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Psicanalise

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HALL, LINDZEY & CAMPBELL 
2 
 
Capítulo 2 
A teoria psicanalítica clássica de Sigmund Freud 
 
INTRODUÇÃO E CONTEXTO 
 
Quando a psicologia emergiu como uma disciplina 
científica independente na Alemanha, em meados do 
século XIX, ela definiu sua tarefa como a análise da 
consciência no ser humano normal, adulto. Ela 
considerava a consciência como constituída por 
elementos estruturais estreitamente correlacionados a 
processos nos órgãos dos sentidos. As sensações visuais 
de cor, por exemplo, estavam correlacionadas com 
mudanças fotoquímicas na retina do olho, e os tons, 
como eventos ocorrendo no ouvido interno. As 
experiências complexas resultavam da reunião de várias 
sensações, imagens e sentimentos elementares. A tarefa 
da psicologia era descobrir os elementos básicos da 
consciência e determinar como eles formavam 
compostos. 
A psicologia era muitas vezes referida como química 
mental. As objeções a esse tipo de psicologia vieram de 
muitas direções e por uma variedade de razões. Havia a 
aqueles que se opunham à ênfase exclusiva na estrutura 
e insistiam com considerável vigor que as características 
notáveis da mente consciente eram seus processos ativos 
e não seus conteúdos passivos. Sentir, e não as sensações, 
pensar, e não as ideias, imaginar, e não as imagens — 
esses processos, afirmava-se, deveriam ser o principal 
assunto da ciência da psicologia. Outros protestavam que 
a experiência consciente não podia ser dissecada sem 
destruir a própria essência da experiência, a saber, sua 
qualidade de totalidade. A consciência direta, diziam, 
consiste em padrões ou configurações e não em 
elementos reunidos. Um outro grupo grande e 
barulhento afirmava que a mente não era suscetível a 
investigações pelos métodos da ciência por ser 
demasiadamente privada e subjetiva. Eles queriam que a 
psicologia fosse definida como a ciência do 
comportamento. 
O ataque de Freud à tradicional psicologia da 
consciência veio de uma direção muito diferente. Ele 
comparou a mente a um iceberg: a parte menor que 
aparecia acima da superfície da água representava a 
região da consciência, enquanto a massa muito maior 
abaixo da água representava a região do inconsciente. 
Nesse vasto domínio do inconsciente, encontramos os 
impulsos, as paixões, as ideias e os sentimentos 
reprimidos, um grande mundo subterrâneo de forças 
vitais, invisíveis, que exercem um controle imperioso 
sobre os pensamentos e as ações dos indivíduos. 
Desse ponto de vista, uma psicologia que se limita à 
análise da consciência é totalmente inadequada para 
compreender os motivos subjacentes do comportamento 
humano. 
Por mais de 40 anos, Freud explorou o inconsciente 
pelo método da associação livre e desenvolveu o que 
geralmente é considerado como a primeira teoria 
abrangente da personalidade. Ele traçou os contornos de 
sua topografia, penetrou nas fontes de sua corrente de 
energia e diagramou o curso legítimo de seu 
desenvolvimento. Ao realizar essas façanhas incríveis, ele 
se tornou uma das figuras mais controversas e influentes 
do nosso tempo. (Para um relato do status do 
inconsciente antes de Freud, ver White, 1962). 
 
HISTÓRIA PESSOAL 
 
Sigmund Freud nasceu na Morávia, em 6 de maio de 
1856, e morreu em Londres, em 23 de setembro de 1939. 
Por quase 80 anos, todavia, ele morou em Viena, e só saiu 
daquela cidade quando os nazistas invadiram a Áustria. 
Quando jovem, ele decidiu que queria ser cientista. Com 
esse objetivo em mente, ingressou na escola de medicina 
da Universidade de Viena em 1873; formando-se oito 
anos mais tarde. Freud nunca pretendeu praticar a 
medicina, mas as escassas recompensas do trabalho 
científico, as oportunidades limitadas de avanço 
acadêmico para um judeu, e as necessidades de uma 
família crescente o obrigaram a entrar na prática privada. 
Mesmo com o atendimento aos pacientes, ele encontrava 
tempo para pesquisar e escrever, e suas realizações como 
investigador médico granjearam-lhe uma sólida 
reputação. 
O interesse de Freud pela neurologia fez com que se 
especializasse no tratamento de transtornos nervosos, um 
ramo da medicina que ficara para trás na marcha ativa das 
artes curadoras durante o século XIX. Para melhorar suas 
habilidades técnicas, ele estudou um ano com o famoso 
psiquiatra francês Jean Charcot, que estava usando a 
hipnose no tratamento da histeria. Embora tentasse a 
hipnose com seus pacientes, Freud não ficou muito 
impressionado com sua eficácia. Consequentemente, 
quando ouviu falar sobre um novo método desenvolvido 
por um médico vienense, Joseph Breuer, um método pelo 
qual o paciente era curado dos sintomas ao falar sobre 
eles, Freud o experimentou e o achou efetivo. Breuer e 
Freud escreveram, em parceria, sobre alguns de seus 
casos de histeria tratados pela técnica da fala (1895). 
HALL, LINDZEY & CAMPBELL 
3 
 
Entretanto, os dois logo divergiram sobre a 
importância do fator sexual na histeria. Freud considerava 
que os conflitos sexuais eram a causa da histeria, 
enquanto Breuer adotava uma visão mais conservadora 
(ver Elienberger, 1970, para uma discussão sobre os 
antecedentes históricos da posição de Freud). A partir de 
então, Freud trabalhou praticamente sozinho, 
desenvolvendo as ideias que seriam os fundamentos da 
teoria psicanalítica e que culminaram na publicação de 
seu primeiro grande trabalho, A interpretação dos Sonhos 
(1900). Outros livros e artigos logo chamaram a atenção 
de médicos e cientistas do mundo inteiro, e Freud logo se 
viu cercado por um grupo de discípulos de vários países, 
entre os quais Ernest Jones, da Inglaterra, Carl Jung, de 
Zurique, A. A. Brill, de Nova York, Sandor Ferenczi de 
Budapeste, Karl Abraham, de Berlim, e Alfred Adler, de 
Viena. Jung e Adler posteriormente se afastaram do 
círculo e desenvolveram pontos de vista rivais. 
No breve espaço que nos é permitido, é impossível 
cobrir todos os pontos mais interessantes da vida 
intelectual e pessoal de Freud: os primeiros anos como 
estudante de medicina e investigador; a influência 
decisiva do grande fisiologista alemão Ernst Brücke, um 
dos líderes da Helrnholtz School of Medicine, com quem 
Freud aprendeu a ver o indivíduo como um sistema 
dinâmico sujeito às leis da natureza (Amancher, 1965); seu 
casamento com Martha Bernays e sua devoção vitalícia a 
ela e aos seis filhos, um dos quais Anna, seguiu os passos 
do pai; o estimulante ano com Charcot em Paris; sua 
autoanálise investigativa, que começou na década de 
1890 e continuou por toda sua vida; a tentativa abortada 
de explicar os fenômenos psicológicos em ternos de 
anatomia cerebral; os anos de isolamento da comunidade 
médica de Viena; o convite de G. Stanley Hall, o eminente 
psicólogo americano e presidente da Clark University para 
falar no encontro em comemoração à fundação da 
universidade; a criação da Associação Psicanalítica 
Internacional e a secessão de discípulos importantes 
como Jung, Adler, Rank e Stekel; a influência da Primeira 
Guerra Mundial sobre o pensamento de Freud e sua 
cuidadosa revisão dos princípios básicos da teoria 
psicanalítica; a aplicação dos conceitos psicanalíticos em 
todos os campos de empreendimento humano; as 
características pessoais de Freud e o longo sofrimento do 
câncer de mandíbula; e finalmente sua fuga 
melodramática das garras dos nazistas. Felizmente, todos 
os recantos e frestas da longa vida de Freud foram 
examinados pelo grande psicanalista inglês Ernest Jones 
e brilhantemente relatados em uma biografia de três 
volumes (1953, 1955, 1957). Mais recentemente, Peter 
Gay (1988)escreveu uma biografia abrangente e 
simpática de Freud. O espaço também não nos permite 
listar os trabalhos publicados de Freud. Começando com 
A Interpretação dos Sonhos, em 1900, e terminando com 
Esboço da Psicanálise, publicado postumamente em 1940, 
os textos psicológicos de Freud totalizam vinte e quatro 
volumes na edição inglesa padrão, definitiva (1953 e 
1974). Para o leitor que não está familiarizado com a 
teoria da personalidade de Freud, recomendamos os 
seguintes livros: A Interpretação dos Sonhos (1900), A 
Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901), Conferências 
Introdutórias Gerais à Psicanálise (1917), Novas 
Conferências Introdutórias à Psicanálise (1933) e Esboço da 
Psicanálise (1940). 
No seguinte relato das ideias de Freud, trataremos 
apenas das questões relativas à sua teoria da 
personalidade. No processo, excluiremos de consideração 
a teoria psicanalítica da neurose que, de qualquer forma, 
foi tão bem examinada por Otto Fenichel (1945), as 
técnicas de psicanálise e as vastas aplicações da 
psicologia freudiana nas ciências sociais (ver Hall & 
Lindzey, 1968), artes e humanidades. Também 
deixaremos de lado a evolução do pensamento de Freud 
a respeito dos conceitos básicos de sua teoria da 
personalidade; será suficiente apresentar sua palavra final 
sobre os conceitos que vamos discutir. 
 
