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Teoria da Historia II

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Teoria da História II
Teoria da História II
Rodrigo Simões
Sumário
 1 Panorama Historiográfico no Início do Século XX ...................1
 2 Marxismo Posterior .............................................................17
 3 Annales I E II Gerações .......................................................33
 4 Annales III Geração ............................................................49
 5 Annales IV Geração – História Cultural ...............................65
 6 Neomarxismo Inglês ...........................................................81
 7 Micro-história .....................................................................97
 8 Nova História Política e História do Tempo Presente ..........113
 9 Do Pós-estruturalismo à História Desconstrucionista ..........129
 10 Do “Fim da História” à Historiografia 
Alemã Contemporânea .....................................................147
Capítulo 1
Panorama 
Historiográfico no Início 
do Século XX
2 Teoria da História II
Historicismo e o positivismo
O alvorecer do século XX apontava a permanência de um fa-
zer histórico seguindo os preceitos dos modelos historicista e 
empírico-positivista, concepções que dominaram a historio-
grafia da segunda metade do século XIX. Praticava-se uma 
história dos acontecimentos políticos, dedicada ao Estado, às 
guerras, aos grandes homens.
De acordo com Glénisson (1977, p. 209), a história de en-
tão pode ser qualificada como “positivista”, pois o positivismo 
aliado ao seu método experimental influenciou o pensamento 
daqueles historiadores. Mergulhados em documentos oficiais, 
ocupados em determinar os fatos históricos, os historiadores 
negavam a importância das questões econômicas e sociais.
A história empírica rotulava-se científica. Seus seguidores 
defendiam que o historiador, limitado em seu campo de ação, 
deveria adquirir uma postura imparcial e de submissão aos 
documentos, pois assim seriam encontrados os fatos e desco-
bertas as verdades. A intuição e os dados orais eram deixados 
de lado pelo historiador, assim, como afirma Tétart (2000, p. 
100), ele, o historiador “[...] evita confrontar-se com as inde-
terminações da história”.
No início do século XX, o historiador científico se ocupará 
de outra face de sua disciplina: a história como pedagogia 
social. Figura importante nesse empreendimento foi Ernest La-
visse (1842-1922), nascido na França, estudou na Alemanha. 
Sua meta sempre foi estreitar as relações entre ciência e pa-
triotismo. Desenvolvendo uma história clássica, nacionalista e 
Capítulo 1 Panorama Historiográfico no Início do Século XX 3
positivista, Ernest Lavisse, atuou como “cidadão-pedagogo”, 
sempre procurando exaltar o civismo patriótico e o sentimento 
nacional. Tétart (2000, p. 102) observa o quanto fazer história 
em 1900 não é um ato neutro, pois “Formar bons cidadãos, 
bons eleitores e bons soldados que ‘amam seu fuzil’, é a divisa 
do trabalho emblemático de Lavisse”.
Destaca-se a participação de Lavisse na Revue Historique:
Ernest Lavisse faz parte da geração mais jovem de histo-
riadores que aderiu ao movimento iniciado em 1876 por 
Gabriel Monod na Revue Historique. Nessa revista foram 
lançadas as bases da escola metódica francesa, também 
conhecida como escola positivista, sob cuja influência 
desenvolveu-se a maior parte da produção historiográfica 
do país entre 1880 e 1920. (KIRSCHNER, 2010, p. 355).
Lavisse contribuiu para o progresso dos estudos históricos 
na França e também na formação e na profissionalização do 
historiador: “O professor orientava seus alunos nos princípios 
do rigor metodológico, das técnicas, da erudição e da objeti-
vidade, ou seja, nos princípios da história-ciência”. (KIRSCH-
NER, 2010, p. 359).
Mas, nem tudo era historicismo e 
positivismo
Não se pode concluir que os historiadores profissionais do 
início do século XX dedicavam-se integralmente à pesquisa e 
narrativa de acontecimentos políticos. As transformações eco-
4 Teoria da História II
nômicas e sociais do século XIX permitiram que uma nova leva 
de historiadores se dedicasse a discutir os modos de condu-
zir a história. A narrativa histórica voltada aos acontecimentos 
políticos fora contestada pela primeira vez na Europa durante 
o Iluminismo quando intelectuais de diversos países preocu-
param-se com uma “história da sociedade”. (BURKE, 1992, 
p. 17). No entanto, o historicismo, movimento liderado por 
Ranke, com seu destaque nas fontes dos arquivos, marginali-
zou a história sociocultural do século XVIII.
No final do século XIX a supremacia da história política co-
meçou a ser contestada com maior frequência, e já no início 
do século XX as críticas, principalmente à sua inflexibilidade, se 
tornaram tão fortes que a sua derrocada se tornou iminente. As 
primeiras décadas do novo século foram uma fase transitória, 
de passagem de uma história centrada no historicismo e no 
positivismo para uma história com um olhar voltado tanto para 
as questões econômicas quanto para as questões políticas.
Assim, as censuras ao método positivista conduzem, aos 
poucos, ao surgimento de estudos voltados para a interdisci-
plinaridade, proposta pelo contato da história com os temas e 
métodos utilizados pelas demais ciências humanas, que propi-
ciaram um processo de alargamento de objetos e aperfeiçoa-
mento metodológico. Esboçava-se assim, outro modo de fazer 
história.
Na primeira década do século XX, o filósofo francês Émile 
Auguste Chartier (1868 – 1951), pseudônimo literário Alain, 
foi um incansável crítico da tradição historiográfica da escola 
metódica por esta limitar-se exclusivamente aos fatos.
Capítulo 1 Panorama Historiográfico no Início do Século XX 5
Também foi nesse período que ocorreu a chamada “con-
trovérsia de Lamprechet”, quando Karl Lamprechet, professor 
alemão, publica seu audacioso livro “Deutsche Geschichte” 
(História Alemã), compreendendo 13 volumes (1891-1908), 
por meio do qual opôs à história política a história cultural e a 
história econômica.
Charles Péguy, intelectual da virada do século, imbuído de 
novas perspectivas, alerta para o fato de a história positivista 
não se ocupar do mais importante da história: “a diversidade 
das massas”.
A propagação do movimento operário e socialista do final 
do século XIX na Europa aumentou a influência do marxismo 
sobre as ciências humanas, como aponta Moradiellos (1999, 
p. 43):
En no poca medida, el atractivo y reto intelectual del 
marxismo provenía de su capacidade para dar cuenta 
global y racional del curso efectivo de los processos his-
tóricos: las causas de las transformaciones en la estruc-
tura económica, la modalidade de su conexión com los 
conflitos sociales y políticos coetâneos y la manera como 
ello se reflejaba y condicionaba el universo intelectual y 
cultural correspondiente. Aparecía así como un verda-
dero modelo interpretativo para iniciar la investigación 
en la ciencias humanas, superando el agotamiento del 
modelo descriptivo empírico-positivista.
Ainda segundo Moradiellos (1999), uma das mais claras 
influências do marxismo na historiografia pode ser verificada 
na cristalização de duas disciplinas históricas: história econô-
6 Teoria da História II
mica e história social. A maior oposição que a história política 
vivenciou foi a história econômica. Sendo a história econômi-
ca um corretivo ao modelo historiográfico rankeano (principal-
mente a tese da compreensão hermenêutica de fatos singula-
res, únicos e irrepetíveis).
Após a I Guerra Mundial, a história sofrerá fortes críticas, 
em parte por estimular a exacerbação do nacionalismo. Pro-
curando desviar da história concentrada na nação, historia-
dores voltam suas pesquisas para uma história comparativa 
das civilizações. Nessa fuga da história política e nacional,a reconstrução da Europa no pós-guerra somada a Grande 
Depressão de 1929, emergem também as relações existentes 
entre política e economia.
É nesse contexto que surge na França uma escola de 
historiadores da economia dedicados a pesquisas ino-
vadoras a partir de 1906 com Paul Mantoux. Sua Ré-
volution industrielle au XVIII siecle lança os fundamentos 
teóricos da história econômica. Nos anos 30, François 
Simiand (Recherches anciennes et nouvelles sur le mouve-
ment general des prix du XVI au XIX siecle, 1932) e Henri 
Hauser (Recherches et documents sur l’historie des prix 
em France de 1500 à 1800, 1936), retomam a questão 
e educam gerações de estudantes na Sorbonne confor-
me as categorias do pensamento econômico. Em 1927, 
cria-se para H. Hauser, que é sucedido por Marc Bloch 
em 1936, a primeira cadeira de história econômica na 
Sorbonne. (JABINET; PAULE, 2003, p. 116).
Capítulo 1 Panorama Historiográfico no Início do Século XX 7
Henri Berr
Henri Berr (1863-1954), filósofo francês que foi uma espécie 
de ancestral da Escola dos Annales, apesar de não ser historia-
dor. Fundou em 1900 uma nova revista histórica com o título 
de Revista de Síntese Histórica (Revue de Synthése Historique). 
Provocando os preconceitos positivistas da época, a revista de 
Berr pretendia “[...] favorecer trocas fecundas que permitam ao 
historiador aproximar-se de uma problematização epistemoló-
gica e prática da história, e desse modo ampliar se campo de 
pesquisa, diversificar seus instrumentos de análises”. (TÉTART, 
2000, p. 107).
Contrário a um discurso restrito à narração, ao lançar a 
Revista Síntese, Berr tinha o propósito de desafiar os excessos 
do historicismo e do positivismo reinantes na historiografia da 
época. A iniciativa de Berr desperta o interesse em participar 
da revista de colaboradores das mais variadas tendências, 
desde membros do stablishment universitário a jovens e pro-
missores marginais: “[...] geógrafos cerram fileiras em torno de 
Paul Vidal de la Blache, sociólogos com Émile Durkheim, psi-
cólogos com Henri Wallon, economistas, historiadores, enfim, 
e em particular Lucien Febvre e Marc Bloch”. (JABINET; PAULE, 
2003, p. 116).
Em 1911, Berr lança sua obra A Síntese em História, na 
qual revela seu conceito de “síntese”, tornando-o um expoente 
intelectual das primeiras décadas do século XX.
