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Historia moderna seculo XVII ao XVIII

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História Moderna 
Século XVII e XVIII
História Moderna 
Século XVII e XVIII
 1 O Século XVII .......................................................................1
 2 Revolução Inglesa: Antecedentes ........................................15
 3 A Revolução Inglesa ............................................................31
 4 Antecedentes da Revolução Industrial .................................47
 5 Desdobramentos e Implicações da Revolução Industrial .......60
 6 Antecedentes da Revolução Científica .................................71
 7 Aspectos Principais da Revolução Científica .........................86
 8 O Iluminismo: a Filosofia Militante ......................................98
 9 O Iluminismo: Um Projeto Inacabado ................................108
 10 O “Despotismo Esclarecido” e Alterações na Europa 
do Século XVIII .................................................................118
Sumário
O Século XVII
Regina Maria Gonçalves Curtis
Capítulo 1
2 História Moderna Século XVII e XVIII
O século XVII foi marcado, entre outros aspectos, por uma cri-
se geral que afetou a maior parte do continente europeu. Nes-
te capítulo, pretendemos trazer para o leitor um panorama do 
que teria sido essa crise na visão de quatro diferentes autores. 
Após a exposição da referida crise, faremos uma breve síntese 
da realidade socioeconômica da Inglaterra. Nosso objetivo é 
aproximar o leitor do contexto histórico em que o processo 
revolucionário inglês foi detonado. Para além das inúmeras 
controvérsias existentes na historiografia a respeito da crise do 
século XVII, esta é tida como o último momento da transição 
feudalismo-capitalismo, passada a grande expansão ocorrida 
no século anterior
UM MUNDO EM CRISE – Suzanne Pillorget
Suzanne Pillorget inicia seu texto destacando o papel incenti-
vador às atividades comerciais, e consequentemente a todas 
as atividades econômicas, exercida pelas grandes descobertas 
no decorrer do século XVI ao revelarem a existência de jazigos 
de metais preciosos. Ressalta ainda que em uma época de 
pobreza dos meios de pagamento e dos instrumentos de crédi-
to, essas descobertas teriam sido fundamentais no sentido de 
evitar a estagnação econômica que se vislumbrava. Segundo 
a autora, graças a esse grande empreendimento que foram as 
navegações, e principalmente ao espírito de iniciativa dos ho-
mens que souberam aproveitar os seus resultados, o século XVI 
configurou-se enquanto uma época de expansão econômica, 
de alta dos preços e da produção.
Capítulo 1 O Século XVII 3
Contrastando com a realidade acima descrita o século 
XVII, para a autora, ao contrário, teria sido um período mais 
débil do ponto de vista econômico. Ela comenta, inclusive, 
um relativo afrouxamento da produção de metais preciosos: 
as minas da América começaram, ao que parece, dar sinais de 
esgotamento. (MARQUES, BERUTTI e FARIA, p. 131).
Pillorget destaca, ainda, que mesmo que a quantidade ex-
traída de metais continue aumentando, a mesma já não cor-
responderia às necessidades de uma economia européia que 
demandava um volume maior de numerários.
A partir de 1600, pode-se verificar uma baixa nos preços, a 
qual irá se aprofundar, principalmente entre 1620 e 1630, re-
sultando em uma conjuntura internacional bastante frágil. Esta 
se reflete em um longo período de recessão na Europa e no 
restante do mundo, a qual irá durar mais de 100 anos, aden-
trando em alguns países pelo primeiro terço do século XVIII.
Segundo Pillorget, a debilidade econômica da economia 
europeia e mundial descrita só iria ser revertida a partir do sé-
culo XVIII quando se deu a entrada maciça ao mercado mun-
dial de novas quantidades de metal precioso. Estes oriundos, 
principalmente, de Moçambique e depois do Brasil.
Em síntese, para a autora, o declínio da produção metálica 
americana no decorrer do século XVII teria sido o fator pre-
ponderante da crise deste século. Crise esta superada, como 
foi exposto acima, a partir do século XVIII quando a economia 
européia teria conseguido retomar seu crescimento.
4 História Moderna Século XVII e XVIII
A CRISE GERAL DA ECONOMIA EUROPEIA NO 
SÉCULO XVII – Eric Hobsbawm
Tendo como principal objetivo expor as provas que demons-
trariam a existência de uma crise geral no decorrer do século 
XVII, assim como uma explicação para a mesma, Hobsbawm 
inicia seu texto destacando que diferentemente das crises que 
precederam a crise do século XVII, esta teria levado à solução 
dos problemas que haviam se apresentado anteriormente ao 
mundo capitalista.
Interessante destacar que Hobsbawm estabelece uma dis-
tinção entre crise geral e regressão econômica, uma vez que 
a ideia que ambas representariam a mesma coisa teria estado 
presente em toda a discussão sobre a “crise feudal” dos sé-
culos XIV e XV. De fato, o que o autor irá demonstrar é que, 
se determinadas regiões viveram uma regressão econômica, 
outras, ao contrário, até mesmo desenvolveram-se no decorrer 
do século XVII.
Quanto às regiões apontadas por Hobsbawm que teriam 
vivido um processo de estagnação, cabe destacar, em primeiro 
lugar, o fato do Mediterrâneo pela primeira vez na história ter 
deixado de ser o centro mais importante de influência econô-
mica e política, tendo se transformado em um mar estagnado 
e empobrecido. Outras regiões que teriam sofrido esse revés, 
segundo o autor, seriam as potências ibéricas, a Itália, a Tur-
quia, a Alemanha, assim como a Polônia báltica, a Dinamar-
ca e a Hansa. Por outro lado, as potências marítimas e suas 
dependências – Inglaterra, Províncias Unidas, Suécia – assim 
como a Rússia e outras regiões menores como a Suiça pare-
ciam se desenvolver ao invés de estagnar.
Capítulo 1 O Século XVII 5
Hobsbawm destaca ainda que, durante algumas décadas, 
em meados do século, os lucros obtidos no Atlântico talvez 
não tivessem sido suficientes para compensar os prejuízos no 
Mediterrâneo, Europa Central e Báltico, cuja produção encon-
trava-se estagnada ou até mesmo em declínio. Porém, para o 
autor, o mais importante seria o avanço significativo verificado 
no progresso do capitalismo.
O autor segue sua tese referente à crise do século XVII 
fazendo uma radiografia das áreas que teriam tido um avan-
ço e as que teriam regredido do ponto de vista comercial e 
industrial.
Quanto à realidade política do século XVII, Hobsbawm faz 
uma observação afirmando que, nesse aspecto, este século, 
ao invés de apresentar dificuldade, conseguiu sobrepor-se. Na 
verdade, uma referência direta ao Absolutismo, o qual teria 
representado uma forma de governo eficiente e estável, desta-
cando que as únicas exceções teriam sido as potências maríti-
mas as quais estariam vivendo seus regimes burgueses.
Cabe destacar ainda a posição desse autor quanto ao pa-
pel da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) em relação à cri-
se. Se é comum encontrarmos na historiografia uma visão de 
que a crise geral teria sido resultado, sobretudo, da Guerra 
dos Trinta Anos, Hobsbawm segue uma outra linha argumen-
tando que a crise teria afetado várias regiões da Europa que 
não haviam sido devastadas por esse conflito.
Dos aspectos da crise mais importantes destacados por Ho-
bsbawm, encontramos a seguinte afirmação do autor:
6 História Moderna Século XVII e XVIII
A expansão econômica se verificou dentro de um quadro so-
cial que não era ainda suficientemente forte para eclodir e, de 
certa forma, adaptou-se mais a esse quadro que ao mundo do 
capitalismo moderno. (MARQUES, BERUTTI e FARIA, p. 135).
A TEORIA DA REVOLUÇÃO GERAL NA EUROPA 
DO SÉCULO XVII – A. D. Lublinskaya
Lublinskaya começa a expor sua posição acerca da crise do 
século XVII afirmando que os países que viveram um ritmo ace-
lerado para o capitalismo, como a Holanda e a Inglaterra, 
acabaram tambémaumentando sua força política.
Já a França, para a autora, se encontrava em uma posição 
diferente, decorrente, entre outros fatores, das guerras civis do 
século XVI. Lá o capitalismo comercial e industrial não teria 
conseguido deslanchar como nos países acima referidos.
Outros fatores apontados pela autora limitadores do de-
senvolvimento do capitalismo nesse país seria a oposição po-
lítica da aristocracia feudal às tendências centralizadores do 
absolutismo. Mesmo as forças progressistas, a burguesia e as 
massas populares, tendo um papel significativo ao apoiar o 
governo em sua luta contra as tendências separatistas e rea-
cionárias, havia o problema da realidade cotidiana impedindo 
a estabilidade política e, portanto, de uma realidade desfavo-
rável ao desenvolvimento do capitalismo. Entre eles, a autora 
faz referência a guerras civis, às insurreições dos huguenotes 
e os levantes populares, sem contar a fragilidade econômica 
que levou a Fazenda a se encontrar em uma situação crítica. 
Nesse momento, a autora, divergindo de Hobsbawm, nos aler-
Capítulo 1 O Século XVII 7
ta para o fato de que um dos fatores que explica o porquê do 
governo não conseguir dar conta da situação acima descrita 
seriam os inúmeros gastos que o mesmo vinha arcando ao 
investir recursos nas guerras civis e para a Guerra dos Trinta 
Anos.
Lublinskaya se utiliza de um método comparativo analisan-
do o desenvolvimento do capitalismo na França ao mesmo 
tempo que examina a situação econômica da Europa em geral.
Novamente, referindo-se à Inglaterra e à Holanda em re-
lação à França, a autora chama a atenção para o fato de que 
essas três nações caminhavam para a sociedade burguesa a 
um ritmo bastante diferente. Ao comparar a economia desses 
países, Lublinskaya destaca as fragilidades da indústria capi-
talista francesa. Por exemplo, a autora destaca que a divisão 
do trabalho das manufaturas francesas estão longe das que 
existem nas manufaturas holandesas e inglesas, sem falar no 
nível insuficiente dos trabalhadores qualificados franceses.
