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Lara-Elisa-LatAóncia

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO 
 
 
 
LARA ELISA LATÂNCIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OS LEITORES E AS PRÁTICAS DE LEITURA 
NA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE VALINHOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPINAS 
2016 
 
 
 
 
 
 
LARA ELISA LATÂNCIA 
 
 
 
 
 
 
OS LEITORES E AS PRÁTICAS DE LEITURA 
NA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE VALINHOS 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação de Mestrado 
apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da 
Faculdade de Educação da 
Universidade Estadual de Campinas 
para obtenção do título de Mestra 
em Educação, na área de 
concentração de Educação, 
Conhecimento, Linguagem e Arte. 
 
 
 
 
Orientadora: Profª. Drª. Norma Sandra de Almeida Ferreira 
 
 
 
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO 
FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO 
ALUNO LARA ELISA LATAÂNCIA, E 
ORIENTADA PELA PROFA DRA. NORMA 
SANDRA DE ALMEIDA FERREIRA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPINAS 
2016
 
 
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO 
 
 
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 
 
 
OS LEITORES E AS PRÁTICAS DE LEITURA 
NA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE VALINHOS 
 
 
 
Autor : Lara Elisa Latância 
 
 
 
 
 
 
 
COMISSÃO JULGADORA: 
 
Norma Sandra de Almeida Ferreira 
 
Claudia Beatriz de Castro Nascimento Ometto 
 
Maria Betanea Platzer 
 
 
2016
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao meu avô João, 
por , com sua simplicidade, 
ter me ensinado 
sobre a preciosidade do livro. 
 
vi 
 
 
 
Agradecimento 
 Primeiramente agradeço à Deus por permitir a realização do desejo de 
ingressar no Mestrado e realizar esta pesquisa; agradeço ainda por colocar em 
minha vida e meu caminho pessoas tão especiais sem as quais este trabalho 
não teria se concretizado: 
- Meus pais, Carlos e Maria do Carmo, e meu irmão, Gabriel, que me apoiaram 
incondicionalmente sempre! 
- Meu namorado, noivo, amigo e, agora, esposo, Fernando, sempre paciente, 
carinhoso e me apoiando em todos os momentos. 
- Meus sogros, Deborah e Gil, agradeço pelo meu maior presente, Fernando. 
(Um obrigada especial ao meu sogro por me socorrer quando meu computador 
decidiu não funcionar mais e quase perder toda minha pesquisa!) 
- Minha orientadora, Profª Norma, sempre carinhosa, dedicada e pronta para 
me receber (e também responder e-mails, Whatsapp). Obrigada por me 
mostrar que posso sempre crescer na escrita e me ajudar durante todo o 
processo de amadurecimento como pesquisadora. 
- Meus colegas alleados: Sue Ellen e Janaína e todos os colegas que 
ingressaram comigo na Pós em 2012; Mariana, Andréa, Daniele, Thaís, André: 
é muito bom conviver e aprender com vocês; Maria das Dores, amiga tão 
carinhosa e revisora tão minuciosa! 
- Os amigos de hoje e sempre: Leo, Vini, Tiago, Pedro, Camila, Paty, Bru, 
Amanda, Igor. 
- Minhas colegas de profissão, professoras do Colégio Fundamentum, com 
quem convivo e aprendo diariamente: Karina, Alexandra, Adriana M., Tânia, 
Laura, Andréa, Marielle, Adriana F., Regiane, Thuany e todos os outros 
professores do Colégio que me ajudam a ser uma professora melhor a cada 
momento. 
- As professoras que fizeram parte de minha banca de qualificação e de 
defesa: Lilian, Betânea, Claudia e Ilsa, agradeço pela leitura cuidadosa e por 
todas as contribuições! 
- Todos os funcionários da Biblioteca Municipal de Valinhos: agradeço por, 
novamente, me receberem com carinho e disponibilidade, colaborando de 
forma decisiva para o sucesso desta pesquisa. 
 
vii 
 
 
 
Resumo 
Esta pesquisa teve como objetivo conhecer os leitores da Biblioteca Municipal 
de Valinhos Dr. Mario Correa Lousada. Buscamos compreender, no polo das 
práticas, os modos como os leitores circulam e habitam este espaço; o que 
leem, como e porque fazem determinadas escolhas de livros e leituras; enfim, 
seus comportamentos em contato com o livro e outros suportes oferecidos pela 
Biblioteca de Valinhos. Este estudo se insere no campo da História Cultural, em 
especial no que se refere às contribuições teóricas de Michel de Certeau (1994, 
2013) e Roger Chartier (1991, 1998, 1999, 2002a, 2002b, 2004, 2011). A 
pesquisa, de natureza quanti-qualitativa, fez uso de fontes como: dados do 
sistema de cadastros digitais da Biblioteca, observações realizadas neste 
espaço no período de agosto de 2013 a junho de 2014 e registradas em um 
caderno de campo, além de entrevistas informais com cinco leitores 
selecionados por apresentarem práticas de leitura que se destacaram ao longo 
das observações. A análise dos cadastros indicou a maioria dos leitores sendo 
do sexo feminino, na faixa etária de 10 a 19 anos, ou seja, estudantes 
frequentando, principalmente, o Ensino Fundamental. Apesar desta maioria, as 
observações mostram grande presença de homens, em especial, idosos, além 
de mães acompanhadas de seus filhos (ou não). Há ainda uma significativa 
quantidade de leitores da área da Educação e uma grande variedade deles 
distribuídos em outras profissões, indicando a leitura como uma prática cultural 
atual, presente e valorizada pela população em geral. São diferentes usos que 
movimentam esta Biblioteca: posições do corpo que lê, maneiras e finalidades 
de ler também diversos. As práticas de leitura estão principalmente 
relacionadas à escola e também aos modos contemporâneos proporcionados 
pelo acesso dos leitores à informática e ao mundo digital, pela internet. 
 
 
Palavras – chave: práticas de leitura; leitores; biblioteca pública. 
 
 
viii 
 
 
 
Abstract 
The objective of this study was to evaluate who the readers in Municipal Library 
of Valinhos are. We sought to understand the way the readers were involved 
and using that space, what they usually read, how and why they make certain 
choices of books and readings. In general, their behavior regarding books and 
other media offered by the library. This study is situated in Cultural History, 
particularly regarding the theoretical contributions of Michael de Certeau (1994, 
2013) and Roger Chartier (1991, 1998, 1999, 2002a, 2002b, 2004, 2011). This 
study has a prospective with quali-quantitative approach. It used sources such 
as system data from registers of the digital library, observations made from 
August 2013 to June 2014 in the library, and later registered in a field book and 
also informal interviews with five readers. Those specific readers were chosen 
because of their reading practice which stood out during the observations. 
Analyzing the records made it possible to observe that most readers were 10 to 
19-year-old females, which indicates they were possibly elementary and middle 
school students. Despite the vast majority, the observation has also shown a 
large presence of men, particularly elderly, in addition to mothers accompanied 
or not by their children. There is a significant amount of readers from 
educational fields and a large number of them with different occupations as 
well, which indicates that reading is still a present, appreciated and valued 
practice in our society. Several uses can be seen in this library: different body 
positions from the readers and a number of ways and purposes for the reading. 
The reading practice are mainly related to school and also to contemporary 
modes offered to the readers by their access to the digital world and the 
Internet. 
 
 
Key Words: reading practice; readers; public library. 
ix 
 
 
 
Lista de tabelas 
Tabela 1 - Dados referentes a cadastros ativos no período da pesquisa (2013 a 2014) – Total de 
cadastros e data de nascimento. ................................................................................................ 80 
Tabela 2 - Cadastros ativos 2013/2014 – Curso. ....................................................................... 105 
 
Lista de gráficos 
Gráfico 1 - O que a biblioteca representa. Fonte:relatório da pesquisa Retratos de Leitura no 
Brasil (2012). ............................................................................................................................... 33 
Gráfico 2 – Dados de cadastros de usuários ativos e vencidos ................................................... 69 
Gráfico 3 – Porcentagem de leitores cadastrados de acordo com o gênero. ............................. 77 
Gráfico 4 - Porcentagem de leitores cadastrados de acordo com a faixa etária. ....................... 83 
 
Lista de imagens 
Imagem 1 – Tirinha Mafalda. ...................................................................................................... 14 
Imagem 2 - Leitores de jornal (CHARTIER, 1998, p. 83) .............................................................. 91 
 
Lista de fotografias 
Foto 1 – Fachada da Biblioteca. .................................................................................................. 58 
Foto 2 – Fachada da Biblioteca. .................................................................................................. 58 
Foto 3 - Saguão de entrada, vista da porta de entrada. ............................................................. 59 
Foto 4 - Balcão de atendimento, localizado à direita da porta de entrada. ............................... 59 
Foto 5 – Terminal de Consulta. ................................................................................................... 60 
Foto 6 - Sala de Literatura Nacional e Internacional. .................................................................. 60 
Foto 7 - Corredor de acesso às salas. .......................................................................................... 61 
Foto 8 - Hemeroteca. Localizada nas estantes do corredor. ...................................................... 61 
Foto 9 - Sala de pesquisa e estudo. ............................................................................................. 62 
Foto 10 - Sala de pesquisa e estudo. ........................................................................................... 63 
Foto 11 - Sala de pesquisa e estudo. ........................................................................................... 63 
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc445147962
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670548
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670549
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670550
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670551
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670552
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670553
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670554
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670555
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670556
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670557
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670558
x 
 
 
 
Foto 12 – Sala de Informática. .................................................................................................... 64 
Foto 13 - Sala de Literatura Infantil. ............................................................................................ 65 
Foto 14 - Sala de Literatura Infantil. ............................................................................................ 65 
Foto 15 - Sala de Literatura Infantil. ............................................................................................ 65 
Foto 16 - Estante de sugestões na sala de Literatura Infantil. .................................................... 66 
Foto 17 - Estante de sugestões, localizada no saguão de entrada da Biblioteca. ....................... 93 
 