A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE 
 
A personalidade é constituída por três grandes 
sistemas: o id, o ego e o superego. Embora cada uma 
dessas partes da personalidade total tenha suas funções, 
propriedades, componentes, princípios de operação, 
dinamismos e mecanismos, elas interagem tão 
estreitamente que é difícil, senão impossível, 
desemaranhar seus efeitos e pesar sua relativa 
contribuição ao comportamento humano. O 
comportamento é quase sempre o produto de uma 
interação entre esses três sistemas; e raramente um 
sistema opera com a exclusão dos outros dois. 
 
O Id 
 
O id é o sistema original da personalidade: ele é a 
matriz da qual se originaram o ego e o superego. O id 
consiste em tudo que é psicológico, que é herdado e se 
acha presente no nascimento, incluindo os instintos. Ele é 
o reservatório da energia psíquica e fornece toda a 
energia para a operação dos outros dois sistemas. Ele está 
em estreito contato com os processos corporais, dos 
quais deriva sua energia. Freud chamou o id de “a 
verdadeira realidade psíquica” porque ele representa o 
mundo interno da experiência subjetiva e não tem 
HALL, LINDZEY & CAMPBELL 
4 
 
nenhum conhecimento da realidade objetiva. (Para uma 
discussão do id, ver Schur, 1966). 
O Id não tolera aumentos de energia, que são 
experienciados como estados de tensão desconfortáveis. 
Consequentemente, quando o nível de tensão do 
organismo aumenta, como resultado ou de estimulação 
externa ou de excitações internamente produzidas, o id 
funciona de maneira a descarregar a tensão 
imediatamente e a fazer o organismo voltar a um nível de 
energia confortavelmente constante e baixo. Esse 
princípio da redução de tensão pelo qual o id opera é 
chamado de princípio do prazer. 
Para atingir seu objetivo de evitar dor e obter prazer, 
o id tem sob seu comando dois processos: as ações 
reflexas e o processo primário. As ações reflexas são 
reações inatas e automáticas como espirrar e piscar, e, 
geralmente, reduzem a tensão imediatamente. O 
organismo está equipado com vários desses reflexos para 
lidar com formas relativamente simples de excitação. O 
processo primário envolve uma reação psicológica um 
pouco mais complicada. Ele tenta descarregar a tensão, 
formando a imagem de um objeto que vai remover a 
tensão. O processo primário apresenta à pessoa faminta 
a imagem mental de um alimento. Essa experiência 
alucinatória em que o objeto desejado é apresentado na 
forma de uma imagem de memória é chamada de 
realização do desejo. O melhor exemplo do processo 
primário nas pessoas normais é o sonho noturno, que 
Freud acreditava representar sempre a realização ou a 
tentativa de realização de um desejo. As alucinações e as 
visões dos pacientes psicóticos também são exemplos do 
processo primário. O pensamento autista ou veleitário é 
altamente colorido pela ação do processo primário. Essas 
imagens mentais de realização do desejo são a única 
realidade conhecida pelo id. Obviamente, o processo 
primário sozinho não é capaz de reduzir a tensão. A 
pessoa faminta não pode comer as imagens mentais de 
comida. Consequentemente, desenvolve-se um processo 
psicológico novo ou secundário. Quando isso ocorre, a 
estrutura do segundo sistema da personalidade, o ego, 
começa a tomar forma. 
 
O Ego 
 
O ego passa a existir porque as necessidades do 
organismo requerem transações apropriadas com o 
mundo objetivo da realidade. A pessoa faminta tem de 
buscar, encontrar e comer o alimento para que a tensão 
da fome seja eliminada. Isso significa que a pessoa precisa 
aprender a diferenciar entre uma imagem mnemônica do 
alimento e uma percepção real do alimento conforme ele 
existe no mundo externo. Tendo feito essa diferenciação 
crucial, é necessário converter a imagem em uma 
percepção, o que se consegue localizando-se o alimento 
no ambiente. Em outras palavras, a pessoa compara a 
imagem mnemônica do alimento com a visão ou com o 
aroma do alimento conforme lhe chegam pelos sentidos. 
A distinção básica entre o id e o ego é que o id só conhece 
a realidade subjetiva da mente, ao passo que o ego 
distingue as coisas na mente das coisas no mundo 
externo. 
Dizemos que o ego obedece ao princípio da realidade 
e opera por meio do processo secundário. O objetivo do 
princípio da realidade é evitar a descarga de tensão até 
ser descoberto um objeto apropriado para a satisfação da 
necessidade. O princípio da realidade suspende 
temporariamente o princípio do prazer, mas o princípio 
do prazer é eventualmente atendido quando o objeto 
necessário é encontrado e quando a tensão é então 
reduzida. O princípio da realidade pergunta se uma 
experiência é verdadeira ou falsa – isto é, se tem existência 
externa ou não – enquanto o princípio do prazer só quer 
saber se a experiência é dolorosa ou prazerosa. 
O processo secundário é pensamento realista. Por 
meio do processo secundário, p ego formula um plano 
para a satisfação da necessidade e depois testa-o, 
normalmente com algum tipo de ação, para ver se ele vai 
funcionar ou não. A pessoa faminta pensa sobre onde 
pode encontrar comida e depois segue para aquele lugar. 
Isso é chamado de teste de realidade. Para desempenhar 
seu papel eficientemente, o ego tem controle sobre todas 
as funções cognitivas e intelectuais; esses processos 
mentais superiores são colocados a serviço do processo 
secundário. 
Afirmamos que o ego é o executivo da personalidade 
porque ele controla o acesso à ação, seleciona as 
características do ambiente às quais irá responder e 
decide que instintos serão satisfeitos e de que maneira. 
Ao realizar essas funções executivas imensamente 
importantes, o ego precisa tentar integrar as demandas 
muitas vezes conflitantes do id, do superego e do mundo 
externo. Essa não é uma tarefa fácil e em geral coloca 
grande tensão sobre o ego. 
Mas devemos lembrar que o ego é a porção 
organizada do id, que passa a existir para atingir os 
objetivos do id e não para frustrá-los, e que todo o seu 
poder se deriva do id. Ele não existe separadamente do 
id, e nunca se torna completamente independente dele. 
Seu principal papel é o de mediador entre as exigências 
instintuais do organismo e as condições do ambiente 
circundante; seusobjetivos supra ordenados são: manter 
a vida do indivíduo e assegurar que a espécie se 
reproduza. Freud certa vez resumiu o quinhão dizendo 
HALL, LINDZEY & CAMPBELL 
5 
 
que ele tinha “três duros senhores”: o id, a realidade 
externa e o superego. 
 