Quanto ao papel do Estado, Lublinskaya destaca que suas 
subvenções, que seriam indispensáveis nessa época, eram 
ocasionais e muito modestas, com uma acumulação de capital 
limitada, deixando a França à margem da exploração direta 
das colônias. Afora essa debilidade da economia francesa, a 
autora ainda destaca o fato de que a navegação e o comércio 
oceânico desse país se apresentava atrasado quando compa-
rado à realidade holandesa e inglesa.
Todas as diferenças apontadas levam Lublinskaya a criticar 
a teoria da crise geral do século XVII e da crise do capitalismo 
em particular. Diferentemente dos autores que sublinham mais 
8 História Moderna Século XVII e XVIII
o ritmo lento do processo de desenvolvimento do capitalismo, 
a autora afirma que as dificuldades enfrentadas nessa época 
pelo capitalismo europeu não devem ser consideradas como 
crise de produção e de vendas. Procedem da natureza mesma 
do sistema capitalista em seu início, isto é, na época das manu-
faturas. (MARQUES, BERUTTI e FARIA, p. 139).
Sendo assim, segundo Lublinskaya, não seria uma crise da 
produção capitalista a que teria ocorrido no século XVII, mas 
sim uma luta econômica e política entre os países em que o 
capitalismo estaria se desenvolvendo de maneira desigual.
Enfim, propondo uma outra abordagem para a crise do sé-
culo XVII, Lublinskaya nos adverte para os perigos de se gene-
ralizar as análises dessa crise. Para ela, é preciso, em primeiro 
lugar, levar em consideração as inúmeras especificidades de 
cada país, citando, como exemplo, a Inglaterra, a Holanda 
e a França. Enquanto na Inglaterra e na Holanda o ritmo da 
transição para o capitalismo fora mais rápido, na França, a 
aristocracia ao dirigir e influenciar os negócios teria represen-
tado um entrave para a passagem ao capitalismo.
A CRISE GERAL DO SÉCULO XVII – H. R. Trevor-
Roper
Bastante crítico das abordagens marxistas acerca da crise do 
século XVII, Trevor-Roper afirma que a perspectiva do materia-
lismo histórico estaria equivocada, entre outros aspectos, ao 
destacar que a passagem final do feudalismo ao capitalismo 
teria que necessariamente se produzir de forma violenta e re-
volucionária.
Capítulo 1 O Século XVII 9
Para Trevor-Roper, embora geral, na Europa Ocidental, a 
crise do século XVII não seria uma mera crise constitucional, 
tampouco como afirmam os marxistas uma crise de produção, 
mas sim uma crise nas relações entre Sociedade e Estado. Se-
gundo o autor, no século XVII as cortes renascentistas já tinham 
ficado tão grandes, tinham consumido tanto em ‘desperdício’, 
e tinham permitido que seus parasitas penetrassem tão profun-
damente na sociedade que só podiam florescer durante um 
tempo limitado – um tempo também de prosperidade geral em 
expansão. (MARQUES, BERUTTI e FARIA, p. 142).
Enfim, para Trevor-Roper, quando toda essa prosperidade 
fracassou, o Estado acabou entrando em falência e caindo jun-
to. Utilizando-se também de uma metodologia comparativa, o 
autor afirma que, diferentemente da França, que pode contar 
com a habilidade e flexibilidade de seus ministros Richelieu e 
Mazarino, a Inglaterra em sua intransigência representada pela 
irresponsabilidade e violência de figuras como Buckingham e 
Strafford, teria sido mais drasticamente atingida por essa crise 
entre o Estado e a Sociedade, o que terminou culminando com 
a derrubada violenta de sua Monarquia Absolutista.
O CONTEXTO SÓCIOECONÔMICO DO 
SÉCULO XVII
A partir de agora, iremos expor um breve panorama da realida-
de sócioeconômica que, segundo Paulo Miceli, pode servir para 
retratar tanto a realidade inglesa do século XVII, isto é, no perí-
odo pré-revolucionário inglês, quanto a realidade francesa do 
século XVIII, palco em que irá se realizar a Revolução Francesa.
10 História Moderna Século XVII e XVIII
Após destacar que no campo a vida era feita de rotinas 
muito antigas, o autor nos remete para a antiguidade também 
dos processos para plantar e cuidar dos vegetais, dos proce-
dimentos para domesticar os animais, dos instrumentos utiliza-
dos para aumentar ou substituir a força de trabalho humana, e 
principalmente da incapacidade da agricultura em produzir o 
suficiente para alimentar as bocas que dela dependiam.
Nessa época, a base da alimentação residia no consumo 
de vegetais, principalmente os grãos: trigo, cevada, aveia, 
centeio e arroz. A carne na dieta era tão rara que se fala até 
mesmo em vegetarianismo forçado, mesmo porque os preços 
de outros alimentos eram altíssimos quando comparados ao 
preço dos cereais. O cultivo destes, fundamentalmente o trigo, 
dependia diretamente do adubo, o que acabava por estimular 
a criação de animais, os quais eram utilizados para auxiliar 
nos trabalho de preparação do solo.
Pode-se falar nesse contexto da predominância de uma 
vida agrícola com uma população rural em torno de 80 a 
90%, estimativa que cabe não somente para a realidade ingle-
sa do século XVII, mas a toda a população mundial.
A fome era uma constante, pois, apesar dessa imensa 
maioria de população que trabalhava no campo, o alimento 
era escasso e muito caro. Evidentemente, os ricos eram con-
siderados uma exceção em relação a essa realidade. Mesmo 
constantemente afetada pela fome, a cidade, por guardar as 
reservas de alimentos em seus armazéns não era tão castigada 
quanto o campo.
Capítulo 1 O Século XVII 11
Essa escassez terminava por empurrar os camponeses para 
as cidades, onde muitas vezes, ao invés de melhorarem sua 
condição, acabavam por cair na mendicância.
Paulo Miceli nos afirma que já no século XVI esses pobres 
transformaram-se em problema público, levando no século 
XVII a se tomar uma série de medidas de modo a evitar algum 
“mal” que aqueles viessem a cometer. Como nos afirma oautor:
Os doentes e inválidos eram conduzidos aos hospitais, en-
quanto os válidos, acorrentados dois a dois, faziam a limpeza 
de esgotos ou, mais tarde, eram submetidos ao trabalho força-
do nas semiprisões chamadas ‘Casas de Trabalho’. Com isso 
- controlando-os até a morte - procurava-se reduzir os efeitos 
da multiplicação dos pobres e do crescimento da miséria. (MI-
CELI, p. 06).
Afora tudo isso, havia ainda as doenças, as quais acaba-
vam por ajudar a equilibrar o número de bocas e o alimento 
escasso, as ofertas de emprego e os braços para o trabalho.
Más colheitas era sinônimo de fome, a qual geralmente era 
seguida de epidemias. Tal realidade resultava em uma expec-
tativa de vida muito curta. Em certas regiões da França, como 
Beauvois, em que mais de um terço das crianças morria antes 
de completar 1 ano de idade, apenas 58% das pessoas che-
gavam aos 15 anos e a esperança média de vida era pouco 
superior a 20 anos.
A partir do desenvolvimento do capitalismo, um novo equi-
líbrio de forças sociais começa a surgir. Entre as consequências 
12 História Moderna Século XVII e XVIII
resultantes dessa nova realidade socioeconômica, assiste-se a 
violenta expulsão de milhares de camponeses de suas terras. 
Tal fenômeno ocorrerá principalmente na Inglaterra onde par-
te da nobreza transformará suas terras em pastos para criação 
de ovelhas, cuja lã irá alimentar de matéria-prima e de lucros 
as primeiras indústrias têxteis inglesas. Trata-se do fenômeno 
conhecido por cercamentos (“enclousures”).
O PAPEL DAS PARÓQUIAS E A POBREZA
No decorrer do século XVI, a pobreza era tanta que a Monar-
quia recorreu às paróquias para a base de uma organização 
de socorros. Se em um primeiro momento os impostos cobra-
dos para ajudar os pobres era livre, conforme a disposição 
do contribuinte, conforme a situação se tornou mais caótica, 
os impostos passaram a ser obrigatórios. Cada paróquia era 
responsável pelos seus pobres. Assim, era proibido ao pedinte 
errar de aldeia em aldeia. As penas àqueles que desobede-
ciam iam desde a marcação de um V no ombro com um fer-
ro em brasa até a morte caso houvesse reincidência. Miceli, 
citando um trecho da obra História da Inglaterra de André 
Maurois nos coloca:
Uma paróquia não permitia que se instalassem no seu terri-
tório famílias indigentes cujos filhos poderiam ficar a seu cargo. 
Uma criança entregue a uma ama numa aldeia que não fos-
se a dos seus pais era, para evitar aborrecimentos ulteriores, 
imediatamente recambiada pelas autoridades à paróquia de 
origem. ‘Assim a aldeia de cada homem transformava-se na 
sua prisão. (MICELI, p. 08)
Capítulo 1 O Século XVII 13
A BEBIDA E A MORADIA DOS POBRES
Além de servir de complemento de uma dieta insuficiente, as 
bebidas cumpriam com a função de ajudar os pobres a esque-
cer suas mazelas do cotidiano. A água escassa e os alimentos 
uma raridade levavam essa massa de miseráveis a se atirarem 
ao consumo de bebidas alcoólicas. Quanto ao vinho, este era 
bebido em toda a parte, tornando-se inclusive artigo de expor-
tação para a América logo nos primeiros anos de coloniza-
ção. Enfim, o consumo de bebidas era tanto que a embriaguez 
transformou-se em outro problema público.
A cerveja e a sidra também eram consumidas, ainda que 
em menor quantidade que o vinho, este sim, campeão das 
preferências. De qualquer modo, independentemente de qual 
bebida, o fato é que o simples hábito de beber tornou-se um 
grande aliado para espantar as dores e fazer esquecer a misé-
ria do dia a dia, principalmente a fome.
Quanto às habitações, eram, na sua maioria, muito sim-
ples e de material muito frágil. No geral, eram construções de 
madeira, cobertas de palha, sem contar nos poucos e simples 
utensílios que cada habitação continha.
Tão precária quanto às casas eram as roupas dos cam-
poneses. Exceto as “roupas de festa”, que de tão raras eram 
transmitidas como herança, no geral eram bastante grosseiras, 
geralmente tecidas em casa. Somente com o passar dos anos 
surgiram as roupas de lã, abrigando assim um pouco melhor 
a multidão de pobres.
