Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Faculdade de Comunicação Social Economia Política da Comunicação - Prof.ª Letícia Matheus Alunas: Fernanda Bravim Lana Nascimento “Obesidade Infantil NÃO”: análise da campanha de Responsabilidade Social da Amil A operadora de planos de saúde Amil investe há cinco anos na campanha de responsabilidade social intitulada "Obesidade Infantil NÃO". O presente trabalho tem como objetivo entender as motivações, a estratégia e os resultados alcançados pela campanha. Sua finalidade é alertar e educar os pais contra a doença que acomete cada vez mais nossa sociedade: 14,30% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos são obesas, e 33,50% têm excesso de peso, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que também prevê uma estimativa de aumento de 2% ao ano. As ações de responsabilidade social em geral, assim como as ações de medicina preventiva, têm impactos não só na promoção de saúde e prevenção de doenças, mas também impactos econômicos e mercadológicos que influenciam o seu processo de implementação. Assim, há de se considerar também as vantagens comerciais e econômicas que a Amil poderia obter na realização da campanha contra a Obesidade Infantil. Ao contrário do que se pode pensar, não é do interesse das operadoras que os usuários fiquem doentes. Primeiramente, porque o valor do serviço de plano de saúde reside também na ideia da prevenção, de ter um plano para não correr o risco de eventualmente precisar de uma internação, por exemplo, e ter que arcar com custos exorbitantes de hospitais particulares, ou pior ainda – depender do ineficaz e sabotado sistema público de saúde. Mas os especialistas no setor de saúde Mauricio Ceschin – ex-presidente da Agência Nacional de Saúde, do Hospital Sírio Libanês e da Administradora de Benefícios Qualicorp - e o médico cancerologista Drauzio Varella também antecipam uma crise no modelo atual de gestão dos planos de saúde, detalhada no livro ‘A Saúde dos Planos de Saúde’, lançado em 2014. Eles afirmam que o mercado é pouco lucrativo para as operadoras, que operam sob margens de lucros pequenas, num ciclo prejudicial para o plano, para os médicos e para o consumidor. Os autores apontam como fatores comercialmente desfavoráveis para a operadora o envelhecimento da população e a crescente demanda por exames, concomitantes ao maior uso do plano por parte dos usuários em decorrência de problemas de saúde, entre eles, a obesidade e outras complicações que se derivam dela. Varella e Ceschin apontam como solução para o mercado uma maior responsabilização do consumidor pela sua própria saúde, através por exemplo da diferenciação do valor do plano entre o sujeito que preserva sua saúde e faz suas revisões, e aquele que não se cuida, que potencialmente terá mais gastos médicos. Portanto, é natural que as operadoras de planos de saúde tomem medidas para garantir o seu lucro a longo prazo, e do ponto de vista das operadoras isso deve se dar através da prevenção e da colaboração do próprio usuário. Para o mérito da agência de publicidade Artplan, a campanha sobreviveu ao risco que toda iniciativa de responsabilidade social corporativa corre que é soar falsa, gerando a imagem negativa de que a organização está se aproveitando de uma questão social para o benefício próprio de forma egoísta e dissimulada. Pelo contrário, a campanha ajudou a trazer à tona um tema importante que vinha sendo pouco debatido na opinião pública, ao conscientizar e dar suporte para a sociedade se informar e combater esta epidemia. Foram utilizadas diversas mídias, como comerciais de TV, outdoor, cartazes em pontos estratégicos, canal no Youtube (com vídeos, dicas e receitas), redes sociais, cartilhas educativas - que informam os pais e atraem olhares das crianças com desenhos e jogos – além da manutenção