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DIREITO DO CONSUMIDOR

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DIREITO DO CONSUMIDOR
AULA 1
O Direito do Consumidor e seu Campo de Aplicabilidade
Na verdade, não há o que se poderia determinar um campo de incidência de forma sistematizada e específica acerca do Código de Defesa do Consumidor. Muito menos uniformidade.
São várias as opiniões que vão desde as que lhe atribuem o caráter de mera lei geral, inaplicável em áreas específicas do Direito já disciplinadas por leis especiais, passando por aquelas com um minissistema jurídico, com campo definido e delimitado. Tal como fizeram as leis de locação urbanas, registros públicos, falências, até chegar naqueles que entendem tratar-se de um novo ramo do direito – o Direito do Consumidor, com autonomia e princípios próprios.
O que realmente existe é uma filosofia, uma diretriz de defesa do consumidor. Dada a heterogeneidade de sua aplicação, é vasta a aplicação de assuntos que se possa atribuir ao termo “consumidor”.
Sendo assim, o que se criou foi uma sobre-estrutura jurídica multidisciplinar, aplicável em toda e qualquer relação de consumo.
O Código de Defesa do Consumidor é aplicável em toda a estrutura jurídica em que existem duas figuras apolares:
CONSUMIDOR
O consumidor e sua definição legal (“...toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.”)
FORNECEDOR
A concepção de fornecedor (“...é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.”).
O Movimento Consumerista no Brasil não foi um fato estanque. A defesa do consumidor teve origem na Europa arrasada pela Segunda Guerra Mundial, em que o mercado consumidor estava bastante enfraquecido.
1948: Os Estados Unidos viram, na destruição europeia, uma grande oportunidade de negócio através do Plano Marshall, que uniu os países europeus no pós-guerra. Fato este que gerou a criação, em 1948, da Organização Europeia de Cooperação Econômica (OECE), que expandiu o mercado norte-americano sobre a Europa.
1962: Em 1962, J.F. Kennedy vislumbrou duas faces bem distintas no mercado econômico: O consumidor e o fornecedor. No mesmo ano, J.F. Kennedy, em discurso para o Congresso Americano, declamou a elaboração da “Carta de Política dos Consumidores”. Foi o primeiro documento formal que estabeleceu uma política geral voltada, exclusivamente, para o consumidor.
1968: Já em 1968, fundou-se a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), unindo a OECE (europeia), EUA, Canadá, Japão, Austrália e a Nova Zelândia, com o objetivo de estabelecer uma política de consumo entre seus membros.
1969: No ano de 1969, a OCDE criou uma comissão para política econômica, com o objetivo de organizar e promover uma política para os consumidores.
1976: Desta comissão originou-se a “Carta do Consumidor”, em 1976. Observa-se que desde o término da Segunda Guerra Mundial até aquele momento na história houve um processo evolutivo socioeconômico que impôs uma mudança de mentalidade.
1985: Nos idos de 1985, a ONU se reuniu em 10 de abril e elaborou a Resolução 39/248, que é o reconhecimento Universal da Carta do Consumidores de 1976, regulamentando este documento, com várias regras, com a finalidade de tutelar os direitos básicos do consumidor e deveres dos Estados.
Finalidades
O claro objetivo do legislador constituinte, portanto, era o de que fosse implantada uma Política Nacional de Relações de Consumo, uma disciplina jurídica única e uniforme destinada a tutelar os interesses patrimoniais e morais de todos os consumidores.
E assim, na verdade, aconteceu, embora com certo atraso.
Sancionado em 12 de setembro de 1990, o Código de Defesa do Consumidor foi publicado neste mesmo dia como Lei 8078 de 11 de setembro de 1990, revelando-se, desde então, um diploma moderno, à altura das melhores e mais avançadas legislações dos países desenvolvidos.
Seus princípios e normas são de ordem pública e interesse social, vale dizer, de aplicação necessária, conforme disposto expressamente em seu primeiro artigo.
Dispositivos constitucionais
No Brasil, em que pese haver a presença de movimentos consumeristas, somente com a Constituição de 1988, a defesa do consumidor ganhou proteção positivada porque veio mencionada expressamente no art. 48 do ADCT, gerando a sua concepção. No art. 5°, inciso XXXII, ganhou o status de direito e garantia fundamental. E determinou, no art. 170, V que a defesa do consumidor é um princípio inerente a ordem econômica. Sendo tais fundamentações oriundas do Poder Constituinte Originário.		
Assim, em setembro de 1990 foi publicada a Lei 8.078 – Código de Defesa do Consumidor, cujo objetivo é implantar uma Política Nacional de Consumo, conforme determina o art. 4° do CDC e os instrumentos para colocar essa Política Nacional em prática estão mencionados no art. 5° do mesmo diploma legal.		
Concepção: art. 48 do ADCT
CRFB/1988 – Atos das Disposições Constitucionais Transitórias:
Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.
Temos, nesta fundamentação, a “concepção” da futura lei que regulará o “Código de Defesa do Consumidor”.
Destaca-se o fato de que a Lei 8.078 de 1990 não existia. Além disso, integra o chamado “poder constituinte originário”. Logo, a futura lei foi concebida concomitantemente no nascimento da CRFB/1988. Por isso sua relevância.
Direito e garantia fundamental;
Princípio inerente a ordem econômica: art. 170, V CF/88.
OBS: Previsões na CRFB/1988 que tem ingerência direta nas normas de consumo:
Art. 1, III;
Art. 5° X, XXII e § 2°;
Art. 24, VIII;
Art. 30, I, II;
Art. 37, § 6°;
Art. 60, § 4°, IV;
Art. 87, Parágrafo único, II;
Art. 150, § 5° e
Art. 175, Parágrafo único, II.
_______________________________________________________________________________________________
AULA 02
Princípios
Pode-se conceituar o princípio jurídico como pensamento inexorável (rígido, que não cede à flexibilização, implacável) resultante das interações humanas, dentro do Direito, no qual é gerado um microssistema cujos macrossistemas deverão, para ter credibilidade e segurança, recorrer.
Como exemplo maior de princípio, a Constituição de 1988 contém os fundamentos valorativos aceitos pela sociedade, portanto, a CF/88 é o plano diretor do sistema jurídico brasileiro, ordenando não somente os princípios, como também, as leis e os procedimentos necessários para que todos possam ser aplicados com correção.
Princípios no Código de Defesa do Consumidor
Absorvidos esses conceitos, podemos identificar no art. 4º do CDC, a existência da norma-princípio, por excelência da lei consumerista, na qual está contida a política das relações de consumo, destacando-se como princípios maiores:
1. Princípio Da Vulnerabilidade
Art, 4, (...)
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;
O princípio da vulnerabilidade é de suma importância porque estabelece a igualdade dentro da relação de consumo, coisa que antes do Código de Defesa do Consumidor não existia e o fornecedor estava sempre em posição de vantagem.
Caracterizamos o princípio da vulnerabilidade como aquele em que o consumidor está em desvantagem jurídica, decorrente de uma expressa determinação legal oriunda da L.8.078 de 1990, art. 4, I. Independentemente de sua situação social, pelo simples fato de ser consumidor, já o faz ser classificado como vulnerável.