14 História Moderna Século XVII e XVIII
Para finalizarmos este capítulo, é preciso destacar que toda 
essa realidade aqui descrita quanto à dura vida dos campo-
neses teve como principal objetivo retratar o quadro geral e 
constante de miséria a que estavam submetidos os pobres, o 
que nos permite, em parte, compreender melhor porque as 
promessas de libertação puderam exercer tamanha influência 
ao ponto de torná-las o principal sustentáculo dos movimentos 
revolucionários, como, por exemplo, a Revolução Inglesa que 
passaremos a analisar no próximo capítulo.
Revolução Inglesa: 
Antecedentes
Regina Maria Gonçalves Curtis
Capítulo 2
16 História Moderna Século XVII e XVIII
Neste capítulo, procuraremos trazer para o leitor a realidade 
econômica e social da Inglaterra do período que antecede a 
Revolução Inglesa. Nosso objetivo será demonstrar que nesse 
país foram progressivamente surgindo as condições propícias 
para que ali, mais que em qualquer outra região da Europa, 
eclodisse um movimento revolucionário capaz de romper com 
as estruturas do Antigo Regime. Antes, porém, gostaríamos de 
destacar o papel exercido por essa Revolução para a história 
da civilização Ocidental. Segundo Arruda, ao constatarmos 
que esse processo revolucionário concretizou-se no século XVII, 
podemos concluir que essa foi a primeira revolução burguesa 
da nossa história. Inserida na “Era das Revoluções Burguesas” 
uma vez que, além de antecipar a Revolução Americana, e até 
mesmo a Revolução Francesa, acabou por definir o padrão de 
luta política revolucionária até o advento da “Era das Revo-
luções Proletárias”. Sua importância, segundo o autor, foi ter 
criado as condições necessárias para a implantação do capita-
lismo pleno, destravando as forças produtivas capitalistas, ace-
lerando, destarte, o processo revolucionário. (ARRUDA, p. 8)
Outro aspecto fundamental, levantado por Arruda, resi-
de na relação por ele estabelecida entre a Revolução Ingle-
sa e a Revolução Industrial. Para o autor, os dois fenômenos 
encontram-se tão profundamente relacionados ao ponto de 
podermos afirmar que uma foi condição para a outra. Desse 
modo, revolução sociopolítica – a Revolução Inglesa, e revo-
lução econômica – a Revolução Industrial, fazem parte de um 
mesmo processo, o de formação e consolidação do capitalis-
mo naquele país.
Capítulo 2 Revolução Inglesa: Antecedentes 17
A INGLATERRA NOS SÉCULOS XVI E XVII
O processo de acumulação primitiva de capital tão necessário 
para a Revolução Industrial se fez via circuito mercantil, o que 
levou os poderes públicos – o Estado Absolutista – a enfatiza-
rem a primazia da circulação das mercadorias em detrimento da 
produção. Desse modo, por meio de uma fortíssima intervenção 
estatal na economia, assistia-se ao enriquecimento progressivo 
de uma nova classe social: a burguesia. Cabe ainda destacar 
que mesmo sendo a atividade mercantil o elemento dinâmico do 
conjunto das atividades econômicas, a estrutura econômica ain-
da permanecia largamente dependente das atividades agrícolas, 
as quais se encontravam mais ou menos dinamizadas depen-
dendo do seu grau de relacionamento com a esfera mercantil.
Passemos agora a uma análise mais detalhada das prin-
cipais transformações ocorridas na base agrária, na base in-
dustrial e na base mercantil inglesa no decorrer dos séculos 
XVI e XVII.
TRANSFORMAÇÕES NA BASE AGRÁRIA
Segundo Arruda, podemos, resumidamente, apontar três gran-
des transformações que se processaram na estrutura agrária no 
decorrer do século XVI: mudança nas relações senhor-servo, o 
confisco dos bens dos mosteiros e das Igrejas e os cercamentos.
Transformações nas relações senhor-servo
Quanto às mudanças nas relações senhor-servo,o autor des-
taca aquela que fora fundamental para dinamizar a economia 
18 História Moderna Século XVII e XVIII
da época: as obrigações costumeiras e compulsórias dos ser-
vos para com o seu senhor foram comutadas, isto é, transfor-
madas em obrigações monetárias, permanecendo, portanto, 
o caráter essencialmente servil da relação. Em outros casos, a 
ruptura da relação resultou em novos tipos de relacionamento, 
como contratuais, por exemplo. Somente nas áreas em que 
a produção agrícola sente mais intensamente a proximidade 
do mercado mundial é que a estrutura da produção agríco-
la tende para o arrendamento das terras a empresários que 
investem capital na agricultura. O autor destaca ainda que, 
de um modo geral, a estrutura da produção tende a autossu-
ficiência. Como consequência, não se instala a divisão social 
da produção, uma vez que os produtores não se transformam 
em consumidores, o que resulta um entrave insuperável para a 
economia mercantil, cuja expansão se encontra limitada pela 
estrutura ainda feudal da economia rural.
Nos pontos em que houve a interpenetração da economia 
agrícola e a economia mercantil, a terra passará a ser arren-
dada a capitalistas. Estes irão trazer para o campo e para a 
agricultura o capital obtido nas cidades e o modo capitalista de 
produção já desenvolvido na economia urbana. Essa entrada 
de capitais na agricultura irá se processar inicialmente em de-
terminados ramos da produção como a pecuária, fundamen-
talmente a ovinocultura que tem por produto principal a lã.
Para pôr fim às relações feudais, era necessário também 
eliminar os novos trabalhadores rurais que tendiam a apega-
rem-se à terra, dedicando-se às atividades de produção mar-
ginal que lhes proporcionavam a sua subsistência. Três formas 
foram utilizadas para eliminar esses rendeiros hereditários: ex-
Capítulo 2 Revolução Inglesa: Antecedentes 19
pulsando-os de suas posses, incorporando suas terras aos do-
mínios senhoriais; forçando-os a aceitar arrendamentos limi-
tados em substituição às posses vitalícias e terminando com os 
direitos comunais dos camponeses. Por fim uma outra forma 
de eliminar as relações servis decorria da própria necessidade 
de uma aristocracia decadente economicamente que vira na 
libertação dos servos uma fonte de renda segura.
Confisco de terras de mosteiros e das igrejas
Realizada pela monarquia inglesa entre 1536 e 1539 o confisco 
dos bens dos mosteiros e das igrejas contribuiu significativamente 
no processo de transformação da estrutura agrária na Inglaterra, 
tendo o Estado dado e vendido a maior parte das terras expro-
priadas. Beneficiaram-se deste processo os nobres e a gentry. 
Tal decisão do Estado que objetivava aumentar seus próprios 
recursos econômicos teve como principal resultado a expansão 
de terras disponíveis no mercado, dinamizando deste modo o 
processo de capitalização da agricultura inglesa. Entretanto, por 
outro lado acabou contribuindo para a ruptura das relações ser-
vis de produção na medida em que substituiu os antigos donos 
por novos proprietários integrados na produção para o mercado.
Cercamentos
Também conhecidos por enclousures, os cercamentos contri-
buíram decisivamente para o processo de transformação agrá-
ria inglesa.
Na Inglaterra, de um modo geral, as terras encontravam-se 
divididas em open fields e common lands. Os open fields eram 
20 História Moderna Século XVII e XVIII
campos abertos, não cercados, nos quais as propriedades se 
encontravam dispersas e mescladas, possuídas por proprietá-
rios com títulos individuais, o que tornava impossível cercá-las. 
O resultado era um modo coletivo de produção agrícola, pois 
o cultivo era decidido em uma assembléia da paróquia ou co-
munidade. Impedia-se dessa forma a divisão social da produ-
ção, inibindo assim o progresso técnico. Já os common lands, 
consistiam em uma propriedade coletiva. Formada por terras 
baldias, incultas e muitas vezes de pequena fertilidade, porém 
era um recurso constante para as populações mais pobres que 
nelas tinham o direito de levar seus animais para pastar, o 
direito de colher lenha e cortar madeira para a construção, o 
direito de pescar e o direito de colher turfa para a iluminação. 
Serão essas as terras que serão cercadas. Ao expulsar os cam-
poneses destas terras, para em seu lugar criar ovelhas e com 
isso fazer parte da recente indústria têxtil, os senhores estavam 
transformando a terra em mercadoria e criando as condições 
para a especialização da produção, a intensificação da divi-
são social do trabalho agrícola e consequentemente a pene-
tração mais intensa do capital no campo. Segundo Arruda, 
ao mesmo tempo em que restringia a quantidade de mão de 
obra necessária no campo, liberava a população rural, intensi-
ficando o êxodo que, por sua vez, resulta em infinita variedade 
de trabalhos marginais, criando um exército de reserva, para 
a composição dos exércitos mercenários ou para as ativida-
des manufatureiras. Como consequência, o Estado acabará 
tendo que intervir, pois a enorme quantidade de desemprega-
dos fará com que ele tenha que coibir a vagabundagem, ao 
mesmo tempo que tentará frear os processos dos cercamentos 
que acabaram por desestabilizar a estrutura social. Assim, a 
Capítulo 2 Revolução Inglesa: Antecedentes 21
monarquia inglesa continuava a ser um fator impeditivo do 
avanço dos cercamentos, entravando, desse modo, o desen-
volvimento do capitalismo na Inglaterra.
Arruda identifica ainda, na estrutura agrária inglesa, duas 
regiões bem distintas: o sul-leste e o norte-oeste. Na região 
norte-oeste, predominava a estrutura social arcaica e conser-
vadora, formada por grandes propriedades da monarquia, do 
clero-anglicano e da grande aristocracia inglesa. Com uma 
estrutura produtiva marcadamente feudal, cuja produção era 
destinada ao uso, não integrada, portanto, a economia de 
mercado. Já na região sul-leste, se encontravam os grandes 
proprietários aristocratas, a gentry, e mesmo os pequenos 
proprietários de terra livre ou arrendada. Estes, ao contrário, 
produziam para o mercado. Oriundos de diferentes estratos 
sociais, o que os unia era o ímpeto empreendedor: o investi-
mento capitalista na agricultura.
