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0 CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI CUMPRIMENTO DA SENTENÇA ESPÍRITO SANTO INTRODUÇÃO1 A nova visão do processo civil busca, através da democratização, dar uma maior efetividade ao sistema processual, abondando, assim, a perspectiva privatista do processo impregnado do espírito do formalismo-valorativo. Desta forma, preocupado com a problemática e com seus desdobramentos no decorrer da história do direito processual civil, o constituinte, através da Emenda Constitucional nº 45, de 08 de dezembro de 2004, incorporou no rol de direitos e garantias fundamentais o inciso LXXVIII, do art. 5º, o qual dispõe: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantem a celeridade de sua tramitação.” A partir daí diversas alterações ocorreram no Código de Processo Civil, dentre elas a dada pela Lei nº 11.232, de 22 de dezembro de 2005, a qual concentrou o processo de conhecimento e o de execução por título judicial, salvo quando condenada a Fazenda Pública, num único procedimento. Ou seja, trata-se de processo sincrético em que o autor não mais necessita do ajuizamento da demanda executiva para obtenção de seu crédito, isto é, para o cumprimento da sentença. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA A denominação do Capítulo 10, ‘DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA’, alcança toda a sua extensão a realidade que pretende exprimir, pois de efetivo cumprimento se trata apenas nas hipóteses de obrigações de fazer e não fazer (art. 461) e de entrega de coisa (art. 461-A); em se tratando de obrigação por quantia certa, faz-se por execução, embora nos termos dos demais artigos do capítulo.” No entanto, para Elpídio Donizetti (2007, p. 194): “Cumprimento na acepção utilizada nos artigos 475-I ao 475-R, é termo genérico. Abrange tanto a efetivação das obrigações de fazer, não fazer e dar coisa diferente de dinheiro, consoantes de sentenças, quanto a 1 Texto extraído do artigo: “Cumprimento de sentença”, de Patricia Dayane Gonçalves de Almeida, Vanderleia Muniz de Souza e Pamela Cristina Cavalheiro. execução de obrigação de pagar quantia, consoante dos títulos judiciais previstos no art. 475-N.” O cumprimento de sentença é aplicação direta do princípio da economia processual e da celeridade, uma vez que, finda a ação de conhecimento, não é mais necessário que se instaure um novo processo para efetivação do direito já reconhecido na sentença, basta que, no mesmo processo, a parte interessada junte aos autos uma simples petição para dar o prosseguimento à nova fase executiva ou satisfativa da sentença. “A ideia básica dessa Lei foi fazer com que o processo executivo deixasse de ser um processo próprio e independente do processo de conhecimento para se tornar uma fase deste feito.” (WAGNER JUNIOR, 2008, p. 465). Ou seja, a novidade diz respeito às sentenças condenatórias que versarem sobre obrigação de pagar quantia, cuja execução deverá ocorrer de forma incidental, em fase complementar sucessiva, na mesma relação jurídica processual, dispensando-se a instauração de outra estrutura processual autônoma sentença. Cumprimento de sentença definitivo ainda que pendente recurso parcial de apelação O Novo Código de Processo Civil, em seu artigo 523, caput traz a possibilidade de cumprimento definitivo de sentença de decisão sobre parcela incontroversa. Veja-se: Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre PARCELA INCONTROVERSA, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver. O aludido dispositivo alinha-se ao princípio da razoável duração do processo estampado no art. 4º do Novo Código de Processo Civil que reza que “as partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”. Pela leitura do aludido dispositivo (artigo 4º do Novo Código de Processo Civil) é fácil verificar que não basta que haja a solução da lide por meio de uma sentença em prazo razoável. É necessário também que a satisfação dos direitos reconhecidos pela sentença ocorra dentro de um prazo razoável. Coadunam-se, portanto, os aludidos dispositivos à previsão constitucional que assegura a todos a “razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação” (artigo 5º, inciso LXXVIII, CF/88 – EC n. 45/2004). Como bem lecionou FRANCESCO CARNELUTTI nos anos 50 (lições que continuam atuais): "É imenso e em grande parte desconhecido o valor que o tempo tem no processo. Não seria imprudente compará-lo a um inimigo contra o qual o juiz deve lutar sem tréguas" (Apud DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Novo Processo Civil – de acordo com a Lei 13.256 de 4.2.2016. São Paulo: Malheiros. p.56). Exatamente pensando-se na razoável duração do processo (tempo processual), foi com o advento do CPC/2015 que se abriu no plano legal (e não apenas jurisprudencial) a possibilidade de fragmentação da coisa julgada, fenômeno denominado, por muitos, de coisa julgada parcial, progressiva ou parcelada, ou seja, aquela que vai ocorrendo em momentos distintos porque a sentença foi fragmentada em partes (capítulos) autônomas. Fonte: www.previcalc.com A coisa julgada progressiva é aquela que vai se formando ao longo do processo, em razão de interposição de recursos parciais. Exemplo muito elucidativo é dado por WEBER LUIZ DE OLIVEIRA: Imagine-se se o réu recorreu apenas de um dos capítulos julgado procedente, nada dispondo sobre o outro capítulo também procedente, prerrogativa que lhe é dada pelo artigo 1.002 do Código de Processo Civil de 2015, o que é denominada pela doutrina de apelação parcial (NELSON NERY JR, 2000, p. 418; LEONEL, 2002, p. 377), classificação daquele recurso ‘que não compreende a totalidade do conteúdo impugnável da decisão’ (BARBOSA MOREIRA, 2007, p. 114). Haverá, nestes termos, o trânsito em julgado do capítulo da sentença não impugnado, ou seja, o mesmo se tornará incontroverso (DIDIER, Fredie (Coord.) Novo CPC doutrina selecionada. V. 5: Exceução. 