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HALL, LINDZEY & CAMPBELL 2 Capítulo 2 A teoria psicanalítica clássica de Sigmund Freud INTRODUÇÃO E CONTEXTO Quando a psicologia emergiu como uma disciplina científica independente na Alemanha, em meados do século XIX, ela definiu sua tarefa como a análise da consciência no ser humano normal, adulto. Ela considerava a consciência como constituída por elementos estruturais estreitamente correlacionados a processos nos órgãos dos sentidos. As sensações visuais de cor, por exemplo, estavam correlacionadas com mudanças fotoquímicas na retina do olho, e os tons, como eventos ocorrendo no ouvido interno. As experiências complexas resultavam da reunião de várias sensações, imagens e sentimentos elementares. A tarefa da psicologia era descobrir os elementos básicos da consciência e determinar como eles formavam compostos. A psicologia era muitas vezes referida como química mental. As objeções a esse tipo de psicologia vieram de muitas direções e por uma variedade de razões. Havia a aqueles que se opunham à ênfase exclusiva na estrutura e insistiam com considerável vigor que as características notáveis da mente consciente eram seus processos ativos e não seus conteúdos passivos. Sentir, e não as sensações, pensar, e não as ideias, imaginar, e não as imagens — esses processos, afirmava-se, deveriam ser o principal assunto da ciência da psicologia. Outros protestavam que a experiência consciente não podia ser dissecada sem destruir a própria essência da experiência, a saber, sua qualidade de totalidade. A consciência direta, diziam, consiste em padrões ou configurações e não em elementos reunidos. Um outro grupo grande e barulhento afirmava que a mente não era suscetível a investigações pelos métodos da ciência por ser demasiadamente privada e subjetiva. Eles queriam que a psicologia fosse definida como a ciência do comportamento. O ataque de Freud à tradicional psicologia da consciência veio de uma direção muito diferente. Ele comparou a mente a um iceberg: a parte menor que aparecia acima da superfície da água representava a região da consciência, enquanto a massa muito maior abaixo da água representava a região do inconsciente. Nesse vasto domínio do inconsciente, encontramos os impulsos, as paixões, as ideias e os sentimentos reprimidos, um grande mundo subterrâneo de forças vitais, invisíveis, que exercem um controle imperioso sobre os pensamentos e as ações dos indivíduos. Desse ponto de vista, uma psicologia que se limita à análise da consciência é totalmente inadequada para compreender os motivos subjacentes do comportamento humano. Por mais de 40 anos, Freud explorou o inconsciente pelo método da associação livre e desenvolveu o que geralmente é considerado como a primeira teoria abrangente da personalidade. Ele traçou os contornos de sua topografia, penetrou nas fontes de sua corrente de energia e diagramou o curso legítimo de seu desenvolvimento. Ao realizar essas façanhas incríveis, ele se tornou uma das figuras mais controversas e influentes do nosso tempo. (Para um relato do status do inconsciente antes de Freud, ver White, 1962). HISTÓRIA PESSOAL Sigmund Freud nasceu na Morávia, em 6 de maio de 1856, e morreu em Londres, em 23 de setembro de 1939. Por quase 80 anos, todavia, ele morou em Viena, e só saiu daquela cidade quando os nazistas invadiram a Áustria. Quando jovem, ele decidiu que queria ser cientista. Com esse objetivo em mente, ingressou na escola de medicina da Universidade de Viena em 1873; formando-se oito anos mais tarde. Freud nunca pretendeu praticar a medicina, mas as escassas recompensas do trabalho científico, as oportunidades limitadas de avanço acadêmico para um judeu, e as necessidades de uma família crescente o obrigaram a entrar na prática privada. Mesmo com o atendimento aos pacientes, ele encontrava tempo para pesquisar e escrever, e suas realizações como investigador médico granjearam-lhe uma sólida reputação. O interesse de Freud pela neurologia fez com que se especializasse no tratamento de transtornos nervosos, um ramo da medicina que ficara para trás na marcha ativa das artes curadoras durante o século XIX. Para melhorar suas habilidades técnicas, ele estudou um ano com o famoso psiquiatra francês Jean Charcot, que estava usando a hipnose no tratamento da histeria. Embora tentasse a hipnose com seus pacientes, Freud não ficou muito impressionado com sua eficácia. Consequentemente, quando ouviu falar sobre um novo método desenvolvido por um médico vienense, Joseph Breuer, um método pelo qual o paciente era curado dos sintomas ao falar sobre eles, Freud o experimentou e o achou efetivo. Breuer e Freud escreveram, em parceria, sobre alguns de seus casos de histeria tratados pela técnica da fala (1895). HALL, LINDZEY & CAMPBELL 3 Entretanto, os dois logo divergiram sobre a importância do fator sexual na histeria. Freud considerava que os conflitos sexuais eram a causa da histeria, enquanto Breuer adotava uma visão mais conservadora (ver Elienberger, 1970, para uma discussão sobre os antecedentes históricos da posição de Freud). A partir de então, Freud trabalhou praticamente sozinho, desenvolvendo as ideias que seriam os fundamentos da teoria psicanalítica e que culminaram na publicação de seu primeiro grande trabalho, A interpretação dos Sonhos (1900). Outros livros e artigos logo chamaram a atenção de médicos e cientistas do mundo inteiro, e Freud logo se viu cercado por um grupo de discípulos de vários países, entre os quais Ernest Jones, da Inglaterra, Carl Jung, de Zurique, A. A. Brill, de Nova York, Sandor Ferenczi de Budapeste, Karl Abraham, de Berlim, e Alfred Adler, de Viena. Jung e Adler posteriormente se afastaram do círculo e desenvolveram pontos de vista rivais. No breve espaço que nos é permitido, é impossível cobrir todos os pontos mais interessantes da vida intelectual e pessoal de Freud: os primeiros anos como estudante de medicina e investigador; a influência decisiva do grande fisiologista alemão Ernst Brücke, um dos líderes da Helrnholtz School of Medicine, com quem Freud aprendeu a ver o indivíduo como um sistema dinâmico sujeito às leis da natureza (Amancher, 1965); seu casamento com Martha Bernays e sua devoção vitalícia a ela e aos seis filhos, um dos quais Anna, seguiu os passos do pai; o estimulante ano com Charcot em Paris; sua autoanálise investigativa, que começou na década de 1890 e continuou por toda sua vida; a tentativa abortada de explicar os fenômenos psicológicos em ternos de anatomia cerebral; os anos de isolamento da comunidade médica de Viena; o convite de G. Stanley Hall, o eminente psicólogo americano e presidente da Clark University para falar no encontro em comemoração à fundação da universidade; a criação da Associação Psicanalítica Internacional e a secessão de discípulos importantes como Jung, Adler, Rank e Stekel; a influência da Primeira Guerra Mundial sobre o pensamento de Freud e sua cuidadosa revisão dos princípios básicos da teoria psicanalítica; a aplicação dos conceitos psicanalíticos em todos os campos de empreendimento humano; as características pessoais de Freud e o longo sofrimento do câncer de mandíbula; e finalmente sua fuga melodramática das garras dos nazistas. Felizmente, todos os recantos e frestas da longa vida de Freud foram examinados pelo grande psicanalista inglês Ernest Jones e brilhantemente relatados em uma biografia de três volumes (1953, 1955, 1957). Mais recentemente, Peter Gay (1988)escreveu uma biografia abrangente e simpática de Freud. O espaço também não nos permite listar os trabalhos publicados de Freud. Começando com A