O superego 
 
O terceiro e último sistema da personalidade a se 
desenvolver é o superego. Ele é o representante interno 
dos valores tradicionais e dos ideais da sociedade 
conforme interpretados para a criança pelos pais e 
impostos por um sistema de recompensas e punições. 
O superego é a força moral da personalidade. Ele 
representa o ideal mais do que o real e busca a perfeição 
mais do que o prazer. Sua principal preocupação é decidir 
se uma atitude é certa ou errada, para poder agir de 
acordo com os padrões morais autorizados pelos agentes 
da sociedade. 
O superego, como árbitro moral internalizado de 
conduta, desenvolve-se em resposta às recompensas e 
punições impostas pelos pais. Para obter as recompensas 
e evitar os castigos, a criança aprende a orientar seu 
comportamento de acordo com os pais. Tudo o que eles 
dizem ser impróprio e, por isso, castigam a criança por 
fazer, tende a ser incorporado à sua consciência, que é um 
dos dois subsistemas do superego. Tudo o que eles 
aprovam e, por isso, recompensam a criança por fazer, 
tende a ser incorporado ao seu ideal do ego, o outro 
subsistema do superego. O mecanismo pelo qual ocorre 
essa incorporação é chamado de introjeção. A criança 
absorve ou introjeta os padrões morais dos pais: A 
consciência pune a pessoa, fazendo-a sentir-se culpada; 
o ideal do ego recompensa a pessoa, fazendo-a sentir-se 
orgulhosa. Com a formação do superego, o autocontrole 
substitui o controle parental. 
As principais funções do superego são (1) inibir os 
impulsos do Id, especialmente aqueles de natureza sexual 
ou agressiva, uma vez que estes são os impulsos cuja 
expressão é mais condenada pela sociedade; (2) persuadir 
o ego a substituir objetivos realistas por objetivos 
moralistas; e (3) buscar a perfeição. Isto é, o superego está 
inclinado a se opor tanto ao id quanto ao ego e a reformar 
o mundo segundo sua própria imagem. Entretanto, ele é 
como o id ao ser não-racional e como o ego ao tentar 
exercer controle sobre os instintos. Diferentemente do 
ego, o superego não se satisfaz em adiar a gratificação 
instintiva; ele tenta bloqueá-la permanentemente. (Uma 
análise histórica do superego foi feita por Turiell, 1967.) 
Nós concluímos essa breve descrição dos três sistemas 
da personalidade salientando que o id, o ego e o 
superego não devem ser pensados como homúnculos 
que operam a personalidade. Eles são apenas nomes para 
vários processos psicológicos que obedecem a diferentes 
princípios de sistemas. Em circunstâncias comuns, esses 
diferentes princípios não colidem um com o outro e nem 
têm propósitos opostos. Pelo contrário, eles trabalham 
juntos, como uma equipe, sob a liderança administrativa 
do ego. A personalidade normalmente funciona como um 
todo, e não como três segmentos separados. De maneira 
muito geral, o id pode ser pensado como o componente 
biológico da personalidade, o ego como o componente 
psicológico e o superego como o componente social. 
 
A DINÂMICA DA PERSONALIDADE 
 
Freud foi educado sob a influência da filosofia 
fortemente determinista e positivista do século XIX. Ele 
considerava o organismo humano como um sistema 
complexo de energia que era obtida do alimento 
consumido e que gastava uma quantidade limitada de 
energia em propósitos variados como circulação, 
respiração, exercício muscular, perceber, pensar e 
lembrar. Freud não via nenhuma razão para supor que a 
energia que fornece o poder para respirar ou digerir fosse 
diferente, salvo em forma, da energia que fornece o poder 
para pensar e lembrar. Afinal de contas, como insistiam 
firmemente os físicos do século XIX, a energia tinha de ser 
definida em termos do trabalho que realiza. Se o trabalho 
consiste em uma atividade psicológica como pensar, é 
perfeitamente legítimo, acreditava Freud, chamar essa 
forma de energia de energia psíquica. Segundo a doutrina 
da conservação da energia, ela pode ser transformada de 
um estado para outro, mas nunca se perde no sistema 
cósmico total. Disso decorre que a energia psíquica pode 
ser transformada em energia fisiológica e vice-versa. O 
ponto de contato ou a ponte entre a energia do corpo e 
a da personalidade é o id e seus instintos. 
 
Instinto 
 
Um instinto é definido como uma representação 
psicológica inata de uma fonte somática interna de 
excitação. A representação psicológica é chamada de 
desejo, e a excitação corporal da qual se origina é 
chamada de necessidade. Assim, o estado de fome pode 
ser descrito em termos fisiológicos como uma condição 
de déficit nutricional nos tecidos do corpo, ao passo que 
psicologicamente ela é representada como um desejo de 
alimento. O desejo age como um motivo para o 
comportamento. A pessoa faminta busca o alimento. Por 
isso, os instintos são considerados os fatores propulsores 
da personalidade. Eles não só impulsionam o 
comportamento, mas também determinam a direção que 
o comportamento tomará. Em outras palavras, um 
instinto exerce um controle seletivo sobre a conduta ao 
aumentar a sensibilidade da pessoa a tipos específicos de 
HALL, LINDZEY & CAMPBELL 
6 
 
estimulação. A pessoa faminta é mais sensível aos 
estímulos alimentares e a pessoa sexualmente excitada 
tende mais a responder a estímulos eróticos. 
Parenteticamente, observamos que o organismo 
também pode ser ativado por estímulos do mundo 
externo. Mas Freud achava que essas fontes ambientais 
de excitação desempenham um papel menos importante 
na dinâmica da personalidade do que os instintos inatos. 
Em geral, os estímulos externos fazem menos exigências 
ao indivíduo e requerem formas menos complicadas de 
ajustamento do que as necessidades. Sempre podemos 
fugir de um estímulo externo, mas é impossível fugir de 
uma necessidade. Embora Freud relegasse os estímulos 
ambientais a um lugar secundário, ele não negava a sua 
importância sob certas condições. Por exemplo, uma 
excessiva estimulação durante os primeiros anos de vida, 
quando o ego imaturo não é capaz de reunir grandes 
quantidades de energia livre (tensão), pode ter efeitos 
drásticos sobre a personalidade, como veremos quando 
examinarmos a teoria de Freud sobre a ansiedade. 
Um instinto é um quantum de energia psíquica ou, 
como Freud colocou, “uma medida da exigência feita à 
mente para trabalhar” (1905a, p. 168). Todos os instintos 
tomados juntos constituem a soma total de energia 
psíquica disponível para a personalidade. Como 
salientamos previamente, o id é o reservatório dessa 
energia e é também a sede dos instintos. Ele pode ser 
considerado um dínamo que fornece a energia 
psicológica para as múltiplas operações da 
personalidade. Essa energia deriva-se, é claro, dos 
processos metabólicos do corpo. 
Um instinto tem quatro aspectos característicos: uma 
fonte, uma meta, um objeto e um ímpeto. A fonte já foi 
definida como uma condição corporal ou uma 
necessidade. A meta é a remoção da excitação corporal. 
A meta do instinto de fome, por exemplo, é abolir a 
deficiência nutricional, o que conseguimos, 
evidentemente, comendo o alimento. Todas as atividades 
que intervêm entre o aparecimento do desejo e sua 
realização são agrupadas sob o nome de objeto. Isto é, o 
objeto se refere não só à ou à condição específica que vai 
satisfazer a necessidade, mas inclui também todos os 
comportamentos que acontecempara assegurar a coisa 
ou a condição necessária. Por exemplo, quando uma 
pessoa está com fome, ela normalmente tem de realizar 
algumas ações antes de atingir a meta final de comer. 
O ímpeto de um instinto é a sua força, determinada 
pela intensidade da necessidade subjacente. À medida 
que aumenta a deficiência nutricional, até o ponto em que 
se instala uma fraqueza física, a força do instinto aumenta 
correspondentemente. 
Vamos considerar brevemente algumas das 
implicações nessa maneira de conceitualizar um instinto. 
Em primeiro lugar, o modelo oferecido por Freud é um 
modelo de redução de tensão. O comportamento de uma 
pessoa é ativado por irritantes internos e cessa quando 
uma ação apropriada remove ou diminui a irritação. Isso 
significa que a meta de um instinto tem um caráter 
essencialmente regressivo, uma vez que faz a pessoa 
retornar a um estado anterior um estado que existia antes 
de o instinto aparecer. Esse estado anterior ao qual a 
personalidade retorna é de relativa tranquilidade. 
Também dizemos que um instinto é conservador, porque 
sua meta é conservar o equilíbrio do organismo, abolindo 
as excitações perturbadoras. 
Assim, podemos descrever um instinto como um 
processo que repete, tão frequentemente quanto 
aparece, um ciclo de eventos que se inicia com a excitação 
e termina com o repouso. Freud chamou esse aspecto do 
instinto de com pulsão à repetição. A personalidade é 
compelida a repetir interminavelmente o inevitável ciclo 
da excitação à tranquilidade. (O termo compulsão à 
repetição também é empregado para descrever o 
comportamento perseverante que ocorre quando os 
meios adotados para satisfazer a necessidade não são 
completamente apropriados. Uma criança pode 
perseverar chupando o dedo, quando está com fome.) 
Segundo a teoria freudiana dos instintos, a fonte e a 
meta de um instinto permanecem constantes por toda a 
vida, a menos que a fonte seja modificada ou eliminada 
pelo amadurecimento físico. Novos instintos podem 
aparecer à medida que se desenvolvem novas 
necessidades corporais. Ao contrário dessa constância de 
fonte e meta, o objeto ou os meios pelos quais a pessoa 
tenta satisfazer a necessidade podem variar e realmente 
variam consideravelmente durante o tempo de vida da 
pessoa. Tal variação na escolha do objeto torna-se 
possível porque a energia psíquica é deslocável: ela pode 
ser gasta de várias maneiras. Consequentemente, se um 
objeto não está disponível, ou por estar ausente ou pela 
presença de barreiras dentro da personalidade, a energia 
pode ser investida em outro objeto. Se esse objeto 
também se mostrar inacessível, pode ocorrer outro 
deslocamento, e assim por diante, até ser encontrado um 
objeto disponível. Em outras palavras, os objetos podem 
ser substituídos, o que definitivamente não acontece com 
a fonte ou a meta de um instinto. 
Quando a energia de um instinto é investida de modo 
mais ou menos permanente em um objeto substituto, isto 
é, um que não é o objeto original e inatamente 
determinado, o comportamento resultante é chamado de 
derivado instintual. Assim, se a primeira escolha de objeto 
do bebê for a manipulação dos próprios órgãos sexuais e 
HALL, LINDZEY & CAMPBELL 
7 
 