2ª ed. Salvador: Juspodivm. 2016. p. 415). É como se a coisa julgada fosse sendo paulatinamente formada a medida que os capítulos da sentença não são impugnados. Da leitura do art. 502 do Novo Código de Processo Civil, define-se coisa julgada material como a “autoridade que torna imune e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso”. Ademais, conforme Enunciado n. 100 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “Não é dado ao tribunal conhecer de matérias vinculadas ao pedido transitado em julgado pela ausência de impugnação”. Com relação à coisa julgada há previsão expressa no Novo Código de Processo Civil de julgamento antecipado parcial do mérito (art. 356), de homologação de autocomposição parcial e de reconhecimento de decadência ou prescrição em relação a um dos pedidos cumulados (art. 354, parágrafo único). Na mesma toada, o art. 1.002 do CPC/2015 permite a delimitação voluntária do objeto do recurso; admite-se o recurso parcial. Demonstra-se claramente, portanto, que o espírito do Novo Código de Processo Civil foi de aceitar a coisa julgada parcial. Em comentário ao art. 356 do NCPC, pontua TERESA ARRUDA ALVIM WAMBIER (relatora do Novo Código de Processo Civil) et all.: “O NCPC, em seu art. 356,admite de forma expressa a possibilidade de julgamento parcial do mérito, rompendo o dogma da sentença una. Chama a decisão, neste caso, de decisão, interlocutória de mérito” (WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins; RIBEIRO, Leonardo Ferres da Silva; MELLO, Rogerio Licastro Torres de. Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo por artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 356.). Defende ainda a coisa julgada material fragmentada consagrados processualistas como CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO, JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA e HUMBERTO THEODORO JÚNIOR. ARAKEN DE ASSIS, em comentários ao Novo Código de Processo Civil, leciona também que: “A execução de capítulo estranho ao recurso pendente (v.g., o réu é condenado a pagar perdas e danos e lucros cessantes, mas só recorre da última rubrica) processar-se-á de modo definitivo” (ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 18ª ed. São Paulo: RT. 2016. p. 465). Exceções ao cumprimento de sentença As ações cujo objeto seja a prestação de alimentos e a Execução contra a Fazenda Pública não seguirão o procedimento do cumprimento de sentença, embora sejam decisões que versem sobre a obrigação de pagar quantia. Quis o legislador ao tratar da pensão alimentícia, que o rito fosse diferenciado, seguindo as disposições previstas no art. 733 do CPC, em que há a necessidade de propositura de uma nova ação para executar o título obtido no processo de conhecimento, sendo que o devedor será citado para, em 3 (três) dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo, sob pena de prisão. Para Humberto Theodoro Júnior: “Como a Lei 11.232/05 não alterou o art. 732 do CPC, continua prevalecendo nas ações de alimentos o primitivo sistema dual, em que acertamento e execução forçada reclamam o sucessivo manejo de duas ações separadas e autônomas: uma para condenar o dever a prestar alimentos e outra para forçá-lo a cumprir a condenação. A segunda via executiva à disposição do credor de alimentos também não escapa do sistema dual. A redação inalterada do art. 733 determina, expressamente, que na execução de sentença que fixa a pensão alimentícia, ‘o juiz mandará citar o devedor para, em três dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo’. Logo, tanto na via do art. 732 como na do art. 733, o credor de alimentos se vê sujeito a recorrer a uma nova ação para alcançar a satisfação forçada da prestação assegurada pela sentença. (“O procedimento executivo é, pois, o dos títulos extrajudiciais (Livro II)) e não o de cumprimento de sentença instituído pelos art. 475-J a 475-Q.” A doutrina ainda é divergente quanto à aplicação ou não do cumprimento de sentença em alguns casos, mas frisa-se o argumento de que tais procedimentos estão previstos em separado, e, assim, não se aplica as regras atinentes ao cumprimento de sentença. OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA A Lei 13.105, de 16 de março de 2015, instituiu o Novo Código de Processo Civil, dentre as várias alterações trazidas, veremos aquelas atinentes ao cumprimento de sentença que reconhece a obrigação de pagar quantia certa. No Novo CPC, o instituto se encontra disciplinado na Parte Especial, Título II. Em termos normativos, pode-se