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670559
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670560
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670561
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670562
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670563
file:///E:/TEXTO%20FINAL.doc%23_Toc439670564
xi 
 
 
 
Sumário 
Introdução ................................................................................................................................... 12 
Capítulo I - A biblioteca na trajetória de formação de uma leitora ............................................ 14 
1.1 A formação de uma leitora................................................................................................ 18 
1.2 Um exercício de pesquisa .................................................................................................. 22 
1.3 A leitora que se torna pesquisadora e, também, professora ........................................... 26 
Capítulo II - A biblioteca e os leitores: objeto de estudo e pesquisa .......................................... 30 
Capítulo III - Os caminhos percorridos ........................................................................................ 43 
3.1 Os leitores cadastrados ..................................................................................................... 45 
3.2 Os leitores de carne e osso ............................................................................................... 50 
3.3 Conhecendo o espaço da Biblioteca de Valinhos .............................................................. 58 
Capítulo IV - A Biblioteca de Valinhos e seus leitores: o objeto desta pesquisa......................... 67 
4.1 Total de cadastros e usuários com cadastro ativo ou vencido ......................................... 67 
4.2 Gênero e faixa etária dos leitores ..................................................................................... 77 
4.2.1 Jornais e revistas ........................................................................................................ 85 
4.2.2 Retirada de livros........................................................................................................ 92 
4.2.3 Aulas de Informática .................................................................................................. 99 
4.3 Profissão e curso frequentado ........................................................................................ 104 
4.4 Os funcionários ................................................................................................................ 108 
Considerações finais .................................................................................................................. 112 
Anexos ....................................................................................................................................... 112 
Anexo 1 – Termo de Consentimento .................................................................................... 118 
Anexo 2 – Roteiro de entrevistas .......................................................................................... 119 
Referências ................................................................................................................................ 121 
 
12 
 
 
 
Introdução 
 
Um interesse em fazer pesquisa, construído no desenvolvimento da 
Iniciação Científica e no Trabalho de Conclusão de Curso, realizados na 
graduação; o encanto por um espaço de leitura como o da biblioteca, em 
especial o da Biblioteca Municipal de Valinhos, tão importante em minha 
formação; o amor pela leitura e pelos livros; um incômodo por me deparar com 
tantos discursos contraditórios sobre a leitura. Foi nestas condições que esta 
pesquisa de mestrado foi gerada. 
Neste trabalho, colocamos como objetivo conhecer os leitores da 
Biblioteca Municipal de Valinhos Dr. Mario Correa Lousada. Buscamos 
compreender, no polo das práticas, os modos como os leitores circulam e 
habitam este espaço; o que leem, como e porque fazem determinadas 
escolhas de livros e leituras; enfim, seus comportamentos em contato com o 
livro e outros suportes oferecidos pela Biblioteca de Valinhos. Assumimos 
como fontes de pesquisa observações da rotina da Biblioteca, informações do 
banco de dados digital dos usuários e curtas entrevistas com alguns leitores, 
buscando conhecer os comportamentos e práticas, usos e representaçõespresentes neste espaço de leitura. 
Este texto está organizado em quatro capítulos. No primeiro, é 
apresentada minha trajetória de formação de leitura, desde a infância e período 
escolar básico até o ensino médio, a escolha de uma profissão e minha 
formação como professora e pesquisadora. Foram incorporados os resultados 
de pesquisa feita anteriormente (LATANCIA, 2011), assim como os 
questionamentos e dúvidas que me impulsionaram para o ingresso no 
Mestrado. 
O segundo capítulo apresenta pesquisas que se aproximam deste nosso 
trabalho e que com ele contribuem, buscando, em especial, aquelas do grupo a 
que pertencemos, o ALLE (Alfabetização, Leitura e Escrita, da FE/Unicamp). 
O terceiro capítulo é constituído pelas opções e procedimentos 
metodológicos que compõem o trabalho, trazendo autores que ajudaram a 
traçar caminhos na busca e composição das fontes de pesquisa. São descritas 
13 
 
 
 
as etapas percorridas e os obstáculos encontrados para que pudessem ser 
acessados os cadastros dos leitores da Biblioteca e para a construção do 
caderno de campo. São apresentados também os critérios para a escolha dos 
leitores entrevistados e para a condução do momento da conversa com eles, 
além de sinalizar a maneira como seria realizada a análise das anotações do 
caderno de campo e das entrevistas. Ao final deste capítulo, encontra-se ainda 
uma pequena narrativa que apresenta (com fotos) o espaço da Biblioteca de 
Valinhos. 
O quarto capítulo traz a análise dos dados coletados ao longo de 2013 e 
2014. São apresentados os números acessados no cadastro digital, além dos 
dados que indicaram o gênero, a faixa etária e a profissão dos leitores da 
Biblioteca de Valinhos. Juntamente com estes dados, foram analisadas as 
anotações do caderno de campo, identificando-se as práticas de leitura que 
foram observadas. Além disso, o capítulo apresenta as entrevistas realizadas 
com cinco leitores escolhidos por apresentarem práticas que, de alguma forma, 
se destacaram durante o período das observações de campo. 
Nas considerações finais, retomamos o “perfil” de leitor que pudemos 
identificar ao longo da análise, destacando ainda suas principais práticas e 
comportamentos neste espaço de leitura. Esperamos, assim, ter construído 
uma imagem dos leitores da Biblioteca Municipal Dr. Mario Correa Lousada, de 
Valinhos - SP. 
14 
 
 
 
Capítulo I - A biblioteca na trajetória de formação de uma 
leitora 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagem 1 – Tirinha Mafalda. 
O quadrinho retratado acima, encontrado por acaso em uma página 
compartilhada do Facebook, traz, em palavras, uma inquietação relacionada à 
valorização da biblioteca (ou, neste caso, à sua desvalorização) pela 
sociedade, em relação a outros espaços destinados à cultura em geral. O autor 
Quino1 sugere, através da fala de Mafalda - com ironia e a partir de uma 
representação da criança ingenuamente sábia - um problema relacionado à 
leitura, muito presente na realidade brasileira: o espaço da biblioteca, apesar 
de ser notadamente reconhecido por sua importância para a sociedade em 
todos os discursos pronunciados no dia a dia, não é realmente valorizado se 
forem consideradas as ações e atitudes políticas a ele relacionadas. 
A representação da biblioteca como espaço público que propicia a leitura 
à população e o descaso com que este espaço vem sendo tratado nas últimas 
décadas são questões preocupantes conforme divulgação na mídia em geral. 
Ao buscar notícias recentes acerca de bibliotecas públicas, foram 
encontradas diversas reportagens que mostram a frequência de alunos a este 
espaço (“Alunos de ensino fundamental visitam biblioteca de Porto Calvo” – 
 
1 Quino, ou Joaquin Salvador Lavado, é um cartunista argentino e o criador das histórias e 
tirinhas da personagem Mafalda, uma criança de 6 anos questionadora com as situações do 
mundo e com as atitudes dos seres humanos. Suas histórias foram publicadas de 1964 a 1973, 
trazendo crítica sobre o capitalismo e o mundo recém-globalizado daquele período. Quino teve 
suas publicações de Mafalda traduzidas em várias línguas e são conhecidas por todo o mundo. 
15 
 
 
 
26/09/20142); a promoção de eventos relacionados à leitura (RITTA, 2014 – 
“Biblioteca pública de Joinville promove conversa com escritora”); a entrega de 
novos livros para enriquecimento do acervo (“Prefeitura de Joinville realiza a 
entrega de 13 mil livros nas unidades de educação” – 06/10/20143); encontros 
para leitura e discussão de livros adotados em vestibulares (“Clube de leitura 
aborda livros adotados na UFRGS na Capital” – 09/09/20144). 
Todos esses são exemplos de momentos e discussões que valorizam a 
importância da leitura e incentivam o uso do espaço da biblioteca para diversas 
práticas. São reportagens que mostram a importância de se ampliar e 
diversificar os acervos; apresentar o espaço da biblioteca para os estudantes a 
fim de que estes aprendam a utilizá-lo; discutir sobre textos considerados 
clássicos, buscando o gosto por uma leitura de qualidade, e não apenas por 
obrigação. 
Tais falas estão presentes também em discursos de professores e 
outros profissionais da área da educação e da leitura. E ainda são encontrados 
nas falas de políticos ou de outras pessoas que não são ligadas diretamente a 
esta área, mas que consideram importante mostrar que valorizam a leitura e 
que apoiam iniciativas para promover esta prática nas bibliotecas. 
Todos estes discursos apontam para uma representação de que a leitura 
é muito importante e que a biblioteca é o espaço privilegiado para que ela 
ocorra. 
Por outro lado, podem ser encontradas também reportagens que 
mostram que nem sempre essa valorização acontece na prática. A reportagem 
“Após ser fechada há três anos para reforma, biblioteca é depredada em 
Manaus” (CARVALHO, 2014), escrita em tom de preocupação e denúncia, 
conta sobre a depredação e vandalismo sofridos pelo prédio da biblioteca, que 
ao invés de ser reformada, tornou-se abrigo para moradores de rua. O texto 
 