Também não se pode esquecer que todo consumidor é vulnerável, mas nem todo consumidor é hipossuficiente. Este princípio é o resultado da “qualidade” especial do consumidor. Pois, além de lhe ser inerente, é a identificação permanente da subordinação, do desequilíbrio entre o consumidor e o fornecedor.
2. Princípio Da Harmonia Das Relações De Consumo
3. Princípio Da Repressão Eficiente De Todos Os Abusos
Boa fé
Art. 4. (...)
III -harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores [...]
É o regramento de conduta social de agir com lealdade e honestidade. Fazer o que é certo e na medida do prometido.
A relevância do tema é positivada nos seguintes fundamentos:
Constituição Federal – 5; V, X, XXII; §2
Código Civil – 112; 113; 166, VI; 167, § 2; 171; 172; 186; 187; 309; 317; 421; 422; 423; 424; 425; 478; 479; 480; 927, § único; 1201 e 1208.
Código de Processo Civil – 374, I, III e IV;
Código de Defesa do Consumidor – 1; 4, III; 39, V; 51, IV; 54; 84
Transparência
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito a sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios [...]
Não basta que o fornecedor informe ao consumidor sobre seu produto ou serviço, é necessário que tal informação seja prestada de maneira clara, possibilitando ao consumidor que adquira o bem de consumo de forma consciente.
Segurança
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito a sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
Art. 4º [...]
V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo;
No que diz respeito à segurança, o Código não estabelece um sistema de segurança absoluta para produtos e serviços. O que se quer é uma segurança dentro dos padrões da expectativa legítima dos consumidores.
Harmonia
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios [...]
O princípio da harmonia (ou equidade) é um princípio de técnica de hermenêutica que deve estar presente na aplicação da lei. É a justiça diante do caso concreto.
AULA 03
Consumidor
Vamos avaliar que o conceito de consumidor é caraterizado como um elemento subjetivo da relação de consumo. Tal premissa encontra justificativa pelo fato de que o conceito detém flexibilidade em relação à doutrina e à jurisprudência.
A Lei n° 8.078, de 11 de setembro de 1990, nos possibilita a seguinte interpretação dos fundamentos pertinentes ao consumidor:
Art. 2° - Definição de consumidor e destinatário final e consumidor por equiparação de forma coletiva;
Art. 17 – Consumidor por equiparação pelas vítimas de defeito de bem de consumo;
Art. 29 – Consumidor por equiparação nas pessoas relacionadas nos capítulos V e VI.
CONSUMIDOR PADRÃO
O consumidor padrão ou “standard” é relativamente o mais fácil de ser identificado. Sua fundamentação é o já citado art. 2º do CDC parte, como se lê:
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Podemos refletir que esse consumidor adquire por contrato de aquisição por gênero. Seja por contrato de compra e venda (com características do art. 481 e seguintes da Lei 10.406 de 2002 – CC), seja por contratação de serviços (com características do art. 593 e seguintes da Lei 10.406 de 2002 – CC).
É aquele que adquire para satisfazer uma necessidade. Se de forma subjetiva ou profissional é discutível. Mas sempre ocorrerá a transferência de propriedade do produto ou da fruição do serviço.		
CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO
O consumidor por equiparação ou “bystandarder” tem a necessidade de maior avaliação. Suas fundamentações são os art. 2º em seu parágrafo único, o art. 17 e o 29, todos do CDC, como se lê:
Art. 2° [...]
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.
É o consumidor que não adquire, mas utiliza o produtos ou serviços, nos termos do próprio artigo 2º:
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Cremos assim que o consumidor é o que, ao utilizar um bem de consumo, sofre danos oriundos do mesmo. Principalmente, se considerarmos que nenhum produto ou serviço, desde que corretamente utilizado, pode causar danos ao consumidor. Tal premissa encontra fundamentação na primeira parte do art. 8 do CDC:
Art. 8º Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou à segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis, em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.
Logo, em plena conformidade entre justificativa e fundamentação, temos que “nenhum bem de consumo pode causar danos aos consumidores”. Seja o que tenha adquirido o bem (consumidor padrão) seja o que o utiliza (consumidor por equiparação).
Teorias
Esse assunto remete a uma palestra proferida pelos autores do anteprojeto da Lei 8.078 de 1990.
Quando a mesa foi indagada acerca do “conceito de destinatário final” o Ministro do STJ, Antonio Heman V. Benjamin, respondeu: “não sei!” Isso causou grande comoção na plateia. Afinal, se ele não sabia o que seria de nós pobres mortais... Entretanto, no alto de toda a sua intelectualidade, logo a seguir emendou: “E o objetivo é que ninguém saiba! Pois se assim o for, tal tema não comportará evolução em sua interpretação”.
Passaram-se os anos e, à época, havia duas teorias acerca do tema (maximalista e finalista) e, desde de 2010, temos a teoria finalista atenuada (ou mista ou mitigada).
TEORIA MAXIMALISTA
Advém dos primórdios da aplicação da Lei 8.078 de 1990.
Para se enquadrar como consumidor, bastava adquirir o bem de consumo no mercado fornecedor para caracterizar tal relação. Independentemente da motivação, objetivo e interesse. “Comprou é consumidor!”
Basta a singela retirada do mercado de consumo para se enquadrar como consumidor.
Por este raciocínio, uma grande empresa de metalurgia, quando adquire minério para beneficiamento e posterior fabricação de metal seria considerada consumidor.
Essa ideia não perdurou por longo tempo, pois o objetivo das normas de consumo é o de proteger, art. 4, I do CDC, o “consumidor vulnerável”. E, no exemplo anterior, cremos que uma empresa de metalurgia, considerando o bem de consumo em questão (minério) não possa ser enquadrada como vulnerável, em razão, principalmente, de sua expertize em relação conhecimento técnico sobre o bem adquirido.
Desse modo, essa teoria está em descompasso com o espírito das normas de consumo.		
TEORIA FINALISTA
Além de adquirir o bem de consumo, é necessário saber qual a destinação fática, efetiva, econômica, subjetiva do bem em questão.
Pois, ao empregar o mesmo ao fim a que se destina, este, de per se, não prestará para fins de enriquecer seu proprietário com a sua venda direta ou empregado como insumo principal na atividade profissional de seu proprietário.
Caso isso ocorra, o adquirente não se enquadra na principiologia davulnerabilidade ínsita no já citado art. 4, I da principal lei que regula as relações de consumo.
Logo, a justificativa para a sua aquisição deve ser desprovida de intentos profissionais, como o seu beneficiamento da matéria prima com posterior venda. A satisfação da aquisição deve ser subjetiva.
Veja um exemplo em que temos o mesmo objeto com fins diferentes:
Alguém comprou o veículo “van” com fins de transporte profissional. Não há relação de consumo em detrimento do seu objetivo profissional;
Alguém comprou o veículo “van” com fins de transportar sua numerosa família em uma viagem pelo continente sul-americano. Há relação de consumo em detrimento do seu objetivo meramente pessoal.
Como se pode observar muito bem, intuitos diferentes, relações diferentes.
Na eventual ocorrência de dano, o proprietário do veículo adquirido com fins profissionais deverá invocar a principal lei que regula as relações entre pessoas privadas, a Lei 10.406 de 2002 – Código Civil. Considerando o evento dano, principalmente o artigo 931.