A coleção “L’Évolution de l’humanité”, com a participação 
de autores das diferentes ciências humanas, é publicada em 
8 Teoria da História II
1920 por iniciativa de Henri Berr. Cada obra da coleção con-
tava com um extenso prefácio-síntese, situando cada livro no 
conjunto. O Centro internacional de Síntese – Fundação para 
a Ciência é criado em 1925. Através dessa empresa intelec-
tual, Berr confere à história o papel de reunir e coordenar os 
trabalhos das demais ciências sociais, sua pretensão era tornar 
a história a “ciência das ciências”. No Centro Internacional de 
Síntese ocorriam as Semanas de Síntese, encontros voltados 
para a busca da razão crítica, que reuniam matemáticos, físi-
cos, filósofos, sociólogos, biólogos e historiadores.
Berr influenciou em larga escala os fundadores da Annales:
Henri Berr comunicou-lhes o seu “estilo de pensamento” 
e a sua maneira de suscitar na inteligência universitária a 
necessidade de se reunir em torno da mesma concepção 
de trabalho científico.
[...] Berr mobilizou a sua energia organizadora para re-
novar as ciências humanas e foi um modelo para os inú-
meros empreendimentos editoriais e as formas coletivas 
de vida científica que os Annales criaram. ( REIS, 2010, 
p. 414).
Assim, muitos autores admitem Henri Berr como o “pai in-
telectual dos Annales”, o que de certo modo faz sentido se 
pensarmos que ele foi o precursor em contrariar a “história 
historicizante” e em formular a necessidade de uma história 
total. Berr também foi pioneiro em destacar a importância da 
história explicativa e da “interdisciplinaridade”, defendendo a 
aproximação da história das ciências sociais.
Capítulo 1 Panorama Historiográfico no Início do Século XX 9
Henri Pirenne
O historiador belga Henri Pirenne (1862-1935) exerceu gran-
de influência na historiografia contemporânea, sendo consi-
derado um dos grandes historiadores do século XX. Utilizando 
o método comparativo, pensava a história como uma nar-
rativa explicativa da evolução das sociedades humanas no 
passado. Renovando o método histórico, Pirenne desenvol-
veu a reconstituição histórica das perspectivas das ciências 
humanas. Foi responsável por desenvolver a história social e 
econômica, sendo um dos primeiros a trabalhar com história 
das mentalidades.
Voltando seus estudos para a Idade Média, Pirenne sobres-
sai-se, principalmente, por três grandes contribuições para a 
história da Europa: sua conhecida Tese (Tese de Pirenne), que 
diz respeito às origens da Idade Média; por apresentar uma 
visão particular sobre a história medieval da Bélgica; e, por 
ter desenvolvido seu modelo de desenvolvimento da cidade 
medieval.
A Tese de Pirenne – A tese está presente na obra Maomé e 
Carlos Magno, uma reinterpretação a respeito do início e da 
duração da Idade Média. Pirenne recusa o entendimento co-
mum de que a Idade Média teria se iniciado com a queda do 
Império Romano, já que os bárbaros que o dominaram ao in-
vés de destrui-lo romanizaram-se se aproveitando de sua eco-
nomia e cultura. O historiador aceita o ano de 711, a invasão 
muçulmana da Península Ibérica, como o mais conveniente 
para o início da Idade Média.
10 Teoria da História II
Suas obras foram consideradas por Marc Bloch como clás-
sicos da historiografia, as mais importantes foram: Histoire 
de Belgique (1902); Les villes du Moyen-Age, essai d’histoire 
économique et sociale (1927); e, Mahomet et Charlemagne 
(1935).
Johan Huizinga
O historiador holandês Johan Huizinga (1872-1945) dedicou-
-se à pesquisa sobre a Baixa Idade Média, o Renascimento e 
a Reforma. Desenvolvendo uma profunda análise dos acon-
tecimentos que somada à excelência literária fazem o autor 
figurar entre os grandes nomes da historiografia do início do 
século XX.
Huizinga é visto como um historiador da cultura que se de-
dicou a combater os regimes totalitários, o amesquinhamen-
to da cultura contemporânea, a brutalidade, o racismo: “No 
caso de Huizinga, isso significou pensar os problemas da cul-
tura como indissoluvelmente ligados aos problemas da política 
[...]”. (PAULA, 2005, p. 143).
O Johan Huizinga também se dedicou a pesquisar sobre a 
história econômica, produziu importante estudo em sua mono-
grafia publicada em 1905, A Origem da Cidade de Haarlem.
O outono da Idade Média, publicado em 1919, é reco-
nhecido como seu principal estudo, tal obra colocou-o entre 
os precursores da história das mentalidades. Introduzindo um 
novo modo de usar as fontes e dando espaço para a interdis-
Capítulo 1 Panorama Historiográfico no Início do Século XX 11
ciplinaridade, O outono da Idade Média é um grande clás-
sico da historiografia ocidental. O autor traz a Idade Média 
de forma viva e colorida, apresentada na plenitude de seus 
contrastes.
Huizinga foi um dos primeiros a tratar uma questão central 
da historiografia, a interdição do anacronismo, em um texto 
do ano de 1929, dizia ele: “La historia se distingue de estas 
otras formas do espiritu en que se proyeta sobre el pasado y 
solamente sobre el pasado. Pretende comprender el mundo en 
el pasado y a través de él”. (HUIZINGA, 1980, p. 92).
Ficou preso pelo exército nazista de 1942 até sua morte 
em 1945.
Entre suas obras mais conhecidas estão também: Homem e 
massa na América (1918); Erasmo de Roterdã (1924); A tarefa 
da História Cultura (1929); Nas sombras do amanhã (1935); 
Homo Ludens (1938); Um mundo em ruínas: considerações 
sobre as possibilidades de reconstruir nossacivilização.
Referências
BURKE, Peter. A Revolução francesa da Historiografia: a Escola 
dos Annales, 1929-1989. 2ª. ed. São Paulo: Editora Uni-
versidade Estadual Paulista, 1992.
GLÉNISSON, Jean. Iniciação aos estudos históricos. 2ª. ed. 
Rio de Janeiro: Difel, 1977.
12 Teoria da História II
HUIZINGA, Johan. El concepto de la historia. 3ª ed. Tradução 
espanhola. México: F.C.E., 1980.
JABINET, Caire; PAULE, Marie. Introdução à historiografia. São 
Paulo: Edusc, 2003.
KIRSCHNER, Tereza Cristina. Lavisse, Do determinismo histó-
rico e geográfico. In: Lições de História. O caminho da 
ciência no longo século XIX. Rio de Janeiro: FGV, 2010. p. 
353-374.
MORADIELLOS, Enrique. El oficio de historiador. 3ª. ed. Ma-
drid: Siglo XXI, 1999.
PAULA, João Antônio de. Lembrar Huizinga: 1872-1945. 
Nova Economia. Belo Horizonte. V.15, n.1. jan.-abr. 2005. 
p. 141-148.
REIS, José Carlos. Berr, Erudição, filosofia da história e síntese. 
In: Lições de História. O caminho da ciência no longo sé-
culo XIX. Rio de Janeiro: FGV, 2010. p. 413-432.
TÉTART, Philippe. Pequena história dos historiadores. São Pau-
lo: Edusc, 2000.
Atividades
 1. Marque V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmações 
abaixo:
 ( ) O início do século XX foi marcado por uma ruptura no 
fazer histórico, na qual os preceitos dos modelos histori-
Capítulo 1 Panorama Historiográfico no Início do Século XX 13
cista e empírico-positivista passaram a ser condenados no 
meio historiográfico.
 ( ) O início do século XX vivenciou uma prática de fazer a 
história dos acontecimentos políticos, dedicada ao Estado, 
às guerras, aos grandes homens.
 ( ) A história positivista do início do século XX permitia que 
os historiadores trabalhassem mergulhados em documen-
tos oficiais, ocupados em determinar os fatos históricos, 
não descuidando da importância das questões econômi-
cas e sociais.
 ( ) Na história positivista, a intuição e os dados orais têm 
papel fundamental no trabalho do historiador.
 ( ) O estudioso Ernest Lavisse censurava inteiramente as 
relações entre ciência e patriotismo.
A alternativa que contém a sequencia correta de V-F é:
a) V – F – F – V – F.
b) F – V – V – F – V.
c) F – V – F – F – F.
d) V – F – F – V – F.
e) F – F – V – F – V.
14 Teoria da História II
 2. Assinale a alternativa que apresenta informações in-
corretas a respeito do historicismo e positivismo.
a) s transformações econômicas e sociais do século XIX 
permitiram que uma nova leva de historiadores se de-
dicassem a discutir os modos de conduzir a história.
b) A narrativa histórica voltada aos acontecimentos políticos 
fora contestada pela primeira vez na Europa durante a 
Reforma Protestante, quando intelectuais de diversos paí-
ses preocuparam-se com uma “história da sociedade”.
c) O historicismo, movimento liderado por Ranke, com 
seu destaque nas fontes dos arquivos, marginalizou a 
história sociocultural do século XVIII.
d) No final do século XIX a supremacia da história política 
começou a ser contestada com maior frequência, e já 
no início do século XX as críticas, principalmente à sua 
inflexibilidade, se tornaram tão fortes que a sua derro-
cada se tornou iminente.
e) A maior oposição que a história política vivenciou foi a 
história econômica.
 3. Leia as afirmações abaixo.
I Henri Berr fundou em 1900 uma nova revista histórica 
com o título de Revista de Síntese Histórica (Revue de 
Synthése Historique).
II Henri Berr tinha o propósito de desafiar os excessos do 
historicismo e do positivismo reinantes na historiogra-
fia do início do século XX.
Capítulo 1 Panorama Historiográfico no Início do Século XX 15
III Em 1911, Berr lança sua obra A Síntese em História, 
na qual revela seu conceito de “síntese”, tornando-o 
um expoente intelectual das primeiras décadas do sé-
culo XX.
Estão corretas as afirmações:
a) Apenas as afirmações I e II.
b) Apenas as afirmações I e III.
c) Apenas as afirmações II e III.
d) Todas as afirmações.
e) Nenhuma das afirmações.
 4. Sobre o historiador belga Henri Pirenne podemos 
afirmar corretamente que:
a) Henri Pirenne exerceu grande influência na historio-
grafia moderna, sendo considerado um dos grandes 
historiadores do século XVIII.
b) Pirenne provocou uma estagnação no método históri-
co, freando a reconstituição histórica das perspectivas 
das ciências humanas.
c) Henri Pirenne destaca-se, principalmente, por três 
grandes contribuições para a história da Europa: sua 
conhecida Tese (Tese de Pirenne), que diz respeito às 
origens da Idade Moderna; por apresentar uma visão 
particular sobre a história medieval da França; e, por 
ter desenvolvido seu modelo de desenvolvimento da 
cidade moderna.
