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www.rbmfc.org.br Rev Bras Med Fam Comunidade. Rio de Janeiro, 2015 Jan-Mar; 10(34):1-13 1 A pessoa como centro do cuidado na prática do médico de família The person at the center of care in the practice of the family doctor La persona en el centro de la atención en la práctica del médico de familia José Mauro Ceratti Lopes. Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição (SSC-GHC). Universidade Federal de Ciências da Saúde (UFCSPA). Porto Alegre, RS, Brasil. jmauro.lopes@terra.com.br (Autor correspondente) Jorge Alberto Rosa Ribeiro. Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FACED/UFRGS). Porto Alegre, RS, Brasil. jorge.ribeiro@ufrgs.br Resumo Objetivo: uma atuação centrada na pessoa é considerada essencial para o médico de família e comunidade considerando-se as mudanças ocorridas na sociedade nos séculos XIX e XX. Este artigo apresenta um estudo de caso, cujo objetivo foi identificar se os componentes que caracterizam inequivocamente o Método de Abordagem Clínica Centrada na Pessoa (MCCP) estão presentes na prática do médico de família. Métodos: os dados foram coletados por meio de entrevistas com médicos de família e com pessoas por eles atendidas, sendo os depoimentos gravados, transcritos e analisados com base no Discurso do Sujeito Coletivo. Resultados: identificaram-se aspectos comuns ou contraditórios nos discursos de pessoas e médicos sobre a aplicação da Abordagem Centrada na Pessoa. Conclusão: ainda não existe por parte dos médicos de família um conhecimento adequado sobre significado e aplicação de uma Abordagem Clínica Centrada na Pessoa. Abstract Objective: a person-centered practice is essential to the family and community doctor in the face of changes in society in the nineteenth and twentieth centuries. This article reports on a case study whose objective was to identify if the components that uniquely characterize the Person Centered Clinical Approach are present in the practice of the family doctor. Methods: data were collected through interviews with family doctors and with people seen by them. The interviews were recorded, transcribed and analyzed using the Discourse of the Collective Subject. Results: the study identified common or contradictory discourses of people and doctors on the application of the person-centered approach. Conclusion: family doctors still lack adequate knowledge about the meaning and application of the Person-Centered Clinical Approach. Resumen Objetivo: una actividad centrada en la persona es esencial para el médico de familia y comunidad frente a los cambios en la sociedad en los siglos XIX y XX. Este artículo es un estudio de caso, cuyo objetivo fue identificar si los componentes que caracterizan de forma exclusiva el método de la Clínica de Enfoque Centrado en la Persona (MCCP) están presentes en la práctica del médico de familia. Métodos: los datos fueron recolectados a través de entrevistas con los médicos de familia y las personas atendidas por ellos. Las entrevistas fueron grabadas, transcritas y analizadas utilizando el Discurso del Sujeto Colectivo. Resultados: el estudio identificó los discursos comunes o contradictorios de las personas y de los médicos sobre la aplicación del enfoque de los aspectos centrados en la persona. Conclusión: no existe por parte de los médicos de familia adecuado conocimiento del significado y de la aplicación del Enfoque Centrado en la Persona. Como citar: Lopes JMC, Ribeiro JAR. A pessoa como centro do cuidado na prática do médico de família. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2015;10(34):1-13. http://dx.doi.org/10.5712/rbmfc10(34)870 Palavras-chave: Medicina de Família e Comunidade Assistência Centrada no Paciente Relações Médico-Paciente Keywords: Family Practice Patient-Centered Care Physician-Patient Relations Fonte de financiamento: declaram não haver. Parecer CEP: GHC 134/04, 01/03/2005. Conflito de interesses: declaram não haver. Recebido em: 27/12/2013. Aprovado em: 28/01/2015. ARTIGOS ORIGINAIS Palabras clave: Medicina Familiar y Comunitaria Atención Dirigida al Paciente Relaciones Médico-Paciente A pessoa como centro do cuidado Rev Bras Med Fam Comunidade. Rio de Janeiro, 2015 Jan-Mar; 10(34):1-132 Introdução The good physician treats the disease but the great physician treats the patient who has the disease. Sir William Osler A principal tarefa da medicina no século XXI será a descoberta da pessoa. Ela terá que encontrar as origens da doença e do sofrimento e, com esse conhecimento, desenvolver métodos para aliviar a dor, diminuir danos e reduzir o sofrimento. Ao mesmo tempo, deverá revelar o poder da própria pessoa, assim como nos séculos XIX e XX foi revelado o poder do corpo.1 Uma atuação centrada na pessoa é considerada fundamental para um bom desempenho de qualquer profissional da área da saúde, mas ao médico de família e comunidade ela é imprescindível, considerando-se as mudanças ocorridas na sociedade nos séculos XIX e XX. Embora algumas dessas mudanças tenham facilitado a relação do médico com as pessoas, outras a dificultaram.2 Soma-se a isso a falência dos modelos convencionais de assistência e educação médica,que deveriam dar conta das necessidades da prática diária, mas que, de fato, são incompletos e pouco abrangentes. Com isso, torna-se necessário utilizar uma abordagem para os problemas de saúde que seja capaz de reduzir a insatisfação das pessoas e a frustração dos médicos, assim como de proporcionar um cuidado adequado. Segundo Stewart,2 existem trabalhos mostrando que uma atuação centrada na pessoa apresenta resultados positivos quando comparada aos modelos tradicionais, já que aumenta a satisfação da pessoa, melhora a aderência aos tratamentos, reduz preocupações, reduz sintomas e melhora a situação fisiológica. Também estudos realizados por Little3 concluem que na atenção primária as pessoas desejam fortemente uma abordagem centrada na pessoa, com comunicação, parceria e promoção da saúde. Além disso, os médicos devem ser sensíveis e atentos a quem tem preferência por este modelo de abordagem – pessoas mais vulneráveis psicossocialmente ou que estão se sentindo particularmente mal. O autor conclui também que a percepção por parte de quem é atendido acerca dos componentes da abordagem centrada na pessoa pode ser medida com segurança e predizer diferentes resultados, e que se os médicos não proporcionarem uma abordagem centrada na pessoa, esta vai sentir-se menos satisfeita, menos capaz, podendo ter sintomas agravados e com altas taxas de encaminhamento. Além desses fatos, a prática do médico de família e comunidade, para alcançar uma atuação de acordo com os princípios4,5 que regem esta especialidade, deve utilizar o método de atendimento clínico centrado no paciente (MCCP) como modelo para abordagem integral aos problemas de saúde.2 Embora a prática médica no Brasil já apresente uma postura mais