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AS CINCO LEIS DA BIBLIOTECONOMIA Reproduzido com a gentil permissão do Sr. C. Seshachalam, de Curzon & Co., Madras. Copyright: Curzon & Co. S.R. Ranganathan As Cinco Leis da Biblioteconomia Tradução de Tarcisio Zandonade © Sarada Ranganathan Endowment for Library Science. 1963 Esta tradução: © 2009 by Lemos Informação e Comunicação Ltda. Do original inglês: The five laws of library science (2. ed. 1963) Primeira edição original: 1931 Segunda edição: 1957 Reimpressão (com pequenas correções: 1963) Todos os direitos reservados. De acordo com a lei n° 9610, de 19/2/1998, nenhuma parte deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada num sistema de recuperação de informação ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico sem o prévio consentimento dos autores e do editor. Este livro obedece ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 Capa: Formatos Design Gráfico Ltda. Revisão e notas: Antonio Agenor Briquet de Lemos e Maria Lucia Vilar de Lemos Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) Cãmara Brasileira do Livro, sp, Brasil Ranganathan, S. R., 1892-1972. As cinco leis da biblioteconomia / S.R. Ranganathan ; tradução de Tarcisio Zandonade. – Brasília, df : Briquet de Lemos / Livros, 2009. Título original: The five laws of library science. Bibliografia. isbn 978-85-85637-38-5 1. Biblioteconomia I. Título. 09-06911 cdd 020 Índices para catálogo sistemático: 1. Biblioteconomia 020 2009 Briquet de Lemos / Livros srts - Quadra 701 - Bloco o - Loja 7 Edifício Centro Multiempresarial Brasília, df 70340-000 Telefones (61) 3322 9806 / 3323 1725 www.briquetdelemos.com.br editora@bríquetdelernos.com.br À Querida Memória de Srimati RUKMINI vii SUMÁRIO Apresentação desta edição xi Prefácio de sir P.S. Sivaswamy Aiyer xix Introdução do Sr. W. C. Berwick Sayers xxi 0 Gênese 1 01 Ingresso na profissão de bibliotecário 1 02 Primeira experiência 1 03 Tendências bibliotecárias 1 04 Método científico 2 05 Enunciado 2 06 Divulgação 3 07 Publicação 4 08 Consequências 5 1 A Primeira Lei 6 11 Princípio fundamental 6 12 Negligência da lei 6 13 Localização da biblioteca 10 14 Horário da biblioteca 15 15 Mobiliário da biblioteca 19 16 Um diálogo 20 17 Pessoal da biblioteca 25 18 Não se enamore dos frutos 49 2 A Segunda Lei e sua luta 50 20 Introdução 50 21 As classes e as massas 51 22 Homens e mulheres 59 23 Os moradores das cidades e os moradores do campo 67 24 O normal e o excepcional 81 25 O coral da biblioteca 86 26 A terra e o mar 87 27 O adulto e a criança 90 28 Democracia ilimitada 92 3 A Segunda Lei e sua digvijaya 94 30 Abrangência 94 as cinco leis da biblioteconomiaviii 31 Américas 94 32 África do Sul 105 33 Europa oriental 108 34 Escandinávia 118 35 Europa ocidental 123 36 Oceano Pacífico 130 37 Ásia 131 38 Índia 134 4 A Segunda Lei e suas implicações 138 40 Abrangência 138 41 Compromisso do Estado 138 42 Lei estadual de bibliotecas 152 43 Lei das bibliotecas da União 165 44 Sistema bibliotecário 173 45 Sistema de bibliotecas universitárias 176 46 Compromisso da autoridade responsável pela biblioteca 177 47 Compromisso do pessoal da biblioteca 180 48 Compromisso do leitor 184 5 A Terceira Lei 189 50 Enunciado 189 51 Sistema de acesso livre 189 52 Arranjo nas estantes 192 53 Catálogo 194 54 Serviço de referência 197 55 Departamentos populares 198 56 Publicidade 199 57 Serviço de extensão 205 58 Seleção de livros 210 6 A Quarta Lei 211 60 Introdução 211 61 Sistema ‘fechado’ 212 62 Arranjo nas estantes 214 63 Sinalização do recinto das estantes 216 64 Entradas no catálogo 220 65 Bibliografia 225 66 Serviço de referência 228 67 Método de empréstimo 230 68 O tempo do pessoal 236 691 Catalogação centralizada 237 692 Localização da biblioteca 241 sumário ix 7 A Quinta Lei 241 70 Introdução 241 71 Crescimento de tamanho 241 72 Sala do catálogo 249 73 Sistema de classificação 251 74 Leitores e empréstimo de livros 254 75 Pessoal 258 76 Evolução 261 77 Princípio vital 263 8 O método científico, a biblioteconomia e o avanço da digvijaya 264 80 O que é ciência? 264 81 O método científico 266 82 A Segunda Lei e novos tipos de livros e de práticas 276 83 A Terceira Lei e a documentação 278 84 A Quarta Lei e as novas práticas biblioteconômicas 281 85 A Quinta Lei e suas diversas implicações 283 86 Ramos da biblioteconomia 286 87 Ensino e pesquisa 289 88 A marcha da digvijaya 303 Apêndice 1: Especificações para um módulo de estante feito de teca 314 Apêndice 2: Especifícação para uma mesa de periódicos feita de teca 315 Bibliografia 317 Índice 326 xi Levar conhecimento a quem não o tem e ensinar a todos para que possam discernir o que é certo! Nem mesmo partilhar toda a Terra seria comparável a esta forma de serviço. Manu As cinco leis da biblioteconomia Os livros são para usar A cada leitor seu livro A cada livro seu leitor Poupe o tempo do leitor A biblioteca é um organismo em crescimento xiii APRESENTAÇÃO DESTA EDIÇÃO Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892–1972) nasceu em Shiyali, no esta- do de Madras, hoje Tamil Nadu, na Índia. Bibliotecário e pensador, sua produção intelectual e seus feitos profissionais tornaram-no conhecido como o ‘pai da biblioteconomia indiana’. Este livro foi editado pela pri- meira vez em 1931. E por que, depois de tanto tempo, ainda se lê este livro? A resposta a esta pergunta é simples: porque os clássicos se leem sem- pre. E o que faz desta obra um clássico? Por que, decorridos quase 80 anos, este quincálogo da biblioteconomia, reiterada e teimosamente re- diviva, continua atraindo leitores e releitores? Outra pergunta, por que publicar esta edição em português? O que tem ainda a nos dizer este senhor mais do que centenário, que nasceu e viveu num país tão distante do Brasil? É razoável supor que este seja, no campo da biblioteconomia e ciên- cia da informação, um dos livros que apresentam mais longa meia-vida, maior número de citações e uma capacidade muito grande de estimular novas ideias. Aliás, Berwick Sayers, no prefácio à primeira edição, ante- via o destino dele: o de um ‘standard text-book’, standard aqui no sen- tido de obra modelar, que, como todos os modelos, tendem a se tomar clássicos. Clássico porque permanece atual, trazendo lições sempre úteis mesmo quando a tecnologia da informação dá a impressão de os biblio- tecários de hoje esta rem muito à frente do mundo de Ranganathan. Clás- sico porque no uni verso brasileiro, tão distante da Índia, tanto historica quanto culturalmente, suas palavras encontram ressonância e parecem refletir a realidade de muitas de nossas bibliotecas e a visão de muitas de nossas autoridades. Os dois prefácios, de Aiyer e de Berwick Sayers, souberam logo re- conhecer a qualidade excepcional do texto do bibliotecário indiano. Em particular, a capacidade queteve Ranganathan, de forma simples e clara, a partir da observação direta do mundo dos livros e das bibliotecas, de cons truir seus princípios, sua teoria, sua filosofia, sua epistemologia. Sem em pregar conceitos abstrusos, sem erigir construtos informes, sem patinar na geleia mal digerida de ideias alheias, ele extraiu da realidade circundante suas constatações e suas conclusões, que cada vez mais são reconhecidas como uma das melhores contribuições para a formulação de uma teoria da biblioteconomia. Erigiu assim, de forma exemplar, não as cinco leis da biblioteconomiaxiv só um texto que, com a simplicidade de um manual de boas práticas bibliotecárias, procurava estimular a criação de bibliotecas em seu país, mas também, com argúcia e clareza de pensamento, dissecava essas práticas em busca de sua razão de ser, de seus princípios, e argumentos que as justificassem como técnicas e como necessidades sociais. Rana- ganathan procura e consegue identificar o que se acha por trás de uma sucessão de atos e rotinas sem sentido aparente, mas que se revestem de grande significado para a produção e difusão da cultura. Seu contato com a realidade das bibliotecas do Reino Unido levou-o a procurar saber o que se passava em instituições semelhantes de outros países. Isso serviu de quadro de referência no qual e com o qual contrastou a situação das bibliotecas da Índia. Pioneiro, portanto, da biblioteconomia comparada, buscou nesse processo elementos que fundamentassem sua ar- gumentação, a qual também serve para ‘convencer as autoridades’, como dizemos aqui, quanto à importância do livro, da biblioteca e da leitura. Seu texto não tem o formalismo e a aridez de uma tese doutoral. Ele não vacila em antropomorfizar as leis da biblioteconomia, em criar um elenco de personagens exemplares (as diversas autoridades, os leitores potenciais, cidadãos comuns, etc.) e colocá-las num espaço dramático, numa feliz reunião da maiêutica socrática com o diálogo teatral, a que não falta o apelo ao coro grego. Encontram-se disponíveis na Rede inúmeras informações biográficas sobre Ranganathan. Por exemplo: Gopinath, M.A. Ranganathan, Shiyali Ramamrita. Encyclopedia of library and information science. 