Buscar

AS CINCO LEIS DA BIBLIOTECONOMIA

Prévia do material em texto

AS CINCO LEIS DA BIBLIOTECONOMIA
Reproduzido com a gentil permissão do Sr. C. Seshachalam, de Curzon & Co., Madras. Copyright: Curzon & Co.
S.R. Ranganathan 
As Cinco Leis da 
Biblioteconomia
Tradução de Tarcisio Zandonade 
© Sarada Ranganathan Endowment for Library Science. 1963 
Esta tradução: © 2009 by Lemos Informação e Comunicação Ltda. 
Do original inglês: The five laws of library science (2. ed. 1963) 
Primeira edição original: 1931 
Segunda edição: 1957 
Reimpressão (com pequenas correções: 1963) 
Todos os direitos reservados. De acordo com a lei n° 9610, de 19/2/1998, nenhuma parte 
deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada num sistema de 
recuperação de informação ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio 
eletrônico ou mecânico sem o prévio consentimento dos autores e do editor. 
Este livro obedece ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 
Capa: Formatos Design Gráfico Ltda. 
Revisão e notas: Antonio Agenor Briquet de Lemos e 
Maria Lucia Vilar de Lemos 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) 
Cãmara Brasileira do Livro, sp, Brasil
Ranganathan, S. R., 1892-1972. 
 As cinco leis da biblioteconomia / S.R. Ranganathan ; tradução de Tarcisio 
Zandonade. – Brasília, df : Briquet de Lemos / Livros, 2009. 
 Título original: The five laws of library science. 
 Bibliografia. 
 isbn 978-85-85637-38-5 
 1. Biblioteconomia I. Título. 
09-06911 cdd 020 
Índices para catálogo sistemático: 
1. Biblioteconomia 020 
2009 
Briquet de Lemos / Livros 
srts - Quadra 701 - Bloco o - Loja 7 
Edifício Centro Multiempresarial 
Brasília, df 70340-000 
Telefones (61) 3322 9806 / 3323 1725 
www.briquetdelemos.com.br 
editora@bríquetdelernos.com.br 
À
Querida Memória
de
Srimati RUKMINI
vii
SUMÁRIO
Apresentação desta edição xi
Prefácio de sir P.S. Sivaswamy Aiyer xix
Introdução do Sr. W. C. Berwick Sayers xxi
 0 Gênese 1 
01 Ingresso na profissão de bibliotecário 1 
02 Primeira experiência 1 
03 Tendências bibliotecárias 1 
04 Método científico 2 
05 Enunciado 2 
06 Divulgação 3 
07 Publicação 4 
08 Consequências 5 
 1 A Primeira Lei 6 
11 Princípio fundamental 6 
12 Negligência da lei 6 
13 Localização da biblioteca 10 
14 Horário da biblioteca 15 
15 Mobiliário da biblioteca 19 
16 Um diálogo 20 
17 Pessoal da biblioteca 25 
18 Não se enamore dos frutos 49 
 2 A Segunda Lei e sua luta 50 
20 Introdução 50 
21 As classes e as massas 51 
22 Homens e mulheres 59 
23 Os moradores das cidades e os moradores do campo 67 
24 O normal e o excepcional 81 
25 O coral da biblioteca 86 
26 A terra e o mar 87 
27 O adulto e a criança 90 
28 Democracia ilimitada 92 
 3 A Segunda Lei e sua digvijaya 94 
30 Abrangência 94 
as cinco leis da biblioteconomiaviii
31 Américas 94 
32 África do Sul 105 
33 Europa oriental 108 
34 Escandinávia 118 
35 Europa ocidental 123 
36 Oceano Pacífico 130 
37 Ásia 131 
38 Índia 134 
 4 A Segunda Lei e suas implicações 138 
40 Abrangência 138 
41 Compromisso do Estado 138 
42 Lei estadual de bibliotecas 152 
43 Lei das bibliotecas da União 165 
44 Sistema bibliotecário 173 
45 Sistema de bibliotecas universitárias 176 
46 Compromisso da autoridade responsável 
 pela biblioteca 177 
47 Compromisso do pessoal da biblioteca 180 
48 Compromisso do leitor 184 
 5 A Terceira Lei 189 
50 Enunciado 189 
51 Sistema de acesso livre 189 
52 Arranjo nas estantes 192 
53 Catálogo 194 
54 Serviço de referência 197 
55 Departamentos populares 198 
56 Publicidade 199 
57 Serviço de extensão 205 
58 Seleção de livros 210 
 6 A Quarta Lei 211 
60 Introdução 211 
61 Sistema ‘fechado’ 212 
62 Arranjo nas estantes 214 
63 Sinalização do recinto das estantes 216 
64 Entradas no catálogo 220 
65 Bibliografia 225 
66 Serviço de referência 228 
67 Método de empréstimo 230 
68 O tempo do pessoal 236 
691 Catalogação centralizada 237
692 Localização da biblioteca 241
sumário ix
 7 A Quinta Lei 241
70 Introdução 241
71 Crescimento de tamanho 241 
72 Sala do catálogo 249
73 Sistema de classificação 251
74 Leitores e empréstimo de livros 254
75 Pessoal 258
76 Evolução 261
77 Princípio vital 263
 8	 O	método	científico,	a	biblioteconomia	e	o	avanço
 da digvijaya 264
80 O que é ciência? 264
81 O método científico 266
82 A Segunda Lei e novos tipos de livros e de práticas 276
83 A Terceira Lei e a documentação 278
84 A Quarta Lei e as novas práticas biblioteconômicas 281
85 A Quinta Lei e suas diversas implicações 283
86 Ramos da biblioteconomia 286
87 Ensino e pesquisa 289
88 A marcha da digvijaya 303
Apêndice 1: Especificações para um módulo de estante 
 feito de teca 314
Apêndice 2: Especifícação para uma mesa de periódicos 
 feita de teca 315
Bibliografia 317
Índice 326
 
xi
Levar conhecimento a quem não o tem e ensinar a todos para
que possam discernir o que é certo! Nem mesmo partilhar 
toda a Terra seria comparável a esta forma de serviço. 
 Manu 
As cinco leis da biblioteconomia 
Os livros são para usar 
A cada leitor seu livro 
A cada livro seu leitor 
Poupe o tempo do leitor 
A biblioteca é um organismo em crescimento 
xiii
APRESENTAÇÃO DESTA EDIÇÃO 
Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892–1972) nasceu em Shiyali, no esta-
do de Madras, hoje Tamil Nadu, na Índia. Bibliotecário e pensador, sua 
produção intelectual e seus feitos profissionais tornaram-no conhecido 
como o ‘pai da biblioteconomia indiana’. Este livro foi editado pela pri-
meira vez em 1931. E por que, depois de tanto tempo, ainda se lê este 
livro? 
A resposta a esta pergunta é simples: porque os clássicos se leem sem-
pre. E o que faz desta obra um clássico? Por que, decorridos quase 80 
anos, este quincálogo da biblioteconomia, reiterada e teimosamente re-
diviva, continua atraindo leitores e releitores? Outra pergunta, por que 
publicar esta edição em português? O que tem ainda a nos dizer este 
senhor mais do que centenário, que nasceu e viveu num país tão distante 
do Brasil?
É razoável supor que este seja, no campo da biblioteconomia e ciên-
cia da informação, um dos livros que apresentam mais longa meia-vida, 
maior número de citações e uma capacidade muito grande de estimular 
novas ideias. Aliás, Berwick Sayers, no prefácio à primeira edição, ante-
via o destino dele: o de um ‘standard text-book’, standard aqui no sen-
tido de obra modelar, que, como todos os modelos, tendem a se tomar 
clássicos. Clássico porque permanece atual, trazendo lições sempre úteis 
mesmo quando a tecnologia da informação dá a impressão de os biblio-
tecários de hoje esta rem muito à frente do mundo de Ranganathan. Clás-
sico porque no uni verso brasileiro, tão distante da Índia, tanto historica 
quanto culturalmente, suas palavras encontram ressonância e parecem 
refletir a realidade de muitas de nossas bibliotecas e a visão de muitas de 
nossas autoridades.
Os dois prefácios, de Aiyer e de Berwick Sayers, souberam logo re-
conhecer a qualidade excepcional do texto do bibliotecário indiano. Em 
particular, a capacidade queteve Ranganathan, de forma simples e clara, 
a partir da observação direta do mundo dos livros e das bibliotecas, de 
cons truir seus princípios, sua teoria, sua filosofia, sua epistemologia. 
Sem em pregar conceitos abstrusos, sem erigir construtos informes, sem 
patinar na geleia mal digerida de ideias alheias, ele extraiu da realidade 
circundante suas constatações e suas conclusões, que cada vez mais são 
reconhecidas como uma das melhores contribuições para a formulação 
de uma teoria da biblioteconomia. Erigiu assim, de forma exemplar, não 
as cinco leis da biblioteconomiaxiv
só um texto que, com a simplicidade de um manual de boas práticas 
bibliotecárias, procurava estimular a criação de bibliotecas em seu país, 
mas também, com argúcia e clareza de pensamento, dissecava essas 
práticas em busca de sua razão de ser, de seus princípios, e argumentos 
que as justificassem como técnicas e como necessidades sociais. Rana-
ganathan procura e consegue identificar o que se acha por trás de uma 
sucessão de atos e rotinas sem sentido aparente, mas que se revestem de 
grande significado para a produção e difusão da cultura.
Seu contato com a realidade das bibliotecas do Reino Unido levou-o 
a procurar saber o que se passava em instituições semelhantes de outros 
países. Isso serviu de quadro de referência no qual e com o qual contrastou 
a situação das bibliotecas da Índia. Pioneiro, portanto, da biblioteconomia 
comparada, buscou nesse processo elementos que fundamentassem sua ar-
gumentação, a qual também serve para ‘convencer as autoridades’, como 
dizemos aqui, quanto à importância do livro, da biblioteca e da leitura.
Seu texto não tem o formalismo e a aridez de uma tese doutoral. Ele 
não vacila em antropomorfizar as leis da biblioteconomia, em criar um 
elenco de personagens exemplares (as diversas autoridades, os leitores 
potenciais, cidadãos comuns, etc.) e colocá-las num espaço dramático, 
numa feliz reunião da maiêutica socrática com o diálogo teatral, a que 
não falta o apelo ao coro grego.