Interpretação dos Sonhos, em 1900, e terminando com Esboço da Psicanálise, publicado postumamente em 1940, os textos psicológicos de Freud totalizam vinte e quatro volumes na edição inglesa padrão, definitiva (1953 e 1974). Para o leitor que não está familiarizado com a teoria da personalidade de Freud, recomendamos os seguintes livros: A Interpretação dos Sonhos (1900), A Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901), Conferências Introdutórias Gerais à Psicanálise (1917), Novas Conferências Introdutórias à Psicanálise (1933) e Esboço da Psicanálise (1940). No seguinte relato das ideias de Freud, trataremos apenas das questões relativas à sua teoria da personalidade. No processo, excluiremos de consideração a teoria psicanalítica da neurose que, de qualquer forma, foi tão bem examinada por Otto Fenichel (1945), as técnicas de psicanálise e as vastas aplicações da psicologia freudiana nas ciências sociais (ver Hall & Lindzey, 1968), artes e humanidades. Também deixaremos de lado a evolução do pensamento de Freud a respeito dos conceitos básicos de sua teoria da personalidade; será suficiente apresentar sua palavra final sobre os conceitos que vamos discutir. A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE A personalidade é constituída por três grandes sistemas: o id, o ego e o superego. Embora cada uma dessas partes da personalidade total tenha suas funções, propriedades, componentes, princípios de operação, dinamismos e mecanismos, elas interagem tão estreitamente que é difícil, senão impossível, desemaranhar seus efeitos e pesar sua relativa contribuição ao comportamento humano. O comportamento é quase sempre o produto de uma interação entre esses três sistemas; e raramente um sistema opera com a exclusão dos outros dois. O Id O id é o sistema original da personalidade: ele é a matriz da qual se originaram o ego e o superego. O id consiste em tudo que é psicológico, que é herdado e se acha presente no nascimento, incluindo os instintos. Ele é o reservatório da energia psíquica e fornece toda a energia para a operação dos outros dois sistemas. Ele está em estreito contato com os processos corporais, dos quais deriva sua energia. Freud chamou o id de “a verdadeira realidade psíquica” porque ele representa o mundo interno da experiência subjetiva e não tem HALL, LINDZEY & CAMPBELL 4 nenhum conhecimento da realidade objetiva. (Para uma discussão do id, ver Schur, 1966). O Id não tolera aumentos de energia, que são experienciados como estados de tensão desconfortáveis. Consequentemente, quando o nível de tensão do organismo aumenta, como resultado ou de estimulação externa ou de excitações internamente produzidas, o id funciona de maneira a descarregar a tensão imediatamente e a fazer o organismo voltar a um nível de energia confortavelmente constante e baixo. Esse princípio da redução de tensão pelo qual o id opera é chamado de princípio do prazer. Para atingir seu objetivo de evitar dor e obter prazer, o id tem sob seu comando dois processos: as ações reflexas e o processo primário. As ações reflexas são reações inatas e automáticas como espirrar e piscar, e, geralmente, reduzem a tensão imediatamente. O organismo está equipado com vários desses reflexos para lidar com formas relativamente simples de excitação. O processo primário envolve uma reação psicológica um pouco mais complicada. Ele tenta descarregar a tensão, formando a imagem de um objeto que vai remover a tensão. O processo primário apresenta à pessoa faminta a imagem mental de um alimento. Essa experiência alucinatória em que o objeto desejado é apresentado na forma de uma imagem de memória é chamada de realização do desejo. O melhor exemplo do processo primário nas pessoas normais é o sonho noturno, que Freud acreditava representar sempre a realização ou a tentativa de realização de um desejo. As alucinações e as visões dos pacientes psicóticos também são exemplos do processo primário. O pensamento autista ou veleitário é altamente colorido pela ação do processo primário. Essas imagens mentais de realização do desejo são a única realidade conhecida pelo id. Obviamente, o processo primário sozinho não é capaz de reduzir a tensão. A pessoa faminta não pode comer as imagens mentais de comida. Consequentemente, desenvolve-se um processo psicológico novo ou secundário. Quando isso ocorre, a estrutura do segundo sistema da personalidade, o ego, começa a tomar forma. O Ego O ego passa a existir porque as necessidades do organismo requerem transações apropriadas com o mundo objetivo da realidade. A pessoa faminta tem de buscar, encontrar e comer o alimento para que a tensão da fome seja eliminada. Isso significa que a pessoa precisa aprender a diferenciar entre uma imagem mnemônica do alimento e uma percepção real do alimento conforme ele existe no mundo externo. Tendo feito essa diferenciação crucial, é necessário converter a imagem em uma percepção, o que se consegue localizando-se o alimento no ambiente. Em outras palavras, a pessoa compara a imagem mnemônica do alimento com a visão ou com o aroma do alimento conforme lhe chegam pelos sentidos. A distinção básica entre o id e o ego é que o id só conhece a realidade subjetiva da mente, ao passo que o ego distingue as coisas na mente das coisas no mundo externo. Dizemos que o ego obedece ao princípio da realidade e opera por meio do processo secundário. O objetivo do princípio da realidade é evitar a descarga de tensão até ser descoberto um objeto apropriado para a satisfação da necessidade. O princípio da realidade suspende temporariamente o princípio do prazer, mas o princípio do prazer é eventualmente atendido quando o objeto necessário é encontrado e quando a tensão é então reduzida. O princípio da realidade pergunta se uma experiência é verdadeira ou falsa – isto é, se tem existência externa ou não – enquanto o princípio do prazer só quer saber se a experiência é dolorosa ou prazerosa. O processo secundário é pensamento realista. Por meio do processo secundário, p ego formula um plano para a satisfação da necessidade e depois testa-o, normalmente com algum tipo de ação, para ver se ele vai funcionar ou não. A pessoa faminta pensa sobre onde pode encontrar comida e depois segue para aquele lugar. Isso é chamado de teste de realidade. Para desempenhar seu papel eficientemente, o ego tem controle sobre todas as funções cognitivas e intelectuais; esses processos mentais superiores são colocados a serviço do processo secundário. Afirmamos que o ego é o executivo da personalidade porque ele controla o acesso à ação, seleciona as características do ambiente às quais irá responder e decide que instintos serão satisfeitos e de que maneira. Ao realizar essas funções executivas imensamente importantes, o ego precisa tentar integrar as demandas muitas vezes conflitantes do id, do superego e do mundo externo. Essa não é uma tarefa fácil e em geral coloca grande tensão sobre o ego. Mas devemos lembrar que o ego é a porção organizada do id, que passa a existir para atingir os objetivos do id e não para frustrá-los, e que todo o seu poder se deriva do id. Ele não existe separadamente do id, e nunca se torna completamente independente dele. Seu principal papel é o de mediador entre as exigências instintuais do organismo e as condições do ambiente circundante; seusobjetivos supra ordenados são: manter a vida do indivíduo e assegurar que a espécie se reproduza. Freud certa vez resumiu o quinhão dizendo HALL, LINDZEY & CAMPBELL 5 que ele tinha “três duros senhores”: o id, a realidade externa e o superego. O superego O terceiro e último sistema da personalidade a se