16 Teoria da História II
d Pirenne aceita o entendimento comum de que a Idade 
Média teria se iniciado com a queda do Império Ro-
mano, já que os bárbaros que o dominaram ao invés 
de destrui-lo romanizaram-se se aproveitando de sua 
economia e cultura.
e) O historiador aceita o ano de 711, a invasão muçul-
mana da Península Ibérica, como o mais conveniente 
para o início da Idade Média.
 5. A respeito do historiador holandês Johan Huizinga 
podemos afirmar que:
a) Dedicou-se à pesquisa sobre a Alta Idade Média, o 
Renascimento e o Iluminismo.
b) Dedicou-se à pesquisa sobre a Baixa Idade Média, o 
Renascimento e a Reforma.
c) Huizinga é visto como um historiador da economia 
que se dedicou a combater os regimes totalitários, o 
amesquinhamento da cultura contemporânea, a bru-
talidade, e a favor racismo.
d) Huizinga é visto como um historiador da política que 
se dedicou a apoiar os regimes totalitários, o amesqui-
nhamento da cultura contemporânea, a brutalidade, o 
racismo.
e) Huizinga é visto como um historiador da cultura que 
se dedicou a apoiar os regimes totalitários, o amesqui-
nhamento da cultura contemporânea, a brutalidade, o 
racismo.
Rodrigo Simões
Capítulo 2
Marxismo Posterior
18 Teoria da História II
Tendências do Marxismo no século XX
As primeiras décadas do século XX compõem um período de 
grandes transformações políticas, sociais e econômicas em 
toda a Europa. Como principais fatos deste início de século 
têm-se a primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa, a Cri-
se de 1929, o Período Entreguerras, a ascensão dos regimes 
totalitários e a deflagração da segunda Guerra Mundial. Não 
alheios a isso os escritores marxistas são influenciados direta-
mente por tais acontecimentos.
Após a revolução socialista na Rússia, a união de várias 
repúblicas soviéticas em 1922 originou um estado socialista, a 
URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), comanda-
do pelo Partido Comunista. A URSS configurou-se, na primei-
ra metade do século, como uma grande potência europeia: 
“Enormemente fortalecida em poder e prestígio internacionais, 
a URSS se tornara senhora do destino da Europa Oriental [...]. 
Um ‘campo socialista’ integrado agora cobria metade do con-
tinente”. (ANDERSON, p. 43, 1999).
Surge, em meio a esse contexto, uma metamorfose na te-
oria revolucionária marxista. A partir de então, o materialismo 
histórico passa a ter uma configuração totalmente nova. No 
entanto, essa transformação não acontece de forma rápida, 
muito menos de um modo simples.
Entre os teóricos que se dedicaram a esse trabalho, desta-
cam-se: Lukács, Gramsci, Benjamin, Lefebvre, Adorno e Althus-
ser. Com exceção de Lukács, todos esses autores provinham 
do oeste europeu. Com isso não surpreende saber que, da 
Capítulo 2 Marxismo Posterior 19
década de vinte em diante, o marxismo europeu condensou-se 
na Alemanha, França e Itália. Esses países apresentavam um 
partido comunista de massas, apoiado pelos trabalhadores, e 
uma classe intelectual abundante e radical.
Anderson (1999)aponta como a primeira e principal carac-
terística desse “marxismo ocidental” a sua separação estrutural 
com a prática política. Porém, não se pode esquecer que dois 
eminentes teóricos dessa geração atuaram como importantes 
líderes políticos em seus partidos: Lukács e Gramsci.
Na Alemanha, nos anos vinte, o Instituto de Pesquisa Social 
de Frankfurt. apontava as profundas mudanças que estavam 
para acontecer, pois:
Embora sua concepção como um centro acadêmico de 
pesquisa marxista dentro de um Estado capitalista fosse 
um novo ponto de partida na história do marxismo – im-
plicando um desvinculamento institucional da política, 
que Rosa Luxemburgo, por exemplo, jamais teria aceito 
antes da guerra -, o Instituto dedicou-se ao longo da 
década de vinte a problemas tradicionais do movimento 
operário, unindo trabalho empírico sólido e análise teó-
rica séria. (ANDERSON, 1999, p. 51).
Com a chegada ao poder dos nazistas em 1933 o Instituto 
Frankfurt entrou em um período de isolamento, até sua transfe-
rência em 1934 para os Estados Unidos, quando foi integrado 
pela Columbia University, de Nova York, a partir de então, ini-
ciou-se um processo de afastamento da política. Regressando 
à Alemanha em 1949-50 o Instituto não conseguiu recuperar 
sua função social de antes da mudança para a América.
20 Teoria da História II
Até a vitória do nazismo a Alemanha foi a única nação 
europeia, além da Rússia, a possuir um partido comunista de 
massas. Atrás da Alemanha chegou a França, apresentando 
um movimento comunista durante o período da Frente Popu-
lar1. Foi apenas em 1928 que o Partido Comunista Francês 
abrigou um grupo de jovens intelectuais interessados no mar-
xismo. Nesse grupo estavam, entre outros, Lefebvre, Politizer e 
Friedmann. Nesse momento, os partidos atuavam em um es-
paço reduzido, com restrições políticas em seus trabalhos teó-
ricos, já que “[...] todas as questões centrais referentes a análi-
se do desenvolvimento capitalista e ao comportamento da luta 
de classes era atribuição exclusiva do Comintern, na Rússia 
[...]”. (ANDERSON, 1999, p. 56). Com a ocupação nazista de 
1940-44 o marxismo encontrou as condições necessárias para 
sua generalização como corrente teórica na França. Após a 
guerra o Partido Comunista Francês se fortaleceu e conquistou 
a supremacia no interior da classe trabalhadora francesa.
Lukács
Gyorgy Lukács (1885-1971) foi um filósofo húngaro que pri-
meiramente sofreu influências teóricas de Kant, seguido por 
Hegel até aderir ao marxismo. Entre os anos de 1919 e 1929, 
1 A Frente Popular da França: coligação política de socialistas, comunistas 
e radicais. Formada em Dezembro de 1935, ganhou as eleições parlamen-
tares de Maio de 1936 sendo eleito primeiro ministro Léon Blum. Manteve-
-se no poder até 1938.
Capítulo 2 Marxismo Posterior 21
Lukács atuou como um dos líderes do movimento comunista 
húngaro chegando ao cargo de Secretário Geral.
A importância de Lukács para o meio intelectual deve-se, 
sobretudo por este ser representante do marxismo ocidental e 
pela sua defesa à Frente Popular.
Bottomore (2001) divide o período marxista de Lukács em 
cinco fases de atividade política e teórica, são elas:
1ª) 1919-1929: participação intensa de Lukács na luta 
política. Escreve as Teses de Blum (1928).
2ª) 1930-1945: com a rejeição das Teses de Blum, Lukács 
abandona a militância política ativa.
3ª) 1945-1949: participação intensa em atividades cul-
turais e políticas. Atacado por ideólogos do partido, 
Lukács retira-se para dedicar-se a estudos filosóficos.
4ª) 1950-1956: inicia trabalhos de síntese, entre os quais: 
A destruição da razão e A particularidade como cate-
goria estética.
5ª) 1957-1971: dedica-se a escrever duas sínteses maci-
ças: A natureza específica da estética e Para uma onto-
logia do ser social.
Gramsci
Antônio Gramsci (1891-1937) foi um filósofo e político italia-
no. Considerado um dos mais importantes pensadores comu-
22 Teoria da História II
nistas da Europa, principalmente por propor uma renovação 
dos conceitos do marxismo. Em vida, foi frequentador assíduo 
e ativo de círculos comunistas, inclusive foi um dos fundadores 
do Partido Comunista Italiano em 1921. Vítima do regime fas-
cista de Mussolini foi preso pela polícia italiana, em Roma, em 
1926. Permaneceu na prisão por nove anos, vindo a falecer 
logo após ter sido libertado em 1937.
Na obra de Gramsci é clara a sua rejeição a um entendi-
mento mecanicista do marxismo. No entanto, o autor persiste 
em fazer uso da categoria de necessidade. De acordo com 
Badaloni (1978, p. 28) “A sua tese fundamental é a de que ‘é 
preciso fazer liberdade do que é ‘necessário’’ e que exatamen-
te por isto ‘deve-se reconhecer uma necessidade ‘objetiva’’, 
e acrescenta que esta objetividade é tal ‘precisamente para o 
grupo de que se fala’”. Ainda segundo Badaloni (1978, p. 30) 
“A crítica gramsciana da política tende assim a desenvolver 
como ciência e como iniciativa tudo o que a realidade estrutu-
ral revela como necessidade”.
Gramsci figura entre os poucos estudiosos marxistas a se 
dedicarem ao estudo da cultura e da participação dos intelec-
tuais na sociedade. Um exemplo é Os intelectuais e a orga-
nização da cultura. Na obra o autor propõe uma análise da 
formação dos intelectuais e também sobre a organização da 
escola e da cultura. Gramsci entende a escola como instru-
mento para preparar os intelectuais de diversos níveis:
A complexidade da função intelectual nos vários Estados 
pode ser objetivamente medida pela quantidade das es-
Capítulo 2 Marxismo Posterior 23
colas especializadas e pela sua hierarquização: quanto 
mais extensa for a “área” escolar e quanto mais nume-
rosos forem os “graus verticais” da escola, tanto mais 
complexo será o mundo cultural, a civilização, de um 
determinado Estado. (GRAMSCI, p. 12).
Manacorda observa que para Gramsci é preciso educar 
com a finalidade de construção de uma vida (individual e co-
letiva) de modo sóbrio, com o mínimo de esforço e o máximo 
de rendimento:
Assim, Gramsci coordena ética com produtividade (não 
a nível dos homens como indivíduos, mas dos homens 
como um complexo social!), sobriedade e disciplina com 
economia e rendimento, formação do homem e traba-
lho (aquele trabalho que é a relação do homem com a 
natureza, que insere a ordem social na ordem natural). 