afirmar que não houve substancial alteração em relação à legislação vigente, mas, por outro lado, o legislador foi preciso ao positivar situações que vinham suscitando dúvidas entre os operadores do direito e na jurisprudência. O primeiro deles diz respeito ao início do prazo para que o vencido, após o trânsito em julgado de decisão judicial, cumpra voluntariamente a obrigação prevista no título executivo judicial, sem que incida a multa prevista no art.475‐J: “Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.” A redação do dispositivo não indica com clareza o termo inicial do prazo de 15 dias. Se seria necessária a intimação específica do devedor para cumprimento da sentença ou se o retorno dos autos da instância já seria suficiente para deflagrar a contagem do prazo. O próprio entendimento da jurisprudência acerca do tema foi pacificado apenas em 02/03/15, com a publicação da Súmula nº. 517 pelo STJ (embora seu foco principal seja a incidência de honorários advocatícios), com o seguinte enunciado: “São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não impugnação, depois de escoado o prazo para pagamento voluntário, que se inicia após a intimação do advogado da parte executada.” O Novo CPC, no art. 523, §1º, fulmina qualquer dúvida porventura existente acerca do início da contagem do prazo, além de positivar o entendimento acima transcrito: “Art. 523”. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado1 para pagar o débito, no prazo de quinze dias, acrescido. De custas, se houver. § “1º Não ocorrendo pagamento voluntário no Prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento. ” O legislador preocupou‐se, ainda, em deixar bem claro que, havendo pagamento parcial do débito a multa será aplicável somente em relação ao Saldo remanescente, conforme disposto no §2º. Como se percebe, as novas disposições processuais também buscaram dirimir outras dúvidas e divergências jurisprudenciais correlatas. Afinal, constatou-se acima que a Súmula nº. 517 pacificou entendimento acerca da incidência dos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, ressalvando os casos de rejeição da impugnação. Com relação a forma da intimação, dispõe o novo códex no art. 513 que: § 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença: I ‐ pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos; II ‐por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV; III ‐ Por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º Do art. 246, Não tiver procurador constituído nos autos; IV ‐ Por edital, quando, citado na forma do art.256, tiver sido revel na fase de conhecimento.” § 3º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os honorários previstos no § 1º Incidirão sobre o restante. Na Hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença, não são cabíveis honorários advocatícios. Entretanto, coube ao §1º do art. 523 estabelecer o percentual dos honorários em 10% (dez por cento), fulminando divergências porventura existentes e contribuindo para a diminuição de recursos aviados apenas para discutir a adequação do percentual fixado. O Novo CPC também altera a impugnação ao cumprimento de sentença. No tocante ao prazo, o CPC Vigente estabelece que sua apresentação deva ser feita em 15 (quinze) dias contados da intimação do auto de penhora e de avaliação, conforme disposto no art. 475‐J, §1º. O Novo CPC, por sua vez, estabelece que a impugnação possa ser apresentada após 15 (quinze) dias do prazo concedido para pagamento voluntário, independentemente de penhora ou nova intimação, ex-vide do art. 525. PROTESTO DA SENTENÇA2 O novo CPC previu, expressamente, a possibilidade do protesto de decisão judicial perante osTabelionatos de Protesto. O protesto de decisão judicial é mais uma ferramenta interessante, à disposição do credor, para garantir a efetividade das decisões e o adimplemento dos créditos objetos de cobrança judicial. 2 Texto extraído do artigo “Protesto de Sentença Judicial no NCPC” de Rodrigues e Lima Advogados. Não se trata de uma total inovação normativa, pois o artigo 1º da atual lei de protesto (Lei nº 9.429/97), que conceituou protesto como “ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida”, já possibilitava a interpretação no sentido de ser permitido o protesto de sentença, conforme decisão do STJ no REsp 750.805/RS. O novo CPC, na verdade, apenas regulou o protesto de decisão judicial, trazendo segurança jurídica e rapidez ao procedimento, tanto para o devedor quanto para o credor. A grande utilidade do protesto de decisão judicial é dar amplo e público conhecimento do decidido, forçando o devedor ao adimplemento da obrigação. É permitida a retirada de protesto de decisão judicial definitiva, que preveja obrigação pecuniária, certa, líquida e exigível. Não apenas as sentenças são protestáveis, mas também decisões interlocutórias e acórdãos. Ou seja, qualquer espécie de decisão judicial pode ser protestada, desde que certifique uma obrigação pecuniária transitada em julgado. Houve, inclusive, previsão de cabimento do protesto de decisão que imponha a obrigação de prestar alimentos. (CPC/15, art. 528, §1º). O artigo 517 do NCPC disciplina que: Art. 517. A decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a