desenvolver é o superego. Ele é o representante interno dos valores tradicionais e dos ideais da sociedade conforme interpretados para a criança pelos pais e impostos por um sistema de recompensas e punições. O superego é a força moral da personalidade. Ele representa o ideal mais do que o real e busca a perfeição mais do que o prazer. Sua principal preocupação é decidir se uma atitude é certa ou errada, para poder agir de acordo com os padrões morais autorizados pelos agentes da sociedade. O superego, como árbitro moral internalizado de conduta, desenvolve-se em resposta às recompensas e punições impostas pelos pais. Para obter as recompensas e evitar os castigos, a criança aprende a orientar seu comportamento de acordo com os pais. Tudo o que eles dizem ser impróprio e, por isso, castigam a criança por fazer, tende a ser incorporado à sua consciência, que é um dos dois subsistemas do superego. Tudo o que eles aprovam e, por isso, recompensam a criança por fazer, tende a ser incorporado ao seu ideal do ego, o outro subsistema do superego. O mecanismo pelo qual ocorre essa incorporação é chamado de introjeção. A criança absorve ou introjeta os padrões morais dos pais: A consciência pune a pessoa, fazendo-a sentir-se culpada; o ideal do ego recompensa a pessoa, fazendo-a sentir-se orgulhosa. Com a formação do superego, o autocontrole substitui o controle parental. As principais funções do superego são (1) inibir os impulsos do Id, especialmente aqueles de natureza sexual ou agressiva, uma vez que estes são os impulsos cuja expressão é mais condenada pela sociedade; (2) persuadir o ego a substituir objetivos realistas por objetivos moralistas; e (3) buscar a perfeição. Isto é, o superego está inclinado a se opor tanto ao id quanto ao ego e a reformar o mundo segundo sua própria imagem. Entretanto, ele é como o id ao ser não-racional e como o ego ao tentar exercer controle sobre os instintos. Diferentemente do ego, o superego não se satisfaz em adiar a gratificação instintiva; ele tenta bloqueá-la permanentemente. (Uma análise histórica do superego foi feita por Turiell, 1967.) Nós concluímos essa breve descrição dos três sistemas da personalidade salientando que o id, o ego e o superego não devem ser pensados como homúnculos que operam a personalidade. Eles são apenas nomes para vários processos psicológicos que obedecem a diferentes princípios de sistemas. Em circunstâncias comuns, esses diferentes princípios não colidem um com o outro e nem têm propósitos opostos. Pelo contrário, eles trabalham juntos, como uma equipe, sob a liderança administrativa do ego. A personalidade normalmente funciona como um todo, e não como três segmentos separados. De maneira muito geral, o id pode ser pensado como o componente biológico da personalidade, o ego como o componente psicológico e o superego como o componente social. A DINÂMICA DA PERSONALIDADE Freud foi educado sob a influência da filosofia fortemente determinista e positivista do século XIX. Ele considerava o organismo humano como um sistema complexo de energia que era obtida do alimento consumido e que gastava uma quantidade limitada de energia em propósitos variados como circulação, respiração, exercício muscular, perceber, pensar e lembrar. Freud não via nenhuma razão para supor que a energia que fornece o poder para respirar ou digerir fosse diferente, salvo em forma, da energia que fornece o poder para pensar e lembrar. Afinal de contas, como insistiam firmemente os físicos do século XIX, a energia tinha de ser definida em termos do trabalho que realiza. Se o trabalho consiste em uma atividade psicológica como pensar, é perfeitamente legítimo, acreditava Freud, chamar essa forma de energia de energia psíquica. Segundo a doutrina da conservação da energia, ela pode ser transformada de um estado para outro, mas nunca se perde no sistema cósmico total. Disso decorre que a energia psíquica pode ser transformada em energia fisiológica e vice-versa. O ponto de contato ou a ponte entre a energia do corpo e a da personalidade é o id e seus instintos. Instinto Um instinto é definido como uma representação psicológica inata de uma fonte somática interna de excitação. A representação psicológica é chamada de desejo, e a excitação corporal da qual se origina é chamada de necessidade. Assim, o estado de fome pode ser descrito em termos fisiológicos como uma condição de déficit nutricional nos tecidos do corpo, ao passo que psicologicamente ela é representada como um desejo de alimento. O desejo age como um motivo para o comportamento. A pessoa faminta busca o alimento. Por isso, os instintos são considerados os fatores propulsores da personalidade. Eles não só impulsionam o comportamento, mas também determinam a direção que o comportamento tomará. Em outras palavras, um instinto exerce um controle seletivo sobre a conduta ao aumentar a sensibilidade da pessoa a tipos específicos de HALL, LINDZEY & CAMPBELL 6 estimulação. A pessoa faminta é mais sensível aos estímulos alimentares e a pessoa sexualmente excitada tende mais a responder a estímulos eróticos. Parenteticamente, observamos que o organismo também pode ser ativado por estímulos do mundo externo. Mas Freud achava que essas fontes ambientais de excitação desempenham um papel menos importante na dinâmica da personalidade do que os instintos inatos. Em geral, os estímulos externos fazem menos exigências ao indivíduo e requerem formas menos complicadas de ajustamento do que as necessidades. Sempre podemos fugir de um estímulo externo, mas é impossível fugir de uma necessidade. Embora Freud relegasse os estímulos ambientais a um lugar secundário, ele não negava a sua importância sob certas condições. Por exemplo, uma excessiva estimulação durante os primeiros anos de vida, quando o ego imaturo não é capaz de reunir grandes quantidades de energia livre (tensão), pode ter efeitos drásticos sobre a personalidade, como veremos quando examinarmos a teoria de Freud sobre a ansiedade. Um instinto é um quantum de energia psíquica ou, como Freud colocou, “uma medida da exigência feita à mente para trabalhar” (1905a, p. 168). Todos os instintos tomados juntos constituem a soma total de energia psíquica disponível para a personalidade. Como salientamos previamente, o id é o reservatório dessa energia e é também a sede dos instintos. Ele pode ser considerado um dínamo que fornece a energia psicológica para as múltiplas operações da personalidade. Essa energia deriva-se, é claro, dos processos metabólicos do corpo. Um instinto tem quatro aspectos característicos: uma fonte, uma meta, um objeto e um ímpeto. A fonte já foi definida como uma condição corporal ou uma necessidade. A meta é a remoção da excitação corporal. A meta do instinto de fome, por exemplo, é abolir a deficiência nutricional, o que conseguimos, evidentemente, comendo o alimento. Todas as atividades que intervêm entre o aparecimento do desejo e sua realização são agrupadas sob o nome de objeto. Isto é, o objeto se refere não só à ou à condição específica que vai satisfazer a necessidade, mas inclui também todos os comportamentos que acontecempara assegurar a coisa ou a condição necessária. Por exemplo, quando uma pessoa está com fome, ela normalmente tem de realizar algumas ações antes de atingir a meta final de comer. O ímpeto de um instinto é a sua força, determinada pela intensidade da necessidade subjacente. À medida que aumenta a deficiência nutricional, até o ponto em que se instala uma fraqueza física, a força do instinto aumenta correspondentemente. Vamos considerar brevemente algumas das implicações nessa maneira de conceitualizar um