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Agricultura de Precisão - Conceitos básicos

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Agricultura de Precisão – Conceitos Básicos 
Abdon Francisco Aureliano Netto – 91455 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
I. Introdução 
O desafio de abastecer uma população mundial de 9,6 bilhões em 2050, projetada pela ONU 
(UN News Center., 2013), exige muito mais do que só produzir mais alimentos, esse desafio 
exige também que o Brasil e o Mundo reduzam perdas e desperdícios, abertura do comércio 
mundial, investimento em inovações, dentre outros fatores. A necessidade de sustentar a 
capacidade produtiva do sistema alimentar, raramente é conhecida como parte do desafio, mas 
é crítica – manutenção de pragas, resistência a doenças, manejo da resistência a ervas daninhas, 
evitar degradação do solo e da água são fundamentais para atender o desafio da segurança 
alimentar em 2050 (Cole, M. B., et. al, 2014). 
De volta ao passado na história do uso da tecnologia dentro da agricultura, é interessante 
notar que as mudanças na tecnologia agrícola foram, muitas vezes, tratadas como inúteis e 
controvérsias. Mudanças como: o uso de tratores ao invés de cavalos, armazenamento de 
alimentos (ex.: o leite de uma fazenda foi armazenado e transportado em latas por muitos anos, 
e quando tanques a granel foram introduzidos, muitas pessoas achavam que a qualidade do leite 
sofreria com isso), o uso de sementes de milho hibridas causou pânico em algumas pessoas que 
diziam que estavam a brincar de Deus com as plantas e causou muitas dúvidas e medo na 
população em geral (Brase, T. A., 2006). 
Muitos autores (Tran, D. V. & Nguyen, N. V.,2006; Tschiedel, M., & Ferreira, M. F., 2002) 
reconhecem há muito tempo que um sistema de previsão de produção de culturas precisa e 
dentro do prazo é essencial para fortalecer a segurança alimentar. O conceito de agricultura de 
precisão pode ser apropriado para resolver esses problemas e é uma solução perfeitamente 
possível de se adotar em todo o mundo. 
II. Discussão 
A Agricultura de Precisão (AP) é um conceito de gestão agrícola baseado na observação e 
resposta às variações intra-campo. Hoje em dia, a agricultura de precisão compreende toda 
gestão de fazenda completa, com o objetivo de otimizar os retornos da entrada, preservando os 
recursos (Ram, T. et. al (2014)). A agricultura de precisão envolve práticas de gestão 
específicas do local, levando em conta as devidas considerações à variabilidade espacial da 
terra, a fim de maximizar a produção agrícola e minimizar o custo de produção e o dano 
ambiental (Robert, 1999). 
De acordo com o Ram, T. et. al (2014) os cinco componentes da AP são: 
a) Computadores 
Muitas tecnologias auxiliam a AP, entre elas os computadores, principalmente no sentido 
do poder e habilidade de comunicação que possuem. A fusão de computadores e comunicação 
é definida por Taylor, J., e Wacker, W. (1998) como um marco de uma era no processo. A 
agricultura de precisão requer a aquisição, análise de gestão e produção de grande quantidade 
de dados espaciais e temporais, por isso a comunicação feita por computadores é de extrema 
importância para otimizar e viabilizar a agricultura de precisão. 
b) Sensoriamento Remoto 
Chipman, J. et. al (2014) definem sensoriamento remoto em seu livro como a ciência e a 
arte de obter informação sobre um objeto (alvo), área ou fenômeno através da análise de dados 
adquiridos por um dispositivo (sensor) que não está em contato direto com o objeto, área ou 
fenômeno sob investigação e tem sido usado por vários anos para distinguir espécies de culturas 
e localizar condições de estresse no campo. 
 
De acordo com Agrawal, K. R., e Gudadhe, S. R. (2011), a detecção remota envolve a 
detecção e medição de fótons de diferentes energias que emanam de materiais distantes. Estes 
fótons podem ser identificados e categorizados por classe / tipo, substância e distribuição 
espacial com a maioria projetada para monitorar a radiação refletida. O veículo mais utilizado 
para captura de imagens em sensoriamento remoto é, com certeza, o satélite devido a sua 
melhor relação de custo-benefício, uma vez que ele pode passar anos em órbita da terra. 
c) Sistema de Informação Geográfica (GIS) 
Em inglês, Geographical Information System, ou simplesmente GIS é um software 
desenvolvido para disponibilizar ferramentas para manipular e mostrar dados espaciais (Fig, 
1). De acordo com Ram, T. et. al (2014), uma importante função do GIS no meio agrícola é de 
armazenar camadas de informação, tais como rendimentos, mapas de levantamento de solo, 
dados de detecção removida, relatórios de escavação de culturas e níveis de nutrientes do solo. 
A tecnologia GIS permite ao produtor armazenar entradas de campo e dados de saída como 
camadas de mapa separadas em mapas digitais e recuperar e utilizar esses dados para a futura 
decisão de alocação de entrada. 
 
