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113 CAPÍTULO 5 SOLICITAÇÕES TANGENCIAIS – CISALHAMENTO E TORÇÃO Serão analisadas seções sujeitas à força cortante (V) e a momento torçor (T) que geram tensões de cisalhamento (τ). 5.1 Tensões principais numa viga de comportamento elástico linear Considere-se uma viga biapoiada sujeita a duas cargas concentradas de valor P, simetricamente dispostas no vão à distância a dos apoios, conforme mostra a Figura 5.1. Figura 5.1 Diagrama de esforços em viga biapoiada O trecho inicial da viga compreendido entre o apoio e a carga concentrada, está sujeito a momento fletor e a força cortante. Nesta região, a um ponto C situado na linha neutra (LN), Figura 5.2, correspondem tensões principais σ1 e σ2 inclinadas de 45; em um ponto S situado acima da (LN), o ângulo entre o eixo da viga e a direção da tensão principal de tração σ1 é maior do que 45 e, num ponto I, posicionado abaixo da (LN), este ângulo é menor do que 45. No trecho compreendido entre as cargas concentradas, sujeito a flexão simples, a direção das tensões principais de tração é paralela ao eixo da viga. As trajetórias de tensões principais estão esquematizadas na Figura 5.2. 114 Figura 5.2 Trajetórias de tensões principais 5.2 Arranjos usuais de armadura nas vigas de concreto armado Como se sabe, o concreto é um material de boa resistência à compressão (fcc), porém, de baixa resistência a tração (fct). Dessa forma, se a viga da Figura 5.1 fosse de concreto armado ela tenderia a apresentar fissuras perpendiculares à tensão principal de tração (σ1), ou seja, fissuras paralelas à tensão principal de compressão (σ2). Pode-se notar que na flexão simples (trecho compreendido entre as cargas concentradas) as fissuras tendem a ser perpendiculares à LN; e na flexão combinada com cisalhamento (trecho compreendido entre a carga concentrada e o apoio) as fissuras tendem a se inclinar devido à força cortante. Neste caso diz-se que ocorre uma fissuração diagonal. A ideia básica do concreto armado está na associação de dois materiais, concreto e armadura, de modo que esta última supra a deficiência à tração do primeiro. Para isso, a armadura deve ser posicionada de modo a “costurar” as fissuras de tração e, quando possível, paralelamente às tensões de tração. As trajetórias de tensões de tração (Figura 5.2) sugerem os seguintes arranjos práticos de armadura: 115 a) armadura longitudinal (reta + dobrada) + armadura transversal (estribo), Figura 5.3; Figura 5.3 Arranjo de armaduras b) armadura longitudinal (reta) + armadura transversal (estribo), Figura 5.4. Figura 5.4 Configuração de armaduras O estribo nunca é dispensado nas vigas devido, principalmente, a razões de ordem construtiva. O primeiro dos arranjos citados parece ser melhor porque a armadura longitudinal acompanha, relativamente bem, as trajetórias de tensões principais de tração; os ensaios, contudo, tem mostrado o bom comportamento do segundo arranjo onde os estribos, distribuídos com pequeno espaçamento entre si, têm a função de “costurar” as possíveis fissuras perpendiculares às tensões principais de tração. Este último arranjo, associado às facilidades construtivas decorrentes, constitui esquema muito prático e de uso bastante comum; a armadura longitudinal tem a função de resistir à flexão e os estribos, ao cisalhamento. 116 5.3 Modos de ruptura Considere-se a viga de Figura 5.4 com o arranjo das armaduras constituído de barras longitudinais retas e estribos. Considerando-se o carregamento crescente da viga, nota-se, inicialmente, a formação de fissuras perpendiculares ao eixo da viga, no trecho compreendido entre as cargas concentradas. Estas fissuras são devidas ao efeito do momento fletor, Figura 5.5. Figura 5.5 Fissuras ocasionadas pelo efeito do momento fletor Com o aumento da carga, essas fissuras avançam pela alma da viga em direção à zona comprimida e aparecem, também, fissuras diagonais no trecho sujeito a força cortante, Figura 5.6. Esta fissuração progride até ocorrer a ruptura localizada em alguma região da viga. O modo particular de ruptura vai depender do arranjo, da quantidade, e da proporção relativa das armaduras, longitudinal e transversal. Figura 5.6 Fissuras formadas pela presença de força cortante e momento fletor 117 São vários os modos possíveis de ruptura: a) ruptura momento-compressão, Figura 5.7, característico da flexão simples: ruptura por esmagamento do concreto e, em geral, escoamento da armadura tracionada; Figura 5.7 Ruptura por esmagamento do concreto b) ruptura cortante-tração, Figura 5.8, que pode ocorrer por causa da deficiência de armadura transversal, separando a viga em duas partes; Figura 5.8 Ruptura cortante-tração c) ruptura momento-cortante-compressão, Figura 5.9, provocada por deficiência de armadura transversal em região sujeita à solicitação combinada, força cortante com momento fletor. Neste caso, a insuficiência (ou arranjo inadequado) de estribos provoca o avanço exagerado das fissuras diagonais, levando à ruptura da seção por causa da redução da zona comprimida necessária ao equilíbrio da flexão; Figura 5.9 Ruptura momento-cortante-compressão 118 d) ruptura cortante-compressão, Figura 5.10, provocada por esmagamento diagonal do concreto junto à alma da viga; esta ruptura pode ocorrer em vigas de alma muito fina, geralmente, de seção “T”; Figura 5.10 Ruptura cortante-compressão e) ruptura por escorregamento da armadura longitudinal junto aos apoios extremos, Figura 5.11, por causa da sua ancoragem insuficiente e, da fissuração diagonal que provoca uma translação do diagrama de resultante de tração na armadura longitudinal (decalagem). Figura 5.11 Ruptura por escorregamento Os modos de ruptura, bem como, os panoramas de fissuração foram ilustrados na viga simples de concreto armado. Contudo, eles ocorrem, em vigas gerais de concreto estrutural apresentando as mesmas características observadas na viga simples. 