(MANACORDA, 1990, p. 207).
Em Concepção dialética da história, Gramsci aponta para 
o fato de que a experiência científica é a primeira célula do 
novo modo de união ativa entre o homem e a natureza: “O 
cientista-experimentador é também um operário, não um puro 
pensador: o seu pensar é continuamente controlado pela prá-
tica e vice-versa, até que se forma a unidade perfeita da teoria 
e da prática”. (GRAMSCI, 1978, p. 171).
Em sua obra, destacam-se: Escritos Políticos, Cartas do 
Cárcere, Cadernos do Cárcere, Maquiavel, a política e o Es-
tado moderno, Literatura e vida nacional, Concepção dialética 
da história e Os intelectuais e a organização da cultura.
24 Teoria da História II
Walter Benjamin
O alemão de família judaica Walter Benjamin (1982-1940) foi 
associado à Escola de Frankfurt e à Teoria Crítica. Seus textos 
permearam os mais diferentes estilos: desde história, ao drama 
trágico e romantismo. Sua obra, uma vastidão de ideias sobre 
a modernidade, é uma importante contribuição especialmente 
para a teoria estética. Seu pensamento sofreu forte influên-
cia do místico judaico Gershom Scholem e de marxistas como 
Brecht e Lukács, e foi fundamentado na concepção kantiana 
de crítica como um modo de reflexão estética e política.
Em Benjamin, há uma tentativa de conciliar marxismo com 
uma versão da teologia judaica, sendo assim:
[...] o elemento marxista fornecendo uma análise clínica 
da realidade do capitalismo e ateologia judaica forne-
cendo uma explicação de como uma tradição foi incor-
porada na mais desencarnada das formações culturais. 
(LECHTE, 2002, p. 230).
Seu ensaio A obra de arte na era da sua reprodutibilidade 
mecânica apresenta uma análise de uma mudança fundamen-
tal na qualidade estética da obra de arte, embora também 
seja uma análise política da reprodução da obra de arte. O 
texto permite percebermos que “[...] a aura de autenticidade 
da obra de arte feneceu por sua característica de ser reprodu-
zível, a percepção dos sentidos altera-se juntamente com todo 
o modo de existência da humanidade”. (LECHTE, 2002, p. 
228). Para Bejamin é o próprio processo de reprodução que é 
revolucionário.
Capítulo 2 Marxismo Posterior 25
Seus principais escritos foram: A obra de arte na era da sua 
reprodutibilidade mecânica; Teses sobre o conceito de História; 
Paris, capital do século XIX.
Lefebvre
O francês George Lefebvre (1874-1959) foi um historiador de 
esquerda especialista em Revolução Francesa. Aderiu ao so-
cialismo, com especial atenção ao Partido Operário Francês. 
Sem adotar todos os pontos de vista de Marx, frisou na fecun-
didade do pensamento marxista como método de pesquisa. 
Não se contentava em ver nele uma interpretação econômica 
da história; insistia cada vez mais no aspecto dialético da evo-
lução das sociedades, vendo na análise das contradições do 
movimento histórico um dos elementos essenciais da pesquisa.
Em sua obra, a luta de classes não encobre a ação dos ho-
mens, chamando atenção para os nomes de destaque durante 
o processo revolucionário, contudo, nenhum deles se impõe 
ao ponto de simbolizar a Revolução. Essa continua sendo obra 
coletiva do terceiro Estado.
Lefebvre foi um dos grandes descobridores das novas fontes 
a que aprendemos a recorrer, fiscais, cadastrais, tal como ve-
mos surgir em seus estudos de história agrária, quantificadas.
Soube unir magistralmente dois extremos: voltar-se para 
uma história-problema, ao mesmo tempo em que apresentou 
no livro 1789 – O surgimento da revolução francesa um exem-
plo de síntese bem sucedida. Essa obra reflete uma tríplice 
26 Teoria da História II
influência: do marxismo, da ideologia republicana e do méto-
do positivista. Nela, o autor deu uma demonstração insuperá-
vel daquilo que a Escola dos Annales chamaria mais tarde de 
“história problema”, apresentando também uma das primeiras 
grandes obras da história das mentalidades.
Ao longo do tempo o interesse pela Revolução Francesa 
o arrebatou, Lefebvre via nessa vocação o fruto da educação 
republicana e “moderna” que havia recebido no ensino médio 
da escola pública. Acreditava que a história da Revolução e 
dos seus grandes homens deveria ser uma escola de democra-
cia, a luta por um mundo melhor.
Principais obras do autor: 1789 – O surgimento da Revo-
lução Francesa; O nascimento da moderna historiografia; O 
grande medo de 1789: os camponeses e a Revolução Francesa.
Adorno
O filósofo e sociólogo alemão Theodor Adorno (1903-1969) 
foi um dos expoentes da Escola de Frankfurt. Sua obra foi in-
fluenciada por Lukács e por Benjamin. Antecipando aspectos 
do pós-modernismo e do pós-estruturalismo, Adorno desen-
volveu uma das filosofias mais complexas do século XX, basea-
da na perspectiva da dialética. Entendendo a ciência moderna 
como positivista ao extremo, Adorno pretendia desenvolver um 
pensamento dialético rejeitando a mesma. O autor se dedicou 
a estudar o mundo das aparências como um mundo de rela-
tivismo e ilusões:
Capítulo 2 Marxismo Posterior 27
Adorno conserva – embora mais em suas obras de crí-
tica cultural do que em sua filosofia – a distinção entre 
“essência” e “aparência” (uma distinção rejeitada pelo 
pensamento francês contemporâneo de inspiração pós-
-estruturalista) para rejeitar a natureza superficial da 
aparência na sociedade capitalista moderna. (LECHTE, 
2002, p. 200).
Adorno era um entusiasta da arte de vanguarda, ambicio-
nava ver estas obras romperem com os efeitos homogeneizan-
tes da comercialização: “Existe, pois, um desejo em Adorno 
de preservar a santidade, como se fosse, da subjetividade in-
corporada no objeto de arte contra o massacre do mercado, 
onde valor é equiparado a preço”. (LECHTE, 2000, p. 202).
Suas principais obras foram: Kierkegaard: a construção do 
estético; A ideia de historia natural; Dialética do esclarecimen-
to; Dialética negativa; Teoria estética.
Althuser
Nascido na Argélia, o filósofo Louis Althusser (1918-1990) 
foi responsável por uma transformação intelectual no Partido 
Comunista Francês. Foi prisioneiro dos alemães durante a Se-
gunda Guerra. Seus trabalhos ganharam projeção entre 1960 
e 1965, com a publicação dos artigos em A Favor de Marx, 
destacando-se como um grande teórico marxista de inclinação 
estruturalista. Sua notoriedade deve-se, em grande parte, ao 
seu “anti-humanismo”:
28 Teoria da História II
Argumentando contra a ideia de que indivíduos eram, 
em qualquer sentido, anteriores às condições sociais e 
conceitualizando a sociedade como um todo estruturado 
consistindo em níveis relativamente autônomos (o legal, 
o cultural, o político etc.) cujo modo de articulação, ou 
“efetividade”, é determinado “em última instância” pela 
economia, Althusser chocou muitos dentro e fora do mar-
xismo. [...] foi-se o tempo do autor individual produzindo 
conscientemente a relação social imposta pela estrutura: 
em vez disso cada sujeito se torna um agente do sistema. 
(LECHTE, 2002, p. 51).
Na obra Ler o Capital, desenvolve uma leitura aprofundada 
do texto de Marx apontando o modo através do qual Marx es-
tabeleceu uma revolução teórica fundamentada em um objeto 
totalmente novo: o modo de produção. Para Althusser, “[...] 
isso se torna a estrutura invisível da articulação dos elemen-
tos do todo social; ela não mais pertence à problemática que 
forma a filosofia e Hegel e a economia política clássica”. (LE-
CHTE, 2002, p. 52).
Referências
ANDERSON, Perry. Considerações sobre o marxismo ociden-
tal. São Paulo: Brasiliense, 1999.
BADALONI, Nicola. Liberdade individual e homem coletivo em 
Antonio Gramsci. In: Política e historia em Gramsci. Rio de 
Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1978.
Capítulo 2 Marxismo Posterior 29
BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento marxista. Rio 
de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. 2ª ed. 
Rio e Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultu-
ra. São Paulo: Círculo do livro.
LECHTE, John. Cinquenta pensadores contemporâneos essen-
ciais: do estruturalismo à pós-modernidade. 2ª ed. Rio de 
Janeiro: DIFEL, 2002.
MANACORDA, Mario A. O Princípio educativo em Gramsci. 
Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
Atividades
 1. Marque V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmações 
abaixo:
 ( )As primeiras décadas do século XX compõem um pe-
ríodo de grandes transformações políticas, sociais e eco-
nômicas em toda a Europa. Os escritores marxistas foram 
influenciados diretamente por tais transformações.
 ( ) Em meio ao surgimento da URSS ocorre uma metamor-
fose na teoria revolucionária marxista.
 ( ) A partir da década de 1950, o marxismo europeu con-
densou-se na Alemanha, França e Espanha.
30 Teoria da História II
 ( ) Com a ocupação nazista de 1940-44 o marxismo en-
controu as condições necessárias para sua generalização 
como corrente teórica na URSS.
a) V – F – F – F.
b) F – V – F – F.
c) V – V – V – F.
d) V – V – F – F.
e) V – V – F – V.
 2. A respeito do filósofo húngaro Gyorgy Lukács pode-
mos afirmar que:
a) Lukács foi influenciado teoricamente por Althusser se-
guido por Comte até aderir ao marxismo.
b) O período marxista de Lukács pode ser divido em três 
fases de atividade econômicae teórica.
c) No período de 1950-1956, Lukács inicia trabalhos de 
síntese, entre os quais: A natureza específica da estéti-
ca e Para uma ontologia do ser social.
d) A importância de Lukács para o meio intelectual deve-
-se sobretudo por este ser representante do marxismo 
ocidental e pela sua defesa à Frente Popular.
e) No período de 1957-1971, Lukács dedica-se a escre-
ver duas sínteses maciças: A destruição da razão e A 
particularidade como categoria estética.