Encontram-se disponíveis na Rede inúmeras informações biográficas 
sobre Ranganathan. Por exemplo: Gopinath, M.A. Ranganathan, Shiyali 
Ramamrita. Encyclopedia of library and information science. 2nd ed., p. 2419-
2437, 2003. Disponível em: <http://www.informaworld.com/10.1081/e-
elis-120009006>. Acesso em: 15/5/2009). As referências que recomenda-
mos abaixo são relevantes para o estudo das cinco leis da biblioteconomia 
e de sua repercussão em diversas vertentes da teoria e da prática.
Antonio Agenor Briquet de Lemos
editor
Recomendações de leitura 
Allen, Ethan. Ranganathan’s third law and collection access at Norica: an assess-
ment. Joumal of Access Services, v. 4, n. 3/4, p. 57-69, 2006. 
Atherton, Pauline A. Putting knowledge to work: an American view of Ranganathan’s 
five laws of library science. Delhi: Vikas, 1973. 
Beffa, Maria Lucia; Napoleone, Luciana Maria. Estruturando a informação para 
um sistema virtual centrado no usuário: a avaliação do website do Serviço de 
Biblioteca e Documentação da Faculdade de Direito da usp, Brasil. In: Fer-
reira, Sueli Mara Soares Pinto; Savard, Réjean. The virtual customer: a new 
paradigm for improving customer relation in libraries and information services, p. 
xvapresentação desta edição
49-71. Satellite Meeting, São Paulo, Brazil, August 18-20, 2004. (ifla Publica-
tions, 117)
Binkley, Peter. [As cinco leis da biblioteconomia em latim.] Libri utendi. Omni 
libro lector. Omni lectori liber. Otium lectoris servandum. Floreat biblioteca. Dis-
ponível em: <http://www.wallandbinkley.com/quaedam/?s=ranganathan>. 
Acesso em: 29/6/2009. 
Byron, Suzanne. Preparing to teach in cyberspace: user education in real and 
virtual libraries. Reference Librarian, n. 51/52, p. 241-247, 1995. 
Campos, Maria Luiza de Almeida. As cinco leis da biblioteconomia e o exercício profis-
sional. Disponível em: <http://www.conexaorio.com/biti/mluiza/index.htm>. 
Acesso em: 4/5/2009. 
Cana, Mentor. Open source and Ranganathan’s five laws of library science. July 
5, 2003. Disponível em: <http://www.kmentor.com/mtcgi/mt-search.cgi?sear
ch=ranganathan&IncludeBlogs=1>. Acesso em: 24/1/2009>. 
Caulking, V. Norbert. The five laws of library science of S.R. Ranganathan. Ameri-
can Libraries, v. 16, p. 329, May 1985. 
Cloonan, Michèle V.; Dove, John G. Ranganathan online: do digital libraries vio-
late the Third Law? Library Journal, v. 130, n. 6, p. 58-60, Apr. 1, 2005. 
Cochrane, Pauline Atherton. Information technology in libraries and Rangana-
than’s five laws of library science. Libri, v. 42, p. 235-242, July/Sept. 1992. 
Cossette, André. Humanisme et bibliothèques; essai sur la philosophie de la biblio-
théconomie. Montreal: Association pour l’Avancement des Sciences et des 
Techniques de la Documentation (asted), 1976. 69 p. 
Croft, Janet Brennan. Changing research patterns and implications for Web page 
design: Ranganathan revisited. College & Undergraduate Libraries, v. 8, n. 1, p. 
69-77, 2001. 
Estes, M.E. Managing information. Trends in Law Library Management & Technology, 
v. 7, n. 10, p. 1-3, Oct./Dec. 1996. 
Figueiredo, Nice Menezes de. A modernidade das cinco leis de Ranganathan. 
Ciência da Informação, Brasília, v. 21, n. 3, p. 186-191, set./dez. 1992. 
Foskett, D.J. Ranganathan and ‘user-friendliness’. Libri, v. 42, n. 3, p. 227-234, 
Sept. 1992. 
Garfield, Eugene. A tribute to S.R. Ranganathan, the father of Indian library sci-
ence. Part 1. Life and works. Current Contents, n. 6, p. 5-12, Feb. 6, 1984. Dis-
ponível em: <http://www.garfield.library.upenn.edu/essays/v7p037y1984. 
pdf>. Acesso em: 11/5/2009. 
 ——— . A tribute to S.R. Ranganathan, the father of Indian library science. Part 2. 
Contribution to Indian and international library science. Current Contents, n. 
7, p. 3-7, Feb. 13, 1984. Disponível em: <http://www.garfield.library.upenn.
edu/essays/v7p045y1984.pdf>. Acesso em: 11/5/2009. 
Gnoli, Claudio. Il tavolino di Ranganathan. Bibliotime, a. 3, n. 3, nov. 2000. Dis-
ponível em: <http://www2.spbo.uníbo.it/bibliotime/num-iii-3/gnoli.htm>. 
Acesso em: 1/7/2009. 
Gorman, Michael. Five new laws of librarianship. American Libraries, v. 26, n. 8, 
p. 784-785, Sept. 1995.
 ——— . The five laws of library science: then & now. School Library Journal, v. 44, 
n. 7, p. 20-23, July 1998. 
as cinco leis da biblioteconomiaxvi
 ——— ; Caulking, N. Norbert. Gorman uncovers scholar’s magnum opus. Ameri-
can Libraries, v. 16, n. 5, p. 329, May 1985. 
Grolier, Eric de. Les politiques des bibliothèques, des services d’information et 
l’héritage de Ranganathan. Bulletin d’Information de l’Association des Bibliothé-
caires Français, n. 158, p. 78-82, 1993. 
Gupta, Dinesh K. User-focus approach: central to Ranganathan’s philosophy. Li-
brary Science with a Slant to Documentation & Information Studies, v. 36, n. 2, p. 
123-128, 1999. 
Hilyard, Nann Blaine. Practical perspectives on readers advisory. Public Libraries, 
v. 44, n. 1, p. 15-20, Jan./Feb. 2005. 
Intner, Sheila S. Remembering Ranganathan. Technicalities, v. 15, p. 10-12, Oct. 
1995. 
Jas, Nikhil Kumar. Relevance of user education for efficient library service: a 
study in the context of five laws. Library Science with a Slant to Documentation 
& Information Studies, v. 36, n. 1, p. 49-54, Mar. 1999. 
Kaur, Amritpal. Five Laws: their relevance in information technology environ-
ment. ila Bulletin, v. 36, n. 1, p. 24-27, Apr./June 2000. 
Kuronen, Timo; Pekkarinen, Paivi. Ranganathan’s five laws of library science 
revisited: the challenge of the virtual library. Herald of Library Science, v. 35, n. 
1-2, p. 3-17, Jan./Apr. 1996. 
 ———; ——— . Ranganathan revisited: a review article. Journal of Librarianship and 
Information Science, v. 31, n. 1, p. 45-48, Mar. 1999. 
Lancaster, F.W. If you want to evaluateyour library... 2nd ed. Champaign, il: Uni-
versity of Illinois, Graduate School of Library and Information Science, 1993, 
p. 11-15. [Trad. brasileira: Avaliação de serviços de bibliotecas. Brasília: Briquet de 
Lemos / Livros, 2004.] 
 ———; Mehrotra, R. The five laws of library science as a guide to the evaluation 
of library services. In: Agarwal, S.N.; Khan, A.A.; Stayanarayana, N.R. (ed.) 
Perspectives in library and information science. Lucknow: Print House (India), 
1982, v. 1, p. 26-39. 
 ———; Metzler, L. Ranganathan’s influence examined bibliometrically. Libri, v. 
42, n. 3, p. 268-281, Sept. 1992. 
Langridge, D.W. Book selection and the five laws. Library Science with a Slant to 
Documentation, v. 5, n. 3, p. 193-199, Sept. 1968. 
Leiter, Richard A. Reflections on Ranganathan’s Five laws of library science. Law 
Library Journal, v. 95, n. 3, p. 411-418, Summer 2003. 
Line, Maurice B. Line’s five laws of librarianship... and one all embracing law. 
Library Association Record, v. 98, p. 144, Mar. 1996. 
Mitchell, W.B. Access: the key to public service. Collection Management, v. 17, n. 
1/2, p. 1-22, 1992. 
 ——— . Reflections on academic libraries in the 21st century. Journal of Access Ser-
vices, v. 5, n. 1/2, p. 1-9, 2007. 
Murthy, T.A.V. Digital information environment and application of the laws of 
Ranganathan. Herald of Library Science, v. 44, n. 3/4, p. 229-234, Jul./Oct. 2005. 
Neelameghan, A. Books and other learning materials: the windows of knowledge. 
Information Studies, v. 5, n. 2, p. 67-72, Apr. 1999. 
 ——— . Infrastructure facilities for library and information science education and 
xviiapresentação desta edição
training in India. Information Studies, v. 5, n. 3, p. 129-136, July 1999. 
Noruzi, Alireza. Application of Ranganathan’s laws to the Web. Webology, v. 1, 
n. 2, Dec. 2004. Disponível em: <www.webology.ir/2004/vln2/a8.html>. Aces-
so em: 15/1/2009. Trad. para o português disponível em: http://extralibris.
org/revista/pesquisa/aplicacao-das-leis-de-ranganathan-a-web. Acesso em: 
4/5/2009. 
Patkar, Vivek N. On library as an autopoietic system. Information Studies, v. 4, n. 
2, p. 105-114, Apr. 1998. 
Rahman, Afifa. A reaction to Timo Kuronen and Paivi Pekkarinen’s ‘New 
Supple mentary Laws’. Herald of Library Science, v. 44, n. 3/a, p. 226-229, July/
Oct. 2005. 
Rimland, Emily. Ranganathan’s relevant rules. Reference & User Services Quar-
terly, v. 46, n. 4, p. 24, Summer 2007. 
Satija, M.P. The five laws in information society and virtual libraries era. srels 
Journal of Information Management, v. 40, n. 2, p. 93-104, June 2003. 
Schoffner, Ralph M. Appearance and growth of computer and electronic products 
in libraries. In: Abel, Richard E.; Newman, Lyman W. (ed.) Scholarly publishing: 
books, journals, publishers. and libraries in the twentieth century. New York: John 
Wiley, 2002, p. 209-255. 
Sen, B.K. Ranganathan’s five laws. Annals of Library & Information Studies, v. 55, 
n. 1, p. 1, June 2008. 