2nd ed., p. 2419- 2437, 2003. Disponível em: <http://www.informaworld.com/10.1081/e- elis-120009006>. Acesso em: 15/5/2009). 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As bibliotecas são hoje vistas não como bens precio- sos a serem ciosamente preservadas da intromissão da plebe, mas como instituições democráticas para benefício e satisfação de todos. Como atrair os leitores para as bibliotecas, como ampliar para todas as classes as oportunidades de usá-las, como prestar a maior ajuda possível aos que desejam usar as bibliotecas e como poupar o tempo dos leitores e também dos funcionários da biblioteca são questões que, aparentemente simples, demandam não pouca reflexão, imaginação, capacidade e experiência por parte do bibliotecário. A bibliografia produzida sobre esta matéria tem se avolumado grandemente. Foram criadas associações de bibliotecários em muitos países, foram iniciados cursos em várias universidades para o ensino da administração de bibliotecas e surgiram numerosos periódicos de biblioteconomia. Foram feitas tentativas de sistematizar o conhecimento sobre a matéria e agora se afirma que ela atingiu o status de ciência. Dispensa comentar se a organização e administração de bibliotecas deva ser considerada uma ciência ou uma arte. Não há dúvida, entretanto, de que há certos princípios essenciais subjacentes à administração de bibliotecas de acordo com as necessidades e concepções atuais. O autor deste livro procurou expor estes princípios numa forma siste- mática. Conseguiu sintetizá-los em cinco princípios cardeais e desenvol- ver todas as regras de organização e administração de bibliotecas como as cinco leis da biblioteconomiaxx implicações necessárias e corolários inevitáveis destas cinco leis. Uma vez enunciadas, as leis parecem tão óbvias que nos surpreendemos que não tenham sido claramente percebidas e elaboradas antes. O tratamento dado ao tema pelo Sr. Ranganathan é claro, lógico e lúcido. Ele trouxe para este empreendimento um amplo domínio da literatura sobre bibliotecas, um conhecimento pessoal com os métodosde administração de bibliotecas na Grã-Bretanha, uma inteligência analítica experiente e um entusiasmo ardente, mas iluminado pelo movimento por bibliotecas. Ele foi o pioneiro desse movimento na província de Madras e vem realizando uma propaganda enérgica para divulgá-lo. Ele sabe como despertar e manter o interesse do leitor e produziu um livro muito atraente e agradável de ler. Não tenho dúvida de que encontrará ampla receptividade e logo virá a ser reconhecido como um texto clássico da biblioteconomia. A Madras University é afortunada de ter o autor como seu bibliotecário. Em suas mãos, essa biblioteca evoluiu para se transformar numa instituição humana viva, que busca um contato pessoal proveitoso entre funcionários e usuários. O enorme crescimento no empréstimo de livros desde que o autor assumiu a biblioteca é um testemunho impressionante da solidez dos princípios em que a administração dela se baseia, bem como da eficiência de seu trabalho de gestão, apesar das precárias condições do local onde a biblioteca tem funcionado. A publicação deste livro pela Madras Library Association não é a me- nor de suas reivindicações pela gratidão do público. P.S. Sivaswamy Aiyer xxi INTRODUÇÃO À PRIMEIRA EDIÇÃO Este é um dos livros mais interessantes que li nos últimos anos sobre nossa profissão. Ele é único, acredito, na medida em que procura pela primeira vez apresentar um estudo abrangente, feito por um bibliotecário que tem uma mente inconfundivelmente indiana, e que faz refletir a própria cultura de seu povo nas teorias básicas da arte da difusão dos livros como ela é entendida no moderno mundo das bibliotecas. Para quem é recém-chegado à nossa profissão talvez cause surpresa o tanto que se pode extrair de algo que, à superfície, parece ser um ofício tão simples, mas uma leitura atenta das páginas do Sr. Ranganathan propiciará ao iniciante uma compreensão profunda do tema. O Sr. Ranganathan está extraordinariamente dotado para a empresa a que se propôs. Faz alguns anos ele esteve, por um período de tempo, sob a orientação de professores assistentes da School of Librarianship da University of London, quando se aproximou particularmente de mim. Percebi que era homem de notável cultura, muito original em seu modo de ver, persistente e incapaz de se desviar de suas investigações, e que, prudentemente, acatava quaisquer sugestões que lhe fossem apresen- tadas. Não somente assistiu às aulas de biblioteconomia na University of London, mas estudou intensamente os serviços de bibliotecas de to- dos os tipos, visitando-as em várias partes do país. Por algum tempo, estudou diariamente nas bibliotecas públicas de Croydon, onde eu ob- servava seu trabalho com interesse. Ele examinou os processos de cada departamento e empregou muito tempo analisando-os e criticando-os. Ao longo de toda essa jornada, buscava as razões subjacentes a todos os nossos fazeres. Não estava interessado somente em livros e bibliotecas, e usou parte do seu tempo de lazer para examinar os métodos pedagógicos adotados nas escolas das cidades e as relações destes com as bibliotecas. Seu modo crítico de ver era tão profundo que ele resolveu partir para a elaboração de uma nova classificação bibliográfica. Esta classificação, como ele nos diz mais adiante neste volume, é empregada na biblioteca da universi- dade de Madras, e em algumas outras bibliotecas da Índia, que começam a classificar seus acervos. as cinco leis da biblioteconomiaxxii Este programa de estudos e esta atitude mental não poderiam deixar de resultar na preparação de um tipo de bibliotecário, cujo trabalho se tornaria importante. A obra que temos em mãos é prova disto. ii A prática da biblioteconomia precedeu de muito a formulação de quaisquer leis. Em todas as profissões, naturalmente, o mesmo acontece. É só lentamente e a partir da experiência contínua dos profissionais que uma teoria pode ser deduzida e enunciada. Nossa profissão pode reivin- dicar, entretanto, ser uma das mais antigas do mundo, e alguns dos pro- cessos bastante comuns que hoje se mostram tão aperfeiçoados, a ponto de o Sr. Ranganathan ser capaz de formular seus resultados como ‘leis’, existiam em forma embrionária nas bibliotecas assírias e provavelmente em outras mais antigas. Os catálogos de tabuletas de argila do British Museum provam-nos que havia então não somente bibliotecas, mas uma biblioteconomia sistemática. Anos mais tarde, mas ainda em tempos an- tigos, o trabalho de bibliotecários, como Calímaco, nas bibliotecas dos faraós, apresenta métodos de gestão, especialmente na classificação dos livros, que surpreendem os bibliotecários modernos que os estudaram. Cada uma das grandes nações do passado teve suas bibliotecas públi- cas, mesmo que seu uso fosse às vezes limitado a certas classes da co- munidade, e, na anarquia geral da civilização europeia, que se seguiu à queda do Império Romano Ocidental, os mosteiros ainda preservaram e ampliaram suas bibliotecas. A história das bibliotecas foi muito influenciada por esta preservação dos livros nos mosteiros, pois durante séculos as bibliotecas estiveram cir- cunscritas a escolas superiores e outros estabelecimentos fechados, e seu uso era restrito aos ocupantes dessas instituições. Preservar o livro era de importância igual ou maior do que