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PGMEC PROGRAMA FRANCISCO EDUARDO MOURÃO SABOYA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA ESCOLA DE ENGENHARIA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Dissertação de Mestrado COMPORTAMENTO MECÂNICO DO POLÍMERO PTFE SUJEITO A DIFERENTES TAXAS DE DEFORMAÇÃO FLEDS WILIAM REIS DIAS NOVEMBRO DE 2011 FLEDS WILIAM REIS DIAS COMPORTAMENTO MECÂNICO DO POLÍMERO PTFE SUJEITO A DIFERENTES TAXAS DE DEFORMAÇÃO Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa Francisco Eduardo Mourão Saboya de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da UFF como parte dos requisitos para a obtenção do tí tulo de Mestre em Ciências em Engenharia Mecânica Orientadores: Prof. Luiz Carlos da Silva Nunes (D.Sc.) (PGMEC/UFF) Prof. Heraldo S. Da Costa Mattos (D.Sc.) (PGMEC/UFF) UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE NITERÓI, 21 DE NOVEMBRO DE 2011 COMPORTAMENTO MECÂNICO DO POLÍMERO PTFE SUJEITO A DIFERENTES TAXAS DE DEFORMAÇÃO Esta Dissertação é parte dos pré-requisitos para a obtenção do título de MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA Área de concentração: Mecânica dos Sólidos Aprovada em sua forma final pela Banca Examinadora formada pelos professores: Prof. Luiz Carlos da Silva Nunes (D.Sc.) Universidade Federal Fluminense (Orientador) Prof. Heraldo S. Da Costa Mattos (D.Sc.) Universidade Federal Fluminense (Orientador) Prof. João Marciano Laredo dos Reis (Ph. D.) Universidade Federal Fluminense Profª. Lavinia Maria Sanábio Alves Borges (D. Sc.) Universidade Federal do Rio de Janeiro Dedico este trabalho à minha esposa, Eliene Bambirra e aos meus filhos Artem e Raissa. Agradecimentos À Universidade Federal Fluminense, ao professor Doutor Luiz Carlos da Silva Nunes, ao Professor Doutor Heraldo Silva da Costa Mattos e a todos os professores do Curso de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica. RESUMO O crescente uso de materiais poliméricos em aplicações de Engenharia tem motivado vários pesquisadores a buscar modelos que possam descrever adequadamente o seu comportamento. Neste contexto, o principal objetivo deste trabalho é estudar o comportamento mecânico de um polímero particular, o politetrafluoretileno (PTFE), sujeito a diferentes taxas de deformações. Tal material foi escolhido por apresentar inúmeras vantagens e é comumente usado em várias aplicações industriais. Neste trabalho foram realizados ensaios mecânicos de tração em placas de PTFE considerando-se diferentes taxas de deformação. Com base nesses resultados experimentais é proposto um modelo alternativo capaz de descrever de forma simples o comportamento desse material, levando-se em consideração a velocidade com que a carga foi aplicada. Tal modelo mostrou-se eficaz na comparação com os dados experimentais. Palavras chaves: politetrafluoretileno, superplasticidade, ensaio de tração, equações constitutivas. ABSTRACT Polymeric materials have been widely used in engineering applications. This has encouraged several investigators to develop constitutive model to predict the mechanical behavior. In this way, the main goal of this work is to study the mechanical behavior of polymer known as polytetrafluoroethylene – PTFE under different strain-rate. This material was chosen to present several advantages and it is commonly used in industry applications. In this paper, tensile tests in a plate of PTFE were performed considering different strain-rate. Based on experimental results, it is proposed an alternative model capable of predicting the mechanical behavior for PTFE polymer, in which the strain-rate is included. Key-words: polytetrafluoroethylene, viscoelasticity, tensile test, constitutive equations. SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ...............................................................................................................x LISTA DE TABELAS..............................................................................................................xii LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS........................................................................xiii 1.0 INTRODUÇÃO..................................................................................................................15 2.0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...........................................................................................18 2.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS SOBRE POLÍMEROS.......................................18 2.2 CARACTERÍSTICAS, PROPRIEDADES E APLICAÇÕES DO PTFE.................19 2.3 HISTÓRIA DO PTFE................................................................................................24 2.4 OUTROS TRABALHOS PUBLICADOS SOBRE PTFE........................................24 3.0 MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................................27 3.1 MATERIAIS E APARATO DE CORTE....................................................................27 3.1.1 CORPO DE PROVA.....................................................................................27 3.1.2 O APARATO DE CORTE.............................................................................30 3.2 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL.....................................................................33 3.2.1 PREPARAÇÃO DO CORPO DE PROVA.............................................................34 3.2.2 MEDIÇÃO COM