Já na segunda hipótese, o proprietário do veículo poderá invocar a Lei 8.078 de 1990 e todos os seus benefícios.
TEORIA FINALISTA ATENUADA (OU MISTA OU MITIGADA)
A aquisição para uso, ainda que profissional, caracterizará a relação de consumo desde que o adquirente não tenha condições de negociação com o fornecedor.
Para tanto, melhor será a apresentação da seguinte jurisprudência.
AgRg no REsp 1321083/PR, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 09/09/2014, DJe 25/09/2014.
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. COMPRA DE AERONAVE POR EMPRESA ADMINISTRADORA DE IMÓVEIS. AQUISIÇÃO COMO DESTINATÁRIA FINAL. EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO.
1. Controvérsia acerca da existência de relação de consumo na aquisição de aeronave por empresa administradora de imóveis.
2. Produto adquirido para atender a uma necessidade própria da pessoa jurídica, não se incorporando ao serviço prestado aos clientes.
3. Existência de relação de consumo, à luz da teoria finalista mitigada. Precedentes.
4. Agravo regimental desprovido.
Em um primeiro momento, pode parecer uma antinomia em relação à teoria finalista pura. Mas, se avaliarmos com mais atenção, a lógica da coisa é que, in casu, o avião é utilizado com fins de ser empregado no negócio de imóveis (transporte de clientes para lugares longínquos) e não o de aviação comercial.
Por consectário lógico, considerando as peculiaridades da jurisprudência, há aplicação das normas de consumo e todos os seus benefícios à favor da administradora de imóveis.
AULA 04
O Fornecedor (gênero)
Fornecedores são aqueles explicitamente elencados no rol do art. 3º do CDC, e que comportam pouca ou nenhuma necessidade de amparo interpretativo. Mormente uma avaliação juriprudencial, mas em que nada se compara ao conceito de destinatário final do consumidor.
Assim prevê o art. 3º do CDC:
ART. 3° FORNECEDOR
É toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
ART. 3º FORNECEDOR É TODA PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA:
Pessoa física (ou natural) – arts. 2º c/c 6º do CC. Embora ocorra o uso expresso das palavras pessoa física, em verdade o legislador designou pessoa natural. Temos no CC, considerando os artigos 2 c/c 6 o seguinte, verbis:
ART. 2º A PERSONALIDADE CIVIL DA PESSOA
Começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
A conclusão é que, em se tratando de aplicação das duas principais leis que regulam as relações entre pessoas privadas (Lei 10.406 de 2002 e Lei 8.078 de 1990), o ser humano deve ser alcunhado de “pessoa natural”.
Tal distinção não impede a interpretação de que quando falamos em pessoa física estamos nos referindo à pessoa natural. Tal ponderação se deve ao mero enquadramento de nomenclaturas aplicáveis ao tema.
Já a pessoa jurídica encontra sua nomenclatura sem qualquer desacerto. Mas em sede de fundamentação nos utilizamos, mais uma vez, da Lei Civil Maior (Lei 10.406/02), especialmente em seus artigos 40, 43 e 44, verbis:
Título II - Das Pessoas Jurídicas
Capítulo I - Disposições Gerais
Art. 40., Art. 43., Art. 44., Art. 40.
As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado.
Como se lê, temos uma ampla possibilidade de enquadramento ao fornecedor como pessoa jurídica.
Fornecedor – pessoa pública ou privada				
Fornecedor – pessoa nacional ou estrangeira				
Um direito inerente ao consumidor diz respeito ao seu foro privilegiado, por força do art. 101, I do CDC e corroborado por vasto entendimento jurisprudencial.
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;
No que se lê “pode ser”, como já citado, é pacífico interpretar deve. Fato este corroborado por jurisprudência do STJ:
AgRg no CC 127626/DF, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Segunda Seção, julgado em 12/06/2013, DJe 17/06/2013.
“Em se tratando de relação de consumo, a competência é absoluta, razão pela qual pode ser conhecida até mesmo de ofício e deve ser fixada no domicílio do consumidor”.	
- Entendo que pode figurar no polo passivo da ação de responsabilidade civil nas relações de consumo apenas o serviço “uti singuili”.
- Por consectário da interpretação, a contrario sensu, da forma de remuneração e sua excludentes, que será estudado mais tarde.				
- As empresas nacionais têm sua sede e eventuais agências filiais ou sucursais espalhadas em diversos domicílios dentro do território nacional.
- Já as empresas estrangeiras que atuam no Brasil, têm (ou deveriam ter) minimamente escritórios de representação em solo Pátrio. O que possibilitará, em termos práticos processuais, a sua citação e atos consecutivos (intimação, execução etc).		
Art. 3° Fornecedor é [...] bem como os entes despersonalizados:
A expressão “entes despersonalizados” é criação doutrinária, sendo a mais usual e conhecida, entre outras.
Exemplos: entes atípicos, sujeitos de personalidade reduzida, grupos de personificação anômala.
Logo, por expressa determinação legal, são partes legítimas para figurar, processualmente, no polo passivo de uma ação.
Exemplos: Massa falida, comércio popular.
Art. 3° Fornecedor é [...] que desenvolvem atividade de:
Produção, montagem, criação, construção, transformação.
Importação, exportação.
Distribuição
Comercialização de produtos, ou prestação de serviços:
Fornecedor de produtos
Trataremos da especificidade de enquadramento do fornecedor, agora com o produto.
Prevê suas fundamentações:
Art. 3 [...]
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial
"Percebe-se a inteligência do legislador consumerista quando adota a nomenclatura “qualquer bem”, considerando a promulgação do CDC, temos um conceito indefinido e já avocando produtos que ainda serão criados.
Exemplos: GPS, smartphone, tablet, carro com direção elétrica etc."
Art. 3 [...]
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
Temos a necessidade de utilização da Lei 10.406/02 com fins de uma melhor conceituação do que venha a ser bens móveis e imóveis.
Bem móvel – art. 82 a 84 do CC;
ART. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.
ART. 83.
Consideram-se móveis para os efeitos legais:
I - as energias que tenham valor econômico;
II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;
III - os direitos pessoaisde caráter patrimonial e respectivas ações.
ART. 84.
Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio
Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio.
Rotineiramente nos referimos de forma habitual como bens móveis os disponíveis aos consumidores nos termos do supra citado art. 82. Entre eles: veículos, armários, estantes, computadores, entre outros.
Casuisticamente, embora não seja normal os incisos elencados no art. 83 dificilmente serão enquadrados, faticamente, como bens móveis com destinação ao consumidor.
Em seus termos o art. 84 não merece maior sorte se avaliarmos que tais bens não são fruto de aquisição. Mas sim de reaproveitamento.
OS BENS IMÓVEIS
Encontram igual previsão legal entre os arts. 79 a 81 do CC:
Seção I - Dos Bens Imóveis
Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.
Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II - o direito à sucessão aberta.
Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:
I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local;
II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem.
Por construção doutrinária e jurisprudencial o art. 79 tem absoluta aplicação.
Por exceção, inaplica-se os artigos 80 e 81 sobre a ótica consumerista.
Art. 3 [...]