ele for forçado a desistir desse prazer em favor de formas 
mais inócuas de estimulação corporal, como chupar o 
polegar ou brincar com os dedos dos pés, as atividades 
substitutas são derivados do instinto sexual. A meta do 
instinto sexual não muda quando ocorre uma 
substituição; a meta buscada ainda é a da gratificação 
sexual. 
O deslocamento de energia de um objeto para outro 
é o aspecto mais importante da dinâmica da 
personalidade. Ele explica a aparente plasticidade da 
natureza humana e a notável versatilidade do 
comportamento humano. Praticamente todos os 
interesses, preferências, gostos, hábitos e atitudes adultas 
representam os deslocamentos de energia das escolhas 
de objeto instintuais originais. Eles são quase todos 
derivados instintuais. A teoria de Freud da motivação 
baseava-se solidamente na suposição de que os instintos 
são as únicas fontes de energia para o comportamento 
humano. Nós teremos muito mais a dizer sobre o 
deslocamento em seções subsequentes deste capítulo. 
 
Número e Tipos de Instintos 
 
Freud não tentou fazer uma lista de instintos porque 
sentiu que não sabíamos o suficiente sobre os estados 
corporais dos quais os instintos dependem. A 
identificação dessas necessidades orgânicas é uma tarefa 
para o fisiologista, não para o psicólogo. Embora Freud 
não pretendesse saber quantos instintos existem, ele 
realmente supunha que todos podiam ser classificados 
sob dois títulos gerais, os instintos de vida e os instintos 
de morte. 
Os instintos de vida servem ao propósito da 
sobrevivência individual e da propagação racial. A fome, 
a sede e o sexo se enquadram nessa categoria. A forma 
de energia pela qual os instintos de vida realizam sua 
tarefa é chamada de libido. 
O instinto de vida ao qual Freud prestou mais atenção 
é o do sexo, e, nos primeiros anos da psicanálise, quase 
tudo o que a pessoa fazia era atribuído a esta pulsão 
ubíqua (Freud, 1905a). Na verdade, o instinto sexual não 
é um único instinto, mas muitos. Isto é, existem várias 
necessidades corporais separadas que originam os 
desejos eróticos. Cada um desses desejos tem sua fonte 
em uma região corporal diferente, referidas 
coletivamente como zonas erógenas. Uma zona erógena 
é uma parte da pele ou da membrana mucosa que é 
extremamente sensível à irritação e que, quando 
manipulada de certa maneira, remove a irritação e produz 
sentimentos prazerosos. Os lábios e a cavidade oral 
constituem uma dessas zonas erógenas, a região anal 
outra, e os órgãos sexuais uma terceira. Sugar produz 
prazer oral, a eliminação provoca prazer anal, e massagear 
ou esfregar traz prazer genital. Na infância, os instintos 
sexuais são relativamente independentes uns dos outros, 
mas, quando a pessoa atinge a puberdade, eles tendem a 
se fundir e a servir conjuntamente à meta da reprodução. 
Os instintos de morte ou, como Freud às vezes os 
chamava, os instintos destrutivos, realizam seu trabalho 
muito menos conspicuamente do que os instintos de vida. 
Por essa razão, pouco sabemos sobre eles, a não ser que 
inevitavelmente cumprem a sua missão. Todas as pessoas 
seguramente morrem, um fato que levou Freud a 
formular seu famoso ditado: “a meta de toda vida é a 
morte” (1920a, P. 38). Freud supunha especificamente que 
a pessoa tinha um desejo, geralmente inconsciente, é 
claro, de morrer. Ele não tentou identificar as fontes 
somáticas dos instintos de morte, embora possamos 
especular se residem nos processos catabólicos, ou de 
decomposição, do corpo. Ele também não deu nome à 
energia pela qual os instintos de morte executam seu 
trabalho. 
A suposição de Freud de um desejo de morte baseia-
se no princípio de constância conforme formulado por 
Fechner. Esse princípio afirma que todos os processos 
vivos tendem a retornar à estabilidade do mundo 
inorgânico. Em Além do Princípio do Prazer (1920a), Freud 
apresentou o seguinte argumento em favor do conceito 
do desejo de morte. A matéria viva se desenvolveu, pela 
ação das forças cósmicas, sobre a matéria inorgânica. A 
princípio, essas mudanças eram extremamente instáveis e 
rapidamente revertiam ao seu estado inorgânico anterior. 
Mas gradualmente a duração da vida aumentou devido a 
mudanças evolutivas no mundo, mas essas formas 
animadas instáveis eventualmente regressavam à 
estabilidade da matéria inanimada. Com o 
desenvolvimento dos mecanismosreprodutivos, os seres 
vivos conseguiram reproduzir sua própria espécie e não 
dependiam mais de serem criados do mundo inorgânico. 
Mas, mesmo com esse avanço, cada membro da espécie 
inevitavelmente obedecia ao princípio da constância, uma 
vez que este era o princípio que governava sua existência 
quando ele fora dotado de vida. A vida, dizia Freud, era 
apenas um caminho indireto para a morte. Arrancada de 
sua existência estável, a matéria orgânica tenta voltar a 
um estado de tranquilidade. O desejo de morte no ser 
humano é a representação psicológica do princípio da 
constância. 
Um derivado importante dos instintos de morte é a 
pulsão agressiva. A agressividade é a autodestruição 
voltada para fora, contra objetos substitutos. Uma pessoa 
briga com outras e é destrutiva porque o desejo de morte 
está bloqueado pelas forças dos instintos de vida e por 
outros obstáculos na personalidade que agem contra os 
HALL, LINDZEY & CAMPBELL 
8 
 