instinto. Em primeiro lugar, o modelo oferecido por Freud é um modelo de redução de tensão. O comportamento de uma pessoa é ativado por irritantes internos e cessa quando uma ação apropriada remove ou diminui a irritação. Isso significa que a meta de um instinto tem um caráter essencialmente regressivo, uma vez que faz a pessoa retornar a um estado anterior um estado que existia antes de o instinto aparecer. Esse estado anterior ao qual a personalidade retorna é de relativa tranquilidade. Também dizemos que um instinto é conservador, porque sua meta é conservar o equilíbrio do organismo, abolindo as excitações perturbadoras. Assim, podemos descrever um instinto como um processo que repete, tão frequentemente quanto aparece, um ciclo de eventos que se inicia com a excitação e termina com o repouso. Freud chamou esse aspecto do instinto de com pulsão à repetição. A personalidade é compelida a repetir interminavelmente o inevitável ciclo da excitação à tranquilidade. (O termo compulsão à repetição também é empregado para descrever o comportamento perseverante que ocorre quando os meios adotados para satisfazer a necessidade não são completamente apropriados. Uma criança pode perseverar chupando o dedo, quando está com fome.) Segundo a teoria freudiana dos instintos, a fonte e a meta de um instinto permanecem constantes por toda a vida, a menos que a fonte seja modificada ou eliminada pelo amadurecimento físico. Novos instintos podem aparecer à medida que se desenvolvem novas necessidades corporais. Ao contrário dessa constância de fonte e meta, o objeto ou os meios pelos quais a pessoa tenta satisfazer a necessidade podem variar e realmente variam consideravelmente durante o tempo de vida da pessoa. Tal variação na escolha do objeto torna-se possível porque a energia psíquica é deslocável: ela pode ser gasta de várias maneiras. Consequentemente, se um objeto não está disponível, ou por estar ausente ou pela presença de barreiras dentro da personalidade, a energia pode ser investida em outro objeto. Se esse objeto também se mostrar inacessível, pode ocorrer outro deslocamento, e assim por diante, até ser encontrado um objeto disponível. Em outras palavras, os objetos podem ser substituídos, o que definitivamente não acontece com a fonte ou a meta de um instinto. Quando a energia de um instinto é investida de modo mais ou menos permanente em um objeto substituto, isto é, um que não é o objeto original e inatamente determinado, o comportamento resultante é chamado de derivado instintual. Assim, se a primeira escolha de objeto do bebê for a manipulação dos próprios órgãos sexuais e HALL, LINDZEY & CAMPBELL 7 ele for forçado a desistir desse prazer em favor de formas mais inócuas de estimulação corporal, como chupar o polegar ou brincar com os dedos dos pés, as atividades substitutas são derivados do instinto sexual. A meta do instinto sexual não muda quando ocorre uma substituição; a meta buscada ainda é a da gratificação sexual. O deslocamento de energia de um objeto para outro é o aspecto mais importante da dinâmica da personalidade. Ele explica a aparente plasticidade da natureza humana e a notável versatilidade do comportamento humano. Praticamente todos os interesses, preferências, gostos, hábitos e atitudes adultas representam os deslocamentos de energia das escolhas de objeto instintuais originais. Eles são quase todos derivados instintuais. A teoria de Freud da motivação baseava-se solidamente na suposição de que os instintos são as únicas fontes de energia para o comportamento humano. Nós teremos muito mais a dizer sobre o deslocamento em seções subsequentes deste capítulo. Número e Tipos de Instintos Freud não tentou fazer uma lista de instintos porque sentiu que não sabíamos o suficiente sobre os estados corporais dos quais os instintos dependem. A identificação dessas necessidades orgânicas é uma tarefa para o fisiologista, não para o psicólogo. Embora Freud não pretendesse saber quantos instintos existem, ele realmente supunha que todos podiam ser classificados sob dois títulos gerais, os instintos de vida e os instintos de morte. Os instintos de vida servem ao propósito da sobrevivência individual e da propagação racial. A fome, a sede e o sexo se enquadram nessa categoria. A forma de energia pela qual os instintos de vida realizam sua tarefa é chamada de libido. O instinto de vida ao qual Freud prestou mais atenção é o do sexo, e, nos primeiros anos da psicanálise, quase tudo o que a pessoa fazia era atribuído a esta pulsão ubíqua (Freud, 1905a). Na verdade, o instinto sexual não é um único instinto, mas muitos. Isto é, existem várias necessidades corporais separadas que originam os desejos eróticos. Cada um desses desejos tem sua fonte em uma região corporal diferente, referidas coletivamente como zonas erógenas. Uma zona erógena é uma parte da pele ou da membrana mucosa que é extremamente sensível à irritação e que, quando manipulada de certa maneira, remove a irritação e produz sentimentos prazerosos. Os lábios e a cavidade oral constituem uma dessas zonas erógenas, a região anal outra, e os órgãos sexuais uma terceira. Sugar produz prazer oral, a eliminação provoca prazer anal, e massagear ou esfregar traz prazer genital. Na infância, os instintos sexuais são relativamente independentes uns dos outros, mas, quando a pessoa atinge a puberdade, eles tendem a se fundir e a servir conjuntamente à meta da reprodução. Os instintos de morte ou, como Freud às vezes os chamava, os instintos destrutivos, realizam seu trabalho muito menos conspicuamente do que os instintos de vida. Por essa razão, pouco sabemos sobre eles, a não ser que inevitavelmente cumprem a sua missão. Todas as pessoas seguramente morrem, um fato que levou Freud a formular seu famoso ditado: “a meta de toda vida é a morte” (1920a, P. 38). Freud supunha especificamente que a pessoa tinha um desejo, geralmente inconsciente, é claro, de morrer. Ele não tentou identificar as fontes somáticas dos instintos de morte, embora possamos especular se residem nos processos catabólicos, ou de decomposição, do corpo. Ele também não deu nome à energia pela qual os instintos de morte executam seu trabalho. A suposição de Freud de um desejo de morte baseia- se no princípio de constância conforme formulado por Fechner. Esse princípio afirma que todos os processos vivos tendem a retornar à estabilidade do mundo inorgânico. Em Além do Princípio do Prazer (1920a), Freud apresentou o seguinte argumento em favor do conceito do desejo de morte. A matéria viva se desenvolveu, pela ação das forças cósmicas, sobre a matéria inorgânica. A princípio, essas mudanças eram extremamente instáveis e rapidamente revertiam ao seu estado inorgânico anterior. Mas gradualmente a duração da vida aumentou devido a mudanças evolutivas no mundo, mas essas formas animadas instáveis eventualmente regressavam à estabilidade da matéria inanimada. Com o desenvolvimento dos mecanismosreprodutivos, os seres vivos conseguiram reproduzir sua própria espécie e não dependiam mais de serem criados do mundo inorgânico. Mas, mesmo com esse avanço, cada membro da espécie inevitavelmente obedecia ao princípio da constância, uma vez que este era o princípio que governava sua existência quando ele fora dotado de vida. A vida, dizia Freud, era apenas um caminho indireto para a morte. Arrancada de sua existência estável, a matéria orgânica tenta voltar a um estado de tranquilidade. O desejo de morte no ser humano é a representação psicológica do princípio da constância. Um derivado importante dos instintos de morte é a pulsão agressiva. A agressividade é a autodestruição