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
A materialidade de um produto encontra fundamentação nos arts. 85 e 86 do CC. Gerando a consequente corporificação/fungibilidade. São bens substituíveis.
Exemplo: celular
JÁ OS BENS IMATERIAIS:
Art. 85 e 86 do CC detêm corporificação/infungibilidade. São insubstituíveis, obras de arte.
Tudo nos seguintes termos:
Seção III - Dos Bens Fungíveis e Consumíveis
Art. 85. São fungíveis os bens móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade.
Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.
Fornecedor de serviços
O fornecimento de serviço tem, da mesma forma que o produto, uma visão infinita sobre o prisma do enclausuramento de sua conceituação.
O legislador adotou o mesmo expediente ao apresentar o serviço como:
“qualquer atividade fornecida no mercado de consumo”.
Inimaginável há pouco tempo a existência da internet, da telefonia, e até mesmo de viagens semiorbitais por particulares. Logo, estas simples palavras tornaram perfeitamente adaptável à situações presentes, futuras e impensáveis. Vamos ler:
Art. 3 [...]
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Ultrapassado este estudo, vamos aos pormenores das demais definições na fundamentação em comento.
Muito cansativo foi o enquadramento das instituições financeiras às relações de consumo, em decorrência da inflexão das instituições financeiras. Situação esta que foi conduzida até a ADIN 2.591 de 2006, assim ementada:
07/06/2006 TRIBUNAL PLENO
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.591-1 DISTRITO FEDERAL
RELATOR ORIGINÁRIO: MIN. CARLOS VELLOSO
RELATOR PARA O ACÓRDÃO: MIN. EROS GRAU
REQUERENTE: CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO SISTEMA FINANCEIRO - CONSIF
ADVOGADOS: IVES GANDRA S. MARTINS E OUTROS
REQUERIDO: PRESIDENTE DA REPÚBLICA
REQUERIDO: CONGRESSO NACIONAL
EMENTA: CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ART. 5º , XXXII, DA CB/88. ART. 170, V, DA CB/88. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. SUJEIÇÃO DELAS AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, EXCLUÍDAS DE SUA ABRANGÊNCIA A DEFINIÇÃO DO CUSTO DAS OPERAÇÕES ATIVAS E A REMUNERAÇÃO DAS OPERAÇÕES PASSIVAS PRATICADAS NA EXPLORAÇÃO DA INTERMEDIAÇÃO DE DINHEIRO NA ECONOMIA [ART. 3º, § 2º, DO CDC]. MOEDA E TAXA DE JUROS. DEVER-PODER DO BANCO CENTRAL DO BRASIL. SUJEIÇÃO AO CÓDIGO CIVIL.
1. As instituições financeiras estão, todas elas, alcançadas pela incidência das normas veiculadas pelo Código de Defesa do Consumidor.
Logo, tal decisão judicial pôs fim, desde 2006 sobre a incidência do CDC às instituições bancárias. Situação esta corroborada pelo STJ à título de súmula:
Súmula STJ nº 297 - O código de defesa do consumidor é aplicável às instituições financeiras.
Sendo assim, é indiscutível a aplicabiliadade das normas de consumo aos sistema financeiro.
Art. 3 (...)
§ 2° Serviço (...) securitária:
Considerando a sua relevância, empregamos um entendimento do TJRJ acerca do tema:
Súmula TJRJ nº. 327 - "É competente a Câmara Cível especializada para dirimir controvérsia entre segurado e seguradora, referente a seguro de vida em grupo que figure o empregador como estipulante, por qualificar-se o segurado (empregado/beneficiário) como destinatário final."
Logo, as atividades securitárias, considerando a expressa previsão do CDC, corroborada pelo enunciado de súmula citado nos fazem concluir pela aplicabilidade das normas de consumo ao instituto do seguro.
AULA 05
Os direitos básicos em espécie
Os direitos básicos do consumidor, através do art. 6º, da Lei 8.078 de 1990, expressam uma série de temas indissociáveis do consumidor e que podem (e devem) ser empregados como argumento mínimo com fins de atender as suas necessidades.
São regra de direito:
material (incisos I, II, II, IV, V e VI),
processual (VIII) e
administrativo (VII e X).
Tudo a fim de garantir aos consumidores a proteção, prevenção e reparação de danos.
Vida, saúde e segurança
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
O primeiro direito básico prevê “a proteção à saúde e segurança”. São hipóteses de proteção do consumidor no fornecimento de produtos e serviços que, por sua natureza, podem representar uma ameaça na singela usabilidade.
Quando o bem de consumo (produto ou serviço) tem potencial de nocividade ou periculosidade, por exemplo: nos produtos domiciliantes (limpeza, inseticidas, sabão, álcool etc.), o fornecedor deve apresentar ao consumidor através de rótulo (encarte, folder, folheto explicativo, manual de instrução ou correlacionado) informações sobre seu uso, toxidade, composição, os possíveis prejuízos à saúde. Deve destacar seus riscos inerentes e potenciais.
Existem produtos ou serviços que apresentam risco inerente, por isso, a lei trata de forma mais minuciosa da vida, saúde e segurança do consumidor nos artigos 8°, 9° e 10. Com fins de evitar a venda de tais produtos/serviços. Mas, se os mesmos estão disponibilizados ao consumidor deve haver mecanismos que possam evitar danos maiores aos já existentes pela simples exposição. Com base nessas fundamentações, as empresas realizam recall de produtos.
Seção I - Da Proteção à Saúde e Segurança
Art. 8º
Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.
Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto.
Art. 9º
O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto.
Art.10º
O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.
Lei 8.078 de 1990:
Art. 10: 
§ 1º O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários.
§ 2º Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço.
§ 3º Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito.
O produto/serviço não é proibido, desde que seja devidamente informado de maneira absolutamente clara, concisa e precisa. Sendo assim, sua periculosidade não é tida como defeituosa, uma vez que é inerente o grau de perigo a ser tomado por quem o adquire.
Educação para o consumo
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
Temos nesse inciso uma série de direitos:
Teorias:
O primeiro deles é inerente à “educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços”, que consiste em expor ao consumidor que seu uso pode causar algum tipo de dependência (física ou psicológica). O mesmo não é proibido para o consumo, mas deve sê-lo de forma “consciente”. Um exemplo interessante é o de bebidas alcoólicas. Afinal: “se beber não dirija e se dirigir não beba”.		A “liberdade de escolha” faz com que o consumidor possa adquirir a qualidade e quantidade que deseja. Evitando, assim, entre outros, a chamada “venda casada” (prevista no art. 39, I).		Já a igualdade nas contratações implica que a forma de pagamento correlacionada ao preço informado garante ao consumidor a inexistência de qualquer acréscimo. Muito comum em vendas à vista em dinheiro, com valores diferentes caso a mesma compra seja feita através de cartão de crédito.
Informação
Art. 6º (...):
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
O direito à informação, trazido no inciso III faz abrir para o fornecedor o dever de informar e permite ao consumidor escolher seu produto ou serviço de forma consciente, é o que se chama de consentimento informado (ou esclarecido). Essa informação integrará o contrato, convergindo em um verdadeiro “pré-contrato”.
Tal tema é tratado dentro do sistema protetivo da Lei 8.078 de 1990 através dos artigos 30 e 31, com as consequências de sua desobediência no art. 35:
Seção II - Da Oferta
Art. 30
Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.
