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Organização dos Sistemas de Ensino para o atendimento ao aluno que apresenta Necessidades Educacionais Especiais, uma releitura da Resolução CNE/CEB nº 02 de 11 de setembro de 2001. RAMOS, Carlos Fernando Pettinati1 SUMMERS, Ana Claudia Alexandrini2 RESUMO Este artigo propõe fazer uma reflexão e releitura da Resolução CNE/CEB nº 02/2001 a partir de referenciais teóricos e fontes bibliográficas. As contribuições que esse ato normativo estabeleceu para os sistemas de ensino. Descreve ainda as novidades implementadas após anos de discussões e lutas sociais com o objetivo de conquistar o direito pleno e subjetivo da educação. A abordagem da problemática na educação especial deixa de ser do sujeito e se desloca para o sistema educacional. Quais reestruturações o sistema educacional precisou realizar para se adequar a nova ordenação. A reformulação dos currículos, das avaliações, formação de professores e de uma política educacional voltada para a diversidade. A lamentável constatação ainda da resistência das escolas em aceitar a inclusão escolar, por terem dificuldades em realizarem qualquer mudança que modificam as acomodadas estruturas. Outro aspecto levantado é o papel da mediação no processo de aprendizagem. Palavras-chave: Resolução. Educação Especial. Inclusão. Alunos com Necessidades Educacionais Especiais. Política Educacional. 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho visa fazer uma releitura da Resolução n° 02/2001 na organização dos sistemas de ensino para o atendimento ao aluno que apresenta necessidades educacionais especiais. Ao longo do processo educacional brasileiro, várias reformas foram acontecendo com o intuito de melhorar a qualidade do ensino, bem como garantir o acesso e a permanência dos educandos nas Instituições de Ensino. 1 , Pós-graduado em Educação Especial pela UBM – Barra Mansa/RJ; Graduado em Engenharia Industrial Mecânica pela EEI de São José dos Campos/SP e Matemática pela UBM de Barra Mansa/RJ, Especialista em Deficiência Visual. 2 Mestre em Educação pela Universidade Americana Framingham, pós-graduada em Magistério Superior pela Universidade Tuiuti do Paraná, Direito Educacional pela Itecne, graduada em História pela Faculdade Uniandrade, graduada em Pedagogia pela Universidade Positivo Surge, no entanto uma necessidade social, política e moral de adequar os alunos com Necessidades Educacionais Especiais neste processo, possibilitando as mesmas condições dos demais educandos. Para que isto ocorra, é necessário um acompanhamento dos órgãos competentes no sentido de averiguar e fiscalizar. Equipamentos devem ser adequados e coerentes de acordo com a deficiência, aperfeiçoamento de todos direta e indiretamente e por fim a acessibilidade ao espaço do saber. Todas as citações legais, inclusive entre parênteses, quando não vier acompanhada de lei específica, são da Resolução 02/2001. O que deve ser feito e as formas a serem utilizadas é o objeto de nosso estudo. 2 AMPARO LEGAL Em conformidade com art.9°,§1°,c, lei 4024/61; redação pela lei 9131/95, cap.I, II e III do Título V; e art.58 e 60, lei 9394/96; fundamentada pelo Parecer CNE/CEB 17/2001. 3 PRINCÍPIOS O Parecer n°17/2001 (BRASIL) ao realizar estudos sobre a Educação Especial (EE), o qual resultou a Resolução 02/2001, assevera ser matéria complexa que requer fundamentação nos seguintes princípios: A preservação da dignidade humana; A busca da identidade; O exercício da cidadania. Carvalho (2013) argumenta que as distinções sociais que dão ênfase a fatores biológicos visam estabelecer ou reforçar algum tipo de desigualdade. Toda pessoa é digna e merecedora do respeito de seus semelhantes e tem o direito a boas condições de vida e à oportunidade de realizar seus projetos.(...) Juntamente com o valor fundamental da dignidade, impõe-se o da busca da identidade (BRASIL-a, 2001). Conforme Aranha, citado por Silva (2010, p.94), “a ideia de inclusão se fundamenta em uma filosofia que reconhece e aceita a diversidade na vida em sociedade. Isto significa garantia de acesso de todos, a todas as oportunidades, independente das peculiaridades de cada individuo ou grupo social”. Prevendo estas peculiaridades encontramos, no art.4° e seus incisos, assegurados: As peculiaridades, os perfis, as características biopsicossociais; A dignidade humana; A busca da identidade própria de cada educando. Reconhecendo e valorizando suas diferenças e potencialidades; O exercício da cidadania, da capacidade de participação social, política e econômica. 