Sepúlveda, Fernando Antônio Miranda. A gênese do pensar de Ranganathan: 
um olhar sobre as culturas que o influenciaram. 1996. 80 p. Dissertação (Mes-
trado em ciên cia da informação) — ibict/ufrj/eco. Disponível em: <http://
www.conexaorio.com/biti/sepulveda/index.htm>. Acesso em: 29/6/2009. 
Sharma, R.N. Ranganathan’s impact on intemational librarianship through in-
formation technology. Libri, v. 42, n. 3, p. 258-267, Sept. 1992. 
Shera, J.H. The dimensions of magnitude (library services). Library Science, v. 20, 
n. 1, p. 2-17, Mar. 1983. 
Siddiqui, Mohammad Azeem. Dr. S.R. Ranganathan’s five laws and their relevance 
and imperatives in context of library science. Disponível em: <http://ezinearticles.
com/?Dr.-S.R.-Ranganathans-Five-Laws-and-Their-Relevance-and-Imperatives 
-in-Context-of-Library-Science&id=371593>. Acesso em: 24/1/2009.
Simpson, Carol. Editor’s notes: five laws. Librany Media Connection, v. 26, n. 7, p. 
6, Apr./May 2008. 
Singh, Ram Shobhit (ed.) Encyclopaedia of the Five laws of library science. New Delhi: 
Anmol, 2008. 280 p. 
Sowards, Steven W. ‘Save the time of the surfer’: evaluating Web sites for users. 
Library Hi Tech, v. 15, n. 3/4, p. 155-158, 1997. 
Taher, Mohamed. The reference interview through asynchronous e-rnail and 
syn chronous interactive reference: does it save the time of the interviewee? 
Internet Reference Services Quarterly, v. 7, n. 3, p. 23-34, 2002.
Talukder, Tridibesh; Ghosh, Saptarshi. Total quality rnanagernent and its impli-
cation on library laws. srels Journal of Information Management, v. 41, n. 3, p. 
255-266, Sept. 2004. 
Walter, Virginia A. Library services to children: future tense. Journal of Youth 
Services in Libraries, v. 15, n. 3, p. 18-20, Spring 2002. 
as cinco leis da biblioteconomiaxviii
Yucht, Alice H. Guiding princíples. Teacher Librarian, v. 28, n. 5, p. 38-39, June 
2001. 
Yusuf, Mohammad. Role of cooperation in library and inforrnation centres. Herald 
of Library Science, v. 45, n. 3/4, p. 204-212, July/Sept. 2006.
xix
PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO 
O movimento por bibliotecas é de origem comparativamente recente nos 
países ocidentais e é o resultado das influências democráticas que se tor- 
naram preponderantes no final do século xix. O anseio de estender os be- 
nefícios do saber ao povo em geral inspirou a fundação de numerosas 
bibliotecas públicas. As potencialidades das bibliotecas como instrumen- 
tos de educação popular ocuparam desde então a atenção dos interessa- 
dos neste movimento. Nos anos recentes têm-se estudado intensamente 
quais os melhores métodos de popularização do uso das bibliotecas.
O grande aumento do número de livros publicados ano após ano 
e dos que dão entrada nas bibliotecas suscitou uma enorme gama de 
questões relativas à organização, administração e gestão de bibliotecas. 
A perspectiva das pessoas em relação a estes assuntos passou por uma 
mudança radical. As bibliotecas são hoje vistas não como bens precio-
sos a serem ciosamente preservadas da intromissão da plebe, mas como 
instituições democráticas para benefício e satisfação de todos. Como 
atrair os leitores para as bibliotecas, como ampliar para todas as classes 
as oportunidades de usá-las, como prestar a maior ajuda possível aos que 
desejam usar as bibliotecas e como poupar o tempo dos leitores e também 
dos funcionários da biblioteca são questões que, aparentemente simples, 
demandam não pouca reflexão, imaginação, capacidade e experiência por 
parte do bibliotecário.
A bibliografia produzida sobre esta matéria tem se avolumado 
grandemente. Foram criadas associações de bibliotecários em muitos 
países, foram iniciados cursos em várias universidades para o ensino 
da administração de bibliotecas e surgiram numerosos periódicos de 
biblioteconomia. Foram feitas tentativas de sistematizar o conhecimento 
sobre a matéria e agora se afirma que ela atingiu o status de ciência. 
Dispensa comentar se a organização e administração de bibliotecas deva 
ser considerada uma ciência ou uma arte. Não há dúvida, entretanto, 
de que há certos princípios essenciais subjacentes à administração de 
bibliotecas de acordo com as necessidades e concepções atuais. 
O autor deste livro procurou expor estes princípios numa forma siste- 
mática. Conseguiu sintetizá-los em cinco princípios cardeais e desenvol- 
ver todas as regras de organização e administração de bibliotecas como 
as cinco leis da biblioteconomiaxx
implicações necessárias e corolários inevitáveis destas cinco leis. Uma 
vez enunciadas, as leis parecem tão óbvias que nos surpreendemos que 
não tenham sido claramente percebidas e elaboradas antes.
O tratamento dado ao tema pelo Sr. Ranganathan é claro, lógico e 
lúcido. Ele trouxe para este empreendimento um amplo domínio da 
literatura sobre bibliotecas, um conhecimento pessoal com os métodosde 
administração de bibliotecas na Grã-Bretanha, uma inteligência analítica 
experiente e um entusiasmo ardente, mas iluminado pelo movimento por 
bibliotecas. Ele foi o pioneiro desse movimento na província de Madras 
e vem realizando uma propaganda enérgica para divulgá-lo. Ele sabe 
como despertar e manter o interesse do leitor e produziu um livro muito 
atraente e agradável de ler. Não tenho dúvida de que encontrará ampla 
receptividade e logo virá a ser reconhecido como um texto clássico da 
biblioteconomia.
A Madras University é afortunada de ter o autor como seu 
bibliotecário. Em suas mãos, essa biblioteca evoluiu para se transformar 
numa instituição humana viva, que busca um contato pessoal proveitoso 
entre funcionários e usuários. O enorme crescimento no empréstimo 
de livros desde que o autor assumiu a biblioteca é um testemunho 
impressionante da solidez dos princípios em que a administração dela 
se baseia, bem como da eficiência de seu trabalho de gestão, apesar das 
precárias condições do local onde a biblioteca tem funcionado.
A publicação deste livro pela Madras Library Association não é a me- 
nor de suas reivindicações pela gratidão do público.
P.S. Sivaswamy Aiyer 
xxi
INTRODUÇÃO À PRIMEIRA EDIÇÃO
 
Este é um dos livros mais interessantes que li nos últimos anos sobre nossa 
profissão. Ele é único, acredito, na medida em que procura pela primeira 
vez apresentar um estudo abrangente, feito por um bibliotecário que 
tem uma mente inconfundivelmente indiana, e que faz refletir a própria 
cultura de seu povo nas teorias básicas da arte da difusão dos livros 
como ela é entendida no moderno mundo das bibliotecas. Para quem 
é recém-chegado à nossa profissão talvez cause surpresa o tanto que se 
pode extrair de algo que, à superfície, parece ser um ofício tão simples, 
mas uma leitura atenta das páginas do Sr. Ranganathan propiciará ao 
iniciante uma compreensão profunda do tema. 
O Sr. Ranganathan está extraordinariamente dotado para a empresa a 
que se propôs. Faz alguns anos ele esteve, por um período de tempo, 
sob a orientação de professores assistentes da School of Librarianship da 
University of London, quando se aproximou particularmente de mim. 
Percebi que era homem de notável cultura, muito original em seu modo 
de ver, persistente e incapaz de se desviar de suas investigações, e que, 
prudentemente, acatava quaisquer sugestões que lhe fossem apresen-
tadas. Não somente assistiu às aulas de biblioteconomia na University 
of London, mas estudou intensamente os serviços de bibliotecas de to-
dos os tipos, visitando-as em várias partes do país. Por algum tempo, 
estudou diariamente nas bibliotecas públicas de Croydon, onde eu ob-
servava seu trabalho com interesse. Ele examinou os processos de cada 
departamento e empregou muito tempo analisando-os e criticando-os. 
Ao longo de toda essa jornada, buscava as razões subjacentes a todos os 
nossos fazeres.
Não estava interessado somente em livros e bibliotecas, e usou parte 
do seu tempo de lazer para examinar os métodos pedagógicos adotados 
nas escolas das cidades e as relações destes com as bibliotecas. Seu modo 
crítico de ver era tão profundo que ele resolveu partir para a elaboração 
de uma nova classificação bibliográfica. Esta classificação, como ele nos 
diz mais adiante neste volume, é empregada na biblioteca da universi-
dade de Madras, e em algumas outras bibliotecas da Índia, que começam 
a classificar seus acervos.
as cinco leis da biblioteconomiaxxii
Este programa de estudos e esta atitude mental não poderiam deixar 
de resultar na preparação de um tipo de bibliotecário, cujo trabalho se 
tornaria importante. A obra que temos em mãos é prova disto. 
ii 
A prática da biblioteconomia precedeu de muito a formulação de 
quaisquer leis. Em todas as profissões, naturalmente, o mesmo acontece. 
É só lentamente e a partir da experiência contínua dos profissionais que 
uma teoria pode ser deduzida e enunciada. Nossa profissão pode reivin-
dicar, entretanto, ser uma das mais antigas do mundo, e alguns dos pro-
cessos bastante comuns que hoje se mostram tão aperfeiçoados, a ponto 
de o Sr. Ranganathan ser capaz de formular seus resultados como ‘leis’, 
existiam em forma embrionária nas bibliotecas assírias e provavelmente 
em outras mais antigas. Os catálogos de tabuletas de argila do British 
Museum provam-nos que havia então não somente bibliotecas, mas uma 
biblioteconomia sistemática. Anos mais tarde, mas ainda em tempos an-
tigos, o trabalho de bibliotecários, como Calímaco, nas bibliotecas dos 
faraós, apresenta métodos de gestão, especialmente na classificação dos 
livros, que surpreendem os bibliotecários modernos que os estudaram. 
Cada uma das grandes nações do passado teve suas bibliotecas públi- 
cas, mesmo que seu uso fosse às vezes limitado a certas classes da co-
munidade, e, na anarquia geral da civilização europeia, que se seguiu à 
queda do Império Romano Ocidental, os mosteiros ainda preservaram e 
ampliaram suas bibliotecas.
