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NPJ SECAO 1 PENAL

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ (JUIZ COATOR)
XXXXXXX, brasileiro, advogado (a), inscrito (a) na OAB/XX sob o nº ____, com escritório na Rua____ nº ____, Na Cidade de Conceição do Agreste - CE, onde recebe intimações, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 5º, LXVIII, da Constituição Federal, impetrar ordem de
HABEAS CORPUS COM PEDIDO LIMINAR
em favor do Sr. José Percival da Silva, também conhecido como Zé da Farmácia, brasileiro, casado, vereador da cidade de Conceição do agreste, ocupando o cargo de Presidente da câmara de vereadores, residente nesta mesma cidade, contra ato do Meritíssimo Juiz de Direito da ____ Vara Criminal da Comarca de Conceição do Agreste- CE, pelos motivos e fatos a seguir aduzidos:
I – DOS FATOS
O paciente encontra-se preso desde 04 de fevereiro de 2018, na cidade de Conceição do agreste, em razão de prisão em flagrante posteriormente convertida em preventiva por ordem do Excelentíssimo Juiz de Direito da _____ Vara Criminal (autoridade coatora) da cidade de Conceição do agreste devido a prisão ocorrida neste dia supracitado, decorrente de denúncia recebida pelo Senhor Delegado da mesma cidade, Dr. João Rajão, no dia 03 de fevereiro de 2018. 
A denúncia foi feita pelo Sr. Paulo Matos, empresário, sócio de uma empresa interessada em participar das contratações a serem realizadas pela Câmara de Vereadores. Nesta oportunidade o Sr. Paulo relatou um esquema de corrupção envolvendo o Vereador João Santos, o João do Açougue, que exerce, atualmente, a função de Presidente da Comissão de Finanças e Contratos da Câmara de Vereadores do Município de Conceição do Agreste/CE, junto aos vereadores Fernando Caetano e Maria do Rosário, membros da mesma Comissão, onde estes haviam exigido de Paulo o pagamento de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para que sua empresa pudesse participar do referido procedimento licitatório, que estava agendado para o dia seguinte. 
Afim de prender todos os envolvidos no caso em flagrante delito, o Delegado João, orientou Paulo a sacar o dinheiro e combinar com os vereadores a entrega da quantia na própria sessão de realização da licitação, oportunidade em que uma equipe de policiais disfarçados estaria presente para efetuar a prisão dos envolvidos. E assim foi feito. Ocorre que, por uma infeliz coincidência, o paciente deste remédio constitucional impetrado, Zé da Farmácia, na qualidade de Presidente da Câmara de Vereadores do Município de Conceição do Agreste/CE, resolveu, naquele exato dia, assistir à Sessão da Comissão de Finanças e Contratos da Câmara para verificar se ela estava realizando seu trabalho de maneira correta e eficaz. Desta forma, mesmo sem ter ciência de nenhum dos fatos aqui narrados, estava presente no Plenário da Câmara no momento da operação policial e acabou também preso em flagrante, acusado de participar do esquema criminoso.
 