humanizada e integral ao tratar dos problemas das pessoas, de modo geral ainda não conseguiu romper com o método de abordagem aos problemas de saúde baseado no modelo biomédico tradicional, que tem como características principais ser centrado na doença e no médico. Mesmo com todo o progresso trazido pelo desenvolvimento tecnológico e do conhecimento, o evento central da vida profissional do médico, e especialmente do médico de família, continua sendo a consulta e, por consequência,ela torna-se o ato principal do seu processo de trabalho. Surge então o desafio para a medicina contemporânea de integrar dentro do processo de produção de cuidado a medicina baseada em evidências, o atendimento centrado na pessoa e o trabalho em equipe. Para dar início a este processo, e considerando o ponto de vista das pessoas (qual é a percepção do cuidado que recebe?) e dos médicos (o quanto conhece e percebe sua atuação centrada na pessoa?), realizamos pesquisacom o objetivo de identificar se médicos de família integrantes de um serviço de referência como modelo assistencial e centro formador dominam o conhecimento e a aplicação dos componentes essenciais do método clínico centrado na pessoa, analisados do ponto de vista de quem presta o atendimento e de quem foi atendido. Metodologia Foi desenvolvida pesquisa qualitativa, através de um estudo de caso,6 utilizando-se entrevistas semiestruturadas para coleta das informações. As entrevistas foram gravadas com gravador de voz, transcritas e analisadas. O caso estudado é o relacionamento dos médicos de família e comunidade com as pessoas por eles atendidas em três unidades de saúde no Grupo Hospitalar Conceição (SSC-GHC), em 2004/2005. Foi realizada revisão de literatura, nacional e internacional, visando fundamentar teórica e analiticamente o estudo. O modelo de análise utilizou como instrumento o “Discurso do Sujeito Coletivo”(DSC), que é um discurso-síntese elaborado com pedaços de discursos de sentidos semelhantes reunidos num só discurso. Tendo como fundamento a teoria da Representação Social e seus pressupostos sociológicos, o DSC é uma técnica de tabulação e organização de dados qualitativos que resolve um dos grandes impasses da pesquisa qualitativa, na medida em que permite, por meio de procedimentos sistemáticos e padronizados, agregar depoimentos sem reduzi-los a quantidades.7 Lopes JMC, Ribeiro JAR Rev Bras Med Fam Comunidade. Rio de Janeiro, 2015 Jan-Mar; 10(34):1-13 3 Os entrevistados pertenciam a duas categorias: médicos de família e comunidade e pessoas por eles atendidas. Foram entrevistados cinco médicos de três Unidades de Saúde e 14 pessoas por eles atendidas. Com este número, obtivemos saturação necessária para o estudo. A “saturação necessária” foi obtida no momento em que as respostas dos entrevistados sobre as diversas questões abordadas tornaram-se repetitivas, não acrescentando fatos novos. A escolha por estas três Unidades deveu-se ao fato de as mesmas contarem com profissionais que estão desde os primeiros tempos de implantação do SSC-GHC e serem os locais onde ocorreu menor número de transferências ou substituições de profissionais médicos. Escolheu-se por conveniência um dia da semana para a visita à Unidade, momento quando se perguntou aos médicos presentes se estes estavam dispostos a participar da pesquisa. Se havia mais de um médico interessado, era realizado sorteio. As pessoas atendidas por estes médicos também eram convidadas a participar. Todos os entrevistados, tanto médicos como as pessoas atendidas, assinaram termo de consentimento.Para se alcançar a saturação e, assim, elaborar o DSC, foi estabelecido previamente que o número de pessoas entrevistadas seria de duas a três pessoas da agenda de cada médico, seguindo a ordem de atendimento e o aceite em participar. Caso fosse necessário, mais pessoas seriam entrevistadas. As entrevistas seguiram roteiros semiestruturados específicos para médicos de família e comunidade (Quadro 1) e para as pessoas atendidas (Quadro 2), elaborados de forma a contemplar coleta de informações que identificassem componentes do método de abordagem centrada na pessoa. Os questionários foram compostos de perguntas principais e sub-perguntas, sendo que estas visavam a estimular o entrevistado no caso de dificuldades em responder à pergunta principal, não sendo portanto obrigatórias.Assim, cada uma das perguntas principais teve objetivo definido relacionado com os componentes do método de abordagem centrada na pessoa citados anteriormente e com as categorias ou fundamentos teóricos que embasam este estudo. A partir de estudos anteriores2 sobre o método clínico centrado na pessoa, definiu-se que seria feita a investigação de três dos seis componentes do método: (1) explorando a doença e a experiência sobre a doença, (2) entendendo a pessoa como um todo, inteira e (3) elaborando um projeto comum ao médico e à pessoa para manejar os problemas. A escolha em trabalhar apenas com estes três componentes deve-se ao fato de que estes seriam os mais representativos do uso de uma abordagem centrada na pessoa e que, nos estudos realizados por Stewart,2 revelaram-se mensuráveis. Resultados e discussão O Quadro 3 apresenta as comparações das ideias centrais e dos DSC de médicos e pessoas, que são analisadas a seguir levando-se em consideração as bases teóricas do Método Clínico Centrado na Pessoa. Ambos os grupos identificam dificuldades de acesso ao cuidado.8 O acesso ao cuidado à saúde é aspecto essencial da APS e da Abordagem Centrada na Pessoa. Historicamente, tem sido um dos dilemas dos serviços de saúde, e muitas propostas têm sido realizadas sobre como organizar este acesso das pessoas de forma que se possa atendê-las de acordo com a sua premência pelo cuidado.9, 10, 11 Os DSC de médicos e pessoas confirmam dificuldades relacionadas e caracterizadas por eles como: desproporção entre a oferta de consultas e a demanda, existência das filas, tempo de espera para agendamento e necessidade de persistência para manter continuidade com o mesmo profissional. Mesmo assim, ambos igualmente consideram que o acesso é melhor do que no sistema de saúde, em geral. Um aspecto referido pelos entrevistados e que faz parte de uma Abordagem Centrada na Pessoa, sendo um dos Princípios da APS, é manifestação da existência de vínculo entre pessoa e médico de família, expressando a procura da manutenção da longitudinalidade9 do Cuidado por parte de quem busca ajuda (“[...] já cria aquele vínculo assim; se não a gente fica desfilando de médico em médico”), embora a autonomia da pessoa de decidir quando e com quem vai ser a consulta esteja de certa forma comprometida. Os DSC revelam concordância sobre o desconhecimento da Medicina de Família e Comunidade como uma especialidade médica, o que é muito significativo, principalmente numa população que há mais de 20 anos convive com este profissional. Mas embora isto seja importante, mais significativo