A história das bibliotecas foi muito influenciada por esta preservação 
dos livros nos mosteiros, pois durante séculos as bibliotecas estiveram cir-
cunscritas a escolas superiores e outros estabelecimentos fechados, e seu 
uso era restrito aos ocupantes dessas instituições. Preservar o livro era de 
importância igual ou maior do que fazer com que fosse usado. Esta men-
talidade vem desaparecendo desde meados do século xix. As grandes bib-
liotecas do mundo, com variados graus de generosidade, foram abertas 
para leitores externos, e a atitude do conservateur cedeu lugar àquele que 
me arrisquei a chamar alhures de explorador de livros [exploiter of books] por 
julgar ser esta a descrição apropriada do bibliotecário. 
O principal fator da atitude moderna diante das bibliotecas e dos livros 
tem sido o que é conhecido na Inglaterra e nos Estados Unidos como 
‘bibliotecas públicas’. Este termo tem hoje um sentido bem diferente do que 
tinha antes de 1850. Então, as bibliotecas eram públicas mais no sentido 
com que as public schools* da Inglaterra são públicas; quer dizer, o seu uso 
* Escola particular mantida pelos pais dos alunos, oriundos, na maioria, das classes privile- 
giadas. A escola pública mantida pelo Estado chama-se, no Reino Unido, local school (n.e.). 
xxiiiintrodução à primeira edição
estava em muito limitado às classes governantes. A biblioteca pública 
moderna é uma instituição municipal, sustentada pelos municípios para 
uso gratuito pelos cidadãos sem discriminação. Eram anglo-saxônicas 
em sua origem, e surgiram quase ao mesmo tempo na Grã-Bretanha e nos 
Estados Unidos. Essas bibliotecas são agora formadas com o emprego de 
técnicas próprias, e, em muitos casos, contam com um grande acervo de 
livros e, literalmente, milhões de leitores. 
Um dos fatores sociais mais significativos da segunda metade do sé-
culo xix e do primeiro quartel do século xx foi o desenvolvimento amplo 
do hábito da leitura entre os povos ocidentais. Até mesmo as nações mais 
conservadoras da Europa desenvolveram sistemas de bibliotecas mais 
ou menos de acordo com o modelo anglo-saxão.
iii
A visão moderna das bibliotecas, portanto, é a que considera toda a 
população como sua clientela. Até mesmo em bibliotecas universitárias e 
especializadas, em quase todos os lugares, os estudantes sérios dispõem 
sem dificuldade dos recursos da biblioteca. Esta é a atitude que, espero e 
acredito, assumirá o bibliotecário, na Índia. Deve ficar bem claro, en-
tretanto, que regras ou noções universais devem sempre receber um 
tratamento local e individual. Não acho que os métodos das bibliotecas 
dos Estados Unidos, por mais que eu as admire, sejam completamente 
adequados para a Europa, ou até mesmo para a Inglaterra. A psicologia 
dos povos varia, e variantes da prática bibliotecária devem ser feitas para 
adequar-se a estefato. Mais ainda entre os povos da Índia, com sua imen-
sa história, fortes tradições, e distintas características étnicas, a aplicação 
pura e simples das ideias anglo-saxônicas a algo tão íntimo, pessoal e 
espiritual como a literatura, sem modificação, pode não ser sensata. Tive 
muitos estudantes estrangeiros nas bibliotecas de que cuidei, e sempre 
procurei convencê-los de que o que eles aprendem de nós deve sempre 
ser examinado cuidadosamente à luz das necessidades de seus próprios 
países de origem. Sinto que isto é imensamente importante para a Índia. 
Isso, em minha opinião, dá um valor especial à obra do Sr. Rangana-
than. Ele trata de todas as questões que ocupam as mentes dos bibliotecá- 
rios europeus. A seleção de livros, com uma mente universal que deter-
mina que todos os lados devem ser ouvidos, e que nenhuma preferência 
pessoal terá influência indevida; os melhores métodos para mobiliar e 
equipar bibliotecas; uma descrição ponderada sobre o que pode ser pro-
porcionado pelo catálogo e pela classificação: isto será óbvio para o leitor. 
Ele escreve, ademais, como um educador — como deveriam ser todos 
os bons bibliotecários —, e espero que tenha deixado bem claro que o 
desenvolvimento de uma nação culta, com um profundo amor por sua 
as cinco leis da biblioteconomiaxxiv
grande literatura e um entendimento correto da importância dos livros, 
deve começar com o atendimento criterioso e generoso das crianças. 
No Ocidente, toda criança é um leitor em potencial. Também deve ser 
assim no Oriente, mesmo em lugares onde as crianças ainda não tiveram 
a oportunidade de ler o bastante ou ter acesso aos livros. 
iv
Um experiente bibliotecário norte-americano observou certa vez que 
uma tora de madeira com um livro numa ponta e um bibliotecário na 
outra faria uma perfeita biblioteca. Era, naturalmente, um exagero pi-
toresco, mas é o elemento pessoal que o bibliotecário traz para a bibliote-
ca que lhe dá sua vitalidade; muitas bibliotecas, infelizmente, carecem de 
vitalidade; têm funcionários, mas não têm bibliotecários. O espírito do 
bibliotecário autêntico nunca foi descrito com mais beleza ou sabedoria 
do que no epitáfio escrito por Austin Dobson para Richard Garnett, um 
dos maiores bibliotecários do século xix:
 
Dele podemos falar merecidamente, — Aqui estava alguém 
 Que sobre a maioria das coisas sabia mais que todos; 
Que amava aprender de tudo sob o sol, 
 E olhava para cada aprendiz como se fosse um irmão.
As implicações disto são suficientemente profundas para chamar à mo-
déstia o mais consumado bibliotecário. Isto implica que o bibliotecário 
deve ser uma pessoa de mente aquisitiva, que não fecha a mente para 
nenhum assunto de interesse humano. É sempre um aprendiz; deve es-
tar sempre alerta e acolher qualquer desenvolvimento do pensamento 
humano e toda aventura do espírito humano. Deve, portanto, ser uma 
pessoa educada não somente no sentido geral, mas em toda operação e 
processo da biblioteca. Deve amar o próximo. Quando jovens me pro-
curam como aspirantes ao trabalho bibliotecário, pergunto-lhes: “Vocês 
gostam de livros?” Invariavelmente respondem que gostam, mas per-
gunto-lhes em seguida: “Vocês gostam de gente e de servir às pessoas?” 
Rejubilo-me de que na Índia haja pessoas que atualmente tomaram em 
suas mãos o papel de selecionar e treinar bibliotecários. Não conheço 
profundamente a situação do país em matéria de bibliotecas, mas com 
suas grandes literaturas, tão variadas, haverá sem dúvida muitos cam-
pos de pesquisa e muitas possibilidades bibliotecárias até o momento 
não sonhadas nem mesmo pelos indianos.
Eis, portanto, um livro que pode servir de inspiração para todos aque- 
les que, em posição mais elevada ou mais humilde, servirão à Índia em 
suas bibliotecas. Concebido com um espírito aberto e generoso, deve 
introdução à primeira edição xxv
entusiasmar quem ingressa em nossa profissão naquele país com as 
imensas, embora nem sempre impressionantes, possibilidades de uma 
biblioteca. Mostrará que ela não é meramente uma coleção de livros que 
acumula idade e pó, mas um organismo vivo e em crescimento, que 
prolonga a vida do passado e a renova para a geração presente, mas que 
também dá a esta geração o melhor que seus próprios pesquisadores, 
pensadores e sonhadores têm a oferecer. 
W.C. Berwick Sayers 
Bibliotecário-Chefe, Croydon 
Professor da School of Librarianship da University of London 
Examinador de organização de bibliotecas da Library Association
1
CAPÍTULO 0
GÊNESE
01 Ingresso na Profissão de Bibliotecário
Em julho de 1923, a University of Madras criou o cargo de bibliotecário 
da universidade. Em novembro, fui nomeado seu primeiro ocupante. Na 
época, ensinava matemática no Presidency College, em Madras, uma das 
faculdades da universidade. Comecei meu trabalho como bibliotecário na 
tarde de quinta-feira, 4 de janeiro de 1924. Nas primeiras semanas, não 
havia quase nada para fazer. Sentia-me enfastiado, e queria muito voltar a 
dar aula. Mas meus amigos aconselharam-me a não me precipitar. Ocupei-me 
com a catalogação de centenas de livros que estavam empilhados. O nú-
mero de leitores que usavam a biblioteca raramente passava de dez por dia.
02 Primeira Experiência
Em outubro de 1924, ingressei na School of Librarianship do Univer-
sity College, em Londres. Sua biblioteca era bastante completa, ainda que 
pequena. Bastaram uns dois meses para ler os livros do acervo. Depois 
dessa bagagem teórica, adquiri alguma experiência prática, trabalhando 
nas bibliotecas públicas de Croydon por uns seis meses. Nos seis meses 
seguintes, visitei cerca de uma centena de bibliotecas de diferentes tipos. 
Os bibliotecários deram-me plena liberdade de observar, fazer perguntas 
e conversar. Esta foi a primeira experiência. Foi uma experiência rica.
03 Tendências Bibliotecárias
As bibliotecas encontravam-se em diferentes estágios de desenvolvi-
mento, o que facilitou um estudo comparado das práticas bibliotecárias. 
As tendências progressistas eram impressionantes. Mas, as linhas de de-
senvolvimento nos diversos setores da prática biblioteconômica pareciam 
desconexas. As conversas com quem trabalhava nesses setores davam-me 
a impressão de que cada um trabalhava isolado sem muito contato ou 
relação com outros setores. Mesmo quem trabalhava num mesmo setor 
não dava muito sinal de trabalho em equipe. Não havia indicação alguma 
de que houvesse uma visão de conjunto. Todos esses fatores tendiam a 
ocultar a característica comum de tendências que estivessem surgindo 
nos diferentes setores. Portanto, o que se via era somente um agregado de 
1
as cinco leis da biblioteconomia2
técnicas que não formavam um todo. Era como se os desenvolvimentos 
futuros fossem totalmente imprevisíveis. Tudo parecia ser uma questão 
de norma prática, rigorosamente empírica.
04 Método Científico
A experiência que eu acumulara em matéria de estudo e pesquisa cien-
tífica gerou uma sensação de revolta contra o ter de guardar na memória e 
lidar com uma miríade de informações desconexas e tipos de práticas sem 
relação entre si. Será que todos esses agregados empíricos de informações 
e práticas não seriam redutíveis a um punhado de princípios fundamen-
tais? Será que não se poderia adotar, neste caso, o processo indutivo? 