Diante disso, foram seguidos todos os ritos e prazos do inquérito policial sendo enfim comunicada a Autoridade Judiciária, esta determinou a apresentação dos presos, em audiência de custódia, a ser realizada no dia seguinte à prisão. Na data e no horário designados, os réus foram representados pelo Procurador da Câmara dos Vereadores, que requereu a liberdade deles, com a decretação de medidas cautelares diversas da prisão. Entretanto, o MM. Juiz, acatando o pedido do Ministério Público de conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, decretou a prisão preventiva de todos, nos termos do art. 310, II, c/c art. 312, c/c art. 313, I, todos do CPP, para garantia da ordem pública, tendo em vista a gravidade e a repercussão do crime.
II – DOS ARGUMENTOS
Entretanto, a referida prisão/ação penal constitui uma coação ilegal contra o paciente, tratando-se de uma medida de extrema ilegalidade, uma vez que a prisão e logo também a manutenção da prisão pela autoridade coatora é flagrantemente ilegal tendo em vista que não havia nenhum flagrante em relação ao paciente. Para comprovar tal fato é fundamental a análise do artigo 302 do Código de processo penal, que diz:
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: 
I - está cometendo a infração penal; 
II - acaba de cometê-la; 
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; 
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
Logo, a prisão em flagrante se dá sempre que o indivíduo for surpreendido e capturado no momento do cometimento da infração penal, sendo ela tentada ou consumada, o que em nenhum momento, nem do relato do Sr Paulo nem no momento da prisão, foi constatado em relação ao paciente.
Não podemos nos esquecer que o rol constante do art. 302, do CPP, é taxativo, ou seja, só será considerada prisão em flagrante delito aquela prisão realizada em uma das hipóteses ali previstas, sob pena de tal ato ser ilegal e, portanto, passível de imediato relaxamento.
Ainda há que se falar das hipóteses de flagrante próprio, previsto nos incisos I e II, do CPP (transcritos acima). Compreende entre eles os institutos do flagrante forjado, preparado, bem como do flagrante esperado, onde os dois primeiros são completamente ilegais segundo a própria legislação. Logo, é possível perceber que o flagrante do caso em questão se enquadra perfeitamente no conceito de flagrante preparado transcrito abaixo:
“Flagrante preparado (ou provocado) existe quando há uma indução, um estímulo, uma participação fundamental das autoridades estatais para que a situação fática causadora da prisão exista. Isto é, quando o agente, por meio de uma cilada, uma encenação teatral, é impelido à prática de um delito por um agente provocador, normalmente um policial ou alguém sob sua orientação.”
Por estar inteiramente sob o controle das autoridades que, inclusive, foram determinantes para a existência da situação fática, considera-se que o agente não possui qualquer chance de êxito em sua empreitada criminosa, já que em momento algum o bem jurídico tutelado é colocado em risco. Deste modo, aplica-se a regra do crime impossível, prevista no art. 17, do Código Penal:
 Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. 
Logo, não restam dúvidas de que tanto o flagrante preparado quanto o forjado são ilegais. Prova disso é o comando existente na Súmula 145, do STF: 
Súmula 145 STF: Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.
Sendo assim, não havia justificativa para que a prisão do paciente prosseguisse no tempo. Tanto que, uma vez cumpridas as funções da prisão em flagrante (que já era também ilegal), impõe-se ao juiz que seja devidamente fundamentada a manutenção da prisão realizada em flagrante delito em prisão preventiva, o que não ocorreu, pois não havia nenhum fundamento legal para tal feito pela autoridade coatora. 
III - DO CABIMENTO DO HABEAS CORPUS
O Habeas Corpus caracteriza-se por ser uma ação de impugnação autônoma, de natureza mandamental e de cognição sumária, também não submetida a prazos, destinada a garantir a proteção da liberdade de locomoção dos cidadãos, em casos de atos abusivos do Estado, encontrando amparo legal nos artigos 647 a 667 do CPP.
O Código de Processo Penal, nos arts. 647 e 648 apresentam as hipóteses do seu cabimento quando for verificada a coação ilegal:
Art. 647 - Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.
Art. 648 - A coação considerar-se-á ilegal:
I - quando não houver justa causa;
Ainda, nossa Carta Magna é clara em seu artigo 5º LIV, ao dispor que “ninguém será privado da sua liberdade ou dos seus bens sem o devido processolegal;”. Também dispõe no inciso LVII, “ninguém será considerado culpado antes do trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.
Já nos termos do seu art. 5º, Inciso LXVIII, a Constituição Federal assim prevê:
Art. 5º: (...)
LXVIII - Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
A decisão que decreta a prisão preventiva, que é o caso em questão, tem natureza jurídica de decisão interlocutória simples (aquela que decide questão processual, sem encerrar a relação processual ou uma etapa procedimental), trata-se de ato judicial, em regra, irrecorrível. Diante disso se faz necessário o uso de uma ação de impugnação autônoma, que no caso de restrição de liberdade de locomoção é o Habeas corpus.
IV - DO PEDIDO LIMINAR EM SEDE DE HABEAS CORPUS
A liminar é o meio usado para assegurar celeridade aos remédios constitucionais, evitando coação ilegal ou impedindo a ocorrência desta. O “fumus boni iuris” está presente na medida em que a prisão preventiva é completamente ilegal devido ao não flagrante em relação ao paciente, pois este não tinha ideia do que ocorria, se fazia presente apenas para exercer sua função como Presidente da câmara. Presente também está o “periculum in mora”, onde certamente a manutenção da prisão preventiva além de perpetuar a coação ilegal trará enormes prejuízos ao paciente, sejam eles de ordem moral ou psicológica.
Os artigos 649 e 660, § 2º, do Código de Processo Penal preconizam que o juiz ou Tribunal “fará passar imediatamente a ordem impetrada” ou “ordenará que cesse imediatamente o constrangimento”.
Outrossim, estando o Paciente preso, o presente mandamus assume caráter cautelar exigindo uma rápida atuação do Poder Judiciário para que a liberdade ambulatória do indivíduo não seja afetada.
Por fim, cabe salientar que relaxamento de prisão está previsto no art. 5º, inciso LXV, da Constituição da República: “LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária.”.
V – DOS PEDIDOS
Diante do exposto, em face da verdadeira coação ilegal, de que é vítima o paciente, vem requerer que, depois de solicitadas as informações à autoridade coatora, seja concedida a ordem impetrada, conforme artigos 647 e 648, inciso I do Código de Processo Penal, concedendo:
a) a medida LIMINAR, ante a existência de fumus boni iuris e periculum in mora, determinando a imediata LIBERDADE por meio a revogação e imediato relaxamento da prisão preventiva decretada contra o paciente;
b) a expedição do alvará de soltura em favor do paciente;
c) oficializar a autoridade coatora para prestar as informações de praxe, com posterior remessa dos autos a este Egrégio Tribunal como regular prosseguimento do feito;
d) conhecer o pedido de HABEAS CORPUS, para conceder o pedido de julgado do feito, tornando definitivos os efeitos da liminar concedida;
e) a juntada de comprovante de residência, certidão de antecedentes criminais e comprovante de trabalho para demonstrar o intuito do paciente em colaborar e participar do processo;
f) a juntada cópia integral de todo o procedimento existente até o momento;
Nestes termos,
Pede deferimento.
Local e data.
Assinatura do advogado impetrante
OAB/___

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