instintos de morte. Foi necessária a Primeira Guerra 
Mundial de 1914-1918 para convencer Freud de que a 
agressão era um motivo tão soberano quanto o sexo. 
(Essa visão de que a Grande Guerra estimulou o interesse 
de Freud pela agressão foi contestada por Stepansky, 
1977). 
Os instintos de vida e de morte e seus derivados 
podem se fundir, neutralizar um ao outro, ou substituir 
um ao outro. Comer, por exemplo, representa uma fusão 
da fome e da destrutividade que é satisfeita por morder, 
mastigar e engolir o alimento. O amor, um derivado do 
instinto sexual, pode neutralizar o ódio, um derivado do 
instinto de morte. Ou o amor pode substituir o ódio, ou o 
ódio, o amor. Uma vez que os instintos contêm toda a 
energia pela qual os três sistemas da personalidade 
realizam o seu trabalho, examinemos agora como o id, o 
ego e o superego controlam e utilizam a energia psíquica. 
 
A Distribuição e a Utilização da Energia Psíquica 
 
A dinâmica da personalidade consiste na maneira pela 
qual a energia psíquica é distribuída e utilizada pelo id, 
ego e superego. Uma vez que a quantidade de energia é 
uma quantidade limitada, existe uma competição entre os 
três sistemas pela energia disponível. Um sistema obtém 
controle da energia disponível à custa dos dois outros 
sistemas. À medida que um sistema se torna mais forte, 
os outros dois necessariamente se tornam mais fracos, a 
menos que uma nova energia seja acrescentada ao 
sistema total. Originalmente o id possui toda a energia e 
a utiliza para a ação reflexa e para a realização do desejo 
por meio do processo primário. Ambas as atividades 
estão a serviço direto do princípio do prazer, pelo qual o 
id opera. O investimento de energia em uma ação ou 
imagem que vai gratificar um instinto é chamado de 
escolha objetal ou catexia objetal. 
A energia do id está em um estado muito fluido, o que 
significa que ela pode ser facilmente desviada de uma 
ação ou imagem para outra ação ou imagem. A qualidade 
deslocável dessa energia instintual se deve à 
incapacidade do id de fazer discriminações sutis entre os 
objetos. Os objetos diferentes são tratados como se 
fossem o mesmo. O bebê faminto, por exemplo, vai pegar 
qualquer objeto que puder agarrar e o levará aos lábios. 
Uma vez que o ego não tem nenhuma fonte de 
energia própria, ele precisa tomá-la emprestada do id. O 
desvio da energia do id para os processos que constituem 
o ego faz-se por meio de um mecanismo conhecido como 
identificação. Esse é um dos conceitos mais importantes 
na psicologia freudiana, e um dos mais difíceis de 
entender. Podemos lembrar, de uma discussão prévia, 
que o id não distingue entre imagem subjetiva e realidade 
objetiva. Quando ele investe energia psíquica na imagem 
de um objeto, é o mesmo que investir no próprio objeto. 
Entretanto, se uma imagem mental não pode satisfazer 
uma necessidade, a pessoa é forçada a diferenciar entre o 
mundo da mente e o mundo externo. Ela precisa aprender 
a diferença entre uma memória ou ideia de um objeto que 
não está presente e uma impressão ou percepção 
sensorial de um objeto que está presente. Então, a fim de 
satisfazer a necessidade, a pessoa tem de aprender a 
comparar o que está em sua mente ao seu equivalente no 
mundo externo, por meio do processo secundário. Essa 
comparação de uma representação mental com a 
realidade física, de algo que está na mente com algo que 
está no mundo externo, é o que queremos dizer como 
identificação. 
Já que o Id não faz distinção entre os conteúdos da 
mente, sejam eles percepções, imagens mnemônicas, 
ideias ou alucinações, pode ser feita uma catexia 
(investimento) em uma percepção realista tão facilmente 
quanto em uma imagem mnemônica de realização de 
desejo. Dessa maneira, a energia se desviados processos 
psicológicos puramente subjetivos do id para os 
processos objetivos, lógicos, ideacionais do ego. Em 
ambos os casos, a energia é usada para propósitos 
estritamente psicológicos, mas, no caso do id, não é feita 
nenhuma distinção entre o símbolo mental e o referente 
físico, ao passo que, no caso do ego, essa distinção é feita. 
O ego tenta fazer com que o símbolo represente 
acuradamente o referente. Em outras palavras, a 
identificação permite que o processo secundário 
substitua ou suplante o processo primário. Já que o 
processo secundário é tão mais satisfatório para reduzir 
tensões, formam-se mais e mais catexias de ego. 
Gradualmente, o ego mais eficiente obtém um monopólio 
virtual sobre a reserva de energia psíquica. Esse 
monopólio, entretanto, é apenas relativo, porque, se o 
ego deixa de satisfazer os instintos, o id retoma seu 
poder. 
Uma vez que o ego armazenou energia suficiente, 
pode usá-la para outros propósitos além do da 
gratificação dos instintos pelo processo secundário. Parte 
da energia é usada para levar a um nível superior de 
desenvolvimento vários processos psicológicos, tais 
como perceber, lembrar, julgar, discriminar, abstrair, 
generalizar e raciocinar. Parte da energia tem de ser usada 
pelo ego para impedir o id de agir impulsiva e 
irracionalmente. Essas forças restritivas são conhecidas 
como anticatexia, em distinção às forças pulsionais ou 
catexias. A medida que o id se torna muito ameaçador, o 
ego erige defesas contra ele. Esses mecanismos de defesa, 
que serão discutidos em uma seção posterior, também 
podem ser usados para lidar com as pressões do 
HALL, LINDZEY & CAMPBELL 
9 
 