fazer com que fosse usado. Esta men- talidade vem desaparecendo desde meados do século xix. As grandes bib- liotecas do mundo, com variados graus de generosidade, foram abertas para leitores externos, e a atitude do conservateur cedeu lugar àquele que me arrisquei a chamar alhures de explorador de livros [exploiter of books] por julgar ser esta a descrição apropriada do bibliotecário. O principal fator da atitude moderna diante das bibliotecas e dos livros tem sido o que é conhecido na Inglaterra e nos Estados Unidos como ‘bibliotecas públicas’. Este termo tem hoje um sentido bem diferente do que tinha antes de 1850. Então, as bibliotecas eram públicas mais no sentido com que as public schools* da Inglaterra são públicas; quer dizer, o seu uso * Escola particular mantida pelos pais dos alunos, oriundos, na maioria, das classes privile- giadas. A escola pública mantida pelo Estado chama-se, no Reino Unido, local school (n.e.). xxiiiintrodução à primeira edição estava em muito limitado às classes governantes. A biblioteca pública moderna é uma instituição municipal, sustentada pelos municípios para uso gratuito pelos cidadãos sem discriminação. Eram anglo-saxônicas em sua origem, e surgiram quase ao mesmo tempo na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Essas bibliotecas são agora formadas com o emprego de técnicas próprias, e, em muitos casos, contam com um grande acervo de livros e, literalmente, milhões de leitores. Um dos fatores sociais mais significativos da segunda metade do sé- culo xix e do primeiro quartel do século xx foi o desenvolvimento amplo do hábito da leitura entre os povos ocidentais. Até mesmo as nações mais conservadoras da Europa desenvolveram sistemas de bibliotecas mais ou menos de acordo com o modelo anglo-saxão. iii A visão moderna das bibliotecas, portanto, é a que considera toda a população como sua clientela. Até mesmo em bibliotecas universitárias e especializadas, em quase todos os lugares, os estudantes sérios dispõem sem dificuldade dos recursos da biblioteca. Esta é a atitude que, espero e acredito, assumirá o bibliotecário, na Índia. Deve ficar bem claro, en- tretanto, que regras ou noções universais devem sempre receber um tratamento local e individual. Não acho que os métodos das bibliotecas dos Estados Unidos, por mais que eu as admire, sejam completamente adequados para a Europa, ou até mesmo para a Inglaterra. A psicologia dos povos varia, e variantes da prática bibliotecária devem ser feitas para adequar-se a estefato. Mais ainda entre os povos da Índia, com sua imen- sa história, fortes tradições, e distintas características étnicas, a aplicação pura e simples das ideias anglo-saxônicas a algo tão íntimo, pessoal e espiritual como a literatura, sem modificação, pode não ser sensata. Tive muitos estudantes estrangeiros nas bibliotecas de que cuidei, e sempre procurei convencê-los de que o que eles aprendem de nós deve sempre ser examinado cuidadosamente à luz das necessidades de seus próprios países de origem. Sinto que isto é imensamente importante para a Índia. Isso, em minha opinião, dá um valor especial à obra do Sr. Rangana- than. Ele trata de todas as questões que ocupam as mentes dos bibliotecá- rios europeus. A seleção de livros, com uma mente universal que deter- mina que todos os lados devem ser ouvidos, e que nenhuma preferência pessoal terá influência indevida; os melhores métodos para mobiliar e equipar bibliotecas; uma descrição ponderada sobre o que pode ser pro- porcionado pelo catálogo e pela classificação: isto será óbvio para o leitor. Ele escreve, ademais, como um educador — como deveriam ser todos os bons bibliotecários —, e espero que tenha deixado bem claro que o desenvolvimento de uma nação culta, com um profundo amor por sua as cinco leis da biblioteconomiaxxiv grande literatura e um entendimento correto da importância dos livros, deve começar com o atendimento criterioso e generoso das crianças. No Ocidente, toda criança é um leitor em potencial. Também deve ser assim no Oriente, mesmo em lugares onde as crianças ainda não tiveram a oportunidade de ler o bastante ou ter acesso aos livros. iv Um experiente bibliotecário norte-americano observou certa vez que uma tora de madeira com um livro numa ponta e um bibliotecário na outra faria uma perfeita biblioteca. Era, naturalmente, um exagero pi- toresco, mas é o elemento pessoal que o bibliotecário traz para a bibliote- ca que lhe dá sua vitalidade; muitas bibliotecas, infelizmente, carecem de vitalidade; têm funcionários, mas não têm bibliotecários. O espírito do bibliotecário autêntico nunca foi descrito com mais beleza ou sabedoria do que no epitáfio escrito por Austin Dobson para Richard Garnett, um dos maiores bibliotecários do século xix: Dele podemos falar merecidamente, — Aqui estava alguém Que sobre a maioria das coisas sabia mais que todos; Que amava aprender de tudo sob o sol, E olhava para cada aprendiz como se fosse um irmão. As implicações disto são suficientemente profundas para chamar à mo- déstia o mais consumado bibliotecário. Isto implica que o bibliotecário deve ser uma pessoa de mente aquisitiva, que não fecha a mente para nenhum assunto de interesse humano. É sempre um aprendiz; deve es- tar sempre alerta e acolher qualquer desenvolvimento do pensamento humano e toda aventura do espírito humano. Deve, portanto, ser uma pessoa educada não somente no sentido geral, mas em toda operação e processo da biblioteca. Deve amar o próximo. Quando jovens me pro- curam como aspirantes ao trabalho bibliotecário, pergunto-lhes: “Vocês gostam de livros?” Invariavelmente respondem que gostam, mas per- gunto-lhes em seguida: “Vocês gostam de gente e de servir às pessoas?” Rejubilo-me de que na Índia haja pessoas que atualmente tomaram em suas mãos o papel de selecionar e treinar bibliotecários. Não conheço profundamente a situação do país em matéria de bibliotecas, mas com suas grandes literaturas, tão variadas, haverá sem dúvida muitos cam- pos de pesquisa e muitas possibilidades bibliotecárias até o momento não sonhadas nem mesmo pelos indianos. Eis, portanto, um livro que pode servir de inspiração para todos aque- les que, em posição mais elevada ou mais humilde, servirão à Índia em suas bibliotecas. Concebido com um espírito aberto e generoso, deve introdução à primeira edição xxv entusiasmar quem ingressa em nossa profissão naquele país com as imensas, embora nem sempre impressionantes, possibilidades de uma biblioteca. Mostrará que ela não é meramente uma coleção de livros que acumula idade e pó, mas um organismo vivo e em crescimento, que prolonga a vida do passado e a renova para a geração presente, mas que também dá a esta geração o melhor que seus próprios pesquisadores, pensadores e sonhadores têm a oferecer. W.C. Berwick Sayers Bibliotecário-Chefe, Croydon Professor da School of Librarianship da University of London Examinador de organização de bibliotecas da Library Association 1 CAPÍTULO 0 GÊNESE 01 Ingresso na Profissão de Bibliotecário Em julho de 1923, a University of Madras criou o cargo de bibliotecário da universidade. Em novembro, fui nomeado seu primeiro ocupante. Na época, ensinava matemática no Presidency College, em Madras, uma das faculdades da universidade. Comecei meu trabalho como bibliotecário na tarde de quinta-feira, 4 de janeiro de 1924. Nas primeiras semanas, não havia quase nada para fazer. Sentia-me enfastiado, e queria muito voltar a dar aula. Mas meus amigos aconselharam-me a não me precipitar. Ocupei-me com a catalogação de centenas de livros que estavam empilhados. O nú- mero de leitores que usavam a biblioteca raramente passava de dez por dia. 02 Primeira Experiência Em outubro de 1924, ingressei na School of Librarianship do Univer- sity College, em Londres. Sua biblioteca era bastante completa, ainda que pequena. Bastaram uns dois meses para ler os livros do acervo. Depois dessa bagagem teórica, adquiri alguma experiência prática, trabalhando nas bibliotecas públicas de Croydon por uns seis meses. Nos seis meses seguintes, visitei cerca de uma centena de bibliotecas de diferentes tipos. Os bibliotecários deram-me plena liberdade de observar, fazer perguntas e conversar. Esta foi a primeira experiência. Foi uma experiência rica. 03 Tendências Bibliotecárias As bibliotecas encontravam-se em diferentes estágios de desenvolvi- mento, o que facilitou um estudo comparado das práticas bibliotecárias. As tendências progressistas eram impressionantes. Mas, as linhas de de- senvolvimento nos diversos setores da prática biblioteconômica pareciam desconexas. As conversas com quem trabalhava nesses setores davam-me a impressão de que cada um trabalhava isolado sem muito contato ou relação com outros setores. Mesmo quem trabalhava num mesmo setor não dava muito sinal de trabalho em equipe. Não havia indicação alguma de que houvesse uma visão de conjunto. Todos esses fatores tendiam a ocultar a característica comum de tendências que estivessem surgindo nos diferentes setores. Portanto, o que se via era somente um agregado de 1 as cinco leis da biblioteconomia2 técnicas que não formavam um todo. Era como se os desenvolvimentos futuros fossem totalmente imprevisíveis. Tudo parecia ser uma questão de norma prática, rigorosamente empírica. 