4 CONCEITO DE ESCOLA O pensamento vai ao encontro de uma escola, e, portanto, de educação escolar que se legitime a socialização do saber historicamente construído pelo Homem. Uma escola que possua em seu PPP uma visão sociointeracionista deste ‘sujeito’, pois a aprendizagem ocorre quando há uma interação ou troca de experiências do indivíduo com o seu meio ambiente ou comunidade educativa, no dizer de Lakomy (2008, p.17) (art.3º) Sem essa noção, dificilmente compreenderemos o mundo que circunda o ‘sujeito’; e ao mesmo tempo sua ação neste mesmo ambiente. Fazer uma reflexão sobre a função social da educação é deveras importante, pois do contrário, conforme CARVALHO (p.10),pelo risco que se pode ter quando são realizadas abordagem não históricas, ou seja, aquelas que desconsideram a história humana, seus avanços, retrocessos e necessidades. Assim, defendemos como CARVALHO, (p.11), as políticas de Estado, ou seja, voltadas para o coletivo e os sujeitos envolvidos no processo histórico. 5 CONCEITO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL (EE) Modalidade da educação escolar, entende-se um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir3 os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica. (grifos nossos)( art.3°,Resolução n°02/2011) Percebe-se no texto legal que a EE é uma modalidade da Educação Escolar, reafirmando o que já era previsto na LDBEN 9394/96, art.58. Ou seja, não temos na EE, um ensino à parte ou paralelo, e sim que perpassa transversalmente todos os níveis e modalidade de ensino, inclusive a superior. O início do atendimento ao Aluno com Necessidades Educacionais Especiais (ANEE) ocorrerá nas creches, pré-escolas, educação infantil. Desta forma o art.1° busca garantir ao sujeito o seu pleno direito ao atendimento especializado que lhe dará suporte a suprir, complementar, e/ou suplementar o mais cedo possível, a(s) necessidade(s) que vivencia(m). Não somente identifica o que vem a ser a EE, ou seja, aquela destinada a ANEE, como também prioriza o atendimento a essa clientela nas escolas regulares (art. 2°, 3° e 4°), desdobrando com maior clareza o que constava no art. 58 e §§1°, 2° e 3° da LDBEN 9394/96. 3 O parecer CNE 17/2001 adota as seguintes acepções para os termos assinalados: a) Apoiar: “prestar auxilio ao professor e ao aluno no processo de ensino e aprendizagem, tanto nas classes comuns quanto em sala de recursos”; complementar: “completar o currículo para viabilizar o acesso à base nacional comum”; suplementar: “ampliar, aprofundar ou enriquecer a base nacional comum”. Essas formas de atuação visam assegurar respostaeducativa de qualidades às necessidades educacionais especiais dos alunos nos serviços educacionais comuns. b) Substituir: “colocar em lugar de”. Compreende o atendimento educacional especializado realizado em classes especiais, escolas especiais, classes hospitalares e atendimento domiciliar. 6 QUEM SÃO OS ANEE, DURANTE O PROCESSO EDUCACIONAL? São os que apresentarem durante o processo educacional grifos nossos): I – dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades escolares; II – dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III – altas habilidades/superdotação, grandes facilidades de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes. (art.5°,Resolução n°02/2011) O que se destaca neste artigo é a clareza de se ampliar as múltiplas possibilidades de necessidades que um sujeito poderá apresentar ao longo de sua vida, seja permanente ou momentânea. Compondo uma multiplicidade de condições, disfunções, limitações ou deficiências. Silva com muita lucidez esclarece que a expressão: “necessidades educacionais especiais, referimo-nos a uma grande parcela dos alunos que, ao longo de sua trajetória acadêmica, apresenta algum tipo de dificuldade de aprendizagem. Por sua vez, ao utilizar o termo deficiência fazemos referência à parcela da população que apresenta algum tipo de comprometimento físico, sensorial e/ou intelectual” Silva (2010, p.79). Um verdadeiro caleidoscópio a exigir: a. Do sistema educacional