5.3.2 Verificação da segurança para solicitações tangenciais Com relação aos diversos modos de ruptura, devem ser verificados os estados limites últimos para os casos a, b, d e e; o caso c é contornado através de cuidados especiais na distribuição dos estribos (utilização de estribos finos com pequeno espaçamento entre eles). 119 5.4 Método de verificação 5.4.1 Modelo simplificado para o comportamento da viga (treliça clássica ou treliça de Mörsch) O panorama de fissuração, que se implanta na viga por ocasião da ruptura, sugere um modelo em forma de treliça para o seu esquema resistente (Figura 5.12). Esta treliça é constituída de banzos paralelos ao eixo da viga (banzo superior comprimido de concreto, e banzo inferior tracionado correspondente à armadura longitudinal de flexão), diagonais comprimidas de concreto inclinadas de 45 (bielas diagonais) e pendurais correspondentes à armadura transversal. Esta armadura é, em geral, constituída de estribos distanciados de s e posicionados ao longo da viga, perpendicularmente ao seu eixo. As cargas atuantes na viga são substituídas por forças concentradas equivalentes aplicadas aos “nós” da treliça. Figura 5.12 Modelo da treliça de Morsch Os esforços na treliça múltipla podem ser estimados através de uma treliça mais simples, isostática, Figura 5.13, dita treliça clássica ou treliça de Mörsch. Cada pendural nesta treliça representa (z/s) estribos, da treliçaoriginal, o mesmo ocorrendo com a diagonal comprimida. Figura 5.13 Treliça clássica 120 5.4.1.2 Solicitações nos elementos da treliça Do equilíbrio do ponto J, Figura 5.14, tem-se: Rswd = Vd e Rcwd = Vd√2 Figura 5.14 Equilíbrio de esforços internos 5.4.1.3 Translação do diagrama de tração na armadura longitudinal (decalagem al) Considere-se a viga esquematizada na Figura 5.15 sujeita à carga uniforme pd. Figura 5.15 Esforços internos 121 Admita-se que no trecho de comprimento z, a partir da abscissa x0, os estribos estejam posicionados com espaçamento z/n (no caso, n=4). A Figura 5.15 (a) apresenta os esforços atuantes sobre este trecho. Observa-se que a força cortante Vd é integralmente transferida através dos estribos. O momento em relação ao ponto O é dado por Mod + Vod ∙ z − pd ∙ z n ∙ z n ∑ i n−1 1 − Vd n ∙ z n ∑ i n−1 1 − Rsd ∙ z = 0 Sendo Vd = Vod − pd ∙ z ∑ i n−1 1 = n(n − 1) 2 resulta Rsd = Mod + Vod ∙ z 2 (1 + 1 n) z Para n = 1 tem-se: Rsd = Mod + Vod ∙ z 2 z = Md z ou seja, a força de tração na armadura longitudinal no ponto S1 é determinado com o momento fletor no ponto S2, mostrando a existência de um deslocamento (decalagem) al = z, entre os dois diagramas. Para n tem-se: Rsd = Mod + Vod ∙ z 2 z = M̅d z como na abscissa xo + z/2 o momento fletor vale (Mod + Vod.z/2 – pd.z2/8), pode-se concluir que Md corresponde a uma seção situada além deste ponto, resultando em decalagem al > z/2. Dessa forma, a decalagem está compreendida entre os extremos z/2 e z: z 2 ≤ al ≤ z. Normalmente, comportamento dos estribos é eficiente quando o seu espaçamento é menor do que z/2. A Figura 5.16 apresenta, esquematicamente, o diagrama de momento fletor dividido por z (Md/z) e, também, o diagrama da resultante de tração no banzo tracionado (armadura de flexão). Devido à fissuração diagonal, existe, então, uma translação (decalagem) para o lado desfavorável. Em particular, na seção sobre o apoio extremo, fica evidenciada a presença de 122 força de tração na armadura, apesar de ser nulo o momento fletor. Este efeito explica a possibilidade de ocorrência de ruptura por escorregamento da armadura sobre os apoios extremos da viga. Figura 5.16 Decalagem 5.4.1.4 Tensões médias nos elementos da treliça a) Tensão média na diagonal comprimida (biela comprimida de concreto) Figura 5.17 Tensão média na diagonal comprimida Conforme a Figura 5.17, pode-se escrever: σcwd = Rcwd bwh1 = Vd√2 bw z √2 = 2Vd bwz 123 Como z = 0,9d, tem-se, também: σcwd = Rcwd bwh1 = Vd√2 bw z √2 = 2Vd bwz ≅ 2Vd bw ∙ 0,9d = 2,22 Vd bwd b) Tensão média no estribo Figura 5.18 Tensão média no estribo Sendo Asw a área total correspondente a um estribo, tem-se para o estribo usual de 2 ramos: Asw = 2 As1 (As1 = área da seção da armadura do estribo). Conforme a Figura 5.18, tem-se: σswd = Rswd z s Asw = Vd zAsw s ∙ bw bw = Vd bwz Asw bws = Vd 0,9dbwρw ou σswd = Rswd z s Asw ≅ Vd 0,9dAsw s = Vd 0,9dAsw s ∙ bw bw = Vd bw0,9d Asw bws = Vd 0,9dbwρw onde z / s = número de estribos no comprimento z de viga e 𝜌𝑤 = 𝐴𝑠𝑤 𝑏𝑤𝑠 = taxa geométrica de armadura transversal. 5.4.2 Dimensionamento (Critérios NBR 6118/2014) As verificações são feitas em termos de forças atuantes nas bielas de concreto e armadura transversal e não mais nas tensões. Admitem-se dois modelos de cálculos alternativos: 124 Modelo I: considera as diagonais de compressão inclinadas de θ = 45º em relação ao eixo longitudinal do elemento estrutural, em que Vc é suposto constante. Modelo II: considera as diagonais inclinadas em um intervalo de 30º a 45º e considera-se a parcela de Vc com valores menores. 