04 Método Científico A experiência que eu acumulara em matéria de estudo e pesquisa cien- tífica gerou uma sensação de revolta contra o ter de guardar na memória e lidar com uma miríade de informações desconexas e tipos de práticas sem relação entre si. Será que todos esses agregados empíricos de informações e práticas não seriam redutíveis a um punhado de princípios fundamen- tais? Será que não se poderia adotar, neste caso, o processo indutivo? Não seria possível deduzir, a partir dos princípios fundamentais, todas as práticas conhecidas? Será que os princípios fundamentais não contêm, como implicações necessárias, muitas outras práticas que atualmente não são correntes, nem conhecidas? Não se tornarão tais práticas necessárias sempre que as condições-limite estabelecidas pela sociedade se modifica- rem? Estas questões começavam a fremir em minha mente. É claro que havia a consciência de que o tema a ser estudado pertencia ao campo das ciências sociais e não ao das ciênciasnaturais. O método científico, porém, era aplicável igualmente a ambos os campos. A única diferença estava na posição ocupada pelos princípios fundamentais. Estes constituíam hipó- teses nas ciências naturais e princípios normativos nas ciências sociais. Mas o ciclo do método científico era semelhante em ambos os casos. A pergunta a ser respondida era esta: quais são os princípios normativos a que aludem as tendências que se observam nas práticas bibliotecárias e aludem às tendências futuras que atualmente ainda não são muito visíveis? Isso agitava minha mente desde os primeiros meses de 1925. 05 Enunciado Depois que voltei à Índia, em julho de 1925, o trabalho extenuante de organizar e formar a biblioteca da universidade de Madras, praticamente a partir do zero, afastou esse problema do meu consciente. Os 32 mil volu- mes da biblioteca tinham que ser classificados e recatalogados; ao mesmo tempo, era preciso planejar e desenvolver a Classificação dos Dois Pontos [Colon Classification] e o Código para o Catálogo Sistemático [Classified Catalogue Code]. Implantou-se o acesso livre às estantes. Não tinha ajuda no serviço de referência. A publicidade da biblioteca era feita em grande escala. Como consequência, o comparecimento diário saltou de uns vinte para duzentos. Os funcionários tinham que ser recrutados e treinados. Ao mesmo tempo, era preciso redigir um manual de administração de bibliotecas. As aquisições no ano pularam de mil para seis mil. O projeto do novo prédio da biblioteca exigia sua parcela de reflexão. A pressão 3 de todas essas tarefas compulsórias empurrava os princípios normativos para camadas cada vez mais profundas da mente. Mas era uma pressão conveniente e proveitosa. Cada passo do projeto da Classificação dos Dois Pontos, cada regra formulada para o Código do Catálogo Sistemático e cada parágrafo do rascunho do manual de administração de bibliotecas teve origem e se irradiou dos princípios normativos que se achavam ocultos, sob aquela pressão, no subconsciente. Inversamente, os avanços e as necessidades impostas por essas tarefas estavam inconscientemente moldando os princípios normativos numa forma exprimível. Isso durou três anos. O ponto crítico foi alcançado no final de 1928, a altas horas da noite. A pressão mudou de rumo. Todas as outras tarefas foram postas de lado. O esforço era insuportável. À tardinha, o professor Edward B. Ross fez-me sua costumeira visita diária. A ele eu devia minha formação intelectual. Fora meu professor de matemática durante todo o curso uni- versitário; sua versatilidade e sua amizade o levaram a se interessar, de modo profundo e inteligente, por minha nova área de trabalho. Ele perce- beu meu estado de angústia. Partilhei com ele minhas preocupações. Ele se preparava para montar a motocicleta. Seus olhos brilhavam, o que era sempre indício de que estava descobrindo alguma novidade, então, surgiu o sorriso característico dessas ocasiões, e falou, “Você quer dizer, ‘Os livros são para usar’; você quer dizer que esta é a sua primeira lei.” Partiu sem nem ao menos esperar por minha reação; este era bem o seu jeito de ser. Mas seu toque de intuição fez-me voltar à realidade com grande alívio. Os enunciados das outras leis surgiram automaticamente. Levei umas três horas preenchendo cinco folhas de papel com a dedução das cinco leis. Seus enunciados estavam assim completos. 06 Divulgação A seguir teve início a divulgação das implicações dessas leis nos diver- sos setores da prática bibliotecária. Não havia então nenhuma publicação profissional na Índia dedicada à biblioteconomia. No entanto, alguns anos antes, eu participara do lançamento da revista mensal South Indian Teacher, e suas páginas estavam abertas para mim. Para tratar dos problemas da organização de bibliotecas e do serviço de referência, que tivessem interesse para o público em geral, o jornal local Hindu prestou-se ao duplo objetivo de fazer propaganda da biblioteca e liberar minha tensão. Em dezembro de 1928, a University of Madras convidou-me para proferir uma série de palestras para professores durante as férias, por ocasião da conferência provincial de educação, que, naquele ano, foi realizada no Meenakshi College, em Chidambaram, às vésperas de se transformar na Annamalai University. Havia cerca de mil professores presentes, muitos deles meus amigos pessoais. Não poderia ter havido uma plateia com mais afinidade gênese as cinco leis da biblioteconomia4 e mais simpática na primeira apresentação formal das recém-enunciadas cinco leis da biblioteconomia. As implicações de cada uma das leis foram expostas em duas palestras. Algumas, como era corrente, foram ilustradas com a projeção de diapositivos e diagramas e de viva voz. Algumas novas práticas foram também deduzidas como passíveis de virem a existir. Algu- mas já se concretizaram; a Insdoc list, iniciada em 1954, é substancialmente uma delas. Como a plateia consistia inteiramente de professores, as impli- cações educacionais das cinco leis mereceram grande ênfase. Entretanto, elas não são inteiramente apresentadas neste livro. Tornaram-se o único tema de uma série independente de palestras de férias, proferidas em Ma- dras três anos mais tarde, que foram expandidas no livro School and college libraries (1942). Em dezembro de 1930, a primeira conferência pan-asiática de educação foi realizada em Benares. Seu organizador, P. Seshadri, con- vidou-me para secretariar a sessão sobre serviços bibliotecários. Isso me propiciou o ensejo de expor as cinco leis para um público formado por bibliotecários, que, naquela época, ainda eram poucos. Foi um incentivo a mais para que eu desenvolvesse minuciosamente todas as implicações das leis da biblioteconomia na área de organização e legislação bibliotecária. Na verdade, rascunhei um anteprojeto de lei-modelo de bibliotecas, que foi discutido, artigo por artigo, durante a conferência. A lei de bibliotecas de Madras (1948) foi baseada nesse anteprojeto. A de Hyderabad (1955) também a seguiu. Essa lei-modelo encontra-se no capítulo 4 da primeira edição deste livro, mas, nesta, foi substituída por uma versão melhorada e mais