VÍDEO-EXTENSÔMETRO.....................................................36 3.2.3 ENSAIOS DE TRAÇÃO........................................................................................40 4.0 RESULTADOS E DISCUSSÕES.......................................................................................45 4.1 RESULTADOS EXPERIMENTAIS.........................................................................45 4.2 MODELO PROPOSTO.............................................................................................51 4.3 IDENTIFICAÇÃO DE PARÂMETROS..................................................................52 4.4 VALIDAÇÃO DO MODELO...................................................................................55 5.0 CONCLUSÕES..................................................................................................................57 6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................59 7.0 ANEXOS.............................................................................................................................62 7.1 GRÁFICOS DAS CURVAS TENSÃO-DEFORMAÇÃO REAIS DOS DADOS EXPERIMENTAIS REALIZADOS NESTA PESQUISA..............................................63 7.2 PROGRAMA DA MÁQUINA DE ENSAIO UNIVERSAL E DO VÍDEO- EXTENSÔMETRO.........................................................................................................68 8.0 APÊNDICES.......................................................................................................................70 x LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 Esquema do diagrama de fase do PTFE a baixas pressões ..............21 Figura 3.1 Dimensões do corpo de prova padronizado.........................................27 Figura 3.2 Ferramenta de corte..............................................................................29 Figura 3.3 Aparato de corte desenvolvido por Luiz Fernando Garcia Júnior e Thiago Silva Baron................................................................................29 Figura 3.4 Modelo inicial do aparato de corte........................................................30 Figura 3.5 Base do aparato de corte montado na furadeira de coluna.................31 Figura 3.6 Ilustração de um pedaço típico de PTFE..............................................32 Figura 3.7 Posição da ferramentade corte no corpo de prova............................33 Figura 3.8 Máquina de ensaio universal utilizada..................................................34 Figura 3.9 Marcações no corpo de prova..............................................................36 Figura 3.10 Esquema de funcionamento do vídeo-extensômetro...........................37 Figura 3.11 Câmeras do vídeo-extensômetro e um corpo de prova montado na máquina de ensaio................................................................................38 Figura 3.12 Detalhe do posicionamento do corpo de prova nas garras da máquina universal................................................................................................38 Figura 3.13 Programas de configuração da máquina de ensaio e de controle do sistema do vídeo-extensômetro............................................................39 Figura 3.14 Programa do vídeo-extensômetro e o gráfico da máquina de ensaio..40 Figura 3.15 Taxas de deformação do comprimento útil calculadas a partir das velocidades do travessão.....................................................................42 Figura 3.16 Sistema do vídeo-extensômetro montado no suporte e alinhado com o corpo de prova......................................................................................43 Figura 4.1 Sequência de um ensaio de tração mostrando a grande deformação do corpo de prova de PTFE.......................................................................45 xi Figura 4.2 Amostras deformadas em diversas fases do ensaio de tração.............46 Figura 4.3 Amostra de corpo de prova rompido na marcação e a trinca na outra marcação...............................................................................................46 Figura 4.4 Curvas tensão-deformação de engenharia, considerando diferentes taxas de deformação.............................................................................48 Figura 4.5 Curvas tensão-deformação reais, considerando diferentes taxas de deformação............................................................................................48 Figura 4.6 Representação esquemática da curva tensão-deformação real e da inclinação ∂σ/∂ε : definição de ε*.........................................................49 Figura 4.7 Comparação entre a curvas tensão-deformação e a curva ∂σ/∂ε para diferentes taxas de deformação............................................................50 Figura 4.8 Comparação entre o modelo e os resultados experimentais(0 < ε ≤ ε*) ...............................................................................................................54 Figura 4.9 Comparação entre o modelo e os resultados experimentais (ε >ε*).....54 Figura 4.10 Tensão de escoamento real em função da taxa de deformação de engenharia.............................................................................................55 Figura 4.11 Comparação entre o modelo ajustado e os resultados experimentais. 