Não seria possível deduzir, a partir dos princípios fundamentais, todas 
as práticas conhecidas? Será que os princípios fundamentais não contêm, 
como implicações necessárias, muitas outras práticas que atualmente não 
são correntes, nem conhecidas? Não se tornarão tais práticas necessárias 
sempre que as condições-limite estabelecidas pela sociedade se modifica-
rem? Estas questões começavam a fremir em minha mente. É claro que 
havia a consciência de que o tema a ser estudado pertencia ao campo das 
ciências sociais e não ao das ciênciasnaturais. O método científico, porém, 
era aplicável igualmente a ambos os campos. A única diferença estava na 
posição ocupada pelos princípios fundamentais. Estes constituíam hipó-
teses nas ciências naturais e princípios normativos nas ciências sociais. 
Mas o ciclo do método científico era semelhante em ambos os casos. A 
pergunta a ser respondida era esta: quais são os princípios normativos a 
que aludem as tendências que se observam nas práticas bibliotecárias e 
aludem às tendências futuras que atualmente ainda não são muito visíveis? 
Isso agitava minha mente desde os primeiros meses de 1925.
05 Enunciado
Depois que voltei à Índia, em julho de 1925, o trabalho extenuante de 
organizar e formar a biblioteca da universidade de Madras, praticamente 
a partir do zero, afastou esse problema do meu consciente. Os 32 mil volu-
mes da biblioteca tinham que ser classificados e recatalogados; ao mesmo 
tempo, era preciso planejar e desenvolver a Classificação dos Dois Pontos 
[Colon Classification] e o Código para o Catálogo Sistemático [Classified 
Catalogue Code]. Implantou-se o acesso livre às estantes. Não tinha ajuda 
no serviço de referência. A publicidade da biblioteca era feita em grande 
escala. Como consequência, o comparecimento diário saltou de uns vinte 
para duzentos. Os funcionários tinham que ser recrutados e treinados. 
Ao mesmo tempo, era preciso redigir um manual de administração de 
bibliotecas. As aquisições no ano pularam de mil para seis mil. O projeto 
do novo prédio da biblioteca exigia sua parcela de reflexão. A pressão 
3
de todas essas tarefas compulsórias empurrava os princípios normativos 
para camadas cada vez mais profundas da mente. Mas era uma pressão 
conveniente e proveitosa. Cada passo do projeto da Classificação dos Dois 
Pontos, cada regra formulada para o Código do Catálogo Sistemático e 
cada parágrafo do rascunho do manual de administração de bibliotecas 
teve origem e se irradiou dos princípios normativos que se achavam 
ocultos, sob aquela pressão, no subconsciente. Inversamente, os avanços 
e as necessidades impostas por essas tarefas estavam inconscientemente 
moldando os princípios normativos numa forma exprimível. Isso durou 
três anos. O ponto crítico foi alcançado no final de 1928, a altas horas da 
noite. A pressão mudou de rumo. Todas as outras tarefas foram postas 
de lado. O esforço era insuportável. À tardinha, o professor Edward B. 
Ross fez-me sua costumeira visita diária. A ele eu devia minha formação 
intelectual. Fora meu professor de matemática durante todo o curso uni-
versitário; sua versatilidade e sua amizade o levaram a se interessar, de 
modo profundo e inteligente, por minha nova área de trabalho. Ele perce-
beu meu estado de angústia. Partilhei com ele minhas preocupações. Ele 
se preparava para montar a motocicleta. Seus olhos brilhavam, o que era 
sempre indício de que estava descobrindo alguma novidade, então, surgiu 
o sorriso característico dessas ocasiões, e falou, “Você quer dizer, ‘Os livros 
são para usar’; você quer dizer que esta é a sua primeira lei.” Partiu sem 
nem ao menos esperar por minha reação; este era bem o seu jeito de ser. 
Mas seu toque de intuição fez-me voltar à realidade com grande alívio. 
Os enunciados das outras leis surgiram automaticamente. Levei umas três 
horas preenchendo cinco folhas de papel com a dedução das cinco leis. 
Seus enunciados estavam assim completos.
06 Divulgação
A seguir teve início a divulgação das implicações dessas leis nos diver-
sos setores da prática bibliotecária. Não havia então nenhuma publicação 
profissional na Índia dedicada à biblioteconomia. No entanto, alguns anos 
antes, eu participara do lançamento da revista mensal South Indian Teacher, 
e suas páginas estavam abertas para mim. Para tratar dos problemas da 
organização de bibliotecas e do serviço de referência, que tivessem interesse 
para o público em geral, o jornal local Hindu prestou-se ao duplo objetivo 
de fazer propaganda da biblioteca e liberar minha tensão. Em dezembro 
de 1928, a University of Madras convidou-me para proferir uma série de 
palestras para professores durante as férias, por ocasião da conferência 
provincial de educação, que, naquele ano, foi realizada no Meenakshi 
College, em Chidambaram, às vésperas de se transformar na Annamalai 
University. Havia cerca de mil professores presentes, muitos deles meus 
amigos pessoais. Não poderia ter havido uma plateia com mais afinidade 
gênese
as cinco leis da biblioteconomia4
e mais simpática na primeira apresentação formal das recém-enunciadas 
cinco leis da biblioteconomia. As implicações de cada uma das leis foram 
expostas em duas palestras. Algumas, como era corrente, foram ilustradas 
com a projeção de diapositivos e diagramas e de viva voz. Algumas novas 
práticas foram também deduzidas como passíveis de virem a existir. Algu-
mas já se concretizaram; a Insdoc list, iniciada em 1954, é substancialmente 
uma delas. Como a plateia consistia inteiramente de professores, as impli-
cações educacionais das cinco leis mereceram grande ênfase. Entretanto, 
elas não são inteiramente apresentadas neste livro. Tornaram-se o único 
tema de uma série independente de palestras de férias, proferidas em Ma-
dras três anos mais tarde, que foram expandidas no livro School and college 
libraries (1942). Em dezembro de 1930, a primeira conferência pan-asiática 
de educação foi realizada em Benares. Seu organizador, P. Seshadri, con-
vidou-me para secretariar a sessão sobre serviços bibliotecários. Isso me 
propiciou o ensejo de expor as cinco leis para um público formado por 
bibliotecários, que, naquela época, ainda eram poucos. Foi um incentivo a 
mais para que eu desenvolvesse minuciosamente todas as implicações das 
leis da biblioteconomia na área de organização e legislação bibliotecária. 
Na verdade, rascunhei um anteprojeto de lei-modelo de bibliotecas, que 
foi discutido, artigo por artigo, durante a conferência. A lei de bibliotecas 
de Madras (1948) foi baseada nesse anteprojeto. A de Hyderabad (1955) 
também a seguiu. Essa lei-modelo encontra-se no capítulo 4 da primeira 
edição deste livro, mas, nesta, foi substituída por uma versão melhorada e 
mais ousada, projetada em 1950 para adaptar-se à situação da Índia como 
Estado independente. Acima de tudo, a School of Library Science, fundada 
em abril de 1929, ensejou a divulgação sistemática das cinco leis a cada ano.
07 Publicação
A Madras Library Association foi fundada em janeiro de 1928 com o 
objetivo de promover a criação de um serviço de bibliotecas de alcance 
nacional. Cerca de 800 membros a ela se filiaram em pouco tempo. Natu-
ralmente, eram todos amantes de livros e amigos da biblioteca, mas nem 
todos pertenciam à profissão de bibliotecário. De fato, mal chegava a dez o 
número de profissionais em Madras naqueles tempos. Para atrair o interesse 
ativo dos sócios, o presidente, Sr. K.V. Krishnaswamy Ayyer, teve a ideia de 
solicitar a alguns que apresentassem trabalhos para um simpósio. Houve 
uma boa resposta a essa iniciativa. Os anais do simpósio foram publicados 
em 1929 sob o título Library movement: a collection of essays by divers hands. 
O ensaio principal foi What makes a library big, de Rabindra Nath Tagore, o 
poeta nacional. Em 1930, decidiu-se iniciar uma publicação seriada regular 
“sobre os aspectos técnicos e práticos do trabalho bibliotecário”. Percebeu-
-se que seria apropriado começar com um volume que apresentasse uma 
5
exposição completa das cinco leis da biblioteconomia, do qual todos os 
demais volumes decorressem como consequências necessárias. Assim, a 
primeira edição deste livro foi publicada em junho de 1931. Com a graça 
de Deus, os volumes posteriores fluíram, ano após ano, desdobrando as 
implicações das cinco leis em cada um dos ramos da biblioteconomia. Cerca 
de 48 livros foram assim publicados, algunspela Madras Library Associa-
tion, e outros por diversas entidades. E em 1953, chegou-se ao vigésimo 
primeiro volume da série da Madras Library Association. Tratava-se de 
Library science in India: silver jubilee volume presented to the Madras Library 
Association.
Com mais dois amigos passamos vários dias dando forma à primeira 
edição. O Sr. K. Swaminathan, então professor de inglês no Presidency 
College, empenhou-se grandemente no exame de cada frase, com olhar 
crítico, de modo a reduzir ao mínimo as deficiências de linguagem e estilo. 
Sir P.S. Sivaswamy Aiyer — respeitável estadista da Índia, ex-membro do 
governo de Madras, ex-vice-reitor da University of Madras e da Benares 
Hindu University, erudito intelectual e grande amante de livros, leu as pro-
vas tipográficas, fez muitas sugestões úteis e, por fim, escreveu o prefácio. 
Meu professor em Londres, W.C. Berwick Sayers, escreveu a introdução. 
Foi dele que recebi a maior inspiração. Além de assistir às suas aulas, 
compartilhei com ele muitas horas de conversas informais. Ele me ajudou 
de muitas formas a fazer com que o ano que passei na Grã-Bretanha fosse 
verdadeiramente proveitoso. Minha consideração e afeição para com estes 
três cavalheiros fizeram-me manter, na presente edição, o texto original, 
o prefácio e a introdução.