Fig. 1 - Componentes do GIS 
Os cinco principais componentes do GIS de acordo com August, P., Wang, Y. Q., (2013) 
são: 
• Dados 
Um dos mais importantes componentes do GIS são os dados coletados, é 
extremamente essencial que esses dados sejam acurados. Existem vários tipos de 
dados como: Dados de Vetores; Dados de Quadriculação; Dados de Imagem; Dados 
de Atributos; 
• Computador 
Computador é toda a parte eletrônica de aquisição de dados, ou seja, um computador 
e periféricos nos quais o GIS opera. Todos componentes podem ser centralizados 
num computador usando um sistema operacional de usuário comum (Windows, 
Unix, iOS, etc). O computador pode operar tanto de forma isolada quanto em uma 
configuração em rede. 
• Software 
O software GIS fornece as funções e ferramentas que os usuários precisam para 
armazenar, analisar e mostrar informações geográficas. Os componentes chave do 
 
software são: Programa GIS; Software de Banco de Dados; Software de Sistema 
Operacional; Software de Rede. 
• Pessoas 
A tecnologia GIS é claramente limitada sem a participação de pessoas competentes 
para conduzir todo o sistema e desenvolver os corretos planos de aplicação. Os 
usuários do GIS são de especialistas técnicos altamente qualificados para 
planejadores, planejadores e analistas de mercado que utilizam o SIG para ajudar 
com seu trabalho diário. 
• Procedimento e Métodos 
Métodos são planos bem planejados e aplicações em regras de comércio especificas, 
descrevendo como a tecnologia é aplicada, isso inclui: diretrizes, especificações, 
padrões e procedimentos. 
d) Sistema de Posicionamento Diferencial Global (DGPS) 
Segundo Ram, T. et. al (2014), o DGPS foi desenvolvido por militares americanos para o 
posicionamento preciso da força militar. É uma rede baseada em sistema de navegação de 
satélites em órbita terrestre que permite que o usuário registre informações de posicionamento 
quase instantâneas (latitude, longitude e elevação) com uma excelente acurácia (Lang, 1992). 
De acordo com Shanwad, U. K (2002), a tecnologia GPS permite a agricultura de precisão 
porque todas as fases da agricultura de precisão requerem informações de posicionamento. O 
GPS é capaz de fornecer o posicionamento de forma prática e eficiente para locais de campo 
para que a entrada possa ser aplicada a segmentos de campo individuais com base em critérios 
de desempenho e aplicação de entrada anterior. 
e) Aplicador a Taxa Variável 
O termo em inglês Variable-Rate Application, ou VRA baseado em mapa é o mais utilizado 
para aplicações da AP, e de acordo com Grisso, R. D., et. al (2011), ajusta a taxa de aplicação 
com base em um mapa eletrônico, também chamado de mapa de prescrição. Usando a posição 
de campo de um receptor GPS e um mapa de prescrição da taxa desejada, a concentração de 
entrada é alterada à medida que o aplicadorse move através do campo. 
Grisso, R. D., et. al (2011), afirmam também que os objetivos da VRA são maximizar o 
lucro para o seu potencial máximo, criar eficiências na aplicação de insumos e garantir a 
sustentabilidade e a segurança ambiental. 
III. Considerações Finais 
Muitas definições de Agricultura de Precisão (AP) existem e muitas pessoas têm ideias 
diferentes do que AP deve abranger. Aqui, duas definições foram selecionadas para ilustrar o 
conceito de AP em geral, mas também especificamente a sua aplicação em indústrias de cultivo 
em larga escala. A primeira definição vem da Câmara dos Deputados dos EUA (US House of 
Representatives, 1997): 
“Um sistema integrado de produção baseada em informação e produção que é projetado 
para aumentar a eficiência, a produtividade e a rentabilidade da produção agrícola a longo 
prazo, específica da fazenda e todo, minimizando os impactos não desejados na vida selvagem 
e no meio ambiente”. 
 
No Brasil, a Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão (CBAP) foi criada em 20 de 
setembro de 2012, através da Portaria 852. A Comissão conta com a participação das principais 
representações do setor da Agricultura de Precisão - AP. Com caráter consultivo e propositivo, 
a CBAP tem o objetivo de fortalecer o conjunto de ações entre os ramos de pesquisa, ensino e 
desenvolvimento de tecnologias voltadas ao setor. De acordo com Boletim Técnico (Brasil, 
2013) publicado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, define-se 
Agricultura de precisão como: 
“Um conjunto de ferramentas e tecnologias aplicadas para permitir um sistema de 
gerenciamento agrícola baseado na variabilidade espacial e temporal da unidade produtiva, 
visando ao aumento de retorno econômico e à redução do impacto ao ambiente”. 
Nota-se que desde a primeira definição em 1997, a ideia do conceito de agricultura de 
precisão continua o mesmo em 2013, mesmo após 16 anos, então de forma mais abrangente 
podemos dizer que a Agricultura de Precisão (AP) compreende todo o conjunto de técnicas e 
metodologias que tem como principais propósitos, otimizar o manejo de cultivo e a utilização 
dos insumos agrícolas, a fim de proporcional ao produtor rural uma máxima eficiência 
produtiva e econômica. A aplicação da AP permite e garante a redução dentre outros, a redução 
dos impactos ambientais decorrente da atividade agrícola, permitindo ao produtor rural uma 
maior e mais rápida utilização do solo em condições adequadas de manejo. 
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