ousada, projetada em 1950 para adaptar-se à situação da Índia como Estado independente. Acima de tudo, a School of Library Science, fundada em abril de 1929, ensejou a divulgação sistemática das cinco leis a cada ano. 07 Publicação A Madras Library Association foi fundada em janeiro de 1928 com o objetivo de promover a criação de um serviço de bibliotecas de alcance nacional. Cerca de 800 membros a ela se filiaram em pouco tempo. Natu- ralmente, eram todos amantes de livros e amigos da biblioteca, mas nem todos pertenciam à profissão de bibliotecário. De fato, mal chegava a dez o número de profissionais em Madras naqueles tempos. Para atrair o interesse ativo dos sócios, o presidente, Sr. K.V. Krishnaswamy Ayyer, teve a ideia de solicitar a alguns que apresentassem trabalhos para um simpósio. Houve uma boa resposta a essa iniciativa. Os anais do simpósio foram publicados em 1929 sob o título Library movement: a collection of essays by divers hands. O ensaio principal foi What makes a library big, de Rabindra Nath Tagore, o poeta nacional. Em 1930, decidiu-se iniciar uma publicação seriada regular “sobre os aspectos técnicos e práticos do trabalho bibliotecário”. Percebeu- -se que seria apropriado começar com um volume que apresentasse uma 5 exposição completa das cinco leis da biblioteconomia, do qual todos os demais volumes decorressem como consequências necessárias. Assim, a primeira edição deste livro foi publicada em junho de 1931. Com a graça de Deus, os volumes posteriores fluíram, ano após ano, desdobrando as implicações das cinco leis em cada um dos ramos da biblioteconomia. Cerca de 48 livros foram assim publicados, algunspela Madras Library Associa- tion, e outros por diversas entidades. E em 1953, chegou-se ao vigésimo primeiro volume da série da Madras Library Association. Tratava-se de Library science in India: silver jubilee volume presented to the Madras Library Association. Com mais dois amigos passamos vários dias dando forma à primeira edição. O Sr. K. Swaminathan, então professor de inglês no Presidency College, empenhou-se grandemente no exame de cada frase, com olhar crítico, de modo a reduzir ao mínimo as deficiências de linguagem e estilo. Sir P.S. Sivaswamy Aiyer — respeitável estadista da Índia, ex-membro do governo de Madras, ex-vice-reitor da University of Madras e da Benares Hindu University, erudito intelectual e grande amante de livros, leu as pro- vas tipográficas, fez muitas sugestões úteis e, por fim, escreveu o prefácio. Meu professor em Londres, W.C. Berwick Sayers, escreveu a introdução. Foi dele que recebi a maior inspiração. Além de assistir às suas aulas, compartilhei com ele muitas horas de conversas informais. Ele me ajudou de muitas formas a fazer com que o ano que passei na Grã-Bretanha fosse verdadeiramente proveitoso. Minha consideração e afeição para com estes três cavalheiros fizeram-me manter, na presente edição, o texto original, o prefácio e a introdução. 08 Consequências Ao longo dos 25 anos desde a primeira edição, surgiram, no entanto, duas mudanças fundamentais. Uma foi a generalização do conceito de ‘livro’, acentuado nos anos recentes no vocábulo ‘documentação’. A se- gunda mudança foi a generalização do termo ‘crescimento’, que ocorreu em minhas próprias ideias, suscitada enquanto lecionava e trabalhava nos livros Library development plan (1950) e Library book selection (1953). Além dis- so, senti a necessidade de responder à pergunta ‘a biblioteconomia é uma ciência?’ Além disso, o movimento bibliotecário tem feito grandes avanços em muitos países, inclusive na Índia. Para dar lugar a essas mudanças, acrescentei um oitavo capítulo, intitulado ‘Método científico, biblioteco- nomia e a marcha da digvijaya’. Este capítulo é a novidade nesta edição. 12 de agosto de 1956 248 Hofwiesenstrasse, Zurich 57 gênese as cinco leis da biblioteconomia6 CAPÍTULO 1 A PRIMEIRA LEI 11 Princípio Fundamental A Primeira Lei da biblioteconomia se assemelha à de qualquer outra ciência: incorpora um princípio fundamental. Na verdade, é evidente por si mesma; somos levados a supor que seja trivial. Entretanto, esta é uma característica invariável de todas as primeiras leis. Vejamos, por exemplo, a primeira lei de conduta upanixádica* — satyam vada — ‘falar a verdade’. Assim também é a primeira lei do movimento, de Newton. 111 Enunciado A Primeira Lei da biblioteconomia é: os livros são para usar. Nin- guém questionará a correção desta lei. Entretanto, na vida real, a história é diferente. Os órgãos responsáveis por bibliotecas raramente levaram esta lei em consideração. 12 Negligência da Lei Se examinarmos a história de qualquer aspecto da prática bibliotecária, nela encontraremos inúmeras provas da negligência deplorável com que esta lei é tratada. 121 Biblioteca Acorrentada Vejamos, em primeiro lugar, a maneira como os livros eram mantidos nos séculos xv e xvi. Naqueles dias, não era incomum encontrar livros realmente acorrentados às estantes. Eles eram equipados com molduras e argolas de bronze, presas a correntes de ferro, com uma das extremidades fixada nas estantes. Os livros assim acorrentados não podiam se afastar das estantes além do comprimento da corrente. Sua liberdade estava confinada ao espaço determinado pelas correntes. É claro que tal acorrentamento propiciava mais a preservação do que o uso dos livros. Na verdade, as bibliotecas eram vistas, nessa época, não como organizações voltadas para a promoção do uso dos livros, mas para a sua preservação. * Conforme ao Upanixade, um dos livros da literatura védica que tratam da divindade, da criação e da existência. (n.e.) 6 7 122 Preservação para a Posteridade Talvez seja interessante refletir um pouco sobre esse complicado processo de preservação. Qual teria sido a finalidade dessa preservação? É difícil pensar em alguma finalidade, a não ser a de preservação para a posteridade. Sem dúvida, é uma característica saudável ou, de qualquer forma, uma característica inevitável da natureza humana, que pensemos em nossos filhos — na nossa posteridade — e que estejamos preparados a negar-nos muitas coisas, a fim de legá-las intatas à posteridade. Esta prática, porém, implica uma dedução inevitável. Mesmo que tenhamos o anseio de legar nossos livros à posteridade, cada geração pode ser impelida por um motivo altruístico exatamente similar, e, por conseguinte, os livros talvez tenham que ficar para sempre acorrentados e jamais serão liberados para o uso. Este aspecto da questão parece não ter sido percebido por muito tempo e ‘os livros existem para serem preservados’ usurpou o lugar de ‘os livros são para usar’. 123 Costume Herdado Essa tendência de entesourar livros teve origem numa época em que eles eram raros e de produção difícil. Antes da invenção da imprensa, levavam-se anos para copiar um livro. Copiar o Mahabharata era traba- lho de uma vida inteira. Nessas condições, havia uma justificativa para esquecer que os livros são para usar e para exagerar na sua preservação. Mas essa tendência parece infelizmente que se transformou num hábito regular, como resultado de uma longa prática. A situação foi totalmente alterada pela invenção da imprensa. Ainda assim, passaram-se séculos até que fosse superado esse costume herdado de há muito tempo. O primei- ro passo consistiu em declarar anistia para os livros e libertá-los de seus grilhões. Entretanto, mesmo depois que foram desacorrentados e se lhes permitiu que fossem retirados da biblioteca para uso e manuseados pelos leitores, não houve, por um longo tempo, um reconhecimento generoso, por parte daqueles que mantinham e administravam a biblioteca, do direito dos leitores ao uso desembaraçado dos livros. Muitas eram as restrições postas no caminho dos livros para que fossem usados livremente, e só em anos recentes é que parece ter-se firmado um vigoroso movimento visando a eliminar todas essas deficiências. Este movimento ainda não se tornou, de forma alguma, universal. Há vários países — e nossa terra parece reivindicar, com justiça, ser classificada entre eles — que ainda mal foram afetados por este novo movimento. 