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Processo de Administração e Gestão de Operações no Setor Público Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Fabiano Siqueira dos Prazeres Revisão Textual: Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin Introdução à gestão pública • Introdução à gestão pública · Conhecer informações sobre Administração Pública, conceito de Estado, os princípios para a construção deste Estado, Modelo Gerencial de Atividade Pública e suas nuances. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta Unidade, daremos início aos estudos de um importante e diverso ramo da Administração Pública, que estuda as formas de melhorar as práticas administrativas do Governo, para assim melhor servir aos interesses públicos, aos ideais e às necessidades do povo. Para que você obtenha uma melhor aprendizagem e compreensão do assunto apresentado, leia com atenção o conteúdo desta Unidade e os materiais complementares, assista aos vídeos indicados e procure as referências bibliográficas. Também recomendamos a pesquisa de mais fontes, que irão contribuir para o melhor desempenho e maior aprendizado. ORIENTAÇÕES Introdução à gestão pública UNIDADE Introdução à gestão pública Contextualização O Brasil, país de dimensões geográficas gigantescas, necessita de um Estado presente em todas as unidades da Federação, o que exige, por conseguinte, uma Administração Pública de grandes dimensões e organização (GOMES, 2006). 6 7 Introdução à gestão pública A Constituição Federal de 1998 (CF), em seu Título I, nos artigos 1º a 4º, apresenta os princípios fundamentais da República Federativa do Brasil, a saber: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. 7 UNIDADE Introdução à gestão pública O Brasil é uma República Federativa composta por três níveis de governo: federal, estaduais e municipais. A organização político-administrativa do Estado brasileiro compreende a União, os estados membros, o Distrito Federal e os municípios, sendo-lhes garantida autonomia pela CF de 1988. Esta autonomia está caracterizada no poder de organização política, administrativa, tributária, orçamentária e institucional de cada um desses entes, limitada por outras disposições constitucionais ou legais dela decorrentes (NASCIMENTO, 2006). A Administração Pública pode ser conceituada, em sentido amplo, como o conjunto de entidades e de órgãos incumbidos de realizar a atividade administrativa visando à satisfação das necessidades coletivas e segundo os fins desejados pelo Estado. Sob o enfoque material, o conceito de Administração leva em conta a natureza da atividade exercida (função administrativa) e, sob o subjetivo ou orgânico, as pessoas físicas ou jurídicas incumbidas da realização daquela função. (ROSA, 2007) A atividade administrativa, de acordo com os ensinamentos de Rosa (2007), “[...] pode ser entendida como a gestão dos interesses qualificados da comunidade, pela necessidade, utilidade ou conveniência de sua realização”. São três os elementos originários e indissolúveis que constituem o Estado: (1) o povo, componente humano do Estado; (2) o território, sua base física; e (3) o governo soberano, elemento condutor do Estado que detêm e exerce o poder absoluto de autodeterminação e auto-organização emanada do povo. (MEIRELLES, 2002) Segundo Friede (2002), “O Estado, em síntese, é um agrupamento em território definido, politicamente organizado”. Há de se ressaltar que Administração, Estado e Governo não se confundem. Rosa muito bem esclarece isso: Importante! O Estado, “nação politicamente organizada”, é dotado de personalidade jurídica própria, sendo pessoa jurídica de direito público interno, e de quatro elementos básicos: povo, território, poder soberano e finalidades definidas. (ROSA, 2007) Importante! Já o Governo corresponde à atividade que fixa objetivos do Estado ou conduz politicamente os negócios públicos. Governo e Administração atuam por suas entidades (dotadas de personalidade jurídica), por meio de seus órgãos e agentes. Por sua vez, a atividade administrativa é usualmente exercida pela própria entidade que a titulariza, mas, também pode ser exercida em regime de comunhão de interesses de mais de uma entidade estatal. 