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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Leonardo Teixeira CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Cristiane Lisandra Danna Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Bárbara Pricila Franz Marcelo Bucci Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2019 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. T266a Teixeira, Leonardo Administração pública. / Leonardo Teixeira. – Indaial: UNIAS- SELVI, 2019. 184 p.; il. ISBN 978-85-7141-314-6 1. Administração pública. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 351 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Organização e Estrutura do Estado, Administração Pública e Serviços Públicos ............................. 7 CAPÍTULO 2 Governabilidade, Governança e Accountability .................... 69 CAPÍTULO 3 Contratos Administrativos, Modalidades de Contratos e Gestão de Contratos ......................................... 127 APRESENTAÇÃO Caro estudante, este livro de Administração Pública tem como propósito oferecer a você elementos que o ajudem a identificar e reconhecer o que de fato é administração pública, quais seus serviços e o papel da mesma na sociedade em que vivemos. Muito tem-se debatido, na atualidade, sobre a eficiência da “máquina pública”. Fala-se em reduzir ou aumentar o Estado, atribuem-se conotações simplistas aos mecanismos gerenciais dos governos e esvazia-se o debate real das ideias e propostas para uma nova gestão. Mas será que entendemos sobre o que estamos falando? Este livro traz consigo alguns dos principais conceitos sobre a forma de constituição da administração pública, sua evolução ao longo dos anos e as características atuais que permeiam as gestões governamentais. A ementa, abordada nos capítulos a seguir, será destinada a compreender os seguintes temas: • os serviços públicos: competência a nível municipal, estadual e federal; • governabilidade, governança e descentralização do poder; • estrutura e função da administração pública; e • modalidades de contratos para prestação de serviços públicos: concessão, permissão, franquia, terceirização, convênio, contrato de gestão. No Capítulo 1, intitulado Organização e Estrutura do Estado, Administração Pública e Serviços Públicos, você conseguirá identificar os tipos de organização e estruturas do Estado. Lerá e estudará sobre os conceitos de administração pública e suas classificações. Terá acesso aos princípios que norteiam a administração pública e as correntes teóricas que se desdobram sobre essa área de estudos. E, por fim, poderá estabelecer a distinção do que são serviços públicos e quais as competências do Governo Federal, dos estados e municípios. O Capítulo 2, intitulado Governabilidade, Governança e Accountability, versará sobre os conceitos e abordagens de Governabilidade, Governança e Accountability. Esse capítulo trará para você uma visão sistêmica dos desdobramentos da administração pública. Esta lhe conferirá a compreensão de que a administração pública sozinha não consegue implementar os serviços públicos e fornecer o bem público de maneira eficiente e eficaz. O terceiro e último capítulo, intitulado Gestão de Contratos, abordará o conceito de contrato e de gestão de contratos, as modalidades de contratos e as características de cada uma. Posteriormente, abordará os princípios e os ritos administrativos de cada modalidade de contrato. Com base nesse capítulo, você poderá identificar qual modalidade de contrato é mais adequada para determinado elemento/ objeto. Procederá com as diretrizes bases da fiscalização de contratos, identificando falhas e ajustes ao processo. E, por fim, poderá apurar e sistematizar os procedimentos contratuais entre governo, sociedade, iniciativa privada e terceiro setor. Assim, este livro pretende ser a base teórica em administração pública para o desenvolvimento do seu curso de Pós-Graduação Lato Sensu EAD em Contabilidade Pública ao longo da sua formação. Vamos começar? Profo Leonardo Teixeira CAPÍTULO 1 Organização e Estrutura do Estado, Administração Pública e Serviços Públicos A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: Saber: Compreender o conceito de administração pública direta e indireta. Compreender os princípios que norteiam a Administração Pública. Compreender e estudar os tipos de organização e estruturas do Estado. Compreender o que são serviços públicos e quais as competências do Governo Federal, dos estados e municípios. Fazer: Identificar e classificar a administração pública entre direta e indireta. Identificar os princípios inerentes à administração pública. Identificar e classificar os serviços públicos em suas respectivas esferas. Identificar na Constituição brasileira os artigos dos quais competem a administração pública e as competências do governo federal, dos estados e dos municípios quanto aos serviços e responsabilidades. 8 Administração Pública 9 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Vamos começar este capítulo com a leitura de uma matéria? TCU aponta problemas em políticas públicas de telecomunicações Entre eles estão o desperdício de recursos públicos, deficiência na gestão de risco e falhas nos processos de monitoramento e avaliação. O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou os principais problemas nas políticas públicas de telecomunicações no Brasil. No acórdão, o órgão cita a formulação inadequada com prejuízo ao alcance dos resultados esperados; deficiência na gestão de risco e na articulação entre os diversos setores envolvidos; além de falhas nos processos de monitoramento e avaliação. O Tribunal analisou a qualidade da implementação e o alcance de metas e objetivos dos programas implantados. Um exemplo é a Lei de Informática, que não possui indicadores finalísticos industriais para avaliar o retorno de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). “Isso dificulta o acompanhamento de resultados que poderiam ser utilizados como subsídio para avaliação e revisões da política de informática”, diz o órgão de controle. A auditoria também apontou como problema a manutenção do benefício fiscal a empresas inadimplentes em relação ao parcelamento de débitos anteriores, em desconformidade com a norma estabelecida. Na “Política Nacional de Banda Larga”, as ações desconexas dos diferentes poderes ocasionaram redundância na prestação de serviços digitais em determinadas localidades. A consequência disso é o desperdício de recursos públicos com uma área em detrimento de outras, que deixaram de ser atendidas. FONTE: <https://goo.gl/kSxHoH>. Acesso em: 3 dez. 2018. 10 Administração Pública Ao longo da sua vida, você, provavelmente, já se deparou com inúmeras notícias desse tipo – onde problemas públicos são evidenciados e a máquina pública se demonstra ineficiente na proposição de soluções e prestação do serviço público. O contrário você já deve ter visto também, bons exemplos de prestação de serviço que auxiliam e facilitam a vida dos cidadãos. Mas você já refletiu sobre o porquê de as coisas serem assim? Como o Estado se organiza para atender as demandas? Por que em alguns países as coisas são diferentes?O que, de fato, pode ser entendido como serviço público? Muitas dessas dúvidas podem ser respondidas através do entendimento de como a máquina pública, ou também conhecida como Administração Pública, funciona – como ela se organiza e se estrutura para a prestação do serviço público. Portanto, neste capítulo, você encontrará o que precisa saber sobre a conceituação e os campos da administração pública, suas teorias, a forma como o Estado e as organizações se colocam para pô-la em funcionamento, quais serviços que a administração pública deve ofertar, quais entes devo me dirigir para acessá-los, entre outros conteúdos pertinentes. Preparados? Então vamos lá! 2 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO ESTADO Este capítulo contemplará a forma como o Estado brasileiro se organiza e se estrutura, a fim de lhe proporcionar uma base sólida para o entendimento da nossa administração pública brasileira e dos demais conceitos que virão com o decorrer deste livro. Mas antes de explorarmos o Estado brasileiro, precisamos estudar como se concebeu a ideia de Estado e quais são suas bases ideológicas e históricas. 2.1 O ESTADO O Estado, em um sentido amplo, caracteriza-se pela soberania de um território, um povo e um governo – são elementos fundamentais e indissociáveis para o reconhecimento de um Estado. 