Para finalizar o quadro de alterações ocorridas na estrutura 
agrária da Inglaterra, cabe ressaltar a impulsão resultante do 
aumento acelerado dos preços ocorrida a partir da segunda 
metade do século XVI e início do século XVII. Como resultado, 
afirma Arruda:
[...] as rendas fixas se desvalorizaram prejudicando a no-
breza proprietária que havia arrendado suas terras a capitalis-
tas por longos prazos. Inversamente, os produtores, que des-
tinavam sua produção ao mercado, acumularam capitais que 
reinvestiram na agricultura ou aplicaram nas atividades manu-
fatureiras. (ARRUDA, p. 22)
22 História Moderna Século XVII e XVIII
TRANSFORMAÇÕES NA BASE INDUSTRIAL
Exceto as indústrias têxtil, mineral e de construção naval, todas 
as demais atividades industriais em meados do século XVI na 
Europa eram organizadas com base no trabalho de artesãos 
individuais. A partir da segunda metade do século XVI, o eixo 
dominante da produção industrial europeia que se estendia de 
Flandres até a Toscana começa a deslocar-se rumos aos Esta-
dos situados a noroeste da Europa, principalmente à Inglaterra.
É possível se considerar que a evolução da indústria inglesa 
foi lenta, mas firme desde a Baixa Idade Média. Entre os sécu-
los XIV e XV, assistimos a um deslocamento das indústrias em 
direção às zonas rurais, o que se explica em função de diversos 
fatores: a recessão agrícola dos séculos XIV e XV, a tendência 
à rápida difusão das máquinas hidráulicas e os altos salários 
impostos pelas corporações urbanas. Mesmo não produzindo 
tecidos de primeira qualidade, havia um amplo mercado con-
sumidor para elas,formado, principalmente pela população de 
mais poder aquisitivo, assim como pela nobreza empobrecida. 
Principal indústria inglesa, a produção de tecidos de lã era o 
próprio símbolo da prosperidade industrial da Inglaterra.
Quanto às formas básicas de organização social da pro-
dução, podemos agrupá-la em três: o artesanato, o mestre 
manufatureiro e o comerciante manufatureiro.
O artesanato que é constituído basicamente pela família 
do produtor. Nessa etapa, o artesão possui ainda todos os 
meios necessários à produção: a oficina, os instrumentos e 
a matéria prima. Independentemente, o produtor associa ao 
Capítulo 2 Revolução Inglesa: Antecedentes 23
mesmo tempo dois distintos modos de produção: o artesanato 
e agricultura, garantindo assim sua própria subsistência.
Já o mestre manufatureiro surge onde quer que a amplia-
ção do mercado exija o aceleramento da produção. O pro-
dutor ainda se mantém proprietário dos meios de produção, 
porém, agora, integra mão de obra assalariada, transforman-
do-se num pequeno empresário. Entretanto, a verdadeira tran-
sição revolucionária, irá ocorrer somente quando esse mestre 
manufatureiro se transformar em empresário capitalista na 
maquinofatura.
Quanto ao comerciante manufatureiro, este é um conhece-
dor do mercado, aplicando capital mercantil nos domínios da 
produção industrial. Se em um primeiro momento ele contenta-
-se em combinar as várias etapas da produção, remunerando 
o trabalho do artesão e mestres manufatureiros, permanecen-
do seu capital essencialmente mercantil, em uma etapa poste-
rior, irá açambarcar novos estágios da produção: a tecelagem, 
a fiação e a preparação da matéria-prima. Segundo Arruda:
À medida que o comerciante manufatureiro domina a pro-
dução, verifica-se um processo de endividamento dos produto-
res independentes, que acabam por perder seus instrumentos 
de produção, transformando-se em simples assalariados que 
conservam apenas a aparência de independência, garantida 
por seu estilo de vida ainda rural. (ARRUDA, p. 26)
Em relação aos obstáculos existentes ao desenvolvimento 
industrial na Inglaterra, destaca-se o papel limitador das regu-
lamentações impostas pelas corporações. Regulamentando a 
quantidade e a qualidade dos produtos, regulamentando pre-
24 História Moderna Século XVII e XVIII
ços e salários pagos aos jornaleiros (diaristas), estabelecendo 
normas rígidas para o acesso ao artesanato, impondo longos 
períodos de aprendizagem e a realização de uma obra- pri-
ma, as corporações acabaram levando aos novos chegados 
à atividade industrial a abandonar os centros tradicionais de 
produção industrial. Estes terminavam por se estabelecer em 
novas cidades não dominadas pelas corporações, mudando-
-se para os subúrbios ou ainda deslocando-se para as zonas 
rurais, onde encontravam certa abundância de mão de obra 
barata decorrente dos cercamentos. A monarquia, inglesa ao 
colaborar para a preservação desse tipo de estrutura produti-
va, ao limitar os cercamentos, terminava por impedir o avanço 
da produção industrial, inibindo assim o desenvolvimento do 
capitalismo na Inglaterra.
TRANSFORMAÇÕES NA BASE MERCANTIL
Até meados do século XVI, a Inglaterra exportava basicamente 
matérias-primas, cereais, madeira e, em menor escala, me-
tais e couro. Na segunda metade do século XVI essa estrutura 
mercantil irá sofrer uma transformação profunda. Enquanto as 
exportações de alimentos irão declinar, os tecidos irão se con-
verter no seu principal produto de exportação.
A partir do século XVI, decorrente de políticas protecionistas 
por parte do Estado inglês, bem como do papel primordial da 
criação das Companhias de Comércio privilegiadas, a produ-
ção industrial inglesa irá expandir-se consideravelmente. Po-
rém, se os monopólios comerciais e os monopólios industriais 
beneficiavam uma parcela reduzida da sociedade, gerando 
recursos para o Estado, por outro lado, acabava espoliando 
Capítulo 2 Revolução Inglesa: Antecedentes 25
uma larga parcela da população. Excluída dessas atividades, 
e pagando o ônus resultante dos monopólios, tais segmentos 
ficavam à margem das benesses que o capitalismo ia impondo 
na economia inglesa.
Após detalhar a realidade da estrutura econômica da In-
glaterra dos séculos XVI e XVII, passemos agora a uma descri-
ção de como se encontrava organizada sua estrutura social.
A ESTRUTURA SOCIAL INGLESA
Arruda chama a atenção, quanto a esse aspecto, para a di-
ficuldade de definirmos o caráter dessa sociedade na época 
Moderna. Vivendo em um período de transição entre o modo 
de produção feudal decadente e o modo de produção capita-
lista em ascensão, essa é uma sociedade marcadamente con-
traditória. Portanto, não podemos defini-la por uma simples 
projeção do esquema bipolar das relações de classe dominan-
te no capitalismo concorrencial. Como afirma o autor:
Os choques entre as três principais ordens sociais, clero, 
nobreza e terceiro estado, bem como os choques intraesta-
mentos, eram intensos. A marca desta sociedade é a extrema 
segmentação social, que potencializa o conflito de classes e 
mascara o perfil da estrutura social. (ARRUDA, p. 34)
NO CAMPO
Passemos então a uma descrição das camadas rurais, uma 
vez que se há consenso é quanto ao caráter profundamente 
agrário dessa sociedade. Esta se encontrava dividida em: aris-
tocracia, yeoman e a gentry.
26 História Moderna Século XVII e XVIII
A aristocracia, constituída pelos nobres de sangue, irá perma-
necer na dependência de suas propriedades territoriais, as quais 
se ampliaram seja pela compra ou usurpação das terras dos mos-
teiros quando da Reforma Anglicana (1534), seja como resultado 
dos cercamentos. É possível se falar de uma verdadeira crise da 
aristocracia, decorrente do declínio de suas riquezas em relação 
à gentry, do declínio de seu poder em homens, armas, castelos, 
o declínio de sua influência eleitoral em função de convicções 
religiosas e políticas arraigadas, assim como de vários outros fa-
tores que representam a crise desse segmento social. Entretanto, 
não podemos esquecer que, em determinados momentos, a aris-
tocracia beneficiou-se, como no início do século XVII quando a 
supervalorização das terras necessariamente ampliou os recursos 
econômicos dessa classe possuidora de terras e rendas agríco-
las. Enfim, se por um lado, a aristocracia conservadora de fato 
saiu prejudicada com o avanço do capitalismo, por outro lado, 
o segmento empreendedor dessa classe foi beneficiado com as 
novas impulsões advindas da dinâmica comercial. Isso é o que 
explica por que no decorrer do processo revolucionário inglês 
alguns nobres irão se posicionar ao lado do monarca absolutista, 
enquanto outros irão tomar posição ao lado do Parlamento, e 
muitos outros ainda permanecerão neutros.
Na base da sociedade agrária inglesa encontravam-se os 
yeomen. Como afirma Arruda, [...] uma espécie de ‘classe mé-
dia’ rural, extremamente numerosa, correspondendo a mais ou 
menos 1/6 da população inglesa nos inícios do século XVII. 
(ARRUDA, p. 37) Desse segmentos faziam parte os granjeiros, 
proprietários, lavradores, jornaleiros e até mesmo cavaleiros. 
Sua preocupação girava em torno da terra e dos interesses 
agrícolas. Sua condição variava em função do tipo de relação 
Capítulo 2 Revolução Inglesa: Antecedentes 27
que ela mantinha com a terra e com seus senhores imedia-
tos. Podemos falar da existência dos yeomen ascendente e dos 
yeomen declinante. Enquanto os primeiros eram constituídos 
daqueles com maiores posses, e que se encontravam em um 
processo de ascensão pela valorização das terras e de suas 
produções, a yeomanry declinante mantinha uma relação pre-
cária com a terra e explorava pequenas unidades agrícolas. 
Além disso, era pressionada pelos grandes proprietários que 
procuravam transformar seus direitosem arrendamentos, isso 
quando não era simplesmente excluída de suas posses e de 
seus direitos sobre as terras coletivas pelo fenômeno dos cer-
camentos. Se para a yeomanry ascendente a Revolução apa-
rece como uma possibilidade de ampliar suas propriedades e 
consolidar seus direitos sobre as posses vitalícias e hereditá-
rias, para os yeomen declinantes a Revolução representava a 
possibilidade de garantir seus direitos de exploração feudal da 
terra e evitar o avanço das desapropriações. Havia ainda os 
camponeses sem posses ou direitos, mão de obra marginal, 
representada pelos cottagers e squatters.