2 Disponível em: <http://www.tribunahoje.com/noticia/118277/interior/2014/09/26/alunos-do-
ensino-fundamental-visitam-biblioteca-publica-de-porto-calvo.html> Acesso em: 06/10/2014. 
3 Disponível em: <http://ndonline.com.br/joinville/noticias/203386-prefeitura-de-joinville-realiza-
a-entrega-de-13-mil-livros-nas-unidades-de-educacao.html> 
Acesso em 06/10/2014. 
4 Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vestibular/noticia/2014/09/clube-de-
leitura-aborda-livros-obrigatorios-da-ufrgs-na-capital-4594268.html> 
Acesso em 06/10/2014. 
http://www.tribunahoje.com/noticia/118277/interior/2014/09/26/alunos-do-ensino-fundamental-visitam-biblioteca-publica-de-porto-calvo.html
http://www.tribunahoje.com/noticia/118277/interior/2014/09/26/alunos-do-ensino-fundamental-visitam-biblioteca-publica-de-porto-calvo.html
http://ndonline.com.br/joinville/noticias/203386-prefeitura-de-joinville-realiza-a-entrega-de-13-mil-livros-nas-unidades-de-educacao.html
http://ndonline.com.br/joinville/noticias/203386-prefeitura-de-joinville-realiza-a-entrega-de-13-mil-livros-nas-unidades-de-educacao.html
http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vestibular/noticia/2014/09/clube-de-leitura-aborda-livros-obrigatorios-da-ufrgs-na-capital-4594268.html
http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vestibular/noticia/2014/09/clube-de-leitura-aborda-livros-obrigatorios-da-ufrgs-na-capital-4594268.html
16 
 
 
 
traz também a fala de estudantes que afirmam o quanto gostariam de poder 
frequentar e utilizar o espaço, consultar seu acervo, o que, porém, não é 
possível devido ao descaso com que o espaço é tratado. 
Nesta reportagem (CARVALHO, 2014), a representação da importância 
da leitura e do espaço da biblioteca volta a aparecer, porém, desta vez, 
acompanhada de acontecimentos que parecemnão permitir a sua 
concretização. 
Estudos e leituras realizados no decorrer desta pesquisa, por exemplo, 
indicam que este problema não é novo. Chartier (1998, p. 123) escreve acerca 
de bibliotecas francesas no período de 1850-1870. O autor afirma a 
“incapacidade das bibliotecas municipais (...) no sentido de assegurar a leitura 
como uma atividade pública (...) estas bibliotecas ficam apenas entreabertas, 
empoeiradas; eram, afinal, depósitos inertes.” 
A reportagem sobre a biblioteca de Manaus mostra que, assim como 
afirma Chartier (1998), é responsabilidade do município que as bibliotecas 
sejam espaços que assegurem a leitura pública, o que, tanto no caso de 
Manaus, quanto no caso da França (apesar da grande diferença de tempo e de 
localização geográfica), não acontecem. 
Esta precariedade em relação à situação das bibliotecas também é 
constatada por Silva (2010, p. 121), num local e período mais próximos do que 
estamos vivendo hoje. Em um dos artigos de seu livro Leitura na escola e na 
biblioteca, o autor apresenta a situação das bibliotecas municipais da cidade de 
Campinas, a partir de reportagem publicada em 2009. O pesquisador afirma 
que a reportagem, discutida por ele neste texto, “mostrou a carência das 
mesmas [bibliotecas] no que se refere a acervos, recursos humanos e 
atividades. Pela matéria, ficou evidente que os prédios também não condizem 
com as necessidades de leitura da população campineira.” 
Silva (2010, p. 121) ainda afirma que há “um esquecimento intencional 
ou uma velada despreocupação ou, ainda, uma desatenção consciente a 
respeito de uma política cultural mais sólida, contínua e diversificada, capaz de 
contemplar as múltiplas práticas culturais dos cidadãos.” 
17 
 
 
 
Tanto na reportagem sobre a biblioteca de Manaus, quanto nas falas de 
Chartier (1998) e de Silva (2010), podemos perceber um discurso sobre a 
importância e valorização da biblioteca, seguido por fatos que não permitem 
que essa representação tenha um significado positivo na prática. Seria esta 
ambiguidade que Mafalda, no quadrinho que iniciou este texto, quer destacar, 
chamar nossa atenção: E se as bibliotecas fossem mais importantes que os 
bancos? 
Neste questionamento, o autor constrói uma polarização entre bancos e 
bibliotecas, sendo que os primeiros são considerados mais importantes que as 
segundas. 
No contexto do quadrinho de Quino, talvez as bibliotecas possam ser 
compreendidas como o espaço em que se guardam os livros para uso do seu 
público, permitindo o acesso livre e gratuito a todos os materiais nela 
guardados, sejam eles livros, jornais, revistas, entre outros, sendo possível 
emprestá-los e levá-los para casa ou utilizá-los e manuseá-los no local. É um 
espaço que está sempre à espera de leitores e que investe em projetos de 
leitura, pesquisa, estudo, leitura de fruição. Seu lucro não é imediato, mas fruto 
de um investimento a longo prazo, visando formar leitores, alcançar uma 
educação cultural importante para todos os indivíduos. 
Em contrapartida, os bancos podem ser compreendidos como o local 
onde se efetuam operações bancárias, onde há movimentação de dinheiro, 
que, por sua vez, não pertence ao banco, mas a outros sujeitos. Neste espaço, 
o dinheiro pode ser movimentado entre contas de diferentes indivíduos ou 
mesmo emprestado pelo banco a terceiros, desde que sejam pagos taxas e 
juros pelo valor emprestado. Os bancos são financiadores de projetos 
individuais ou coletivos, com o objetivo de lucrar ainda mais, aumentando 
assim seu capital. 
Nesse sentido, ambos os espaços podem se assemelhar, se 
considerados como “depósitos” (apesar de isso não significar ser esta a única 
função deles). Mas, por outro lado, podem se diferenciar pela concepção de 
lucro que cada um deles assume. No banco, o lucro é sempre financeiro: 
quanto mais dinheiro acumulado pela quantidade de correntistas, maior será o 
18 
 
 
 
lucro. E a quem pertence este ganho financeiro? Ao próprio estabelecimento 
bancário, aos banqueiros, que ganham à custa de seus clientes. Seu principal 
propósito e objetivo é gerar acúmulo de moeda. 
No caso da biblioteca, o lucro pode ser visto de forma diferente, já que 
não pertence à própria biblioteca e nem a seus donos ou responsáveis, mas 
àqueles que fazem uso dela. Ele é compartilhado por todos aqueles que a 
utilizam; é um lucro que é do outro. Também não é (um lucro) material, já que 
tudo que é emprestado ou utilizado na biblioteca é devolvido após seu uso, 
provocando um certo desgaste material no decorrer do tempo. O ganho de 
quem faz uso da biblioteca é cultural, simbólico, é o acesso ao conhecimento, à 
informação, ao prazer de ler, o que nos indica representações de melhoria 
pessoal, coletiva. 
Vivemos em uma sociedade capitalista, na qual o lucro financeiro, a 
moeda, é o que é mais valorizado. Nesta sociedade, o acesso à cultura, ao 
conhecimento, à informação, ao livro é muito menos importante do que o 
acesso ao dinheiro. Desta forma, a premissa de Mafalda de que o banco é 
mais importante que a biblioteca parece comprovar-se verdadeira, reconhecida 
na sociedade atual. 
Deste modo, a pergunta colocada por Quino na tirinha insere-se em um 
discurso crítico a esta sociedade capitalista e, também, a um desejo de 
mudança para um mundo (melhor) em que o livro, a cultura, o conhecimento e 
a leitura sejam mais importantes que o dinheiro e o lucro financeiro. Um modo 
de pensar a dicotomia “ser e ter”. 
 
1.1 A formação de uma leitora 
Fui uma criança apaixonada por livros. Tendo minha mãe formada em 
Letras e minha madrinha sendo professora, sempre tive muitos livros em casa 
e referência de leitores assíduos (mãe, pai, tia, avós) e nos mais diferentes 
suportes (livros, jornal, CDs, discos, revistas, gibis, entre outros). Lembro-me 
do encanto ao chegar à casa de meus avós e ver na estante a imponência dos 
inúmeros volumes de uma “Enciclopédia Barsa” completa, com capa dura 
vermelha e com informações escritas em dourado nas lombadas dos livros. 
19 
 
 
 
Eles ficavam no alto da estante, local que uma criança pequena não 
poderia alcançar. O fato de ficarem fora do alcance de minhas mãos e de meu 
avô mostrar sempre um olhar intimidador no que dizia respeito a mexer neles 
desenvolveu em mim um sentimento de curiosidade e desejo muito grande em 
relação àquele material. Um sentimento de expectativa que apenas cresceu até 
o dia em que minha professora mandou para casa uma pesquisa sobre um 
assunto de que não mais me recordo. Neste dia, meu avô permitiu que eu 
olhasse a enciclopédia para fazer a tarefa de casa. Com a ajuda de minha 
mãe, peguei na estante o livro que continha o assunto de minha pesquisa, 
busquei a página e encontrei o tópico desejado. Copiei o texto em uma folha 
para levar para a escola. Depois pude folhear o livro e olhar outros assuntos, 
imagens e informações que ele continha. Sempre sob o olhar cuidadoso de 
meu avô, para que eu não amassasse, rasgasse, sujasse ou danificasse o livro 
de qualquer forma. 
Este olhar de cuidado e atenção, aliado ao fato de a enciclopédia não 
poder ser utilizada ou consultada em qualquer situação, mas apenas em 
momentos de necessidade escolar, de estudo, mostram uma representação de 
livro e de leitura. Este objeto é algo precioso, colocado em local alto, de modo a 
ficar exposto e ser visto, mas sem poder ser tocado a todo momento. Mostra, 
ainda, um tipo de leitura, aquela relacionada diretamente ao contexto escolar. 
Esta representação, que hoje posso perceber e identificar nos gestos e ações 
de meu avô, levaram-me a considerar o livro como algo precioso, que deve ser 
cuidado, preservado - representação esta que me acompanha até hoje 
enquanto leitora. 
 Outra lembrança que me acompanha é a da estante em minha casa 
onde ficavam os meus livros, livros infantis (contos de fadas, fábulas de Esopo, 
outros de Monteiro Lobato) compradospelos meus pais ou presenteados por 
tios, avós, padrinhos, e que guardo até hoje. Alguns deles têm um significado 
especial, por trazerem dedicatórias carinhosas de pessoas importantes em 
minha vida. 
Nesta estante, os livros eram acessíveis a qualquer um, especialmente 
para mim e meu irmão, crianças pequenas na época. Além disso, podíamos 
20 
 