é o fato de que ambos, médicos de família e pessoas, concordam que o tipo de atendimento prestado nas Unidades do SSC é diferenciado. E as pessoas, na prática, ao descrever o atendimento, identificam características da Medicina de Família e Comunidade, tais como: (1) “Toda a família. Até sogra”, (2) “soluciona logo os problemas”; (3) “vêem do lado psicológico até o lado médico mesmo”, (4) “a gente se sente à vontade com eles”, (5) “e a gente confia”, (6) “acho que os pacientes que eu atendo, [...] acho que a grande maioria tem essa percepção da diferença, a gente tenta diferenciar”.Um questionamento que merece ser feito é: o desconhecimento da especialidade e da abordagem integral que pode ser realizada pelo médico de família e comunidade por parte de quem busca ajuda não pode fazer com que a pessoa deixe de trazer para a consulta outros aspectos que sejam relevantes, ficando a abordagem centrada em queixas e problemas de um sistema ou aparelho? Neste aspecto, torna-se fundamental uma abordagem centrada na pessoa, que, com A pessoa como centro do cuidado Rev Bras Med Fam Comunidade. Rio de Janeiro, 2015 Jan-Mar; 10(34):1-134 suas perguntas abertas e sistematização, garante uma abordagem integral e consolida na prática a Medicina de Família e Comunidade como a especialidade do Cuidado Integral à Saúde. As tentativas dos médicos de família e comunidade em definir a Abordagem Centrada na Pessoa revelam que não existe ainda um conhecimento adequado sobre o que realmente significa uma Abordagem Centrada na Pessoa, e que embora a atuação seja humanizada e voltada para escutar e conhecer as pessoas, seu entendimento desta forma de abordagem fica muito restrito a“ver a pessoa por inteiro”, e ainda esperar que a continuidade garanta que isto ocorra. Uma abordagem do “ver a pessoa por inteiro”, apesar de ser um avanço em relação aos modelos tradicionais, representa apenas partedo segundo componente do MCCP, deixando de lado os demais aspectos que são importantes, principalmente no que se refere a garantir a Autonomia12,13 de quem busca ajuda. Quadro 1. Roteiro das entrevistas com médicos de família e comunidade.6 Nome:_____________________ Idade:_____ Sexo: (1)feminino (2)masculino. Unidade do SSC em que atua:______________ Preceptor: (1)sim (2)não. Local: Graduação: ________________________ Residência Médica: ______________________ Tempo de: Formado: (1) <1ano (2) 1 a 5anos (3) 5 a 10 anos (4) 10 a 20 anos (5) >20 anos Atuação no SSC: (1) < 1 ano (2) 1 a 5 anos (3) 5 a 10 anos (4) 10 a 20 anos (5) > 20 anos Especializações/Pós-graduação: P1 – O Senhor(a) pode me explicar como as pessoas fazem para consultar nesta Unidade de Saúde? 1.1 – Tem idéia de qual o tempo de demora para agendar uma consulta? 1.2 – Tem idéia de qual o tempo de espera para consultar? 1.3 – Poderia descrever aquelas que considera as principais dificuldades para as pessoas serem atendidas nesta Unidade? 1.4 – Qual sua percepção sobre como as pessoas são recebidas/acolhidas? P2 – Poderia descrever, caso tenha acontecido, uma situação em que pediu ajuda ou encaminhou a pessoa atendida a outro profissional desta Unidade para resolver seu problema? 2.1 – Qual a seu ver é o aspecto que melhor caracteriza o trabalho em equipe nesta Unidade? P3 – O Sr.(a) considera que as pessoas atendidas sabem o nome de sua especialidade? P4 – No seu entendimento que aspectos na abordagem aos problemas de saúde caracterizaria uma atuação centrada na pessoa? P5 – Como o Sr.(a) descreveria o modo como conversou sobre o problema principal de saúde que motivou a consulta das seguintes pessoas atendidas hoje? 5.1 - Foi conversado o suficiente? 5.2 - O Sr.(a) ficou satisfeito? 5.3 - Considera que ouviu tudo o que as pessoas gostariam de falar? 5.4 – Conversou sobre como estas pessoas reagiram a outras situações de doença pessoal ou em familiares? 5.5 – Conversou sobre como estão os sentimentos destas pessoas em relação ao fato de estar com problemas de saúde? 5.6 – Abordou seus medos, expectativas em relação aos seus problemas de saúde? P6 – O Sr.(a) poderia comentar sobre como explicou sobre seu(s) problema(s) de saúde? 6.1 – Buscou ter certeza com as pessoas de qual era o seu principal problema de saúde? 6.2 – Buscou ajuda delas para definir qual era seu problema principal? 6.2 – Considera que deu oportunidade para que as pessoas tirassem suas dúvidas? 6.3 – Ao final buscou ter certeza de que as pessoas haviam entendido qual é seu problema de saúde? P7 – O Sr.(a) poderia descrever sobre a parte da consulta em que falaram sobre as responsabilidades de cada um no cuidado à saúde? 7.1 - Houve durante a consulta esta parte em que conversaram sobre o que cabe a cada um – médico e pessoa – como responsabilidade no cuidado à saúde? P8 – O Sr.(a) poderia descrever como foi discutido o cuidado à saúde? 8.1 – Considera que foi suficientemente esclarecedor? 8.2 – Que discutiu sobre as possibilidades da pessoa realizar o que estava sendo proposto? 8.3 – Foi conversado sobre os objetivos a serem buscados para alcançar sucesso no cuidado à saúde de quem estava sendo atendido? P9 – O Sr.(a) poderia dizer o quanto com as pessoas conversou sobre assuntos pessoais, familiares ou profissionais que podem ter impacto na saúde? 9.1 – O Sr.(a) considera que conversou o suficiente sobre a história de vida para conhecê-lo (a) bem? 9.2 – Conversou sobre aspectos de sua vida tais como: emprego, família, lazer, dificuldades? 9.3 – Você de alguma forma tentou estimular a pessoa a falar sobre estes assuntos? 9.4 – Ela tentou ou sinalizou que gostaria de falar sobre estes assuntos? 9.5 - Como o Sr.(a) considera que reagiu? 9.6 – Considera que não foi necessário, pois já o conhece bem? Lopes JMC, Ribeiro JAR Rev Bras Med Fam Comunidade. Rio de Janeiro, 2015 Jan-Mar; 10(34):1-13 5 No que se refere ao 1º componente do MCCP, “Explorando a Doença e a Experiência da pessoa com a Doença”, pode-se afirmar que ele não está de todo presente, ficando a abordagem restrita ao desenvolvimento de uma relação empática e mais focada na queixa verbalizada pela pessoa, correndo-se com isso o risco de abordar a doença (disease) e não a experiência com a doença (illness).14 Para se conhecer a pessoa e observar sua autonomia e participação, é importante explorar a narrativa de suas situações prévias de doença. O 3º componente, “Buscando um projeto comum ao médico e à pessoa para manejar os problemas”, é considerado fundamental para que se caracterize uma abordagem centrada na Pessoa. É o processo através do qual a pessoa e o médico buscam um entendimento e uma concordância mútuos em três aspectos: (1) definindo o problema, (2) estabelecendo objetivos e prioridades de manejo, e (3) identificando os papéis a serem assumidos por ambos. Os resultados dos DSCs mostram que apenas um destes aspectos – a identificação junto à pessoa sobre qual considera seu problema principal – está presente, embora nem sempre explicitado, ao passo que os outros dois aspectos não são claramente introduzidos e trabalhados na consulta. Fica evidenciado que há um entendimento por parte do médico de que as orientações finais da consulta teriam esta função, sendo este então o momento em que a pessoa usaria sua autonomia para manifestar-se em relação ao manejo proposto. Mas, para a pessoa, isto não está claro, ficando muito na dependência do quanto ela se sente à vontade para Quadro 2. Roteiro de entrevistas para pessoas atendidas.6 Nome: __________________________ Sexo: (F) (M). Idade:______ Etnia: ____ Estado civil: (1)solteiro (2)casado (3)divorciado (4)viúvo (5)outro. Renda: _________ Escolaridade: (1)analfabeto. (2)1°grau (3)2°grau (4) superior. Tempo de moradia na comunidade: ____________________. P1 – O Senhor(a) pode me explicar como faz para consultar nesta Unidade de Saúde? Explique melhor? 