11 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 Segundo Matias-Pereira (2018), o Estado pode ser entendido do ponto de vista histórico, ou seja, é possível se aprofundar em sua compreensão através da sua evolução ao longo do tempo. Antes do entendimento do que viria a ser Estado moderno, havia quatro formas de organização consideradas Estado: a sociedade nômade – extremamente primitiva; a Cidade-Estado – surgida na Grécia antiga com expoentes, como Atenas e Esparta, de viés sofisticado; o Império Burocrático – adotado na China; e o Estado feudal – que empoderou grandes donos de terra a partir dos excedentes agrícolas. Dantas (2008) afirma que o Estado, da forma como o conhecemos, nasceu em meados do século XVI com o surgimento da noção de soberania. O termo, segundo Dantas (2008), tem origem na obra Os seis livros da República, do filósofo e jurista francês Jean Bodin (1530-1596), onde diz que a soberania é o poder perpétuo e absoluto de uma Nação e que a República seria a expressão governamental dos interesses comuns da sociedade com poder soberano. Para Bobbio (2007), o Estado nasce da dicotomia entre o público e o privado, como entidade dotada de poder para regular as relações e impedir que uma esfera se sobreponha a outra e que os particulares entrem em conflito desfavoráveis, ou seja, assume papel mediador entre uma maioria e uma minoria. Em uma definição mais profunda, o conceito de Estado percorre dois caminhos diferentes, mas que se relacionam: um é pelo histórico das instituições políticas e o outro é pela história das doutrinas políticas. A história das doutrinas políticas remonta ao período histórico desde a Grécia antiga, com o grande pensador e filósofo Aristóteles, até os tempos modernos e contemporâneos, com influências de Hobbes, Marx, Webber, Rousseau, Hegel, Locke, Maquiavel, Montesquieu, entre outros. Por outro lado, as histórias das instituições surgem mais tarde por falta de definição assertiva do que viriam a ser essas instituições, mas não se distanciam dos mesmos autores que trabalharam as doutrinas políticas. Segundo Bobbio (2007), na teoria geral do Estado, distinguem-se as formas de governo dos tipos de Estado, embora, na maioria das vezes, não haja uma demarcação limítrofe entre essas formas. Dentre essas formas, surgem as tipologias clássicas divididas em Aristóteles, Maquiavel e Montesquieu. Nessas tipologias, levam-se mais em conta a estrutura de poder e as relações entre os vários órgãos, os quais constituem o exercício do próprio poder. No livro A Política de Aristóteles, Bobbio (2007) destaca, principalmente os capítulos III e IV, onde o filósofo grego caracteriza as formas de governo e 12 Administração Pública distingue as mesmas de suas formas corruptas. Como a monarquia ou governo de um, aristocracia ou governo de poucos e politeia ou governo de muitos, com a anexa duplicação das formas corruptas, pelas quais a monarquia degenera em tirania, a aristocracia em oligarquia, a politeia (que é o nome que Aristóteles dá à forma boa do governo de muitos) em democracia. BOBBIO, Norberto. A Política de Aristóteles. São Paulo: Editora Martin Claret, 2018. Na obra O Príncipe, de Maquiavel, a contribuição foi medida pela distinção e classificação das formas de governo em monarquia e república, fazendo- se compreender, nessa divisão, os gêneros das repúblicas democráticas e aristocráticas, onde a distinção essencial está na diferença entre o governo de um só – pessoa física – e o governo de uma união de pessoas (assembleia), ou de um corpo coletivo, sendo a diferença entre uma assembleia de otimates e uma assembleia popular menos relevante, porque ambas, à diferença da monarquia, onde a vontade de um só é lei, devem adotar algumas regras, como a do princípio de maioria, para alcançar a formação da vontade coletiva. Acesse o link de domínio público, baixe e leia a obra O Príncipe, de Maquiavel na íntegra: <https://goo.gl/iaayLc>. Já a contribuição de Montesquieu deriva de uma tricotomia diferente da apresentada por Aristóteles: monarquia, república e despotismo. Montesquieu define o despotismo como sendo a forma degenerada ou corrupta da monarquia, onde o governo de um só se faz mediante a força e a imposição do medo sem base legal que o corrija ou o mantenha sob controle de seu próprio poder. Tal tipologia foi criada para justificar a entrada do campo de análise oriental no contexto de Estado, ou seja, Montesquieu analisou e observou os Estados e governos orientais e propôs que tais se enquadram como Estados Déspotas. Outra contribuição de Montesquieu foi introduzir os princípios que outorgam a um 13 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 único indivíduo ou grupo de indivíduos o poder de governar, tal como a honra na monarquia ou a virtude na república. Tais contribuições foram muito importantes para que autores e pesquisadores ao longo das eras pudessem desenvolver novos prismas analíticos e novas propostas de Estado e governos mais condizentes com as realidades presentes em tais momentos, buscando uma evolução conceitual e de rompimentos paradigmáticos entre o velho, o novo, o possível e o ideal. Contudo, como o próprio Bobbio (2007) nos alerta, seria quase impossível e contraprodutivo descrever aqui todas as formas de Estado que derivaram e beberam desses modelos clássicos em toda a história da humanidade. Portanto, nos cabe apenas destacar, conforme sugestão do próprio autor (2007), dois critérios analíticos utilizados pelo mesmo para abarcar essas formas. O primeiro critério é de viés histórico, onde o Estado pode ser dividido em Estado Feudal, Estado Estamental, Estado Absoluto e Estado Representativo. DIVISÃO DO ESTADO PELO VIÉS HISTÓRICO, SEGUNDO NORBERTO BOBBIO Estado Feudal O poder do Estado é fragmentado e pertencente a proprietários de terras – caracterizados pelo exercício acumulativo de funções locais. Estado Estamental O Estado Estamental distingue-se do Estado Feudal por apresentar uma gradual institucionalização dos contra-poderes em relações entre instituições: de um lado as assembleias de estamento, de outro o rei com o seu aparato de funcionários que, onde conseguem se afirmar, dão origem ao Estado burocrático característico da monarquia absoluta. Estado Absoluto “A formação do Estado absoluto ocorre através de um duplo processo paralelo de concentração e de centralização do poder num determinado território. Por concentração, entende-se aquele processo pelo qual os poderes através dos quais se exerce a soberania.Por centralização, entende-se o processo de eliminação ou de exaustoração de ordenamentos jurídicos inferiores, como as cidades, as corporações, as sociedades particulares, que apenas sobrevivem não mais como ordenamentos originários e autônomos, mas como ordenamentos derivados de uma autorização ou da tolerância do poder central” (BOBBIO, 2007, p. 115). 14 Administração Pública Estado Representativo “O desenvolvimento do Estado representativo coincide com as fases sucessivas do alargamento dos direitos políticos até o reconhecimento do sufrágio universal masculino e feminino. O qual, porém, tornando necessária a constituição de partidos organizados, modificou profundamente a estrutura do Estado representativo, ao ponto de induzir uma profunda modificação no próprio sistema da representação...” (BOBBIO, 2007, p. 117). FONTE: Adaptado de Bobbio (2007, p. 115-117). O segundo critério de classificação utilizado por Bobbio (2007) é o grau de maior ou menor expansão do Estado em detrimento da sociedade. Nesse ponto, o autor utiliza a definição e categoria do Estado Totalitário para definir esse critério. No Estado totalitário toda a sociedade está resolvida no Estado, na organização do poder político que reúne em si o poder ideológico e o poder econômico. Não há espaço para o não-Estado, O Estado totalitário representa um caso-limite, já que o Estado na sua acepção mais larga, que compreende inclusive a polis grega, viu-se sempre diante do não-Estado na dupla dimensão da esfera religiosa (no sentido mais amplo da palavra) e da esfera econômica (BOBBIO, 2007, p.121). Ou seja, o Estado totalitário seria classificado como o grau de maior expansão em detrimento da sociedade, isso significa que o Estado é o dono de tudo, inclusive do que se considera não-Estado, a esfera religiosa e econômica. Entende-se não-Estado como a ausência da interferência do mesmo sobre determinado campo. Religião e economia, por exemplo. O que é diferente de Anarquismo, que é a ausência total de Estado. Com o advento dos ideais iluministas, onde o homem ganha o centro das atenções no campo político, social e histórico, e após a crise de representatividade das instituições de poder mercantis – que não conseguem mais satisfazer as demandas sociais, a era dos direitos e da burocracia weberiana surge como meio de medidas e contrapesos às distorções do poder, de maneira a impedir, de alguma forma, a visão corrupta das formas de governo aristotélicas. Para que entendamos o desenvolvimento e a concepção atual de Estado que temos, precisamos fazer um resgate do que viria a ser entendido como o Estado Moderno. Entende-se não-Estado como a ausência da interferência do mesmo sobre determinado campo. Religião e economia, por exemplo. O que é diferente de Anarquismo, que é a ausência total de Estado. 15 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 Sugerimos a você que veja o filme: Danton – O Processo da Revolução (1983) – Considerado por estudiosos um dos filmes mais fiéis em retratar a história como aconteceu a Revolução Francesa. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GODpn6lSa94>. 2.1.1 O Estado moderno O Estado moderno nasce por volta da segunda metade do século XV, em países europeus, como França, Inglaterra e Espanha e depois é adotado pelos demais países do continente. Assim, somente após seu surgimento, que se forma, de fato, uma reflexão sobre o que seria o Estado (MATIAS-PEREIRA, 2018). Matias-Pereira (2018) observa que o Estado moderno utilizou de instrumentos e meios para facilitar o controle político pelas monarquias após a crise do sistema feudal e que, de alguma forma se perpetuaram com algumas distinções nos modelos seguintes de concepção do Estado. Tais instrumentos são, por exemplo: • Burocracia Administrativa: através das ordens do Rei, um corpo de indivíduos, formado por nobres e burgueses, encarregava-se de desempenhar as tarefas da Administração Pública, tais como o recolhimento de tributos. • Força Militar: força e estrutura militar permanentes a fim de manter o controle do território, assegurar a ordem pública e a autoridade dos mandatários e do Rei. • Leis e Justiça Unificadas: legislação nacional e justiça pública atuante. • Sistema Tributário: Estrutura de tributos obrigatórios e regulares, de forma ordenada e amparada em leis, para sustentar as despesas do governo. • Idioma Nacional: língua oficial do Estado, a fim de criar sentido, identidade e valorização da cultura de cada povo. A fase mais antiga do Modelo de Estado moderno, segundo Matias-Pereira (2018), é a Monarquia; seguida pelo Estado Liberal, decorrente das revoluções liberais; que, ao colapsarem, dão origem a terceira fase dicotômica entre ideologias de Direita (Fascismo) e de Esquerda (Comunismo); e, por fim, a quarta fase, com o surgimento do Estado Democrático Liberal, que foi uma resposta à crise econômica e social ocorrida em 1929. https://www.youtube.com/watch?v=GODpn6lSa94 16 Administração Pública PRINCIPAIS PENSADORES DO ESTADO MODERNO Nicolau Maquiavel (1469-1527) A moral do cidadão é que constrói o Estado. Jean Bodin (1530-1596) O poder absoluto do Estado deriva de sua soberania e autonomia. Thomas Hobbes (1588-1679) O poder absoluto do Estado deriva do Contrato Social. John Locke (1632-1704) O Estado é um ato de liberdade de decisão e princípio de sobrevivência e preservação. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) O Estado surge para dirimir os conflitos sociais. Emmanuel Kant (1724-1804) O Estado é a totalidade de indivíduos sob uma condição civil e legal em relação aos membros dessa totalidade. Benjamim Constant de Rebecque (1767-1830) O Estado é a submissão do indivíduo à lei. Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) Não há sociedade civil se não existir um Estado que a construa. Karl Heinrich Marx (1818-1883) O Estado é o resultado das relações econômicas. FONTE: Adaptado de Matias-Pereira (2018). Precisamos aqui, destacar a obra de três pensadores que foram fundamentais para a construção do Estado moderno. Esses autores são também conhecidos como os teóricos contratualistas. São eles: Thomas Hobbes, John Locke e Jean- Jacques Rousseau. 2.1.1.1 Os teóricos contratualistas Se você tiver que comprar algo pela internet de uma pessoa desconhecida, o que lhe garante que você receberá o produto após o pagamento? Se considerarmos o homem egoísta e mau, como conseguir viver harmoniosamente em sociedade? Para essas duas perguntas, tem-se uma resposta oriunda desses três pensadores: o que garante a ordem e o compromisso entre as partes é o contrato social. 17 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 Hobbes, Locke e Rousseau baseiam suas ideias de Estado em uma concepção de contrato social. Ou seja, partem do princípio de que o Estado só existe graças a uma espécie de acordo ou consenso (metaforicamente denominado de contrato) entre as pessoas. A ideia central é que o Estado se originou do consenso das pessoas sobre determinadas matérias e elementos fundamentais para a convivência e preservação da vida. Mesmo que essa construção teórica seja comumente baseada no contrato social, assumem posturas distintas e que se contrapõem e se complementam na construção de um Estado moderno. Thomas Hobbes, em O Leviatã, argumenta que o homem precisa ser contido, pois sua conduta livre é violenta e má. Tanto que Hobbes afirma que sem Estado não há justiça. “[...] onde não há Estado, não há propriedade, pois, todos os homens têm direito a todas as coisas. Portanto, onde não há Estado, nada pode ser injusto” (HOBBES, 2015, p. 61). Dando a entender que o homem é o causador do mal contra o próprio homem e que esse mal só pode ser entendido como justo ou injusto sob o olhar de um Estado. O pensador acreditava que o contrato social fora feito paraconter os instintos animalescos, violentos e maus. E que o Estado surge para controlar esse animal (esse lobo) e garantir a preservação da vida das pessoas. Esse Estado só é possível quando a sociedade submete-se a ele, cedendo-o plenos poderes para organizar e controlar a sociedade. Esse Estado, concebido por Hobbes, deve ser exercido por um Rei com poderes absolutos e que governaria pela imposição do medo, onde os homens abririam mão de suas liberdades pela segurança de suas vidas. Tal Estado, se preciso, seria cruel, violento e autoritário. HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. São Paulo: Editora Edipro, 2015. John Locke, na obra Segundo Tratado sobre o Governo Civil, pressupõe a existência do Estado para balancear as forças entre os cidadãos. Ou seja, o Estado seria o mediador, sem interesse, que poderia decidir sobre uma matéria que esteja em conflito entre os cidadãos. 18 Administração Pública A liberdade do homem na sociedade não deve estar edificada sob qualquer poder legislativo exceto aquele estabelecido por consentimento na comunidade civil; nem sob o domínio de qualquer vontade ou constrangimento por qualquer lei, salvo o que o legislativo decretar, de acordo com a confiança nele depositada (LOCKE, 2014, p. 41). Os cidadãos escolhem seus governantes que garantiriam os direitos fundamentais expressos no pacto social e o Estado garantirá a defesa da liberdade e da propriedade privada. Mas esse governante máximo não terá poderes absolutos, ele será resultante das leis e acordos expressos por uma assembleia. Ao contrário de Hobbes, Locke defende um Estado baseado em leis. Locke viria a influenciar a concepção de Estado Liberal pós-Revolução Francesa. LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil. São Paulo: Editora Edipro, 2014. Jean-Jacques Rousseau, em O Contrato Social, aborda a natureza humana como sendo pura e boa. Ou seja, o homem nasceria bom, mas o sistema e o ambiente que o cerca o tornariam uma criatura violenta, agressiva e má. Para o pensador, todo o poder emana do povo e para o povo. Portanto, o Estado e seus governantes seriam a representação desse poder e das vontades do povo. O Contrato Social, Jean-Jacques Rousseau. Disponível no domínio público: <http://www.dominiopublico.gov. br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2244>. Rousseau defende que da formação de um pacto de cidadãos livres, que abdicam de sua vontade individual para garantir a construção de uma vontade coletiva, surge o Estado – que irá representar essas vontades coletivas e promover suas implementações. Outra questão de destaque no pensamento rousseauniano é a distinção entre democracia direta e indireta. A direta seria exercida pelos http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2244 http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2244 19 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 cidadãos na tomada de decisão. A indireta seria exercida por representantes escolhidos por esses cidadãos, ou seja, uma democracia representativa. Que tal agora analisarmos como esses três pensadores contratualistas percebem o homem em sociedade. Crie um quadro comparativo entre a percepção de tais autores para auxiliá-lo em sua compreensão. 2.1.1.2 A contribuição de Max Weber Outra contribuição que devemos destacar na construção do Estado moderno – e que suas obras e contribuições viriam a influenciar os Estados ocidentais, como Estados Unidos e Brasil, na concepção de uma administração pública burocrática – é a do pensador alemão Max Weber. A sociedade moderna, para Max Weber, teria algumas características, como a racionalidade baseada em um cálculo de previsibilidade da tomada de decisão com análise de riscos; e o aspecto institucionalista das organizações sociais. O Estado, nessa composição, seria o detentor do monopólio do uso legítimo da força. Ou seja, somente o Estado pode empregar o poder de polícia, as forças militares e a justiça. Para Weber, é importante ressaltar que o poder envolve um conjunto e um conflito de interesses, distribuídos em níveis de legitimidade, tais quais a capacidade de tal poder e o exercício e a efetivação desse poder. Ou seja, não basta ter o poder, mas sim saber como exercê-lo e saber até onde ele pode ir. Esse poder, ao elevar os interesses de um determinado grupo, determina níveis de tolerância para o mesmo. Isso significa que o poder só será exercido se estiver dentro dos níveis de tolerância, aceitação e obediência da sociedade para que atinja o que o autor denomina legitimidade. Weber ainda classifica o poder como sendo puro e o divide em três categorias: o poder tradicional, o poder carismático e o poder legal (também conhecido como poder burocrático/ racional). O poder tradicional é um tipo de dominação que se caracteriza por uma fidelidade ou lealdade a um líder e essa fidelidade seria baseada em uma tradição religiosa ou história. 20 Administração Pública O poder carismático é um tipo de dominação baseada no carisma de um líder dotado de características singulares e de feitos destacáveis, de capacidade comunicativa e interrelacional elevada, que acarretariam admiração de sua personalidade. O poder legal, que para Weber seria o modelo dominante nas sociedades modernas, se caracteriza pela dominação burocrática e racional, onde o exercício do poder levaria em consideração a capacidade técnica do indivíduo, a burocracia como forma de isonomia e a celeridade nos processos administrativos, cuja legitimidade estaria pautada e concretizada formalmente em leis. Essas ideias vieram a contribuir para a formação do Estado burocrático e para a concepção de uma administração pública mais tecnicista, formal e baseada em princípios – como a isonomia e a legalidade. Em Weber, conclui-se que o Estado moderno seria uma manifestação da racionalidade da sociedade moderna que se materializa em uma estrutura burocrática, fundamentada em regras estabelecidas em leis, decretos e normas, que era dividida em poderes autônomos e independentes – executivo, legislativo e judiciário) com a missão de satisfazer ao interesse público coletivo. Cabia ao Estado, também, a responsabilidade por garantir a paz e a ordem pública interna e externamente, por meio das forças policiais e das forças armadas. Vamos aproveitar esse momento para fazer um leve exercício de classificação? Encontre, no seu cotidiano, figuras que possam assumir as características de Poder Tradicional, Poder Carismático e Poder Legal. Descreva-as a seguir: 2.1.1.3 O Estado liberal Após a Revolução Francesa, com a crise do modelo absolutista e inspirado nas ideias de John Locke, o Estado Liberal surge como resposta à insatisfação, por parte da burguesia e da sociedade, com a condução política e administrativa dos monarcas (MORAIS, 2011). 