protesto, nos termos da lei, depois de transcorrido o prazo para pagamento voluntário previsto no art. 523. § 1o Para efetivar o protesto, incumbe ao exequente apresentar certidão de teor da decisão. § 2o A certidão de teor da decisão deverá ser fornecida no prazo de 3 (três) dias e indicará o nome e a qualificação do exequente e do executado, o número do processo, o valor da dívida e a data de decurso do prazo para pagamento voluntário. § 3o O executado que tiver proposto ação rescisória para impugnar a decisão exequenda pode requerer, a suas expensas e sob sua responsabilidade, a anotação da propositura da ação à margem do título protestado. § 4o A requerimento do executado, o protesto será cancelado por determinação do juiz, mediante ofício a ser expedido ao cartório, no prazo de 3 (três) dias, contado da data de protocolo do requerimento, desde que comprovada a satisfação integral da obrigação. Por definição legal, protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida. O protesto visa dar publicidade e fé pública a determinados fatos jurídicos. O NCPC disciplina a possibilidade do protesto de decisão judicial perante os Tabelionatos de Protesto. O protesto de decisão judicial é mais uma ferramenta interessante, à disposição do credor, para garantir a efetividade das decisões e o adimplemento dos créditos objetos de cobrança judicial. Fonte: domtotal.com Não se trata de uma total inovação normativa, pois o artigo 1º da atual lei de protesto (lei 9.492/97), que conceituou protesto como "ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida", já possibilitava a interpretação no sentido de ser permitido o protesto de sentença, conforme decisão do STJ no REsp 750.805/RS. O novo CPC, na verdade, apenas regulou o protesto de decisão judicial, trazendo segurança jurídica e rapidez ao procedimento, tanto para o devedor quanto para o credor. A grande utilidade do protesto de decisão judicial é dar amplo e público conhecimento do decidido, forçando o devedor ao adimplemento da obrigação. É permitida a retirada de protesto de decisão judicial definitiva, que preveja obrigação pecuniária, certa, líquida e exigível. Não apenas as sentenças são protestáveis, mas também decisões interlocutórias e acórdãos. Ou seja, qualquer espécie de decisão judicial pode ser protestada, desde que certifique uma obrigação pecuniária transitada em julgado. Houve, inclusive, previsão de cabimento do protesto de decisão que imponha a obrigação de prestar alimentos (CPC/15, art. 528, §1º). Assim, iniciado o cumprimento de sentença, o devedor é intimado para adimplir a obrigação no prazo de 15 dias. Não ocorrendo o cumprimento voluntário da decisão, o credor poderá levá-la a protesto perante o Tabelionato competente. Para lavratura do protesto, o credor deverá apresentar certidão de teor da decisão. O cartório da vara fornecerá no prazo de 3 dias a certidão de teor da decisão, que indicará o nome e a qualificação do credor e do devedor, o número do processo, o valor da dívida e a data de decurso do prazo para pagamento voluntário. Se comprovada a satisfação integral da obrigação, o devedor poderá requerer ao juízo onde tramita a execução o cancelamento do protesto, mediante ofício a ser expedido ao tabelionato, no prazo de 3 dias, contado da data de protocolo do requerimento, conforme disciplina o artigo 517 § 4° vejamos: § 4º A requerimento do executado, o protesto será cancelado por determinação do juiz, mediante ofício a ser expedido ao cartório, no prazo de 3 (três) dias, contado da data de protocolo do requerimento, desde que comprovada a satisfação integral da obrigação. Deve ser observado ainda, que nos casos em que o requerente litigue sob o amparo da AJG o protesto poderá ser determinado pelo juiz através da expedição de ofício, conforme entendimento do TRT4: AGRAVO DE PETIÇÃO DO EXEQUENTE. PROTESTO DO CRÉDITO TRABALHISTA. Aplicável a Orientação Jurisprudencial Nº 16 da Seção Especializada em Execução, no sentido de que o Juiz pode, de ofício, proceder ao protesto extrajudicial da sentença, nos termos da Lei 9.492, de 10.09.1997, mediante expedição de certidão ao cartório competente, independentemente do registro da executada no Cadastro Nacional de Devedores Trabalhistas, bem como do recolhimento de emolumentos quando o interessado for beneficiário da justiça gratuita. Agravo de petição provido. (...)Data: 05/04/2016, Órgão julgador: Seção Especializada Em Execução, Origem: 3ª Vara do Trabalho de Pelotas. Assim, o protesto de decisão judicial, é uma medida proeminente para conseguir o efetivo adimplemento das obrigações. CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DA SENTENÇA O novo diploma processual civil deixou de utilizar o termo “execução provisória” e passou a adotar “cumprimento de sentença provisório”. Execução provisória é fundada em título executivo judicial provisório, isto é, a decisão judicial que pode ser modificada ou anulada em razão da pendência de um recurso interposto contra ela. Proferida uma decisão judicial executável e não havendo a interposição de recurso, verifica-se o seu trânsito em julgado, passando a partir desse momento a ser cabível a execução definitiva. Havendo a interposição do recurso cabível e sendo