5.4.2.1 Verificação do estado limite último A resistência da peça em uma determinada seção transversal é satisfatória quando verificadas simultaneamente as seguintes condições: Vsd < VRd2 Vsd < VRd3 = Vc+Vsw Onde: Vsd – força cortante solicitante de cálculo VRd2 – força cortante resistente de cálculo VRd3 = Vc+ Vsw , Vc parcela da força cortante absorvida por mecanismos complementares ao de treliça e Vsw a parcela absorvida pela armadura transversal. 5.4.2.1.1 Modelo de Cálculo I A resistência da peça é assegurada pela verificação da compressão diagonal do concreto pela seguinte expressão: VRd2 = 0,27αv2fcdbwd > Vsd αv2 = 1 − fck 250 fck em MPa Cálculo da armadura transversal: Vsd < VRd3 = Vc + Vsw Vsw = ( Asw s ) 0,9 ∙ d ∙ fywd(senα + cosα) Onde: - inclinação dos estribos, entre 45° ≤ ≤90º; Vc = 0; nas peças tracionadas quando a linha neutra se situa fora da seção; Vc = Vc0; na flexão simples e na flexo-tração com a linha neutra cortando a seção; Vc = Vc0 (1 + M0 Msd,máx ) ≤ 2Vc0 na flexo-compressão Vc0 = 0,6 ∙ fctd ∙ bwd ∙ d; Sendo: 125 M0 – momento fletor que anula a tensão normal de compressão na borda da seção; Msd,máx – momento fletor de cálculo máximo no trecho em análise. fctd = fctk,inf γc fctk,inf = 0,7fctm fctm = 0,3fck 2 3⁄ Asw s = Vsw 0,9 ∙ d ∙ fywd Obs.: segundo a NBR 6118 deve-se limitar fywd em 434,8 MPa para as armaduras de cisalhamento. 5.4.2.1.2 Modelo de Cálculo II Este modelo admite diagonais de compressão com θ variando de 30º a 45º. Neste modelo a resistência da peça é assegurada também pela verificação da compressão diagonal do concreto, porém dada com esta expressão: VRd2 = 0,54αv2fcdbwd(sen 2θ)(cotgα + cotgθ) > Vsd Onde: - inclinação dos estribos; - inclinação das bielas. Cálculo da armadura transversal: Vsd < VRd3 = Vc + Vsw Vsw = ( Asw s ) 0,9 ∙ d ∙ fywd(cotgα + cotgθ)senα Onde: Vc = 0; nas peças tracionadas quando a linha neutra se situa fora da seção; Vc = Vc1; na flexão simples e na flexo-tração com a linha neutra cortando a seção; 𝑉𝑐 = 𝑉𝑐1 (1 + 𝑀0 𝑀𝑠𝑑,𝑚á𝑥 ) ≤ 2𝑉𝑐1 na flexo-compressão com: Vc1 = Vc0 quando Vsd ≤ Vc0 e Vc1 = 0 quando Vsd = VRd2 Asw s = Vsw 0,9 ∙ d ∙ fywd(cotgα + cotgθ)senα Obs.: segundo a NBR 6118 deve-se limitar fywd em 434,8 MPa para as armaduras de cisalhamento. 126 5.4.2.2 Arranjos das armaduras Para o dimensionamento ao cisalhamento deve-se respeitar as seguintes condições: a) Armadura transversal mínima (estribo mínimo) ρsw,mín = Asw bw ∙ s ∙ senα ≤ 0,2fctm fywk b) Tipo de estribo Os estribos para forças cortantes devem ser fechados através de um ramo horizontal, envolvendo as barras da armadura longitudinal de tração e ancorados na face oposta. c) Diâmetro dos estribos (t) 5 mm ≤ θt ≤ bw 10 d) Espaçamento dos estribos (s) Recomenda-se obedecer às seguintes condições: espaçamento máximo entre estribos, segundo o eixo longitudinal da peça - se Vd ≤ 0,67VRd2, então smax = 0,6d ≤ 300 mm; - se Vd > 0,67VRd2, então smax = 0,3d ≤ 200 mm. O espaçamento mínimo entre estribos deve ser suficiente para permitir a passagem do vibrador. 5.5 Complementos 5.5.1 Seções próximas aos apoios Nas proximidades dos apoios, a quantidade de armadura de cisalhamento pode ser menor do que aquele indicado pelo cálculo usual. Este fato ocorre porque parte da carga (próxima aos apoios) pode se dirigirdiretamente aos apoios, portanto, sem solicitar a armadura transversal. A NBR-6118 propõe as regras seguintes para o cálculo da armadura transversal, quando a carga e a reação de apoio forem aplicadas em faces opostas da peça, comprimindo-a: a) no trecho entre o apoio e a seção situada à distância d/2 da face deste apoio, a força cortante oriunda de carga distribuída poderá ser considerada constante e igual à desta seção (Figura 5.19); 127 Figura 5.19 Seções próximas aos apoios b) a força cortante devida a uma carga concentrada aplicada a uma distância a ≤ 2d do centro do apoio poderá, neste trecho de comprimento a, ser reduzida multiplicando-a por [a/(2d)], Figura 5.20. Convém frisar que estas reduções só podem ser feitas para o cálculo da armadura transversal. A verificação do concreto (τwd) deve ser feita com os valores originais, sem redução. Figura 5.20 Força cortante devida a uma carga concentrada aplicada a uma distância a. 5.5.2 Elementos estruturais de altura variável A força cortante que é resistida pela alma das vigas de altura variável pode ser avaliada por: |𝑉𝑠𝑑| − |𝑉𝑠𝑑,𝑟𝑒𝑑| = [|𝑀𝑠𝑑 𝑧⁄ | − |𝑉𝑠𝑑,𝑟𝑒𝑑|(𝑐𝑜𝑡𝑔𝜃)/2]𝑡𝑔𝛽𝑐 + [|𝑀𝑠𝑑 𝑧⁄ | − |𝑉𝑠𝑑,𝑟𝑒𝑑|(𝑐𝑜𝑡𝑔𝜃)/2]𝑡𝑔𝛽𝑡 128 onde: Vsd,red é a força cortante reduzida, considerando o efeito de altura variável c é o ângulo entre o banzo de compressão e o eixo longitudinal do elemento estrutural t é o ângulo entre a armadura de tração e o eixo longitudinal do elemento estrutural é o ângulo de inclinação das bielas de compressão consideradas no dimensionamento à força cortante z é o braço de alavanca das forças resultantes internas Os sinais de c e t devem ser obtidos considerando o sentido das forças finais de compressão e de tração da flexão com a força cortante concomitante. A expressão acima considera a redução da força de compressão na flexão quando existe força cortante concomitante. 