recursos materiais, tecnológicos e apoios multiprofissionais- incisos V e VI do art.8°, art.10°, art.11°, §§1° e 2° do art.12 e art.13; b. Do educador habilidades, competência e compromisso –inciso I do art.6°, incisos I, IV, VIe VII do art.8°, §1° do art.9°, art.15 e art.18) 7 A POLÍTICA EDUCACIONAL Desde a antiguidade, evidenciam-se práticas e teorias sociais segregadoras, inclusive quanto ao acesso ao saber. A educação terá sempre um grande desafio a cada tempo, pois deverá partir da exclusão dos alunos (seja com necessidades especiais ou em constante risco social) para uma Escola de Todos,única, aberta às diferenças. Este caminho já vem sendo construído com mais consciência a partir da Declaração Mundial de Educação para Todos (1990), da Declaração de Salamanca de Princípios, Política e Prática para as Necessidades Educativas Especiais (1994) e por fim da LDBEN(1996);, um esforço da sociedade civil organizada e das políticas públicas a partir de então. SILVA (2010, p.93) nos trás que na área da educação, esse movimento foi traduzido como inclusão escolar. Os resultados serão alcançados pelo esforço de todos, no reconhecimento dos direitos dos cidadãos, na preservação da dignidade e na busca de sua identidade. Então, os sistemas de ensino assumem, com base no art.2°, §único do art.3° e art.14: O papel de matricular todos os alunos; Assegurar condições necessárias para uma educação de qualidade; A demanda real de atendimento, criando sistema de informação; Constituir e funcionar um setor responsável pela EE. Identificar, analisar, avaliar a qualidade, bem como credenciar; 8 CONSTRUINDO A INCLUSÃO 8.1 NO ÂMBITO POLÍTICO. Os sistemas de ensino deverão assegurar a matrícula de todos e qualquer aluno(art.2°), organizando-se para o atendimento dos ANEE nas classes comuns (art.7° e inciso II do art.8°). É importante que haja descentralização do poder acerca de como devem se estruturar os sistemas de ensino e de quais procedimentos de controle social serão desenvolvidos (§único art.2°, inciso VI do art.8°, art.10°, art.11, art.14, art.15 8.2 NO ÂMBITO TÉCNICO-CIENTÍFICO A formação dos professores para o ensino na diversidade é essencial para a efetivação da inclusão. A Resolução 02/2001, tomando inciso III do art.59 da LDBEN no que se refere ao papel do professor da classe comum capacitado e do professor especializado em educação especial, esclarece e define. Assim, o §1° do art.18 afirma que são considerados professores capacitados para atuar em classes comuns com ANEE, aqueles que comprovem em sua formação de nível médio e superior, a inclusão de conteúdos ou disciplinas sobre EE e desenvolvidas as competências para: I. Perceber as necessidades educacionais especiais dos alunos; II. Flexibilizar a ação pedagógica nas diferentes áreas de conhecimento; III. Avaliar continuamente a eficácia do processo educativo; IV. Atuar em equipe, inclusive com professores especializados em EE. Portanto, a lei é clara no seu §2° do art.18, ao considerar quem são os professores especializados em EE São aquele que desenvolveram competências para identificar as necessidades educacionais especiais, definir, implementar, liderar e apoiar a implementação de estratégias de flexibilização, adaptação curricular, procedimentos didáticos pedagógicos e práticas alternativas, adequados aos atendimentos das mesmas, bem como trabalhar em equipe, assistindo o professor de classe comum nas práticas que são necessárias para promover a inclusão dos ANEE. A resolução não poderia esquecer, obviamente, dos professores que já vem exercendo o magistério na área de EE, para estes foi assegurada a oportunidade de formação continuada (§4° do art.18). Mas, passados 14 anos da publicação desta resolução, já não se concebe o ingresso ou a permanência na EE, sem as formações mínimas exigidas em lei, seja o inciso I do art.8°, art.11 e art.20 desta Resolução. Tendo em vista que desde então vários incentivos por meio dos sistemas de ensino foram e são assegurados para capacitação e formação continuada. Não poderemos esquecer os diversos cursos de especialização ofertados pelas instituições pública e privada. 