voltada para fora, contra objetos substitutos. Uma pessoa briga com outras e é destrutiva porque o desejo de morte está bloqueado pelas forças dos instintos de vida e por outros obstáculos na personalidade que agem contra os HALL, LINDZEY & CAMPBELL 8 instintos de morte. Foi necessária a Primeira Guerra Mundial de 1914-1918 para convencer Freud de que a agressão era um motivo tão soberano quanto o sexo. (Essa visão de que a Grande Guerra estimulou o interesse de Freud pela agressão foi contestada por Stepansky, 1977). Os instintos de vida e de morte e seus derivados podem se fundir, neutralizar um ao outro, ou substituir um ao outro. Comer, por exemplo, representa uma fusão da fome e da destrutividade que é satisfeita por morder, mastigar e engolir o alimento. O amor, um derivado do instinto sexual, pode neutralizar o ódio, um derivado do instinto de morte. Ou o amor pode substituir o ódio, ou o ódio, o amor. Uma vez que os instintos contêm toda a energia pela qual os três sistemas da personalidade realizam o seu trabalho, examinemos agora como o id, o ego e o superego controlam e utilizam a energia psíquica. A Distribuição e a Utilização da Energia Psíquica A dinâmica da personalidade consiste na maneira pela qual a energia psíquica é distribuída e utilizada pelo id, ego e superego. Uma vez que a quantidade de energia é uma quantidade limitada, existe uma competição entre os três sistemas pela energia disponível. Um sistema obtém controle da energia disponível à custa dos dois outros sistemas. À medida que um sistema se torna mais forte, os outros dois necessariamente se tornam mais fracos, a menos que uma nova energia seja acrescentada ao sistema total. Originalmente o id possui toda a energia e a utiliza para a ação reflexa e para a realização do desejo por meio do processo primário. Ambas as atividades estão a serviço direto do princípio do prazer, pelo qual o id opera. O investimento de energia em uma ação ou imagem que vai gratificar um instinto é chamado de escolha objetal ou catexia objetal. A energia do id está em um estado muito fluido, o que significa que ela pode ser facilmente desviada de uma ação ou imagem para outra ação ou imagem. A qualidade deslocável dessa energia instintual se deve à incapacidade do id de fazer discriminações sutis entre os objetos. Os objetos diferentes são tratados como se fossem o mesmo. O bebê faminto, por exemplo, vai pegar qualquer objeto que puder agarrar e o levará aos lábios. Uma vez que o ego não tem nenhuma fonte de energia própria, ele precisa tomá-la emprestada do id. O desvio da energia do id para os processos que constituem o ego faz-se por meio de um mecanismo conhecido como identificação. Esse é um dos conceitos mais importantes na psicologia freudiana, e um dos mais difíceis de entender. Podemos lembrar, de uma discussão prévia, que o id não distingue entre imagem subjetiva e realidade objetiva. Quando ele investe energia psíquica na imagem de um objeto, é o mesmo que investir no próprio objeto. Entretanto, se uma imagem mental não pode satisfazer uma necessidade, a pessoa é forçada a diferenciar entre o mundo da mente e o mundo externo. Ela precisa aprender a diferença entre uma memória ou ideia de um objeto que não está presente e uma impressão ou percepção sensorial de um objeto que está presente. Então, a fim de satisfazer a necessidade, a pessoa tem de aprender a comparar o que está em sua mente ao seu equivalente no mundo externo, por meio do processo secundário. Essa comparação de uma representação mental com a realidade física, de algo que está na mente com algo que está no mundo externo, é o que queremos dizer como identificação. Já que o Id não faz distinção entre os conteúdos da mente, sejam eles percepções, imagens mnemônicas, ideias ou alucinações, pode ser feita uma catexia (investimento) em uma percepção realista tão facilmente quanto em uma imagem mnemônica de realização de desejo. Dessa maneira, a energia se desviados processos psicológicos puramente subjetivos do id para os processos objetivos, lógicos, ideacionais do ego. Em ambos os casos, a energia é usada para propósitos estritamente psicológicos, mas, no caso do id, não é feita nenhuma distinção entre o símbolo mental e o referente físico, ao passo que, no caso do ego, essa distinção é feita. O ego tenta fazer com que o símbolo represente acuradamente o referente. Em outras palavras, a identificação permite que o processo secundário substitua ou suplante o processo primário. Já que o processo secundário é tão mais satisfatório para reduzir tensões, formam-se mais e mais catexias de ego. Gradualmente, o ego mais eficiente obtém um monopólio virtual sobre a reserva de energia psíquica. Esse monopólio, entretanto, é apenas relativo, porque, se o ego deixa de satisfazer os instintos, o id retoma seu poder. Uma vez que o ego armazenou energia suficiente, pode usá-la para outros propósitos além do da gratificação dos instintos pelo processo secundário. Parte da energia é usada para levar a um nível superior de desenvolvimento vários processos psicológicos, tais como perceber, lembrar, julgar, discriminar, abstrair, generalizar e raciocinar. Parte da energia tem de ser usada pelo ego para impedir o id de agir impulsiva e irracionalmente. Essas forças restritivas são conhecidas como anticatexia, em distinção às forças pulsionais ou catexias. A medida que o id se torna muito ameaçador, o ego erige defesas contra ele. Esses mecanismos de defesa, que serão discutidos em uma seção posterior, também podem ser usados para lidar com as pressões do HALL, LINDZEY & CAMPBELL 9 superego sobre o ego. Para a manutenção dessas defesas, é necessária energia, evidentemente. A energia do ego também pode ser deslocada para criar novas catexias objetais, de modo que se forma no ego uma verdadeira rede de interesses, atitudes e preferências derivadas. Essas catexias do ego podem não satisfazer diretamente as necessidades básicas do organismo, mas estão conectadas por vínculos associativos a objetos que satisfazem. A energia da pulsão da fome, por exemplo, pode desdobrar-se para incluir catexias como o interesse por colecionar receitas, frequentar restaurantes exóticos e vender porcelana. Tal desdobramento de catexias em canais que estão apenas remotamente conectados com o objeto original do instinto é possibilitado pela maior eficiência do ego ao realizar sua função fundamental de gratificar os instintos. O ego tem um excedente de energia para usar para outros propósitos. Finalmente, o ego, como o executivo da organização da personalidade, usa a energia para efetuar uma integração entre os três sistemas. O propósito dessa função integrativa do ego é produzir uma harmonia interna dentro da personalidade, de modo que as transaçõesdo ego com o ambiente possam ser feitas tranquila e efetivamente. O mecanismo de identificação também explica a energização do sistema do superego. Essa, também, é uma questão complexa, e ocorre da seguinte maneira. Entre as primeiras catexias objetais do bebê estão as dos pais. As catexias se desenvolvem cedo e entrincheiram-se firmemente, porque o bebê é completamente dependente dos pais ou de substitutos dos pais para a satisfação de necessidades. Os pais também desempenham o papel de agentes disciplinares: eles ensinam à criança o código moral e os ideais e valores tradicionais da sociedade em que a criança é criada. Eles fazem isso recompensando a criança quando ela apresenta a atitude certa e punindo-a quando está errada. Uma recompensa é qualquer fato ou objeto que reduza a tensão ou prometa isso. Um pedaço de chocolate, um sorriso ou uma palavra gentil