124 Exemplo 1 Um professor de uma faculdade chefiou seu departamento por quase 25 anos. O estudo de sua especialidade, a zoologia, aos poucos foi limitando a primeira lei as cinco leis da biblioteconomia8 o âmbito da sua visão, e ele passou a ter uma mentalidade mecanicista. Detalhes triviais começaram a se avolumar para ele. Por isso, passou a executar, pessoal e meticulosamente, cada rotina, desde abrir as portas e janelas até esvaziar os cestos de lixo. Era comum ter acessos de cólera se tudo não estivesse no devido lugar. Infelizmente, sob a influência desta tendência incoercível, começou a ver as estantes, mais do que as mãos dos leitores, como o lugar próprio para os livros. Seus auxiliares, cuja promoção nos cargos dependia da boa vontade dele, preferiam abster-se de usar os livros a correr o risco de despertar sua cólera ao retirá-los das estantes. Os alunos do primeiro ano, os únicos que desconheciam suas idiossincra- sias, solicitavam ocasionalmente os livros da biblioteca do departamento. Ele costumava despachá-los com este dilema: “Vocês acompanharam as aulas? Se prestaram atenção, não precisam destes livros. Se não consegui- ram acompanhar as aulas, nada lucrarão com a leitura deles.” Os alunos mais antigos jamais o abordavam, pois haviam passado por experiências dolorosascom suas tentativas baldadas. O resultado foi que, quando ele finalmente se aposentou, seu sucessor teve que abrir as páginas de vários dos livros que ele deixara! Em alguns casos, descobriu-se até mesmo que não valia a pena perder tempo em abri-los, uma vez que haviam se tor- nado completamente desatualizados e era preciso descartá-los. Teria essa carreira profissional sido possível se a faculdade tivesse agido conforme a lei segundo a qual os livros são para usar? 125 Exemplo 2 A força e a inexorabilidade extraordinárias dessa tendência herdada, que se interpõe entre os livros e seus usuários, são realçadas por um outro caso, desta vez com um professor de filosofia. Este era um filósofo não somente de profissão, mas também pela prática e pelo temperamento. Era também uma daquelas pessoas que sentiam vontade de ser úteis à comuni- dade. Uma forma de serviço comunitário que nosso professor de filosofia decidiu prestar consistia em dar uma oportunidade aos seus vizinhos para que se instruíssem. Para isso, costumava investir a maior parte de suas economias em livros. Depois que formou uma boa coleção, construiu uma bela cabaninha para leitura, a fim de abrigar os livros. Costumava passar a maior parte do tempo livre nessa cabana, de forma que pudesse emprestar pessoalmente os livros. Ficou, entretanto, muito desapontado com a total indiferença dos vizinhos. Por isso, levou-me um dia à cabana para que eu o aconselhasse. No trajeto, foi ficando cada vez mais eloquente ao falar dos excelentes livros que comprara para a biblioteca, da deprimente indiferença das pessoas do lugar com relação ao uso de livros, e assim por diante. A conversa que se seguiu tão logo entramos na encantadora mas desolada cabana lançou uma luz profusa sobre a persistência do hábito de preservar, 9 há muito herdado, que podia sufocar até mesmo a determinação sincera e as boas intenções de um honesto filósofo. “Onde estão os seus livros, meu amigo?” “Estes dez armários estão cheios deles. Gastei cem rupias* na compra de cada um destes armários, confeccionados especialmente para isso, etc. etc. etc.” “Mas, querido professor, por que cobriu estas belas portas de vidro transparente com estas horríveis folhas de papel pardo?” “Você não sabe como as visitas me incomodam. Se eu não colocar este papel pardo, verão os livros através do vidro. E aí pedirão ou este ou aquele e terei que retirar todos os livros.” Pobre filósofo derrotado! Sem comentários. 126 Exemplo 3 Embora estas coisas sejam corriqueiras para nós do século xx, basta voltar apenas um século para encontrar a forte influência deste costume de acumulação nas bibliotecas norte-americanas. T.W. Koch, da North- -Western University, registra uma história significativa, mas típica, de um bibliotecário da Harvard University. Este “certa vez, tendo terminado o inventário da biblioteca, foi visto cruzando o campus com um sorriso particularmente feliz”. Perguntado qual o motivo de seu humor excep- cionalmente agradável, exclamou orgulhoso, “Todos os livros estão na biblioteca, menos dois. Agassiz está com eles e vou buscá-los”. 127 O Bibliotecário Moderno Por outro lado, um bibliotecário moderno, que acredita na lei de que os livros são para usar, só se sente feliz quando os leitores esvaziam constantemente as estantes. O que o preocupa não são os livros que são retirados da biblioteca. O que o deixa perplexo e o deprime são os volumes que ficam em casa. Ele também atravessará constantemente o pátio atrás de seus Agassiz. Mas irá até eles não para pegar de volta os livros que es- tão usando, mas para entregar as novas aquisições que precisam ser-lhes apresentadas o mais rápido possível. 128 A Força da Primeira Lei Os diferentes estágios pelos quais a força da lei os livros são para usar levou à gradual remoção das restrições induzidas pelos mencionados costumes herdados podem ser resumidos da seguinte maneira: primeiro, * O autor menciona rupias, mesmo quando se refere a valores monetários de outros países. Diante da dificuldade de definir uma equivalência atual, em termos de cotação ou de poder aquisitivo, tanto da rupia quanto de uma moeda-padrão de circulação internacional, foi mantida nesta tradução a redação original do autor, que data de 1931. (n.e.) a primeira lei as cinco leis da biblioteconomia10 as correntes foram removidas e vendidas como ferro-velho, mas o acesso continuava limitado aos poucos eleitos. Mais tarde, o uso dos livros foi permitido a quem podia pagar por isso. Em seguida, veio a etapa quando se tornaram acessíveis para todos, mas somente para uso no recinto da biblioteca. Depois, passou a ser feito o empréstimo aos poucos favorecidos; posteriormente, aos que pagavam uma taxa, e, finalmente, o empréstimo gratuito para todos. Talvez estejamos acabando de atingir este estágio em nossa terra. Mas não foi isso, de forma alguma, o que aconteceu alhures, onde a Primeira Lei já era conhecida há bastante tempo, para revelar todas as implicações ali profundamente enraizadas. Nesses lugares, métodos agressivos, que tornaram bem-sucedidos outros empreendimentos, foram empregados para fazer avançar o uso dos livros. Depois, foram abertas filiais de bibliotecas nas grandes cidades, a fim de oferecer uma coleção satisfatória de livros e uma sala de leitura convidativa a poucos minutos de caminhada de cada residência. Posteriormente, os livros eram despa- chados, mediante o pagamento de uma taxa insignificante, àqueles que não podiam, de forma conveniente, chegar até eles. Mais tarde, caixas de livros eram enviadas gratuitamente às residências daqueles que se ofe- recessem para mostrá-los aos vizinhos. Mais recentemente os livros são transportados num furgão, de rua em rua, para atendimento dos morado- res. É difícil imaginar qual o triunfo adicional que ainda está reservado à Primeira Lei. Mas, como afirmou J.P. Quincy, é-se tentado a adaptar um conhecido paradoxo celta,* ao dizer que uma biblioteca pública é tão boa quanto uma biblioteca privada e, para o estudo dos livros, possui vantagens indiscutíveis sobre ela.2 13 Localização da Biblioteca A localização de uma biblioteca pode, em geral, ser tomada como um índice do grau de confiança que os órgãos responsáveis por bibliotecas têm na lei os livros são para usar. 131 Exemplo 1 Ocorreu-me visitar Dindukkal, uma cidade no sul da Índia. Os pró- ceres do lugar convidaram-me para uma conversa sobre a construção de uma biblioteca para a cidade. A questão da localização logo veio à baila. Praticamente todos sugeriram um lugar nos arrabaldes da cidade. Um dos motivos para sugerir um lugar tão remoto era de que havia muita poeira no centro e de que os livros se estragariam. Outro motivo era que, se não fosse assim, ‘todo tipo de gente’ teria acesso à biblioteca. Nunca lhes ocorrera que a função da biblioteca era fazer com que ‘todo tipo de gente’ * O paradoxo lembrado é o que diz que um homem é tão bom quanto outro homem e também muito melhor. (n.e.) 11 usasse os livros e que o problema da poeira não deveria permitir que a biblioteca ficasse afastada da área onde fosse acessível e útil. Por outro lado, mostraram-se chocados quando me ouviram sugerir uma localização na rua comercial, que atravessa o coração da cidade. Tive que citar o exemplo de várias cidades do Ocidente e explicar, minuciosamente, o evangelho da organização da biblioteca antes que admitissem haver pelo menos algo a dizer em favor de minha sugestão. 