21 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 Recomendamos, também, a leitura da obra de Adam Smith, A Riqueza das Nações, editora Jaruá, 2006. Segundo Morais (2011), o Estado Absolutista [Monarquia], através da imposição de sua religião, da força e de suas vontades particulares, sufocou a sociedade da época e limitou a liberdade dos cidadãos. Desse modo, o ideário iluminista começa a ganhar corpo na insatisfação do cidadão com esse modelo de governo/ Estado. Com isso, há o surgimento do ideário de Estado Liberal sustentado, entre outras condições, pelas ideias de John Locke, pelas contribuições de Adam Smith (liberalismo econômico) e pelos princípios iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade. São justamente os dois primeiros princípios, Liberdade e Igualdade, a base do pensamento da sociedade liberal. O homem buscava espaço para se desenvolver, liberdade para viver e produzir, paraisso, fazer-se-ia necessário o distanciamento da máquina estatal; o crescimento do comércio, sob os ecos da Revolução Industrial, conclamava o homem para a mercancia. O Estado, assim, deveria interferir, minimamente, nas relações sociais, o Estado é um mal, porém um mal necessário. Sua interferência é necessária, porém em apenas alguns poucos setores da vida social, o importante para o Estado Liberal é justamente limitar o poder (MORAIS, 2011, p. 2). Algumas características do Estado Liberal: • liberdade individual; • tolerância; • reconhecimento da propriedade privada; • estado de Direito; • livre mercado. Tal ideário liberal se estende até o pós-Primeira Guerra Mundial, onde a economia e produção em grande escala colapsam culminando na quebra da bolsa de valores norte americana em 1929. Essas transformações econômicas resultaram em transformações políticas e em um momento de repensar o modelo de Estado. O Estado é um mal, porém um mal necessário. 22 Administração Pública Para se aprofundar mais sobre o Estado Liberal, sugiro a leitura do artigo A evolução histórica do Estado Liberal ao Estado Democrático de Direito e sua relação com o constitucionalismo dirigente, do Procurador Federal de São Paulo, Ricardo Quartin de Moraes, disponível em: <https://www12.senado.leg.br/ril/ edicoes/51/204/ril_v51_n204_p269.pdf>. 2.1.1.4 O Estado de Bem-Estar Social e o Estado Mínimo Alguns autores apontam que, após a Segunda Guerra Mundial, o mundo passou por transformações dramáticas, tendo enfrentado modelos de Estado que esfacelaram a concepção de defesa das liberdades individuais, como o exemplo do Fascismo, juntamente com as consequências e as transformações capitalistas geradas pela Revolução Industrial e, posteriormente, pelo modelo de produção eficiente de Taylor e do sistema de escala e linha de montagem do fordismo, geraram efeitos danosos à sociedade como um todo, por exemplo, os processos econômicos desumanizados, inflexíveis e exploratórios (MATIAS-PEREIRA, 2018; BOBBIO, 2007). Nesse descontentamento e desagrado das massas com as ideias liberais de um Estado alinhado à defesa econômica do país, surge, em resposta, o Estado de Bem-Estar Social, ou welfarestate. Obra fundamental que repensa o modelo durante o pós- Primeira Guerra é a Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, de John Maynard Keynes, aplicada pelas grandes economias pós-Segunda Guerra Mundial. Disponível em:<http://www.ie.ufrj. br/intranet/ie/userintranet/hpp/arquivos/090320170036_Keynes_ TeoriaGeraldoempregodojuroedamoeda.pdf>. https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/51/204/ril_v51_n204_p269.pdf https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/51/204/ril_v51_n204_p269.pdf 23 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 Para Esping-Andersen (1995), o Estado de Bem-Estar Social é um tipo de distribuição de proteção social oriundo de uma espécie de capitalismo de produção voltado a essa proteção, ou seja, o mercado, a família e o Estado estariam unidos para promover o bem-estar social em seu país, mantendo políticas de distribuição de renda, amparo social e proteção aos direitos sociais. Segundo Matias-Pereira (2018), o Estado de Bem-Estar Social é a estrutura menos dramática de promoção da democracia e da liberdade econômica. Segundo Paludo (2013), o Estado de Bem-Estar Social é caracterizado por adotar políticas assistencialistas, em que a estrutura governamental deve prover, através das políticas públicas e da prestação do serviço público, as necessidades básicas da população. No entanto, para configurar um Estado de Bem-Estar Social, segundo o mesmo autor, cabe ao Estado reconhecer, através de normas legais e leis, que a população, ou fração dela, tenha esse direito e, ainda, que os benefícios sejam universalmente concedidos, independentemente de recolhimentos de impostos e contribuições. De acordo como Norberto Bobbio (2007), o Estado de Bem-Estar Social (welfarestate) ou Estado Assistencial pode ser definido, em primeira análise, como Estado que garante tipos mínimos de renda, alimentação, saúde, habitação, educação, assegurados a todo cidadão, não como caridade, mas como direito político. Segundo Bauman (2001), o papel desse modelo de Estado é atuar de maneira mitigatória a fim de reduzir as desigualdades provocadas pelos efeitos de mercado, atuando no plano social com medidas tributárias mais justas e planos de assistência aos menos favorecidos economicamente. No Brasil, verifica-se que a construção desse Estado de Bem-Estar Social data desde o início dos anos 30, com Getúlio Vargas e as primeiras leis trabalhistas e se consolida com a promulgação da Constituição Federal de 1988, onde os direitos do cidadão aumentaram de forma significativa (MATIAS-PEREIRA, 2018). A Constituição de 1988 procurou redirecionar o sistema para um modelo de proteção social institucional-redistributivo ou mais universalista e equânime. Os critérios de elegibilidade para os benefícios foram redefinidos e sua cobertura ampliada pela Constituição de 1988, que estabeleceu um sistema composto por: Previdência Social, Assistência Social e Saúde (MATIAS-PEREIRA, 2018, p. 58). Segundo Bauman (2001), o papel desse modelo de Estado é atuar de maneira mitigatória a fim de reduzir as desigualdades provocadas pelos efeitos de mercado, atuando no plano social com medidas tributárias mais justas e planos de assistência aos menos favorecidos economicamente. 24 Administração Pública Após a implementação, em muitos países, desse modelo de Estado, os crescentes desequilíbrios evidenciados, principalmente, nos déficits fiscais, na montanha-russa inflacionária e o crescimento de dívidas internas e externas, instauraram uma crise estrutural nos governos que atuaram sob esse modelo. A resposta a essa crise, destacam Bresser-Pereira e Spink (2007) e Matias- Pereira (2018), foi a reforma do Estado e a adoção de um modelo neoliberal, com o enxugamento dos gastos públicos e orientado a uma maior abertura econômica. O modelo neoliberal, também conhecido como Estado mínimo, é o conjunto de ideias políticas e econômicas que defendem a não participação do Estado na economia e, inclusive, pressupõe um modelo de privatizações dos serviços públicos em busca de uma maior eficiência em sua promoção. Essa ideia origina a base do modelo gerencialista de administração, que veremos mais à frente. O Estado, neste caso, seria responsável apenas pelo controle e supervisão dessa prestação de serviço, deixando a cargo da iniciativa privada o seu fornecimento (BRESSER-PEREIRA; SPINK, 2007). Isso se dá pela crise no modelo burocrático, que evidencia problemas como as disfunções da burocracia, tais quais o excesso de formalidade, despersonalização, inflexibilidade, rigidez, lentidão, autoritarismo, baixo desempenho e ineficiência. No caso brasileiro, iremos ver mais à frente neste capítulo, a construção desse modelo se deu início no Governo Collor e posteriormente no Governo de Fernando Henrique Cardoso. 1 - Capitalismo e Liberdade, de Milton Friedman. Editora LTC, 2014. 2 - O Estado do Bem-estar Social na Idade da Razão – a Reinvenção do Estado Social No Mundo Contemporâneo, de Celia Lessa Kerstenetzky, Editora CAMPUS, 2012. Hoje se torna impossível delimitar um Estado de Bem-Estar ou um Estado Mínimo. Há governos que são mais liberais e outros menos e isso demonstra um leque de opções e modelos possíveis oriundo dessas concepções. Outra afirmação que fica difícil fazer é qual desses modelos é o melhor, pois temos experiências positivas e negativas com ambos. 25 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 Percebe-se, portanto, que a busca por um modelo de Estado ideal é debatida constantemente e que desse debate, os mecanismos evoluem para formas mais complexas, como as de viés mais participativo,sob uma ótica democrática e local, tentando produzir um efeito de satisfação e reconhecimento com a própria participação no processo democrático decisório. Documentário extremamente pertinente para você entender o contexto e as transformações da época comparadas com a crise de 2008, Doutores da Economia - produzido pela BBC. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=K6TBCFMziuI>. 