Art. 31
A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.
Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével.
Art. 35
Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.
Publicidade
Art. 6º (...):
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
Temos nessa previsão legal a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva. Que deve ser complementada pelo art. 37 da Lei 8.078 de 1990:
Seção II - Da Oferta
Art. 37 É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
§ 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
§ 2º É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
Podemos entender a enganosidade como ardil, falsidade, intuito de desviar da informação verdadeira, mas, com uma conotação que se limita à “informação”. Temos, como exemplo, a publicidade de um produto ou serviço com determinado preço. No entanto, na aquisição efetiva pelo consumidor, revela adicionais excluídos da prévia comunicação. A consequência da informação publicada e não cumprida é o cumprimento forçado do que foi publicitado, nos termos do já apresentado art. 35 do CDC.
Já a publicidade abusiva é mais grave que a enganosa, pois induz o consumidor a ter, entre outros, um comportamento que pode gerar dano físico/psíquico. Tal qual como o uso desmesurado de medicamentos que prometem emagrecimento rápido e sem esforço. Outra conotação são anúncios publicitários que incitam a violência.
Práticas abusivas
Art. 6º (...):
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
Art. 39
É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; 
Um exemplificação deste tema exige a convergência entre o artigo 6, IV e o 39, IV.
Destacamos que o art. 6, IV prevê a proteção contra “práticas abusivas”. Entendemos como prática a conduta reiterada, ou não, que leva o consumidor a ter, no seu relacionamento com o fornecedor, uma desvantagem.
Convergindo ao art. 39, lemos que tal conduta é vedada (proibida). E que o rol é meramente exemplificativo. Daí a expressão “dentre outras”.
O inciso IV do art. 39 nos conduz a um grupo que ultrapassa a mera vulnerabilidade prevista no art. 4, I.
O hipervulnerável do art. 39, IV trata de consumidores que, em virtude de sua idade (criança/idoso), saúde (enfermidade incurável ou com pouca chance de cura), conhecimento (ausência de domínio sobre o objeto da contratação) ou condição social (que normalmente trata de pessoas humildes e com pouco conhecimento) a terem um comportamento de aquisição de bens de consumo que não se presta a suas necessidades.
Cláusulas abusivas
Art. 6º (...):
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
Seção II - Das Cláusulas Abusivas
Art. 51
São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimentode produtos e serviços que:
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que:
I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;
II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.
Tal como no tema “práticas abusivas”, o direito básico do consumidor a proteção contra “cláusulas abusivas” necessita do emprego de outros artigos da mesma lei.
Os artigos acima citados nos conduz ao raciocínio de que uma cláusula contratual não pode integrar um contrato quando, v.g., restringe direitos inerentes à natureza do contrato. Pois em sendo assim, esta tem o exagero intrínseco e colocam o consumidor em desvantagem exagerada. A consequência é que tal cláusula é tipificada como abusiva e sofre a consequência de sua nulidade. Logo, jamais deveria integrar o contrato. Um exemplo é o da limitação temporal de internação em leito hospitalar, sendo, inclusive, sumulada pelo STJ:
Súmula STJ nº 302 - É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.
AULA 06
Prevenção e reparação de danos
Lei 8.078 de 1990:
Art. 6 (...)
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de.
É um direito básico do consumidor não apenas à efetiva prevenção (arts. 8, 9 e 10 do CDC), mas quando houve o dano, a reparação seja realizada à título individual ou em “massa”. Tal situação permite que determinadas situações sejam judicializadas em uma única demanda e resolvida da mesma forma. Gerando economia processual e realizando o ideal Constitucional da “duração do processo”.
Constituição Federal de 1988:
Art. 5º
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação
Sendo assim, vamos estudar os seus tipos.
DIREITOS OU INTERESSES DIFUSOS
Lei 8.078 de 1990:
Art. 81 (...)
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato
- Diversos lesados – indetermináveis.
- Pessoas ligadas por um fato – não há aquisição.
- V.g. comercial abusivo / enganoso.
DIREITOS OU INTERESSES COLETIVOS
Lei 8.078 de 1990:
Art. 81 (...)
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
- Diversos lesados – determináveis.
- Pessoas ligadas por uma relação jurídica base.
- V.g. aumento abusivo de plano de saúde em detrimento de idade
DIREITOS OU INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
Lei 8.078 de 1990:
Art. 81 (...)
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.
- Diversos lesados – determináveis.
- Pessoas ligadas por origem comum.
- V.g. acidente em aviação comercial.
Facilitação do acesso à Justiça
Lei 8.078 de 1990:
Art. 6º (...):
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
A principal norma consumerista prevê que qualquer integrante da sociedade possa demandar judicialmente no mais legítimo acesso ao devido processo legal. Tal acesso é garantido através do art. 6º, VII. Destacando sua correlação com o art. 5 da mesma lei.
Lei 8.078 de 1990:
Art. 5º Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, contará o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros:
I - manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente;
Ex: Defensoria Pública.
Lei 8.078 de 1990:
Art. 5º (...)
II - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público; (Ministério Público)
Ex: Ministério Público ligado aos direitos do consumidor.
Lei 8.078 de 1990:
Art. 5º (...)III - criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo;
Ex: Decon – Delegacia do Consumidor.
Lei 8.078 de 1990:
Art. 5º (...)
IV - criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo;
Ex: Juizados Especiais do Consumidor. Destacando o âmbito estadual e federal.
Lei 8.078 de 1990:
Art. 5º (...)
V - concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor.
Ex: IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.
Prestação Adequada e Eficaz e dos Serviços Públicos
Lei 8.078 de 1990:
Art. 6º (...):
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.
Lei 8.078 de 1990:
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.
Lei 8.987/1995:
Art. 2º (...)
II - concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado:
Art. 7º. Sem prejuízo do disposto na Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, são direitos e obrigações dos usuários:
I - receber serviço adequado;
Art. 6º(...):
§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
A eficácia compreende a ideia de escolher certo o que fazer, ou seja, selecionar os objetivos adequados ou as alternativas corretas. Para uma análise mais abrangente, a eficiência está relacionada à melhor utilização dos recursos para atingir um objetivo.
Sendo assim, o serviço adequado é sustentado pelo cumprimento no disposto supra exposto na lei que regula as concessões.
Equilíbrio nas relações de consumo
Lei 8.078 de 1990:
Art. 6 (...):
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
Inversão do ônus da prova
A inversão do ônus da prova é o instrumento de proteção processual ao consumidor, e é positivado no inciso VIII. Desde que, minimamente, cumpra os requisitos da verossimilhança e hipossuficiência. Mas, apenas o cumprimento dessas premissas não basta. É necessário o seu preenchimento. Especialmente, quanto aos critérios basilares desse importante instituto processual consumerista: a verossimilhança e a hipossuficiência.
Inversão “ope judicis”
Art. 6 (...):
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
Inversão “Ope Judicis” – Forçade Direito – “...A critério do Juiz... – art. 6, VIII do CPDC;
Verossimilhança – O vocábulo verossímil significa o que é semelhante à verdade, o que tem correlação com a verdade, passivo de prova. É importante que o Patrono leve ao Estado Juiz um mínimo de demonstração no sentido de que sua alegação é verossímil. Que ofereça indícios que, em confronto com a narração das circunstâncias de que dá conta a inicial, e que, em correlação com a descrição dos fatos que consubstanciam o direito controvertido, possam indiciar, direcionar à verdade real.