5.6 Exemplos 5.6.1 Exemplo 1 Determinar os estribos e verificar a seção de concreto para a viga esquematizada na Figura 5.21. Dados: P = 65 kN, fck = 25 MPa, aço CA50 e admitir d = 46 cm para a altura útil da seção. Figura 5.21 Exemplo 1 129 fctm = 0,3(fck) 2 3⁄ = 0,3(25) 2 3⁄ = 2,56 MPa fctk,inf = 0,7fctm = 0,7 ∙ 2,56 = 1,80 MPa fctd = fctk,inf γc = 1,80 1,4 = 1,28 MPa a) Verificação do concreto Vsd = γfV = 1,4 ∙ 65 = 91 kN αv2 = 1 − fck 250 = 1 − 25 250 = 0,9 VRd2 = 0,27 ∙ αv2 ∙ fcd ∙ bw ∙ d = 0,27 ∙ 0,9 ∙ 1,78 ∙ 12 ∙ 46 = 238,76 kN Assim, Vsd < VRd2 b) Cálculo do estribo Vc = Vc0 = 0,6 ∙ fctd ∙ bw ∙ d = 0,6 ∙ 0,128 ∙ 12 ∙ 46 = 42,39 kN Vsw = Vsd − Vc = 91 − 42,4 = 48,6 kN Vsw = ( Asw s ) ∙ 0,9 ∙ d ∙ fywd Portanto, ( Asw s ) = 2,7cm2 m (Trecho I e III) ρsw,mín = 0,2 ∙ fctm fywk = 0,2 ∙ 2,56 500 = 0,10% ( Asw s ) mín = bw ∙ ρsw,mín = 12 ∙ 0,10% = 0,012 cm2 cm = 1,2 cm2 m (Trecho II) - para o diâmetro dos estribos (t) 5 mm ≤ θt ≤ bw 10 = 12 mm - para o espaçamento entre estribos (s) 7 cm ≤ s ≤ 0,6d ou 30 cm (sendo que Vsd ≤ 0,67VRd2) 0,6d = 0,6.46 = 27,6 cm (adota-se o menor espaçamento de 27 cm) As bitolas usuais de armaduras para estribos são as seguintes: (mm) 5 6,3 8 10 12,5 As1 (cm²) 0,2 0,31 0,51 0,79 1,23 onde As1 = área da seção transversal de uma barra. Para (Asw/s) = 2,7 cm²/m temos: Adotando-se estribos de 2 ramos tem-se: Asw = 2As1. 130 (mm) As1 (cm²) Asw = 2As1 s (cm) 5 0,2 0,4 14 A distância da face interna do apoio até a carga é de 144 cm (150 – 6 = 144 cm). Portanto, tem-se 144/14 = 10,3 portanto 11 estribos neste trecho. Trecho entre as cargas concentradas (V = 0) ( Asw s ) mín = 1,2 cm2 m⁄ (mm) As1 (cm²) Asw = 2As1 s (cm) 5 0,2 0,4 33 > smáx = 27 Deve-se adotar, então 5 c/ 27. O comprimento do trecho é de 160 cm. Portanto, tem-se 160/27 = 5,9 6 estribos neste trecho. c) Arranjo dos estribos A Figura 5.22 apresenta o detalhamento dos estribos para a viga analisada. Adotou-se cobrimento mínimo da armadura de 1,5 cm. Figura 5.22 Detalhamento dos estribos 5.6.2 Exemplo 2 Determinar os estribos e verificar a seção de concreto para a viga esquematizada na Figura 5.23. Dados: p = 30 kN/m, fck = 25 MPa, aço CA50 e admitir d = 46 cm para a altura útil da seção. 131 Figura 5.23 Exemplo 2 fctm = 0,3(fck) 2 3⁄ = 0,3(25) 2 3⁄ = 2,56 MPa fctk,inf = 0,7fctm = 0,7 ∙ 2,56 = 1,80 MPa a) Verificação do concreto Vsd = γfV = 1,4 ∙ 69 = 96,6 kN αv2 = 1 − fck 250 = 1 − 25 250 = 0,9 VRd2 = 0,27 ∙ αv2 ∙ fcd ∙ bw ∙ d = 0,27 ∙ 0,9 ∙ 1,78 ∙ 12 ∙ 46 = 238,76 kN Assim, Vsd < VRd2 b) Cálculo do estribo Vc = Vc0 = 0,6 ∙ fctd ∙ bw ∙ d = 0,6 ∙ 0,128 ∙ 12 ∙ 46 = 42,39 kN ρsw,mín = 0,2 ∙ fctm fywk = 0,2 ∙ 2,56 500 = 0,10% ( Asw s ) mín = bw ∙ ρsw,mín = 12 ∙ 0,10% = 0,012 cm 2 cm⁄ = 1,2 cm2 m⁄ Vsd ∗ = Vc + ( Asw s ) mín ∙ 0,9 ∙ d ∙ fywd = 42,39 + 0,012 ∙ 0,9 ∙ 46 ∙ 43,5 = 64 kN Por semelhança de triângulos chega-se à distância onde ocorre o valor de Vsd *, ou seja, 78 cm. 132 trecho B de estribo mínimo ( Asw s ) mín = 1,2 cm2 cm⁄ - espaçamento entre estribos (s) 7 cm < s < 0,6d ou 30 cm (sendo que Vsd ≤ 0,67VRd2) 0,6d = 0,6.46 = 27,6 cm (adota-se o maior espaçamento de 27 cm) Adotando-se estribos de 2 ramos tem-se: Asw = 2As1. A tabela seguinte mostra uma possível opção. (mm) As1 (cm²) Asw = 2As1 s (cm) 5 0,2 0,4 33 > smáx = 27 Deve-se adotar, então 5 c/ 27. O comprimento do trecho é de 160 cm. O trecho central de estribo mínimo deve estar sujeito a força cortante menor do que Vsd *. Desta forma, o trecho central de estribo mínimo (trecho B) tem comprimento de 4,6 - 2 x 0,78 = 3,04 m centrado no vão. Neste trecho tem-se: 304 / 27 =11,3 12 estribos. trecho A junto aos apoios (Vsd = 96,6 kN) Restam dois trechos de 0,78 m junto aos apoios (trecho A) que podem ser armados com estribo constante calculado para a máxima força cortante de cálculo no trecho igual a 96,6 kN. - taxa geométrica Vsw = Vsd − Vc = 96,6 − 42,4 = 54,2 kN Vsw = ( Asw s ) ∙ 0,9 ∙ d ∙ fywd Portanto, ( Asw s ) = 3,0 cm2 m⁄ - espaçamento entre estribos (s) Adotando-se estribos de 2 ramos tem-se: Asw = 2As1. A tabela seguinte mostra as possíveis opções. (mm) As1 (cm²) Asw = 2As1 s (cm) 5 0,2 0,4 13 6,3 0,315 0,63 21 Pode-se adotar, por exemplo, 5 c/ 13. O comprimento de cada trecho medido a partir da face interna do apoio é de 78 – 6 = 72 cm; portanto, tem-se 72/13 = 5,5 6 estribos neste trecho. 133 c) Arranjo dos estribos A Figura 5.24 apresenta o detalhamento dos estribos para a viga analisada. Adotou-se o cobrimento mínimo da armadura de 1,5 cm. Figura 5.24 Detalhamento dos estribos 5.6.3 Exemplo 3 Determinar os estribos e verificar a seção de concreto para a viga esquematizada na Figura 5.25 e na Figura 5.26. Dados: fck = 25 MPa, aço CA50 e admitir d = 46 cm para a altura útil da seção. 