do site do projeto - um portal que reúne dicas, vídeos, orientações sobre índices de obesidade, e disponibiliza gratuitamente a cartilha de nutrição. Quanto às mensagens transmitidas, utiliza-se sobretudo um apelo emocional para chamar a atenção dos pais e criar empatia. Frequentemente se recorre à ingenuidade e inconsequência das crianças: "Eu ainda não sei o que é hipertensão", afirma uma criança em uma das peças. Assim, a campanha busca incitar uma atitude mais efetiva dos pais e responsabilizá-los em relação ao comportamento e à alimentação dos filhos, evitando que acatem as vontades dos pequenos em detrimento da sua saúde e se tornem aliados no combate à obesidade. A campanha vem se renovando a cada ano e atualmente está em uma nova fase cujo mote é um fator determinante para a obesidade: o sedentarismo. As peças criticam o tempo que as crianças estão passando na frente das telas, substituindo atividades físicas por jogos digitais em excesso. A Amil continua investindo em um composto de comunicação integrado, lançando um portal reformulado, peças em mídia interior e exterior, no cinema e na TV fechada. Há, por exemplo, um imenso outdoor na saída da Ponte Rio-Niterói em direção ao Rio de Janeiro, onde se vê a imagem de um tablet, dentro dele uma criança sobre uma bicicleta como se estivesse limitada à área da tela, e a frase “Quando ela fica demais no tablet, não sobra espaço para mais nada”, fazendo alusão ao espaço que a tecnologia ocupa na vida das crianças em detrimento das brincadeiras fisicamente ativas. Além de chamar atenção, a campanha se propõe a ajudar os pais e as crianças a mudarem verdadeiramente os seus hábitos, disponibilizando em seu site dicas para usar as telas como aliadas no combate à obesidade, sugestões de atividades físicas, além de receitas de comidas saudáveis e não-industrializadas atrativas ao paladar infantil, como nuggets caseiros e pizza com massa de couve-flor. Iniciada em 2014, a campanha ganhou grande visibilidade ao longo do tempo. Um de seus comerciais de TV, também veiculado no Youtube, atingiu a marca de 14 milhões de visualizações na plataforma, estando na lista dos vídeos mais assistidos de 2016 e destacando-se como um dos comerciais mais vistos na história do Youtube. Pela campanha, a empresa venceu o prêmio AMBN (Associação Brasileira de Marketing) na categoria Responsabilidade Social e Sustentabilidade em 2015 e 2016. Portanto, a campanha se consagrou como case de sucesso numa iniciativa que favorece a comunidade e os interesses da própria organização, contribuindo para uma imagem positiva da operadora de planos de saúde Amil no cenário nacional ao posicioná-la como referência na medicina preventiva. Referências Bibliográficas: 1. Amil cria movimento contra obesidade infantil e impulsiona debates no país. Prêmio de Marketing Contemporâneo, 2016. Disponível em < http://premiomktcontemporaneo.com.br/site_2016/pageflip/files/assets/common/dow nloads/page0007.pdf> Acessado em 07/03/2018. 2. Artplan assina nova campanha de Amil "Obesidade Infantil não". Grandes nomes da propaganda, 2018. 26 de janeiro de 2018. Disponível em <https://grandesnomesdapropaganda.com.br/anunciantes/artplan-assina-nova- campanha-de-amil-obesidade-infantil-nao/> Acessado em 08/03/2018. 3. Prêmio Amil de Combate à Obesidade Infantil reconhecerá as melhores iniciativas contra doença no Brasil. Amil, 2018. Disponível em <https://www.amil.com.br/portal/web/institucional/obesidadeInfantil> Acessado em 08/03/2018. 4. Obesidade Infantil Não, 2018. Disponível em <www.obesidadeinfantilnao.com.br> Acessado em 08/03/2018. 5. Luz, C. e Cambricoli, F. Livro vê 'todos contra todos' em plano de saúde. Estadão, 2014. Disponível em <http://saude.estadao.com.br/noticias/geral,livro-ve-todos-contra-todos-em-planos-de-saude-imp-,1596687> Acessado 09/03/3018.
Compartilhar