2.2 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO A divisão político-administrativa do Brasil surgiu no período colonial, quando o Brasil se dividia em capitanias hereditárias sob o controle da Corte Portuguesa (FAUSTO, 2013). Hoje, o Brasil é formado pela União, por 26 estados, um Distrito Federal (Brasília – a capital do Brasil) e por 5.570 municípios (IBGE, 2013). Cada ente federativo possui autonomia financeira, política e administrativa respeitando a Constituição Federal e seus princípios constitucionais. Cada estado pode, também, ter sua própria Constituição e cada município – através de sua lei orgânica – poderá ter sua própria legislação. Essa autonomia se explica devido à necessidade de abarcar as particularidades de cada região no país – que, de tão grande, apresenta características continentais e plurais. Assim temos a República Federativa do Brasil. Um exemplo dessa autonomia: Uma cidade do interior do Estado de Santa Catarina está perdendo habitantes/moradores para as cidades vizinhas onde se tem emprego, diminuindo drasticamente sua arrecadação. Como forma de atrair empresas e gerar empregos em sua região, o prefeito aprova baixar o ISS a 1% e cria uma política de incentivo fiscal para as empresas. file:///C:\Users\14202315880.GRUPOUNIASSELVI\Downloads\%3chttps:\www.youtube.com\watch%3fv=K6TBCFMziuI 26 Administração Pública O federalismo é o sistema político pelo qual entidades territoriais se organizam, cada uma conservando sua autonomia e formando o que se denomina Estado Federal. Entretanto, apenas o Estado Federal é considerado soberano, tendo um governo central – representado pelo Chefe de Estado – que administra os estados federados, possuindo personalidade internacional e sendo reconhecido como nação/ União. O governo central, nesse modelo, jamais poderá alterar ou abolir de forma unilateral o conjunto de competências e prerrogativas dos entes e estados federados (ARRETCHE, 2006). A República é uma forma de governo onde o povo, através do voto ou de seus representantes, elege o Chefe de Estado. O Chefe de Estado é denominado, no caso brasileiro, Presidente da República, e permanece no poder por quatro anos (um mandato), podendo ser reeleito para mais um mandato consecutivo. Portanto, como resume Costin (2010, p. 15), “o Brasil é um Estado republicano, democrático e representativo. Trata-se, então, de uma República federativa e presidencialista composta de três poderes independentes: Executivo, Legislativo e Judiciário”. Essa tripartição do poder se justifica como mecanismo de freios e contrapesos a fim de impedir a construção de um poder absoluto resultante da imposição de uma das partes. São meios que garantir que o sistema democrático se faça valer. A República Inacabada – de Raimundo Faoro. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2007, p. 292. 2.2.1 Os poderes independentes Vários autores, desde Platão, Aristóteles, Locke e Montesquieu, até os mais atuais, trabalharam na concepção e aprimoramento de um modelo de Estado dividido em três vias de poder. A seguir será apresentada uma síntese com base em autores mais atuais, tanto da área jurídica quanto da própria administração pública (MATIAS-PEREIRA, 2018; JUSTEN FILHO, 2014; COSTIN, 2010; DI PIETRO, 2008; MEIRELLES, 1992). O Poder executivo é responsável por administrar o país, realizar políticas públicas que se alinham com o interesse público seguindo os preceitos legais impostos por leis, normas e princípios. 27 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 O poder executivo pode ser dividido em três esferas – Federal, Estadual e Municipal. A federal é representada pelo Presidente da República, que assume também a função de representante internacional do país nas relações exteriores e em tratados estrangeiros, a incumbência de ser o comandante supremo das Forças Armadas e a direção da Administração Pública Federal – que inclui a gestão administrativa, tributária e social do país – e tem poder de propor leis ao Congresso – e, em últimos casos, editar medidas provisórias. A esfera estadual é representada pelo Governador, que assume funções semelhantes ao chefe do poder executivo federal, só que em âmbito estadual. O governador deve propor leis à assembleia legislativa estadual, implantar políticas públicas, dirigir a Administração Pública Estadual – inclusive a gestão tributária – e garantir o cumprimento das leis. O governador também preside a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros. Na esfera municipal, o Prefeito é a figura política e administrativa de destaque. Ele tem funções básicas de propor políticas públicas municipais à Câmara de Vereadores, nos termos da Lei Orgânica que rege o município, e implementá-las, dirigir a Administração Pública Municipal e garantir a arrecadação de tributos municipais. Pode e deve propor, também, leis à Câmara Municipal. Caso a prefeitura tenha, também, guarda municipal, o prefeito é o chefe maior, sendo assessorado pelos seus secretários e diretores municipais. O acesso a essas posições é dado pela eleição direta da população, por vivermos em um país democrático. Um ponto importante no caso do executivo é que cada representante tem autonomia suficiente para nomear ministros e secretários para auxiliar o seu governo. Desta forma, esses cargos são de confiança e não eleitos pela população e cumprem a função de elaborar e executar políticas públicas na sua área de atuação. O Poder legislativo tem como função ordenar e criar as leis do país, estado ou município. No âmbito federal, é exercido pelo Congresso Nacional. O Congresso Nacional é bicameral, ou seja, ele é composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Brasileiro. Hoje temos no Brasil 81 senadores e 513 deputados federais. Outra função do legislativo é, também, julgar e fiscalizar os atos e políticas do poder executivo e aprovar ou não o orçamento e as contas públicas. Nos estados, o poder legislativo é representado pela Assembleia Legislativa, composta pelos deputados estaduais. Nos municípios é representada pela Câmara Municipal, composta pelos vereadores. O Poder Judiciário tem como função julgar, de acordo com a Constituição e as leis do país, quando provocado por uma parte que ajuíza uma ação para 28 Administração Pública resolver um conflito com outra parte. O poder judiciário é composto pelo Supremo Tribunal Federal, Conselho Nacional de Justiça, Superior Tribunal de Justiça, Tribunais Federais e juízes federais, Tribunais Eleitorais e juízes eleitorais, Tribunais do Trabalho e juízes do trabalho, Tribunais Militares e juízes militares, e Tribunais Estaduais e juízes estaduais e do Distrito Federal e territórios. Seu órgão máximo é o Supremo Tribunal Federal, formado por 11 juízes, escolhidos pelo presidente da República com aprovação do Senado. Seu papel é julgar ações diretas de inconstitucionalidade, ações contra o presidente, seus ministros, membros do Congresso Nacional e Procurador-Geral, litígios da União com Estados estrangeiros e organismos internacionais. Conhecidos como guardiões da Constituição. QUADRO 1 – RESUMO DAS FUNÇÕES TÍPICAS E ATÍPICAS DE CADA PODER DA REPÚBLICA Poder Função Típica Função Atípica Executivo Gestão da Máquina Pública; Proposição e implementação de políticas públicas; Gestão dos recursos orçamentários; Arrecadação Tributária. Natureza legislativa: O presidente da República, por exemplo, pode adotar medida provisória com força de lei. Natureza jurisdicional: o Executivo julga, apreciandodefesas e recursos administrativos. Legislativo Legislar – propor leis; Fiscalizar o executivo; Aprovar ou rejeitar o orçamento e as contas públicas. Natureza executiva: ao dispor sobre sua organização, provendo cargos, concedendo férias, licenças a servidores etc. Natureza jurisdicional: o Senado julga o Presidente da República nos crimes de responsabilidade. Judiciário Julgar (função jurisdicional), dizendo o direito no caso concreto e dirimindo os conflitos que lhe são levados, quando da aplicação da lei. Natureza legislativa: regimento interno de seus tribunais. Natureza executiva: administra, por exemplo, ao conceder férias aos magistrados e serventuários. FONTE: O autor, adaptado de Matias-Pereira (2018), Justen Filho, (2014), Costin (2010), Di Pietro (2008) e Meirelles (1992). Para saber mais sobre a corrente Tripartite (Tripartição), acesse o link: <https://www.politize.com.br/separacao-dos-tres-poderes- executivo-legislativo-e-judiciario/>. https://www.politize.com.br/separacao-dos-tres-poderes-executivo-legislativo-e-judiciario/ https://www.politize.com.br/separacao-dos-tres-poderes-executivo-legislativo-e-judiciario/ 29 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 2.2.2 O governo Na visão político-administrativa, o Estado é representado pelo governo, que, segundo Matias-Pereira (2018, p. 73), “[...] é o núcleo estratégico ocupado de forma temporária por indivíduos que definem os objetivos, diretrizes e metas do Estado [...]”