podem ser uma recompensa efetiva. Uma punição é qualquer elemento que aumente a tensão. Pode ser um tapa, um olhar desaprovador ou a negação de um prazer. Assim, a criança aprende a identificar, isto é, a comparar seu comportamento com as sanções e as proibições impostas pelos pais. A criança introjeta os imperativos morais dos pais em virtude das catexias originais que fez neles como agentes que satisfazem necessidades. Ela investe energia em seus ideais e estes se tornam o seu ideal de ego; ela investe energia em suas proibições e estas se tornam a sua consciência. Assim, o superego ganha acesso ao reservatório de energia no id por meio da identificação da criança com os pais. O trabalho realizado pelo superego frequentemente, mas nem sempre, é na direção oposta aos impulsos do id. Isso acontece porque o código moral representa a tentativa da sociedade de controlar e até de inibir a expressão das pulsões primitivas, especialmente as do sexo e da agressão. Ser bom geralmente significa ser obediente e não fazer nem dizer “coisas feias”. Ser mau significa ser desobediente, rebelde e lascivo. A pessoa virtuosa inibe seus impulsos; a pessoa pecadora os satisfaz. Mas o superego pode às vezes ser corrompido pelo id. Isso acontece, por exemplo, quando alguém, em um ataque de fervor moralista, toma medidas agressivas contra aqueles considerados maus ou pecadores. A expressão da agressão nesses casos é coberta pelo manto de honrada indignação. Depois que a energia fornecida pelos instintos foi canalizada para o ego e o superego pelos mecanismos de identificação, torna-se possível uma complicada interação de forças pulsionais e restritivas. O Id, podemos lembrar, só possui forças pulsionais ou catexias, ao passo que a energia do ego e do superego é usada tanto para satisfazer quanto para frustrar as metas instintuais. O ego tem de supervisionar tanto o id quanto o superego para poder governar sabiamente a personalidade; no entanto, ele precisa que lhe reste energia suficiente para realizar a interação necessária com o mundo externo. Se o id mantém o controle sobre uma grande parcela da energia, o comportamento da pessoa tende a ter um caráter impulsivo e primitivo. Por outro lado, se o superego obtém o controle de uma quantidade indevida de energia, o funcionamento da personalidade será dominado por considerações moralistas em vez de realistas. As anticatexias da consciência podem amarrar o ego com nós moralistas e impedir qualquer tipo de ação, enquanto as catexias do ideal de ego podem estabelecer padrões tão elevados para o ego que a pessoa vai se sentir continuamente frustrada e pode eventualmente desenvolver um sentimento depressivo de fracasso. As mudanças de energia súbitas e imprevisíveis de um sistema para outro e de catexias para anticatexias são comuns, especialmente durante as duas primeiras décadas de vida, antes que a distribuição de energia tenha se tomado mais ou menos estabilizada. Essas mudanças de energia mantêm a personalidade em um estado de fluxo dinâmico. Freud era pessimista em relação às chances de a psicologia se tornar uma ciência exata porque, como ele salientava, até uma mudança muito pequena na distribuição da energia poderia fazer a balança pender em favor de uma forma de comportamento e não da oposta (Freud, 1920b). Quem HALL, LINDZEY & CAMPBELL 10 pode dizer se a pessoa em pé no parapeito da janela vai pular ou não, ou se o atacante do time de futebol vai falhar ou conseguir fazer o gol e obter a vitória? Na análise final, a dinâmica da personalidade consiste na interação das forças pulsionais (catexias) e das forças restritivas (anticatexias). Todos os conflitos da personalidade podem ser reduzidos à oposição entre esses dois conjuntos de forças. Toda tensão prolongada se deve à oposição entre uma força pulsional e uma força restritiva. Seja uma anticatexia do ego oposta a uma catexia do id ou uma anticatexia da superego oposta a uma catexia do ego, o resultado em termos de tensão é o mesmo. Como Freud gostava de dizer, a psicanálise é “uma (concepção) dinâmica, que investiga a vida mental na interação entre forças que favorecem ou inibem uma à outra” (1910b, p. 213). Ansiedade A dinâmica da personalidade é em grande extensão governada pela necessidade de gratificar as próprias necessidades por meio de transações com objetos no mundo externo. O ambiente circundante provê o organismo faminto com alimento, e o sedento, com água. Além de seu papel como fonte dos suprimentos, o mundo externo desempenha um outro papel importante como moldador do destino da personalidade. O ambiente contém regiões de perigo e insegurança; ele pode ameaçar, assim como satisfazer O ambiente temo poder de produzir dor e aumentar a tensão, assim como de trazer prazer e reduzir a tensão. Ele perturba, assim como conforta. Sentir medo é a reação costumeira do indivíduo às ameaças externas de dor e destruição com as quais não está preparado para lidar. A pessoa ameaçada normalmente é uma pessoa com medo. Esmagado pela estimulação excessiva que não consegue controlar, o ego é inundado pela ansiedade. Freud reconheceu três tipos de ansiedade: ansiedade de realidade, ansiedade neurótica e ansiedade moral, ou sentimentos de culpa (1926b). O tipo básico é a ansiedade de realidade, ou o medo de perigos reais no mundo externo; dele se derivam os outros dois. A ansiedade neurótica é o medo de que os instintos escapem ao controle e levem a pessoa a tomar alguma atitude pela qual ela será punida. A ansiedade neurótica não é tanto o medo dos próprios instintos quanto o medo da punição que provavelmente se seguirá à gratificação instintual. A ansiedade neurótica tem uma base na realidade, porque o mundo, conforme representado pelos pais e outras autoridades, realmente pune a criança por ações impulsivas, A ansiedade moral é o medo da consciência. As pessoas com superegos bem-desenvolvidos tendem a sentir culpa quando praticam algum ato ou, inclusive, quando pensam em fazer alguma ação contrária ao código moral pelo qual foram criadas. Dizemos que são aprisionadas pela consciência. A ansiedade moral também tem uma base realista, pois a pessoa foi punida no passado por violar o código moral e pode ser punida novamente. A função da ansiedade é alertar a pessoa em relação a um perigo iminente; ela é um sinal para o ego de que, a menos que sejam tomadas medidas apropriadas, o perigo pode aumentar até o ego ser aniquilado. A ansiedade é um estado de tensão; é uma pulsão como a fome ou o sexo, mas, em vez de surgir das condições tissulares internas, é produzida originalmentepor causas externas. Quando a ansiedade é despertada, ela motiva a pessoa a fazer algo. Ela pode fugir da região ameaçadora, inibir o impulso perigoso ou obedecer à voz da consciência. A ansiedade que não pode ser manejada com medidas efetivas é chamada de traumática. Ela reduz a pessoa a um estado de desamparo infantil. De fato, o protótipo de toda ansiedade posterior é o trauma do nascimento. O neonato é bombardeado com estímulos do mundo para os quais não está preparado e aos quais não consegue se adaptar. O bebê precisa de um ambiente protegido até o ego ter tido a chance de se desenvolver a ponto de conseguir dominar os fortes estímulos do ambiente. Quando o ego não consegue lidar com a ansiedade por métodos racionais, ele tende recorrer a métodos irrealistas. Esses métodos são os chamados mecanismos de defesa do ego, que serão discutidos na seção seguinte. O DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE Freud foi provavelmente o primeiro teórico da psicologia a enfatizar os aspectos desenvolvimentais da personalidade e