Para finalizarmos essa radiografia da estrutura social inglesa 
dos séculos XVI e XVII, vamos caracterizar aquela que foi con-
siderada a categoria social mais difusa e complexa: a gentry.
Composta por representantes das mais diferentes classes so-
ciais. Se por um lado, dela faziam parte os filhos mais novos da 
aristocracia, dos cavalheiros, dos gentlemen, ou seja, elemento 
integrado em uma sociedade estratificada a partir da posição, 
deveres, honra e privilégios, por outro lado, havia também 
aqueles oriundos das franjas superiores da yeomanry, os quais 
avançavam no sentido de libertar-se das restantes obrigações 
28 História Moderna Século XVII e XVIII
feudais. Estes formavam um grupo de pequenos agricultores 
capitalistas que ambicionavam a ascensão econômica, aumen-
tando seus lucros e propriedades. Conforme Arruda:
A denominação gentry tem de ser vista, portanto, não ape-
nas em relação ao conceito estático que representa, mas, prin-
cipalmente, numa perspectiva do processo histórico que leve 
em consideração o momento dado. (ARRUDA, p. 40)
Dito de outro modo, a gentry era muito mais uma ideologia 
em expansão que apenas uma classe de proprietários agríco-
las em formação. O que lhes dava unidade era a impulsão 
econômica. De elevado tino empresarial, e de um estilo pró-
prio de vida, definido pela moral puritana, esse grupo tinha 
muito mais condições de sobreviver numa época inflacionária 
do que a nobreza dissipadora. Enfim, podemos considerá-la 
como uma nova nobreza que recebia sob a forma de renda o 
que antes lhe era devido sob a forma de direitos feudais. Dedi-
cada à venda da lã, do trigo e de outros bens, ao expulsar os 
pequenos camponeses e rendeiros, iniciavam assim a explora-
ção direta de suas propriedades.
Em relação ao padrão dos rendimentos da gentry, podemos 
decompô-la em duas grandes camadas: a gentry ascendente e 
a gentry declinante. Porém, independentemente dessas subclas-
sificações, a gentry foi de fato a principal classe social no con-
texto das lutas políticas do processo revolucionário, a que irá 
beneficiar-se das vantagens sociais e econômicas da Revolução.
NA CIDADE
Passemos agora a uma análise dos grupos sociais urbanos. Ape-
sar de ser pequena a concentração urbana no início do século 
Capítulo 2 Revolução Inglesa: Antecedentes 29
XVII, irão surgir e se desenvolver nesses espaços novas categorias 
sociais que exercerão um papel ativo no contexto da Revolução.
Ilustrando a complexidade de cada grupo social, comece-
mos por destacar o papel da alta burguesia mercantil em rela-
ção ao processo revolucionário. Muito próxima da monarquia 
por dela depender para receber seus contratos de exclusividade 
comercial e industrial, esse segmento da burguesia era forma-
do por grandes contratadores dos monopólios cedidos ou ven-
didos pela Coroa. Eram também membros das grandes com-
panhias de comércio privilegiadas, aqueles que arrendavam ao 
estado a arrecadação dos tributos públicos. Sendo assim, fica 
claro que sua posição no contexto da Revolução será evidente-
mente ao lado da Monarquia, da qual se beneficiavam.
Abaixo, encontramos a média burguesia, formada pelos 
elementos das guildas mercantis que detinham o controle do 
comércio local. Havia ainda os mestres manufatureiros e os 
comerciantes manufatureiros, ambos contrários às restrições 
corporativas, uma vez que desejam eliminar os obstáculos à 
livre expansão das atividades industriais.
Na base dessa sociedade, encontramos um proletariado, 
formado basicamente pelos jornaleiros - trabalhadores diaristas 
- os quais se encontravam a mercê das flutuações do mercado, 
ficando assim, muita vezes, desempregados. Entretanto, Arruda 
chama a atenção para o fato de que era muito cedo ainda para 
a oposição entre o capital (burguesia) e o trabalho (proletaria-
do). Para ele, nesse momento, o conflito mais intenso era travado 
entre a oligarquia de mercadores privilegiados e os produtores, 
geralmente por causa da qualidade e dos preços das mercado-
rias. O elevado preço dos produtos de primeira necessidade, 
30 História Moderna Século XVII e XVIII
devido os monopólios dos grandes mercadores, fazia com que 
as camadas mais pobres e menos privilegiadas se indignassem 
com essa realidade, levando-os a posicionarem-se contra os pri-
vilegiados e à própria monarquia que os sustentavam.
Para finalizarmos, vejamos como estava organizada a so-
ciedade inglesa do ponto de vista geográfico. Nas regiões nor-
te-oeste, preponderava o conservadorismo marcado por uma 
estrutura feudal de produção. Nessa região, a aristocracia e o 
alto clero anglicano conseguiram mobilizar seus subordinados, 
pertencentes às camadas mais inferiores, os yeomen, para a 
defesa de seus interesses e da monarquia, obtendo também o 
apoio da burguesia financeira. Nas regiões sul-leste, ao con-
trário do conservadorismo da região que acabamos de des-
crever, encontrava-se a gentry progressista, a qual mobilizou a 
yeomanry, os cottagers, os squatters, apoiados pela burguesia 
mercantil, artesãos, artífices e proletariado urbano, contando 
também com o segmento progressista da aristocracia integra-
da nas atividades de mercado.
Enfim, toda essa complexidade social nos permite afirmar 
que a Revolução Inglesa não apresenta uma clara divisão so-
cial, conforme Arruda:
Havia burgueses de ambos os lados; havia aristocracia de 
ambos os lados; havia yeomen de todos os lados. Mas é a 
gentry que dá o tônus da Revolução e seu posicionamento é 
claro: pelo Parlamento, contra a Monarquia. (ARRUDA, p. 44)
Para Arruda, sem dúvidas, foi a gentry que não só conduziu 
o processo revolucionário, como também foi ela quem dele 
se apropriou, como podemos observar pelas transformações 
provocadas pela Revolução.
A Revolução Inglesa
Regina Maria Gonçalves Curtis
Capítulo 3
32 História Moderna Século XVII e XVIII
Após descrevermos a realidade socioeconômica da Inglaterra 
no decorrer dos séculos XVI e XVII, passaremos agora a com-
preensão do contexto político que possibilitou o desencadea-
mento da Revolução Inglesa, bem como de uma descrição dos 
principais momentos dessa Revolução.
O Estado Absolutista na Inglaterra ocorreu no decorrer das 
dinastias Tudor e Stuart. Se é possível falarmos de uma relação 
harmoniosa entre os reis absolutistas e o Parlamento inglês 
ao longo da dinastia Tudor, o mesmo não pode ser dito nos 
governos da dinastia Stuart. Pelo contrário, foi durante os rei-
nados dos primeiros monarcas desta dinastia que teve início 
uma tensão crescente entre a monarquia e o Parlamento da 
Inglaterra, o qual irá culminar no início do processo revolucio-
nário inglês.
Do ponto de vista político, podemos afirmar, segundo Arru-
da, que a Revolução Inglesa representou a crise desse Estado 
Absolutista na Inglaterra. Para a compreensão desse fenôme-
no, iremos sucintamente percorrer os reinados da dinastia Tu-
dor e Stuart.
A DINASTIA TUDOR
Cabe lembrar que a consolidação da centralização política na 
Inglaterra só ocorreu após as guerras dos Cem Anos (1337-
1453) e Das Duas Rosas (1455-1485). Estas arruinaram a 
nobreza inglesa, possibilitando a ascensão da Dinastia Tudor 
(1485-1603). Foi no transcurso dessa dinastia que, com o 
apoioda burguesia e do parlamento, se instalou o absolutis-
mo no país. Segundo Arruda:
Capítulo 3 A Revolução Inglesa 33
Com as reformas administrativas da década de 1530, a 
burocratização do governo conseguiu dar uma continuidade 
gerencial ao Estado, marca distintiva dos Estados modernos, 
mesmo nos momentos de maior conflito social. Tais mudanças 
foram realizadas sob a liderança de Thomas Cromwell, veri-
ficando-se então o que G. R. Elton denomina de ‘revolução 
administrativa’, que dá nascimento ao moderno Estado inglês. 
(ARRUDA, p. 48)
São características dessa “revolução administrativa” ocorri-
da, no decorrer da dinastia Tudor, as seguintes medidas: uma 
nova forma de conduzir as finanças, a centralização da admi-
nistração sob a tutela do primeiro-secretário, a organização 
do Conselho Privado como esfera de coordenação e raciona-
lização da casa real. Além disso, no plano interno, o Estado 
inglês passará a empreender mudanças importantíssimas no 
sentido da unificação do país que irão refletir o maior poder 
dos monarcas em detrimento da nobreza, tais como, a inte-
gração das cidades inglesas, a estabilidade e a paz interna 
obtidas sem a manutenção de um exército permanente, o que 
se refletia nos impostos mais baixos e na maior disponibilidade 
de recursos da sociedade para os investimentos produtivos, a 
eliminação de pedágios, a uniformização de pesos e medidas, 
assim como das moedas, leis e territórios. Enfim, em outras 
palavras, obtinha-se, desse modo, a superação dos particula-
rismos sobreviventes da Idade média, principalmente no que 
se refere ao poder da aristocracia.
Quanto à política externa, estimulou-se o avanço sobre os 
impérios coloniais, sendo a Inglaterra vitoriosa sobre a “In-
vencível Armada” espanhola em 1588. Nessa época, inicia-se 
34 História Moderna Século XVII e XVIII
a luta contra o universalismo papal, sendo a Igreja Católica 
derrotada quando do Ato de Supremacia (1534) o qual criou 
o Estado Anglicano na Inglaterra. Buscando conciliar os múl-
tiplos interesses, a política governamental dos Tudors ameni-
zava, assim, os conflitos sociais. De um modo geral, todos os 
grupos sociais beneficiaram-se dessa política. A aristocracia 
locupletava-se da estabilidade política e social que pusera fim 
nos conflitos no seio da própria elite e que, principalmente, 
contivera as rebeliões camponesas que vinham ameaçando 
até mesmo as suas propriedades. Beneficiava-se também a 
aristocracia do exercício de altos cargos públicos e da venda 
das terras confiscadas à Igreja Católica quando da Reforma 
Anglicana. Quanto à nobreza empobrecida, esta em dificul-
dades econômicas, teve a oportunidade de refazer suas posses 
nos saques realizados no Novo Mundo e legitimados pelo Es-
tado. Já a alta burguesia foi beneficiada pela Monarquia ao 
receber os monopólios e os privilégios comerciais e industriais, 
além da concessão de companhias privilegiadas. Artesãos e 
artífices podiam contar com a garantia dos privilégios corpora-
tivos que ainda subsistiam. Quanto aos camponeses, era clara 
a posição da monarquia, através de inúmeras leis, no sentido 
de limitar os abusos dos cercamentos e de seus efeitos despo-
voadores.
