Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SINTAXE APLICADA AO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Universidade Estácio de Sá Disciplina: Sintaxe do Português Professor Dr. Guilherme Cardozo O que a sintaxe estuda? • Ordenação das palavras, construção das frases; • Estudo das regras que são usadas para formar os trechos da língua que criamos na fala e na escrita; • A sintaxe não estuda os sons da língua (fonética/fonologia), nem as partes das palavras (morfologia), tampouco os seus significados (semântica); • Contudo, por muitas vezes, é necessário um estudo interfacial. Exemplos a) O homem caçou o leão apavorado O leão estava apavorado (proximidade do adjetivo/particípio). Fosse o homem, deveria se escrever: “O homem, apavorado, caçou o leão”, ou “O homem caçou o leão, apavorado”, ou “O homem apavorado caçou o leão”. É necessário interface com outras áreas para se saber se “apavorado” é predicativo do sujeito ou do objeto: tonalidade, pausa, gestos, intenção do falante, etc. Sintaxes da Língua Portuguesa • Sintaxe Gerativa descobrir como as estruturas da língua são geradas em nossa mente; • Sintaxe Funcional descobrir como a linguagem funciona no dia a dia; • Sintaxe Descritiva fornecer um retrato fiel, por meio de dados, da linguagem; • Sintaxe Normativa Tradicional prescrever regras de funcionamento e análise da linguagem. Outros ramos da Sintaxe • Sintaxe Minimalista; • Sintaxe Experimental; • Sintaxe em Teoria da Otimidade; • Sintaxe Tipológica; • Sintaxe Lexical; • Sintaxe Computacional; • Sintaxe Construcionista. Sintaxe Normativa Tradicional a) Os gatos pretos beberam o leite. Frase correta (conforme a norma culta): 1) Concordância nominal – os gatos pretos; 2) Concordância verbal – gatos beberam; b) Os gato preto beberam o leite. Frase equivocada (cf. norma culta) 1) Concordância nominal – Os gato preto. Sintaxe Normativa Tradicional c) Feche a gaveta em que guardamos as provas. d) Não me lembro do nome do policial a quem entreguei as provas. Frases corretas (cf. a norma culta): 1) Preposição adequada antes de pronome relativo; 2) Regência adequada do verbo “Lembrar-se”; e) Fecha a gaveta que a gente guardou as provas. f) Não lembro do nome do policial que entreguei as provas. Frases equivocadas (cf. a norma culta), mas recorrentes na linguagem formal. Sintaxe Funcional a) Os gatos pretos beberam o leite. Frase legítima e prestigiada: 1) Os falantes reconhecem o uso da forma; 2) Os falantes são capazes de usá-la; 3) Os falantes a aceitam como padrão. b) Os gato preto beberam o leite. Frase legítima não-prestigiada: 1) Os falantes reconhecem o uso da forma; 2) Os falantes são capazes de usá-la; 3) Os falantes a reconhecem como variante (popular/informal/coloquial). Sintaxe Funcional c) Feche a gaveta em que guardamos as provas. d) Não me lembro do nome do policial a quem entreguei as provas. Frases legítimas e prestigiadas: 1) Os falantes reconhecem o uso da forma* 2) Os falantes são capazes de usá-la* 3) Os falantes a aceitam como padrão* * Afirmações relativas, visto que muitos dados descritivos revelam estranhamento (NARO, xxxx; SCHERRE, xxxx). Sintaxe Funcional e) Fecha a gaveta que a gente guardou as provas. f) Não lembro do nome do policial que entreguei as provas. Frases legítimas (não-prestigiadas???): 1) Os falantes reconhecem o uso da forma; 2) Os falantes são capazes de usá-la; 3) Os falantes a aceitam como padrão??? Exemplos 1) “Com a mudança de ares, é provável que o treinador encontre o ambiente adequado à sua filosofia de trabalho, algo que, segundo ele mesmo, precisa o mais rápido possível” (Lance Express, em 09/01/2018); 2) “Esse ainda é o modelo político que a maioria dos cariocas, assumindo ou não, aceitando ou não, indubitavelmente confia” (O Globo, em 20/11/2011). Reconhece-se a legitimidade de construções sintáticas sem a preposição antes do pronome relativo. Conclusão • Não existe apenas uma linha teórica de análises sintáticas, e outras ainda podem surgir; • Quando falamos em sintaxe aplicada ao ensino de Língua Portuguesa, temos de fazer escolhas: qual sintaxe? Qual objetivo? Qual metodologia? Qual fundamento teórico? etc. • O estudo da sintaxe de forma interfacial nos permite reconhecer que uma construção sintática equivocada, segundo os padrões normativos, não deixa de ser legítima entre os falantes, sob o ponto de vista funcional. Referências bibliográficas Junior, C. F. Sintaxe para a educação básica. São Paulo: Contexto, 2012. Naro, A. J. & Scherre, M. M. P. Origens do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2007. Naro, A. J. & Scherre, M. M. P. Sobre a concordância de número no português falado do Brasil. Centro di Studi Filologici Siciliani: Università di Palermo, 1998. Othero, G. A., Kenedy, E. (orgs). Sintaxe, sintaxes: uma introdução. São Paulo: Contexto, 2015.
Compartilhar