1.1 - Qual o tempo de demora para conseguir marcar uma consulta antecipada? E para o mesmo dia? 1.2 - Qual o tempo de espera para consultar? 1.3 - Quais as principais dificuldades que considera para ser atendido? 1.4 - Como é a recepção/acolhimento? P2 – Quando o Sr.(a) busca atendimento nesta Unidade, em geral é atendido por qual profissional? 2.1 - Poderia descrever, caso tenha acontecido, uma situação em que o médico pediu ajuda ou encaminhou o Sr.(a) a outro profissional desta Unidade para resolver seu problema? P3 – O Sr.(a) sabe o nome da especialidade do médico que o atendeu nesta Unidade? 3.1 - Como o Sr.(a) descreveria a especialidade do médico que o atendeu nesta Unidade? 3.2 – O Sr.(a) poderia descrever o que diferencia este médico de outros que já lhe atenderam? P4 – Como o Sr.(a) descreveria o modo como o médico conversou sobre o problema principal de saúde que motivou a consulta? 4.1 - Foi conversado o suficiente? 4.2 - O Sr.(a) ficou satisfeito? 4.3 - Considera que o médico ouviu tudo o que o Sr.(a) gostaria de falar? 4.4 – O médico conversou sobre como o Sr.(a) reagiu a outras situações de doença pessoal ou em familiares? 4.5 – O médico conversou sobre como estão seus sentimentos em relação ao fato de estar com problemas de saúde? 4.6 – O médico verificou seus medos e expectativas em relação aos seus problemas de saúde? P5 – O Sr.(a) poderia comentar sobre como o médico explicou sobre seu(s) problema(s) de saúde? 5.1 – O médico buscou ter certeza de qual era o seu principal problema de saúde? 5.2 – O médico buscou sua ajuda para definir qual era seu problema principal? 5.2 – O Sr.(a) teve oportunidade de tirar suas dúvidas? 5.3 - O médico buscou ter certeza de que o Sr(a) havia entendido qual é seu problema de saúde? P6 – O Sr.(a) poderia descrever sobre a parte da consulta em que falaram sobre as responsabilidades de cada um no cuidado à saúde?6.1 - Houve esta parte em que o médico conversou sobre o que cabe a cada um – médico e pessoa – como responsabilidade no cuidado à saúde? P7 – O Sr.(a) poderia descrever como foi discutido o cuidado à saúde? 7.1 - Foi suficientemente esclarecedor? 7.2 - O médico discutiu sobre as possibilidades do Sr.(a) realizá-lo? 7.3 - Foi perguntado sobre suas dificuldades em realizar o que foi proposto para cuidar de sua saúde? 7.4 – Foi conversado sobre os objetivos a serem buscados para alcançar sucesso no cuidado à sua saúde? A pessoa como centro do cuidado Rev Bras Med Fam Comunidade. Rio de Janeiro, 2015 Jan-Mar; 10(34):1-136 Qu ad ro 3 . C om pa ra çã o de Id ei as C en tra is e D SC d e M éd ic os e P es so as : u m c am in ho p ar a as c on cl us õe s* .6 CA TE GO RI A IC e D SC – M éd ic os IC e D SC – P es so as CO M EN TÁ RI O S AC ES SO Ex is te m m ai or es f ac ili da de s de a ce ss o do q ue e m o ut ro s se rv iç os (I dé ia Ce nt ra l 1 ). (D SC -0 1M ) – “P ar a se r at en di da a p es so a te m q ue e st ar c ad as tr ad a aq ui . M ar ca m a c on su lta , e e la s po de m r et or na r ap ós a lg um a co ns ul ta , co m o m éd ic o da nd o re to rn o. O s is te m a qu e no rm al m en te a g en te u sa é : m ar ca çã o de c on su lta s co m a ge nd am en to s (p ro gr am ad as ) a té 3 0 di as [. ..] qu e co rr es po nd e a 50 % d a of er ta , e 5 0% p ar a as c on su lta s do d ia [. ..] q ue é pa ra s itu aç õe s m ai s de u rg ên ci a (d or , m al -e st ar ), [.. .] si tu aç õe s qu e tê m se r v is ta s no d ia p or qu e se nã o co rr e o ris co d e te r u m a pi or a do p ac ie nt e. ” “A s di fic ul da de s [.. .]: te rm os p ou ca s co ns ul ta s. E n ós te m os p ou co s m éd ic os [.. .] ou ço c rít ic as e m re la çã o a fil as . M as e u ac ho q ue p el a de m an da q ue a ge nt e te m , a g en te p er ce be q ue e xi st e um a fa ci lid ad e de a ce ss o; [. ..] a ch o qu e te m m ai s fa ci lid ad es d o qu e em o ut ro s se rv iç os ; [ ... ] a g en te s em pr e te nt a da r um a re sp os ta p ar a o pa ci en te . S em pr e se c on se gu e da r um a re sp os ta o u te nt a- se r es ol ve r o pr ob le m a ou s ol uç ão p ar a is so . O u pe lo m en os d ar u m a sa tis fa çã o. É m ai s fá ci l à g en te a te nd er d o qu e di ze r n ão . Ev en tu al m en te a g en te v ai te r q ue d iz er n ão , m as a ch o qu e es tá ra zo áv el ; o pe ss oa l [ ... ] t em a te nd id o be m . T al ve z as p es so as p re ci sa ss em d e m ai s co ns ul ta s as si m e e la s nã o es tã o co ns ul ta nd o po rq ue a qu el a co ns ul ta fo i pa ra o ut ra p es so a qu e te m u m a pr io rid ad e m en or e a lg um as p es so as s e ut ili za m m ai s do s er vi ço d e sa úd e do q ue o ut ra s. ” Já f oi m ai s si m pl es m ar ca r co ns ul ta , a go ra e xi st em r ec la m aç õe s (Id éi a Ce nt ra l 1 ). (D SC -0 1P ) – “Q ua nd o eu v ou c on su lta r pa ra o d ia e m q ue e u pr ec is o re al m en te , l ev an to c in co e m ei a pr a ch eg ar a qu i à s se is h or as e e sp er ar ; eu s ou b oa d e es pe ra r n é, p or qu e tu do q ue é lu ga r q ue a g en te v ai , t em q ue es pe ra r. M es m o qu e a ge nt e va i a o pa rti cu la r a g en te te m q ue e sp er ar u m m on te , m as [. ..] C on se gu i m ar ca r. To do m un do fo i [ ... ] m ui to b em a te nd id o, [.. .] na re ce pç ão , e tu do b em . E é m ui to b om a qu i o a te nd im en to . A ge nd o um a co ns ul ta c om a s gu ria s co m o m éd ic o de m in ha p re fe rê nc ia . A g en te se tr at a se m pr e aq ui n o m éd ic o de fa m íli a; já c ria a qu el e ví nc ul o as si m ; s e nã o a ge nt e fic a de sf ila nd o de m éd ic o em m éd ic o. A g en te v em e c on su lta no d ia , o u en tã o às v ez es a g en te m ar ca d e um a se m an a pa ra o ut ra e e m ca so d e em er gê nc ia n o m es m o di a ta m bé m . D ep en de d o pr ob le m a, d a do en ça , p or qu e se o p ro bl em a é sé rio c on su lta n o m es m o di a, n a m es m a ho ra . Q ua lq ue r ho ra q ue a g en te p re ci so u nã o te ve d ifi cu ld ad e. A ú ni ca co is a qu e a ge nt e ac ha u m p ou co ru im é q ue te m q ue v ir be m c ed o. P