Vejamos agora quais foram os monarcas que governaram 
no decorrer da dinastia Tudor.
Henrique VII (1485-1509) foi o primeiro governante Tu-
dor. A importância de seu reinado reside no fato dele ter con-
seguido pacificar o país consolidando assim o Estado nacional 
inglês. Porém, será seu filho Henrique VIII (1509-1547) que, 
Capítulo 3 A Revolução Inglesa 35
sujeitando o Parlamento, dará as características absolutistas à 
monarquia inglesa. Ao romper com o catolicismo romano, o 
rei dará início ao processo que culminará na criação do An-
glicanismo, a Igreja oficial da Inglaterra. Forma compósita de 
credo religioso, o Anglicanismo irá preservar os aspectos exter-
nos do catolicismo, isto é, da hierarquia episcopal, a liturgia, 
integrados à teologia calvinista, assentada na doutrina da pre-
destinação. Isto é, preserva-se a forma católica, assumindo-se 
um conteúdo calvinista. Desse modo, a igreja Anglicana aca-
bou se transformando em um instrumento direto de poder do 
Estado, uma vez que, entre outros aspectos, o monarca passou 
a ser chefe de Estado e também chefe da Igreja. 
Seu filho e sucessor Eduardo VI (1547-1553), garantiu 
em seu curto reinado a reforma anglicana, porém sua irmã 
e sucessora Maria I (1553-1558), sendo casada com um 
rei católico Felipe II da Espanha, acabara por restabelecer 
o catolicismo na Inglaterra, perseguindo violentamente os 
protestantes ingleses. Porém, ao subir ao trono, Elisabeth 
I (1558-1603) irá retomar a política de seu pai Henrique 
VIII, consolidando-se assim o anglicanismo naquela nação. 
Durante seu governo, irá desenvolver uma agressiva políti-
ca mercantilista. Essa foi a rainha responsável por eliminar a 
“Invencível Armada” espanhola em 1588, aumentando assim 
o poderio econômico inglês nos mares. Em seu reinado, tem 
início a colonização da América do Norte com a fundação 
em 1584, da colônia de Virgínia. É da sua época também o 
apoio ostensivo à pirataria inglesa, na qual se destacou o fa-
moso corsário Francis Drake, o qual seria até mesmo tornado 
Cavaleiro pela rainha devido aos serviços prestados ao reino.
36 História Moderna Século XVII e XVIII
Enfim, de um modo ou de outro, os monarcas dessa di-
nastia procuraram dar estabilidade ao corpo social, o que, 
em certa medida, é possível se verificar, principalmente ao 
observarmos o notável desenvolvimento econômico inglês da 
segunda metade do século XVI e a quase inexistente oposi-
ção que a monarquia encontrou no Parlamento, ainda que 
este raramente fosse convocado. O que mudaria então esta 
relação harmônica entre os monarcas da dinastia Tudor e o 
Parlamento.
Segundo Arruda, o próprio desenvolvimento dessa atuação 
eficiente dos Tudor acabou por aprofundar as contradições so-
ciais. Considerado o maior proprietário de terras do país, o Es-
tado inglês vivia de suas rendas agrárias, mas dependia tam-
bém dos impostos arrecadados sobre os proprietários rurais. 
Tentou-se solucionar essa contradição ampliando os impostos 
sobre a produção agrícola. Será justamente essa medida que 
irá radicalizar as posições políticas no início do século XVII du-
rante os governos dos primeiros monarcas da dinastia Stuart.
Cabe ainda destacar a importância do fenômeno dos cer-
camentos no sentido de romper com a harmonia até então 
mantida entre os monarcas e o Parlamento inglês. Durante 
algum tempo, a aristocracia tentou reconstruir seu poder eco-
nômico por meio dos cercamentos e da elevação das suas 
rendas, entretanto, tais medidas afetaram diretamente os cam-
poneses. Assim, se fez necessário um governo central forte, 
capaz de reforçar politicamente o poder econômico e social 
da aristocracia. Tal fato, segundo Arruda, levou a monarquia 
absoluta a um dilema que nunca resolveu e que teria contribu-
ído para a sua queda. Se deixava livre a ação da aristocracia, 
Capítulo 3 A Revolução Inglesa 37
tinha que enfrentar as revoltas camponesas que ameaçavam 
destruir a classe dominante; se colocava limites à sua ação, 
protegendo os camponeses, acabava enfrentando a revolta da 
classe dominante, que poderia pôr em perigo a própria mo-
narquia. O consenso irá perdurar até a substituição dos Tudors 
pelos Stuarts. Conforme Arruda:
Nos inícios do século XVII, era profunda a inadequação en-
tre a estrutura do Estado absolutista inglês e o novo momento 
histórico, representado pela recomposição das forças sociais, 
no contexto das transformações econômicas engendradas pelo 
próprio Estado absolutista, na centúria anterior. (ARRUDA, p. 51)
Ou ainda conforme Paulo Miceli:
[...]enquanto no início do século XVI a Coroa parecia pro-
teger a burguesia, isso era feito paraconseguir reforço contra 
as casas feudais ainda existentes, o que explica o acordo ini-
cial entre a Coroa e o Parlamento – que representava princi-
palmente os comerciantes e grandes proprietários de terras. 
Havia ainda os inimigos externos, principalmente a Espanha. 
Pouco a pouco, contudo, todos eles foram sendo exterminados 
– interna e externamente– e a lua de mel entre a monarquia 
e o Parlamento que sob os Tudor raramente se reunia, apro-
vando sempre a política real, chegou ao fim. Os interesses 
opostos das duas partes vieram à tona e, quando teve início 
o reinado da dinastia Stuart, Jaime I (1603-1625) e Carlos I 
(1625-1649) tiveram de enfrentar a forte oposição do Parla-
mento. (MICELI, p. 29)
Em 1603, encerrou-se a dinastia Tudor com a morte de 
Elisabeth I, que não deixara herdeiros. Por razões de paren-
38 História Moderna Século XVII e XVIII
tesco, o trono passou para o rei da Escócia, Jaime I, que deu 
início a dinastia Stuart. Os Tudors deixavam um país com a 
autoridade real consolidada, porém em acordo com o Parla-
mento. Este, especialmente fortalecido com os favorecimentos 
realizados para com a pequena nobreza e os comerciantes. 
Grande parte dos novos grupos emergentes da sociedade in-
glesa, dinamizados pela política mercantilista, pelo comércio, 
pelos cercamentos e pela atividade corsária foram elevados 
aos altos postos governamentais, como o Conselho Privado, 
tribunais e outros cargos. Desse modo, estes grupos deram 
início a um processo de ampliação de prestígio e busca de 
maiores espaços políticos no Estado inglês. De um modo ge-
ral, esses grupos se identificaram com o puritanismo – como 
eram chamados os calvinistas da Inglaterra- imbuídos de uma 
visão religiosa e política mais sintonizada com os seus anseios 
e atividades. Ao contrário, a tradicional aristocracia apegava-
-se fortemente ao anglicanismo e até ao catolicismo, o qual 
fora desbancado pelo Ato de Supremacia de Henrique VIII que 
havia criado a Igreja Anglicana. Essas forças sócio-políticas 
irão criar sérias turbulências, enfrentando-se ferrenhamente no 
decorrer da dinastia Stuart.
A DINASTIA STUART E O PROCESSO 
REVOLUCIONÁRIO
Jaime I (1603-1625), ao assumir, irá governar a partir do 
aparelho do Estado montado pelos Tudors. O rei será asses-
sorado pelo Conselho Privado, composto por nobres de sua 
confiança. Quanto às questões judiciárias laicas, relativas à 
alta traição e outros problemas não especificados pelo Direito 
Capítulo 3 A Revolução Inglesa 39
Comum serão julgadas pela Câmara Estrelada, a secção judi-
ciária do Conselho. A política religiosa será exercida pelo ar-
cebispo Laud e pelos tribunais eclesiásticos responsáveis pelas 
questões relacionadas à religião, à disciplina social e à sub-
versão, temas enquadrados geralmente por meio da repressão 
religiosa. Esses eram os tribunais da corte de Alta Comissão. 
O Parlamento encontrava-se dividido na Câmara dos Lordes, 
composta pelos nobres, e pela Câmara Comum, composta 
por proprietários rurais, mesmo que de origem burguesa, elei-
tos nos vários condados ingleses.
Segundo Arruda, o ponto vital do relacionamento Rei-Par-
lamento era a sustentação financeira do Estado. De modo a 
tentar solucionar seus problemas financeiros os monarcas des-
sa dinastia tentaram as seguintes medidas: a elevação dos im-
postos alfandegários, a criação de monopólios sobre produtos 
estratégicos e de largo consumo e a tentativa de aumentar os 
rendimentos pela restauração ou aumento de impostos prove-
nientes de direitos feudais da Coroa.
Jaime I, após unir a Inglaterra à Escócia, sua terra natal, 
irá se aliar aos grandes nobres, descontentando a burguesia 
e o Parlamento que o consideravam estrangeiro. De modo a 
garantir-se no trono, o rei irá vender inúmeros títulos de nobre-
za e promover a adoção rigorosa do anglicanismo. Para tanto, 
dará início a violentas perseguições aos católicos e aos purita-
nos calvinistas. Esse é o momento em que inúmeros puritanos, 
perseguidos pela política-religiosa de Jaime I irão se dirigir 
para a América, dando início de fato à colonização inglesa. 