Hipossuficiência – Tem correlação direta com a incapacidade de o consumidor demonstrar a verdade real dos fatos. Pois lhe falta dados, informações, materialização das provas. Seja por condições financeiras, seja por condições sociais de intelectualidade e capacidade de discernimento.
Inversão “ope legis”
CPDC:
Art. 12 (...)
§ 3º O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Art. 14 (...)
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Inversão “Ope Legis” – Força de Lei – “... Quando provar ...” – art. 14 e 14 parágrafos 3º do CPDC;
Essa modalidade processual indica que o fornecedor deverá provar, ônus seu, que não fez ou que outra pessoa, inclusive o próprio consumidor, é o responsável pelo evento dano. Caso contrário, como determina o texto legal, o fornecedor responderá pelo dano.
Momento da Inversão
Súmula TJRJ nº 91 - “A inversão do ônus da prova, prevista na legislação consumerista, não pode ser determinada na sentença”.
Referência: Súmula da Jurisprudência Predominante nº 2005.146.00006 - Julgamento em 10/10/2005 – Votação: unânime – Relator: Desembargador Silvio Teixeira – Registro de Acórdão em 29/12/2005 – fls. 011317/011323.
Exposição de motivos da súmula TJRJ nº 91: “A inversão do ônus da prova, em favor do consumidor, não é legal, mas judicial, pelo que o fornecedor seria surpreendido, se considerasse a sentença como momento processual da inversão , em afronta ao princípio do contraditório”
O momento da inversão na Lei 13.105 de 2015 é o art. 357, que nos conduz ao despacho saneador, verbis:
Lei 13.105 de 2015
Seção IV - Do Saneamento e da Organização do Processo
Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do processo:
III - definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373.
AULA 07
Vício do produto por quantidade e qualidade – art. 18 – Lei 8.078/90
Temos, na primeira fundamentação do vício do produto, a qualificadora do que vem a ser um produto com vício de quantidade, qualidade e inadequação.
A quantidade vê-se claramente que ocorrerá quando houve disparidade entre a informação discriminada no invólucro/recipiente/embalagem e a informação localizada no mesmo. Pois o consumidor, na mais legítima boa-fé, jamais desconfiaria nesta discrepância. Logo, se temos o rótulo informando sobre seu peso, v.g., um quilo, nada mais resta a pensar que o produto tem seu peso líquido de um quilo. Excetuando, por óbvio, o peso da própria embalagem.
A qualidade diz respeito ao material ao qual o mesmo é fabricado, construído e correlacionados. Decerto que, apesar do binômio preço/qualidade andarem juntos, (quanto mais caro, teoricamente, de melhor qualidade) isto não implica com relação a sua funcionalidade, que deve ser a mesma esperada pelo consumidor.
Prazo de análise (art.18 – Lei 8078/90)
O prazo de análise é um importante instituto à disposição do fornecedor em sua defesa em face do consumidor. Nesta hipótese, temos que o fornecedor terá um prazo para proceder uma avaliação/perícia quanto ao produto. Uma vez constatado, tecnicamente, tal “vício”, o fornecedor se desonera de deveres junto ao consumidor. Entretanto, caso o prazo de 30 dias seja ultrapassado, o consumidor poderá usar uma das alternativas dispostas nos incisos do seu parágrafo 1º.
Considerando o item a ser analisado, o prazo de 30 dias (avaliando sua complexidade) poderá ser flexibilizado: Não mais que 180 dias, Não menos que 7 dias.
Mas, de uma forma ou de outra, deverá o consumidor estar devidamente ciente do caso.
Da impropriedade e inadequação
§ 6° São impróprios ao uso e consumo:
I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.
Temos, nesta fundamentação, um rol de hipóteses de qualificação do que venham a ser produtos impróprios ao consumo. Eles variam desde o prazo de vencimento, passando pelo seu estado físico (deteriorados, alterados, adulterados e avariados) a sua falsificação e ainda nocivos e perigosos. Isso, sem contar aqueles que não tenham sido fabricados dentro de normas técnicas de fabricação. São impróprios, também, os que se revelam em quaisquer hipóteses não elencadas. Como uma verdadeira construção de hipóteses futuras ao qual o legislador consumerista não tinha condições de prever.
Vício do produto por quantidade – art. 19
O art. 19 é fruto de uma inequívoca técnica legislativa consumerista, ao qual os autores do anteprojeto, prevendo a hipótese de eventual veto presidencial a textos do projeto de lei, elencaram textos similares em lugares diversos com fins de não deixa que o “espírito da lei consumerista” fique descoberto de sua proteção. O que se lê é um texto “idêntico” em forma e conteúdo do art. 18 no qual repetimos as mesmas considerações acerca do vício do produto por quantidade.
Os incisos do art. 19 são a consequência no caso de discrepância entre o produto e a informação localizada no mesmo.
Vício do serviço – art. 20
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
Os incisos do art. 20, mais uma vez, elencam as hipóteses de sanção ante o descumprimento de sua servibilidade e obrigação.
§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor.
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.
AULA 08
Fato do produto Lei .8078/1990:
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
Caracterização do fato do produto
A responsabilidade civil nas relações de consumo encontra no artigo 12 do CDC a responsabilidade pelo fato do produto. Os legitimados para integrar o polo passivo são diversos. Nos termos da própria fundamentação temos o “fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador”.
A expressão “independentemente da existência de culpa” nos remete à ideia da responsabilidadeobjetiva. Em que não discute a “culpa”.
Destacamos que há dano efetivo. Tanto que o fornecedor responde pela sua reparação.
E responde o fornecedor de produtos pelos “defeitos”, que é o núcleo do tipo do fato do produto. E a responsabilidade é gerada pelo já citado defeito por “projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos”. Logo, identificamos uma gama gigantesca de possibilidades.
Convém ressaltar que o defeito pela “apresentação” é gerado por “informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos”. A ausência ou erro na informação essencial ao produto para a sua correta utilização é o suficiente para gerar o dano. Ex: Em alimentos, a ausência de informação de que este produto contém glúten pode levar o consumidor que não tolera esta substancia a um dano enorme. Com potencialidade de sua morte.
Fonte: Dmitry Kalinovsky / Shutterstock
O defeito do produto
Lei .8078/1990:
Art. 12 (...)
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.
Como já dito, a palavra “defeito” nos conduz à caracterização “nuclear” do fato do produto. Tanto que temos um parágrafo exclusivamente dedicado ao tema. Será o produto defeituoso por:
Inciso I - Sua apresentação
Informação inadequada, falha, insuficiente. Ex: Remédio que informa sua limitação de uso para lactantes;
Inciso II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam
Se o produto é utilizado dentro da normalidade não pode causar danos. Ex: Uma bebida não pode conter nada que seja diferente do informado. Ácido, pedaços de animais etc.