8.3 NO ÂMBITO PEDAGÓGICO Em determinado momento de sua vida escolar, os educandos podem apresentar necessidades educacionais. No entanto, existem necessidades educacionais que requerem, da escola, uma série de recursos e apoios de caráter mais especializado, que proporcionem ao aluno meios para acesso ao currículo (BRASIL, 2001) Ao invés de pressupor que o aluno deva ajustar-se aos padrões de ‘normalidade’ para aprender, aponta para a escola o desafio de ajustar-se para o atendimento à diversidade dos educandos. Compete às escolas organizarem-se para o atendimento aos ANEE (art.2°). Realizarem, com assessoramento técnico, avaliação do aluno (art.6°). Constar no seu Projeto Político Pedagógico (PPP) as disposições necessárias para o atendimento ao ANEE. O PPP deverá atender ao princípio da flexibilização, para que o acesso ao currículo seja adequado às condições do aluno. Respeitando as diretrizes curriculares nacionais e as normas dos seus sistemas de ensino(art.15) Ao longo do processo educativo, realiza-se uma avaliação pedagógica dos ANEE, objetivando identificar os elementos que impedem ou dificultam o processo educativo em suas múltiplas dimensões (inciso II do art.4°, art.6°, inciso VIII do art.8°, art.16). Com base no Parecer 17/2001, essas variáveis podem ser: As que incidem na aprendizagem; As de cunho individual; As de ensino – condição da escola e prática docete; As que inspiram diretrizes gerais da educação, e as relações que se estabelecem entre todas elas. 8.4 NO ÂMBITO ADMINISTRATIVO Os sistemas de ensino devem constituir e fazer funcionar um setor responsável pela EE – Educação Especial. Compreende-se desta forma, recursos humanos, materiais e financeiros. Pois, sem estes recursosficaram difícil uma política educacional para a educação inclusiva (§único do art.2°, §único do art.3°, inciso III do art.6°, art.9°, art.10°, art.13) Através das políticas públicas de educação é fundamental que sejam garantidos o direito de ir e vir, assegurando a acessibilidade aos ANEE, mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas e no transporte escolar (art.12). Subentende- se as adaptações sendo as instalações, os mobiliário, os equipamentos. Aos alunos que apresentam dificuldades e/ou restrições para a comunicação, devem ser-lhes assegurado o acesso aos conteúdos curriculares mediante a utilizam do sistema Braille, da língua de sinais LIBRA, e demais códigos e sinais aplicáveis (§2° do art.12) 9 SERVIÇOS DE EDUCAÇÃO ESPECIAL Sabe-se que a Educação Especial ocorre em todas as instituições escolares que oferecem os níveis, etapas e modalidades da educação escolar previstas na LDBEN, tendo como eixo norteador a elaboração do PPP – Projeto Político Pedagógico, que deve incorporar essa modalidade de educação escolar em articulação com a família e a comunidade (inciso III do art.6°, inciso VII do art.8°, §2°do art.9° e §3° do art.10°) 9.1 ATENDIMENTO NA REDE REGULAR DE ENSINO A escola regular promoverá a organização de classes comuns (art. 2° e art.7°) e de serviços de apoio pedagógico especializado(inciso IV e V do art.8°) Somente em caráter extraordinário e transitório, se constituirá classes especiais (art. 9°). Reafirma-se que todos os professores de EE e os que atuam em classe comum deverão ter formação para as respectivas funções, principalmente aos que atuam nos serviços de apoio pedagógico especializado. 9.1.1 Atendimento educacional especializado fora do espaço escolar. Aos alunos que estão incapazes de comparecer nas instituições escolares por razões de saúde e ao mesmo tempo possibilitando dar continuidade ao processo de desenvolvimento e ao processo de aprendizagem, contribuindo para o seu retorno à escola regular surgem (§1° do art.13): Classe hospitalar –atendimento especializado, prover a educação escolar a alunos impossibilitados de frequentar as aulas por razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar ou atendimento ambulatorial; Ambiente domiciliar –atendimento especializado, prover a educação escolar de alunos que estejam impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique permanência prolongada em domicilio. 