Capítulo 2 Marxismo Posterior 31
 3. Sobre Antônio Gramsci, filósofo e político italiano, é 
incorreto afirmar que:
a) Em vida, foi frequentador assíduo e ativo de círculos 
comunistas, inclusive foi um dos fundadores do Partido 
Comunista Alemão em 1921.
b) Na obra de Gramsci é clara a sua rejeição a um en-
tendimento mecanicista do marxismo.
c) Gramsci figura entre os poucos estudiosos marxistas a 
se dedicarem ao estudo da cultura e da participação 
dos intelectuais na sociedade.
d) Em Concepção dialética da história, Gramsci aponta 
para o fato de que a experiência científica é a primeira 
célula do novo modo de união ativa entre o homem e 
a natureza.
e) Gramsci é considerado um dos mais importantes pen-
sadores comunistas da Europa, principalmente por 
propor uma renovação dos conceitos do marxismo.
 4. George Lefebvre foi um historiador francês. A respei-
to de sua atividade política e intelectual é correto afir-
mar que:
a) Lefebvre foi um historiador de direita especialista em 
Revolução Francesa.
b) Lefebvre aderiu ao socialismo, com especial atenção 
ao Partido Republicano Francês.
32 Teoria da História II
c Lefebvre não adotou todos os pontos de vista de Marx, 
frisou na fecundidade do pensamento marxista como 
método de pesquisa.
d) Na obra de Lefebvre, a luta de classes encobre a ação 
dos homens.
e) Lefebvre acreditava que acreditava que a história da 
Revolução Inglesa e dos seus grandes homens deveria 
ser uma escola de democracia, a luta por um mundo 
melhor.
 5. A respeito da filosofia desenvolvida por Adorno é cor-
reto afirmar que:
a) Adorno desenvolveu uma das filosofias mais comple-
xas do século XX, baseada na perspectiva capitalista.
b) Adorno desenvolveu uma das filosofias mais comple-
xas do século XX, baseada na perspectiva positivista.
c) Adorno desenvolveu uma das filosofias mais comple-
xas do século XX, baseada na perspectiva nacionalista.
d) Adorno desenvolveu uma das filosofias mais comple-
xas do século XX, baseada na perspectiva liberal.
e) Adorno desenvolveu uma das filosofias mais comple-
xas do século XX, baseada na perspectiva da dialética.
Rodrigo Simões
Capítulo 3
Annales I E II Gerações
34 Teoria da História II
Lucien Febvre e Marc Bloch
A primeira geração dos Annales foi liderada por Lucien Febvre 
e por Marc Bloch, Febvre era especializado em estudos do 
século XVI, enquanto Bloch foi um pesquisador dedicado à 
Idade Média. Mesmo pesquisado temas bem diferenciados, 
os dois historiadores concordavam em muitos aspectos, como, 
por exemplo, no entendimento de que o conhecimento do pre-
sente é de fundamental importância para a história.
Lucien Febvre foi estudar na Escola Normal Superior em 
1897. Admirador de Michelet e Jean Jaurès, Febvre também 
se destacou pela sua característica de introdução geográfica: 
“O interesse de Febvre pela geografia histórica era suficien-
temente grande para publicar, sob o incentivo de Henri Berr, 
um estudo geral sobre o assunto com o título de La terre et 
l’évolution humaine”. (BURKE, 1992, p. 25).
Marc Bloch também foi aluno da Escola Normal. Dedicou 
seus estudos à história medieval, tendo sua obra sofrido gran-
de influência da sociologia de Émile Durkheim.
Tanto Febvre quanto Bloch desenvolviam estudos de uma 
forma interdisciplinar. Quando os dois foram nomeados para 
a Universidade de Estrasburgo, tornaram-se amigos e parcei-
ros de trabalho com salas contíguas, os encontros deles foram 
diários de 1920 a 1933. Nesse momento, merece destaque 
a obra de Bloch, Les Rois Thaumaturges, editada em 1924. 
Nela, ao desenvolver uma análise da ideia de monarquia, o 
autor abordou a história das mentalidades, a sociologia histó-
rica, a sociologia do conhecimento e a história comparativa.
Capítulo 3 Annales I E II Gerações 35
Após finalizar seu projeto de geografia histórica, Febvre 
voltou-se para estudos de atitudes coletivas, ou “psicologia 
histórica”. Dedicando-se até sua morte à história do Renasci-
mento e da Reforma.
Febvre e Bloch, ambos encantados pelos fenômenos espi-
rituais na história e pela psicologia coletiva, foram os respon-
sáveis pela abertura dos caminhos para um novo domínio da 
historia, a história das mentalidades. Com Febvre se dedican-
do a dois enfoques principais: a noção de sensibilidade e a de 
aparelhagem mental. Outros historiadores, tais como Georges 
Duby, Roger Chartier, Robert Mandrou e Jacques Le Goff, fo-
ram sucessores de Febvre em desenvolver pesquisas voltadas 
à historia das mentalidades. O próprio Le Goff salienta a im-
portância desse domínio historiográfico. Para o autor a história 
das mentalidades “[...] é uma das que mais agitaram, nestes 
últimos anos, o campo da história e trouxeram, especialmente 
para a história econômica, um contrapeso desejado. As men-
talidades deram oxigênio à história.” (LE GOFF, 1995, p. 49).
A criação dos Annales
Os resultados da Primeira Grande Guerra refletiram-se tam-
bém no campo do conhecimento. Ambicionando a libertação 
de sua ciência, muitos historiadores, que recusavam o positi-
vismo, passaram a priorizar a economia em seus estudos. Tra-
balhos de Henri Hauser e Ernest Labrousse abriram caminho 
para sucessores de peso, que iriam transformar a historiografia 
de então.
36 Teoria da História II
Assim, uma revolução no universo científico e no trabalho 
do historiador ocorre no final da década de 1920 quando 
surge a escola dos “Annales”. Com o título original de Annales 
d’histoire économique et sociale, a revista fundada por Marc 
Bloch e Lucien Febvre, em 1929, desde sua origem preten-
deu ser uma referência intelectual no que concernia à histó-
ria social e econômica: “Seria o porta-voz, melhor dizendo, 
o alto-falante de difusão dos apelos dos editores em favor de 
abordagem nova e interdisciplinar da história”. (BURKE, 1992, 
p. 33). Romper as barreiras disciplinares, poder dialogar com 
outras ciências, eis uma das principais motivações de Bloch e 
Febvre ao lançar a nova revista. O próprio título da revista já 
apontava as direções a serem seguidas: “história econômica” 
e “história social”. Com o “econômico” e o “social” buscava-
-se abranger dois domínios que cada vez mais se acentuavam 
na vida dos povos, e que estavam deixados de lado pela his-
tória tradicional.
Propondo uma ruptura com a escola metódica que os for-
mou, Febvre e Bloch rejeitam o conservantismo. Desse modo, 
o surgimento dos Annales, além de ser objeto de poder, é tam-
bém elemento de uma geração intelectual, pois “Trata-se de 
defender uma liberdade nova e de dar fim ao ‘velho ídolo 
da história política factual’”. (TÉTART, 2000, p. 109). Daí em 
diante a superioridade das elites passa a ser negada juntamen-
te com a prioridade do acontecimento.
Para colocar em prática tal empreendimento, além de his-
toriadores, o comitê editorial da revista era composto também 
por geógrafo, sociólogo, economista e cientista político.
Capítulo 3 Annales I E II Gerações 37
Desde sua fundação até os dez anos que a sucederam, os 
Annales tiveram como principal inimigo a história política. De 
acordo com Le Goff, a luta dos Annales era contra:
Essa história política que é, por um lado, uma história-
-narrativa e, por outro, uma história de acontecimentos, 
uma história fatual, teatro de aparências que mascara o 
verdadeiro jogo da história,que se desenrola nos basti-
dores e nas estruturas ocultas, em que é preciso ir detec-
tá-lo, analisá-lo, explicá-lo. (1995, p. 31).
Os Annales se posicionaram na recusa de uma história su-
perficial e simplista, defendendo o fazer uma história profunda 
e total. (LE GOFF, 1995, p. 31).
Então, tudo passou a ser objeto de estudo e problema da 
história. O conhecimento do passado e do presente exigiu 
como tarefa do historiador falar da espessura e do tempo so-
cial, de seu movimento:
Daí a atenção dos “Annales” para com todas as fontes 
que trazem ensinamentos sobre a história do cotidiano, 
da civilização material, das crenças, em suma, de tudo 
o que faz a sedimentação de uma cultura, de uma eco-
nomia, de uma sociedade num dado tempo, num dado 
período. (TÉTART, 200, p. 111).
Embora Febvre e Bloch não se interessassem por historia-
dores e filósofos estudiosos da sociologia do conhecimento, 
Gurriêvitch constata que os dois concluíram algo de excepcio-
nal importância para a investigação histórica:
38 Teoria da História II
O historiador deve procurar descobrir aqueles procedi-
mentos do pensamento, aqueles modos de conceber o 
mundo e os hábitos da consciência que sejam próprios 
dos homens de uma dada época e dos quais esses 
mesmos homens possam não fazer uma ideia clara, 
aplicando-os meio “automaticamente”, sem refletir 
sobre eles e por isso sem submetê-los a uma crítica. 
(2003, p. 12).
A partir desse novo enfoque, à pesquisa histórica abriram-
-se novas portas, oferecendo novas perspectivas ao estudo do 
passado.
Febvre e Bloch entendiam que a Ciência Histórica necessita 
ser a ciência das mudanças, a ciência do homem. Porém, para 
Febvre, o homem em investigação é o homem na civilização, para 
Bloch, é o homem em sociedade. (GURRIÊVITCH, 2003, p. 83).
Contribuições históricas de Marc Bloch 
e Lucien Febvre depois da criação dos 
Annales
Após a criação dos Annales Bloch se propõe a direcionar sua 
carreira para um viés sociológico no qual há necessidade da 
análise dos diferentes fenômenos pertencentes a uma época, 
em seus vínculos mútuos e condicionamentos, na busca tanto 
do particular quanto do geral, “Bloch é estranho a quaisquer 
juízos de valor”. (GURRIÊVITCH, 2003, p. 82).
Capítulo 3 Annales I E II Gerações 39
Febvre deixou Estrasburgo em 1933, assumindo uma cáte-
dra no Collège de France; Bloch, em 1936, foi para a Sorbon-
ne. As transferências dos líderes fundadores dos Annales para 
Paris e a indicação de Febvre para a presidência do comitê 
organizador da Encyclopédie Française mostrou o êxito alcan-
çado pela revista.