em particular o papel decisivo dos primeiros anos do período de bebê e da infância como formadores da estrutura de caráter básica da pessoa. Na verdade, Freud considerava que a personalidade já estava muito bem formada pelo final do quinto ano de vida e que o desenvolvimento subsequente era praticamente só a elaboração dessa estrutura básica. Ele chegou a essa conclusão com base em suas experiências com pacientes que se submetiam à psicanálise. Inevitavelmente, suas explorações mentais os levavam de volta a experiências da infância inicial que pareciam decisivas para o desenvolvimento de uma neurose mais tarde na vida. Freud acreditava que “a criança é o pai do homem”. É interessante, em vista de sua forte preferência por explicações genéticas do comportamento adulto, que Freud raramente tenha estudado as crianças pequenas HALL, LINDZEY & CAMPBELL 11 diretamente. Ele preferia reconstruir a vida passada da pessoa a partir de evidências fornecidas por lembranças adultas. A personalidade se desenvolve em resposta a quatro fontes importantes de tensão: (1) processos de crescimento fisiológico, (2) frustrações, (3) conflitos e (4) ameaças. Como uma consequência direta de aumentos de tensão emanando dessas fontes, a pessoa é forçada a aprender novos métodos de reduzir a tensão. Tal aprendizagem é o que seria o desenvolvimento da personalidade. (Para uma lúcida discussão da teoria de Freud da aprendizagem, ver Hilgard & Bower, 1975.) A identificação e o deslocamento são dois métodos pelos quais o indivíduo aprende a resolver as frustrações, os conflitos e as ansiedades. Identificação O conceito de identificação foi introduzido em uma seção anterior para ajudar a explicar a formação do ego e do superego. No presente contexto, a identificação pode ser definida como o método pelo qual alguém assume as características de outra pessoa e torna-as uma parte integrante de sua personalidade. Ela aprende a reduzir a tensão modelando o próprio comportamento segundo o de outra pessoa. Freud preferia o termo identificação ao termo imitação, mais familiar. Ele achava que imitação denota uma espécie de comportamento de copiar superficial e temporário, e queria uma palavra que transmitisse a ideia de uma aquisição mais ou menos permanente da personalidade. Nós escolhemos como modelos aqueles indivíduos que nos parecem mais bem-sucedidos do que nós na gratificação das próprias necessidades. A criança se identifica com os pais porque eles parecem ser onipotentes, pelo menos durante os anos da infância inicial. À medida que as crianças crescem, encontram outras pessoas com as quais se identificar, pessoas cujas realizações estão mais de acordo com seus atuais desejos. Cada período tende a ter suas figuras de identificação características. Nem é preciso dizer que a maioria dessas identificações ocorre inconscientemente e não, como pode parecer, com intenção consciente. Não é necessário que uma pessoa se identifique com outra em todos os aspectos. Geralmente selecionamos e incorporamos apenas aquelas características que acreditamos que vão nos ajudar a atingir um objetivo desejado. Existe muita tentativa e erro no processo de identificação, porque geralmente não temos certeza do que existe na outra pessoa que explica o seu sucesso. O teste supremo é se a identificação ajuda a reduzir a tensão; se ajuda, aquela qualidade é absorvida; se não ajuda, ela é descartada. Podemos identificar-nos com animais, personagens imaginários, instituições, ideias abstratas e objetos inanimados, assim como com outros seres humanos. A identificação também é um método pelo qual podemos recuperar um objeto que foi perdido. Quando nos identificamos com uma pessoa amada que morreu ou de quem nos separamos, a pessoa perdida é reencarnada como uma característica incorporada da personalidade. As crianças que foram rejeitadas pelos pais tendem a formar sólidas identificações com eles na esperança de recuperar seu amor. Também podemos nos identificar com alguém por medo. A criança se identifica com as proibições dos pais a fim de evitar o castigo. Esse tipo de identificação é a base para a formação do superego. A estrutura final da personalidade representa um acúmulo de numerosas identificações feitas em vários períodos da vida da pessoa, embora a mãe e o pai provavelmente sejam as figuras de identificação mais fortes na vida de qualquer pessoa. Deslocamento Quando uma escolha de objeto original de um instinto se toma inacessível por barreiras externas ou internas (anticatexias), uma nova catexia se forma, a menos que ocorra uma forte repressão. Se essa nova catexia também é bloqueada, ocorre um outro deslocamento, e assim por diante, até ser encontrado um objeto que traga certo alívio para a tensão encurralada. Esse objeto é então catexizado até perder seu poder de reduzir a tensão, momento em que é instituída outra busca por um objeto apropriado. Durante toda a série de deslocamentos que constitui, em grande medida, o desenvolvimento da personalidade, a fonte e a meta do instinto permanecem constantes. É só o objeto que varia. Um objeto substituto raramente é tão satisfatório ou redutor de tensão quanto o objeto original, e quanto mais diferente for o objeto substituto do original, menos a tensão é reduzida. Em consequência de numerosos deslocamentos, vai-se acumulando uma grande tensão, que age como uma permanente força motivacional para o comportamento. A pessoa está constantemente buscando maneiras novas e melhores de reduzir a tensão. Isso explica a variabilidade e a diversidade do comportamento, assim como a inquietude humana. Por outro lado, a personalidade realmente se torna mais ou menos estabilizada com a idade, devido aos compromissos feitos entre as forças pulsionais dos instintos e as resistências do ego e do superego. Como escrevemos alhures: HALL, LINDZEY & CAMPBELL 12 “Os interesses, os apegos e todas as outras formas de motivos adquiridas persistem porque são até certo grau frustrantes, assim como satisfatórios. Eles persistem porque não produzem uma satisfação completa. . . Todo compromisso é ao mesmo tempo uma renúncia. A pessoa desiste de alguma coisa que realmente quer, mas não pode ter, e aceita uma segunda ou terceira melhor escolha que pode ter” (Hall, 1954, p. 104) Freud salientou que o desenvolvimento da civilização foi possível devido à inibição das escolhas objetais primitivas e ao desvioda energia instintual para canais socialmente aceitáveis e culturalmente criativos (1930). Um deslocamento que produz uma realização cultural superior é chamado de sublimação. Freud observou, em relação a isso, que o interesse de Leonardo da Vinci por pintar madonas era uma expressão sublimada de um desejo de intimidade com a mãe, de quem ele fora separado em tenra idade (1910a). Uma vez que a sublimação não resulta em uma satisfação completa, não mais que o deslocamento, sempre fica certa tensão residual. Essa tensão pode descarregar-se na forma de nervosismo ou inquietude, condições que Freud apontou como o preço que os seres humanos pagavam por seu status civilizado(1908). A direção tomada por um deslocamento é determinada por dois fatores: (1) a semelhança do objeto substituto com o original e (2) as sanções e as proibições impostas pela sociedade. O fator de semelhança é na verdade o grau em que os objetos são identificados na mente da pessoa. Leonardo pintava madonas em vez de camponesas ou aristocratas porque imaginava sua mãe mais parecida com uma madona do que com qualquer outro tipo de mulher. A sociedade, agindo por meio dos pais e de outras pessoas disciplinadoras, autoriza certos deslocamentos e proíbe outros. A