superego sobre o ego. Para a manutenção dessas defesas, 
é necessária energia, evidentemente. 
A energia do ego também pode ser deslocada para 
criar novas catexias objetais, de modo que se forma no 
ego uma verdadeira rede de interesses, atitudes e 
preferências derivadas. Essas catexias do ego podem não 
satisfazer diretamente as necessidades básicas do 
organismo, mas estão conectadas por vínculos 
associativos a objetos que satisfazem. A energia da pulsão 
da fome, por exemplo, pode desdobrar-se para incluir 
catexias como o interesse por colecionar receitas, 
frequentar restaurantes exóticos e vender porcelana. Tal 
desdobramento de catexias em canais que estão apenas 
remotamente conectados com o objeto original do 
instinto é possibilitado pela maior eficiência do ego ao 
realizar sua função fundamental de gratificar os instintos. 
O ego tem um excedente de energia para usar para 
outros propósitos. 
Finalmente, o ego, como o executivo da organização 
da personalidade, usa a energia para efetuar uma 
integração entre os três sistemas. O propósito dessa 
função integrativa do ego é produzir uma harmonia 
interna dentro da personalidade, de modo que as 
transaçõesdo ego com o ambiente possam ser feitas 
tranquila e efetivamente. 
O mecanismo de identificação também explica a 
energização do sistema do superego. Essa, também, é 
uma questão complexa, e ocorre da seguinte maneira. 
Entre as primeiras catexias objetais do bebê estão as dos 
pais. As catexias se desenvolvem cedo e entrincheiram-se 
firmemente, porque o bebê é completamente 
dependente dos pais ou de substitutos dos pais para a 
satisfação de necessidades. Os pais também 
desempenham o papel de agentes disciplinares: eles 
ensinam à criança o código moral e os ideais e valores 
tradicionais da sociedade em que a criança é criada. Eles 
fazem isso recompensando a criança quando ela 
apresenta a atitude certa e punindo-a quando está errada. 
Uma recompensa é qualquer fato ou objeto que reduza a 
tensão ou prometa isso. Um pedaço de chocolate, um 
sorriso ou uma palavra gentil podem ser uma recompensa 
efetiva. Uma punição é qualquer elemento que aumente 
a tensão. Pode ser um tapa, um olhar desaprovador ou a 
negação de um prazer. Assim, a criança aprende a 
identificar, isto é, a comparar seu comportamento com as 
sanções e as proibições impostas pelos pais. A criança 
introjeta os imperativos morais dos pais em virtude das 
catexias originais que fez neles como agentes que 
satisfazem necessidades. Ela investe energia em seus 
ideais e estes se tornam o seu ideal de ego; ela investe 
energia em suas proibições e estas se tornam a sua 
consciência. Assim, o superego ganha acesso ao 
reservatório de energia no id por meio da identificação da 
criança com os pais. 
O trabalho realizado pelo superego frequentemente, 
mas nem sempre, é na direção oposta aos impulsos do id. 
Isso acontece porque o código moral representa a 
tentativa da sociedade de controlar e até de inibir a 
expressão das pulsões primitivas, especialmente as do 
sexo e da agressão. Ser bom geralmente significa ser 
obediente e não fazer nem dizer “coisas feias”. Ser mau 
significa ser desobediente, rebelde e lascivo. A pessoa 
virtuosa inibe seus impulsos; a pessoa pecadora os 
satisfaz. Mas o superego pode às vezes ser corrompido 
pelo id. Isso acontece, por exemplo, quando alguém, em 
um ataque de fervor moralista, toma medidas agressivas 
contra aqueles considerados maus ou pecadores. A 
expressão da agressão nesses casos é coberta pelo manto 
de honrada indignação. 
Depois que a energia fornecida pelos instintos foi 
canalizada para o ego e o superego pelos mecanismos de 
identificação, torna-se possível uma complicada interação 
de forças pulsionais e restritivas. O Id, podemos lembrar, 
só possui forças pulsionais ou catexias, ao passo que a 
energia do ego e do superego é usada tanto para 
satisfazer quanto para frustrar as metas instintuais. O ego 
tem de supervisionar tanto o id quanto o superego para 
poder governar sabiamente a personalidade; no entanto, 
ele precisa que lhe reste energia suficiente para realizar a 
interação necessária com o mundo externo. Se o id 
mantém o controle sobre uma grande parcela da energia, 
o comportamento da pessoa tende a ter um caráter 
impulsivo e primitivo. Por outro lado, se o superego 
obtém o controle de uma quantidade indevida de 
energia, o funcionamento da personalidade será 
dominado por considerações moralistas em vez de 
realistas. As anticatexias da consciência podem amarrar o 
ego com nós moralistas e impedir qualquer tipo de ação, 
enquanto as catexias do ideal de ego podem estabelecer 
padrões tão elevados para o ego que a pessoa vai se 
sentir continuamente frustrada e pode eventualmente 
desenvolver um sentimento depressivo de fracasso. 
As mudanças de energia súbitas e imprevisíveis de um 
sistema para outro e de catexias para anticatexias são 
comuns, especialmente durante as duas primeiras 
décadas de vida, antes que a distribuição de energia 
tenha se tomado mais ou menos estabilizada. Essas 
mudanças de energia mantêm a personalidade em um 
estado de fluxo dinâmico. Freud era pessimista em 
relação às chances de a psicologia se tornar uma ciência 
exata porque, como ele salientava, até uma mudança 
muito pequena na distribuição da energia poderia fazer a 
balança pender em favor de uma forma de 
comportamento e não da oposta (Freud, 1920b). Quem 
HALL, LINDZEY & CAMPBELL 
10 
 
pode dizer se a pessoa em pé no parapeito da janela vai 
pular ou não, ou se o atacante do time de futebol vai 
falhar ou conseguir fazer o gol e obter a vitória? 
Na análise final, a dinâmica da personalidade consiste 
na interação das forças pulsionais (catexias) e das forças 
restritivas (anticatexias). Todos os conflitos da 
personalidade podem ser reduzidos à oposição entre 
esses dois conjuntos de forças. Toda tensão prolongada 
se deve à oposição entre uma força pulsional e uma força 
restritiva. Seja uma anticatexia do ego oposta a uma 
catexia do id ou uma anticatexia da superego oposta a 
uma catexia do ego, o resultado em termos de tensão é o 
mesmo. Como Freud gostava de dizer, a psicanálise é 
“uma (concepção) dinâmica, que investiga a vida mental 
na interação entre forças que favorecem ou inibem uma 
à outra” (1910b, p. 213). 
 
Ansiedade 
 
A dinâmica da personalidade é em grande extensão 
governada pela necessidade de gratificar as próprias 
necessidades por meio de transações com objetos no 
mundo externo. O ambiente circundante provê o 
organismo faminto com alimento, e o sedento, com água. 
Além de seu papel como fonte dos suprimentos, o mundo 
externo desempenha um outro papel importante como 
moldador do destino da personalidade. O ambiente 
contém regiões de perigo e insegurança; ele pode 
ameaçar, assim como satisfazer O ambiente temo poder 
de produzir dor e aumentar a tensão, assim como de 
trazer prazer e reduzir a tensão. Ele perturba, assim como 
conforta. 
Sentir medo é a reação costumeira do indivíduo às 
ameaças externas de dor e destruição com as quais não 
está preparado para lidar. A pessoa ameaçada 
normalmente é uma pessoa com medo. Esmagado pela 
estimulação excessiva que não consegue controlar, o ego 
é inundado pela ansiedade. 
Freud reconheceu três tipos de ansiedade: ansiedade 
de realidade, ansiedade neurótica e ansiedade moral, ou 
sentimentos de culpa (1926b). O tipo básico é a ansiedade 
de realidade, ou o medo de perigos reais no mundo 
externo; dele se derivam os outros dois. A ansiedade 
neurótica é o medo de que os instintos escapem ao 
controle e levem a pessoa a tomar alguma atitude pela 
qual ela será punida. A ansiedade neurótica não é tanto o 
medo dos próprios instintos quanto o medo da punição 
que provavelmente se seguirá à gratificação instintual. A 
ansiedade neurótica tem uma base na realidade, porque 
o mundo, conforme representado pelos pais e outras 
autoridades, realmente pune a criança por ações 
impulsivas, A ansiedade moral é o medo da consciência. 
As pessoas com superegos bem-desenvolvidos tendem a 
sentir culpa quando praticam algum ato ou, inclusive, 
quando pensam em fazer alguma ação contrária ao 
código moral pelo qual foram criadas. Dizemos que são 
aprisionadas pela consciência. A ansiedade moral 
também tem uma base realista, pois a pessoa foi punida 
no passado por violar o código moral e pode ser punida 
novamente. 
A função da ansiedade é alertar a pessoa em relação a 
um perigo iminente; ela é um sinal para o ego de que, a 
menos que sejam tomadas medidas apropriadas, o perigo 
pode aumentar até o ego ser aniquilado. A ansiedade é 
um estado de tensão; é uma pulsão como a fome ou o 
sexo, mas, em vez de surgir das condições tissulares 
internas, é produzida originalmentepor causas externas. 
Quando a ansiedade é despertada, ela motiva a pessoa a 
fazer algo. Ela pode fugir da região ameaçadora, inibir o 
impulso perigoso ou obedecer à voz da consciência. 
A ansiedade que não pode ser manejada com medidas 
efetivas é chamada de traumática. Ela reduz a pessoa a 
um estado de desamparo infantil. De fato, o protótipo de 
toda ansiedade posterior é o trauma do nascimento. O 
neonato é bombardeado com estímulos do mundo para 
os quais não está preparado e aos quais não consegue se 
adaptar. O bebê precisa de um ambiente protegido até o 
ego ter tido a chance de se desenvolver a ponto de 
conseguir dominar os fortes estímulos do ambiente. 
Quando o ego não consegue lidar com a ansiedade por 
métodos racionais, ele tende recorrer a métodos 
irrealistas. Esses métodos são os chamados mecanismos 
de defesa do ego, que serão discutidos na seção seguinte. 
 
