunicações da International Test Commission (ITC), ou no Journal of Personality Assessment principalmente das décadas de 70, 80 e 90). Como exemplo, podemos citar a pesquisa internacional de Poortinga (1979) justamente com um levantamento a respeito dos questionamentos referentes ao uso dos testes em diversos países publicada no Newsletter of the International Test Commission. No Journal of Personality Assessment podemos localizar diversas referências sobre este assunto, tais como, os artigos de Weiner (1972, 1983) nos quais discorre sobre o futuro do psicodiagnóstico.No primeiro deles, são evidenciadas as críticas de algumas correntes teóricas da Psicologia em relação aos testes, e o autor, um clínico que se utiliza bastante da avaliação psicológica, apresenta seus argumentos a favor desta atividade, e no segundo texto (1983), sua preocupação foi demonstrar que apesar das críticas da década anterior, o uso da avaliação psicológica continuava como uma atividade importante no campo da Psicologia. Outro artigo, publicado no Journal of Personality Assessment, é de Wade, Baker, Morton e Baker (1978), onde os autores apresentam o resultado de uma pesquisa em que levantam a freqüência em que os testes continuavam a ser utilizados ou indicados por psicólogos dos Estados Unidos, e o levantamento foi realizado levando em conta as áreas da Psicologia em que estes profissionais atuavam.
Esta discussão levou a uma mudança no paradigma e a um declínio do uso dos testes. Com isto, a entrevista ganhou grande espaço na Psicologia. Esta perspectiva mais recente, também abriu espaço para a avaliação psicológica como um trabalho dinâmico e integrador da pessoa, bem como da pessoa em situação. Para realizá-la não é obrigatório o uso de testes psicológicos. Estes são instrumentos auxiliares da avaliação. Os testes são utilizados quando precisamos de material fidedigno, passível de reaplicação, que chegue a conclusões confiáveis em curto espaço de tempo para tomarmos decisões. Como já afirmamos,
os testes psicológicos são procedimentos sistemáticos de coleta de informações que municiam o processo amplo e complexo de avaliação psicológica, com dados úteis e confiáveis. Existem várias formas de se obter informações tais como a observação direta, entrevistas, análise de documentos, e a testagem propriamente dita. Fica claro, então, que os testes psicológicos são uma das formas possíveis de se obter informações sobre as pessoas durante a Avaliação Psicológica. (Primi, Nascimento & Souza, 2004, p. 21).
Acreditamos, portanto, que podemos realizar avaliações psicológicas sem o uso de testes psicológicos, mas muitas vezes necessitamos de produção que vá além da entrevista. Como encontramos nas considerações iniciais da resolução 07/2003 do Conselho Federal de Psicologia (CFP).(Conselho Federal de Psicologia, 2003).
A avaliação psicológica é entendida como o processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas &– métodos, técnicas e instrumentos. (Conselho Federal de Psicologia, 2003).
A avaliação psicológica do mesmo modo que a OV deve apoiar-se em conceitos referenciados em teorias psicológicas e não deve ser nunca realizada de forma mecânica, mas sempre levar em conta o caso individual, bem como o meio cultural em que está inserido. Não se deve nunca realizar uma interpretação de um teste de modo rígido, desconsiderando o singular de uma pessoa. Não podemos utilizar os dados numéricos como um padrão onde todos se encaixam, sem considerar as peculiaridades do caso. Como diz Weiner (2000), devemos também considerar em que as pessoas se parecem entre si, quanto observar em que se diferenciam umas das outras.
Testes Vocacionais
Considerando-se os paradigmas da OV no Brasil, os testes foram, em determinado momento, praticamente abolidos do processo de orientação. A entrevista passou a ser o instrumento privilegiado, e aos antigos instrumentos utilizados para o “teste vocacional” restaram a desvalorização e o ostracismo. Pudemos acompanhar estas mudanças em nossa história profissional, mas também o declínio do uso dos testes em OV pode ser evidenciado pelo reduzido número de testes psicológicos específicos para a área, que chegaram ao CFP para serem avaliados de acordo com a Resolução CFP N.º 02/2003, que define e normatiza o uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos instituída devido a, dentre outros motivos, pela
necessidade de aprimorar os instrumentos e procedimentos técnicos de trabalho dos psicólogos e de revisão periódica das condições dos métodos e técnicas utilizados na avaliação psicológica, com o objetivo de garantir serviços com qualidade técnica e ética à população usuária desses serviços.(Conselho Federal de Psicologia, 2003).