. Para saber mais, volte ao primeiro capítulo e revise sobre organização e estrutura do Estado. Governar, segundo Motta (1991), é tomar decisões e medidas relacionadas às necessidades públicas. Nesse sentido, o autor (1991, p. 15) argumenta: Governar significa tomar decisões sobre alternativas de ação para a sociedade. Tais alternativas têm como base, em princípio, o interesse público expressado coletivamente, de acordo com um processo administrativo onde demandas e apoios são convertidos em normas, produtos e serviços. Resultando uma distribuição de direitos e deveres, benefícios e custos, fundamentados na autoridade. Conclui Matias-Pereira (2018, p. 74) que “governo é a condução política do conjunto de órgãos e as atividades do Estado, estabelecendo suas diretrizes supremas”. Vale ressaltar que, assim, governo e administração pública tornam-se distintos, pois o governo assume papel político, enquanto a administração pública assume papel de execução das diretrizes definidas pelo governo. As formas de governo mais atuais e presentes no mundo são: a monarquia e a república. A monarquia assume que uma família, denominada usualmente de família real, detém o poder e o controle de administrar o país conforme suas vontades. Já na república, um indivíduo ou grupo de indivíduos é eleito e assume por um tempo determinado a condução gerencial do país. Dentre essas formas de governo, encontram-se os sistemas de governo, que podem ser divididos em presidencialista e parlamentarista. No presidencialismo, o chefe de Estado e do Governo é o mesmo indivíduo que, democraticamente, foi eleito para um mandato (período determinado), onde os poderes são independentes. No parlamentarismo, distingue-se entre os papéis de chefe de Estado e chefe de governo, ao contrário do presidencialismo, onde os dois papéis são exercidos pela mesma pessoa. No parlamentarismo, o chefe de Estado não detém poderes políticos, desempenhando um papel principalmente cerimonial como símbolo da continuidade do Estado. No parlamentarismo republicano, o chefe de Estado é nomeado pelo parlamento, por prazo determinado; no parlamentarismo monárquico, o chefe de Estado é o monarca, geralmente um cargo hereditário, a exemplo da Rainha da Inglaterra. Já o chefe de governo, com o título de primeiro-ministro (ou, em alguns casos, presidente do governo ou Para saber mais, volte ao primeiro capítulo e revise sobre organização e estrutura do Estado. https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado https://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiro-ministro 30 Administração Pública chanceler), efetivamente conduz os negócios do governo, em coordenação com os demais ministros membros do gabinete. E dentre os sistemas de governo, encontramos os regimes políticos, que se caracterizam por expressar a organização e comunicação entre os governantes e governados. Os principais são: autoritarismo, democracia, despotismo, ditadura, oligarquia, plutocracia e teocracia. O que é Democracia? A palavra Democracia vem do grego demo = povo e Kracia = governo, ou seja, governo do povo. Democracia é um sistema em que as pessoas de um país podem participar da vida política. Esta participação pode ocorrer através de eleições, plebiscitos e referendos. Dentro de uma democracia, as pessoas possuem liberdade de expressão e manifestações de suas opiniões. A maior parte das nações do mundo atual segue o sistema democrático de governo. Embora tenha surgido na Grécia Antiga, a democracia foi pouco usada pelos países até o século XIX. Até este século, grande parte dos países do mundo usava sistemas políticos que colocavam o poder de decisão nas mãos dos governantes. Já no século XX, a democracia passou a ser predominante no mundo (CABETTE, 2016). “O ponto crucial da controvérsia democracia-ditadura se refere à afirmada indissolubilidade entre Estado e violência em relação ao exercício do poder” (BOBBIO, 2015, p. 224). Para se aprofundar mais sobre as Formas de Governo e os Regimes Políticos: Formas de Governo e Regimes Políticos, de José Alfredo de Oliveira Baracho. Disponível em: <https://www.direito. ufmg.br/revista/index.php/revista/article/view/983/917>. https://www.suapesquisa.com/religiaosociais/eleicoes_voto.htm 31 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 O Brasil se caracteriza por ser uma república federativa com o sistema de governo presidencialista de viés democrático. Ou seja, o presidente é escolhido para governar por um prazo determinado por lei e sua escolha é feita através de eleições diretas pelo seu povo. O Presidente da República assume o posto de Chefe do Estado e de Governo. É o chefe maior do Executivo, tem poder de veto e de interferir nas atividades legislativas (PALUDO, 2013). Portanto, o nosso Estado é tipificado como Estado Democrático de Direito. Ou seja, é o Estado que está fundamentado na ordem jurídica democrática de seu país, com eleições livres e regulares para a escolha de seus representantes e possui três elementos característicos de sua conjuntura: ordenamento jurídico (Constituição e Leis), independência entre os poderes e a existência de direitos e garantias individuais. A matéria a seguir, demonstra um momento de instabilidade no governo Dilma e apresenta uma discussão que não é atual, o Pacto Federativo. Perceba, também, como a relação entre os poderes pode afetar significativamente as conduções das políticas governamentais e públicas. Acesse o link: <http://www.gazetadigital.com.br/editorias/ opiniao/crise-politica-e-pacto-federativo/453487>. Após a leitura do texto, reflita sobre: a) Quais as interferências políticas e administrativas dos poderes e entes para com as políticas públicas a serem implementadas por um governo? b) O sistema representativo brasileiro, de fato, reflete o desejo da população? c) A crise fiscal e política são consequências do Pacto Federativo? d) Temos alguma alternativa ao Pacto Federativo? Se sim, qual seria? 3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Desde que concebemos a ideia de Estado Moderno, o homem busca meios de se organizar e gerenciar todos os recursos, sejam eles materiais ou humanos, 32 Administração Pública a fim de produzir efeitos que, posteriormente, iriamos chamar de justiça, desenvolvimento, sustentabilidade etc. A Administração Pública, neste cenário de organização, pode ser entendida como o meio peloqual o Estado (estrutura de poder) é representado, incumbida de realizar atividades para atingir o bem coletivo e comum, por meio do planejamento, organização, direção e controle de todos os procedimentos administrativos, com o intuito de satisfazer todas as necessidades da população e dos indivíduos (COSTIN, 2010). Devido a sua grande dimensão, existe uma imensa dificuldade para definir o seu conceito, pois a atividade pública pode ser considerada tanto no seu aspecto funcional como organizacional. Outra inquietação é definir e distinguir o que é público do que não é. Ringeling (2015), em seu artigo How public is public administration? A constitutional approach of publicness, evidencia esse debate acerca da complexidade do campo. Primeiro, o autor (2015) destaca a dificuldade, no meio acadêmico, de definir o significado da palavra público. O termo público, na administração pública, está conectado a interesses específicos, para o que as pessoas, no âmbito político, têm em comum e como esses interesses são articulados. Em uma visão individualista, a esfera pública é uma consequência da aglutinação de esferas privadas (ou particulares). Em uma visão mais orgânica, a esfera pública se identifica com princípios e atividades compartilhados por uma comunidade, onde o espaço é aberto para discussões e comunicação entre essa comunidade e o governo. Tal discussão não necessariamente é amistosa e tranquila. Há momentos de embates ferozes que fortalecem a aproximação dos interesses coletivos às práticas públicas, há momentos em que a calmaria distancia o interesse coletivo das práticas governamentais. O autor (2015) destaca que a esfera pública não pode ser confundida com o Estado – ela é mais do que isso, apresenta outros atores, como os cidadãos, as organizações não governamentais e a iniciativa privada. A prática das últimas décadas foi a de que fomos confrontados com a ausência do conceito de público e uma série de outros conceitos referentes à esfera pública. A imprecisão não pode ser uma razão para evitar lidar com esses conceitos. Pelo contrário, é a razão pela qual temos que prestar atenção a isso. Porque no estudo da Administração Pública, é um conceito necessário para entender seu assunto (RINGELING, 2015, p. 308). (tradução nossa) Outro debate destacado por Ringeling (2015) é sobre a diferenciação das esferas pública e privada. “Público e privado são construções feitas ao longo da história. O significado dessa construção mudou durante o tempo, assim como de 33 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 um lugar para outro” (RINGELING, 2015, p. 303, tradução nossa). O debate, nesse ponto, se divide em duas linhas: uma discussão ideológica da função do Estado e da função do mercado (economia); e a discussão clássica entre a eficiência no setor privado e no público. Sobre a segunda linha, podemos destacar que a comparação entre setor privado e público pode se desenvolver por três caminhos: 1 – Governo comparado a uma empresa; 2 – Nível de sistemas – Comparação do Estado com o mundo dos negócios; e 3 – Performance entre setor público e privado. Essa abordagem econômica, segundo Ringeling (2015), não nos leva a crer em uma distinção clara dos setores e, muito menos, aponta uma evidência contundente de superioridade do setor privado com relação ao público. O autor (2015) nos propõe uma abordagem constitucional da administração pública, onde a teoria institucional pode oferecer um apoio útil na reorganização do nosso pensamento sobre a distinção público-privada. Baseada em uma construção democrática, onde os cidadãos têm direitos e obrigações, que não podem ser substituídos por grupos de interesse ou representantes, e apresentam uma participação elevada nos processos governamentais, alicerçada no interesse público e em valores públicos. Robert B. Denhardt (2012), no livro Teorias da Administração Pública, traz uma visão mais gerencialista para a construção do conceito de administração pública. Para o autor (2012), a construção de uma teoria aglutinada e completa da administração pública é um processo contínuo e, ao mesmo tempo, inatingível e indesejável, sendo orientada, por três caminhos distintos: 1- A Administração Pública nada mais é do que uma parte do processo governamental, ou seja, a teoria da administração pública é apenas uma parte de uma teoria política mais ampla; 2- A Administração Pública é igual à administração privada, tendo como base a produção do bem público e seu lucro reinvestido para a manutenção e ampliação dos serviços; e 3- A Administração Pública é um campo profissional, assim como a medicina ou o direito, tendo como perspectiva teórica produzir impactos práticos e significativos. Essa divisão, proposta por Denhardt (2012), pode ser evidenciada e acompanhada por uma perspectiva histórica do desenvolvimento dos modelos clássicos de administração pública pautada no desenvolvimento da sociedade e do conceito de Estado, como apontam também Fadul, Silva e Silva (2012). 