or qu e sã o po uc as c on su lta s, e t em q ue f ic ar n um a fil a en or m e, e n ão é f ác il. Já fo i m ai s si m pl es , t ev e m om en to s em q ue fo i m ui to m ai s si m pl es d e se co ns eg ui r a c on su lta , e e u nã o go st o é di ss o: a nt es d av a pa ra m ar ca r p or te le fo ne . T en ho o uv id o a re cl am aç ão d as p es so as , e s em pr e co m pl ic a qu an do as p es so as fi ca mm ui to a gi ta da s, p oi s [.. .] te m q ue e sp er ar m ui to te m po .” A co m pa ra çã o en tr e D SC d e m éd ic os e p es so as re ve la q ue a m bo s gr up os id en tif ic am d ifi cu ld ad es de a ce ss o, e xp re ss as p el a ex is tê nc ia d e fil as , o fe rta de c on su lta s m en or q ue a d em an da e d ifi cu ld ad es de m an te r c on tin ui da de c om o m es m o pr of is si on al . PR O CE SS O D E TR AB AL HO Tr ab al ha r e m e qu ip e é a so lid ar ie da de d e bu sc ar s ol uç õe s. A in da é p ou co ! (Id éi a Ce nt ra l 2 ). (D SC - 02 M ) – “E xi st e. V am os d iz er a ss im : n ão u m a qu an tid ad e gr an de , co m o te m m ui to p ou co s pr of is si on ai s. M as t em c as os e m q ue a g en te se d iv id e. T ra ba lh ar e m e qu ip e é ju st am en te e ss a tro ca q ue a g en te te m na d is cu ss ão d e ca so , n as p ró pr ia s re un iõ es d e eq ui pe , n o tra ba lh o em gr up o; e d e co nh ec er e t ro ca r in fo rm aç õe s so br e os p ac ie nt es ; ch am a um p ar a aj ud ar n um a av al ia çã o ou s ug er ir al gu m a hi pó te se d ia gn ós tic a; ac ab am m e en ca m in ha nd o to do s os c as os d e sa úd e m en ta l o u qu e el es tê m d ifi cu ld ad e, e nc am in ho m ui to p ar a as e nf er m ei ra s, p eç o m ui ta a ju da pa ra a o do nt o. O lh a si nc er am en te , t ra ba lh ar e m e qu ip e, é a s ol id ar ie da de de b us ca r s ol uç õe s. ” A bu sc a é po r a te nd im en to m éd ic o, a e nf er m ag em é u sa da p ar a pr oc ed im en to s (Id éi a Ce nt ra l 2 ). (D SC -0 2P ) – “Q ua nd o eu m ar co a te nd im en to e u ve nh o co m a re ce pc io ni st a e de po is e u ve nh o di re to p ar a se r at en di da c om q ue m e u m ar qu ei . No rm al m en te a g en te s em pr e é at en di da [. ..] s em pr e m éd ic o. G er al m en te o m éd ic o. [. ..] s em pr e é o m éd ic o qu e at en de a fa m íli a. D ep oi s de e le m e at en de r, pa ss ar p ar a ou tro ? Nã o. J á po r ca us a de p ro bl em a de p re ss ão , o pe so , [ ... ] va ci na , p ro cu ro a e nf er m ag em . G er al m en te a e nf er m ei ra s ó qu an do e ra in di ca do p el o m éd ic o; a p si có lo ga s ó ag or a. ” Co m re la çã o ao tr ab al ho e m e qu ip e, m éd ic o e pe ss oa s re ve la m q ue o p ro ce ss o de tr ab al ho a in da e st a m ui to ce nt ra do n o m éd ic o, q ue fu nc io na c om o “a ce ss o” a o ca rd áp io d e of er ta s da s Un id ad es d e Sa úd e. *A da pt ad o da d is se rta çã o au to r. Lopes JMC, Ribeiro JAR Rev Bras Med Fam Comunidade. Rio de Janeiro, 2015 Jan-Mar; 10(34):1-13 7 CA TE GO RI A IC e D SC – M éd ic os IC e D SC – P es so as CO M EN TÁ RI O S M ED IC IN A DE F AM ÍL IA E CO M UN ID AD E A pe rc ep çã o da e sp ec ia lid ad e de pe nd e do p ro bl em a qu e m ot iv a a co ns ul ta (Id éi a Ce nt ra l 3 ). (D SC -0 3M ) – “E u ac ho q ue g ra nd e pa rte s ab e. A ch o qu e de pe nd e pa ra o q ue el es v êm c on su lta r, de pe nd e do p ro bl em a. D ize m q ue e u so u gi ne co lo gi st a, po rq ue e u at en do m ui ta m ul he r, às v ez es e le s pe ns am q ue e u so u pe di at ra , às v ez es e le s pe ns am q ue s ou p si qu ia tra , [ ... ]. El es d iz em m ui to c lin ic o ge ra l, qu e el es p en sa m q ue é c lín ic o. E xi st e as si m u m v íc io d e in fo rm aç ão de nt ro d a un id ad e qu e co ns id er a o m éd ic o da fa m íli a co m o um c lín ic o ge ra l. Ne m a s pe ss oa s da e qu ip e nã o sa be m [. ..] , q ua nd o o pa ci en te v ai p ro cu ra r lá n o gu ic hê e le s in fo rm am q ue te m q ue p as sa r p el o cl ín ic o. M as [. ..] a ch o qu e os p ac ie nt es q ue e u at en do , [ ... ] a ch o qu e a gr an de m ai or ia te m e ss a pe rc ep çã o da d ife re nç a, a g en te te nt a di fe re nc ia r. Q ua nd o pe rg un ta do a ge nt e te nt a m os tra r p ar a o pa ci en te q ue é d ife re nt e. ” M ed ic in a de F am íli a nã o é um a es pe ci al id ad e (Id éi a Ce nt ra l 3 ). (D SC -0 3P ) – “E sp ec ia lid ad e. .. To do s tê m u m a es pe ci al id ad e e nu nc a pe rg un te i. A es pe ci al id ad e de le s eu a ch o qu e é. .. M ed ic in a in te rn a, c lín ic a ge ra l, é? E u ac ho q ue [ ... ] é cl in ic a ge ra l, m e pa re ce q ue [ ... ] é cl in ic a ge ra l, nã o se i. Eu s em pr e ac he i c om o cl in ic o ge ra l, m as n ão s ei s e es tá ce rto . [ ... ] Eu a cho qu e é gi ne co lo gi a, n ão ? É ca rd io lo gi st a? N ão t en ho ce rte za d a es pe ci al id ad e. E u se i q ue [. ..] é d ou to r d o po st o de s aú de n é? ” “A ch o qu e é fa m ili ar q ue c ha m am n é, d ou to r d a fa m íli a. T od a a fa m íli a. A té so gr a. In ve st ig a tu do o q ue a g en te s e qu ei xa [. ..] ; e st a se m pr e in ve st ig an do as si m , e s em pr e so lu ci on a lo go o s pr ob le m as . [ ... ] s ão m ai s ab ra ng en te s, vê em d o la do p si co ló gi co a té o la do m éd ic o m es m o; d ão m ai s at en çã o pa ra a pe ss oa e p ro cu ra m c on he ce r a p es so a m ai s a fu nd o, d ão u m te m po d a pe ss oa s e m os tra r c om o el a é se m te r a qu el a ne ce ss id ad e de te r, m ui ta s ve ze s, q ue já m ed ic ar p ar a ve r qu al o r es ul ta do ; [.. .] O la do m éd ic o, e u ac ho q ue e le s sã o co m pe te nt es t an to c om o qu al qu er o ut ro q ue e u já v i [.. .] Te m m ui ta d ife re nç a, [. ..] a qu i e le s pr oc ur am s ab er r ea lm en te o q ue tu t en s, e le s te in fo rm am , t e ex pl ic am ; às v ez es a g en te n ão s ab e, n ão en te nd e, c om o el es s ão e sp ec ia liz ad os n is so e le s ex pl ic am ; p ar a a ge nt e sa ir da qu i c om u m a id éi a cl ar a do q ue é q ue a g en te te m e o q ue a g en te pr oc ur a; [. ..] e le s sã o m ui to s ca rin ho so s, [. ..] s ão a ss im c om o se fo ss em pe ss oa s de c as a, [. ..] a g en te s e se nt e à vo nt ad e co m e le s, [. ..] e a g en te co nf ia [. ..] S im , é m ed ic in a de fa m íli a qu e a ge nt e di z, m as o s en ho r p ed iu es pe ci al m en te a e sp ec ia lid ad e. ” O s D S C r e ve la m c o n co rd â n ci a s o b re o de sc on he ci m en to d a es pe ci al id ad e M ed ic in a de Fa m ília e C om un id ad e, e s e co nf irm a a im pr es sã o do s M FC d e qu e as p es so as re la ci on am a e sp ec ia lid ad e co m a q ue ix a qu e m ot iv ou o a te nd im en to . Co nc ei to d o M CC P A Ab or da ge m C en tra da n a Pe ss oa é v er a p es so a co m o um t od o (Id éi a Ce nt ra l 4 ). (D SC -0 4M ) – “A h. .. Ve r a pe ss oa c om o um t od o, n é. Q ue n ão é s ó a cl in ic a, [ ... ] nã o é só a qu el a m an ch in ha n a pe le o u nã o é só a qu el a do r de c ab eç a, [. ..] te m a s av al ia çõ es s oc io ec on ôm ic as , c ul tu ra is , f am ili ar es . Eu a ch o qu e co nh ec er a re al id ad e do p ac ie nt e. E st ar a te nt o a co is as q ue nã o só à q ue ix a pr in ci pa l. É um a co is a m ai s si m pl ifi ca da , m as p ar a m im si m pl ifi ca do s ig ni fic a a qu ei xa d o pa ci en te d en tro d o co nt ex to , d aq ue le co nt ex to q ue e u co nh eç o ou q ue e u te nt o co nh ec er . A d em an da q ue o pa ci en te c ria , e t am bé m a s co is as q ue v em ju nt o. M ui ta s ve ze s a ge nt e in ic ia lm en te ta lv ez n ão c on si ga o fe re ce r e ss a ab or da ge m m ai s am pl a; n ão se d á as si m n um p rim ei ro m om en to , n é; a g en te te rm in a fa ze nd o o no ss o at en di m en to e m lo ng o pr az o. ” N ão e xi st e um c on he ci m en to a de qu ad o so br e o qu e re al m en te s ig ni fic a um a Ab or da ge m C lín ic a Ce nt ra da n a Pe ss oa , e m bo ra a a tu aç ão d os M FC , se ja h um an iza da e v ol ta da p ar a o es cu ta r e c on he ce r as p es so as . *A da pt ad o da d is se rta çã o au to r. Qu ad ro 3 . C on tin ua çã o. .. A pessoa como centro do cuidado Rev Bras Med Fam Comunidade. Rio de Janeiro, 2015 Jan-Mar; 10(34):1-138 CA TE GO RI A IC e D SC – M éd ic os IC e D SC – P es so as CO M EN TÁ RI O S M CC P: E xp lo ra nd o a ex pe riê nc ia co m a d oe nç a e a en fe rm id ad e Q ue st ão o bj et iv a nã o ex ig e m ui ta c on ve rs a; q ua nd o a qu es tã o é co m pl ex a é pr ec is o ou vi r, co nh ec er (I dé ia C en tra l 5 ). (D SC -0 5M ) – “P ar a at en de r o p ac ie nt e, a g en te le va m ui to te m po ; a s em an a é gr an de e e u pr ec is o se r m ui to r áp id a. E é c la ro q ue n um a co ns ul ta a ge nt e nã o va i c on se gu ir ab or da r t od o o pr ob le m a. É q ue te m a v an ta ge m de e u co nh ec er e le s há m ui to t em po . E u ac ho q ue n ão t e im po rta t ud o, po r ex em pl o, m as r el ac io na do à q ue ix a eu a ch o qu e si m . H oj e ve io v er o re su lta do d o ex am e? E u ve jo s ó resu lta do d o ex am e; o u um a qu es tã o be m ob je tiv a, e nt ão n ão e xi gi a m ui ta c on ve rs a né , e xi gi a m ai s um p ro ce di m en to . M as q ua nd o ve jo q ue a p es so a te m d ifi cu ld ad e ou q ue é m ai s co m pl ic ad a, é um a qu es tã o m ai s co m pl ex a en tã o eu a ch o qu e si m . P or e xe m pl o: e le ve io p or u m a qu ei xa a pa re nt em en te o rg ân ic a, m as p or t ra z tin ha u m a hi st ór ia , u m a hi st ór ia d e pe rd a, f am ili ar , d e lu to , d e an os ; m as e u fiq ue i sa tis fe ito a ch o qu e eu o uv i, eu c on he ci , p ud e tra ns m iti r al gu m a co is a e el e va i r et or na r, es se p ac ie nt e. E sp er o qu e el e re to rn e pa ra g en te d ar co nt in ui da de a e ss e pr oc es so , e nt ão d ar r ed e de a po io - n a fa m íli a, n os am ig os - e te nt ei d es pe rta r e ss e “i ns ig ht ” as si m .” O M éd ic o de F am íli a e Co m un id ad e ou ve , e st im ul a a fa la r, tir a dú vi da s, ex pl ic a, m as ... (I dé ia C en tra l 4 ). (D SC -0 4P ) – “ [. ..] c he go u a co nv er sa r co nt ig o so br e as si m o s te us m ed os o u ex pe ct at iv as e m r el aç ão a o pr ob le m a de s aú de q ue t u ve io c on su lta r h oj e? O uv iu tu do o q ue e u go st ar ia d e fa la r, e m e se nt i à vo nt ad e; e a in da e la m e pe rg un to u al gu m a co is a qu e eu n em le m br av a de fa la r, m e de u to da s as in fo rm aç õe s [.. .] Eu fa le i d as m in ha s dú vi da s e el a m e de u as in fo rm aç õe s de nt ro d a m ed id a do p os sí ve l. É qu e nã o er a be m um p ro bl em a de s aú de . A c on ve rs a, o e xa m e [.. .], a ch o qu e fo i s at is fa tó rio . Ti ro u- m e m eu m ed o, d is se q ue n ão e ra ... , q ue n ão t in ha p ro bl em a. E u es ta va r ea lm en te e m d úv id a so br e es se e xa m e qu e eu f iz . [ ... ] nã o te m pr es sa s e tiv er q ue c on ve rs ar u m a ho ra ... , [ ... ] m e es cu ta , c on ve rs a. N ão te m a m ig os p ar a co nv er sa r, en tã o te m q ue f al ar p ar a os d ou to re s. N ão se i s e ou tro s m éd ic os [. ..] q ue q ua se a g en te n ão s e vê a ss im ... [. ..] q ue co ns eq üê nc ia s es ta va te nd o es sa d oe nç a na tu a at iv id ad e. ..? N ão , nã o. N ão . N ão , s ob re is so [. ..] n ão c on ve rs ou , m as m e ex pl ic ou m ui to b em de u m a fo rm a qu e a ge nt e en te nd e be m a s co is as , p or qu e di ze m c er ta s pa la vr as q ue a g en te n ão s ab e o qu e si gn ifi ca e [. ..] e nt ão a g en te p ro cu ra um a co is a qu e a ge nt e po ss a en te nd er .” As pe ct os fu nd am en ta is q ue g ar an te m a A CC P, n ão es tã o pr es en te s, f ic an do a a bo rd ag em r es tr ita a o de se nv ol vi m en to d e um a re la çã o em pá tic a. M CC P: B us ca nd o um p ro je to c om um ao m éd ic o e a pe ss oa . A qu ei xa m ui ta s ve ze s é a po nt a do “ ic eb er g” e o te m po é li m ita do r pa ra qu e dú vi da s se ja m ti ra da s (Id éi a Ce nt ra l 6 ). (D SC -0 6M ) – “S im , s im . E u bu sq ue i t er c er te za ( do p ro bl em a pr in ci pa l), pe rg un to o q ue e la a ch a, s e el a co nc or da c om ig o, o q ue e la e st a ac ha nd o, [.. .] se e la te m p re oc up aç ão o u ac ha q ue é o ut ra c oi sa . V em u m p ed id o m ui to s im pl es e a o re do r u m m on te d e si tu aç õe s qu e pr ec is am d e al gu m a in te rfe rê nc ia . V ei o co m u m a qu ei xa [. ..] e e u na m in ha o pi ni ão a qu ilo e ra a po nt a do “ ic eb er g” , [ ... ] eu d ei e sp aç o e pe rg un te i s e [.. .] te ria m ai s al gu m a qu es tã o; [. ..] ti nh a ou tra s de m an da s pa ra le la s, m as c om c er te za ne m to do s os p ro bl em as fi ca ra m e sc la re ci do s. N em s em pr e é po ss ív el is so , po r q ue à s ve ze s fa lta te m po : é o te le fo ne , é b at id a na p or ta , é ... Nã o te m te m po , n é. T en s qu e da r um a “c or rid in ha ”, m as a í d ei xa p ar a a pr óx im a ve z, m as n o po ss ív el a g en te t en ta . N ão p er gu nt ar am , m as e u ac ho q ue tin ha p os si bi lid ad e se ti ve ss e ne ce ss id ad e. ” Nã o ex is te c on se ns o, m as p ar ec e qu e há b us ca d e de fin iç ão . ( Id éi a Ce nt ra l 5 ). (D SC -0 5P ) – “ [. ..] c he go u a ex pl ic ar b em q ua l e ra o t eu p ro bl em a pr in ci pa l, se tu fi co u co m a lgum a dú vi da , s e el a pr oc ur ou te r c er te za , se v oc ê en te nd eu b em q ua l e ra o te u pr ob le m a pr in ci pa l [ ... ] N ão e la só q ui s sa be r co m o eu e st ou p ar a de po is d iz er s e eu te nh o m ai s al gu m a co is a Nã o, a g en te c on ve rs ou à s ve ze s eu v en ho c om v ár io s pr ob le m as .” “[ ... ] t iv er am a c on co rd ân ci a so br e qu al e ra o p ro bl em a pr in ci pa l? Si m . S im , s im c om c er te za . C om c er te za . [ ... ] s im , s e nã o eu e st ar ia lá a té ag or a. .. [.. .] ac ho q ue fo i c or re to , a ch o qu e fo i c or re to e d ire to , [ ... ] p or is so qu e a ge nt e fo i m ai s a fu nd o, d ep oi s os o ut ro s de ta lh ez in ho s m en or es a ge nt e co nv er so u de po is ; [ ... ] E xp lic a, e xp lic a be m e a lé m d e m e ex pl ic ar [.. .] ai nd a es cr ev e co m o to m ar , c om o tir ar o s re m éd io s, a té e st á aq ui n o pa pe l, po rq ue e u es qu eç o m ui to . E nt en di . E fi qu ei c on te nt e. ” Nã o ex is te u m c on se ns o en tre m éd ic os e p es so as , co m r el aç ão à i de nt ifi ca çã o e co nc or dâ nc ia p or pa rte d a pe ss oa d e qu al é s eu p ro bl em a pr in ci pa l, nã o fic a m ui to c la ro , pa re ce nd o qu e ao e xp or o m an ej o po r co ns eq üê nc ia e st ar á se nd o re al iz ad o, se nd o aí o m om en to d a pe ss oa p os ic io na r- se , m as na u til iz aç ão d o m ét od o, e st e m om en to d ev e se r ex pl íc ito e a nt er io r à p ro po st a de m an ej o. *A da pt ad o da d is se rta çã o au to r. Qu ad ro 3 . C on tin ua çã o. .. Lopes JMC, Ribeiro JAR Rev Bras Med Fam Comunidade. Rio de Janeiro, 2015 Jan-Mar; 10(34):1-13 9 CA TE GO RI A IC e D SC – M éd ic os IC e D SC – P es so as CO M EN TÁ RI O S M CC P: B us ca nd o um p ro je to c om um ao m éd ic o e a pe ss oa . Eu e nt en do q ue a c om pr ee ns ão d a or ie nt aç ão le ve a o en te nd im en to d o pa ci en te d e qu e ex is te a n ec es si da de d el e se re sp on sa bi liz ar . ( Id éi a Ce nt ra l 7 ) (D SC -0 7M ) – “N ão , n ão e xa ta m en te a ss im , ó : a t ua r es po ns ab ili da de e a m in ha , n é. N ão , n ão , n ão t ev e es se m om en to [ ... ], es sa d iv is ão , i ss o nã o fo i f ei to . H oj e nã o, m as m ui to fr eq üe nt em en te , [ ... ] e ss e m om en to d a co ns ul ta e u nã o se i s e eu d ife re nc io ; é q ue e u te nh o is so tã o cl ar o pa ra m im . E u ac ho q ue is so é a ut om át ic o, e u nã o di st in go , [ ... ] e u en te nd o qu e a co m pr ee ns ão d a or ie nt aç ão le ve a o en te nd im en to d o pa ci en te d e qu e ex is te a ne ce ss id ad e de le s e re sp on sa bi liz ar . N o ca so , [ ... ] e u vo u or ie nt ar , [ ... ] a co nd ut a, a p os ol og ia , o u so d a m ed ic aç ão , q ue m te m q ue s eg ui r a d ie ta é o pa ci en te , q ue m te m q ue e ng ol ir o co m pr im id o é o pa ci en te , q ue m te m q ue fa ze r t od a a pa rte p rá tic a, [. ..] is so te m , q ue e le v ai e nt en de r q ue é o br ig aç ão de le e v ai fa ze r em c as a, n é. N o fin al d a co ns ul ta e u co m c er te za r ev is o, ol ha o q ue tu v ai fa ze r, co m o se e u fiz es se u m re su m o do q ue fo i t ra ta do . A ge nt e se c ha te ia , e u m e ch at ei o co m e st a fa lta d e re sp on sa bi lid ad e da s pe ss oa s co m s ua p ró pr ia s aú de . O s pa ci en te s tra nc am , t êm a te nd ên ci a de n ão s eg ui r di re ito , d e nã o se r es po ns ab ili za re m p el o tra ta m en to , m as ac ab am n ão fa ze nd o, o u só fa z um a se m an a, m en te m [. ..] .” Nã o ex is te m m om en to s es pe cí fic os , e xp líc ito s, p ar a re sp on sa bi lid ad es e ob je tiv os (I dé ia C en tra l 6 ). (D SC -0 6P ) – “[ ... ] ho uv e um a pa rt e na c on su lta e m q ue [ ... ] e tu fa la ra m s ob re , q ua l e ra a re sp on sa bi lid ad e de c ad a um n o cu id ad o, de c ad a um n o tr at am en to , p ar a qu e tu m el ho re s? N ão , a in da n ão . Nã o, a g en te n ão d is cu tiu . N ão , [ ... ] m e re ce ito u re m éd io e m e de u um a re ce ita ... N ão , n ão , m as is so m ai s ou m en os já s e co lo ca n é, is so já é um a co is a m ei o. .. Já e st á co lo ca da a li. [ ... ] es ta be le ce u um a sé ri e de ob je tiv os c on tig o? ” “A ha n, s im a g en te s e fa lo u, d ei xo u tu do b em d ire iti nh o; a s in st ru çõ es [.. .] de e xp lic ar p ar a qu e tu dod es se c er to , e a s m in ha s qu e eu te ria q ue fa ze r p ar a qu e tu do d es se c er tin ho . É [. ..] c on ve rs ou c om ig o. .. Fo i c om o re m éd io , [ ... ] m e dá o s re m éd io s e co nv er sa m os d ire iti nh o, d e ob je tiv os , [.. .] ex pl ic ou tu do p ar a m e aj ud ar , q ue to m ar o s re m éd io s, c om o eu te nh o qu e fa ze r. O m es m o qu e um a cr ia nç a in do p ar a o co lé gi o, o q ue u m a cr ia nç a fa z? V ai p ar a o co lé gi o pa ra a pr en de r a le r, a m es m a co is a [.. .] fa z co m ig o. M as e nq ua nt o [.. .] es tiv er m an da nd o to m ar , e u es to u to m an do e es to u in do m ui to b em .” Aq ui n ov am en te s e re pe te a fa lta d e um m om en to de fin id o du ra nt e o at en di m en to p ar a as se gu ra r- se de q ue a p es so a te m c la ro q ua l é s eu p ap el e q ua l é o pa pe l d o M FC n o pr oc es so d e cu id ad o. O m éd ic o su be nt en de q ue is so é re al iza do n o m om en to fi na l d a co ns ul ta o nd e sã o da da s as o rie nt aç õe s. M CC P: B us ca nd o um p ro je to c om um ao m éd ic o e àp es so a. O o bj et iv o é m el ho ra r o b em e st ar d el e (Id éi a Ce nt ra l 8 ). (D SC -0 8M ) – “ Ãh an , ã ha n! S im , o o bj et iv o é m el ho ra r o b em e st ar d el e. O qu e ca be a c ad a um e o q ue s e qu er a lc an ça r n é? S im , e u ac ho q ue s im ; d á pa ra p er ce be r n a co ns ul ta q ue e xi st ia e ss a po ss ib ili da de e a c om pr ee ns ão , m as e u nã o ch eg ue i a p er gu nt ar , e e le n ão c he go u a re sp on de r v er ba lm en te né , m as p el a ex pr es sã o de le e u ac re di to q ue e le d ev a te r pe ns ad o [.. .] vê a v ia bi lid ad e da qu ilo q ue a g en te in si st iu d e se r co lo ca do e m p rá tic a; [.. .] ac ho q ue is so fo i u m a co is a qu e m ai s eu s en ti [.. .]. Q ua nd o ve jo q ue a pe ss oa te m d ifi cu ld ad e ou q ue é m ai s co m pl ic ad a, e u co lo co n o pa pe l, eu u til iz o al gu ns in st ru m en to s, e u ch am o al gu ém d a fa m íli a; à s ve ze s eu tra to a s itu aç ão d el a co m o ut ro s fa m ili ar es .” Nã o ex is te m om en to e sp ec ífi co o u ex pl íc ito p ar a vi ab ili da de d o tra ta m en to ou m an ej o (Id éi a Ce nt ra l 7 ). (D SC -0 7P ) – “E m r el aç ão a o qu e fo i pr op os to c om o tr at am en to , fo i d is cu tid o se t u te ri as ... T ev e um m om en to p ar a is to ? Nã o, N ão , nã o te m . N ão e sp ec ifi ca m en te , N ão , n ão , c om pl em en te a in da n ão . [. ..] fo i su fic ie nt em en te c on ve rs ad o e ex pl ic ad o? S im , fo i p le na m en te sa tis fa tó rio . M an do u ch am ar e le s, c on ve rs ou c om m eu s fa m ili ar es , c om m eu s fil ho s um a ve z co m c ad a um , c om m eu m ar id o pa ra e le s ac ei ta re m e ac re di ta re m q ue é u m a do en ça . E xp lic ou s im c la ro . T od o es se tr ab al ho co m a m in ha fa m íli a. E u fic o a vo nt ad e co m e la e q ua lq ue r p ro bl em a qu e te nh o eu fa lo p ar a el a, e d ig o al gu m a co is a pa ra e la s e eu fo