O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE 
 
Freud foi provavelmente o primeiro teórico da 
psicologia a enfatizar os aspectos desenvolvimentais da 
personalidade e em particular o papel decisivo dos 
primeiros anos do período de bebê e da infância como 
formadores da estrutura de caráter básica da pessoa. Na 
verdade, Freud considerava que a personalidade já estava 
muito bem formada pelo final do quinto ano de vida e 
que o desenvolvimento subsequente era praticamente só 
a elaboração dessa estrutura básica. Ele chegou a essa 
conclusão com base em suas experiências com pacientes 
que se submetiam à psicanálise. Inevitavelmente, suas 
explorações mentais os levavam de volta a experiências 
da infância inicial que pareciam decisivas para o 
desenvolvimento de uma neurose mais tarde na vida. 
Freud acreditava que “a criança é o pai do homem”. É 
interessante, em vista de sua forte preferência por 
explicações genéticas do comportamento adulto, que 
Freud raramente tenha estudado as crianças pequenas 
HALL, LINDZEY & CAMPBELL 
11 
 
diretamente. Ele preferia reconstruir a vida passada da 
pessoa a partir de evidências fornecidas por lembranças 
adultas. 
A personalidade se desenvolve em resposta a quatro 
fontes importantes de tensão: (1) processos de 
crescimento fisiológico, (2) frustrações, (3) conflitos e (4) 
ameaças. Como uma consequência direta de aumentos 
de tensão emanando dessas fontes, a pessoa é forçada a 
aprender novos métodos de reduzir a tensão. Tal 
aprendizagem é o que seria o desenvolvimento da 
personalidade. (Para uma lúcida discussão da teoria de 
Freud da aprendizagem, ver Hilgard & Bower, 1975.) 
A identificação e o deslocamento são dois métodos 
pelos quais o indivíduo aprende a resolver as frustrações, 
os conflitos e as ansiedades. 
 
Identificação 
 
O conceito de identificação foi introduzido em uma 
seção anterior para ajudar a explicar a formação do ego e 
do superego. No presente contexto, a identificação pode 
ser definida como o método pelo qual alguém assume as 
características de outra pessoa e torna-as uma parte 
integrante de sua personalidade. Ela aprende a reduzir a 
tensão modelando o próprio comportamento segundo o 
de outra pessoa. Freud preferia o termo identificação ao 
termo imitação, mais familiar. Ele achava que imitação 
denota uma espécie de comportamento de copiar 
superficial e temporário, e queria uma palavra que 
transmitisse a ideia de uma aquisição mais ou menos 
permanente da personalidade. 
Nós escolhemos como modelos aqueles indivíduos 
que nos parecem mais bem-sucedidos do que nós na 
gratificação das próprias necessidades. A criança se 
identifica com os pais porque eles parecem ser 
onipotentes, pelo menos durante os anos da infância 
inicial. À medida que as crianças crescem, encontram 
outras pessoas com as quais se identificar, pessoas cujas 
realizações estão mais de acordo com seus atuais desejos. 
Cada período tende a ter suas figuras de identificação 
características. Nem é preciso dizer que a maioria dessas 
identificações ocorre inconscientemente e não, como 
pode parecer, com intenção consciente. 
Não é necessário que uma pessoa se identifique com 
outra em todos os aspectos. Geralmente selecionamos e 
incorporamos apenas aquelas características que 
acreditamos que vão nos ajudar a atingir um objetivo 
desejado. Existe muita tentativa e erro no processo de 
identificação, porque geralmente não temos certeza do 
que existe na outra pessoa que explica o seu sucesso. O 
teste supremo é se a identificação ajuda a reduzir a 
tensão; se ajuda, aquela qualidade é absorvida; se não 
ajuda, ela é descartada. Podemos identificar-nos com 
animais, personagens imaginários, instituições, ideias 
abstratas e objetos inanimados, assim como com outros 
seres humanos. A identificação também é um método 
pelo qual podemos recuperar um objeto que foi perdido. 
Quando nos identificamos com uma pessoa amada que 
morreu ou de quem nos separamos, a pessoa perdida é 
reencarnada como uma característica incorporada da 
personalidade. As crianças que foram rejeitadas pelos pais 
tendem a formar sólidas identificações com eles na 
esperança de recuperar seu amor. Também podemos nos 
identificar com alguém por medo. A criança se identifica 
com as proibições dos pais a fim de evitar o castigo. Esse 
tipo de identificação é a base para a formação do 
superego. 
A estrutura final da personalidade representa um 
acúmulo de numerosas identificações feitas em vários 
períodos da vida da pessoa, embora a mãe e o pai 
provavelmente sejam as figuras de identificação mais 
fortes na vida de qualquer pessoa. 
 
Deslocamento 
 
Quando uma escolha de objeto original de um instinto 
se toma inacessível por barreiras externas ou internas 
(anticatexias), uma nova catexia se forma, a menos que 
ocorra uma forte repressão. Se essa nova catexia também 
é bloqueada, ocorre um outro deslocamento, e assim por 
diante, até ser encontrado um objeto que traga certo 
alívio para a tensão encurralada. Esse objeto é então 
catexizado até perder seu poder de reduzir a tensão, 
momento em que é instituída outra busca por um objeto 
apropriado. Durante toda a série de deslocamentos que 
constitui, em grande medida, o desenvolvimento da 
personalidade, a fonte e a meta do instinto permanecem 
constantes. É só o objeto que varia. 
Um objeto substituto raramente é tão satisfatório ou 
redutor de tensão quanto o objeto original, e quanto mais 
diferente for o objeto substituto do original, menos a 
tensão é reduzida. Em consequência de numerosos 
deslocamentos, vai-se acumulando uma grande tensão, 
que age como uma permanente força motivacional para 
o comportamento. A pessoa está constantemente 
buscando maneiras novas e melhores de reduzir a tensão. 
Isso explica a variabilidade e a diversidade do 
comportamento, assim como a inquietude humana. Por 
outro lado, a personalidade realmente se torna mais ou 
menos estabilizada com a idade, devido aos 
compromissos feitos entre as forças pulsionais dos 
instintos e as resistências do ego e do superego. 
Como escrevemos alhures: 
HALL, LINDZEY & CAMPBELL 
12 
 
“Os interesses, os apegos e todas as outras formas de 
motivos adquiridas persistem porque são até certo grau 
frustrantes, assim como satisfatórios. Eles persistem 
porque não produzem uma satisfação completa. . . Todo 
compromisso é ao mesmo tempo uma renúncia. A 
pessoa desiste de alguma coisa que realmente quer, mas 
não pode ter, e aceita uma segunda ou terceira melhor 
escolha que pode ter” (Hall, 1954, p. 104) 
Freud salientou que o desenvolvimento da civilização 
foi possível devido à inibição das escolhas objetais 
primitivas e ao desvioda energia instintual para canais 
socialmente aceitáveis e culturalmente criativos (1930). 
Um deslocamento que produz uma realização cultural 
superior é chamado de sublimação. Freud observou, em 
relação a isso, que o interesse de Leonardo da Vinci por 
pintar madonas era uma expressão sublimada de um 
desejo de intimidade com a mãe, de quem ele fora 
separado em tenra idade (1910a). Uma vez que a 
sublimação não resulta em uma satisfação completa, não 
mais que o deslocamento, sempre fica certa tensão 
residual. Essa tensão pode descarregar-se na forma de 
nervosismo ou inquietude, condições que Freud apontou 
como o preço que os seres humanos pagavam por seu 
status civilizado(1908). 
A direção tomada por um deslocamento é 
determinada por dois fatores: (1) a semelhança do objeto 
substituto com o original e (2) as sanções e as proibições 
impostas pela sociedade. O fator de semelhança é na 
verdade o grau em que os objetos são identificados na 
mente da pessoa. Leonardo pintava madonas em vez de 
camponesas ou aristocratas porque imaginava sua mãe 
mais parecida com uma madona do que com qualquer 
outro tipo de mulher. A sociedade, agindo por meio dos 
pais e de outras pessoas disciplinadoras, autoriza certos 
deslocamentos e proíbe outros. A criança aprende que é 
permitido chupar um pirulito, mas não o polegar. 
A capacidade de formar catexias objetais substitutas é 
o mecanismo mais poderoso para o desenvolvimento da 
personalidade. A complexa rede de interesses, 
preferências, valores, atitudes e apegos que caracterizam 
a personalidade do adulto humano é possibilitada pelo 
deslocamento. Se a energia psíquica não fosse deslocável 
e distributiva, não haveria nenhum desenvolvimento da 
personalidade. A pessoa seria meramente um robô 
mecânico, levada pelos instintos a executar padrões fixos 
de comportamento. 
 