este recebido no seu efeito suspensivo, a decisão não poderá gerar efeitos, impedindo-se o início da execução. A única forma apta a gerar a execução provisória é a interposição do recurso cabível, não recebido no efeito suspensivo. Importante destacar, contudo, que no Novo Código de Processo Civil toda execução de título executivo judicial passa a ser feita por meio de cumprimento de sentença, assim, como cumprimento de sentença é forma de execução, chamar o fenômeno de execução provisória não prejudica e tampouco contraria o novonome consagrado no Código de Processo Civil de 2015. MULTA COERCITIVA NAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E DE NÃO FAZER3 Na execução de obrigação de fazer ou de não fazer em título extrajudicial, poderá o juiz nesse momento inicial do procedimento fixar multa por período de atraso no cumprimento da obrigação, ainda que tal providência não tenha sido requerida pelo exequente. Para Daniel Neves (2013), se o valor da multa estiver previsto no título, o juiz poderá reduzi-lo, se entendê-lo excessivo. Na verdade, a liberdade do juiz é consideravelmente mais ampla do que sugere a interpretação literal do dispositivo legal. 3 Texto extraído do artigo “Da execução das obrigações de fazer e de não fazer”, de Letícia Marques Padilha Quanto às prestações de fazer, recebida a inicial, será o executado citado, no prazo designado pelo juiz ou fixado no título, para cumprir a obrigação4. Para Daniel Neves, na hipótese de o executado não cumprir a sua obrigação, o prosseguimento da execução dependerá da natureza da obrigação de fazer, ou seja, se fungível ou infungível. Apesar do CPC sugerir que diante do vencimento do prazo processual para o cumprimento da obrigação o exequente deverá optar pela execução à custa do devedor ou a conversão em perdas e danos, admite-se que o exequente insista na multa como meio coercitivo psicológico. Ainda que o exequente possa aguardar o cumprimento da obrigação, embora expirado o prazo concedido para tanto, pressionando o executado com o pagamento de multa (astreinte), diante da ineficácia da coerção psicológica, num certo momento notar-se-á a impossibilidade material ou jurídica da obtenção da tutela específica, momento no qual terá que fazer o exequente a conversão em indenização. Para Marinoni e Arenhart, importante nessa espécie de procedimento, a determinação da fungibilidade da obrigação: a) Prestação de fazer infungível, não há como suprir a omissão do devedor. Embora o credor possa insistir no uso da multa coercitiva, esta eventualmente pode não ser capaz de convencer o devedor a adimplir. Porque o fato só pode ser prestado por ele, a não satisfação voluntária da prestação redunda na sua conversão em perdas e danos. Haverá a liquidação das perdas e danos nos mesmos autos do processo de execução, seguindo-se a partir daí, a execução por quantia certa5. b) Prestação de fazer fungível, não cumprida a obrigação no prazo estipulado pelo título ou pelo juiz, poderá o credor requerer a realização da prestação por terceiro ou a sua conversão em perdas e danos. Caso o credor prefira que a prestação seja executada por terceiro, determinará o magistrado que assim se proceda à custa do executado. Depende de pedido expresso do exequente. Pleiteada essa forma de execução, o juiz, nomeará terceiro da sua confiança, que apresentará proposta. 4 Art. 815: Quando o objeto da execução for obrigação de fazer, o executado será citado para satisfazê-la no prazo que o juiz lhe designar, se outro não estiver determinado no título executivo. 5 Art. 816, parágrafo único: O valor das perdas e danos será apurado em liquidação, seguindo-se a execução para cobrança de quantia certa. Após a prestação, o magistrado ouvirá as partes no prazo de dez dias, não havendo impugnação, será considerada satisfeita a obrigação. No caso, de impugnação à proposta por qualquer das partes, deverá o magistrado decidir a questão de plano. Ouvida as partes e aprovada a proposta, dará o terceiro início à execução da prestação, cabendo ao credor antecipar as quantias necessárias. Não tendo o terceiro contratado realizado a prestação no prazo ou havendo cumprimento incompleto ou defeituoso, poderá o exequente requerer ao juiz, no prazo de 15 (quinze) dias, que o autorize a concluir ou reparar a prestação devida às expensas do contratante. Fonte: imgs.jusbr.com Ouvido o contratante no prazo de 15 (quinze) dias, o juiz mandará avaliar o custo das despesas necessárias e o condenará a pagá-lo. Caso o exequente queira executar ou mandar executar, as obras e os trabalhos necessários à realização da prestação, terá preferência, em igualdade de condições de oferta, em relação ao terceiro. Esse direito de preferência deve ser exercido no prazo de 5 (cinco) dias, contados da aprovação da proposta do terceiro. No tocante à obrigação de fazer, caso convencionado que o executado a satisfaça pessoalmente, o exequente poderá requerer ao juiz que determine prazo para cumpri-la. Em caso de recusa ou mora do executado, sua obrigação pessoal será convertida em perdas e danos. Quanto à defesa do executado poderá opor-se à execução por meio de embargos. Poderá o executado apresentar os embargos à execução alegando qualquer das matérias