A deflagração da Segunda Guerra Mundial em 1939 tra-
vou o desenvolvimento da Escola dos Annales. Bloch alistou-
-se no exército francês. Com a derrota de seu país retornou 
às suas pesquisas acadêmicas. Engajado na Resistência foi 
capturado e fuzilado pelos alemães em 1944. As principais 
obras do autor foram: Os reis Taumaturgos; A sociedade 
feudal; A estranha derrota; Introdução à história; História 
e historiadores; As características originais da historia rural 
francesa.
Durante a guerra, Febvre foi para sua casa de campo 
onde produziu artigos e livros. Após o conflito mundial, Feb-
vre auxiliou na reorganização da Ècole Pratique des Hautes 
Études e se tornou delegado francês na UNESCO. Febvre 
também criou a VI Seção da Ècole Pratique des Hautes Études 
em 1947.
Todo o esforço da vida intelectual de Febvre foi em função 
da Ciência Histórica, com sua preocupação em restabelecer 
a substância humanística ao conhecimento histórico. A posi-
ção relevante que os historiadores desfrutam na vida intelec-
tual francesa deve-se em grande parte a essa sua dedicação. 
(GURRIÊVITCH, 2003, p. 4).
40 Teoria da História II
Fernand Braudel – O herdeiro de Lucien 
Febvre e Marc Bloch
Fernand Braudel (1902-1985) foi um historiador francês de 
grande contribuição metodológica, teórica e historiográfica. 
Braudel construiu ao longo de sua carreira uma obra monu-
mental, composta por novas teorias, novos conceitos sobre di-
versos fenômenos históricos. Conforme Aguirre Rojas:
O postulado de Braudel de um claro determinismo das 
estruturas de longa duração sobre o conjunto dos pro-
cessos históricos revela-se muito original na medida em 
que não invalida necessariamente as hipóteses antes 
formuladas a respeito. Ao contrário ele as redimensiona 
e enriquece, ao propor um critério realmente novo, um 
recorte essencialmente diferente dos fatos históricos con-
siderados. (2003, p. 70).
Braudel é autor de uma importante obra da história, sua 
tese O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na Época de 
Felipe II, publicada em 1949. O texto foi escrito na prisão 
durante a Segunda Guerra. O Mediterrâneo é um livro exten-
so, apresentando seis vezes o tamanho padrão um livro, e é 
dividido em três partes
[...] cada uma das quais – como o prefácio esclarece 
– exemplifica uma abordagem diferente do passado. Pri-
meiramente, há a história “quase sem tempo” da relação 
entre o “homem” e o ambiente; surge então, gradativa-
mente, a história mutante da estrutura econômica, social 
e política e, finalmente, trepidante história dos aconteci-
mentos. (BURKE, 1992, p. 46).
Capítulo 3 Annales I E II Gerações 41
As nossas noções de tempo e espaço transformaram-se a 
partir da publicação de O Mediterrâneo, conforme salienta 
Lechte:
[...] Braudel efetivamente acrescentou que a história é 
também o efeito dos lentos e muitas vezes imperceptí-
veis efeitos do espaço, do clima e da tecnologia sobre as 
ações dos seres humanos no passado.
[...] Braudel temporaliza o espaço e aspectos como o 
ambiente natural; temporaliza, portanto, elementos que 
eram em grande parte tratados como se fossem atempo-
rais. (LECHTE, 2002, p. 107).
Tratando de modo amplo, não somente o espaço, mas tam-
bém a duração, Braudel passava da história para a geografia, 
sem fronteiras disciplinares. Nesse sentido, Daix, observa que:
A história é feita para nos abrir uma totalidade na qual 
os acontecimentos, em suas flutuações, virão criar cer-
tos pontos nodais que redirecionam o desenvolvimento 
do tempo, certos nichos políticos afastados [...]. Uma 
‘globalidade’, preferiria dizer Braudel mais tarde. (DAIX, 
1999, 270).
Com ele realçou-se o quanto a questão do espaço é im-
portante na história, dando-lhe um aspecto estrutural. Também 
a questão do tempo como plural foi muito aprofundada pelo 
autor, Burke observa o modo como Braudel dispõe o tempo 
em sua obra: “[...] permanece uma conquista pessoal de Brau-
del combinar um estudo na longa duração com o de uma 
complexa interação entre o meio, a economia, a sociedade, 
42 Teoria da História II
a política, a cultura e os acontecimentos”. (BURKE, 1992, p. 
55). No entanto, Braudel assinalou que a longa duração não 
era alternativa única, fechada em si: “[...] a longa duração 
é apenas uma das possibilidades de linguagem comum com 
vistas a uma confrontação das ciências sociais”. (BRAUDEL, 
2011, p. 120).
Com o Mediterrâneo, Braudel contribuiu para a história 
com inovações geográficas, típicas da escola francesa; com 
uma história social própria dos Annales; e com uma história 
econômica alemã. Daix aponta que:
Sua tripla sobreposição da história funciona na perspecti-
va da longa duração, embora ainda não focalize os pro-
jetores sobre ela. O que há de mais ousado e novo em 
seu livro – os diversos papéis e transformações do espaço 
mediterrâneo nesse período decisivo do fim do século 
XVI – descortina novos horizontes históricos. Eles são vi-
vificados pelas novas dimensões o espaço, já agora de 
alcance planetário, vividas ao longo da Segunda Guerra 
Mundial e da crise colonial que então começa. (DAIX, 
1999, p. 284).
A longa duração dá à história uma orientação estrutural 
um foco mais global, enfatizando a diversidadede interações, 
desse modo: “[...] a história de Braudel é escrita simultanea-
mente de muitas posições ou perspectivas diferentes, e nenhu-
ma baseada, seja intencionalmente ou não, em uma única 
posição ou perspectiva”. (LECHTE, 2002, p. 108). Para que 
suas pretensões historiográficas fossem colocadas em prática, 
Capítulo 3 Annales I E II Gerações 43
Braudel propunha uma abordagem interdisciplinar radical nas 
ciências sociais.
Em 1949, Braudel assumiu o cargo de professor no Collè-
ge de France e, ao lado de Febvre, passou a dirigir o Centre 
Recherches Historiques, na École de Hautes. Após a morte de 
Febvre em 1956, Braudel passou a ser o diretor efetivo dos 
Annales, ostentando o posto de historiador francês mais im-
portante e mais poderoso. Braudel sucedeu Febvre na presi-
dência da VI Seção da École, e criou, em 1963, a Maison das 
Sciences de l’Homme, uma instituição destinada a pesquisas 
interdisciplinares. Em 1969, Braudel recrutou jovens histo-
riadores, com a proposta de renovar os Annales. Entre esses 
novos pesquisadores estavam: Jacques Le Goff, Marc Ferro e 
Emmanuel Le Roy Ladurie.
Braudel influenciou gerações de historiadores, inclusive 
estrangeiros, os quais recebiam bolsas de estudos para que 
estudassem em Paris, dando preferência para aqueles que se 
ocupavam da época moderna.
Entre os anos de 1967 e 1979, Braudel se dedicou a um 
projeto que Febvre lhe propôs parceria antes de sua morte. Os 
dois pretendiam escreverem juntos uma história da Europa, 
no entanto, Febvre veio a falecer antes de iniciar seus escritos. 
Braudel preparou três volumes voltados para a história da vida 
material, a obra ficou intitulada como Civilization matérielle et 
capitalisme. De acordo com Burke: “Da mesma maneira que 
em O Mediterrâneo, sua forma de abordar a civilização é a de 
um geógrafo, ou de um geo-historiador, interessado em áreas 
44 Teoria da História II
culturais, nas quais a troca de bens ocorre, ou deixa de ocor-
rer.” (BURKE, 1992, p. 61).
Civilization matérielle et capitalisme foi um sucesso. A no-
toriedade obtida por Braudel a partir da publicação da obra 
deu-se, em parte, pelo prestígio que a “história nova” vinha 
conquistando. Em pouco tempo, Braudel tornou-se uma figura 
pública conhecida por sua crítica ideológica:
Mas seu sucesso, em 1979, decorreu dessa renovação em-
pírica de uma história falseada pela ideologia e da capaci-
dade de antecipação que daí decorria, provocando entre os 
jornalistas e o público cultivado a intuição de que Braudel for-
necia respostas a algo que, na realidade vivenciada tanto na 
França e na Europa quanto nos Estados Unidos e mais ainda 
nos países o Leste e mesmo na China, já não correspondia aos 
simplismos de 1968-1969 nem à vulgata dos economistas. 
Podíamos enfim ler uma história do Ocidente que explicava o 
que ele era – e, indiretamente, por que estava em crise. (DAIX, 
1999, p. 579).
Referências
AGUIRRE ROJAS, Carlos Antonio. Braudel, o mundo e o Brasil. 
São Paulo: Cortez, 2003.
BRAUDEL, Fernand. História e ciências sociais: a longa du-
ração. In: NOVAIS, Fernando A.; SILVA, Rogerio Forastieri 
da. Nova história em perspectiva. São Paulo: Cosac Naify, 
2011.
Capítulo 3 Annales I E II Gerações 45
BURKE, Peter. A Revolução francesa da Historiografia: a Escola 
dos Annales, 1929-1989. 2ª. ed. São Paulo: Editora Uni-
versidade Estadual Paulista, 1992.
DAIX, Pierre. Fernand Braudel: uma biografia. Rio de Janeiro: 
Record, 1999.
GURIÊVITCH, Aaron. A síntese histórica e a Escola dos Anais. 
São Paulo: Perspectiva, 2003.
LE GOFF, Jacques. A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 
1995.
LECHTE, John. Cinquenta pensadores contemporâneos essen-
ciais: do estruturalismo à pós-modernidade. 2ª ed. Rio de 
Janeiro: DIFEL, 2002.
TÉTART, Philippe. Pequena história dos historiadores. São Pau-
lo: Edusc, 2000.
Atividades
 1. A primeira geração dos Annales foi liderada por Lu-
cien Febvre e por Marc Bloch. Sobre esses dois his-
toriadores marque V (verdadeiro) e F (falso) para as 
afirmações abaixo.