 
 
mexer neles a qualquer momento, utilizá-los de diferentes maneiras. Alguns 
dos volumes desta época, que ainda possuo, estão rabiscados (garatujas de 
criança), desenhados, pintados com lápis de cor e canetinha. Vários deles têm 
o meu nome, escrito em diferentes tamanhos e tipos de letra, de acordo com o 
período de alfabetização. Esta relação com este objeto, os gestos, mostram 
outra representação de livro: pode ser brinquedo; e de leitura: de diversão, de 
aprendizado, de descoberta, de exploração. Esta representação também 
mostra que existem livros para fases distintas da vida (infância, adolescência, 
idade adulta) e com finalidades igualmente distintas. 
Da mesma forma, a frequência a um espaço como o da biblioteca, uma 
“casa de livros”, também sempre fez parte de minha rotina. Um destes espaços 
era a biblioteca da escola, organizada por uma senhorinha muito simpática. 
Apesar de pequena, esta biblioteca estava recheada de livros coloridos e 
divertidos, que chamavam a atenção das crianças. Outro, era a biblioteca 
pública da cidade, com uma organização mais formal, espaço de estudo e de 
pesquisa para crianças e adultos, e que era cuidada por uma bibliotecária 
brava e exigente, que falava alto e vigiava a forma que mexíamos nos livros. 
Duas bibliotecas diferentes, que remetiam a diferentes representações de livro 
e de leitura que já me eram familiares. 
Lembro-me de olhar os livros nas estantes, tanto na biblioteca escolar 
quanto na pública, espantada com a quantidade de leituras que poderiam ser 
feitas – sempre comparando com a quantidade (menor) de livros que havia em 
minha casa ou na de meu avô. Escolhia os livros sonhando em, um dia, poder 
ter uma biblioteca tão grande como aquela. 
As experiências ao longo do período de escolaridade também foram de 
grande importância para a formação de uma leitora assídua e amante dos 
livros. Lembro-me de professores que incentivavam a leitura como algo 
prazeroso, positivo, seja para a diversão, seja para o estudo. Ao alcançar a 
adolescência, as leituras obrigatórias começaram a tornar-se cada vez mais 
frequentes, exigindo um tempo e dedicação muito grandes, de forma que a 
leitura de fruição, por diversão, acabou diminuindo. 
21 
 
 
 
Ao tornar-me vestibulanda, aprendi que as leituras obrigatórias poderiam 
também ser leituras prazerosas. E, contrariando as opiniões da maioria dos 
colegas e amigos da época, encantei-me com as leituras de Machado de Assis, 
José de Alencar, Graciliano Ramos, Eça de Queiroz, José Saramago, entre 
muitos outros. 
Entre todas essas paixões vividas, o que sinto por livros e leitura me 
levou ao desejo de me tornar professora, sinalizado em práticas como as de 
contar histórias para as bonecas, desde pequena, ou de ler e ensinar a meus 
amigos durante a pré-adolescência e a adolescência. A escolha de um curso 
(Pedagogia) e uma profissão (professora) foram quase que “naturais”: desejo 
de ser para outras crianças aquilo que meus professores foram para mim; o 
desejo de que meus alunos gostassem de livros e de leitura como eu. A 
aprovação e o ingresso no curso de Pedagogia da UNICAMP apenas 
confirmaram aquilo que sempre almejei. 
A união da paixão por livros e pela docência se encontraram na 
disciplina “Educação, Cultura e Linguagem”, cursada no 2º semestre do curso 
de Pedagogia, ministrada por uma professora que, mais tarde, se tornaria 
minha orientadora. Nesta disciplina, falamos sobre leitura, livros infantis e, no 
trabalho final da disciplina, fiz uma análise de um livro infantil que me 
encantava. A análise foi muito simples e “crua”, mas o recado da professora 
para procurá-la, pois aquele trabalho poderia se tornar uma pesquisa de 
Iniciação Científica, se eu assim o desejasse, me acendeu a vontade de 
trabalhar e estudar livros e leitura. 
A correria dos estudos, o início de um estágio e a grande carga de 
leituras das disciplinas cursadas só me permitiram procurá-la novamente no 
ano seguinte. Fui conversar com a intenção de pedir para ser orientada em 
uma pesquisa que relacionasse leitura e livros, mas fora da sala de aula. Eu 
queria trazer para a pesquisa e o estudo meu encanto pelo espaço da 
biblioteca. 
A conversa foi muito produtiva e certeira, mostrando que eu precisaria 
começar a dar um contorno ao que gostaria de fazer. Meu objeto de pesquisa 
seria a “Biblioteca Municipal de Valinhos Dr. Mario Correa Lousada”, aquela 
22 
 
 
 
que frequentara quando criança e adolescente. A orientação de ir até a 
Biblioteca e buscar informações que nos ajudassem a conhecer sua história 
para assim estudar os seus livros e leitores me deixou muito animada. E da 
mesma forma que me animei, me decepcionei ao chegar àquele espaço e 
descobrir que não havia nenhum registro escrito formal sobre a história e a 
formação da Biblioteca. 
A segunda conversa com minha orientadora não poderia ter se iniciado 
com maior desânimo. Eu tinha certeza de que a pesquisa estava acabada, 
antes mesmo de seu início. No entanto, da mesma forma que o entusiasmo 
havia ido embora, ele voltou com a sugestão de que nós buscássemos por 
aquela história que ainda não existia. “Vamos pesquisar e escrever a história 
dessa Biblioteca!” Era tudo que eu precisava ouvir. E assim foi. 
O processo de levantar dados, escrever o projeto, ter a aprovação da 
FAPESP e realizá-lo durou quase dois anos. E foi neste período que me tornei 
uma professora cada vez mais envolvida e encantada por livros e, para meu 
espanto, me tornei também pesquisadora. Digo espanto, pois até então, não 
tinha pretensões de fazer pesquisa acadêmica. Este período só me deixou 
ainda mais apaixonada pela biblioteca, um espaço tão valorizado pelas 
pessoas em seu discurso (“Você pesquisa biblioteca?”, “Este espaço é muito 
importante!”), mas nem sempre frequentado e incentivado (“Valinhos tem 
biblioteca?”), confirmando, em muitos sentidos, o que pôde ser percebido na 
análise realizada no início deste texto sobre o quadrinho de Mafalda. 
 
1.2 Um exercício de pesquisa 
A pesquisa de Iniciação Científica intitulada Biblioteca Municipal de 
Valinhos: uma história possível de ser escrita (LATÂNCIA e FERREIRA, 2010 e 
2011) que, mais tarde, se tornou o Trabalho de Conclusão de Curso intitulado 
Memórias (entre)cruzadas da Biblioteca Municipal de Valinhos “Dr. Mario 
Correa Lousada” (LATÂNCIA, 2011) teve como objetivo conhecer a história da 
Biblioteca Municipal de Valinhos, desde o seu projeto e idealização de 
construção (1969), sua concretização e inauguração (16/01/1971) e seu 
desenvolvimento e funcionamento até o ano de 2011. O processo de 
23 
 
 
 
construção do corpus de pesquisa, análise dos dados e escrita dos textos 
permitiram produzir representações de leitura e do espaço da biblioteca. 
A Biblioteca Municipal de Valinhos foi inaugurada em janeiro de 1971, 
mas antes de sua concretização, realizou-se uma campanha mostrando a 
necessidade de criação de uma biblioteca na cidade. Durante o ano de 1969, o 
jornal da cidade, Folha de Valinhos, na época o único em circulação, publicou 
reportagens, pequenas matérias e depoimentos de pessoas reconhecidas 
publicamente, sobre um movimento estudantil que solicitava a criação de uma 
biblioteca para a cidade. As matérias destacavam as vantagens da criação de 
um espaço em que houvesse 
material de pesquisa para os estudantes valinhenses, aumento da 
cultura da cidade, acompanhar o avanço das cidades próximas que 
também haviam inaugurado bibliotecas; e chamar a atenção das 
autoridades da cidade para que valorizassemtal iniciativa e fossem 
seus principais incentivadores. (LATÂNCIA, 2011, p. 34) 
 
 Em agosto de 1970, uma nova reportagem foi publicada no mesmo 
jornal, agora mostrando a existência de uma “Comissão de Literatura e 
Biblioteca”, retomando a necessidade da população estudantil e dando fomento 
a uma educação cultural para setores mais amplos da sociedade (LATÂNCIA, 
2011). A Comissão era formada por pessoas da “elite” valinhense, sendo 
presidida e idealizada pelo Dr. Mario Correa Lousada, médico veterinário vindo 
de São Paulo. Com a campanha, a Comissão conseguiu patrocinadores e 
doações, a partir, inclusive, de anúncios no jornal da cidade. 
 A lei de criação da Biblioteca foi assinada pelo Prefeito em 31 de 
dezembro de 1970, nomeando-a “Biblioteca Pública Municipal Dr. Mario Correa 
Lousada”, em homenagem ao idealizador, que havia falecido algum tempo 
antes, sem ter visto seu desejo concretizado. 
 A primeira sede da Biblioteca foi no andar superior do prédio da Agência 
dos Correios, bem no centro da cidade de Valinhos. Segundo depoimento de 
D’Ávila (em entrevista realizada em 2010), sua inauguração aconteceu de 
forma improvisada e foi montada com um mobiliário provisório (mesas, 
cadeiras e estantes emprestadas), e sob a responsabilidade de Roseline 
D’Ávila, recém formada em biblioteconomia e convidada pelo Prefeito para 
24 
 