Os Mecanismos de Defesa do Ego 
 
Sob a pressão de excessiva ansiedade, o ego às vezes 
é forçado a tomar medidas extremas para aliviar a 
pressão. Essas medidas são chamadas de mecanismos de 
defesa. As principais defesas são a repressão, a projeção, 
a formação reativa, a fixação e a regressão (Anna Freud, 
1946). Todos os mecanismos de defesa têm duas 
características em comum: (1) eles negam, falsificam ou 
distorcem a realidade e (2) eles operam 
inconscientemente, de modo que a pessoa não tem 
consciência do que está acontecendo. 
 
Repressão 
 
Este é um dos primeiros conceitos da psicanálise. 
Antes de Freud chegar à sua formulação final da teoria da 
personalidade em termos de id, ego e superego, ele 
dividiu a mente em três regiões: consciência, pré-
consciência e inconsciência. O pré-consciente consistia no 
material psicológico que poderia se tornar consciente 
quando surgisse a necessidade. O material no 
inconsciente, entretanto, era visto por Freud como 
relativamente inacessível à consciência: ele estaria em um 
estado de repressão. 
Quando Freud revisou sua teoria da personalidade, o 
conceito de repressão foi mantido como um dos 
mecanismos de defesa do ego. (Gill, 1963, salienta que 
Freud abandonou urna topografia da mente em termos 
de consciente, pré-consciente e inconsciente por uma 
visão estrutural em termos de id, ego e superego, porque 
a repressão e o que estava reprimido não podiam estar 
no mesmo sistema. A repressão estaria no ego, e o que 
era reprimido, no id. Ver também Arlow & Brenner, 1964). 
Dizemos que ocorre repressão quando uma escolha de 
objeto que provoca um alarme indevido é empurrada 
para fora da consciência por uma anticatexia. Por 
exemplo, podemos impedir que uma memória 
perturbadora se torne consciente, ou que uma pessoa 
não enxergue algo que está bem à vista porque a 
percepção daquilo está reprimida. A repressão pode 
inclusive interferir no funcionamento normal do corpo. 
Alguém pode ficar sexualmente impotente porque tem 
medo do impulso sexual, ou desenvolver uma artrite em 
consequência de sentimentos de hostilidade reprimidos. 
As repressões podem abrir caminho à força por meio 
das anticatexias opositoras ou encontrar expressão na 
forma de um deslocamento. Para que o deslocamento 
consiga impedir o redespertar da ansiedade, ele precisa 
estar disfarçado em alguma forma simbólica adequada. 
Um filho que reprimiu seus sentimentos hostis em relação 
ao pai pode expressar esses sentimentos hostis diante de 
outros símbolos de autoridade. 
Uma vez formadas, as repressões são difíceis de serem 
apagadas. A pessoa precisa reassegurar-se de que o 
perigo não mais existe, mas não pode obter essa 
segurança até a repressão se erguer e ela poder testar a 
realidade. É um círculo vicioso. É por isso que os adultos 
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levam consigo muitos medos infantis. Eles nunca têm a 
chance de descobrir que esses medos não têm nenhuma 
base na realidade. Observem a semelhança com a posição 
comportamentalista de que os medos irracionais 
persistem porque levam o indivíduo a evitar situações em 
que o medo poderia ser extinto (ver Capítulo 12). 
 
Projeção 
 
Normalmente é mais fácil para o ego lidar com a 
ansiedade de realidade do que com a ansiedade 
neurótica ou a moral. Consequentemente, se a fonte da 
ansiedade pode ser atribuída ao mundo externo em vez 
de aos impulsos primitivos do indivíduo ou às ameaças da 
consciência, a pessoa provavelmente obterá maior alívio 
para a condição ansiosa. Esse mecanismo pelo qual a 
ansiedade neurótica ou moral é convertida em um medo 
objetivo é chamado de projeção. Tal conversão é feita 
facilmente, porque a fonte original tanto da ansiedade 
neurótica quanto da moral é o medo de ser castigado por 
um agente externo. Na projeção, alguém simplesmente 
diz: “Ela me odeia” em vez de “Eu a odeio” ou “Ele está me 
perseguindo” em vez de “Minha consciência está me 
perturbando”. A projeção geralmente tem um propósito 
duplo. Ela reduz a ansiedade ao substituir um perigo 
maior por um menor, e permite que a pessoa que está 
projetando expresse seus impulsos sob o disfarce de 
defender-se dos inimigos. 
 
Formação Reativa 
 
Esta medida defensiva envolve substituir, na 
consciência, um impulso ou sentimento ansiogênico pelo 
seu oposto. Por exemplo, o ódio é substituído pelo amor. 
O impulso original ainda existe, mas é encoberto ou 
mascarado por outro que não causa ansiedade. 
É comum a pergunta sobre como podemos distinguir 
uma formação reativa de uma genuína expressão de um 
impulso ou sentimento. Por exemplo, como o amor 
reativo pode ser diferenciado do amor verdadeiro? 
Normalmente, uma formação reativa é marcada por uma 
manifestação extravagante — a pessoa faz protestos 
exagerados — e pela compulsividade. As formas extremas 
de qualquer tipo de comportamento geralmente 
denotam uma formação reativa. Às vezes, a formação 
reativa consegue satisfazer o impulso original contra o 
qual a pessoa se defende, como quando uma mãe cobre 
o filho de afeição e atenção. 
 
 
 
 
Fixação e Regressão 
 
No curso do desenvolvimento normal, como veremos 
na próxima seção, a personalidade atravessa uma série de 
estágios bem-definidos até chegar à maturidade. Cada 
novo passo dado, todavia, envolve certa frustração e 
ansiedade. Se elas se tornam muito intensas, o 
crescimento normal pode ficar temporária ou 
permanentemente interrompido. Em outras palavras, a 
pessoa pode ficar fixada nos estágios iniciais do 
desenvolvimento, porque dar o passo seguinte desperta 
muita ansiedade. A criança excessivamente dependente 
exemplifica a defesa pela fixação; a ansiedade a impede 
de aprender a ser independente.Uma defesa estreitamente relacionada é a da 
regressão. Nesse caso, uma pessoa que encontra 
experiências traumáticas recua para um estágio anterior 
de desenvolvimento. Por exemplo, uma criança que está 
assustada com o primeiro dia na escola pode apresentar 
um comportamento de bebê, como chorar, chupar o 
dedo, agarrar-se à professora ou esconder-se em um 
canto. Uma jovem mulher casada que está com 
dificuldades com o marido pode voltar para a segurança 
da casa dos pais, ou um homem que perdeu o emprego 
pode buscar consolo na bebida. O caminho da regressão 
normalmente é determinado pelas fixações anteriores da 
pessoa. Isto é, as pessoas tendem a regredir a um estágio 
no qual estiveram previamente fixadas. Se eram 
excessivamente dependentes quando crianças, é provável 
que se tomem mais uma vez excessivamente 
dependentes quando sua ansiedade atingir um nível 
intolerável. 
A fixação e a regressão em geral são condições 
relativas: uma pessoa raramente se fixa ou regride 
completamente. Mais propriamente, a personalidade 
tende a incluir infantilismos, isto é, formas imaturas de 
comportamento, e predisposição a manifestar conduta 
infantil quando frustrada. As fixações e as regressões são 
responsáveis pela irregularidade no desenvolvimento da 
personalidade. 
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Referência: HALL, C.; LINDZEY, G.; CAMPBELL, J. Teorias da personalidade. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. pp. 50-64.

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