34 Administração Pública Os autores (2012) afirmam que a administração pública ganha ênfase distinta de acordo com o período histórico em que é estudada e das particularidades de casa país ou região. A administração pública tem sido tratada como um campo multidisciplinar onde se identificam linhas do direito, da ciência política, da sociologia, da economia, entre outros campos (FADUL, SILVA; SILVA, 2012). Com isso, os autores (2012, p. 1441) conceituam, então, administração pública como um campo de conhecimento que compreende: a) conhecimento sobre administração pública, ressaltando-se a dificuldade de definir se o conhecimento trata ou não de administração pública e se esse conhecimento compõe ou não compõe o campo de administração pública; b) agentes e instituições, aqui tomadas no sentido de organizações, que produzem, reproduzem e difundem o conhecimento sobre administração pública. Denhardt (2012) propõe que, para solucionar essa dificuldade de definir uma conceituação precisa de administração pública e uma teoria que abarque a totalidade de sua amplitude, é preciso redefinir o campo. Portanto, o autor (2012) propõe uma abordagem alternativa que deve conter: QUADRO 2 – ABORDAGENS ALTERNATIVAS PROPOSTAS POR DERNHARDT (2012) 1. Clareza nas perspectivas das abordagens anteriores ao campo – política, genérica e profissional; 2. Deve considerar a administração pública como um processo e não somente algo engessado em uma estrutura física ou hierárquica; e 3. Por último, enfatizar a ligação do processo com a coisa pública e não com a estrutura que a mantém, como os sistemas formais de governo. FONTE: O autor, adaptado de Denhardt (2012) Denhardt (2012), ao longo do seu livro, evidencia esse debate acerca da construção desse novo campo, partindo da contribuição de autores como Weber, Marx e Freud, da crítica ao modelo burocrático, da responsividade das políticas públicas e do papel da sociedade pós-moderna na administração pública, até, por 35 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 fim, propor uma alternativa aos modelos clássicos da administração pública – o que denomina de O Novo Serviço Público. Ringeling (2015, p. 308) faz uma crítica contundente a esses modelos gerencialistas, também denominados reformistas, onde aponta um esvaziamento conceitual importante para a área: O movimento reformista das últimas décadas parece ter eliminado esse tipo de insight crucial [do significado de público e dos fundamentos do Estado moderno], substituindo-o por uma abordagem gerencial comercial, na qual “custos” se torna o conceito central e a eficiência, o valor dominante. Os programas da Administração Pública que são as consequências desse tipo de raciocínio são programas deficientes, porque eles perdem o que é característico da esfera pública. Elestomam atividades públicas para um negócio. (grifo nosso, tradução nossa) Se formos analisar as produções científicas sobre a administração pública no Brasil, os autores, pesquisadores e estudiosos da área utilizam a técnica de direcionar os estudos às “rupturas” – ou as quebras de paradigmas –, que foram influenciando a maneira de se pensar e se fazer a administração pública (KEINERT, 1994; COSTA, 2008; FADUL; SILVA; SILVA, 2012). Conforme o exemplo do quadro de Keinert (1994, p. 43): QUADRO 3 - PERÍODOS PARADGMÁTICOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA Períodos Contexto Institucional Paradigmas Fases Características do campo de AP 1900-29 Estado Regulador-Liberal Administração Pública como Ciência Jurídica Legalismo 1930-79 1. Estado Administrativo 2. Administração para o desenvolvimento 3. Estado Intervencionista Administração Pública como Ciência Administrativa 1930-45 1946-64 1965-79 1 - Racionalização 2 - Desenvolvimentismo 3 - Racionalidade e competências técnicas 1980-89 Mobilização Social Administração Pública como Ciência Política Democratização Conflito de interesses Recursos Escassos 1990-... Redefinição do Papel do Estado Administração Pública como Administração Pública Capacidade política aliada à competência técnica FONTE: Keinert (1994, p. 43) 36 Administração Pública Essas rupturas se inserem nos modelos clássicos da concepção de administração pública que ocorreram no mundo e tardiamente foram implementadas no Brasil. Esses modelos seriam denominados de modelo patrimonialista, burocrático e gerencial. Costa (2008), em seu artigo Brasil: 200 anos de Estado; 200 anos de administração pública; 200 anos de reformas, nos traz o desenvolvimento da administração pública brasileira ao longo de duzentos anos de história e comportamento político nacional. Dentre essa história, podemos destacar e categorizar claramente essas rupturas e os modelos clássicos da administração pública. Então vamos dar uma olhada na história e nesses modelos? Antes de continuarmos os estudos, sugiro a você uma leitura que trará conhecimento contextual da época retratada a seguir: Livro: 1808, de Laurentino Gomes, Editora Globo Livros, 2014. 3.1 MODELO PATRIMONIALISTA O modelo patrimonialista, também conhecido como patrimonialismo ou paternalista, esteve presente na história nos modelos de Estado Absolutistas (Monárquicos) e na história brasileira esteve presente do período Colonial até a República Velha, sendo considerado o primeiro modelo de administração pública do Brasil. Por se tratar de um Estado português absolutista, no Brasil Colônia não havia distinção entre esfera pública – como campo pertinente ao Estado – ou privada – pertinente aos indivíduos de direito. “Tudo é público, pois não há limites preestabelecidos ao poder real” (FAUSTO, 2013, p. 57). De acordo com Setti (2011), a característica mais marcante da administração pública nessa época é a permeabilidade entre o público e o privado, onde o governante apropria-se do que é público como se fosse parte de sua propriedade. A economia do Brasil Colônia, em um primeiro momento, era extrativista predatória, ou seja, retirava o máximo de recursos naturais disponíveis nas regiões Nordeste e Sudeste do país sem a preocupação ou intenção de utilização das áreas para a produção de outras culturas ou manejo das fontes naturais possíveis “Tudo é público, pois não há limites preestabelecidos ao poder real” (FAUSTO, 2013, p. 57). De acordo com Setti (2011), a característica mais marcante da administração pública nessa época é a permeabilidade entre o público e o privado, onde o governante apropria- se do que é público como se fosse parte de sua propriedade. 37 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 (como a madeira). Tendo, no início desse período, pouca atividade agrária ou pecuária – o pouco que se tinha era voltado para a manutenção da população do Brasil (FAUSTO, 2013). As instituições que nessa época exerciam o papel de “gestoras” da Colônia eram a Coroa, fazendo-se de Estado, e a Igreja (FAUSTO, 2013; LINHARES, 1990). “Não existia [...] o conceito de cidadania, de pessoas com direitos e deveres com relação ao Estado, independentemente da religião” (FAUSTO, 2013, p. 54). Segundo Santos (2017), nesse período histórico, o sistema tinha como alicerce a dominação tradicional, uma espécie de troca entre os súditos e o governante, uma espécie de legitimação cedida pelo povo, de maneira independente, de se colocar sob a proteção e tutela de um ente maior. Tal aceitação requer que o governante mantenha uma proteção e auxílio em relação aos súditos e funcionários. Estes seriam uma extensão de sua família, o que se veria muito forte na relação das capitanias hereditárias com a coroa portuguesa, tal qual o modelo hobbesiano de Estado. Com a vinda da família real para o Brasil, a administração da Colônia deu um salto de produção e inovação institucional, jurídica e administrativa que impactou significativamente na economia, na área social, na política e na cultura do Brasil, porém, “não se alterou substancialmente a constituição do serviço público no Brasil” (ANDREWS; BARIANI, 2010, p. 24). Neste momento, o Brasil já apoiava a sua economia na plantação em larga escala para a exportação – o chamado plantation (LINHARES, 1990). Cerca de 79% das receitas provinham de impostos da importação e exportação (ANDREWS; BARIANI, 2010). Um fato interessante de se destacar é que com a transferência da coroa portuguesa para o Brasil, o aparato governativo recebe órgãos advindos de Portugal juntamente com estruturas típicas das capitais da época – bibliotecas, jardim, jornal – tornando o Rio de Janeiro um lugar ideal para se administrar todas as terras brasileiras (LINHARES, 1990). E, ainda, segundo Linhares (1990), o que fortaleceu a ideia de um Brasil desprendido economicamente e politicamente de Portugal foram os dois tratados assinados com a Inglaterra – um de Aliança e Amizade e um de Comércio e Navegação – retirando, assim, a obrigatoriedade de passarem as rotas comerciais por Portugal. Com esse desprendimento de Portugal, o Brasil constituía um Estado unitário e centralizador, que extingue as capitanias e adota o sistema de províncias 38 Administração Pública (ANDREWS; BARIANI, 2010). Com isso, o Imperador do Brasil nomeava presidentes para cada uma dessas províncias, que detinham autoridade máxima na região. E estabelecem-se quatro poderes políticos: Legislativo, Moderador, Executivo e Judicial (PEIXOTO, 2008). O período de 1822 a 1889 foi repleto de conflitos, levantes, crises econômicas, guerras e alterações constantes na Constituição para estimular a manutenção do poder do Imperador D. Pedro II – filho de D. Pedro I (LINHARES, 1990). Nesse contexto, cresce a ideia de um Brasil republicano. E duas frentes ganham força: o federalismo – liderado por paulistas e sulistas – e o liberalismo – encabeçado pelos cariocas. O primeiro defendia a autonomia regional, enquanto o segundo buscava incorporar a participação popular nas decisões governamentais (COSTA, 2008). Os militares, descontentes com o “abandono” e as decisões do governo imperial, armam, em 15 de novembro de 1889, um golpe e proclamam a República no Brasil (LINHARES, 1990). Com a proclamação da República, o governo provisório dos presidentes Marechal Deodoro da Fonseca e Marechal Floriano Peixoto – que posteriormente foi conhecido também como República das Espadas (1889-1904), uma alusão ao militarismo e à força empregada na época contra seus opositores – tratou de adotar medidas imediatas para a manutenção do novo regime e como tentativa de conter os revoltosos. E, em 1891, com a Carta Magna aprovada após a Constituinte, instituiu-se o federalismo e o regime presidencialista passou a vigorar no Brasil (FAUSTO, 2013). Segundo Costa (2008), as medidas adotadasgeraram alguns avanços na área administrativa e governamental do Brasil: ● Divisão nítida entre os poderes; ● Legislativo bicameral – formado por Câmara dos Deputados e Senado; ● Eleições dos membros do Legislativo com mandatos de tempo determinado; ● Autonomia do Judiciário; ● Criação do Tribunal de Contas; ● As províncias se tornaram Estados e seus presidentes (governadores) passaram a ser eleitos; ● Maior autonomia em legislar pelos Estados. 39 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 Keinert (1994) destaca que esse período foi marcado por um entendimento de que a administração pública era uma ciência jurídica e que sua atuação se daria pelo aparato legal – em forma de leis e decretos. Com a divisão clara dos três poderes, as oligarquias dominantes conseguiram proporcionar a manutenção do poder com o emprego de parentes e aliados nos cargos públicos das três esferas, estabelecendo o sucesso eleitoral das elites dominantes (SOUZA, 1994); mesmo extinguindo-se a vitaliciedade do cargo de senador (ANDREWS; BARIANI, 2010). Essas “reformas” são indicações claras de que os interesses da burguesia agrária do café direcionavam a política e administração do país (ANDREWS; BARIANI, 2010). Percebe-se, então, a crescente das cidades e da burguesia urbana. Com a descentralização do poder, a política local fica a cargo dos chamados “coronéis”. Nas palavras de Andrews e Bariani (2010, p. 32), “na ausência de autonomia do poder público, os coronéis assumem o controle dos recursos públicos e, com isso, buscam angariar a lealdade dos eleitores, necessária para a conservação do poder”. Santos (2017, p. 849): Neste modelo [patrimonialista] o clientelismo é muito comum, prevalecendo o interesse dos particulares e a troca de favores. Houve o ingresso dessas práticas na administração pública. Os cargos públicos eram ocupados por amigos, parentes e apoiadores do governante, não existiam carreiras profissionalizadas. Por isto, o modelo apresenta forte tendência à corrupção e o nepotismo. Nesse sentido, Andrews e Bariani (2010, p. 25) afirmam que “a burocracia pública não se desenvolveu de acordo com o modelo weberiano, com sua ênfase na racionalidade, eficiência, profissionalismo e regras formais, mas assumiu funções políticas e sociais” nesse período histórico. Segundo Santos (2017), após a Revolução Francesa, a gestão pública atual não se sustentava mais e o ideário democrático expõe a necessidade 40 Administração Pública de profissionalização da área. “Acrescente-se ainda o desenvolvimento do capitalismo que defende a distinção entre o mercado, sociedade e Estado. Diante deste contexto verifica-se a impossibilidade de manutenção da administração patrimonialista como modelo de gestão pública” (SANTOS, 2017, p. 849). Como forma de complementar o entendimento do período em que se desenvolve o modelo patrimonialista no mundo, segue uma lista de filmes que você pode ver, se entreter e aprender mais: Coração Valente: <https://goo.gl/Cmyzub> Joana D’Arc: <https://goo.gl/XWJPLi> Carlota Joaquina: <https://goo.gl/4s3vbW> Independência ou Morte: <https://goo.gl/1um6vV> 3.2 O MODELO BUROCRÁTICO O modelo burocrático, no mundo, surge com o advento e o crescimento econômico pós Revolução Industrial. Nesse período histórico, as sociedades tornam-se mais complexas, os fluxos migratórios rumo às cidades se intensificam e as demandas sociais e públicas aumentam de tal forma que o modelo patrimonialista não satisfaz mais as necessidades. O autor que dá base ao desenvolvimento desse modelo é Max Weber, como comentado na primeira seção desse livro. No Brasil, o processo de burocratização tarda e não acompanha o movimento europeu e americano da época. Para entendermos melhor, o modelo burocrático, segundo Santos (2017), observa características, tais como: a impessoalidade, o profissionalismo, a hierarquia funcional e a ideia de carreira pública. Essa racionalização da administração e das ciências sociais aplicadas seriam produto e herança de pensadores como Marx, Weber e Freud (DENHARDT, 2012). Tais características são percebidas timidamente no período histórico da República Velha no Brasil, mas não alimentaram esperanças verdadeiras de uma administração mais tecnicista e impessoal. Essa racionalização da administração e das ciências sociais aplicadas seriam produto e herança de pensadores como Marx, Weber e Freud (DENHARDT, 2012). 41 Organização E Estrutura Do Estado, Administração Pública E Serviços Públicos Capítulo 1 Somente no governo de Getúlio Vargas veríamos de fato uma preocupação tecnicista com a administração pública (COSTA, 2008) com a criação do DASP – Departamento Administrativo do Serviço Público. Alguns estudiosos afirmam que essa iniciativa de Vargas se deu porque a matriz econômica e social do Brasil estava em transformação, trazendo a ascensão da classe burguesa e o surgimento das massas proletárias. O modelo de plantations (produção agrária e exportação de commodities e demais produtos agrícolas) começa a abrir espaço para o que seria a primeira iniciativa industrial escalável do Brasil (COSTA, 2008; LINHARES, 1990). Iniciou-se, portanto, um processo de aparelhamento e modernização da máquina pública. Ocorreu uma adaptação dos processos, criaram-se órgãos e instituições de excelência para disseminar as boas práticas em resposta às oscilações econômicas globais (COSTA, 2008). O DASP foi uma dessas instituições de excelência criadas. “O DASP buscou instituir um modelo de gestão capaz de propiciar racionalidade e excelência produtiva com rigor técnico, associados à impessoalidade e à autonomia” (BARIANI, 2010, p. 41). O DASP estava previsto na Constituição de 10 de novembro de 1937, em seu artigo 37, e foi criado no início do Estado Novo, pelo Decreto-lei n.579, de 30 de julho de 1938, que lhe dava as seguintes atribuições: a) o estudo pormenorizado das repartições, departamentos e estabelecimen- tos públicos, com o fim de determinar, do ponto de vista da economia e eficiência, as modificações a serem feitas na organização dos serviços públicos, sua distri- buição e agrupamento, dotações orçamentárias, condições e processos de traba- lho, relações de uns com os outros e com o público; b) organizar anualmente, de acordo com as instruções do presidente da Re- pública, a proposta orçamentária a ser enviada por este à Câmara dos Deputados; c) fiscalizar, por delegação do presidente da República e na conformidade das suas instruções, a execução orçamentária; d) selecionar os candidatos aos cargos públicos federais, excetuados os das Secretarias da Câmara dos Deputados e do Conselho Federal [órgão este que não chegou a ser organizado] e os do magistério e da magistratura; e) promover a readaptação e aperfeiçoamento dos funcionários civis da União; f) estudar e fixar os padrões e especificações do material para uso nos servi- ços públicos; “O DASP buscou instituir um modelo de gestão capaz de propiciar racionalidade e excelência produtiva com rigor técnico, associados à impessoalidade e à autonomia” (BARIANI, 2010, p. 41). 42 Administração Pública g) auxiliar o presidente da República no exame dos projetos de lei submeti- dos à sanção; h) inspecionar os serviços públicos; i) apresentar anualmente ao Presidente da República relatório pormenoriza- do dos trabalhos realizados e em andamento. Vale destacar que o DASP, segundo Bariani (2010), alicerçava- se em teóricos como Francisco Campos, Max Weber, Henri Fayol, Luther Gulick, Winslow Taylor e, principalmente, Willoughby, cujas ideias centrais eram: 1) Considerar os princípios da administração como passíveis de aplicação universal; 2) A separação entre política e administração; e 3) A menção a um departamento de administração geral como órgão de apoio direto e imediato ao chefe do Executivo. “O conceito
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