 
 
organizar a Biblioteca. Apenas um mês após a inauguração, a Biblioteca 
adquiriu móveis próprios para que fosse montada e aberta ao público. 
 Nossa pesquisa inicial (LATÂNCIA, 2011) buscou ainda relatar e 
analisar a Biblioteca ao longo de sua existência, enfocando sua formação, seu 
crescimento e desenvolvimento. Para isso, organizamos a escrita em dois 
períodos de análise: 1971-2004, quando a biblioteca esteve sob a 
responsabilidade da bibliotecária Roseline D’Ávila, e 2005-20125, em que a 
bibliotecária responsável foi Márcia Martinez. 
Nesses dois momentos, trabalhamos com duas representações desta 
Biblioteca configuradas em torno de algumas ações desenvolvidas pelas 
pessoas responsáveis por sua condução, pelos modos diferenciados de 
trabalhar das duas bibliotecárias, pelos programas políticos que orientaram 
algumas propostas culturais neste espaço etc. 
 O conceito de representação utilizado no momento de análise dos dados 
desta pesquisa inicial foi também assumido a partir dos estudos de Chartier 
(1991, 2002a). De acordo com este autor, a representação 
é um dos conceitos mais importantes utilizados pelos homens do 
Antigo Regime, quando pretendem compreender o funcionamento de 
uma sociedade ou definir as operações intelectuais que lhe permitem 
apreender o mundo. (...) ela permite articular três modalidades da 
relação com o mundo social, em primeiro lugar, o trabalho da 
classificação e de elimitação que produz as configurações intelectuais 
múltiplas, através das quais a realidade é contraditoriamente 
construída pelos diferentes grupos; seguidamente, as práticas que 
visam fazer reconhecer uma identidade social, exibir uma maneira 
própria de estar no mundo, significar simbolicamente um estatuto e 
uma posição; por fim, as formas institucionalizadas e objectivadas 
graças às quais uns “representantes” (instâncias coletivas ou pessoas 
singulares) marcam de forma visível e perpetuada a existência do 
grupo, da classe ou da comunidade. (CHARTIER, 2002a, p. 23). 
 
 A partir da ideia de que apreendemos e lidamos com o mundo pelas 
representações, classificamos e delimitamos algumas das atividades 
observadas na Biblioteca em períodos distintos, marcados pelos sujeitos que a 
coordenavam e propunham ações em torno da leitura e dos leitores. 
 Identificamos que o primeiro momento esteve subordinado, na maior 
parte do tempo, à gestão pública de um determinado partido político, enquanto 
 
5 A pesquisa que estudou a história da Biblioteca (LATÂNCIA, 2011) analisa-a até o ano de 
2011, porém a gestão da bibliotecária Márcia Martinez aconteceu até o ano de 2012. 
25 
 
 
 
que o segundo esteve ligado ao partido político que fazia oposição ao primeiro. 
(LATÂNCIA, 2011). 
 No primeiro período, pudemos identificar uma Biblioteca que tinha como 
foco a construção do que deveria ser uma biblioteca (modo de organização, 
utilização, funcionamento e finalidades). Havia uma grande preocupação por 
parte da bibliotecária em divulgá-la na cidade, apresentando-a e buscando 
leitores, bem como em educá-los para frequentar este espaço e conhecer seu 
funcionamento e usos. Além disso, percebemos outra grande preocupação da 
bibliotecária na constituição do acervo, construído principalmente a partir de 
doações recebidas, buscando atender à demanda de seus futuros usuários. 
 Este período ainda foi marcado por mudanças do prédio da Biblioteca 
(em 1996 e, novamente, em 2001), buscando espaços maiores para receber 
seus leitores de maneira mais confortável, podendo ainda acomodar os livros 
de maneira mais organizada. Após a segunda mudança, foi possível criar na 
Biblioteca um espaço exclusivo para a literatura infantil. 
Foi a partir do momento em que a Biblioteca instalou-se em novo 
prédio, que a literatura infantil realmente ganhou seu espaço próprio. 
O espaço exclusivo para este tipo de livros e a organização que ele 
recebeu tem como intenção explícita atrair e conquistar as crianças, 
aproximando-as do mundo dos livros e da literatura infantil. É a busca 
pela ampliação do público e a conquista de novo leitores com outras 
finalidades de leitura, além do estudo e da pesquisa. São novos 
sentidos que vão sendo agregados a esta Biblioteca, em novos 
tempos. (LATÂNCIA, 2011, p. 81). 
 
 Neste momento e com estas mudanças, percebemos, de uma maneira 
geral, a preocupação com a constituição do espaço da biblioteca tendo uma 
representação voltada para o livro e para seu uso, havendo um foco na 
orientação aos usuários de como usar o livro, o que fazer, como se portar no 
interior da Biblioteca, que passa a ter um foco voltado para a pesquisa, sendo, 
portanto, um espaço para o estudante: um espaço de leitura, de pesquisa e de 
acesso aos livros. Ao mesmo tempo, também, havia a preocupação em buscar 
novos leitores, novas finalidades de leitura, novos usos para a Biblioteca. 
 O segundo período de gestão da Biblioteca traz outra configuração: sob 
a coordenação da bibliotecária Márcia Martinez, esta se propôs a reorganizar o 
acervo de livros constituído por mais de 15 mil livros. 
26 
 
 
 
 Esta bibliotecária teve como prioridade recatalogar os livros de acordo 
com as normas da Biblioteconomia, retirando aqueles em condições precárias 
de uso e substituindo-os por outros novos. “O acervo foi revisado buscando 
uma atualização de acordo com as necessidades e gostos do público leitor que 
frequenta este espaço, e das condições dos livros.” (LATÂNCIA, 2011, p. 83) 
Além disso, a Biblioteca recebeu uma verba para aquisição de novos livros 
para o acervo “escolhendo a partir do interesse do público leitor e de acordo 
com o que o mercado editorial oferece de mais recente e interessante.” 
(LATÂNCIA, 2011, p. 84) 
 Outra característica desta gestão foi o acesso à internet pública na 
Biblioteca, com a instalação de computadores para que os usuários pudessem 
acessá-la, além de ser disponibilizada a consulta on-line ao acervo. 
 Percebemos, assim, uma representação de biblioteca bastante distinta 
da anterior, com um foco técnico para sua organização, tendo como objetivo 
atualizá-la e modernizá-la. 
 Esta pesquisa tornou-me ainda mais envolvida com o espaço da 
biblioteca e, em especial, com esta que foi estudada por mim. Também como 
professora aumentou meu desejo de tornar meus alunos leitores - amantes dos 
livros. Porém, o projeto de estudar os leitores - frequentadores da Biblioteca 
Municipal de Valinhos - ficou guardado para ser realizado mais tarde. Em 
outras condições. 
 
1.3A leitora que se torna pesquisadora e, também, professora 
Após a conclusão do curso de Pedagogia, fui contratada como 
professora pela escola particular em que eu realizara estágio (a mesma em que 
estudei quando criança e adolescente). Assumi a função em uma sala de 
terceiro ano, com minha “imaturidade” docente, mas também com uma imensa 
vontade de fazer a diferença. 
Durante todo o ano letivo, busquei levar para meus alunos o encanto 
que tinha com os livros. Realizei projetos de leitura, lia diariamente na sala, 
levava meus livros, retirava livros na biblioteca da escola junto com as crianças, 
fazia rodas em que eles podiam contar sobre as histórias de que haviam 
27 
 
 
 
gostado e de que não haviam gostado. O ano letivo foi muito produtivo, cresci 
muito como profissional, aprendi, acertei e também errei, busquei estratégias 
novas e antigas com as colegas mais experientes do que eu. Terminei o ano 
com o sentimento de dever cumprido, mas com a vontade de, no ano seguinte, 
fazer ainda mais. 
Assim, juntamente com uma professora colega de turma, elaborei um 
projeto de leitura que duraria o ano todo e envolveria, entre outras propostas de 
incentivo à leitura, uma visita à Biblioteca Municipal de Valinhos. Meu desejo 
era que as crianças frequentassem aquele espaço, tão diferente da biblioteca 
escolar, e tivessem a experiência de ser cadastrados como usuários da 
biblioteca, com carteirinha (em seu nome, com foto e assinatura). Queria 
proporcionar a elas o ingresso ao mundo dos livros e de um espaço próprio, 
organizado por gestos, atitudes, ações, sentimentos, valores: escolher um livro 
entre muitos, levá-lo para ler em casa, cumprir o prazo de devolução, conhecer 
a ordem dos livros. A responsabilidade com um material que não seria da 
escola daria a eles uma experiência diferente com o livro, além disso, 
envolveria a família em um âmbito também distinto do usual, talvez 
aproximando-a e incentivando-a a participar dos momentos de leitura das 
crianças. Meu contato com as famílias, em encontros ou reuniões, mostrava 
que a grande maioria dos pais não lia livros literários ou mesmo jornal, por falta 
de tempo, ou por não gostar, deixando que as crianças “lessem” os livros da 
escola praticamente sozinhos. 
Acredito que o modelo de leitores e as representações de leitura e do 
livro que tive em casa foram importantes na constituição da leitora que sou 
hoje, por isso queria investir, incentivar os pais a também lerem com as 
crianças, em busca de ampliar a rede de leitores e de criar significativos laços 
afetivos entre eles e os livros. 
Deste modo, enviei um bilhete às famílias explicando o projeto a ser 
desenvolvido com os alunos e como funcionaria a visita à Biblioteca, solicitando 
documentos para viabilizar a realização dos cadastros das crianças. Espantei-
me ao perceber que a grande maioria dos pais não sabia que Valinhos tinha 
uma Biblioteca ou onde ela ficava, apesar de estar localizada a apenas um 
28 
 