8 9 “No estudo da Administração Pública, o objetivo final é melhorar as práticas administrativas do governo, para, assim, melhor servir aos interesses públicos, aos ideais e às necessidades do povo” (PEDRO MUÑOZ AMATO, 1958). A atividade administrativa do Estado, segundo Alves (2015), é revelada pelo exercício dos três Poderes: “[...] o Executivo, que tem o objetivo de cumprir com a função administrativa, o Legislativo, com a finalidade de normatização de tal função, e o Judiciário, com a função judicial, aplicando a lei de forma coativa”. O mesmo autor ainda esclarece que Governo, também denominado Primeiro Setor, é representado pelo Estado que, por meio de organizações governamentais, entes e órgãos, tem como objetivo efetuar a atividade administrativa visando a suprir as necessidades da coletividade, de acordo com o ordenamento jurídico, as políticas públicas e a vontade do próprio Estado. (ALVES, 2015). Faz-se necessário esclarecer que o Primeiro Setor, Estado, é formado pelas organizações governamentais, que possuem finalidade pública. O Segundo Setor pelas organizações privadas, que visam ao lucro. O Terceiro Setor é aquele composto pelas organizações não governamentais, representadas pela sociedade civil, sem fins lucrativos, tendo como objetivo a prestação de serviços de interesse público não estatal (ALVES, 2015). Ex pl or No caso brasileiro, a Constituição Federal de 1988, no artigo 3º, apresenta os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Para que os objetivos dispostos no Art. 3ºda CF sejam cumpridos, conforme os ensinamentos de Alves (2015): “[...] o Estado deve se orientar pelo princípio da república, ou seja, da coisa pública, priorizando todas as ações em prol da coletividade, do interesse do cidadão”. Para tanto, a Administração Pública deverá conduzir ações e atividades com base em princípios que garantam os direitos da sociedade. O artigo 37 da Carta Magna determina que “A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade [...]” (ALVES, 2015). 9 UNIDADE Introdução à gestão pública O conceito de Estado é impreciso na ciência política. É comum confundir Estado com governo, com Estado-nação ou país, e mesmo com regime político ou com sistema econômico. (BRESSER-PEREIRA, 1995). Na tradição anglo-saxã, fala-se em governo, e não em Estado. Dessa forma, perde-se a distinção entre governo e Estado, o primeiro entendido como a cúpula político-administrativa do segundo. Na tradição europeia, o Estado é frequentemente identificado ao Estado-nação, ou seja, ao país. Expressões como Estado liberal ou Estado burocrático são normalmente uma indicação de que a palavra Estado está sendo utilizada como sinônimo de regime político. Por sua vez, expressões do tipo Estado capitalista ou Estado socialista identificam o Estado com um sistema econômico (BRESSER-PEREIRA, 1995). Neste prisma, o Estado existe fundamentalmente para realizar o bem comum. Os teóricos que cuidam da análise desta finalidade do Estado desdobram-se em três vertentes: o bem-estar, a segurança e a justiça. A interdependência dos fins do Estado assume particular importância em relação à grande e última finalidade do Estado: a promoção do bem comum. O Estado, neste sentido, enquanto forma de organização política por excelência da sociedade, pode ser aceito como o espaço natural de desenvolvimento do poder político (MATIAS-PEREIRA, 2008). O Estado pode ser aceito como um locus no qual o cidadão exerce sua cidadania. Desta forma, de acordo com Matias-Pereira (2008): “[...] todo e qualquer esforço de reforma deve ter como objetivos melhorar a qualidade da prestação do serviço público na perspectiva de quem o usa e possibilitar o aprendizado social de cidadania”. Ainda segundo o autor: [...] o objetivo principal da Administração Pública é a promoção da pessoa humana e do seu desenvolvimento integral em liberdade. Para isso, deve atuar de maneira efetiva para viabilizar e garantir os direitos do cidadão, os quais estão consagrados na Constituição. Nesse contexto, deve ser ressaltada a importância do envolvimento do setor privado e das organizações do terceiro setor nessa tarefa (MATIAS-PEREIRA, 2008). Com relação à origem do Estado, assunto amplo e complexo diante dos seus inúmeros conceitos, pode-se remeter às duas explicações clássicas sobre o tema: 1) A primeira está relacionada às teorias naturalistas ou da origem do Estado (Aristóteles, Cícero, Santo Tomás de Aquino). O homem, enquanto ser social, por sua própria natureza, necessita, para se realizar, viver em sociedade. Assim, o Estado aparece como uma necessidade humana fundamental; 10 11 2) A segunda explicação está vinculada às teorias voluntárias, contratualistas ou da origem voluntária do Estado. O Estado não se forma de uma maneira natural, mas porque os indivíduos voluntariamente o desejam. É, portanto, produto de um acordo de vontades entre os indivíduos (MATIAS- PEREIRA, 2008). O termo “Estado” foi utilizado pela primeira vez por Nicolau Maquiavel. Trata-se de uma concepção que define uma sociedade política organizada, com autoridade própria e regras que possibilitam o convívio entre seus membros. (CASTRO; CASTRO, 2014). O Estado Moderno surgiu na segunda metade do século XV, em países como Inglaterra, França e Espanha. Posteriormente, foi adotado também por outros países europeus. A primeira fase do Estado