134 Figura 5.25 Exemplo 3 Figura 5.26 Carregamento Figura 5.27 Diagrama de esforço cortante de cálculo a) Verificação do concreto Como a seção da viga é constante, basta verificar o concreto para a força cortante de cálculo máxima Vsd = 158,4 kN junto aos apoios internos. αv2 = 1 − fck 250 = 1 − 25 250 = 0,9 VRd2 = 0,27 ∙ αv2 ∙fcd ∙ bw ∙ d = 0,27 ∙ 0,9 ∙ 1,78 ∙ 15 ∙ 46 = 298,45 kN Assim, Vsd < VRd2 b) Cálculo do estribo Vc = 0,6 ∙ fctd ∙ bw ∙ d = 0,6 ∙ 0,128 ∙ 15 ∙ 46 = 53 kN ρsw,mín = 0,2 ∙ fctm fywk = 0,2 ∙ 2,56 500 = 0,10% ( Asw s ) mín = bw ∙ ρsw,mín = 12 ∙ 0,10% = 0,012 cm 2 cm⁄ = 1,2 cm2 m⁄ Vsd ∗ = Vc + ( Asw s ) mín ∙ 0,9 ∙ d ∙ fywd = 53 + 0,012 ∙ 0,9 ∙ 46 ∙ 43,5 = 74,6 kN 135 Primeiro trecho Por semelhança de triângulos chega-se à distância onde ocorre o valor de Vsd *, ou seja, 73,5 cm. Vsw = Vsd − Vc = 100,6 − 53 = 47,6 kN Vsw = ( Asw s ) ∙ 0,9 ∙ d ∙ fywd Portanto, ( Asw s ) = 2,64 cm2 m⁄ - espaçamento entre estribos (s) 7 cm s 0,6d ou 30 cm (sendo que Vsd < 0,67VRd2) 0,6d = 0,6.46 = 27,6 cm (adota-se o maior espaçamento de 27 cm) Adotando-se estribos de 2 ramos tem-se: Asw = 2As1. A tabela seguinte mostra uma possível opção. (mm) As1 (cm²) Asw = 2As1 s (cm) 5 0,2 0,4 15 Deve-se adotar, então 5 c/ 15. O comprimento de cada trecho medido a partir da face interna do apoio é de 73,5 – 10 = 63,5 cm. Portanto, tem-se: 63,5 / 15 =4,2 5 estribos neste trecho. Em complementação ao primeiro trecho utiliza-se armadura mínima a partir do comprimento calculado em ocorrência a Vsd *. ( Asw s ) mín = 1,2 cm2 m⁄ Adotando-se estribos de 2 ramos tem-se: Asw = 2As1. A tabela seguinte mostra uma possível opção. (mm) As1 (cm²) Asw = 2As1 s (cm) 5 0,2 0,4 33 > smáx = 27 Deve-se adotar, então 5 c/ 27. O comprimento de cada trecho medido a partir da face interna do apoio é de 267,5 – 73,5 = 194 cm. Portanto, tem-se 194 / 27 = 7,2 8 estribos neste trecho. Segundo trecho Por semelhança de triângulos chega-se à distância onde ocorre o valor de Vsd *, ou seja, 237 cm. Vsw = Vsd − Vc = 158,4 − 53 = 105,4 kN Vsw = ( Asw s ) ∙ 0,9 ∙ d ∙ fywd 136 Portanto, ( Asw s ) = 5,85 cm2 m⁄ - espaçamento entre estribos (s) 7 cm s 0,6d ou 30 cm (sendo que Vsd < 0,67VRd2) 0,6d = 0,6.46 = 27,6 cm (adota-se o maior espaçamento de 27 cm) Adotando-se estribos de 2 ramos tem-se: Asw = 2As1. A tabela seguinte mostra uma possível opção. (mm) As1 (cm²) Asw = 2As1 s (cm) 6,3 0,315 0,63 10 Deve-se adotar, então 6,3 c/ 10. O comprimento de cada trecho medido a partir da face interna do apoio é de 237 – 25 = 212 cm. Portanto, tem-se 212 / 10 = 21,2 22 estribos neste trecho. Em complementação ao segundo trecho utiliza-se armadura mínima a partir do comprimento calculado em ocorrência a Vsd *. ( Asw s ) mín = 1,2 cm2 m⁄ Adotando-se estribos de 2 ramos tem-se: Asw = 2As1. A tabela seguinte mostra uma possível opção. (mm) As1 (cm²) Asw = 2As1 s (cm) 5 0,2 0,4 33 > smáx = 27 Deve-se adotar, então 5 c/ 27. O comprimento de cada trecho medido a partir da face interna do apoio é de 267,5 – 237 = 30,5 cm. Portanto, têm-se 30,5 / 27 = 1,1 2 estribos neste trecho. Terceiro trecho Por semelhança de triângulos chega-se à distância onde ocorre o valor de Vsd *, ou seja, 128 cm. Vsw = Vsd − Vc = 123,3 − 53 = 70,3 kN Vsw = ( Asw s ) ∙ 0,9 ∙ d ∙ fywd Portanto, ( Asw s ) = 3,90 cm2 m⁄ - espaçamento entre estribos (s) 7 cm s 0,6d ou 30 cm (sendo que Vsd < 0,67VRd2) 0,6d = 0,6.46 = 27,6 cm (adota-se o maior espaçamento de 27 cm) 137 Adotando-se estribos de 2 ramos tem-se: Asw = 2As1. A tabela seguinte mostra uma possível opção. (mm) As1 (cm²) Asw = 2As1 s (cm) 5 0,2 0,4 10 Deve-se adotar, então 5 c/ 10. O comprimento de cada trecho medido a partir da face interna do apoio é de 128 – 25 = 103 cm. Portanto, têm-se 103 / 10 = 10,3 11 estribos neste trecho. Em complementação ao terceiro trecho utiliza-se armadura mínima a partir do comprimento calculado em ocorrência a Vsd *. ( Asw s ) mín = 1,2 cm2 m⁄ Adotando-se estribos de 2 ramos tem-se: Asw = 2As1. A tabela seguinte mostra uma possível opção. (mm) As1 (cm²) Asw = 2As1 s (cm) 5 0,2 0,4 33 > smáx = 27 Deve-se adotar, então 5 c/ 27. O comprimento de cada trecho medido a partir da face interna do apoio é de 482,5 – 128 – 7,5 = 347 cm. Portanto, têm-se 347 / 27 = 12,8 13 estribos neste trecho. c) Arranjo dos estribos A Figura 5.28 apresenta o detalhamento dos estribos para a viga analisada. Adotou-se o cobrimento mínimo da armadura de 1,5 cm. Figura 5.28 Detalhamento dos estribos 138 5.7 Armadura de costura nas abas das seções transversais 5.7.1 Introdução Normalmente, as abas das seções transversais estão submetidas a solicitações tangenciais. Junto à ligação (aba-alma) das seções das vigas esta solicitação atinge o valor máximo. Esta solicitação exige, no concreto armado, uma armadura de costura. Em vigas usuais de edifícios, podem ocorrer duas situações onde estas armaduras são necessárias, como mostrado na Figura 5.29. A primeira situação corresponde às seções dos vãos com abas comprimidas de seções T (flexão nos vãos das vigas normais) e, a outra, às seções de apoios internos das vigas contínuas, onde a armadura de flexão é distribuída também nas lajes (abas tracionadas). Figura 5.29 Situações usuais 5.7.2 Aba comprimida A Figura 5.30 apresenta a situação típica correspondente à seção T submetida à flexão. Figura 5.30 Aba comprimida 139 Considere-se a aba lateral de dimensão b’ e comprimento ds, Figura 5.31. Figura 5.31 Esforços na aba comprimida A resultante de compressão na seção transversal é Rcd. Na aba de dimensão b’ tem-se Rfd = b′ bf Rcd Como Rcd = Md z , tem-se Rfd = b′ bf ∙ Md z . O acréscimo dRfd é dado por: dRfd = b′ bf ∙ dMd z . Como dMd = Vsd.ds , tem-se: dRfd = b′ bf ∙ Vsd z ds. Esta variação da resultante de tensões normais de flexão é equilibrada pela resultante das tensões de cisalhamento τfo atuando na área elementar (hf.ds), isto é: dRfd = τfohfds. Portanto, τfo = b′ bf Vsd hfz = Vfd hfz = Vfd hf ∙ 0,9d (a) onde Vfd = b′ bf Vsd ou Vfd = Asf̅̅ ̅̅ As Vsd Comparando-se a expressão do cisalhamento usual de viga (conforme o modelo da treliça clássica) com a expressão (a), pode-se concluir que ela permite imaginar a força cortante Vfd atuando na seção fictícia de dimensões hf x d. Logo, a armadura transversal, necessária no modelo da treliça clássica, é dada por: 140 ρ f = τfo fywd onde ρ f = Asf̅̅ ̅̅ hf sendo Asf̅̅ ̅̅ = Vfd 0,9d ∙ fywd Asf̅̅ ̅̅ = a área total de armadura transversal da aba (armadura de costura) por unidade de comprimento, Figura 5.32. Figura 5.32 Disposição da armadura na aba Normalmente, adota-se a armadura obtida desta maneira, como sendo suficiente para garantir a segurança da ligação entre a aba e a alma da viga. Deve-se, também, verificar Vfd ≤ 0,27 ∙ αv2 ∙ fcd ∙ hf ∙ d (verificação da compressão na biela diagonal) e ρ f ≥ 0,2 ∙ fctm fywk (taxa mínima de armadura transversal). 141 5.7.2.1 Exemplo Como exemplo, considere-se a viga da Figura 5.33, que tem .fck de 20MPa Figura 5.33 Exemplo de cálculo de armadura de costura Junto aos apoios, onde a força cortante é máxima, tem-se: Vsd = 1,4 x 51,0 = 71,4 kN Portanto, Vfd = b′ bf Vsd = 46 104 ∙ 71,4 = 31,6 kN Verificação da biela Vfd ≤ 0,27 ∙ αv2 ∙ fcd ∙ hf ∙ d = 0,27 ∙ (1 − 20 250 ) ∙ 2,01,4 ∙ 8 ∙ 46 = 130,58𝑘𝑁 𝑂𝐾! Portanto Asf̅̅ ̅̅ = Vfd 0,9d ∙ fywd = 31,6 0,9 ∙ 46 ∙ 43,5 = 0,0175 cm² cm⁄ = 1,75 cm² m⁄ ou ρ f = Asf̅̅ ̅̅ hf = 0,0175 8 = 0,0022 = 0,22% Esta armadura pode ser conseguida através de duas camadas de 5 c/20, uma junto à borda superior e, outra, junto à borda inferior; em 1 m de extensão tem-se 5 barras por camada totalizando 2 x 5 x 0,2 = 2,0 cm² > Asf̅̅ ̅̅ ρ f ≥ 0,2 ∙ fctm fywk = 0,2 ∙ 0,221 50 = 8,84 ∙ 10−4 = 0,088% (taxa mínima de armadura transversal). A Figura 5.34 apresenta, esquematicamente, a solução obtida. 142 Figura 5.34 Detalhamento das armaduras 5.7.3 Aba tracionada A Figura 5.35 apresenta a situação usual, correspondente a seções de apoio interno de vigas contínuas (momento fletor tracionando a borda superior), com armadura tracionada de flexão distribuída, também, nas abas. Figura 5.35 Aba tracionada Considere-se a aba lateral de comprimento ds, indicada na Figura 5.36. Figura 5.36 Esforços na aba tracionada 143 A resultante de tração na seção transversal é Rsd. Na aba considerada é dada por Rsfd = Asf As Rsd onde Asf = área da seção de armadura de flexão contida na aba. Como Rsd = Md z , tem-se Rsfd = Asf As ∙ Md z . O acréscimo dRsfd é dado por: dRsfd = Asf As ∙ dMd z . Como dMd = Vsd.ds , tem-se: dRsfd = Asf As ∙ Vsd z ds. Esta variação da resultante é equilibrada pela resultante das tensões de cisalhamento τfo atuando na área elementar (hf.ds), isto é: dRsfd = τfohfds. Portanto, τfo = Asf As Vsd hfz = Vfd hfz = Vfd hf ∙ 0,9d (b) onde Vfd = Asf As Vsd Comparando-se a expressão do cisalhamento usual de viga (conforme o modelo da treliça clássica) com a expressão (b), pode-se concluir que ela permite imaginar a força cortante Vfd atuando na seção fictícia de dimensões hf x d. Logo, a armadura transversal, necessária no modelo da treliça clássica, é dada por: ρ f = τfo fywd onde ρ f = Asf̅̅ ̅̅ hf sendo Asf̅̅ ̅̅ = Vfd 0,9d ∙ fywd Asf̅̅ ̅̅ = a área total de armadura transversal da aba (armadura de costura) por unidade de comprimento. Normalmente, adota-se a armadura obtida desta maneira, como sendo suficiente para garantir a segurança da ligação entre a aba e a alma da viga. Deve-se, também, verificar Vfd ≤ 0,27 ∙ αv2 ∙ fcd ∙ hf ∙ d (verificação da compressão na biela diagonal) e 144 ρ f ≥ 0,2 ∙ fctm fywk (taxa mínima de armadura transversal). 5.7.3.1 Exemplo Como exemplo, considere-se a viga da Figura 5.37. Figura 5.37 Exemplo de cálculo de armadura de costura Junto aos apoios, onde a força cortante é máxima, tem-se: Vsd = 1,4 x 63,8 = 89,3 kN Portanto, Vfd = Asf As Vsd = 1,5 5,5 ∙ 89,3 = 24,4 kN Logo τfo = Vfd hf ∙ 0,9d = 24.4 8 ∙ 0,9 ∙ 46 = 0,08 kN/cm² Portanto ρ f = τfo fywd = 0,08 50 1,15⁄ = 0,00184 > 0,14% Ou Asf = hfρf = 8 x 0,00184 = 0,0147 cm² cm⁄ = 1,47 cm² m⁄ Esta armadura pode ser conseguida através de uma camada de 5 c/ 13 ou de duas camadas de 5 c/ 20 (com folga). 145 5.8 Armadura de suspensão 5.8.1 Introdução Normalmente, os apoios das vigas são constituídos pelos pilares. Neste caso, diz-se que os apoios são do tipo direto. Algumas vezes as vigas se apoiam em outras vigas; constituem os apoios do tipo indireto. Conforme ilustra a Figura 5.38, nos apoios diretos as reações são transferidas diretamente aos pilares. Figura 5.38 Apoios diretos Nos apoios indiretos ilustrados na Figura 5.39, as reações da viga devem ser transferidas para a viga de apoio. Portanto, no modelo da treliça clássica, utilizado no estudo do cisalhamento, as reações da treliça, que simula a viga, devem ser suportadas pela treliça que simula a viga de apoio. Estas reações, aplicadas junto à face inferior da viga, devem ser levadas para os nós superiores da treliça de apoio. Para isso são necessárias as armaduras de suspensão. Figura 5.39 Transferência de reações para a viga de apoio 146 Quando as reações são aplicadas junto à face superior da viga de apoio, não existe a necessidade de armadura de suspensão. Esta situação é ilustrada na Figura 5.40. Figura 5.40 Viga de pequena altura apoiada sobre uma viga de grande altura A Figura 5.41 mostra, para o caso de viga de altura (h) maior do que a da viga de