 ( ) Febvre era especializado em estudos do século XVI, en-
quanto Bloch foi um pesquisador dedicado à Idade Média.
 ( ) Tanto Febvre quanto Bloch concordavam no entendi-
mento de que o conhecimento do presente é de funda-
mental importância para a história.
46 Teoria da História II
 ( ) Febvre também se destacou pela sua característica de 
introdução geográfica.
 ( ) A obra de Marc Bloch sofreu grande influência da so-
ciologia de Émile Durkheim.
A alternativa que contém a sequencia V-F correta é:
a) V – F – V – V.
b) V – V – F – V.
c) V – V – V – F.
d) F – V – V – V.
e) V – V – V – V.
 2. Assinale a alternativa que melhor completa a frase 
abaixo.
 Febvre e Bloch, ambos encantados pelos fenômenos es-
pirituais na história e pela psicologia coletiva, foram os 
responsáveis pela abertura dos caminhos para um novo 
domínio da história, a história ______________.
a) do imaginário.
b) do cotidiano.
c) das mentalidades.
d) política.
e) da cultura.
Capítulo 3 Annales I E II Gerações 47
 3. Leia as sentenças abaixo:
I O surgimento da Escola dos Annales no final da dé-
cada de 1920 significou uma revolução no universo 
científico e no trabalho do historiador.
II O surgimento dos Annales, além de ser objeto de po-
der, é também elemento de uma geração intelectual.
III Os Annales se posicionaram na recusa de uma história 
superficial e simplista, defendendo o fazer uma história 
profunda e total.
Quais sentenças apresentam informações verdadeiras?
a) Apenas as sentenças I e II são verdadeiras.
b) Apenas as sentenças I e III são verdadeiras.
c) Apenas as sentenças II e III são verdadeiras.
d) Todas as sentenças são verdadeiras.
e) Todas as sentenças estão falsas.
 4. A respeito da vida intelectual de Marc Bloch e Lucien 
Febvre após a criação dos Annales pode-se afirmar 
que:
a) Após a criação dos Annales Bloch se propõe a dire-
cionar sua carreira para um viés filosófico no qual não 
há necessidade da análise dos diferentes fenômenos 
pertencentes a uma época.
b) Bloch negou-se a alistar-se no exército francês para 
permanecer como professor no Collège de France.
48 Teoria da História II
c) Durante a Segunda Guerra, Febvre foi para sua casa 
de campo onde produziu artigos e livros.
d) Todo o esforço da vida intelectual de Febvre foi em 
função da Filosofia, com sua preocupação em resta-
belecer a antropologia ao conhecimento filosófico.
e) Após o conflito mundial, Bloch auxiliou na reorganiza-
ção da Ècole Pratique des Hautes Études e se tornou 
delegado francês na UNESCO.
 5. Assinale a alternativa INCORRETA a respeito de Fer-
nand Braudel:
a) Fernand Braudel foi um historiador francês de grande 
contribuição metodológica, teórica e historiográfica.
b) Braudel construiu ao longo de sua carreira uma obra 
monumental, composta por novas teorias, novos con-
ceitos sobre diversos fenômenos históricos.
c) As nossas noções de tempo e espaço transformaram-
-se a partir da publicação da obra O Mediterrâneo, de 
Fernand Braudel.
d) Com Fernand Braudel realçou-se o quanto a questão 
da política é importante na história, dando-lhe um as-
pecto estrutural.
e) Braudel propunha uma abordagem interdisciplinar ra-
dical nas ciências sociais.
Rodrigo Simões
Capítulo 4
Annales III Geração
50 Teoria da História II
O surgimento de uma terceira geração
O início da década de 1970 vivenciou o surgimento de uma 
nova geração dos Annales. Os anos que seguiram foram mar-
cados por profundas mudanças intelectuais. Diferente do que 
ocorreu nas duas gerações anteriores, com Le Febvre e Brau-
del, a terceira geração dos Annales não apresentou um líder 
que preponderou sobre o grupo. Desse modo, é complicado 
descrever um únicoperfil intelectual da geração. Pode-se in-
clusive falar em uma fragmentação dentro da historiografia 
dos Annales. A respeito dessa diversidade de interesses dentro 
da terceira geração dos Annales, Burke observa que
Deve-se admitir, pelo menos, que o policentrismo preva-
leceu. Vários membros do grupo levaram mais adiante o 
projeto de Febvre, estendendo as fronteiras da história de 
forma a permitir a incorporação da infância, do sonho, 
do corpo e, mesmo, do odor. Outros solaparam o proje-
to pelo retorno à história política e à dos eventos. Alguns 
continuaram a praticar a história quantitativa, outros rea-
giram contra ela. (BURKE, 1992, p. 79).
Outra característica importante dessa nova geração dos 
Annales é que esta se mostrou mais disposta a permitir a influ-
ência do pensamento americano, com membros falando e es-
crevendo em inglês, assim: “Por diferentes caminhos, tentaram 
fazer uma síntese entre a tradição dos Annales e as tendências 
intelectuais americanas – como a psico-história, a nova his-
tória econômica, a história da cultura popular, antropologia 
simbólica, etc”. (BURKE, 1992, p. 80).
Capítulo 4 Annales III Geração 51
É com a terceira geração que se descobre o outro: “A cons-
ciência etnológica descobre o interesse que as outras civiliza-
ções apresentam”. (DOSSE, 2003, p. 247). Os historiadores 
passam a investigar aquilo que faz a força para que essas so-
ciedades resistam, pela conservação de suas estruturas e seus 
valores, que parecem indomáveis ao modelo ocidental. Tudo 
passa a ser objeto de pesquisa para o historiador.
Agora o pensamento histórico não está mais concentrado 
em Paris. As novas abordagens estão sendo experimentadas 
em diversas partes do mundo. Uma mudança fundamental 
ocorreu nos interesses de pesquisa de muitos historiadores ao 
longo das décadas de 1960 e 1970: o enfoque econômico 
foi transferido por um enfoque voltado para a “superestrutu-
ra” cultural. Assim, o historiador dos Annales explora novos 
domínios nos anos 1970, com estudos relacionados às sen-
sibilidades e à cultura material. Para Burke essa alteração de 
abordagem deveu-se em parte, por ser uma reação contra 
Braudel, mas também significou uma reação mais ampla con-
tra qualquer espécie de determinismo. (BURKE, 1992, p. 81).
A dedicação inicial da Escola dos Annales para uma histó-
ria-problema foi, de certa forma, superada por uma dimensão 
antropológica e pela cultura material, pois:
No centro do discurso dos Annales, encontra-se uma 
descrição da vida cotidiana tanto material quanto mental 
das pessoas comuns das sociedades do passado que se 
parece, definitivamente, com a história positiva em seu 
aspecto factual, só que simplesmente em outro campo, 
fora do político. (DOSSE, 2003, p. 257).
52 Teoria da História II
Jacques Le Goff
Com a aposentadoria de Fernand Braudel, este foi substituído 
pelo historiador francês Jacques Jacques Le Goff (1924-2014) 
na Presidência da VI Seção e na Presidência da École de Hau-
tes Études em Sciences Sociales. Le Goff foi membro da Escola 
dos Annales
Ao longo de sua vida publicou dezenas de livros que reno-
varam a pesquisa histórica. Le Goff foi um dos propulsores da 
história conceitual, a qual, para o autor, deveria basear-se em 
um novo entendimento da noção de tempo, admitindo a mul-
tiplicidade dos tempos sociais: “[...] convergentes, divergentes, 
susceptíveis de recobrimentos, mas que, todos, da cronologia 
das crenças à das fontes de energia, fundam a espessura sócio 
e espaço-temporal da história”. (TÉTAR, 2000, p. 121).
Dessa forma, Le Goff foi responsável por colocar o proble-
ma do tempo como problema sociocultural. Para ele, o tempo 
é um indício externo ou um parâmetro do desenvolvimento 
histórico. No entanto, Le Goff não entende o tempo como um 
dos muitos componentes da cultura, já que, “Em suas obras o 
tempo é um instrumento de dominação social, um poderoso 
instrumento de controle sobre a sociedade, a vida e a consci-
ência de seus membros”. (GURIÊVITCH, 2003, p 180)
Le Goff dedicou-se à pesquisa em antropologia histórica 
do ocidente medieval e em história das mentalidades. Sobre 
a história das mentalidades o historiador entendia que esta 
“[...] dirige a atenção exclusiva para o não-conscientizado, o 
cotidiano, os automatismos do comportamento, os aspectos 
Capítulo 4 Annales III Geração 53
extrapessoais da consciência individual” (GURIÊVITCH, 2003, 
p. 178), Le Goff complementa seu pensamento ao apontar 
que sob este tipo de enfoque
[...] o historiador tem de trabalhar pelos métodos da 
‘arqueologia’, escarafunchar até chegar aos sentidos e 
significado ocultos. Aqui se dá atenção especial ao es-
tudo das forças inerciais em história, das tradições, dos 
hábitos da consciência, pois as ‘mentalidades’ mudam 
mais lentamente que tudo. (GURIÊVITCH, 2003, p. 178).
A Civilização do Ocidente Medieval (1964), escrito por Le 
Goff, resultou em uma nova imagem da Idade Média, que 
foi cunhada pelo próprio Le Goff como “outra Idade Média”. 
Na obra, o autor, primeiramente, apresenta um delineamento 
geral da história da Europa medieval; após, são expostas as 
principais características da mentalidade dos homens medie-
vais. Guriêvitch salienta o quanto esse livro foi inovador, pois:
Nele já se encontra uma seleção original dos monumen-
tos históricos: é nítido que Le Goff não se empenha em 
concentrar toda a sua atenção apenas na cultura da elite 
letrada, em todo o conhecido “arco” de nomes de teólo-
gos, pensadores e poetas. A concepção de cultura, toma-
da por base do livro, é antropológica e não tradicional, 
e foi justamente esse enfoque que fez de A Civilização do 
Ocidente Medieval um fator essencial da historiografia 
atual. (2003, p. 174).