Moderno foi a Monarquia; a segunda foi o Estado Liberal; e a terceira, o Estado Moderno – que surgiu no final do século XIX, a partir da crise do Estado Liberal, que não respondia às demandas sociais. Nesta fase, surgiram também as ideologias de Direita (Fascismo) e de Esquerda (Comunismo). Na quarta fase, enfim, surgiu o Estado Democrático Liberal, sobretudo devido à crise econômica e social que ocorreu em 1929, pois ela mudou a forma de ação do Estado, ampliando a democracia para a sociedade e, após a Segunda Guerra Mundial, fortalecendo o Estado-providência (CASTRO; CASTRO, 2014). A Tabela 1, a seguir, apresenta os principais pensadores que abordaram o Estado moderno: Tabela 1 Principais pensadores do Estado Moderno. Nicolau Maquiavel 1469-1527 Jean Bodin 1530-1596 Thomas Hobes 1588-1679 John Locke 1632-1704 Emmanuel Kant 1724-1804 Jean-Jacques Rousseau 1712-1778 Benjamim Constant de Rebecque 1767-1830 Georg Wilhelm Friedrich Hegel 1770-1830 Karl Heinrich Marx 1818-1883 Fonte: Matias-Pereira (2008). Segundo Castro e Castro (2014), para melhor compreensão do atual momento histórico em que se vive, é imprescindível conhecermos as mudanças que o Estado sofreu ao longo da História. Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998) descrevem a evolução do Estado por meio dos seguintes conceitos: Estado Feudal, Estado Estamental, Estado Absoluto e Estado Representativo, como é possível acompanhar na Tabela 2: 11 UNIDADE Introdução à gestão pública Tabela 2 – Tipologia: Estado Feudal, Estado Estamental, Estado Absoluto e Estado Representativo. Estado Feudal Uma forma de Estado em que, de um lado, há fragmentação do poder em múltiplos agregados sociais e, em outro lado, a concentração de diferentes funções diretivas nas mãos das mesmas pessoas. Poder “central” do rei caberia apenas à organização do exército e à estruturação da defesa do território, ao passo que o protagonismo político pertenceu aos senhores feudais. Estado Estamental Caracteriza-se pela constituição de órgãos colegiados que reúnem indivíduos possuidores da mesma condição social, os estamentos, que detém os mesmos direitos e privilégios com relação ao poder soberano. Essa forma de estado difere do Estado Feudal em virtude da transformação das relações pessoais entre os indivíduos, além da própria relação entre as instituições, pois as assembleias de estamento surgem como contra poder ao rei e aos seus funcionários. Posteriormente, o Absolutismo tenderá a acabar com essa contraposição de poderes, a partir da ênfase na ideia de poder soberano e absoluto. Estado Absoluto Surge com a concentração e a centralização de poderes num determinado território, tendo como referencial a figura do monarca. Com o fim da fragmentação do poder político, pode-se pensar na constituição dos Estados-nação, com o exercício da soberania sobre o território e suas gentes. Estado Representativo Aparece na Europa na sequência da Revolução Gloriosa, de 1688 e da Revolução Francesa, de 1789, e nos Estados Unidos após a consolidação da independência no século XVIII. O conceito de representação associa-se à ideia de que o corpo escolhido por cidadãos age em nome destes. Tal corpo é escolhido por meio de um procedimento eleitoral racionalmente estabelecido. Trata-se, antes de tudo, do Parlamento: um conjunto de representantes é eleito para decidir quais leis deverão governar aquela sociedade e, mais especificamente, quais políticas públicas serão implementadas. Inclui também o Poder Executivo, em que o presidente ou primeiro ministro age representando a coletividade que lhes outorgou o poder para tanto, por um período específico, equilibrando o seu poder com o do corpo legislativo. Fonte: Castro e Castro (2014) Em seu contexto histórico e estrutural, a evolução daGestão Pública acompanha as transformações do papel do Estado e as mudanças de objetivos dos governos. A discussão acerca do papel do Estado e dos instrumentos adotados para sua organização institucional, além da estruturação de quadros de pessoal, esteve sempre presente em todos os processos de reforma administrativa. Na década de 1930, em muitos países, as empresas estatais, por meio de um processo de nacionalização, passaram a exercer um papel fundamental para o progresso de várias nações. Muito embora a condução destas empresas permitisse a individualização do consumo, tendo em vista que seu sistema de preços funcionava como um mecanismo eficiente de controle, elas apresentavam falhas de mercado, como a competição imperfeita. Ex pl or Para o Estado sanar estas falhas, foi preciso escolher, entre outros caminhos, o de assumir a produção, por intermédio de suas empresas (SANTOS, 2006). De acordo com Almeida e Silva (1996): A escolha por estatizar, em vez de regular, não se explica apenas por motivos econômicos, pois estes são parciais. Sobressai-se ao aspecto econômico, principalmente, o político, uma vez que lideranças militares não acreditavam no potencial empreendedor do capital privado para atender às demandas da nação. Além disso, havia escassez de recursos para financiar o processo de desenvolvimento em setores de alto risco, e os capitais locais estavam mais interessados na renda da terra. 