Os primeiros embarcaram no navio Mayflower e fundaram Ply-
mouth, a primeira colônia de povoamento puritana da região 
40 História Moderna Século XVII e XVIII
que seria conhecida como Nova Inglaterra, no nordeste da 
América do Norte.
Inúmeros serão os conflitos que irão colocar em campos 
opostos o rei e o Parlamento. Porém, será a partir de 1610 que 
os antagonismos irão se acelerar. Ao tentar ampliar e consoli-
dar suas rendas, a Coroa irá oferecer ao Parlamento o Grande 
Contrato. Através deste, a Coroa abdicava de seus direitos 
feudais, sobre as propriedades, em troca de uma dotação 
anual, havendo discordância quanto ao valor a ser creditado 
a favor do Rei. Em 1616, surge um novo atrito, era o Projeto 
Cockayne, por meio do qual a indústria de tecidos ficava sob 
o controle real, transformando-se esse monopólio em uma im-
portantíssima fonte de renda para o Estado. O projeto acabou 
fracassando ao sofrer a oposição da burguesia mercantil que 
o boicotou.
Em 1625, assume Carlos I (1625-16490) tentando re-
forçar o absolutismo estabelecendo novos impostos sem a 
aprovação do Parlamento, o que irá agravar a tensão entre 
os deputados e a Coroa. Em 1628, Carlos I está em guerra 
contra a França, vendo-se na contingência de convocar o Par-
lamento. Pelo condado de Cambridge, foi eleito um cidadão 
com fama de incorruptível, Oliver Cromwell. Cansados de se-
rem manipulados, os deputados do Parlamento irão sujeitar o 
rei ao juramento da “Petição de Direitos”, também chamada 
de Segunda Carta Magna inglesa. A partir desse documento, 
o Parlamento exigia o controle do exército, isto é, de sua con-
vocação e dispensa, e da política tributária. Mesmo relutante, 
Carlos I assina a petição, esperando que o Parlamento apro-
Capítulo 3 A Revolução Inglesa 41
vasse os impostos sobre o comércio da lã e do couro, tradi-
cionalmente aprovados pelo Parlamento até o fim do reinado, 
sendo, portanto, vitalícios. Porém, o Parlamento, acreditando 
que seria uma forma de obrigar o rei a convocá-lo sistematica-
mente, recusou-se a aprovar rendas fixas e vitalícias, esperan-
do que a cada momento em que elas se fizessem necessárias, 
novamente, o Parlamento teria de ser convocado. Por fim, o 
rei dissolve o Parlamento e volta a convocá-lo somente 11 de-
pois em 1640. Várias forças sociais, exceto os beneficiados da 
política de Carlos I, vão se colocando contra o rei. A oposição 
começa a organizar-se em torno de um grupo de famílias de 
proprietários de terras, muito bem representados no Parlamen-
to. Esse grupo vai declarar guerra aberta à Coroa, recusando-
-se a pagar o imposto marítimo que havia sido imposto pela 
Coroa, por considerá-lo uma espécie de pirataria legalizada. 
Daí em diante, até 1640, generaliza-se a recusa ao pagamen-
to de impostos.
Para piorar a situação, da Escócia viria outro golpe. Ao 
tentar impor o ritual anglicano à calvinista Escócia, Carlos 
I sofrerá a invasão de um exército escocês no norte da In-
glaterra. O exército enviado pelo rei acabou se unindo aos 
insurrectos e reclamando o pagamento de seus soldos. Não 
restava alternativa ao rei a não ser convocar o Parlamento. 
Três semanas após, o Parlamento foi dissolvido, é o chamado 
Parlamento Curto. Em seguida é reunido o Parlamento Lon-
go, que com algumas depurações irá permanecer até 1653. 
Tinha início a primeira etapa da Revolução Inglesa: a Revo-
lução Puritana.
42 História Moderna Século XVII e XVIII
A REVOLUÇÃO PURITANA (1641-1649)
Segundo Arruda, essa fase revolucionária apresenta três mo-
mentos bem demarcados: 1640-1642, da primeira reunião do 
Longo Parlamento até a eclosão da guerra civil; 1642-1649, 
correspondendo aos anos da guerra civil até a decapitação 
de Carlos I; 1649-1653,da morte de Carlos I, passando 
pelas convulsões políticas do exército, até o protetorado de 
Cromwell.
PRIMEIRO MOMENTO
Várias medidas foram tomadas pelo Parlamento que coloca-
ram por terra o Antigo Regime. Abolindo a Câmara Estrelada 
e a Corte de Alta Comissão, perseguindo os assessores mais 
importantes do rei, como Laud, que fora aprisionado, e o Du-
que de Strafford, que fora morto; destruía-se a máquina buro-
crática que sustentava o Estado. Proibiu-se o rei de manter um 
exército permanente; a política tributária passou para o con-
trole do Parlamento, este teria que ser convocado regularmen-
te, no mínimo de três em três anos, caso contrário, o mesmo 
se autoconvocaria. Entretanto, sentindo-se ameaçados pela 
política dos líderes da Câmara dos Comuns, a maior parte 
da aristocracia e da pequena e média nobreza conservadora 
acabou voltando a apoiar o rei.
A divisão dos membros do Parlamento acabou culminando 
com a eclosão da guerra revolucionária dando início ao se-
gundo momento.
Capítulo 3 A Revolução Inglesa 43
SEGUNDO MOMENTO
Esse momento corresponde à guerra civil, quando, de um lado, 
defrontaram-se os realistas, também denominados de cavalei-
ros e, de outro, os puritanos, também conhecidos por cabeças 
redondas, em função do cabelo rente que usavam, em opo-
sição aos cabelos longos dos membros da corte. Enquanto 
os cavaleiros eram os partidários do rei, que contavam com 
o apoio dos latifundiários, dos católicos e dos anglicanos; os 
cabeças redondas eram os defensores do Parlamento, purita-
nos, liderados por Oliver Cromwell. No início do confronto, as 
milícias arregimentadas pelo Parlamento se deram mal, pouco 
adestradas no uso das armas, não eram tropas profissionais 
como os cavaleiros, estes sim, guerreiros profissionais. Entre-
tanto, Cromwell conseguiu com o seu Novo Exército Modelo 
ser vitorioso nas batalhas que se seguiram, Este fora consti-
tuído de forma revolucionária ao estabelecer a meritocracia 
como caminho para a ascensão na hierarquia militar, e não 
por nascimento como era no exército realista. Segundo Chris-
topher Hill, historiador inglês dedicado ao estudo da Revolu-
ção Inglesa, as lutas do Parlamento foram ganhas devido à 
disciplina, unidade e elevada consciência política das massas 
organizadas no Novo Exército Modelo.
No ano de 1646, uma onda democratizante varreu o exér-
cito. Trata-se dos Levellers (Niveladores), assim denominados 
porque alguns de seus líderes defendiam a igualdade de pro-
priedade. Estes deram início à agitação, recusando-se a des-
mobilizar o exército até verem atendidas suas reivindicações. O 
exército passa a ser um poder rival do Parlamento. Em 1647, o 
rei é preso e os Niveladores tentam assumir o controle do Exér-
44 História Moderna Século XVII e XVIII
cito, porém acabam vendo o seu golpe ser frustrado pela ação 
dos Grandes do exército. O rei, aproveitando-se da divisão 
no exército, foge da prisão e reorganiza a contrarrevolução. 
Foi o suficiente para que o exército voltasse a se unificar sob a 
liderança de Cromwell. Vitorioso contra os realistas, Cromwell 
realizará o expurgo do Parlamento de todos os membros que 
ainda se mantinham fiéis ao rei. Receoso do retorno da mo-
narquia o Exército força o julgamento e a condenação do rei 
pelo Parlamento depurado. Em janeiro de 1649, Carlos I foi 
decapitado, e no mês seguinte a Câmara dos Lordes foi abo-
lida. Em maio do mesmo ano, a República foi proclamada, 
iniciando assim o terceiro momento.
TERCEIRO MOMENTO
Esse é um período da Revolução Inglesa marcado pelas agi-
tações políticas e sociais. A República encontra-se ameaçada 
por todos os lados. Na Irlanda, começa uma rebelião contra 
os ingleses. Os realistas emigrados conspiram na Escócia e 
Holanda. No interior do próprio exército, os Niveladores re-
belam-se pretendendo aprofundar a Revolução com medidas 
que ameaçariam interesses ligados à propriedade privada. Tal 
ameaça foi eliminada pela ação de Cromwell conduzida pe-
los Grandes do exército, findava-se assim o movimento mais 
democrático gerado pela Revolução Inglesa. Além da tentativa 
frustrada dos Niveladores, a Inglaterra foi palco também do 
movimento dos Escavadores (Diggers), que por meio de uma 
ação direta e pacífica, tentaram chegar a uma forma de co-
munismo agrário. Entretanto, todas as tentativas dos Diggers 
de alcançar seus objetivos também foram fracassadas, o que 
Capítulo 3 A Revolução Inglesa 45
evidencia o caráter burguês do processo revolucionário. Con-
forme Miceli:
Exterminados os Niveladores e silenciados os Diggers, a re-
volução afastou-se definitivamente das forças populares. De-
pois disso, pouco importava a restauração da monarquia, pois 
os futuros reis e a nobreza dificilmente se esqueceriam de que a 
burguesia não abriria mão de suas conquistas. (MICELI, p. 38)
Em 1650, o filho de Carlos I auxiliado pelo exército esco-
cês tenta acabar com a Revolução, porém será vencido por 
Cromwell no ano seguinte. No ano de 1653, é dissolvido o 
Longo Parlamento, constituindo-se uma Assembleia composta 
pelos partidários de Cromwell com a tarefa de elaborar uma 
nova Constituição, dando a este o título de Lorde Protetor. En-
tre 1653 e 1658, por pressão dos grandes comerciantes de 
Londres, o exército é desmobilizado, pois, além de muito one-
roso, encontrava-se demasiadamente politizado.
Em 1657, um novo Parlamento foi convocado e uma Cons-
tituição determinou a substituição do Conselho do Exército por 
um Conselho do Parlamento que iria controlar as finanças do 
exército e submeteu o próprio Lorde Protetor, o qual recusou a 
possibilidade de se tornar rei.
Com a morte de Cromwell em 1658, assume Ricardo 
Cromwell, o qual, após 18 meses no poder, será alvo de uma 
revolta palaciana auxiliada pelo exército e pelo Parlamento. 