9.1.2 A classe especial e sua organização Com base no Parecer n°17/2001 (BRASIL,2001,p.25),é uma sala de aula, organizada para atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos cegos, surdos, de alunos que apresentem condutas típicas de síndromes e quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos e de alunos que apresentam casos graves de deficiência mental ou múltipla. Não se deve compor uma classe especial com alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem não vinculadas a uma causa orgânica especifica, tampouco se deve agrupar ANEE relacionadas a diferentes deficiências (art.10°) O professor da EE, deve desenvolver o currículo com a flexibilidade necessária às condições dos alunos (inciso III do art. 8°). No contra turno, quando necessário, deve desenvolver (§1° do art.9°): Atividades de vida autônoma e social; Orientação e mobilidade; Desenvolvimento da linguagem Atividades de informática, etc.. 9.2 ATENDIMENTO EM ESCOLA ESPECIAL A resolução prevendo os alunos que requeiram atenção especializada nas atividades de via autônoma e social, além de ajudas e apoios intensos e contínuos e flexibilização e adaptações curriculares tão significativos que a escola comum não consiga prover, pode-se realizar em escola especial. (grifo nosso) (art.10°) A transferência do ANEE para uma escola regular de ensino deverá ser realizada com base numa avaliação pedagógica e da família conjuntamente (§3° do art.10°). 10 CURRÍCULO Compete aos estabelecimentos de ensino a organização e a operacionalização dos currículos escolares, respeitando as determinações e disposições legais dos respectivos sistemas (art.15) As diretrizes curriculares nacionais para as diferentes etapas e modalidades da Educação Básica: educação infantil, educação fundamental, ensino médio, educação de jovens e adultos e educação profissional é o subsídio para o currículo a serem desenvolvidos (art.19). É claro que ao se falar no currículo escolar, este garante o acesso ao ensino, à cultura, ao exercício da cidadania e à inserção social produtiva. Amparado expressamente pelo inciso I e IV do art.59 da LDEBEN. Sabemos que os currículos deve ter uma base nacional comum, sendo este complementado justamente para ter acesso a esta base; e também suplementado, ampliando e aprofundando esta base. Estas exigências tocam profundamente nas características do ANEE (incisos V, VII, VIII e IX do art.8°, §2° do art.12) Aos alunos com sérios comprometimentos cognitivos e/ou múltiplos, os quais não possam usufruir do currículo da base nacional comum, é-lhes garantido um currículo funcional, com foco nas necessidades práticas da vida (incisos III,VII, VIII do art.8°, art.10°) Com base na Portaria CNE/CEB n°17/2001, tanto o currículo como a avaliação devem ser funcionais, buscando meios úteis e práticos para favorecer: O desenvolvimento das competências sociais; O acesso ao conhecimento, à cultura e às formas de trabalho valorizadas pela comunidade; E a inclusão do aluno na sociedade 11 TERMINALIDADE ESPECÍFICA A LDBEN no seu art.32estabelece quatro pilares que deverão ser considerados na formulação dos objetivos do Ensino Fundamental: Desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; Compreensão do ambiente natural e social; Aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atividades e valores; Valorização dos vínculos da família, da solidariedade humana e da tolerância. Ora, os ANEE – Aluno com Necessidades Educacionais Especiais estão associados a grave deficiência cognitiva e múltipla, e uma vez esgotadas as possibilidades legais no que tange ao currículo escolar art.26 da LDEBEN – Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, as adaptações curriculares realizadas, inciso III do art.8° da Resolução 02/2001, bem como as possibilidades apontadas no inciso V do art. 24 da LDBEN que trata da verificação do rendimento escolar – as escolas devem fornecer-lhes uma certificação de conclusão – Terminalidade específica do Ensino Fundamental (art.16) Mas, para a expedição dessa Terminalidade especifica, que é uma certificação de conclusão escolar (art.16), a mesma deverá ser fundamentada em uma avaliação pedagógica com laudo médico, donde deverá constar descritivamente as habilidades e competências atingidas pelo ANEE com grave deficiência mental ou múltipla. Constará da referida certificação de escolaridade as novas alternativas educacionais, tais como encaminhamento para a educação de jovens e adultos, da educação profissionalizante, bem como a inserção no mundo do trabalho, com base na Portaria CNE/CEB n°17/2001 Deverão constar no PPP da instituição escolar os meios e procedimentos para a expedição desta Terminalidade. 