apoio (ha), a necessidade de armadura de suspensão para a reação total, isto é, Zd = Rd. Figura 5.41 Vigas altas Numa situação intermediária, ilustrada na Figura 5.42, observa-se a necessidade de suspender apenas parte da reação, uma vez que o restante pode ser transferido para a treliça, que simula a viga de apoio, através do esquema usual. Figura 5.42 Vigas de altura intermediária 147 5.8.2 Força (Zd) e armadura de suspensão (Asusp) Sendo Rd a reação de apoio, a força de suspensão pode ser estimada em Zd = Rd ∙ h ha ≤ Rd onde h = altura da viga apoiada ha = altura da viga de apoio. A armadura de suspensão será dada por Asusp = Zd fywd 5.8.3 Zona de suspensão A armadura de suspensão Asusp pode ser distribuída na zona de suspensão (definida na Figura 5.43), junto ao cruzamento das vigas. Figura 5.43 Zona de suspensão Deve-se observar que a zona de suspensão já contém alguns estribos normais das vigas. Estes estribos podem ser contados na armadura de suspensão. 5.8.4 Exemplo Considere-se o esquema de forma da Figura 5.44, onde a viga V1 se apoia (indiretamente) na viga V2. 148 Figura 5.44 Exemplo de cálculo de armadura de suspensão Os estribos da viga V1, junto aos apoios, é de 5 c/ 12; os estribos da viga V2, junto ao cruzamento das vigas, é de 5 c/ 20. As duas vigas têm a mesma altura; portanto, a força de suspensão Zd = Rd ∙ h ha = Rd = γf ∙ R = 1,4 ∙ 60 = 84 kN A armadura utilizada é CA50; portanto Asusp = Zd fywd = 84 43,48 = 1,93 cm² A zona de suspensão junto à viga V1 tem o comprimento de 19 cm h 2 − bw 2 = 50 2 − 12 2 = 19 cm Neste comprimento tem-se, em média, 1,6 estribos de 5 mm (19/12 = 1,6), totalizando 1,6 x 2 x 0,2 = 0,64 cm² de armadura. A zona de suspensão junto à viga V2 tem o comprimento de 50 cm (2 x ha/2 = ha = 50 cm). Neste comprimento tem-se, em média, 2,5 estribos de 5 mm (50/20 = 2,5), totalizando 2,5 x 2 x 0,2 = 1,0 cm² de armadura. O total de estribos na zona de suspensão é de 0,64 + 1,0 = 1,64 cm² < Asusp = 1,93 cm². Portanto, existe a necessidade de armadura adicional de suspensão. Na prática, isto é conseguido através da redução do espaçamento dos estribos das vigas (em geral, é suficiente a diminuição do espaçamento numa das vigas apenas), de modo que se consiga o total necessário à suspensão. Deste modo, se reduzirmos o espaçamento dos estribos da viga V2 de 20 cm para 15 cm tem-se 50/15 = 3,3 estribos de 5 mm, totalizando 1,3 cm² de armadura (3,3 x 2 x 0,2 = 1,3). O novo total passa a ser de 0,64 + 1,3 = 1,94 cm², atendendo, portanto, a necessidade de suspensão. 149 5.9 Torção O momento torçor em vigas usuais de edifícios pode ser classificado em dois grupos: momento torçor de equilíbrio e momento torçor de compatibilidade. Figura 5.45 Torção de equilíbrio Figura 5.46 Torção de compatibilidade5.9.2 Torção de Saint Venant Considere-se um trecho de viga de seção retangular sujeito a momento torçor T (Figura 5.47). As extremidades A e B apresentam rotações em sentidos opostos e as seções transversais deixam de ser planas. Diz-se que há empenamento da seção devido à torção. Quando a torção ocorre com empenamento livre tem-se o que se chama torção de Saint Venant e aparecem tensões de cisalhamento na seção transversal que, naturalmente, equilibram o momento torçor aplicado. 150 Figura 5.47 Viga sujeita a momento torçor Normalmente, as vigas estão sujeitas a restrições parciais ao livre empenamento por causa das interferências das lajes, outras vigas e pilares de apoio, Desse modo, aparecem tensões normais (longitudinais) adicionais que se somam às tensões devidas à flexão. Nas vigas de concreto armado, essas tensões adicionais costumam ser pequenas e tendem a diminuir com a fissuração do concreto (estádio II). Essas restrições ao empenamento provocam, também, pequenas alterações nas tensões de cisalhamento de Saint Venant. Normalmente, desprezam-se essas alterações provenientes do impedimento parcial do empenamento. Assim, o dimensionamento à torção pode ser feito conforme a teoria de torção de Saint Venant. Usualmente, adota-se a disposição das armaduras compostas de estribos e barras longitudinais que, além da facilidade construtiva, se mostrou bastante adequada para resistir à torção. Os estribos devem apresentar espaçamentos pequenos e as barras longitudinais devem ser distribuídas uniformemente ao longo do perímetro da seção transversal. 5.9.3 Arranjo usual das armaduras Também devem ser observadas as seguintes recomendações: a) Armadura longitudinal Diâmetro da armadura longitudinal maior ou igual ao diâmetro do estribo (não menor do que 10 mm); Garantir uma ancoragem efetiva das barras longitudinais, junto às extremidades do trecho sujeito à torção, pois a tração é constante ao longo da barra; Distribuição uniforme da armadura longitudinal no perímetro da seção. 