12 13 Essa opção desencadeou uma forte intervenção estatal, o que propiciou o de- senvolvimento de empresas estatais, nos setores de infraestrutura, em muitos pa- íses. Essa intervenção teve importância tanto na formulação de políticas públicas quanto na estruturação da produção, distribuição e controle dos serviços públicos. Chevallier (1987) ensina “que o serviço público tem duas dimensões – ideológica e jurídica – e que serve basicamente para legitimar os governantes e para aplicar o Direito Administrativo”. O mesmo autor ainda menciona que: O serviço público contém um princípio rigoroso de limitação do Estado (seja para delimitação de seu campo de intervenção social, seja para a definição de seus meios de ação), isto é, o Estado é uma coação de objetivos com possibilidade de arbitrar. No entanto, quando o Estado torna-se provedor de serviços públicos, ele abandona sua posição de árbitro e passa a integrar ativamente a gestão do social (CHEVALLIER, 1987). O Professor Clezio Saldanha dos Santos (2006) elucida o contexto histórico da Gestão Pública explicando que a noção de que a intervenção estatal deveria ser reduzida, em prol do desenvolvimento da economia de mercado, resultou na imposição, independentemente de seus custos sociais, de políticas de ajustamento ou de reformas estruturais voltadas a reduzir o déficit público e a abrir caminho para a participação do setor privado em várias áreas cuja atuação era, tradicionalmente, resevada ao governo. Segundo Santos (2006): “[...] no entanto, a grande questão consistia em saber se o setor privado iria garantir um patamar qualitativo de produto, de universalização satisfatória, em relação a toda a população brasileira”. Importante! Além disso, é importante dizer que o contexto histórico da Gestão Pública vem se moldando segundo as lideranças responsáveis pela governança. Ao longo dos anos, a histórica mostra que estilos de gestão e de processos administrativos são implantados segundo o perfil gerencial do partido político. Importante! Independentemente disso, fato é que a transformação do Estado aponta para a imperatividade de democratizá-lo, adotando modelos de gestão estratégica, cooperativa, participativa, democrática e solidária. Visando à eficiência do Estado, Castells (1998) defende a necessidade de se pensar a estrutura do Estado como uma rede, com funcionamento flexível e uma política variável, capaz de processar informações e assegurar o processo de decisões compartilhadas. 13 UNIDADE Introdução à gestão pública O autor sugere a implantação de alguns princípios para a construção deste Estado-rede: a) Princípio da Subsidiariedade: a gestão administrativa deve ser objetiva e descentralizada, para um melhor desempenho. Os estados nacionais devem assumir o maior número de serviços possível, privatizando somente quando necessário; b) Princípio da Flexibilidade: o Estado precisa adaptar-se às constantes mudanças no mundo. Também deve ser negociador, em vez de decretador, e interventor, em vez de controlador; c) Princípio da Coordenação: é imprescindível para a flexibilização e para a descentralização. Deve estender-se além dos limites políticos nacionais e interagir com as administrações locais, regionais, nacionais e supranacionais; d) Princípio da Participação Cidadã: define a legitimidade do processo. A participação cidadã, em uma democracia, é fundamental, pois, sem ela, não se assegura a legitimidade do Estado nem uma descentralização eficaz. Funciona melhor em âmbito local; e) Princípio da Transparência Administrativa: por apresentar uma política vulnerável à corrupção, deve-se estabelecer mecanismos de controle para evitá-la. Mas a transparência deve ocorrer no controle externo do Estado, apoiando a sociedade; f) Princípio da Modernização Tecnológica: apesar de a informatização, nas organizações burocráticas aumentar a burocracia e acentuar seus problemas, em uma administração flexível, participativa e descentralizada, a modernização tecnológica trará benefícios; g) Princípio da Profissionalização: revê a situação do funcionalismo, contratando profissionais, principalmente administradores. Com isto, a corrupção irá diminuir, pois serão pagos salários equivalentes ao cargo, e o Estado enxugará suas contas com a demissão de funcionários incompetentes; h) Princípio da Retroação: dará dinamismo às empresas, fazendo que aprendam e corrijam seus