08 Consequências
Ao longo dos 25 anos desde a primeira edição, surgiram, no entanto, 
duas mudanças fundamentais. Uma foi a generalização do conceito de 
‘livro’, acentuado nos anos recentes no vocábulo ‘documentação’. A se-
gunda mudança foi a generalização do termo ‘crescimento’, que ocorreu 
em minhas próprias ideias, suscitada enquanto lecionava e trabalhava nos 
livros Library development plan (1950) e Library book selection (1953). Além dis-
so, senti a necessidade de responder à pergunta ‘a biblioteconomia é uma 
ciência?’ Além disso, o movimento bibliotecário tem feito grandes avanços 
em muitos países, inclusive na Índia. Para dar lugar a essas mudanças, 
acrescentei um oitavo capítulo, intitulado ‘Método científico, biblioteco-
nomia e a marcha da digvijaya’. Este capítulo é a novidade nesta edição.
12 de agosto de 1956
248 Hofwiesenstrasse, Zurich 57
gênese
as cinco leis da biblioteconomia6
CAPÍTULO 1
A PRIMEIRA LEI
11 Princípio Fundamental
A Primeira Lei da biblioteconomia se assemelha à de qualquer outra 
ciência: incorpora um princípio fundamental. Na verdade, é evidente por 
si mesma; somos levados a supor que seja trivial. Entretanto, esta é uma 
característica invariável de todas as primeiras leis. Vejamos, por exemplo, 
a primeira lei de conduta upanixádica* — satyam vada — ‘falar a verdade’. 
Assim também é a primeira lei do movimento, de Newton.
111 Enunciado
A Primeira Lei da biblioteconomia é: os livros são para usar. Nin-
guém questionará a correção desta lei. Entretanto, na vida real, a história 
é diferente. Os órgãos responsáveis por bibliotecas raramente levaram 
esta lei em consideração.
12 Negligência da Lei
Se examinarmos a história de qualquer aspecto da prática bibliotecária, 
nela encontraremos inúmeras provas da negligência deplorável com que 
esta lei é tratada.
121 Biblioteca Acorrentada
Vejamos, em primeiro lugar, a maneira como os livros eram mantidos 
nos séculos xv e xvi. Naqueles dias, não era incomum encontrar livros 
realmente acorrentados às estantes. Eles eram equipados com molduras e 
argolas de bronze, presas a correntes de ferro, com uma das extremidades 
fixada nas estantes. Os livros assim acorrentados não podiam se afastar das 
estantes além do comprimento da corrente. Sua liberdade estava confinada 
ao espaço determinado pelas correntes. É claro que tal acorrentamento 
propiciava mais a preservação do que o uso dos livros. Na verdade, as 
bibliotecas eram vistas, nessa época, não como organizações voltadas para 
a promoção do uso dos livros, mas para a sua preservação.
* Conforme ao Upanixade, um dos livros da literatura védica que tratam da divindade, da 
criação e da existência. (n.e.)
6
7
122 Preservação para a Posteridade
Talvez seja interessante refletir um pouco sobre esse complicado 
processo de preservação. Qual teria sido a finalidade dessa preservação? 
É difícil pensar em alguma finalidade, a não ser a de preservação para a 
posteridade. Sem dúvida, é uma característica saudável ou, de qualquer 
forma, uma característica inevitável da natureza humana, que pensemos 
em nossos filhos — na nossa posteridade — e que estejamos preparados a 
negar-nos muitas coisas, a fim de legá-las intatas à posteridade. Esta prática, 
porém, implica uma dedução inevitável. Mesmo que tenhamos o anseio de 
legar nossos livros à posteridade, cada geração pode ser impelida por um 
motivo altruístico exatamente similar, e, por conseguinte, os livros talvez 
tenham que ficar para sempre acorrentados e jamais serão liberados para 
o uso. Este aspecto da questão parece não ter sido percebido por muito 
tempo e ‘os livros existem para serem preservados’ usurpou o lugar de 
‘os livros são para usar’. 
123 Costume Herdado
Essa tendência de entesourar livros teve origem numa época em que 
eles eram raros e de produção difícil. Antes da invenção da imprensa, 
levavam-se anos para copiar um livro. Copiar o Mahabharata era traba-
lho de uma vida inteira. Nessas condições, havia uma justificativa para 
esquecer que os livros são para usar e para exagerar na sua preservação. 
Mas essa tendência parece infelizmente que se transformou num hábito 
regular, como resultado de uma longa prática. A situação foi totalmente 
alterada pela invenção da imprensa. Ainda assim, passaram-se séculos até 
que fosse superado esse costume herdado de há muito tempo. O primei-
ro passo consistiu em declarar anistia para os livros e libertá-los de seus 
grilhões. Entretanto, mesmo depois que foram desacorrentados e se lhes 
permitiu que fossem retirados da biblioteca para uso e manuseados pelos 
leitores, não houve, por um longo tempo, um reconhecimento generoso, 
por parte daqueles que mantinham e administravam a biblioteca, do direito 
dos leitores ao uso desembaraçado dos livros. Muitas eram as restrições 
postas no caminho dos livros para que fossem usados livremente, e só 
em anos recentes é que parece ter-se firmado um vigoroso movimento 
visando a eliminar todas essas deficiências. Este movimento ainda não 
se tornou, de forma alguma, universal. Há vários países — e nossa terra 
parece reivindicar, com justiça, ser classificada entre eles — que ainda mal 
foram afetados por este novo movimento.
124 Exemplo 1
Um professor de uma faculdade chefiou seu departamento por quase 
25 anos. O estudo de sua especialidade, a zoologia, aos poucos foi limitando 
a primeira lei
as cinco leis da biblioteconomia8
o âmbito da sua visão, e ele passou a ter uma mentalidade mecanicista. 
Detalhes triviais começaram a se avolumar para ele. Por isso, passou a 
executar, pessoal e meticulosamente, cada rotina, desde abrir as portas e 
janelas até esvaziar os cestos de lixo. Era comum ter acessos de cólera se 
tudo não estivesse no devido lugar. Infelizmente, sob a influência desta 
tendência incoercível, começou a ver as estantes, mais do que as mãos dos 
leitores, como o lugar próprio para os livros. Seus auxiliares, cuja promoção 
nos cargos dependia da boa vontade dele, preferiam abster-se de usar os 
livros a correr o risco de despertar sua cólera ao retirá-los das estantes. 
Os alunos do primeiro ano, os únicos que desconheciam suas idiossincra-
sias, solicitavam ocasionalmente os livros da biblioteca do departamento. 
Ele costumava despachá-los com este dilema: “Vocês acompanharam as 
aulas? Se prestaram atenção, não precisam destes livros. Se não consegui-
ram acompanhar as aulas, nada lucrarão com a leitura deles.” Os alunos 
mais antigos jamais o abordavam, pois haviam passado por experiências 
dolorosascom suas tentativas baldadas. O resultado foi que, quando ele 
finalmente se aposentou, seu sucessor teve que abrir as páginas de vários 
dos livros que ele deixara! Em alguns casos, descobriu-se até mesmo que 
não valia a pena perder tempo em abri-los, uma vez que haviam se tor-
nado completamente desatualizados e era preciso descartá-los. Teria essa 
carreira profissional sido possível se a faculdade tivesse agido conforme 
a lei segundo a qual os livros são para usar?
125 Exemplo 2
A força e a inexorabilidade extraordinárias dessa tendência herdada, 
que se interpõe entre os livros e seus usuários, são realçadas por um outro 
caso, desta vez com um professor de filosofia. Este era um filósofo não 
somente de profissão, mas também pela prática e pelo temperamento. Era 
também uma daquelas pessoas que sentiam vontade de ser úteis à comuni-
dade. Uma forma de serviço comunitário que nosso professor de filosofia 
decidiu prestar consistia em dar uma oportunidade aos seus vizinhos para 
que se instruíssem. Para isso, costumava investir a maior parte de suas 
economias em livros. Depois que formou uma boa coleção, construiu uma 
bela cabaninha para leitura, a fim de abrigar os livros. Costumava passar a 
maior parte do tempo livre nessa cabana, de forma que pudesse emprestar 
pessoalmente os livros. Ficou, entretanto, muito desapontado com a total 
indiferença dos vizinhos. Por isso, levou-me um dia à cabana para que eu 
o aconselhasse. No trajeto, foi ficando cada vez mais eloquente ao falar dos 
excelentes livros que comprara para a biblioteca, da deprimente indiferença 
das pessoas do lugar com relação ao uso de livros, e assim por diante. A 
conversa que se seguiu tão logo entramos na encantadora mas desolada 
cabana lançou uma luz profusa sobre a persistência do hábito de preservar, 
9
há muito herdado, que podia sufocar até mesmo a determinação sincera 
e as boas intenções de um honesto filósofo.
“Onde estão os seus livros, meu amigo?”
“Estes dez armários estão cheios deles. Gastei cem rupias* na compra 
de cada um destes armários, confeccionados especialmente para isso, etc. 
etc. etc.”
“Mas, querido professor, por que cobriu estas belas portas de vidro 
transparente com estas horríveis folhas de papel pardo?”
“Você não sabe como as visitas me incomodam. Se eu não colocar este 
papel pardo, verão os livros através do vidro. E aí pedirão ou este ou aquele 
e terei que retirar todos os livros.”
Pobre filósofo derrotado! Sem comentários.
126 Exemplo 3
Embora estas coisas sejam corriqueiras para nós do século xx, basta 
voltar apenas um século para encontrar a forte influência deste costume 
de acumulação nas bibliotecas norte-americanas. T.W. Koch, da North-
-Western University, registra uma história significativa, mas típica, de 
um bibliotecário da Harvard University. Este “certa vez, tendo terminado 
o inventário da biblioteca, foi visto cruzando o campus com um sorriso 
particularmente feliz”. Perguntado qual o motivo de seu humor excep-
cionalmente agradável, exclamou orgulhoso, “Todos os livros estão na 
biblioteca, menos dois. Agassiz está com eles e vou buscá-los”.
127 O Bibliotecário Moderno
Por outro lado, um bibliotecário moderno, que acredita na lei de que 
os livros são para usar, só se sente feliz quando os leitores esvaziam 
constantemente as estantes. O que o preocupa não são os livros que são 
retirados da biblioteca. O que o deixa perplexo e o deprime são os volumes 
que ficam em casa. Ele também atravessará constantemente o pátio atrás 
de seus Agassiz. Mas irá até eles não para pegar de volta os livros que es-
tão usando, mas para entregar as novas aquisições que precisam ser-lhes 
apresentadas o mais rápido possível.
128 A Força da Primeira Lei
Os diferentes estágios pelos quais a força da lei os livros são para 
usar levou à gradual remoção das restrições induzidas pelos mencionados 
costumes herdados podem ser resumidos da seguinte maneira: primeiro, 
* O autor menciona rupias, mesmo quando se refere a valores monetários de outros países. 