 
 
quarteirão de distância da escola. Entre os pais dos vinte alunos que eu tinha e 
dos quarenta das outras turmas de terceiro ano, apenas dois tinham cadastro 
na Biblioteca e já possuíam carteirinhas. 
Ao iniciarmos o trabalho, novamente nos espantamos ao saber que os 
alunos pouco conheciam sobre o funcionamento de uma biblioteca, trazendo 
indagações a respeito, questionando se os livros eram para vender, por 
exemplo. 
A nossa primeira visita à biblioteca foi feita a pé, acompanhados de uma 
funcionária da escola. Ao entrar no espaço, as crianças se mostraram 
espantadas com o seu tamanho, divisão em várias salas, a quantidade de 
estantes, tipos de móveis (sofás e cadeiras na recepção), número de 
funcionários, a imensa quantidade de livros, a presença de computadores, a 
frequência de outras pessoas. Um aluno chegou a perguntar para uma 
funcionária se ela havia escrito todos aqueles livros, e outra aluna perguntou se 
ela já havia lido todos os livros e se eles estariam à venda. 
 Uma funcionária nos acompanhou em todas as salas e apresentou como 
a biblioteca está organizada: cada sala identificada com uma cor específica, 
por assunto, que acompanhava a cor da etiqueta do livro, de modo a facilitar a 
devolução deste às estantes. 
A chegada à sala de literatura infantil, com as mesinhas, cadeirinhas e 
pufes para sentar, criou uma movimentação. Animados, encantados, curiosos, 
os alunos queriam olhar todos os livros e, com a permissão da funcionária e o 
meu olhar de incentivo, começaram a tirar livros das estantes para folheá-los. 
Eu, orgulhosa, olhava os gestos e práticas dos meus alunos em relação aos 
livros: pegar o livro na estante, folheá-lo, observar as ilustrações, o número de 
páginas, o nome do escritor e do ilustrador, ler o texto da capa de trás ou da 
orelha. Gestos, modos de ler aprendidos e ensinados nas visitas que haviam 
feito, em especial à biblioteca escolar. 
Sobre estas práticas dos alunos (desordem) e da funcionária da 
biblioteca (ordem), Chartier (1999) afirma que: 
Tais relações são caracterizadas por um movimento contraditório. Por 
um lado, cada leitor é confrontado por todo um conjunto de 
constrangimento e regras. O autor, o livreiro-editor, o comentador, o 
censor, todos pensam em controlar mais de perto a produção de 
29 
 
 
 
sentido, fazendo com que os textos escritos, publicados, glosados ou 
autorizados por ele sejam compreendidos, sem qualquer variação 
possível, à luz de sua vontade prescritiva. Por outro lado, a leitura é, 
por definição, rebelde e vadia. Os artifícios de que lançam mão os 
leitores para obter livros proibidos, ler nas entrelinhas, e subverter as 
lições impostas são infinitos. (CHARTIER, 1999, p. 7) 
 
Nesse sentido, Chartier (1999) destaca as estratégias utilizadas pelos 
autores e editores na fabricação do livro, “orientando” os leitores no encontro 
com os textos escritos pelos autores. E em nosso caso, acrescentamos as 
estratégias de “controle” nas formas de usos desses livros, percebidos nos 
gestos, olhares, falas da bibliotecária e da professora que sou. 
Os alunos, em seus movimentos (táticas6) não totalmente previstos por 
nós, em pouco tempo (vinte minutos) cobriram as mesas de livros, ficando 
impossível enxergar sua superfície. Organizados posteriormente em grupos, 
permitimos que eles escolhessem os livros para retirada enquanto iam 
folheando, manuseando, orientando-se para a escolha. 
 A retirada demorou mais de uma hora, e a escolha de livros feita pelas 
crianças não poderia ser mais diversificada: livros grandes e pequenos; com 
muitas ou poucas páginas; com ou sem imagens; sobre os mais diferentes 
assuntos, temas, títulos, autores; livros de pesquisa, científicos, livros que os 
pais iriam gostar de ler. Uma biblioteca sem muros (CHARTIER, 1999), a partir 
das escolhas da comunidade de leitores formada, neste momento, pelos meus 
alunos de terceiro ano. 
 Neste dia voltei para a escola com a paixão pelos livros e por aquele 
espaço mais revigorada. E, nesse momento, decidi escrever um projeto de 
pesquisa para tentar ingressar no mestrado a fim de estudar os leitores da 
Biblioteca Municipal e suas práticas, gestos e usos daquele espaço. 
 
6 Tática e estratégia: conceitos de Michel de Certeau (1994). Estratégia é todo planejamento 
intencional e calculado que é imposto; é como age o sujeito ou instituição com lugar de poder. 
Tática são os gestos do dia a dia que ajudam a lidar com as estratégias, com aquilo que é 
imposto. 
30 
 
 
 
Capítulo II - A biblioteca e os leitores: objeto de estudo e 
pesquisa 
 
 
Mas uma biblioteca não é apenas um lugar de 
recolhimento. 
(CHARTIER, 1999, p. 73). 
 
 Iniciar por esta epígrafe, apoiada em Roger Chartier, leva a pensar que 
a biblioteca não é um espaço de recolhimento e de isolamento, sobretudo 
porque ela pode assumir outras funções e usos pelosseus frequentadores, em 
diferentes tempos e comunidades. A partir do relato de minhas próprias 
memórias e vivências, outras representações sobre este espaço puderam ser 
construídas e continuam a circular por distintos lugares e simultaneamente no 
mesmo espaço. 
São representações sobre a importância da biblioteca como espaço 
“repositório” de livros, mas também como local que promove a leitura, o acesso 
à informação, um conhecimento do mundo dos livros e dos leitores; um lugar 
habitado por sujeitos diversos, que se movimentam em torno de distintas 
expectativas, sonhos, interesses, valores a respeito do livro e da leitura. Um 
lugar de sociabilidades da leitura. 
À medida que frequentava o espaço da biblioteca como professora 
acompanhando meus alunos, algumas questões começaram a me acompanhar 
e ganhar forma. Como seus usuários, funcionários e leitores a utilizam e dela 
se apoderam? Que sentidos orientam os leitores em seu envolvimento com 
esta biblioteca? Quais são as práticas, os usos, os gestos possíveis que 
acontecem neste espaço? Quais finalidades e interesses movem os leitores 
que a frequentam? 
No esforço de compreender essas questões e buscar alguns caminhos 
para respondê-las, era necessário conhecer sobre a produção acadêmica já 
acumulada a respeito desta temática, identificando o quanto tais questões se 
31 
 
 
 
aproximavam ou se distanciavam de tantas outras que poderiam ter orientado 
outros estudos. 
 Uma primeira pesquisa, não propriamente acadêmica, que buscamos 
conhecer foi o estudo Retratos de Leitura no Brasil (2012). De âmbito nacional, 
este estudo de caráter mais panorâmico foi realizado pelo Instituto Pró-Livro e 
executado pelo IBOPE Inteligência. 
“Retratos da Leitura é o projeto de maior destaque entre os 
desenvolvidos pelo IPL, pois se tornou referência como o primeiro e único 
estudo em âmbito nacional sobre o comportamento leitor do brasileiro.” 
(Retratos de Leitura no Brasil, 2012, s/p.) Teve como objetivo conhecer o 
comportamento leitor, além de intensidade, frequência, forma, escolhas 
relacionadas à leitura da população brasileira, por aqueles ligados ao polo da 
produção editorial. 
 Tendo sido realizada pela primeira vez no ano 2000 e publicada em 
2001, o projeto já está em sua terceira edição. Nosso estudo traz dados e 
porcentagens apoiados nas duas últimas pesquisas (2008, 2012), a partir do 
relatório publicado em 2012, que apresenta uma comparação entre os 
resultados da segunda e da terceira edições. Ignoramos os dados da primeira 
edição, já que as duas últimas (2008 e 2012) apresentam os resultados 
relativos a um período mais próximo ao que a presente pesquisa está sendo 
realizada, sendo, portanto, mais relevante neste momento. 
 O relatório analisado por nós (2012) esclarece que para a realização da 
pesquisa: 
• Foi utilizada uma amostra de 5.012 entrevistas domiciliares, em 315 
municípios de todos os Estados brasileiros. 
• Com um intervalo de confiança estimado de 95%, a margem de erro 
máxima estimada é de 1,4 p.p. para mais ou para menos sobre os 
resultados encontrados no total da amostra. 
• Esta amostra garantiu a leitura consistente e segura dos resultados 
em todas as segmentações necessárias e exigidas pelo estudo. 
(Retratos de Leitura no Brasil, 2012, s/p.) 
 
A partir deste contexto e de uma leitura e análise iniciais, percebemos 
que minha experiência com livros e leitura não é a regra entre a população 
brasileira. Ao contrário, encaixo-me na porcentagem menor da população, que 
32 
 
 
 
gosta de ler, que tem boas experiências com a leitura, que tem grande acesso 
ao livro e que frequenta regularmente bibliotecas. 
É interessante perceber, por exemplo, que apenas 28% dos 
entrevistados gostam de ler em seu tempo livre, de acordo com os resultados 
da terceira edição, e que, destes, apenas 58% leem frequentemente. E esta 
porcentagem apenas caiu em relação à segunda edição, quando era de 36% o 
total de entrevistados que declararam gostar de ler7. Apesar disso, a pesquisa 
de 2012 mostra que 64% dos entrevistados concordam com a afirmação “Ler 
bastante pode fazer uma pessoa ‘vencer na vida’ e melhorar a sua situação 
socioeconômica”. Mas apenas 47% (2012) e 60% (2008) conhecem alguém 
que venceu na vida graças à leitura. 
A representação da importância da leitura e de sua valorização, como a 
discutida a partir da fala de Mafalda no capítulo anterior, volta a aparecer, 
considerando-se a afirmação feita por mais de 50% da população pesquisada. 
No entanto, é difícil saber até que ponto o “respondido” aos entrevistadores 
corresponde de fato à prática efetiva de leitura. Como sabemos, o entrevistado 
pode dizer “gosto de ler” ou afirmar ter lido certa quantidade de livros, imbuído 
apenas do valor de prestígio que tais respostas têm em nossa sociedade. 
Vale ressaltar que a pesquisa leva em conta para a definição de leitor 
aquele que leu, inteiro ou em parte, pelo menos um livro nos últimos três 
meses. E considera “não-leitor” aquele que não leu nos últimos três meses, 
mesmo que tenha lido nos últimos doze meses. Em 2008, 55% dos 
entrevistados eram considerados leitores. Em 2012, esta porcentagem vai para 
50%. Uma definição escolhida pelas associações de editores (Instituto Pró-
Livro) que deixa de levar em conta outros cruzamentos e nuances que podem 
ocorrer na trajetória dos leitores. 
Quanto ao uso do espaço da biblioteca, apenas 26% daqueles que são 
considerados leitores têm acesso ao livro emprestando-o nestes espaços ou 
nas escolas; em 2008, essa porcentagem era de 34%. Entre todos os 
entrevistados na pesquisa, 67% afirmam saber que existe uma biblioteca 
pública na cidade ou bairro em que mora. Esta porcentagem é a mesma nas 
 