previstas no art. 917 do CPC. Via de regra, os embargos não suspendem à execução, embora o juiz esteja autorizado a concedê-lo a pedido do executado, preenchidos os requisitos do art. 919, § 1º, do CPC. Quanto à obrigação de não fazer, praticado ato em que o executado estava obrigado a sua abstenção por lei ou por contrato, o exequente pleiteará ao juiz que determine prazo para o executado desfazê-lo. Em caso de recusa ou mora do executado, o exequente requererá ao juiz que mande desfazer o ato à custa do executado, que responderá por perdas e danos. Sendo impossível o desfazimento do ato, a obrigação se resolverá em perdas e danos, que após sua liquidação, observará o procedimento da execução por quantia certa. IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA6 O novo CPC (Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015) reservou o seu Capítulo III para tratar sobre o tema relativo ao cumprimento de sentença, iniciando-se pelo art. 523 que determina que em caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver. Vencido o prazo legal de 15 (quinze) dias sem o pronto pagamento há importantes desdobramentos no processo executório: 1º: será acrescido o valor de multa e honorários advocatícios, ambos no percentual de 10% (dez pontos percentuais); 2º: será expedido, desde logo, mandado de penhora e avaliação e 3º: abrirá o prazo para o executado apresentar impugnação, conforme dicção do art. 6 Texto extraído do artigo “A impugnação ao cumprimento de sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa na ótica do novo CPC” de Rafael Silveira. 525 que define que uma vez transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação, consubstanciada em: I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia; II - ilegitimidade de parte; III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; IV - penhora incorreta ou avaliação errônea; V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença. Observa-se ao fim que para se pleitear o efeito suspensivo da execução deverá o executado além de oferecer a garantia do juízo mediante penhora, caução ou depósitodeverá comprovar que a execução é manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação. PRAZOS7 O novo Código de Processo Civil – Lei 13.105/15 – em vigência desde 18 de março de 2016, trouxe consigo alterações substanciais no que diz respeito aos prazos legais, dado que, a partir de então, nos termos do Artigo 219, "na contagem de prazo em dias, estabelecidos em lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os úteis", e, além disso, complementa o parágrafo único, tal forma de contagem "aplica- se somente aos prazos processuais", demonstrando o ineditismo da norma: "[...] os prazos processuais são em regra contados em dias, e quanto a eles há uma grande novidade no Novo Código de Processo Civil. O art. 219, caput, do Novo CPC traz interessante inovação quanto à contagem de prazo, passando a estabelecer que a contagem de prazo em dias, determinado por lei ou pelo juiz, computará somente os dias úteis." Assim, importante verificar, antes de mais nada, que a nova sistemática processual trouxe expressa distinção entre os prazos materiais e processuais, sendo 7 Texto extraído do artigo “A incerteza do cômputo dos prazos no cumprimento definitivo de sentença à luz da interpretação do artigo 523 do novo Código de Processo Civil” de Bruni Fernando Garutti. que, apenas aos segundos aplicar-se-ão os referidos dias úteis, o que tornou, no âmbito das regras procedimentais para cumprimento definitivo de sentença na obrigação de pagar quantia certa estabelecidas nos artigos 523 ao 527 do mencionado diploma legal, um campo inseguro ao executado a fim de que opte em cumprir o comando executório no prazo de 15 (quinze) dias úteis ou 15 (quinze) dias corridos, principalmente para fins de apresentação da impugnação a que se refere o caput do artigo 525, sem sofrer as devidas sanções prescritas na norma estatuída no artigo 523 e parágrafos. Portanto, da imediata vigência do novo diploma legal, a despeito da vacatio legis de um ano (artigo 1.045, novo CPC), adveio significativa insegurança jurídica ante a insuficiência da norma, em grande parte, na fase executória, pelo fato de que, apesar de se saber o exato início do cômputo do prazo para pagamento da quantia exequenda, que se inicia com a intimação do devedor para pagar o débito, não foi regulamentado se o pagamento – cumprimento – deverá ser realizado em dias úteis ou corridos. Assim, a princípio, antes de verificar se o prazo a que se refere o artigo 523, novo CPC, é de caráter processual ou material, o que não se pretende exaurir neste artigo, dada a divergência doutrinária a esse respeito que será adiante exposta, o executado possui três alternativas a fim de cumprir o comando sentencial nos casos de obrigação de pagar quantia certa. Primeiro, antes mesmo do réu ser intimado acerca da instauração da fase do cumprimento de sentença, poderá oferecer em pagamento o que entende ser devido, desde que apresente memória discriminada de cálculo, nos termos do artigo 526, caput. A problemática desta primeira opção por parte do réu reside justamente no fato de que, ante a nova sistemática, no caso de impugnação pelo autor do valor