Diante da dificuldade de definir uma equivalência atual, em termos de cotação ou de poder 
aquisitivo, tanto da rupia quanto de uma moeda-padrão de circulação internacional, foi 
mantida nesta tradução a redação original do autor, que data de 1931. (n.e.)
a primeira lei
as cinco leis da biblioteconomia10
as correntes foram removidas e vendidas como ferro-velho, mas o acesso 
continuava limitado aos poucos eleitos. Mais tarde, o uso dos livros foi 
permitido a quem podia pagar por isso. Em seguida, veio a etapa quando 
se tornaram acessíveis para todos, mas somente para uso no recinto da 
biblioteca. Depois, passou a ser feito o empréstimo aos poucos favorecidos; 
posteriormente, aos que pagavam uma taxa, e, finalmente, o empréstimo 
gratuito para todos. Talvez estejamos acabando de atingir este estágio em 
nossa terra. Mas não foi isso, de forma alguma, o que aconteceu alhures, 
onde a Primeira Lei já era conhecida há bastante tempo, para revelar todas 
as implicações ali profundamente enraizadas. Nesses lugares, métodos 
agressivos, que tornaram bem-sucedidos outros empreendimentos, foram 
empregados para fazer avançar o uso dos livros. Depois, foram abertas 
filiais de bibliotecas nas grandes cidades, a fim de oferecer uma coleção 
satisfatória de livros e uma sala de leitura convidativa a poucos minutos 
de caminhada de cada residência. Posteriormente, os livros eram despa-
chados, mediante o pagamento de uma taxa insignificante, àqueles que 
não podiam, de forma conveniente, chegar até eles. Mais tarde, caixas de 
livros eram enviadas gratuitamente às residências daqueles que se ofe-
recessem para mostrá-los aos vizinhos. Mais recentemente os livros são 
transportados num furgão, de rua em rua, para atendimento dos morado-
res. É difícil imaginar qual o triunfo adicional que ainda está reservado à 
Primeira Lei. Mas, como afirmou J.P. Quincy, é-se tentado a adaptar um 
conhecido paradoxo celta,* ao dizer que uma biblioteca pública é tão boa 
quanto uma biblioteca privada e, para o estudo dos livros, possui vantagens 
indiscutíveis sobre ela.2
13 Localização da Biblioteca
A localização de uma biblioteca pode, em geral, ser tomada como um 
índice do grau de confiança que os órgãos responsáveis por bibliotecas 
têm na lei os livros são para usar. 
131 Exemplo 1
Ocorreu-me visitar Dindukkal, uma cidade no sul da Índia. Os pró-
ceres do lugar convidaram-me para uma conversa sobre a construção de 
uma biblioteca para a cidade. A questão da localização logo veio à baila. 
Praticamente todos sugeriram um lugar nos arrabaldes da cidade. Um 
dos motivos para sugerir um lugar tão remoto era de que havia muita 
poeira no centro e de que os livros se estragariam. Outro motivo era que, 
se não fosse assim, ‘todo tipo de gente’ teria acesso à biblioteca. Nunca lhes 
ocorrera que a função da biblioteca era fazer com que ‘todo tipo de gente’ 
* O paradoxo lembrado é o que diz que um homem é tão bom quanto outro homem e 
também muito melhor. (n.e.)
11
usasse os livros e que o problema da poeira não deveria permitir que a 
biblioteca ficasse afastada da área onde fosse acessível e útil. Por outro lado, 
mostraram-se chocados quando me ouviram sugerir uma localização na 
rua comercial, que atravessa o coração da cidade. Tive que citar o exemplo 
de várias cidades do Ocidente e explicar, minuciosamente, o evangelho da 
organização da biblioteca antes que admitissem haver pelo menos algo a 
dizer em favor de minha sugestão.
132 Exemplo 2
Numa conferência no Kellett Hall, não faz muito tempo, antes da exis-
tência do serviço de ônibus, o talentoso conferencista S. Satyamurti, de 
forma jocosa, fixou as coordenadas de uma das nossas grandes bibliotecas 
da seguinte maneira: “Encontre um lugar na cidade que fique no mínimo 
a dois quilômetros de qualquer linhade bonde ou de qualquer estação 
ferroviária, que não tenha nem mesmo um posto de jinquirixá num raio 
de um quilômetro, cujo alojamento de estudantes mais próximo fique a 
uma distância de cinco quilômetros. Talvez só exista um único lugar na 
cidade que atenda a esta descrição e esse será o lugar escolhido para nossa 
biblioteca.” E, no entanto, ninguém reclamou, pois a biblioteca era vista 
mais como um ornamento da cidade do que como uma instituição, com 
a função essencial de propagar o uso dos livros.
133 Exemplo 3
Por outro lado, em todas as cidades ocidentais que creem vivamente na 
Primeira Lei da biblioteconomia, e que votam em favor das bibliotecas e as 
mantêm, pois têm a preocupação de que os livros sejam usados, a biblioteca 
principal é normalmente erigida no centro da cidade, num lugar por onde 
a maioria dos cidadãos passe obrigatoriamente todos os dias, por algum 
motivo. Ela também funciona através de diversas filiais e postos de aten-
dimento em partes diferentes da cidade, de modo que a distância não seja 
empecilho ao livre e pleno uso dos livros. Dublin, por exemplo, conta com 
cinco bibliotecas regionais para uma população de 324 mil habitantes. Até 
mesmo a próspera Edimburgo, com uma população de 420 mil habitantes, 
já construiu sete bibliotecas regionais. Manchester sentiu a necessidade 
de 30 filiais para que sua população, que soma 744 mil habitantes, possa 
usar plenamente seus livros. Birmingham, com 919 mil habitantes, não 
acha que suas 24 bibliotecas sucursais sejam suficientes para difundir o 
uso dos livros. Toronto, com uma população de apenas 550 mil habitantes, 
criou 15 filiais e planeja construir mais. Cleveland, onde vivem cerca de 
800 mil pessoas, dá acesso a seu acervo de livros em 25 filiais e 108 pos-
tos de atendimento, enquanto 25 filiais e 108 postos de atendimento são 
considerados insuficientes para os três milhões de moradores de Chicago.
a primeira lei
as cinco leis da biblioteconomia12
134 Analogia com a Localização do Comércio
Tão logo a ideia de que os livros são para usar esteja firmemente 
estabelecida, tão logo as bibliotecas compreendam que a sua existência é 
justificada somente na medida em que os livros sejam usados pelos leito-
res, não haverá qualquer diferença de opinião quanto à sua localização. 
Uma localização igual à descrita pelo conferencista do Kellett Hall jamais 
seria imaginada. O comerciante sagaz, que deseja vender seus produtos, 
instala sua loja no santuário (sannidhi) de um templo popular. O dono de 
uma cafeteria, que quer ver seu negócio prosperar, instala-a perto de um 
grande albergue estudantil, como o Victoria Hostel. Um vendedor de bé-
tel, preocupado com a receita diária, arma sua tenda defronte a um hotel 
grande e popular. Do mesmo modo, a biblioteca, interessada em que seus 
livros sejam plenamente utilizados, instalar-se-á no meio de sua clientela. 
Por outro lado, nenhum santuário de templo popular existe sem uma loja 
e a vizinhança de todas as repúblicas de estudantes está invariavelmente 
rodeada de cafés e lojas de vender bétel. O mesmo acontece com as biblio-
tecas. Qualquer lugar onde houver habitualmente a presença de grupos 
humanos será um local potencial para instalar uma biblioteca.
135 Exemplo 4
Um exemplo extremo mas feliz desta dedução da Primeira Lei da biblio-
teconomia nos é dado pela biblioteca de jardim, em Lisboa.3
Lisboa, construída sobre sete colinas, como a nossa Tiruppati e com-
parável à nossa Madura em tamanho e população, conquistou um lugar 
único no mundo da biblioteconomia. Um provérbio português diz: “Quem 
não viu Lisboa, não viu coisa boa”.4 Se esta afirmativa é válida ou não, 
Lisboa certamente sobrepujou todas as demais cidades com sua singular 
biblioteca de jardim, que é certamente uma coisa boa. 
Na encosta de uma das colinas, sobranceiro às águas azuis do Tejo, 
encontra-se um ensolarado jardinzinho público, com um lago artificial, de 
mármore, no centro, em torno do qual as flores tecem uma orgia nas cores 
do arco-íris e as crianças gritam e correm em alegre êxtase. 
Ao fundo, há um cedro gigantesco, que se alastra como um guarda-
-chuva, desafiando o sol e a chuva. Sob sua sombra intensa predomina um 
silêncio profundo, e ali se encontra uma fileira de cadeiras em torno de uma 
coleção encantadora de volumes numa linda estante. Estudantes com suas 
capas esvoaçantes, trabalhadores cobertos de caliça, rústicos camponeses 
de olhos tímidos e lânguidos, empregados de escritórios e lojas mastigando 
o almoço, soldados, gráficos, eletricistas, marinheiros e estivadores, todos 
compartilham o conteúdo dessa biblioteca ímpar, despojados de qualquer 
formalidade, mas auxiliados pela ágil e simpática bibliotecária, a andar 
daqui para lá, de lá para cá, com seu sorriso radiante.
13
Quem teve essa ideia? Foi uma sociedade educativa particular, conhe-
cida como Universidade Livre. Na expectativa de promover o amor pela 
leitura em todas as classes, a Universidade Livre fundou esta biblioteca de 
jardim, fornecendo os livros e o mobiliário.* Os próceres de Lisboa, que 
acreditavam na Primeira Lei da biblioteconomia, calorosamente aprova-
ram este empreendimento e contrataram os serviços de uma bibliotecária.
Conta com menos de mil volumes, que são substituídos de tempos em 
tempos. Possui um pouco de tudo — clássicos, autores contemporâneos, 
viagens, história, eletricidade, química, taquigrafia, contabilidade, constru-
ção, ferraria, navegação, e assim por diante. E esses livros são avidamente 
procurados por todos os visitantes do jardim. A biblioteca fica aberta diaria-
mente das 10 às 18 horas. As estatísticas mostram que durante o primeiro 
ano não houve menos de 25 mil leitores que a utilizaram. Que a sombra 
do vetusto cedro no jardim público da cidade das sete colinas jamais deixe 
de crescer! Que ele sirva de abrigo a esse empreendimento patriótico, a 
serviço desta verdade absoluta: os livros são para usar!