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo de aprendizagem é uma construção coletiva, num ser individual. Que metodologia se constrói para o sucesso escolar? Pensar e repensar o processo educacional, implicará analisar de maneira profunda a estrutura organizacional e legal de nosso país. Com o advento da LDBEN trazendoares de renovação e uma visão de educação para todos, ela abriu as fronteiras para se construir uma educação com qualidade e de acesso para todos. Numa postura democrática na educação conseguiremos inserir os ANEE numa igualdade de direito. Ao se fazer uma releitura da Resolução 02/2001, procurou-se identificar os avanços que o texto legal nos proporciona através da leitura detalhada de cada artigo, verifica-se o quanto da preocupação dos legisladores em superar os graves problemas educacional, social e humano que estejam relacionados com os ANEE. Percebe-se no texto em apreço a constante busca por estabelecer uma igualdade de acesso e permanência, uma valorização da diversidade no processo socioeducativo. Reconhecendo e aceitando a diversidade na vida em sociedade. A presente Resolução CNE/CEB nº 01/2001 conseguiu corrigir algumas falhas na integração escolar, quando incluiu em seu texto as adaptações curriculares, flexibilizando o currículo escolar para o atendimento às necessidades dos alunos com deficiência. O sistema educacional reconhece através desta Resolução, os seus erros históricos e busca através de suas linhas corrigi-los ou abrir novos horizontes para a sociedade organizada e seus legisladores fazerem as melhorias e correções que são importantes. Mais de uma década se passaram após a publicação da Resolução nº 02/2001 e percebemos que a aplicabilidade desta norma ainda é insipiente, falta boa vontade política e compreensão. Já por parte dos educadores uma visão mais ampla de uma sociedade que deseje legitimar as conquistas históricas; também a prática docente deva ser baseada nas necessidades, nas potencialidades e nos interesses dos educandos. A escola também deverá realmente acolher, reformular-se e celebrar o valor de todos os alunos. Constata-se que os cursos de formação de professores tratam das dificuldades de aprendizagem e das deficiências de forma muito restrita e normalmente apenas no último ano do curso, dificultando assim maior familiarização com o assunto e justificando, então, o despreparo do professor(...) como afirmou Silva e Facion (2009, p.198). Fato marcante que requer não somente nos cursos de formação de professores, mas em todos os cursos de formação superior, se realmente desejamos fazer uma inclusão social. Lamentavelmente tanto a escola quanto a sociedade não sabem lidar com alunos que se afastam de um padrão. Os ANEE fazem parte desse contexto histórico, com plena condição para interagir e/ou transformar o meio que vivemos; como uma força construtiva e produtiva para nosso país. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. CNE/CEB Parecer n°17 – Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília:2001. Consulta: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB017_2001.pdef. Acesso em 02/01/2015. _____. Ministério da Educação e Cultura. CNE/CEB Resolução nº 02 – Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: 2001. Consulta: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0201_2001.pdef. Acesso em 02/01/2015. CARALHO, Ana Paula Comin...[et al.] in 1.Desigualdade e diferenciação social. Desigualdade de gênero, raça e etnia. – Curitiba: InterSaberes,2013. – (Série Temas Sociais e Contemporâneos, p.21). CARVALHO, Paulla Helena Silva de. Inspeção Escolar: Fundamentos e Práticas Pedagógicas, aula 01, p.10. Consulta: <http://www.ava.grupouninter.com.br/tead/ ccdd_hyperibook/inspEscolar/inspEscolar/t1/3dbook_oo.html>. Acesso em 26/01/2015. FACION, José Raimundo; MATTOS, C.L.G. de [et al.]. Perspectivas da Inclusão Escolar e sua Efetivação. In: FACION, J.R. (Org.) Inclusão Escolar e suas Implicações. 2.ed.rev.e atual.- Curitiba: Ibpex, 2009. 220p. LAKOMY, Ana Maria. Teorias cognitivas da aprendizagem. 2.ed.rev. e atual.- Curitiba: Ibpex, 2008. 93p. SILVA, Aline Maira da.Educação especial e inclusão escolar: história e fundamentos.- Curitiba: Ibepex, 2010.
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