La Naissance du Purgatoire (1991) publicado por Le Goff, 
trata das mudanças das representações da vida depois da 
54 Teoria da História II
morte. Nele, Le Goff procura realizar uma conexão entre mu-
danças intelectuais e as sociais. Ao mesmo tempo em que
[...] insistia na ‘mediação’ de ‘estruturas mentais’, de 
‘hábitos de pensamento’, ou de ‘aparatos intelectuais’, 
em outras palavras, de mentalidades, observando que, 
nos séculos XII e XIII, surgiram novas atitudes em relação 
ao tempo, espaço e número, inclusive o que ele chama-
va do ‘livro contábil da vida depois da morte’. (BURKE, 
1992, p. 86).
Michelle Perrot
As mulheres, excluídas da história até então, encontram na 
terceira geração dos Annales sua primeira inserção na histo-
riografia. A história das mulheres passou a ser produzida, além 
da França, na Grã-bretanha, nos Estados Unidos, na Holanda, 
na Alemanha Ocidental e na Itália.
Michèle Perrot (1928) trabalhou para que a incorporação 
das mulheres na história tivesse êxito. Perrot é especialista em 
história do século XIX. Iniciou suas pesquisas dedicando-se à 
história social, e mais tarde voltou-se para a história das mu-
lheres. Seu caminho nessa área de pesquisa iniciou quando, 
em 1973, Perrot ministrou um curso chamado “As mulheres 
têm uma história?”. A partir de então, a historiadora se envol-
veu cada vez mais com a temática, da qual ela é considerada 
o grande nome da historiografia.
Capítulo 4 Annales III Geração 55
Sua primeira obra foi Les ouvriers em grève (1974), mas o 
seu reconhecimento intelectual veio com sua principal obra, 
o consagrado Os excluídos da história (1988). Dessa forma, 
Perrot inovou na história social, tanto no que diz respeito à 
história da classe trabalhadora, quanto no que concerne à his-
tória das mulheres. Com Les ouvriers em grève, Perrot, se torna 
precursora na França, em estudos da classe operária. No livro 
Os excluídos da história ganham o papel de sujeitos da histó-
ria: operários, mulheres e prisioneiros.
Em relação à História das mulheres, Perrot sustenta em Os 
excluídos da História, quena década de 1980 foi o desejo de 
inverter as perspectivas historiográficas tradicionais, de mostrar 
a presença real das mulheres na história mais cotidiano, o que 
sustentou o esforço das historiadoras. (PERROT, 1992, p. 171)
Outras contribuições importantes de Perrot para a histo-
riografia foram a organização e autoria de grande parte do 
quarto volume da coleção História da vida privada (1993), e a 
organização, em parceria com Georges Duby, da coleção His-
tória das mulheres (1993), a qual ainda está em publicação.
Georges Duby
O francês Georges Duby (1919-1996), seguidor de Febvre 
e Bloch, destacou-se pela sua contribuição como historiador 
social e econômico da França Medieval. Ocupou-se com a 
história das ideologias, da reprodução cultural e do imaginá-
56 Teoria da História II
rio social, que aliou à história das mentalidades, sendo con-
siderado um dos mais importantes pesquisadores dessa área.
Interessado pela correlação entre as estruturas sociais e es-
pirituais, da interação do mundo imaginário com o mundo 
real. Duby salientou que,
A sociedade não vive tanto de acordo com as condições 
objetivas quanto com a imagem ou a visão de mundo 
que ela criou para si. Nesse sentido pode-se observar 
que dificilmente seria necessário contrapor uma à ou-
tra; porque a imagem de mundo absorve tanto os traços 
da fantasia e o “distanciamento da realidade” quanto os 
fragmentos desta última, refundindo tudo de acordo com 
sua estrutura exterior. (GURIÊVITCH, 2003, p. 115).
Seu livro mais importante é Les trois ordres. Nele, Duby 
realiza um estudo de caso, o da representação coletiva da so-
ciedade dividida em três grupos: padres, cavaleiros e campo-
neses (os que rezam, os que lutam, e os que lavram). Partindo 
disso, propõe uma investigação sobre as relações entre o men-
tal e o material no decorrer da mudança social. Burke (1992) 
assinala, em relação a essa sociedade formada de três grupos, 
que exercem as três funções básicas, o que Duby apresenta:
[...] que essa imagem de três ordens tem a função de le-
gitimara exploração dos camponeses por seus senhores, 
sugerindo que cada um desses grupos serve a sociedade 
de maneira diversa. Sua análise, porém, não para por aí. 
O que lhe interessa é saber a razão pela qual é reativada 
essa concepção tripartite da sociedade. (p. 87).
Capítulo 4 Annales III Geração 57
Robert Mandrou
Robert Mandrou (1921-1984) foi um historiador francês, dis-
cípulo de Lucien Febvre, foi a figura principal na psicologia 
histórica.
Um fato importante na sua carreira intelectual foi o rompi-
mento com Braudel. Os dois cortaram relações no momento 
em que havia um debate sobre o futuro dos Annales. Braudel 
defendendo uma inovação no movimento, enquanto Mandrou 
escolheu manter o estilo tradicional, no qual a história das 
mentalidades ocupava papel considerável.
Segundo Ariès (1995) a “análise de psicologia histórica” de 
Mandrou foi e ainda permanece como um modelo clássico do 
estudo das mentalidades.
Na obra Magistrados e feiticeiros na França do século XVII 
(1968), Mandrou traz os resultados de sua pesquisa nos ar-
quivos judiciários e nos trabalhos dedicados à caça às bruxas 
na França no século XVII. Interessado em dar voz às massas 
anônimas, o autor traz ao nosso conhecimento o universo das 
crenças. Para Mandrou, o problema a ser investigado e solu-
cionado pelo historiador tem sua base nas relações entre os 
comportamentos sociais e as ideias. Assim, Mandrou (1979), 
logo no início do livro, apresenta os três elementos que cons-
tituem o conteúdo essencial do sistema mental que legitima 
a caça às feiticeiras: um cristão; um de experiência visível; e, 
sentenças, confissões, fogueiras e confiscos. Todos esses com-
ponentes desempenham sua parte nessa tradição, garantindo-
-lhe a solidez:
58 Teoria da História II
Eles fundamentam em verdade de experiência os inúme-
ros relatos que transmitem, tanto quanto os sábios tra-
tados dos juízes e dos teólogos, os pequenos libelos de 
algumas páginas, contando as histórias prodigiosas “de 
um gentil-homem ao qual o Diabo apareceu e com o 
qual ele conversou sob o corpo de uma mulher morta”, 
ou “de um mágico da cidade de Moullins que tinha um 
Demônio dentro de um pequeno frasco”. (MANDROU, 
1979, p. 63-64).
Jean Delumeau
Jean Delumeau (1923), historiador francês, iniciou sua vida 
intelectual como historiador socioeconômico, após passou a 
dedicar-se a história da cultura. Ao longo de suas pesquisas 
especializou-se em explorar a história do cristianismo, sendo 
autor de várias obras relacionadas com o tema. Seus estudos 
abrangeram também o Renascimento.
Em História do medo no Ocidente (1978), Delumeau to-
mou como objeto de estudo do medo, O autor explora os 
medos individuais e coletivos da civilização ocidental do sécu-
lo XIV ao XVIII: “Na Europa do começo da Idade Moderna, o 
medo, camuflado ou manifesto, está presente em toda a parte. 
Assim é em toda a civilização mal armada tecnicamente para 
responder às múltiplas agressões de um meio ameaçador”. 
(DELUMEAU, 2009, p. 54).
Capítulo 4 Annales III Geração 59
Emmanuel Le Roy Ladurie
O historiador francês Emmanuel Le Roy Ladurie (1929) foca 
seus estudos principalmente sobre Languedoc no Antigo Re-
gime, principalmente a história do campesinato. Ladurie foi 
discípulo de Fernand Braudel, e assim como seu professor, 
foi membro líder da Escola dos Annales. Integrando a Nova 
História, foi um dos primeiros a trabalhar com micro-história. 
Ladurie também foi propagandista da utilização de métodos 
quantitativos em pesquisa histórica.
Em Peasants of Languedoc, o autor procura reconhecer a 
longa duração:
[...] os padrões (estruturas) intelectuais e materiais de 
desenvolvimento lento que delineiam eventos e tendên-
cias mais evidentes e efêmeros (“conjucture”) favorecidos 
pelos defensores da histoire événementielle (história de 
eventos). (HUGHES-WARRIGTON, 2002, p. 226).
Assim, em suas reflexões, Ladurie combina eventos e “es-
truturas”. Isso acontece em O Carnaval em Romans: da Can-
delária à Quarta-feira de Cinzas – 1579-1580. Na obra, La-
durie apresenta o massacre de artesãos na cidade Romans no 
carnaval de 1580. De acordo com Hughes-Warrigton (2002), 
o livro expõe o interesse de Ladurie pelas atitudes, valores, 
crenças religiosas, costumes populares e comportamento.
Sua obra mais importante se tornou um clássico da his-
toriografia: Montaillou, povoado occitânico de 1249 a 1324. 
Nesse estudo de história social e cultural, o autor retrata a vida 
cotidiana de pessoas comuns. Montailou é uma pequena al-
60 Teoria da História II
deia no sudoeste da França. Em 1320, a aldeia é atacada pela 
Inquisição que promoveu extensas e minuciosas confissões de 
seus habitantes. Utilizando-se do relato de Jacques Fournier, 
bispo de Pamiers em Aréges, de 1318 a 1325, do interroga-
tório e da punição de pessoas acusadas de catarismo, Ladurie 
reconstitui a vida de Montailou. Conforme Burke (1992), a 
grandiosidade da obra de Ladurie deve-se, em parte, por este 
historiador ter sido um dos primeiros a utilizar os registros da 
inquisição para a reconstrução da vida cotidiana e suas atitu-
des. Nesse sentido:
É preciso lembrar acima de tudo o poder de seu autor 
trazer o passado à vida e também colocar em questão os 
documentos, lendo-os nas entrelinhas e fazendo-os reve-
lar o que nem mesmo os aldeões sabiam que sabiam. É 
um brilhante tour de force da imaginação histórica e uma 
revelação das possibilidades de uma história antropoló-
gica. (p. 97).
Referências
ARIÈS, Philippe. A história das mentalidades. In: LE GOFF, Ja-
cques. A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 
154-176.
BURKE, Peter. A Revolução francesa da Historiografia: a Escola 
dos Annales, 1929-1989. 2ª. ed. São Paulo: Editora Uni-
versidade Estadual

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