por ele depositado (art. 526, § 1º), "concluindo o juiz pela insuficiência do depósito, sobre a diferença, incidirão, multa de dez por cento e honorários advocatícios, também fixados em dez por cento, seguindo-se a execução com penhora e atos subsequentes." (art. 526, § 2º). Em segundo lugar, o réu – executado – poderá aguardar a intimação para pagar a quantia exequenda e, caso considere que os cálculos apresentados pelo autor estão corretos, deverá realizar o pagamento e aguardar a extinção da fase de execução, com o posterior levantamento pelo exequente da quantia depositada. Em terceiro lugar, na hipótese do parágrafo anterior (no caso do réu aguardar a intimação para pagar a quantia exequenda), contudo, considerando o executado a existência de uma das hipóteses impugnáveis do artigo 525, § 1º, incisos I à VII, novo CPC, deverá, no prazo de 15 (quinze dias), tendo ou não realizado o depósito voluntário da quantia que o autor (exequente) entendeu como devida, apresentar impugnação, podendo requerer, outrossim, a atribuição de efeito suspensivo, nos exatos termos e hipótese do artigo 525, parágrafo sexto, novo CPC. Fonte: jornaldoradialista.com Neste último caso, na hipótese de não acolhimento da impugnação, o executado poderá incorrer nas penalidades previstas no parágrafo primeiro do artigo 523, quais sejam, acréscimo ao débito exequendo de multa de dez por cento e honorários advocatícios, também fixados em dez por cento, tendo que realizar o pagamento – caso já não o tenha feito por precaução no prazo para pagamento voluntário ou já não tenha sofrido bloqueio em suas contas – neste momento. Assim, após verificadas as possibilidades que existem ao executado no cumprimento definitivo de sentença na obrigação de pagar quantia certa, conferidas pela atual legislação processual, importa saber, ou ao menos indicar, neste início de vigência do novo Código se o prazo a que se refere o caput do artigo 523, novo CPC, é de natureza material – não processual – ou processual. Isto porque, no caso de o prazo em referência ser não processual, estar-se- ia diante de contagem do prazo em dias corridos, aplicando-se, assim, o disposto no artigo 231, V, novo CPC, o que impacta de forma direta na contagem do prazo inicial para apresentação de impugnação, esta última, a ser apresentada computando-se o prazo em dias úteis. Vale dizer, a insuficiência de norma em determinar se o prazo para pagamento voluntário é em dias úteis ou corridos implicará diretamente em consequência processual e de cunho econômico ao executado. Por conseguinte, se o executado, após iniciado o cumprimento definitivo de sentença com a intimação para pagar o valor discriminado em memória de cálculo juntado pelo exequente não o fizer no prazo de 15 (quinze) dias, (i) incidirá na multa de dez por cento, além de honorários arbitrados em outros dez por cento, nos termos do artigo 523, parágrafo primeiro; bem como, (ii) uma vez que o prazo para apresentar impugnação terá início apenas após o término do prazo para pagamento voluntário, é certo que o equívoco no cômputo de prazo para o pagamento voluntário – por exemplo, no caso de considerá-lo como sendo não processual –, significará a intempestividade e consequente preclusão temporal para apresentação da impugnação, impossibilitando o executado de se opor ao débito exequendo, bem como, submetendo-se a futuros atos expropriatórios a serem realizados no curso da execução. Logo, diante do imbróglio jurídico que em breve deverá ser submetido ao Superior Tribunal de Justiça, provavelmente através de instrumento processual próprio, qual seja, do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR), com fundamento no novo diploma processual legal – conjugação dos artigos 928, parágrafo único com o artigo 976, II, ambos do novo CPC – chega-se a questão que vem sendo debatida pela doutrina, debate que também se estende ao prazo previsto no artigo 829, novo CPC, referente ao processo de execução. A questão não é simples, em que pese inovadora, uma vez que decorre, como mencionado no início deste artigo, da não aplicação da contagem dos prazos em dias úteis aos prazos não processuais, conforme disposto na norma estatuída no artigo 219, parágrafo único, novo CPC. Por isso, talvez, pela aplicação ainda recente no campo da prática processual, o tema não tenha sido objeto de debates pela maioria dos processualistas, em que pese muito delesjá ter expressado posição a respeito da natureza do prazo aludido no artigo 523, caput. Veja-se, por exemplo, alguns argumentos utilizados por parte da doutrina, de modo a conferir, quanto ao prazo indicado para cumprir (pagar) a condenação, natureza processual: "O prazo fixado no texto ora comentado tem como destinatário a parte, que é quem deve praticar ato para cumprimento da sentença (pagamento) em quinze dias. Trata-se de prazo fixado em lei, como exige o CPC 219 caput para que a contagem se dê em dias úteis. O segundo requisito legal para a aplicação do critério de contagem somente em dias úteis é a destinação da intimação: prática de ato processual, que é o que deve ser praticado no, em razão do ou para o processo. Cumprimento da sentença, portanto, é ato processual que deve ser praticado pela parte. Incide