132 Exemplo 2 Numa conferência no Kellett Hall, não faz muito tempo, antes da exis- tência do serviço de ônibus, o talentoso conferencista S. Satyamurti, de forma jocosa, fixou as coordenadas de uma das nossas grandes bibliotecas da seguinte maneira: “Encontre um lugar na cidade que fique no mínimo a dois quilômetros de qualquer linhade bonde ou de qualquer estação ferroviária, que não tenha nem mesmo um posto de jinquirixá num raio de um quilômetro, cujo alojamento de estudantes mais próximo fique a uma distância de cinco quilômetros. Talvez só exista um único lugar na cidade que atenda a esta descrição e esse será o lugar escolhido para nossa biblioteca.” E, no entanto, ninguém reclamou, pois a biblioteca era vista mais como um ornamento da cidade do que como uma instituição, com a função essencial de propagar o uso dos livros. 133 Exemplo 3 Por outro lado, em todas as cidades ocidentais que creem vivamente na Primeira Lei da biblioteconomia, e que votam em favor das bibliotecas e as mantêm, pois têm a preocupação de que os livros sejam usados, a biblioteca principal é normalmente erigida no centro da cidade, num lugar por onde a maioria dos cidadãos passe obrigatoriamente todos os dias, por algum motivo. Ela também funciona através de diversas filiais e postos de aten- dimento em partes diferentes da cidade, de modo que a distância não seja empecilho ao livre e pleno uso dos livros. Dublin, por exemplo, conta com cinco bibliotecas regionais para uma população de 324 mil habitantes. Até mesmo a próspera Edimburgo, com uma população de 420 mil habitantes, já construiu sete bibliotecas regionais. Manchester sentiu a necessidade de 30 filiais para que sua população, que soma 744 mil habitantes, possa usar plenamente seus livros. Birmingham, com 919 mil habitantes, não acha que suas 24 bibliotecas sucursais sejam suficientes para difundir o uso dos livros. Toronto, com uma população de apenas 550 mil habitantes, criou 15 filiais e planeja construir mais. Cleveland, onde vivem cerca de 800 mil pessoas, dá acesso a seu acervo de livros em 25 filiais e 108 pos- tos de atendimento, enquanto 25 filiais e 108 postos de atendimento são considerados insuficientes para os três milhões de moradores de Chicago. a primeira lei as cinco leis da biblioteconomia12 134 Analogia com a Localização do Comércio Tão logo a ideia de que os livros são para usar esteja firmemente estabelecida, tão logo as bibliotecas compreendam que a sua existência é justificada somente na medida em que os livros sejam usados pelos leito- res, não haverá qualquer diferença de opinião quanto à sua localização. Uma localização igual à descrita pelo conferencista do Kellett Hall jamais seria imaginada. O comerciante sagaz, que deseja vender seus produtos, instala sua loja no santuário (sannidhi) de um templo popular. O dono de uma cafeteria, que quer ver seu negócio prosperar, instala-a perto de um grande albergue estudantil, como o Victoria Hostel. Um vendedor de bé- tel, preocupado com a receita diária, arma sua tenda defronte a um hotel grande e popular. Do mesmo modo, a biblioteca, interessada em que seus livros sejam plenamente utilizados, instalar-se-á no meio de sua clientela. Por outro lado, nenhum santuário de templo popular existe sem uma loja e a vizinhança de todas as repúblicas de estudantes está invariavelmente rodeada de cafés e lojas de vender bétel. O mesmo acontece com as biblio- tecas. Qualquer lugar onde houver habitualmente a presença de grupos humanos será um local potencial para instalar uma biblioteca. 135 Exemplo 4 Um exemplo extremo mas feliz desta dedução da Primeira Lei da biblio- teconomia nos é dado pela biblioteca de jardim, em Lisboa.3 Lisboa, construída sobre sete colinas, como a nossa Tiruppati e com- parável à nossa Madura em tamanho e população, conquistou um lugar único no mundo da biblioteconomia. Um provérbio português diz: “Quem não viu Lisboa, não viu coisa boa”.4 Se esta afirmativa é válida ou não, Lisboa certamente sobrepujou todas as demais cidades com sua singular biblioteca de jardim, que é certamente uma coisa boa. Na encosta de uma das colinas, sobranceiro às águas azuis do Tejo, encontra-se um ensolarado jardinzinho público, com um lago artificial, de mármore, no centro, em torno do qual as flores tecem uma orgia nas cores do arco-íris e as crianças gritam e correm em alegre êxtase. Ao fundo, há um cedro gigantesco, que se alastra como um guarda- -chuva, desafiando o sol e a chuva. Sob sua sombra intensa predomina um silêncio profundo, e ali se encontra uma fileira de cadeiras em torno de uma coleção encantadora de volumes numa linda estante. Estudantes com suas capas esvoaçantes, trabalhadores cobertos de caliça, rústicos camponeses de olhos tímidos e lânguidos, empregados de escritórios e lojas mastigando o almoço, soldados, gráficos, eletricistas, marinheiros e estivadores, todos compartilham o conteúdo dessa biblioteca ímpar, despojados de qualquer formalidade, mas auxiliados pela ágil e simpática bibliotecária, a andar daqui para lá, de lá para cá, com seu sorriso radiante. 13 Quem teve essa ideia? Foi uma sociedade educativa particular, conhe- cida como Universidade Livre. Na expectativa de promover o amor pela leitura em todas as classes, a Universidade Livre fundou esta biblioteca de jardim, fornecendo os livros e o mobiliário.* Os próceres de Lisboa, que acreditavam na Primeira Lei da biblioteconomia, calorosamente aprova- ram este empreendimento e contrataram os serviços de uma bibliotecária. Conta com menos de mil volumes, que são substituídos de tempos em tempos. Possui um pouco de tudo — clássicos, autores contemporâneos, viagens, história, eletricidade, química, taquigrafia, contabilidade, constru- ção, ferraria, navegação, e assim por diante. E esses livros são avidamente procurados por todos os visitantes do jardim. A biblioteca fica aberta diaria- mente das 10 às 18 horas. As estatísticas mostram que durante o primeiro ano não houve menos de 25 mil leitores que a utilizaram. Que a sombra do vetusto cedro no jardim público da cidade das sete colinas jamais deixe de crescer! Que ele sirva de abrigo a esse empreendimento patriótico, a serviço desta verdade absoluta: os livros são para usar! 136 Exemplo 5 Também nas escolas e faculdades, a localização das bibliotecas pode ser tomada como um índice confiável do grau de fé das autoridades na lei os livros são para usar. A evolução das ideias relativas à localização e dimen- são das bibliotecas escolares e universitárias tem ocorrido de modo muito paralelo ao crescimento gradual da crença nesta lei. Conheci, por dentro, uma escola. Sua biblioteca consistia de algumas centenas de volumes, na sua maioria livros didáticos, que as editoras enviavam como amostras de cortesia e eram descartados pelos professores porque não mereciam estar em sua posse particular. Essas poucas centenas de livros estavam cuida- dosamente trancados num armário de madeira. O próprio armário ficava trancado numa sala de pouco mais de um metro quadrado, cuja ventilação se dava por uma única janela pequena. Havia uma característica mais assustadora. O diretor da escola invariavelmente dava aulas — inclusive suas inumeráveis aulas especiais — no saguão que dava para esta sala, quase bloqueando a entrada. Quem se lembra do respeito mortal em que eram tidos os diretores dessas escolas, vinte e cinco ou trinta anos atrás, perceberá o que isso significava para os livros da biblioteca. Para quem não sabe, pode-se dizer que o aparecimento da figura do diretor na esquina era suficiente para fazer com que um grupo de alunos, que jogavam bolas de gude ao sol da tarde, corresse para salvar a própria pele, escondendo- -se nos cantos mais escuros das cozinhas das casas próximas, onde seus * A biblioteca do jardim da Estrela, ou jardim Guerra Junqueiro, ainda em funcionamento. Esta biblioteca-quiosque dispõe de cerca de mil livros para consulta e empréstimo, jornais, revistas e jogos de entretenimento. [http://revelarlx.cm-lisboa.pt/gca/?id=1056] (n.e.) a primeira lei as cinco leis da biblioteconomia14 olhares e modos, assustados e denunciadores, fariamas mães exclamar, ‘O diretor está indo para o templo?’ Seria muito difícil algum dos meninos se atrever a sair de seu esconderijo, enquanto o mais corajoso dos ousados diabretes não se arriscasse a espreitar furtivamente e anunciar, contente, ‘Caminho livre’. Com esta informação, é fácil perceber como a localização da biblioteca escolar era eficiente, se o objetivo fosse evitar que os livros fossem utilizados. Com certeza, a escola não acreditava, naqueles dias, que os livros são para usar, e não era, de forma alguma, uma exceção. 137 Exemplo 6 Há não muito tempo, o diretor de uma grande escola secundária convidou-me para fazer uma visita à sua biblioteca e sugerir alguns melho- ramentos. Compareci de bom grado. Fui recebido com grande afabilidade e conduzido através de um labirinto de salas e corredores apertados, es- curos e malventilados, com armários ao longo das paredes. Ao chegarmos perto da outra extremidade, perguntei onde ficava a biblioteca e quando chegaríamos lá. Para minha surpresa, o diretor respondeu que, em todo o trajeto, estivéramos passando pela biblioteca. Maravilhado diante desse estranho arranjo, numa escola secundária, de um lugar onde os meninos brincavam de esconde-esconde no intervalo de almoço, perguntei por que fora escolhida uma localização tão infeliz para a biblioteca. Sua resposta imediata e inocente: “Estas salas não servem para outra coisa e precisa- vam ser usadas”. Teria esta resposta inocente sido dada, se a Primeira Lei tivesse alguma influência nas autoridades da escola? Há vinte anos, mudamo-nos para um novo prédio. A sala mais agradável, dando para o mar, foi destinada aos periódicos. Eu fiquei numa pequena sala do lado do poente. Uma pessoa imprópria para a profissão de bibliotecário um dia apareceu ali. Expressou surpresa por eu ter escolhido a pior das salas como meu gabinete. “Se eu fosse você, instalaria meu gabinete na sala dos periódicos”, disse ele. Respondi, “Se a Primeira Lei não se tivesse revelado a mim, eu também teria feito isso”. “— Hum! Sua Primeira Lei. Se um dia eu vier a substituí-lo, verá o que farei”, foi a resposta imediata! 138 Exemplo 7 O que hoje predomina em nossas escolas e faculdades prevalecia há uns sessenta ou setenta anos nas escolas e faculdades do Ocidente. Discursando na inauguração da biblioteca do Colorado College, em março de 1894, o Sr. Harper, primeiro reitor da Chicago University, afirmou Há um quarto de século, a biblioteca, na maioria das nossas instituições, até mesmo as mais antigas, quase não chegava a ter tamanho suficiente [...] para merecer o nome de biblioteca [...] Conheço uma faculdade, que tem cento e cinquenta estudantes matriculados [...] e, apesar disso, numa sala de três por 15 quatro metros, chamada de biblioteca, não chega a ter duzentos e cinquenta volumes [...] Como existia o local, para lá o professor costumava dirigir-se ocasionalmente, mas o estudante, nunca [...] O lugar, raramente frequentado, era uma sala remota, que não poderia servir para qualquer outra finalidade.5 Quase as mesmas palavras do diretor mencionado acima! 139 Exemplo 8 Mas tudo isso mudou tão logo a Primeira Lei da biblioteconomia se instalou nas mentes das pessoas. Atualmente, diversas faculdades no Oci- dente, que acreditam que os livros são para usar e sabem que um dos seus deveres fundamentais consiste em desenvolver o hábito da leitura nos alunos de graduação, destinam a sua melhor sala para a biblioteca. Pelo menos em uma faculdade do Ocidente, cujos “livros eram colocados em corredores, porões e sótãos”, até que esta lei tivesse influência sobre ela, a área agora ocupada pelas bibliotecas da faculdade corresponde a quase metade da área ocupada por toda a escola. Citando Harper novamente, Hoje o edifício principal da faculdade, o edifício do qual temos mais orgulho, é a biblioteca. Com o conjunto de estantes do acervo geral, a sala de consulta para obras de referência, as salas de atendimento, as salas para os seminários, é o centro dinâmico da instituição [...] Dificilmente se pode imaginar uma mudança que fosse maior do que esta [...] Está próximo o dia em que o estudante pouco estudará em seu gabinete: ele deverá estar no meio dos livros. Como o cientista, que, embora dispondo de milhares de volumes em sua própria biblioteca, deve procurar as grandes bibliotecas do Velho Mundo, se quiser fazer um trabalho de alta qualidade, também o estudante universitário, embora tendo centenas de volumes em seu próprio aposento, deverá fazer seu trabalho na biblioteca da instituição [...] Sua mesa deve ficar onde, sem a menor delonga, sem a mediação do zeloso bibliotecário, que provavelmente pensa mais no livro do que no seu uso, ele possa pegar um dentre dez ou vinte mil livros que desejar utilizar [...] Este fator do trabalho do nosso colégio e da universidade, a biblio- teca, cinquenta anos atrás quase desconhecida, hoje já o centro da atividade intelectual da instituição, e daqui a cinquenta anos, absorvendo tudo o mais, ter-se-á transformado na própria instituição. 6 14 Horário da Biblioteca A influência da lei os livros são para usar foi não menos profunda com relação ao horário da biblioteca. Enquanto predominava a noção herdada sobre preservação e a lei os livros são para usar não se havia consolidado plenamente, a biblioteca permanecia mais tempo fechada do que aberta. Talvez fosse aberta mais vezes para matar as traças e tirar a poeira dos livros do que para a entrada de leitores e o empréstimo dos livros. Conta-se que os registros dos livros emprestados na década de 1730–1740 da Bodleian a primeira lei as cinco leis da biblioteconomia16 Library, de Oxford, mostram que eram emprestados não mais de um ou dois livros por dia. Às vezes, decorria toda uma semana sem que fosse feito um único empréstimo. Conta-se que um aviso interessante, datado de 1806, teria sido preservado por essa biblioteca. Encontrando-a fechada, um estudioso, furioso pela frustração, afixou à porta da biblioteca um pedaço de papel com as palavras que a musa grega lhe havia oferecido para aliviar seus sentimentos: — “Ai de ti que levaste a chave do conhecimento! Não entras e impedes a entrada àqueles que comparecem!” Na sua Story of the University of Edinburgh, sir Alexander Grant deplora como, no começo do século xix, os horários da biblioteca da universidade restringiam as oportunidades oferecidas aos alunos para usá-la. Os livros só podiam ser retirados por duas horas, dois dias por semana. Segundo Koch, a biblioteca do Amherst College abria, em 1850, apenas uma vez por semana, de uma às três horas da tarde. Os alunos da Princeton University podiam usar a biblioteca somente por uma hora, duas vezes por semana, enquanto aos seus contemporâneos em Missouri se permitia apenas uma hora, a cada duas semanas. No Columbia College, criado em 1859, por muitos anos aos alunos do primeiro e do segundo ano era permitido visitar a biblioteca somente uma vez por mês, para contemplar as lombadas dos livros; os alunos do terceiro ano eram levados até lá uma vez por semana por um orientador, que lhes passava informações orais sobre o conteúdo dos livros, mas somente os alunos do último ano [...] podiam tomar livros emprestados da biblioteca, durante uma hora, às quartas-feiras à tarde. 141 Insulto contra a Primeira Lei Se o horário era, até o final do século xix, tão restrito no mundo das bibliotecas, pode-se facilmente imaginar as condições que predominam hoje em dia em nossas bibliotecas escolares e universitárias, quando, ob- viamente, elas existem! A prática corrente numa grande faculdade pode servir de exemplo. Teoricamente, essa faculdade concede ‘dois dias de empréstimo’ por semana. Mas, que a ocorrência da palavra ‘dia’, de modo algum nos engane levando-nos a multiplicar o ‘dois’ por 24 ou mesmo por
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