136 Exemplo 5
Também nas escolas e faculdades, a localização das bibliotecas pode ser 
tomada como um índice confiável do grau de fé das autoridades na lei os 
livros são para usar. A evolução das ideias relativas à localização e dimen-
são das bibliotecas escolares e universitárias tem ocorrido de modo muito 
paralelo ao crescimento gradual da crença nesta lei. Conheci, por dentro, 
uma escola. Sua biblioteca consistia de algumas centenas de volumes, na 
sua maioria livros didáticos, que as editoras enviavam como amostras de 
cortesia e eram descartados pelos professores porque não mereciam estar 
em sua posse particular. Essas poucas centenas de livros estavam cuida-
dosamente trancados num armário de madeira. O próprio armário ficava 
trancado numa sala de pouco mais de um metro quadrado, cuja ventilação 
se dava por uma única janela pequena. Havia uma característica mais 
assustadora. O diretor da escola invariavelmente dava aulas — inclusive 
suas inumeráveis aulas especiais — no saguão que dava para esta sala, 
quase bloqueando a entrada. Quem se lembra do respeito mortal em que 
eram tidos os diretores dessas escolas, vinte e cinco ou trinta anos atrás, 
perceberá o que isso significava para os livros da biblioteca. Para quem não 
sabe, pode-se dizer que o aparecimento da figura do diretor na esquina 
era suficiente para fazer com que um grupo de alunos, que jogavam bolas 
de gude ao sol da tarde, corresse para salvar a própria pele, escondendo-
-se nos cantos mais escuros das cozinhas das casas próximas, onde seus 
* A biblioteca do jardim da Estrela, ou jardim Guerra Junqueiro, ainda em funcionamento. 
Esta biblioteca-quiosque dispõe de cerca de mil livros para consulta e empréstimo, jornais, 
revistas e jogos de entretenimento. [http://revelarlx.cm-lisboa.pt/gca/?id=1056] (n.e.)
a primeira lei
as cinco leis da biblioteconomia14
olhares e modos, assustados e denunciadores, fariamas mães exclamar, 
‘O diretor está indo para o templo?’ Seria muito difícil algum dos meninos 
se atrever a sair de seu esconderijo, enquanto o mais corajoso dos ousados 
diabretes não se arriscasse a espreitar furtivamente e anunciar, contente, 
‘Caminho livre’. Com esta informação, é fácil perceber como a localização 
da biblioteca escolar era eficiente, se o objetivo fosse evitar que os livros 
fossem utilizados. Com certeza, a escola não acreditava, naqueles dias, 
que os livros são para usar, e não era, de forma alguma, uma exceção.
137 Exemplo 6
Há não muito tempo, o diretor de uma grande escola secundária 
convidou-me para fazer uma visita à sua biblioteca e sugerir alguns melho-
ramentos. Compareci de bom grado. Fui recebido com grande afabilidade 
e conduzido através de um labirinto de salas e corredores apertados, es-
curos e malventilados, com armários ao longo das paredes. Ao chegarmos 
perto da outra extremidade, perguntei onde ficava a biblioteca e quando 
chegaríamos lá. Para minha surpresa, o diretor respondeu que, em todo o 
trajeto, estivéramos passando pela biblioteca. Maravilhado diante desse 
estranho arranjo, numa escola secundária, de um lugar onde os meninos 
brincavam de esconde-esconde no intervalo de almoço, perguntei por que 
fora escolhida uma localização tão infeliz para a biblioteca. Sua resposta 
imediata e inocente: “Estas salas não servem para outra coisa e precisa-
vam ser usadas”. Teria esta resposta inocente sido dada, se a Primeira 
Lei tivesse alguma influência nas autoridades da escola? Há vinte anos, 
mudamo-nos para um novo prédio. A sala mais agradável, dando para o 
mar, foi destinada aos periódicos. Eu fiquei numa pequena sala do lado 
do poente. Uma pessoa imprópria para a profissão de bibliotecário um 
dia apareceu ali. Expressou surpresa por eu ter escolhido a pior das salas 
como meu gabinete. “Se eu fosse você, instalaria meu gabinete na sala dos 
periódicos”, disse ele. Respondi, “Se a Primeira Lei não se tivesse revelado 
a mim, eu também teria feito isso”. “— Hum! Sua Primeira Lei. Se um dia 
eu vier a substituí-lo, verá o que farei”, foi a resposta imediata! 
138 Exemplo 7
O que hoje predomina em nossas escolas e faculdades prevalecia há uns 
sessenta ou setenta anos nas escolas e faculdades do Ocidente. Discursando 
na inauguração da biblioteca do Colorado College, em março de 1894, o 
Sr. Harper, primeiro reitor da Chicago University, afirmou
Há um quarto de século, a biblioteca, na maioria das nossas instituições, até 
mesmo as mais antigas, quase não chegava a ter tamanho suficiente [...] para 
merecer o nome de biblioteca [...] Conheço uma faculdade, que tem cento e 
cinquenta estudantes matriculados [...] e, apesar disso, numa sala de três por 
15
quatro metros, chamada de biblioteca, não chega a ter duzentos e cinquenta 
volumes [...] Como existia o local, para lá o professor costumava dirigir-se 
ocasionalmente, mas o estudante, nunca [...] O lugar, raramente frequentado, 
era uma sala remota, que não poderia servir para qualquer outra finalidade.5
Quase as mesmas palavras do diretor mencionado acima!
139 Exemplo 8
Mas tudo isso mudou tão logo a Primeira Lei da biblioteconomia se 
instalou nas mentes das pessoas. Atualmente, diversas faculdades no Oci-
dente, que acreditam que os livros são para usar e sabem que um dos 
seus deveres fundamentais consiste em desenvolver o hábito da leitura nos 
alunos de graduação, destinam a sua melhor sala para a biblioteca. Pelo 
menos em uma faculdade do Ocidente, cujos “livros eram colocados em 
corredores, porões e sótãos”, até que esta lei tivesse influência sobre ela, 
a área agora ocupada pelas bibliotecas da faculdade corresponde a quase 
metade da área ocupada por toda a escola. Citando Harper novamente,
Hoje o edifício principal da faculdade, o edifício do qual temos mais orgulho, é 
a biblioteca. Com o conjunto de estantes do acervo geral, a sala de consulta para 
obras de referência, as salas de atendimento, as salas para os seminários, é o 
centro dinâmico da instituição [...] Dificilmente se pode imaginar uma mudança 
que fosse maior do que esta [...] Está próximo o dia em que o estudante pouco 
estudará em seu gabinete: ele deverá estar no meio dos livros. Como o cientista, 
que, embora dispondo de milhares de volumes em sua própria biblioteca, deve 
procurar as grandes bibliotecas do Velho Mundo, se quiser fazer um trabalho 
de alta qualidade, também o estudante universitário, embora tendo centenas 
de volumes em seu próprio aposento, deverá fazer seu trabalho na biblioteca 
da instituição [...] Sua mesa deve ficar onde, sem a menor delonga, sem a 
mediação do zeloso bibliotecário, que provavelmente pensa mais no livro do 
que no seu uso, ele possa pegar um dentre dez ou vinte mil livros que desejar 
utilizar [...] Este fator do trabalho do nosso colégio e da universidade, a biblio-
teca, cinquenta anos atrás quase desconhecida, hoje já o centro da atividade 
intelectual da instituição, e daqui a cinquenta anos, absorvendo tudo o mais, 
ter-se-á transformado na própria instituição. 6
14 Horário da Biblioteca
A influência da lei os livros são para usar foi não menos profunda com 
relação ao horário da biblioteca. Enquanto predominava a noção herdada 
sobre preservação e a lei os livros são para usar não se havia consolidado 
plenamente, a biblioteca permanecia mais tempo fechada do que aberta. 
Talvez fosse aberta mais vezes para matar as traças e tirar a poeira dos livros 
do que para a entrada de leitores e o empréstimo dos livros. Conta-se que 
os registros dos livros emprestados na década de 1730–1740 da Bodleian 
a primeira lei
as cinco leis da biblioteconomia16
Library, de Oxford, mostram que eram emprestados não mais de um ou 
dois livros por dia. Às vezes, decorria toda uma semana sem que fosse feito 
um único empréstimo. Conta-se que um aviso interessante, datado de 1806, 
teria sido preservado por essa biblioteca. Encontrando-a fechada, um 
estudioso, furioso pela frustração, afixou à porta da biblioteca um pedaço 
de papel com as palavras que a musa grega lhe havia oferecido para aliviar 
seus sentimentos: — “Ai de ti que levaste a chave do conhecimento! Não 
entras e impedes a entrada àqueles que comparecem!” Na sua Story of 
the University of Edinburgh, sir Alexander Grant deplora como, no começo 
do século xix, os horários da biblioteca da universidade restringiam as 
oportunidades oferecidas aos alunos para usá-la. Os livros só podiam ser 
retirados por duas horas, dois dias por semana. Segundo Koch, a biblioteca 
do Amherst College abria, em 1850, apenas uma vez por semana, de uma 
às três horas da tarde. Os alunos da Princeton University podiam usar a 
biblioteca somente por uma hora, duas vezes por semana, enquanto aos 
seus contemporâneos em Missouri se permitia apenas uma hora, a cada 
duas semanas. No Columbia College, criado em 1859, por muitos anos
aos alunos do primeiro e do segundo ano era permitido visitar a biblioteca 
somente uma vez por mês, para contemplar as lombadas dos livros; os alunos 
do terceiro ano eram levados até lá uma vez por semana por um orientador, 
que lhes passava informações orais sobre o conteúdo dos livros, mas somente 
os alunos do último ano [...] podiam tomar livros emprestados da biblioteca, 
durante uma hora, às quartas-feiras à tarde.
141 Insulto contra a Primeira Lei
Se o horário era, até o final do século xix, tão restrito no mundo das 
bibliotecas, pode-se facilmente imaginar as condições que predominam 
hoje em dia em nossas bibliotecas escolares e universitárias, quando, ob-
viamente, elas existem! A prática corrente numa grande faculdade pode 
servir de exemplo. Teoricamente, essa faculdade concede ‘dois dias de 
empréstimo’ por semana. Mas, que a ocorrência da palavra ‘dia’, de modo 
algum nos engane levando-nos a multiplicar o ‘dois’ por 24 ou mesmo por

Continue navegando