a regra da contagem de prazo prevista no CPC 219 caput e par. ún., de que os prazos previstos em lei ou designados pelo juiz fixados em dias, correm apenas em dias úteis." "Impõe-se, por fim, indagar a respeito da contagem do prazo de quinze dias, notadamente diante da regra contida no art. 219 pelo qual "a contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os úteis", com a ressalva contida no seu parágrafo único de que tal regra “aplica-se somente aos prazos processuais". Conquanto o ato de pagar seja voltado à parte, o comando exarado pelo juiz, instando o executado a pagar em determinado prazo, como já dissemos, é ato executivo, de natureza mandamental (coercitiva), daí porque se trata de um prazo processual e, como tal, deve observar o comando do art. 219. Assim, o prazo de quinze dias deve ser contado em dias úteis." "Nesse sentido, o prazo para pagamento voluntário previsto no art. 523 do novo CPC – quinze dias contados da intimação para pagamento, realizada na forma do art. 513, § 2º – é de natureza processual ou material? Certamente haverá margem para discussão, mas considerando que esse ato (pagamento) também se destina (ainda que não exclusivamente) a produzir efeitos no processo, inibindo a deflagração das próximas etapas do cumprimento de sentença, com a realização de atos constritivos sobre o patrimônio do executado, parece que o prazo deve ser qualificado como processual, computando-se apenas nos dias úteis" Entretanto, é importante verificar que há argumentos relevantes no que diz respeito a natureza material do prazo disposto no artigo 523, caput, também discutido pela outra parte da doutrina: "Ressalte-se, por fim, que a regra de contagem de prazos apenas em dias úteis aplica-se tão somente a prazos processuais. Isso significa que os prazos concedidos às partes para o cumprimento de sentença ou decisões interlocutórias que lhes imponham obrigações não contarão com o beneplácito do art. 219, contando-se de forma corrida igualmente em dias não úteis." "Apesar de existir corrente doutrinária que defende tratar-se de um prazo processual (apud, Scarpinella Bueno, Manual, p. 402), em meu entendimento o prazo é material, porque o pagamento é ato a ser praticado pela parte e não pelo advogado, não se tratando, portanto, de ato postulatório." Como mencionado, a questão não está pacificada entre os processualistas que iniciaram o estudo a seu respeito, e não ficará até definição e estabilização do tema, como bem salientado por estudiosos da área: "[...] Mas não há consenso a respeito do tema. Para alguns, se o ato tiver de ser realizado primordialmente fora dos autos, ou se não for para realizar um ato estritamente processual, já não se trata de ato processual. Nesse sentido, haveria espaço para debate se um prazo seria processual (e, portanto, com contagem em dias úteis) ou material (com contagem em dias corridos, nos termos da legislação civil). [...]" [...] Contudo, como dito, a questão é polêmica, já existindo considerável divergência doutrinária a respeito do tema neste início de vigência do Código. [...]" Vale ressaltar, entretanto, que diante da insegurança jurídica demonstrada, por consequência, duas precauções deverão ser observadas por parte dos operadores do direito (especificamente, advogados e magistrados). Em primeiro plano, caberá ao advogado, até estabilização do entendimento jurisprudencial, considerar o cômputo do prazo – no cumprimento definitivo de sentença na obrigação de pagar quantia certa –, em dias corridos, a despeito de qualquer entendimento doutrinário contrário, conforme acima exposto. Aquele que cumpriu o comando no prazo exíguo, por certo, o terá feito também dentro do prazo mais amplo, a despeito do entendimento futuro. A segunda precaução, direcionada aos magistrados, deverá respaldar-se no princípio da cooperação, esculpido no artigo 6º, novo CPC, sendo-lhe uma das vertentes o dever de prevenir, dando-se ênfase ao processo como genuíno mecanismo técnico de proteção de direito material, vale dizer, caberá ao magistrado expressamente determinar no despacho que intima o executado para cumprir o comando sentencial, se o cômputo se dará em dias úteis ou corridos. Finalmente, em que pese o teor insuficiente da norma disposta pela conjugação dos artigos 523 e 219, parágrafo único, novo CPC, e, sem embargo ao entendimento doutrinário que apenas demonstra a incerteza a respeito da aplicação do texto normativo, resvalando, inclusive, no entendimento quanto a própria teoria do ato processual, o balizamento da questão deverá ser decorrência de decisão futura a ser articulada pelo Superior Tribunal de Justiça, órgão do poder judiciário com a precípua função de estabilizar o entendimento a respeito de interpretação da legislação federal, cabendo aos operadores do direito atuar com precaução e cooperação, esta última, por sinal, aplicável a todas as fases do processo. BIBLIOGRAFIA AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários às alterações do novo CPC. Ed. Ver, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. P. 310. ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 18ª ed. São Paulo: RT. 2016. p. 465. CUNHA, Leonardo Carneiro da. 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