7 Não há a informação de quantos entrevistados leem frequentemente em relação à pesquisa 
de 2008. 
33 
 
 
 
duas edições da pesquisa. Destes 67%, 71% (2012) afirmam que o local é de 
fácil acesso8, porém apenas 7% (2012) e 10% (2008) usam-na com frequência, 
contra 75% (2012) e 74% (2008) que afirmam não utilizá-la. Em relação ao 
pequeno grupo que a utiliza e a frequenta, 64% o fazem nas bibliotecas 
escolares e universitárias e 50% utilizam bibliotecas públicas, sendo que 55% 
dos leitores utilizam ambas. 
O gráfico a seguir, retirado do relatório da pesquisa publicada em 2012, 
mostra as representações de biblioteca para a população brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gráfico 1 - O que a biblioteca representa. Fonte: relatório da pesquisa Retratos de Leitura no Brasil 
(2012). 
Pelo gráfico (Retratos de Leitura no Brasil, 2012, s/p), podemos perceber 
que a grande maioria da população tem uma representação de biblioteca 
relacionada à escola, ao ambiente escolar ou a atividades relacionadas a ele: 
71% consideram a biblioteca um local de estudo, 61% um local para pesquisa, 
 
8 Esta pergunta foi feita apenas na pesquisa de 2011, portanto não há base de comparação 
com 2007. 
34 
 
 
 
28% um local para estudantes, 16% um local para emprestar livros para 
realizar trabalhos escolares 
Considerando que, de acordo com o perfil dos entrevistados da pesquisa 
de 2012, 68% dos entrevistados não estão estudando atualmente, podemos 
conjecturar que a pequena quantidade de frequentadores de biblioteca se deve 
ao fato de os entrevistados acreditarem que este é um espaço direcionado para 
estudantes e para a realização de atividades escolares; como a grande maioria 
destes entrevistados não é estudante, não considera necessário/adequado 
frequentá-la. 
 Ainda em relação a esta representação de biblioteca enquanto espaço 
relacionado à escola, o relatório de 2012 mostrou que 24% dos entrevistados 
usam a biblioteca com frequência ou de vez em quando, contra 76% que nunca 
frequentam tal espaço.Destes 24%, 70% estão estudando, mostrando 
novamente uma representação ligando “biblioteca e escola”. 
 Esta pesquisa e seus dados parecem mostrar uma representação e um 
discurso de que o brasileiro não lê, não gosta de ler, de que o Brasil não tem 
leitores. No entanto, nossa pesquisa anterior (LATÂNCIA e FERREIRA, 2010 e 
2011), que culminou na escrita da história da Biblioteca Municipal de Valinhos 
(LATÂNCIA, 2011), mostra um crescimento na frequência de usuários/leitores 
nesta Biblioteca ao longo de sua existência. A cidade cresce, espalha-se por 
bairros mais distantes e, consequentemente, o número de leitores também 
aumenta. 
 Um caderno de registros manuscritos de leitores e usuários9, datado de 
1971 (ano de inauguração da Biblioteca), mostra que esta recebia quatro ou 
cinco pessoas por dia. Já uma reportagem publicada em 27 de setembro de 
200110 e que compôs o corpus da pesquisa sobre a Biblioteca de Valinhos 
(LATÂNCIA, 2011), mostra que, neste momento, “o atendimento médio da 
biblioteca era de duzentos e cinquenta pessoas por dia.” (LATÂNCIA, 2011, p. 
78) 
 
9 Maiores informações sobre este caderno poderão ser encontradas no capítulo 3 deste 
trabalho quando descrevemos como ele foi encontrado, como era organizado e que 
informações continha. 
10 Não há indicação do jornal de onde foi retirada a reportagem, já que esta pertence a uma 
pasta de recortes de jornais emprestada pela bibliotecária. 
35 
 
 
 
 A partir destas duas fontes (caderno de registros e reportagem), 
podemos inferir um grande aumento na quantidade de leitores, que vem 
acompanhado da ampliação do acervo da Biblioteca, que em 2001 já chegava 
a dezessete mil exemplares, e de um crescimento no seu espaço físico, 
marcado pela mudança de prédio para atender melhor às necessidades dos 
seus usuários (LATÂNCIA, 2011). Este aumento, que diverge das 
porcentagens apresentadas pela pesquisa “Retratos de Leitura” (2012), pode 
indicar também um crescimento na busca por uma diversidade de livros 
(impressos, on-line, infantis, romances, consulta escolar) ou por outros 
suportes (jornal, revistas, gibis, VHS ou DVD), além de uma diversificação dos 
próprios leitores (estudantes ou não, crianças, adolescentes, adultos, idosos, 
homens, mulheres). 
 Além de nossas pesquisas de Iniciação Científica (LATÂNCIA e 
FERREIRA, 2010 e 2011) e de Trabalho de Conclusão de Curso (LATÂNCIA, 
2011), já anteriormente comentados, outros estudos vêm se preocupando com 
os assuntos “biblioteca”, “leitores” e “práticas de leitura”. São pesquisas que, de 
alguma forma, se aproximam de nossos interesses investigativos, mas que 
também se distanciam delas em alguns momentos. As primeiras a serem 
destacadas são as de Ferreira (2001; 2014) e Aliaga (2013), ambas produzidas 
no interior do grupo de pesquisa ALLE (Alfabetização, Leitura e Escrita)11, da 
Faculdade de Educação, da UNICAMP – do qual também fazemos parte. 
No grupo de pesquisa ALLE são muitos os trabalhos orientados pelos 
estudos trazidos pela História Cultural, conforme Ferreira (2014, p.5): 
são nossos objetos de investigação: representações, práticas e 
discursos que (in)formam e dão inteligibilidade ao mundo da leitura 
(cultura escrita) pelos suportes de textos, pelos sujeitos e suas 
instituições histórico-culturalmente datados. Trata-se de um esforço 
de compreensão do processo pelo qual o sentido da leitura é 
diferentemente construído e representado em diversos tempos, 
espaços e comunidades, a partir dos estudos desenvolvidos pela 
História Cultural: Roger Chartier (1994; 1996; 2001; 2004); Michel de 
Certeau, (1996; 2001); Mickail Bakhtin (1997, 1988); Robert Darnton 
(1992; 1995). Tem sido nossos interlocutores, principalmente os 
pesquisadores que nas últimas décadas têm estado ligados aos 
estudos da História da Educação, da História Cultural, além daqueles 
de áreas como História, Antropologia, Linguística, Letras, Literatura, 
 
11 <http://www.fe.unicamp.br/alle/> 
36 
 
 
 
Sociologia e Pedagogia, que se (entre)cruzam com a História do livro, 
do leitor e da leitura etc. 
 
Assim, os trabalhos deste grupo de pesquisa têm tomado como desafio, 
conforme Ferreira (2014), refletir sobre a cultura da escrita e da leitura, 
contribuindo com uma produção no campo da educação no que se relaciona, 
especialmente, aos profissionais ligados ao mundo dos impressos, aos 
espaços destinados a objetos e suportes de textos da cultura letrada, a leitores 
que não apenas aqueles que circulam na escola, numa compreensão de que a 
educação ultrapassa os limites da instituição. 
Ferreira (2001), em sua pesquisa de doutorado intitulada “A pesquisa 
sobre leitura no Brasil – 1980-1995” constrói um levantamento de resumos de 
teses de doutorado e dissertações de mestrado sobre “leitura”, no período de 
1980 a 1995. Com este levantamento, a pesquisadora analisa e descreve a 
trajetória da leitura no Brasil: como as pesquisas se distribuem no tempo, no 
espaço (regiões, instituições), por áreas de conhecimento, pelo gênero dos 
pesquisadores e orientadores, por focos temáticos, apontando tendências e 
movimentos no campo. 
 Entre os focos destacados pela pesquisadora, um deles nos interessa 
(Análise do ensino de leitura e proposta didática), particularmente por reunir, 
entre outros, 
os trabalhos que se voltam para o tema ‘instituição-biblioteca’ seja ela 
escolar ou pública. De um modo geral, estes trabalhos interrogam 
como ela [biblioteca] se organiza, como constrói suas formas de 
leitura, que práticas e gestos com a leitura são nela produzidos e por 
quem. (FERREIRA, 2001, p. 132, grifo da autora). 
 