r a te nd id a po r ou tro m éd ic o ta m bé m e u fa lo . P or qu e el a te m q ue s ab er p ar a m e aj ud ar . “ Ex is te c on co rd ân ci a en tre o s di sc ur so s co nf ig ur an do qu e nã o há m om en to d e di sc us sã o so br e qu ai s se rã o os o bj et iv os a s er em a lc an ça do s pa ra u m c ui da do si gn ifi ca tiv o. *A da pt ad o da d is se rta çã o au to r. Qu ad ro 3 . C on tin ua çã o. .. A pessoa como centro do cuidado Rev Bras Med Fam Comunidade. Rio de Janeiro, 2015 Jan-Mar; 10(34):1-1310 CA TE GO RI A IC e D SC – M éd ic os IC e D SC – P es so as CO M EN TÁ RI O S M CC P: E nt en de nd o a pe ss oa c om o um to do . O t em po é u m li m ita do r, m as e m a lg um m om en to a ca ba a co nt ec en do ... Eu n ão m e si nt o m ai s pr es si on ad a e an si os a de te r q ue fa ze r e m to da s as co ns ul ta s (Id éi a Ce nt ra l 9 ). (D SC -0 9M ) – “ Si m . B as ta nt e at é. E m a lg um m om en to , n ão e m t od as a s co ns ul ta s. E u se i q ue a lg um m om en to e u vo u fa ze r. Eu n ão m e si nt o m ai s pr es si on ad a e an si os a de te r qu e fa ze r em to da s as c on su lta s; N ão , n ão , nã o po rq ue e u ac he i q ue n ão e ra o c as o. N es sa é po ca n ós e st am os fa ze nd o at en di m en to d a de m an da n é, e nt ão n ão h ou ve . É e uac ho q ue t ud o na m ed id a do p os sí ve l, a ge nt e é m ui to e sm ag ad o pe la fa lta d e te m po p ar a fa ze r tu do o q ue s e pr ec is a fa ze r, m as e u ac ho q ue s im . E u se i q ue is so pa ra m im é im po rta nt e. E u ac ho q ue is so é o q ue m e dá m ai s pr az er n a co ns ul ta , p or qu e a co ns ul ta fi ca in te re ss an te s e eu s ei d a qu es tã o co nt ex tu al : da f am íli a, d a qu es tã o as si m d a re de f am ili ar , r el ac io na m en to a m or os o, am ig os , q ue st ão d e tra ba lh o. ” De vi do a o te m po , a c on su lta f oi s ó o qu e a ge nt e pr ec is a m es m o (Id éi a Ce nt ra l 8 ). (D SC -0 8P ) – “A h! [. ..] s em pr e pe rg un ta p or ... m e pe rg un to u. .. no tic ia s. F oi be m s im pá tic o, d en tro d a m ed id a do p os sí ve l, po rq ue o m éd ic o no c on su ltó rio [.. .] co m m ui ta g en te lá f or a [.. .]; a te nd eu m ui to b em a té , m es m o co m te m po c ur to . T en ho v on ta de d e de sa ba fa r [.. .] né , m as n ão t en ho m ui to , po rq ue m éd ic o ta m bé m te m o s pr ob le m as d el e, e e u te nh o os m eu s. M as se fa la ss e [.. .] ac ho q ue a ch ar ia u m te m po p ar a m im . N ão , n ão fi ca s ó no pr ob le m a da d oe nç a. [ ... ] m e de u to ta l l ib er da de p ar a po de r fa la r o qu e po de ria e st ar m e in co m od an do . . ..s ob re s ua a tiv id ad e pr of is si on al , so br e la ze r? N ão . N ão , n ad a, n ad a. N ão , n ão d e m om en to n ão . N ão , n ão , po rq ue s ó co ns ul te i p ar a or ie nt aç ão , f oi b em r áp id o. S ob re a m in ha v id a pe ss oa l? N ão . S ó da p ar te d el e qu e va i e nt ra r de fé ria s ho je (r is os ). Nã o, no m eu e nt en de r a té p ar a nã o co ng es tio na r [ ... ] v ai p re nd er m ui to te m po do m éd ic o É m ui ta g en te b us ca nd o at en di m en to , é d ifí ci l c on se gu ir, e nt ão qu an do a g en te c on se gu e, a g en te ta m bé m te m q ue d ei xa r es pa ço p ar a os o ut ro s. [. ..] h ou ve u m p ro bl em a m ai s sé rio e já tr ou xe u ns d oi s ou tr ês , co m o co m pl em en to p ar a el a ve r o q ue é ... [. ..] q ua nd o [.. .] nã o es tá m ui to tu m ul tu ad o, e u pe rg un to a s co is as m ai s ne ce ss ár ia s [.. .]. ” Há c on co rd ân ci a so br e o pa pe l l im ita do r q ue te m o te m po d e co ns ul ta , c om a m bo s ag in do , p re ss io na do s pe la d em an da , n o se nt id o de “e nc ur ta r” o bj et iva m en te a co ns ul ta ge m . M as a s pe ss oa s e os M FC ta m bé m co nc or da m s ob re a i m po rt ân ci a de u m m ai or co nh ec im en to s ob re q ue m e st a se nd o at en di do se r um a sp ec to e ss en ci al , e s e fo r o ca so d es tin ar te m po p ar a is to . *A da pt ad o da d is se rta çã o au to r. Qu ad ro 3 . C on tin ua çã o. .. Lopes JMC, Ribeiro JAR Rev Bras Med Fam Comunidade. Rio de Janeiro, 2015 Jan-Mar; 10(34):1-13 11 argumentar ou perguntar ao médico. Esta expectativa, de certa forma, configura uma abordagem mais próxima de um modelo informativo ou interpretativo, mas sem conseguir alcançar uma abordagem deliberativa, com uma real participação da pessoa no planejamento de seu cuidado. Aqui repete-se novamente a falta de um momento definido durante o atendimento para assegurar-se de que a pessoa tem claro qual é seu papel e qual é o papel do médico de família e comunidade no processo de cuidado. Existe concordância entre os discursos configurando que não há momento de discussão sobre quais serão os objetivos a serem alcançados para um cuidado significativo. Há concordância sobre o papel limitador que tem o tempo de consulta, com ambos agindo, pressionados pela demanda, no sentido de “encurtar” objetivamente a consulta. Complementando o que já foi tratado ao discutir a conceituação da Abordagem Centrada na Pessoa pelos médicos de família e comunidade, ao buscar contemplar o 2º componente do MCCP –“Entendendo a pessoa como um todo, inteira” – devemos ter em conta que as doenças da pessoa são apenas uma dimensão de seus papéis.Portanto elas são um reduzido recurso para entender a doença e o sofrimento da pessoa. Talvez o aspecto mais importante que determina a satisfação com a consulta e que deve ser observado pelo médico não seja a falta de tempo, e sim a indisponibilidade para a pessoa (o que de certa forma é desumano). No caso específico, pode-se perceber que, apesar da falta de tempo, esta indisponibilidade não existe; pelo contrário, as pessoas afirmam que percebem que, se necessário, teriam o tempo do “seu” médico. Talvez um aspecto inteiramente novo trazido por esta pesquisa tenha sido o de revelar que as pessoas, e não apenas os médicos, são pressionadas pela demanda, pela sala de espera cheia, e utilizam-se do espaço intercessor para exercerem uma parcela de sua autonomia, para limitar-se às questões mais importantes de sua saúde, numa tentativa solidária de compartilhar o tempo com as demais pessoas que buscam cuidado. Trata-se de uma forma de busca da equidade, por meio do pensamento de que talvez quem está na sala de espera precise de mais tempo do que ela. O entender a pessoa como um todo, inteira, vai muito além do conhecer a pessoa por inteiro, pois envolve, além de obter informações sobre lazer, família, e trabalho, investigar aspectos como os seguintes: (a) desenvolvimento individual (sentido de Eu, auto-estima positiva, independência e autonomia, capacidade de relacionar-se e ter intimidade), (b) fases do desenvolvimento que influenciam a vida das pessoas (posição no ciclo de vida, tarefas que assume, papel que desempenha),
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