Esta avaliação faz considerações a respeito dos critérios de validade, precisão e normas, que levem em conta estudos recentes dos testes. As informações a respeito da situação dos testes em relação aos critérios estabelecidos encontram-se no Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI), hospedado no site referido acima.
Entre os testes recebidos, com indicação específica para a OV encontramos os seguintes: BBT-BR Masculino (Teste de Fotos de Profissão) (Achtnich, 1991; Jacquemin, 2000); BBT-BR Feminino (Teste de Fotos de Profissão) ) (Achtnich, 1991; www.pol.org.br/satepsi); EMEP &– Escala de maturidade para a escolha profissional (Neiva, 1999); Quati (Zacharias, 2003), que foram considerados favoráveis. O Inventário de interesses Kuder (Kuder, s.d.), Inventário de Interesses de L.L. Thurstone (Thurstone, Angelini, & Angelini, 2002), a Bateria Fatorial CEPA (Centro Editor de Psicologia Aplicada, 2002 a), Bateria de testes de Aptidões Gerais II (BTAG II) (Centro Editor de Psicologia Aplicada, 2002 b), entre outros, foram considerados desfavoráveis. Gostaria de salientar que a conhecida bateria de habilidades DAT (Bennett, Seashore & Wesman, 2001) não foi apresentada para avaliação pelo editor. Os psicólogos com muitos anos de experiência profissional também irão notar que antigos instrumentos de interesses profissionais foram considerados desfavoráveis. Um dos grandes motivos para esta condição é que pesquisas com tais instrumentos não foram mais desenvolvidas, tornando-os obsoletos e a ausência de pesquisas talvez possa ser atribuída à pouca importância que se estava dando aos testes, o que se tornou um círculo vicioso. Encontramos um artigo recente sobre o tema, a saber, Análise de instrumentos de avaliação de interesses profissionais (Noronha, 2003).
No entanto, podemos observar que testes para OV continuam a ser publicados no exterior, como podemos encontrar,entre outros, a versão atualizada do DAT (DAT 5) (Bennet, Seashore & Wesman, 2005), ou o VPI (Vocational Preference Inventory) (Holland, citado por PAR, 2006). Cabe também citar que no Brasil, novos instrumentos estão em construção, como é o caso de uma técnica projetiva com fotos, específico para OV apresentado em tese de doutorado (Barros, 2004) e novas pesquisas estão em andamento para adaptação de novos testes para a realidade brasileira ou atualização de antigos instrumentos já utilizados no Brasil, como é o caso do BTAG II, de acordo com informações do CFP (Conselho Federal de Psicologia, 2007), embora os testes ainda não estejam aprovados e publicados. Esta condição pode indicar que alguma mudança esteja ocorrendo com relação ao uso dos testes em OV.
Apesar de serem poucos os instrumentos específicos para a OV disponíveis no momento, podemos incluir alguns testes atuais que são favoráveis, cuja finalidade não é exclusiva para a OV, mas por seus objetivos podem ser incluídos neste processo. Entre eles, podemos citar o BPR-5 (Bateria de Provas de Raciocínio - Formas A e B) (Almeida & Primi, 2000). E mais, para a finalidade da nossa prática profissional, pode-se incluir qualquer teste psicológico. Não precisamos ficar presos apenas aos testes específicos à OV, mas diversos testes podem ser utilizados em uma OV, dependendo do propósito da avaliação e da sua indicação. Entre estes, podemos incluir as escalas Wechsler (WISC ou WAIS) (Wechsler, 2002, 2004), ou qualquer outro teste de inteligência (desde que válidos) e mais os de personalidade, como o TAT (Murray, 1943/2005), HTP (Buck, 2003), Rorschach (1921/2006) entre outros.
O teste na Orientação Vocacional. Por que não?
Retomando o que dissemos anteriormente, nosso instrumento privilegiado é a entrevista. Na OV ela proporciona

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