próprios erros. Além dos princípios enumerados acima, o modelo gerencial deve priorizar de modo consistente os esforços para privilegiar o atendimento ao cidadão, em que pese suas diferentes peculiaridades. Essa preocupação de ter o foco no cidadão como síntese de princípios pode ser delineada, conforme ensina Soares (2002), da seguinte forma: • Velocidade e agilidade de resposta do prestador de serviços; • Utilização de sistemas flexíveis de atendimento ao cidadão, com maiores condições de atendimento segmentado ou personalizado, em substituição à prestação de serviços padronizada; • Busca da excelência dos serviços com o estabelecimento de padrões e metas de qualidade de atendimento; 14 15 • Manutenção de canais de comunicação com os usuários; • Avaliação da qualidade dos serviços prestados. A decisão de focar sua atenção no cidadão apresenta-se, entre os princípios de modelo gerencial, como um princípio central de reorganização do Estado. Além da reestruturação na prestação de serviços, busca redirecionar e mudar as prioridades sobre todo o funcionamento do aparelho estatal, com base nas demandas entendidas como prioritárias dos cidadãos. (MATIAS-PEREIRA, 2008) Finalmente, há de se mencionar que todo cidadão espera uma melhoria consubstancial na qualidade da prestação de serviços públicos, sejam eles na área da educação, saúde, segurança e transporte público, entre outros. Jorge Child, em sua obra Fin Del Estado, menciona a necessidade de a administração pública utilizar as práticas gerenciais consagradas pela iniciativa privada em seu modelo de gestão. A parte de la nueva filosofia politica consiste em llevar os principios de la administración de la empresa privada a la gerencia Del Estado y a la administración pública em general. Esto implica um cambio radical en la filosofia Del Estado qua ya no se concibe dentro de los paradigmas teoricos convencionales. La teoria democrática del Estado, por elcontrario, proyecta uma administración pública abierta a los câmbios electoral de la democracia política (CHILD, 1993). Por outro lado, deve-se ressaltar que a iniciativa privada visa ao lucro, enquanto a Administração Pública visa ao atendimento das satisfações das necessidades coletivas. Mesmo que a Administração Pública se inspire no modelo de gestão privada, frisa-se que nunca se deve perder a perspectiva de que o setor privado visa ao lucro, enquanto a Administração Pública busca realizar sua função social. Essa função social deve ser alcançada com a maior qualidade e eficiência possível na sua prestação de serviços. Assim, não se pode mais ignorar as questões relacionadas à eficácia e à eficiência no setor público, embora subordinadas ao critério da efetividade, no que se refere à sua função social. (MATIAS-PEREIRA, 2008) 15 UNIDADE Introdução à gestão pública Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites IBGE www.ibge.gov.br IBAMA www.ibama.gov.brr SENAI SP http://www.sp.senai.br/ SESC SP http://www.sesc.com.br/ ANATEL http://www.anatel.gov.br/institucional/ FUNAI www.funai.gov.br FUNAI www.bacen.gov.br CADE www.cade.gov.br. 16 17 Referências ALMEIDA, Fernando Galvão de; SILVA, Salomão Quadros. Considerações sobre o estado empresário. Lei de concessões e reformas constitucionais no Brasil. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, v. 30, n. 5, p. 24- 50, set/out. 1996. ALVES, André Luis Centofante. Gestão de Organizações Não Governamentais. Curitiba: CRV, 2015. BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 11.ed. Brasília: UnB, 1998. CASTELLS, Manuel. O estado-rede e a reforma da administração pública. Revista do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado. Brasília, n. 5, p. 27-28, jul. 1998. CASTRO, Ana Cristina de; CASTRO, Claudia Osório de. Gestão Pública Contemporânea. Curitiba: InterSaberes, 2014. CHEVALLIER, Jacques. Le service public. Paris: Presses Universitaires de France, 1987. CHILD, Jorge. Fin Del Estado. Bogotá: Grijalbo, 1993. FRIEDE, Reis. Curso de ciência política e teoria geral do Estado, teorias constitucionais e relações internacionais. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002. MATIAS-PEREIRA, José. Curso de Administração Pública. Foco nas instituições e ações governamentais. São Paulo: Atlas, 2008. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. NASCIMENTO, Edson Ronaldo. Gestão Pública. São Paulo: Saraiva, 2006. ROSA, Marcio Fernandes Elias. Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2007. SANTOS, Clezio Saldanha. Introdução à gestão pública. São Paulo: Saraiva, 2006. SOARES, Ana Paula F. M. Instrumentos gerenciais utilizados na administração pública com foco no cidadão. Dissertação (Mestrado em Administração Pública) – FGV/EAESP, São Paulo, 2002. 17
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