151 b) Armadura transversal (estribos) st ≤ { d 3⁄ 20 cm 5.9.4 Comportamento da viga de concreto armado sujeita à torção Os ensaios mostram que a resistência à torção é mobilizada, quase que integralmente, junto à capa externa da seção transversal. A Figura 5.48 e Figura 5.49 ilustram esses resultados. A Figura 5.48 apresenta, qualitativamente, as respostas de duas vigas de seção retangular sujeitas a torção: a primeira de seção maciça e a outra de seção vazada com o mesmo contorno da primeira, ambas com as mesmas armaduras de torção. As duas seções apresentam momentos torçores últimos praticamente iguais; apenas, como era de se esperar, o momento torçor correspondente ao início da fissuração é menor na seção vazada. Figura 5.48 Comportamento de vigas sujeitas à torção A Figura 5.49 apresenta, qualitativamente, resultados correspondentes à variação da rigidez efetiva de torção para seções retangulares, de mesma área de concreto e mesma armadura de torção, em função da relação entre seus lados. Figura 5.49 Variação da rigidez efetiva de torção 152 Pode-se notar que, variando a relação h/b entre 1 e 6, a rigidez efetiva à torção e a resistência são praticamente as mesmas no estado limite último. Estes resultados ajudam a comprovar que a resistência à torção é obtida junto à capa externa da seção transversal. 5.9.5 Geometria da seção resistente A seção vazada equivalente se define a partir da seção cheia com espessura da parede equivalente he dada por (Figura 5.50): he ≤ A u e he ≥ 2 ∙ c1 onde A – área da seção cheia u – perímetro da seção cheia c1 – distância entre o eixo da barra longitudinal do canto e a face lateral do elemento estrutural Figura 5.50 Definição da área e espessura equivalente Caso A/u resulte menor que 2c1, pode-se adotar he = A/u ≤ bw − 2c1 e a superfície média da seção celular equivalente Ae definida pelos eixos das armaduras do canto (respeitando o cobrimento exigido nos estribos). 5.9.6 Dimensionamento A viga de concreto armado deve ser dimensionada para resistir integralmente ao momento torçor de equilíbrio. O momento torçor de compatibilidade que aparece junto ao cruzamento das vigas (apoios indiretos) é, normalmente, pequeno e pode ser ignorado. Admite- se satisfeita a resistência da peça, numa dada seção, quando se verificarem simultaneamente as seguintes condições: 153 { Tsd ≤ TRd2 Tsd ≤ TRd3 Tsd ≤ TRd4 5.9.6.1 Verificação da compressão diagonal do concreto TRd2 = 0,50 ∙ αv2 ∙ fcd ∙ Ae ∙ he ∙ sen(2θ) onde Ae – área limitada pela linha média da parede da seção vazada, real ou equivalente, incluindo a parte vazada he – espessura equivalente da parede da seção vazada, real ou equivalente, no ponto considerado. – ângulo de inclinação das diagonais de concreto, arbitrado no intervalo 30° 45°. 5.9.6.2 Cálculo das armaduras a) Resistência decorrente dos estribos normais ao eixo da peça TRd3 = ( A90 s ) ∙ fywd ∙ 2 ∙ Ae ∙ cotgθ onde A90 – área da seção transversal do número de ramos de um estribo, contidos na parede equivalente s – afastamento entre eixos dos estribos b) Resistência decorrente das armaduras longitudinais TRd4 = ( Asl ue ) ∙ fywd ∙ 2 ∙ Ae ∙ tgθ onde Asl – soma das áreas das seções das barras longitudinais ue – perímetro de Ae 5.9.6.3 Solicitações combinadas a) Flexão e Torção Nos elementos estruturais submetidos a torção e a flexão simples ou composta, as verificações podem ser efetuadas separadamente para a torção e para as solicitações normais 154 A armadura de torção é acrescentada à armadura necessária para as solicitações normais. No banzo comprimido a armadura longitudinal de torção pode ser reduzida em função dos esforços de compressão que atuam na espessura efetiva he e no trecho de comprimento correspondente à barra. b) Força cortante e Torção O ângulo de inclinação das bielas de concreto a ser considerado deve ser o mesmo para os dois esforços. A armadura transversal é dada pela soma das armaduras calculadas separadamente. Deve-se verificar também a resistência à compressão diagonal do concreto: Vsd VRd2 + Tsd TRd2 ≤ 1 5.9.7 Exemplo Considere a viga da Figura 5.51. Figura 5.51 Exemplo de dimensionamento à torção a) Cortante 𝑉𝑠𝑑 = 1,4 ∙ 81 = 113,4 𝑘𝑁 αv2 = 1 − fck 250 = 0,9 VRd2 = 0,27 ∙ αv2 ∙ fcd ∙ bw ∙ d = 0,27 ∙ 0,9 ∙ 1,78 ∙ 40 ∙ 46 = 795,9 kN Vsd ≤ VRd2 155 Armadura Vsd ≤ VRd3 = Vc + Vsw fctm = 0,3 ∙ (fck) 2 3⁄ = 2,56 MPa fctk,inf = 0,7 ∙ fctm = 1,79 MPa fctd = fctk,inf γc = 1,28 MPa Vc = 0,6 ∙ fctd ∙ bw ∙ d = 0,6 ∙ 0,128 ∙ 40 ∙ 46 = 141,3 kN > Vsd Armadura mínima ρsw = 0,2 fctm fywk = 0,001 = 0,1% Asw s = bw ∙ ρsw = 40 ∙ 0,1% = 0,04 cm² cm⁄ = 4 cm² m⁄ 2 ramos cada ramo 2 cm²/m b) Flexão M = 121,5 kN.m Md = 17010 kN.cm x = 1,25d [1 − √1 − Md 0,425bd2fcd ] = 8,23cm x23=0,259d=0,259∙46=11,9 cm x34=0,628d=0,628∙46=28,9 cm xlim=0,45d=0,45∙46=16,2 cm Portanto, domínio 2, pois x < x23 e sd = fyd = 43,48 kN/cm². As = Md fyd(d − 0,4x) = 17010 43,48(46 − 0,4 ∙ 8,23) = 9,16 cm² (5 ∅16mm) c) Torção Tsd = 1,4 ∙ 21 = 29,4 kN. m = 2940 kN. cm he ≤ A u e he ≥ 2 ∙ c1 A = 40 ∙ 50 = 2000 cm² u = 2 ∙ 40 + 2 ∙ 50 = 180 cm c1 = 4 cm he ≤ A u = 2000 180 = 11,1 he ≥ 2 ∙ c1 = 2 ∙ 4 = 8 } he = 10 cm Ae= 30 ∙ 40 = 1200 cm² 156 TRd2 = 0,50 ∙ αv2 ∙ fcd ∙ Ae ∙ he ∙ sen(2θ) = 0,50 ∙ 0,9 ∙ 1,78 ∙ 1200 ∙ 10 ∙ sen(2θ) = 9612 kN. cm Vsd VRd2 + Tsd TRd2 = 113,4 795,9 + 2940 9612 = 0,45 < 1 Estribos Tsd ≤ TRd3 TRd3 = ( A90 s ) ∙ fywd ∙ 2 ∙ Ae ∙ cotgθ → ( A90 s ) = Tsd fywd ∙ 2 ∙ Ae ∙ cotgθ = 2940 43,48 ∙ 2 ∙ 1200 ∙ 1 = 0,028 cm² cm⁄ = 2,8 cm² m⁄ ( A90 s ) = 2 + 2,8 = 4,8 cm² m⁄ (resistente à cortante e torção) Pode-se utilizar, por exemplo: 10 c/16 cm Armaduras longitudinais Tsd ≤ TRd4 TRd4 = ( Asl ue ) ∙ fywd ∙ 2 ∙ Ae ∙ tgθ → ( Asl ue ) = Tsd fywd ∙ 2 ∙ Ae ∙ tgθ = 2940 43,48 ∙ 2 ∙ 1200 ∙ 1 = 0,028 cm² cm⁄ = 2,8 cm² m⁄ ue = 2 ∙ 30 + 2 ∙ 40 = 140 cm = 1,4 m Asl = 1,4 ∙ 2,8 = 3,92 cm² (4 ∅12,5mm) d) Detalhamento Figura 5.52 Detalhamento
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