Inciso III - a época em que foi colocado em circulação
Diz respeito ao risco do desenvolvimento. Produto que foi colocado no mercado sem que fosse esgotado os testes de nocividade/periculosidade ao consumidor. Ex: remédio que promete a cura de uma determinada doença, cura a mesma, mas produz efeitos diversos, causando um mal maior do que a própria cura.
Produto obsoleto X produto inservível:
Lei .8078/1990:
Art. 12 (...)
§ 2° O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.
O produto tecnologicamente obsoleto não tido como inservível. Ex: Para um escritório de advocacia, uma máquina de escrever é obsoleta diante da fartura de tecnologia de escrituração e impressão. Mas basta uma interrupção prolongada, por dias, no fornecimento de energia elétrica para gerar a sua necessidade.
Fato do serviço
Lei .8078/1990:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
Caracterização do fato do serviço
Resguardadas as devidas proporções, a única distinção que se faz entre o fato do produto e do serviço é que neste tratamos, exclusivamente, de serviços. Nos termos do art. 3º §2º do CDC. Fora isso, temos iguais ponderações. Seja pela responsabilidade objetiva, pelo defeito ou nas informações.
O defeito do serviço
Como não poderia ser diferente, temos iguais ponderações acerca da caracterização do serviço defeituoso.
Lei .8078/1990:
Art. 14. (...)
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
Serviço obsoleto X Serviço inservível
Lei .8078/1990:
Art. 14. (...)
§ 2° O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
A tecnologia, mais uma vez, é o traço marcante dessa definição. Prestações de serviços de comunicação antes consideradas essenciais, como, por exemplo, tecnologia celular por meio de smartphones que sobrepujaram a extinta tecnologia TDMA, substituída pela tecnologia (atualmente) 4G .
A responsabilidade civil dos profissionais liberais
Lei .8078/1990:
Art. 14. (...)
§ 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
É a única exceção ao regramento da responsabilidade consumerista na modalidade objetiva. O profissional liberal terá a seu “favor” que o autor da ação (consumidor) deva provar a responsabilidade do fornecedor (nos termos do art. 186 da Lei 10.406 de 2002) pois será analisada a sua ação/omissão/imprudência/negligência. Ex: dentistas, médicos, contadores etc.
OBS: A responsabilidade do advogado como profissional liberal:
Nos termos do REsp 532.377/RJ, Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, 4ª turma, julgado em 21/08/2003, DJ 13/10/2003, p. 373, temos:.
Não há relação de consumo nos serviços prestados por advogados, seja por incidência de norma específica, no caso a Lei n° 8.906/94, seja por não ser atividade fornecida no mercado de consumo.
As prerrogativas e obrigações impostas aos advogados - como, v. g., a necessidade de manter sua independência em qualquer circunstância e a vedação à captação de causas ou à utilização de agenciador (arts. 31/ § 1° e 34/III e IV, da Lei n° 8.906/94) - evidenciam natureza incompatível com a atividade de consumo.
Recurso não conhecido.
Logo o advogado como profissional liberal terá a sua responsabilidade apurada, exclusivamente, pelo Tribunal de Ética e Disciplina da OAB – TED.
Excludentes de responsabilidade – inversão ope legis
Art. 12 (...)
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Art. 14 (...)
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Na exclusão de responsabilidade temos a “quebra” do nexo de causalidade. Esta se faz por meio dos incisos dos parágrafos 3º dos artigos 12 e 14. Vamos à digressão de seu conteúdo.
Nos parágrafos 3º temos que o fornecedor somente não será responsabilizado “se (art. 12) e quando (14) provar”. Caso não o prove, será o responsável pelo dano.
Os incisos representam o seguinte:
I - QUE NÃO COLOCOU O PRODUTO NO MERCADO;
O produto não foi disponibilizado formalmente pelo vendedor.
Ex: falsificado, oriundo de furto ou descaminho.
I - QUE, TENDO PRESTADO O SERVIÇO, O DEFEITO INEXISTE;
O serviço foi prestado de acordo com o contratado.
Ex: Serviço de comunicação multimídia (SCM - internet) prestado com download e upload contratado.
II - QUE, EMBORA HAJA COLOCADO O PRODUTO NO MERCADO, O DEFEITO INEXISTE;
Cabe ao fornecedor provar a inexistência do defeito.
Ex: Prova pericial.
III - A CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR OU DE TERCEIRO.
A responsabilidade é atribuível ao consumidor pela sua própria conduta.
Ex: Uso errado de medicamento, contrariando a bula.
Ex: Contratação de SCM 4G sem que a estação móvel (aparelho/telefone) comporte tal serviço.
II - A CULPA EXCLUSIVA DO CONSUMIDOR OU DE TERCEIRO.
Terceiro – Pessoa que não integra a lide e que terá após prova pericial.
Ex: Produto estragado dentro do prazo de vencimento. O fabricante integra, inicialmente, a lide. Mas após perícia fica constatado que o produto estragou por mal acondicionamento. Pois o lojista desliga o sistema de refrigeração à noite para economizar energia elétrica.
AULA 09
A prescrição
Em uma definição clássica, poderíamos dizer que prescrição é a maneira pela qual se dá a aquisição de um direito ou a liberação de uma obrigação, pela inação do titular do direitoou credor da obrigação, durante um lapso temporal previsto legalmente.
Sua previsão está no art. 27 da Lei 8.078 de 1990.
Prescrição - caracterização
Lei 8.078 de 1990:
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.
Tomando por base que o instituto da prescrição já foi objeto de estudo na parte geral do código civil, nos limitaremos a sua correlação em sede exclusiva de relação de consumo.
O prazo quinquenal é direcionado, exclusivamente, às hipóteses previstas na seção II do capítulo, qual seja:
Capítulo IV - Da qualidade de produtos e serviços, da prevenção e da reparação dos danos.
Seção II - Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço.
Prescrição - aplicabilidade
Tal prazo é aplicável, exclusivamente, à responsabilidade civil nas relações de consumo:
Art. 12 e 14 – por fato do produto e do serviço
Por força do princípio da especificidade
Tal especificidade afasta a incidência do prazo prescricional pela reparação civil da Lei 10.406 de 2002.
Art. 206. Prescreve:
§ 3º Em três anos:
V - a pretensão de reparação civil;
Por consequência, aplica-se às relações de consumo (responsabilidade civil espécie) o prazo quinquenal, a diferença (responsabilidade civil gênero) e o prazo trienal.
Prescrição – início da contagem
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.
O legislador consumerista foi perspicaz ao determinar a conjunção de fatores (“e”) para a caracterização do início da contagem de prazo. Pois, na ocorrência do dano imposta ao consumidor, nem sempre haverá a imediata identificação da autoria.
A decadência
A decadência é a extinção do direito pela inércia do titular, quando a eficácia desse direito estava originalmente subordinada ao exercício dentro de determinado prazo, que se esgotou, sem o respectivo exercício. Logo, seu objeto é o direito que nasce, por vontade da lei ou do homem, subordinado à condição de seu exercício em limitado lapso de tempo. Em sede de relação de consumo está prevista no art. 26 da Lei 8.078 de 1990.
Decadência – caracterização
Lei 8.078 de 1990:
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis..
A decadência está prevista no art. 26 da Lei 8.078 de 1990.
Seus prazos são de 30 e 90 dias, respectivamente para produtos/serviços duráveis e não duráveis.