Assim, em 1660, o Parlamento depurado colocou no trono o 
inglês Carlos II que governou por 18 anos com o mesmo Parla-
mento, submetendo-se a todas as imposições. Entretanto, seu 
irmão Jaime II não manteve o mesmo comportamento. Pelo 
46 História Moderna Século XVII e XVIII
contrário, ao tentar reeditar o comportamento absolutista de 
seu pai, favorecendo os católicos, apoiando a reconstituição 
dos bens da aristocracia, acabou afastado por um novo golpe 
de Estado tramado no próprio Palácio. Tratava-se da denomi-
nada Revolução Gloriosa, assim denominada por sua nature-
za pacífica, sem radicalizações extremistas e democratizantes 
que haviam marcado a etapa anterior: a Revolução Puritana. 
O trono fora oferecido a Guilherme de Orange, protestante, 
casado com uma das filhas do primeiro casamento de Jaime II 
e chefe de estado da Holanda. Após invadir a Inglaterra e ex-
pulsar Jaime II, o novo rei agora com o título de Guilherme III 
jurou o Bill of Rigths (Declaração de Direitos) que estabelecia 
as bases da monarquia parlamentar, ou seja, a superioridade 
da autoridade do Parlamento sobre a do rei.
Enfim, as decisões tomadas com a Revolução Gloriosa 
consolidavam a substituição da monarquia absolutista pela 
monarquia parlamentar constitucional. Podemos afirmar, por-
tanto, que a Revolução Inglesa teve para esta nação, o mesmo 
papel que, para a França, teve a Revolução Francesa de 1789. 
Derrubando o Estado absolutista, criou as condições políticas 
necessárias à burguesia, que, ao estabelecer um Estado bur-
guês, estabelecia as condições favoráveis para a posterior 
eclosão da Revolução Industrial.
Antecedentes da 
Revolução Industrial
Victor Lourenço dos Santos Júnior
Capítulo 4
48 História Moderna Século XVII e XVIII
Para uma visão geral dos conteúdos abordados, faremos um 
apanhado das principais linhas de argumentação, realçando 
algumas continuidades e chamando atenção para as rupturas. 
Inicialmente, destaca-se o prolongamento de uma transforma-
ção profunda na maneira de concebero homem e a natureza. 
Segundo Falcon e Rodrigues, no século XVIII, foi o momen-
to em que ganharam consistência novos modos de pensar o 
homem e o mundo, funcionando como momento de síntese 
de mudanças já anunciadas pela secularização da igreja, em 
especial as reformas religiosas, o rompimento com a tutela te-
ológica no que diz respeito à natureza por meio da revolução 
cartesiana [no modo de pensar] e das transformações cientí-
ficas. Os autores afirmam que, ao lado dessa ruptura com a 
tutela religiosa, desenvolveu-se uma forte tendência de expli-
cação do que era o desenrolar da vida social e o entendimen-
to da ação das virtudes humanas, decorrentes do exercício da 
razão (influência do Iluminismo). “A primazia da razão elegeu 
o homem e suas virtudes como responsáveis pelo progresso 
material e técnico, e pela descoberta de que essa nova experi-
ência só pode alcançar seus objetivos se a liberdade de viver e 
de pensar for o leito do novo caminho” (2006, p. 205).
A associação entre a ideia de razão e liberdade foi a ima-
gem que ficou do século XVIII, o Século das Luzes, o qual 
inaugurou uma nova forma de ver a humanidade, em que a 
igualdade foi a mestra e referência para todas as críticas ao 
domínio aristocrático nas sociedades do Antigo Regime. No 
capítulo específico sobre o Iluminismo, veremos como os mo-
vimentos sociais se associaram com pensadores protagonistas 
da revolução intelectual. Ao final deste estudo, será possível 
ver como o conjunto dos fatores políticos e sociais foram alte-
Capítulo 4 Antecedentes da Revolução Industrial 49
rados para dar sustentação ao novo modo de produção, ao 
mundo Moderno do ponto de vista econômico e de como a 
ciência esteve diretamente envolvida com todas as transforma-
ções antes, durante e depois da Revolução Industrial. Nesta 
primeira parte, teremos as linhas de continuidade que ligam 
esses eventos aos seus antecedentes, especialmente o Huma-
nismo e o Renascimento Cultural.
As Cidades
É importante perceber como o desenvolvimento das cidades 
afetou esse processo. Segundo Falcon, as cidades foram o pal-
co dessas transformações, o lugar em que as Luzes podiam se 
expandir e se consagrar na forma de movimentos intelectuais. 
Em oposição ao campo, a cidade passou a ser o espaço das 
novidades, em que os novos valores se anunciavam e eram di-
vulgados, transformando-se em ideais burgueses, em novas vi-
sões de mundo. O passo seguinte foi a tomada de consciência 
política por parte da nova classe social, os burgueses. A nova 
sociedade, com novas virtudes e o conhecimento, acabou ge-
rando novas formas de sociabilidade, não mais determinadas 
pela hierarquia de nascimento. Nesse momento, as teorias 
sobre o progresso material, técnico e intelectual assumiram 
importância decisiva para que esses novos empreendedores 
entendessem que a sua história seria o resultado de sua cons-
trução do futuro no presente e que o progresso era aquilo que 
movia o aperfeiçoamento da razão humana. A natureza foi 
transformada pela ação do trabalho humano e ganhou uma 
nova qualificação, como objetivo a ser conquistado e como 
portadora da abundância.
50 História Moderna Século XVII e XVIII
Antecedentes
De acordo com o historiador E.M. Burns, a Revolução Comer-
cial foi um dos desenvolvimentos mais significativos da história 
do mundo ocidental. Ele afirma que todo o conjunto da vida 
econômica moderna teria sido impossível sem essa revolução, 
pois foi ela que deslocou as bases do comércio do plano lo-
cal e regional, na Idade Média, para a escala mundial. Além 
disso, exaltou o comércio com finalidade lucrativa, santificou 
a acumulação de riqueza e estabeleceu a concorrência como 
base da produção e do comércio. Em suma, deve-se atribuir à 
Revolução Comercial quase todos os elementos que vieram a 
constituir o regime capitalista, sobretudo seus princípios. Burns 
entende que a revolução comercial estimulou os primeiros sur-
tos de especulação, desencadeando o crescimento das ativi-
dades econômicas. Como vimos no capítulo sobre a Expansão 
Marítima, o afluxo de metais preciosos, a elevação de preços 
e o encarecimento da vida em geral fomentaram um espírito 
especulativo nos negócios, o que seria impensável dentro da 
concepção estática, em matéria de funcionamento da econo-
mia, que havia predominado na Idade Média.
Pois é dentro desse marco histórico e conceitual que se 
formou uma nova mentalidade, marcada pelo individualismo. 
A expansão dos negócios fez os homens pensarem que pode-
riam fazer fortuna do dia para a noite. Assim, projetaram-se 
inúmeras empresas para toda espécie de finalidades, mesmo 
as mais absurdas, como tornar doce a água salgada ou cons-
truir o moto-contínuo. Entre outros resultados dessa revolu-
ção, lembra Burns, pode-se citar a ascensão da burguesia ao 
poder econômico, o início da europeização do mundo e a 
Capítulo 4 Antecedentes da Revolução Industrial 51
retomada da escravidão. No final do século XVII, a burguesia 
havia se tornado a classe dominante em quase todos os países 
da Europa ocidental. Dela faziam parte os comerciantes, os 
banqueiros, os proprietários de navios, os principais acionistas 
e os empresários das indústrias nascentes. Essa ascensão ao 
poder deveu-se ao aumento da riqueza dessa nova classe e 
à tendência de se aliarem aos reis contra os remanescentes 
da aristocracia feudal, o que põe em evidência seu caráter 
político. Contudo, somente no século XIX é que o poder políti-
co da burguesia se tornou uma realidade. Conforme Burns, o 
que se chama de europeização do mundo deve ser entendido 
como a transposição dos hábitos e da cultura europeia para 
os outros continentes. Como resultado do trabalho de comer-
ciantes, missionários e colonos, a América do Norte e a do Sul 
assumiram a feição de apêndices da Europa. Mas o resultado 
mais deplorável dessa expansão comercial sem precedentes 
foi o restabelecimento da escravidão. Conforme o historiador, 
por volta do ano 1.000, a escravidão havia praticamente de-
saparecido na Europa, mas o crescimento da mineração e das 
fazendas de plantação extensiva nas colônias inglesas, espa-
nholas e portuguesas provocou enorme procura de trabalha-
dores não especializados. No princípio, tentaram escravizar os 
indígenas, porém a falta de mão de obra só foi solucionada, 
mais tarde, com a “importação” de negros africanos. Por 200 
anos ou mais, a escravidão foi parte integrante do sistema 
colonial europeu.
Tendo relembrado esses detalhes cruciais, podemos afir-
mar agora, distanciados no tempo, que a revolução comercial 
teve grande importância ao preparar o caminho da Revolu-
ção Industrial e, ao mesmo tempo, da Revolução Científica. 
52 História Moderna Século XVII e XVIII
As razões para tal podem ser identificadas, em primeiro lugar, 
na criação de uma classe de capitalistas que passaram a bus-
car novas oportunidades para empregar os lucros excedentes. 
Em segundo lugar, a política mercantilista protegia a indústria 
nascente e a produção de mercadorias para exportação, o 
que forneceu poderoso impulso ao desenvolvimento das ma-
nufaturas. Em terceiro lugar, a expansão dos impérios colo-
niais inundou a Europa de novas matérias-primas e aumentou 
em muito o suprimento de certos produtos até então raros. A 
maior parte desses novos produtos precisava ser manufaturada 
antes de ser oferecida aos consumidores. Em consequência, 
surgiram novas indústrias livres de qualquer regulamentação 
corporativa. O exemplo mais contundente veio da manufatura 
de tecidos de algodão, que foi a primeira indústria a ser me-
canizada. Por fim, após a revolução comercial, passou-se a 
adotar os métodos fabris em certos ramos da produção, junto 
aos aperfeiçoamentos técnicos, como a invenção da roda de 
fiar, do tear para fazer meia e mesmo o descobrimento de um 
processo mais eficiente para extração

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