criança aprende que é permitido chupar um pirulito, mas não o polegar. A capacidade de formar catexias objetais substitutas é o mecanismo mais poderoso para o desenvolvimento da personalidade. A complexa rede de interesses, preferências, valores, atitudes e apegos que caracterizam a personalidade do adulto humano é possibilitada pelo deslocamento. Se a energia psíquica não fosse deslocável e distributiva, não haveria nenhum desenvolvimento da personalidade. A pessoa seria meramente um robô mecânico, levada pelos instintos a executar padrões fixos de comportamento. Os Mecanismos de Defesa do Ego Sob a pressão de excessiva ansiedade, o ego às vezes é forçado a tomar medidas extremas para aliviar a pressão. Essas medidas são chamadas de mecanismos de defesa. As principais defesas são a repressão, a projeção, a formação reativa, a fixação e a regressão (Anna Freud, 1946). Todos os mecanismos de defesa têm duas características em comum: (1) eles negam, falsificam ou distorcem a realidade e (2) eles operam inconscientemente, de modo que a pessoa não tem consciência do que está acontecendo. Repressão Este é um dos primeiros conceitos da psicanálise. Antes de Freud chegar à sua formulação final da teoria da personalidade em termos de id, ego e superego, ele dividiu a mente em três regiões: consciência, pré- consciência e inconsciência. O pré-consciente consistia no material psicológico que poderia se tornar consciente quando surgisse a necessidade. O material no inconsciente, entretanto, era visto por Freud como relativamente inacessível à consciência: ele estaria em um estado de repressão. Quando Freud revisou sua teoria da personalidade, o conceito de repressão foi mantido como um dos mecanismos de defesa do ego. (Gill, 1963, salienta que Freud abandonou urna topografia da mente em termos de consciente, pré-consciente e inconsciente por uma visão estrutural em termos de id, ego e superego, porque a repressão e o que estava reprimido não podiam estar no mesmo sistema. A repressão estaria no ego, e o que era reprimido, no id. Ver também Arlow & Brenner, 1964). Dizemos que ocorre repressão quando uma escolha de objeto que provoca um alarme indevido é empurrada para fora da consciência por uma anticatexia. Por exemplo, podemos impedir que uma memória perturbadora se torne consciente, ou que uma pessoa não enxergue algo que está bem à vista porque a percepção daquilo está reprimida. A repressão pode inclusive interferir no funcionamento normal do corpo. Alguém pode ficar sexualmente impotente porque tem medo do impulso sexual, ou desenvolver uma artrite em consequência de sentimentos de hostilidade reprimidos. As repressões podem abrir caminho à força por meio das anticatexias opositoras ou encontrar expressão na forma de um deslocamento. Para que o deslocamento consiga impedir o redespertar da ansiedade, ele precisa estar disfarçado em alguma forma simbólica adequada. Um filho que reprimiu seus sentimentos hostis em relação ao pai pode expressar esses sentimentos hostis diante de outros símbolos de autoridade. Uma vez formadas, as repressões são difíceis de serem apagadas. A pessoa precisa reassegurar-se de que o perigo não mais existe, mas não pode obter essa segurança até a repressão se erguer e ela poder testar a realidade. É um círculo vicioso. É por isso que os adultos HALL, LINDZEY & CAMPBELL 13 levam consigo muitos medos infantis. Eles nunca têm a chance de descobrir que esses medos não têm nenhuma base na realidade. Observem a semelhança com a posição comportamentalista de que os medos irracionais persistem porque levam o indivíduo a evitar situações em que o medo poderia ser extinto (ver Capítulo 12). Projeção Normalmente é mais fácil para o ego lidar com a ansiedade de realidade do que com a ansiedade neurótica ou a moral. Consequentemente, se a fonte da ansiedade pode ser atribuída ao mundo externo em vez de aos impulsos primitivos do indivíduo ou às ameaças da consciência, a pessoa provavelmente obterá maior alívio para a condição ansiosa. Esse mecanismo pelo qual a ansiedade neurótica ou moral é convertida em um medo objetivo é chamado de projeção. Tal conversão é feita facilmente, porque a fonte original tanto da ansiedade neurótica quanto da moral é o medo de ser castigado por um agente externo. Na projeção, alguém simplesmente diz: “Ela me odeia” em vez de “Eu a odeio” ou “Ele está me perseguindo” em vez de “Minha consciência está me perturbando”. A projeção geralmente tem um propósito duplo. Ela reduz a ansiedade ao substituir um perigo maior por um menor, e permite que a pessoa que está projetando expresse seus impulsos sob o disfarce de defender-se dos inimigos. Formação Reativa Esta medida defensiva envolve substituir, na consciência, um impulso ou sentimento ansiogênico pelo seu oposto. Por exemplo, o ódio é substituído pelo amor. O impulso original ainda existe, mas é encoberto ou mascarado por outro que não causa ansiedade. É comum a pergunta sobre como podemos distinguir uma formação reativa de uma genuína expressão de um impulso ou sentimento. Por exemplo, como o amor reativo pode ser diferenciado do amor verdadeiro? Normalmente, uma formação reativa é marcada por uma manifestação extravagante — a pessoa faz protestos exagerados — e pela compulsividade. As formas extremas de qualquer tipo de comportamento geralmente denotam uma formação reativa. Às vezes, a formação reativa consegue satisfazer o impulso original contra o qual a pessoa se defende, como quando uma mãe cobre o filho de afeição e atenção. Fixação e Regressão No curso do desenvolvimento normal, como veremos na próxima seção, a personalidade atravessa uma série de estágios bem-definidos até chegar à maturidade. Cada novo passo dado, todavia, envolve certa frustração e ansiedade. Se elas se tornam muito intensas, o crescimento normal pode ficar temporária ou permanentemente interrompido. Em outras palavras, a pessoa pode ficar fixada nos estágios iniciais do desenvolvimento, porque dar o passo seguinte desperta muita ansiedade. A criança excessivamente dependente exemplifica a defesa pela fixação; a ansiedade a impede de aprender a ser independente.Uma defesa estreitamente relacionada é a da regressão. Nesse caso, uma pessoa que encontra experiências traumáticas recua para um estágio anterior de desenvolvimento. Por exemplo, uma criança que está assustada com o primeiro dia na escola pode apresentar um comportamento de bebê, como chorar, chupar o dedo, agarrar-se à professora ou esconder-se em um canto. Uma jovem mulher casada que está com dificuldades com o marido pode voltar para a segurança da casa dos pais, ou um homem que perdeu o emprego pode buscar consolo na bebida. O caminho da regressão normalmente é determinado pelas fixações anteriores da pessoa. Isto é, as pessoas tendem a regredir a um estágio no qual estiveram previamente fixadas. Se eram excessivamente dependentes quando crianças, é provável que se tomem mais uma vez excessivamente dependentes quando sua ansiedade atingir um nível intolerável. A fixação e a regressão em geral são condições relativas: uma pessoa raramente se fixa ou regride completamente. Mais propriamente, a personalidade tende a incluir infantilismos, isto é, formas imaturas de comportamento, e predisposição a manifestar conduta infantil quando frustrada. As fixações e as regressões são responsáveis pela irregularidade no desenvolvimento da personalidade. HALL, LINDZEY & CAMPBELL 14 Referência: HALL, C.; LINDZEY, G.; CAMPBELL, J. Teorias da personalidade. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. pp. 50-64.
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