Decadência - Obstaculização
Lei 8.078 de 1990:
Art. 26. (...)
§ 2° Obstam a decadência:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca;
Ao obstar o prazo, o consumidor terá a seu favor a interrupção do mesmo quando ocorrer algum dano posterior. Para tanto, deverá utilizar o art. 18° § 1ª e 2º°do CDC, verbis:
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
§ 1º Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
Exemplo: Um consumidor adquire uma estação móvel (celular) em determinada data. Considerando que o mesmo é um produto durável, seu prazo para vícios aparentes ou de fácil constatação é de 90 dias.
Da data da compra até o surgimento de um problema qualquer passaram-se 80 dias. O produto foi encaminhado por estar dentro da garantia legal de 90 dias. Durante este prazo em que ficou sob a guarda do fornecedor, tal prazo foi obstado (suspenso). Este foi devolvido com 20 dias sem problemas.
Com a sua devolução, o prazo de garantia teve sua contagem reiniciada. Em relação ao produto, restam mais 10 dias. Já em relação ao serviço (criando novo direito), o prazo é de 90 dias.
Caso o prazo de 30 dias em que ficou sob a guarda do fornecedor fosse ultrapassado, o consumidor poderia fazer uso das previsões legais dos incisos do parágrafo 1º:
Art. 18 (...)
§ 1º Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
O prazo de 30 dias pode ser flexibilizado de acordo com a complexidade do produto.
Por necessidade, exemplo, de importação de componente.
Nos termos do § 2º do art. 18 do CDC:
Art. 18 (...)
§ 2º Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.
Decadência – vício oculto
Lei 8.078 de 1990:
Art. 26. (...)
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito.
O vício oculto ficará caracterizado quando:
O prazo decadencial para o vício oculto terá sua contagem iniciado a partir do momento em que o mesmo passa a ser evidente e facilmente constatável. Em seguida, teremos a ingerência dos prazos dos incisos do art. 26, que nos remetem a 30 e 90 dias.
AULA 10
A processualística consumerista
Lei 8.078 de 1990:
Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.
Parágrafo único. (VETADO).
Uma das maiores preocupações do legislador consumerista foi possibilitar a instrumentalidade processual às demandas envolvendo relação de consumo. Tanto que no art. 6, VII prevê o “direito de acesso aos órgãos judiciais e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos (...)”.
Fonte: Visual Generation / Shutterstock
E, dentro da principal lei de ritos, exemplificamos como grande auxiliar às demandas de consumo as tutelas provisórias, previstas entre os artigos 294 e 311. Ao qual destacamos a tutela de evidência:
Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando:
I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte.
Tudo com o fim de potencializar o mandamento Constitucional da razoável duração do processo:
Art. 5: LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
Variando entre uma ação de obrigação de fazer ou não fazer (art. 84) ações coletivas (art. 87) e a vedação de denunciação à lide (art. 88), temos um rol auxiliar na obtenção dos legítimos interesses do consumidor.
Variando entre uma ação de obrigação de fazer ou não fazer (art. 84) ações coletivas (art. 87) e a vedação de denunciação à lide (art. 88), temos um rol auxiliar na obtenção dos legítimos interesses do consumidor.
A competência da propositura da ação de responsabilidade civil nas relações de consumo
Lei 8.078 de 1990: Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços,sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;
A leitura com uma interpretação literal pode induzir que a ação “pode” ser proposta no domicílio do consumidor.
Em verdade, o vocábulo “pode” deve ser interpretado como “deve”. Pois, em sendo a ação proposta pelo consumidor, é facultado ao mesmo a escolha do foro que melhor lhe convier, eis que a norma protetiva visa a facilitação da defesa dos seus interesses, ainda que fora do seu domicílio.
Primeiramente, por ser a Lei 8.078 de 1990, uma lei de ordem pública e interesse social (art. 1º do CDC). E, também, por explícita obediência ao principio da vulnerabilidade do consumidor nas relações de consumo (art.4, I do CDC).
As infrações penais no CDC - generalidades
Lei 8.078 de 1990:
Art. 61. Constituem crimes contra as relações de consumo previstas neste código, sem prejuízo do disposto no Código Penal e leis especiais, as condutas tipificadas nos artigos seguintes.
De plano o art. 61 enuncia que os delitos previstos no CDC não excluem o previsto em outras leis. Como, por exemplo, crimes que envolvam a saúde pública, art. 278 do CP:
Decreto Lei 2.848 de 1940 - Código Penal:
Art. 278. Fabricar, vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo coisa ou substância nociva à saúde, ainda que não destinada à alimentação ou a fim medicinal:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Podemos incluir no tema legislações especiais ou extravagantes.
As infrações penais no CDC – tipificações exemplificativas
Elencamos entre as 11 infrações penais, duas por suas diferenças e existência fática:
PUBLICIDADE PREJUDICIAL À SAÚDE
Lei 8.078 de 1990:
Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa:
Parágrafo único. (VETADO)
Considerando o tipo penal consumerista nos auxiliamos do normativo do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, em seu art. 33, verbis:
Código Brasileiro de Auto-Regulamentação Publicitária.
Artigo 33: Este Código condena os anúncios que:
a. manifestem descaso pela segurança, sobretudo quando neles figurarem jovens e crianças ou quando a estes for endereçada a mensagem;
b. estimulem o uso perigoso do produto oferecido;
c. deixem de mencionar cuidados especiais para a prevenção de acidentes, quando tais cuidados forem essenciais ao uso do produto;
d. deixem de mencionar a responsabilidade de terceiros, quando tal menção for essencial;
e. deixem de especificar cuidados especiais no tocante ao uso do produto por crianças, velhos e pessoas doentes, caso tais cuidados sejam essenciais.
Fazendo uma convergência entre as normas, percebemos que o tipo penal veda a publicidade capaz de fazer com que o consumidor se comporte de forma prejudicial a sua própria saúde. Tanto que no art. 33 do normativo, o CONAR condena os anúncios que, entre outros, “deixem de mencionar cuidados especiais para a prevenção de acidentes, quando tais cuidados forem essenciais ao uso do produto”.
COBRANÇA DE DÍVIDA DE FORMA VEXATÓRIA
Lei 8.078 de 1990:
Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer:
Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
Este tipo penal para ser amplamente compreendido, tem necessidade da complementação do art. 42 do CDC:
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. (...)
Pela sua convergência, compreendemos que a dívida é ato personalíssimo. Apenas o consumidor pode ser cobrado. Mas na conduta da cobrança não pode haver exposição vexatória. Compreendendo tal exposição, não pode haver interferência em local de trabalho, descanso ou lazer. Principalmente com a ciência de terceiros.
As infrações penais no CDC – Concurso de pessoas
Lei 8.078 de 1990:
Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste código, incide as penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito de produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições por ele proibidas.
A regra prevê o concurso de pessoas. Em sendo norma penal é uma redundância do art. 29 do CP:
Decreto-lei 2.848 de 1940 - Código Penal:
Art. 29. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
Destacamos neste tipo penal consumerista, a previsão da responsabilidade do “diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica”. Pois, de acordo com a sua culpabilidade, poderão responder concorrentemente com a própria empresa. Principalmente, em decorrência do seu “status mandamental” (posição hierárquica).

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