Outro foco que também dialoga com nossa pesquisa é “Leitores – 
preferências, gestos, hábitos, histórias e representações”. Neste, Ferreira 
(2001, p. 144) destaca os trabalhos e pesquisas que se voltam ao estudo do 
leitor “seja ele o aluno nas escolas e o frequentador das bibliotecas públicas, 
através do mapeamento de seus interesses, gostos, preferências, expectativas, 
hábitos, representações, condições de leitura e de estudo, critérios de seleção 
das obras.” 
O trabalho de Ferreira aponta que quando a temática é “leitura e 
leitores”, há uma diversidade de enfoques e interesses por parte dos 
37 
 
 
 
pesquisadores, ora em uma perspectiva mais psicológica e psicolinguística, ora 
mais social e cultural ou antropológica, ora ainda mais histórica, ou todas elas 
juntas em alguma espécie de combinação. São dois foco temáticosque 
englobam uma quantidade significativa de dissertações de mestrado e teses de 
doutorado, indicando a importância dos estudos de conhecerem seus leitores e 
os espaços frequentados por ele. 
Outra pesquisa desenvolvida no âmbito do grupo ALLE é a de Aliaga 
(2013), intitulada “A biblioteca escolar na produção acadêmica sobre leitura: 
movimentos, diálogos, aproximações”. Assim como a pesquisa de Ferreira 
(2001), Aliaga (2013) realiza estudo na perspectiva denominada “estado da 
arte” a partir do levantamento das produções científicas sobre “bibliotecas”, no 
período de 2000 a 2010. A pesquisadora busca teses e dissertações, 
utilizando-se da palavra-chave “biblioteca” e termos relacionados à leitura 
(leitura, leitor, história da leitura, ato de ler), selecionando cento e três resumos 
que compõem seu corpus de pesquisa. 
 Destes cento e três resumos, onze, de certa forma, se aproximam de 
nossa pesquisa por tratarem de bibliotecas públicas: 
Quando o campo de estudos em educação toma como objeto de 
investigação a biblioteca pública, o faz predominantemente com uma 
abordagem histórica, no intuito de recuperar a constituição dessa 
biblioteca, as práticas leitoras realizadas e compartilhadas em seu 
espaço, assim como os sentidos alcançados em sua época. Para o 
campo da educação, a biblioteca pública parece apresentar-se comorealidade antiga, algo distante no tempo, talvez com seu lugar em 
questão. Apenas três desses trabalhos analisam a biblioteca pública 
enquanto espaço legítimo e contemporâneo de promoção e 
disseminação da educação, cultura, informação e lazer. (ALIAGA, 
2013, p. 104) 
 
 Tomando como base a pesquisa de Aliaga (2013), empreendemos uma 
busca12 pelos trabalhos completos procurando aqueles que poderiam também 
ter como objeto o estudo de “leitores” e de suas “práticas em bibliotecas”. 
Destes onze resumos identificados por Aliaga (2013), foi possível acessar sete 
pesquisas, de forma integral e dessas, selecionamos três para serem 
analisadas por se aproximar daquilo que pretendemos nesta pesquisa e por 
 
12 Foi utilizada a ferramenta de busca do Google, pesquisando o nome do autor e/ou o nome 
da pesquisa. Em alguns casos, quando não foi apresentada uma página que desse acesso ao 
trabalho completo, foi buscada a página da universidade de qual o pesquisador fazia parte. 
38 
 
 
 
nos apontar também pontos de distanciamento possíveis de serem 
investigados em outros momentos. Destes trabalhos, dois estão em formato 
digital (LOPES, 2008; MASSOLA, 2009) e um deles em formato impresso 
(MAIA, 2004). 
 A pesquisa de Lopes (2008), intitulada Biblioteca Pública Municipal 
Rosulino Campos: memória, história e leitura tem o objetivo de “analisar as 
práticas e representações de leitura e a formação de leitores constituídas no 
espaço da Biblioteca Pública Municipal Rosulino Campos, na cidade de Rio 
Verde-GO” (LOPES, 2008, p.8). O pesquisador busca se aproximar do 
percurso desta Biblioteca, levantando como e por que ela foi formada e 
constituída, como foi se desenvolvendo e organizando, quem a frequentava, 
quais práticas de leitura eram encontradas neste espaço para, a partir destas 
práticas, tentar conhecer as representações de leitura e biblioteca. 
 O pesquisador, para cumprir seus objetivos de pesquisa, utilizou como 
fontes documentos oficiais, relatos orais sobre a Biblioteca e entrevistas com 
leitores frequentadores deste espaço, com o intuito de identificar as suas 
práticas. 
Ao longo desta dissertação, Lopes (2008) infere algumas 
representações de biblioteca, como: suporte cultural, que promove cultura, 
prazer e entretenimento; fonte de saber, de informações, de conhecimento; 
acesso ao livro e ao prazer da leitura; espaço aberto ao público, levando este 
bem cultural (livro) a todos; espaço deixado de lado pelo governo, que não 
direciona verbas específicas ou políticas de incentivo para sua estruturação e 
formação; acesso à tecnologia, ao computador e à internet. 
Outra pesquisa, que se aproxima muito da pesquisa de Lopes (2008) é a 
de Maia (2004), intitulada Biblioteca Pública: espaço de mediação entre a 
criança e a cultura escrita, que tem como objeto de estudo a Biblioteca Pública 
Municipal Ataliba Lago, localizada na cidade de Divinópolis-MG. Este trabalho 
buscou: compreender as práticas de leitura no interior da biblioteca; verificar se 
escola e Biblioteca trabalham juntas; conhecer as demandas da escola em 
relação às Bibliotecas, como as crianças utilizam esse espaço público, o que a 
Biblioteca oferece para a comunidade e a relação entre o leitor e a Biblioteca. 
39 
 
 
 
Ao longo da pesquisa, Maia (2004) apresenta algumas representações 
de biblioteca que puderam ser identificadas a partir das práticas observadas, 
das maneiras que os leitores se apropriam dos objetos. É a biblioteca como 
espaço de leitura e de acesso à cultura, a um bem cultural (livro e leitura); 
como espaço coletivo, paradoxal (silêncio x diálogo) e de mediação; espaço de 
inclusão social e cultural; além de um ambiente mágico. 
Massola (2009), de forma semelhante, busca conhecer os leitores, as 
práticas e as representações de leitura encontradas em uma biblioteca 
comunitária, construída a partir da doação do valor de um prêmio pelos 
vencedores de um concurso de grafiteiros, realizado por uma ONG. A 
biblioteca foi construída na comunidade Morro da Cruz, em Porto Alegre – RS. 
A autora percebe que a leitura acontece cotidianamente no dia a dia dessa 
comunidade, mas no espaço desta Biblioteca, ela assume significados 
diferentes pelos seus usuários. 
A pesquisadora indica que, nesta biblioteca, a leitura está, em sua 
maioria, direcionada para a leitura do livro; também direcionando, portanto, 
algumas práticas e a própria organização do espaço. Mas, ao mesmo tempo, 
há uma tentativa de levar o leitor a conhecer diversos tipos de texto, e não 
apenas aquele que lhe é mais familiar, oferecendo a ele estratégias e práticas 
diferentes para que este conhecimento do que não é familiar seja possível. 
Talvez uma ideia de um espaço que envolve ações mais propositivas, de cunho 
formativo, visando à ampliação do conhecimento do mundo dos livros. 
Estas duas facetas da biblioteca apresentadas por Massola (2009) 
mostram representações de leitura e de biblioteca que tratam da formação do 
leitor, e não apenas do acesso ao livro, à leitura, a partir de demandas e 
interesse de seus usuários. 
A pesquisa de Aliaga (2013), assim como a pesquisa de Ferreira (2013) 
– estado da arte – ajudam outros pesquisadores a localizar um conjunto de 
trabalhos que tem como foco as “bibliotecas” e seus “leitores”. Os trabalhos de 
Lopes (2008), Maia (2004) e Massola (2009) contribuem para a construção de 
nossa pesquisa porque, em comum, trazem como foco de investigação uma 
40 
 
 
 
busca de compreensão dos leitores, das práticas e representações que 
movimentam esse lugar, chamado por nós, de biblioteca. 
 Outra busca foi empreendida por nós além daquelas pesquisas 
identificadas nos trabalhos de Ferreira (2011) e Aliaga (2013). Nesta foram 
localizados os de Platzer (2009) e Rochetti (2012), trabalhos também 
realizados no âmbito de nosso grupo de pesquisa ALLE. 
 A pesquisa de Platzer (2009), intitulada Crianças leitoras entre práticas 
de leitura, tem como objetivo conhecer como se dá o encontro entre os objetos 
de leitura e seus leitores, quais as modalidades de leitura praticadas e 
escolhidas por eles, tendo como leitores crianças de 10 e 11 anos, de ambos 
os gêneros, escolarizadas e que frequentam o 2º ano do Ciclo II do Ensino 
Fundamental de uma escola pública municipal de Araraquara-SP, localizada 
em zona urbana periférica. (PLATZER, 2009, p. 26). Como procedimentos 
metodológicos de coleta de dados foram utilizados: o Projeto Político-
Pedagógico da escola, o prontuário dos alunos, observação, questionários, 
entrevistas, conversas informais e fotografias. 
 A pesquisadora constata, na pesquisa, que a maioria das crianças 
percebe a leitura como algo de grande necessidade e importância, construindo 
uma imagem de leitor ideal e apresentando relatos positivos sobre a leitura. 
Platzer (2009) relata ainda que há grande influência dos adultos nas falas e 
práticas das crianças, buscando moldá-las, direcioná-las e, em alguns 
momentos, apagando as práticas e falas infantis. Além disso, a autora destaca 
que o acesso ao impresso não acontece apenas através da escola, das 
bibliotecas, ou pela compra, mas também por empréstimos, heranças, 
evidenciando diferentes caminhos de acesso à leitura. 
Platzer (2009) afirma que as práticas de leitura das crianças 
identificadas por ela em diferentes contextos sociais indicam que há 
necessidade de repensar a leitura e suas práticas no contexto escolar, 
principalmente quando estas vêm atreladas a uma prática “correta” e a um 
discurso de que a criança não lê. 
 A dissertação de Rochetti (2012), Leitores de Locadora de Livros, busca 
conhecer não o espaço da locadora de livros - localizada em Campinas - SP, 
41 
 
 
 
mas seus leitores (mulheres, em sua maioria) e sua relação com o lugar, a 
leitura e o gênero romance. Para cumprir os objetivos da pesquisa, foram 
utilizadas

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