56 Figuras 7.1 a 7.15 Gráficos das curvas tensão-deformação reais dos dados experimentais realizados nesta pesquisa..............................................63 Figura 7.16 Sequência das telas de configuração do programa da máquina de ensaio Trapezium-X...............................................................................68 Figura 7.17 Tela de configuração do programa do vídeo-extensômetro..................70 xii LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 Propriedades obtidas no PTFE com utilização de cargas....................23 Tabela 2.2 Propriedades físicas do PTFE..............................................................23 Tabela 3.1 Ensaios realizados sem rompimento do corpo de prova......................43 Tabela 3.2 Ensaios realizados com rompimento do corpo de prova......................44 Tabela 4.1 Resultados da primeira parte do modelo para valores menores que ε* ...............................................................................................................52 Tabela 4.2 Resultados da segunda parte do modelo para valores maiores que ε* ...............................................................................................................52 xiii LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS A Constante da função da tensão de escoamento A0 Área inicial da seção do corpo de prova B Parâmetro CP Corpo de prova e Deformação de engenharia F Força aplicada ao corpo de prova KI Coeficiente de resistência da primeira parte do modelo matemático KII Coeficiente de resistência da segunda parte do modelo matemático Kim Média calculada de KI l0 Comprimento inicial do corpo de prova Δl Alongamento do corpo de prova m Coeficiente de encruamento da segunda parte do modelo matemático n Coeficiente de encruamento da primeira parte do modelo matemático PTFE politetrafluoretileno PVC Polivinilacrílico s Tensão de engenharia β Constante do modelo matemático βm Média calculada de β ε Deformação real ε* Valor definido equivalente ao ponto de transição da curva tensão- deformação real do PTFE σ Tensão real 14 σ*f Valor de σf no ponto ε* σf Função tensão de escoamento 1.0 INTRODUÇÃO Atualmente o desenvolvimento tecnológico está exigindo o desenvolvimento de materiais que tenham propriedades especiais para atender aos requisitos cada vez mais exigentes. Em muitos casos, esses materiais têm seu desenvolvimento catalizado pelas demandas da indústria militar e aeroespacial e, posteriormente, chegam até à população através de novos produtos. Os polímeros certamente estão entre os materiais mais aplicados no dia a dia das pessoas e têm uma diversidade de produtos, com as mais variadas características, que cobrem quase todos os ramos da indústria e do mercado. Eles são recentes e, a cada dia, tem-se visto um número crescente de tipos superar limites em propriedades químicas e físicas, permitindo seu uso onde antes não era possível e substituindo tradicionais materiais como o bronze, o aço, o vidro e outros. Dentre os diversos materiais que surgiram nas últimas décadas, o polímero Politetrafluoretileno (PTFE) é, sem dúvida, um dos que têm mais aplicações onde, dificilmente, outro o substituiria. Politetrafluoretileno (PTFE) é um polímero conhecido pelo nome comercial Teflon®, marca registrada de propriedade da empresa DuPont. Este polímero se caracteriza por algumas excepcionais propriedades, como a inércia química, o baixo coeficiente de atrito, resistência à temperaturas elevadas, dentre outras qualidades. As aplicações industriais deste polímero se propagam por vários setores e chegam aos nossos dias tão difundidos nos diversos segmentos técnicos que praticamente inexistem áreas sem a sua presença. 16 O crescente uso do PTFE no ramo das engenharias tem motivado diversos estudos sobre o seu comportamento mecânico visando conhecer melhor as características em condições diversas de carregamento e de temperatura. Hoje em dia é fundamental o conhecimento de um modelo matemático que traduza as propriedades físicas do material para que seja possível o uso de programas de computadores que simulem o comportamento mecânico em diversas condições, poupando tempo e recursos no desenvolvimento de protótipos e antecipando lançamentos e lucros. O objetivo primaz deste trabalho é o desenvolvimento de um modelo constitutivo do comportamento do PTFE quando este é submetido à tração, com carregamento monotônico, em uma faixa definida de taxas de deformação aplicadas de forma constante. Para a definição do modelo matemático foram feitos vários ensaios de tração com corpos de prova de PTFE normalizados. Na parteinicial desta dissertação será apresentado um resumo da revisão bibliográfica utilizada. Serão mostrados alguns conceitos fundamentais sobre os polímeros e uma explicação mais profunda sobre o PTFE, incluindo um pouco da sua história, suas características, suas propriedades e também serão citados algumas importantes aplicações. Dentro deste tópico, serão descritos sucintamente alguns trabalhos publicados sobre as propriedades físicas deste material. A seguir serão apresentados o material e o procedimento de confecção do corpo de prova, que demandou a criação de um aparato de corte a fim de garantir a qualidade das amostras. O tipo de corpo de prova mais adequado para a realização dos ensaios de tração uniaxial foi analisado para que fosse prático e de fácil confecção, para garantir a uniformidade das amostras dentro das possibilidades disponíveis de ferramental. Para isto, foi utilizado um método peculiar para obtenção de corpos de prova, viável para a modelagem em PTFE, que utiliza um aparato, projetado no Laboratório de Mecânica Aplicada da Universidade Federal Fluminense, que recorta corpos de prova de PTFE, dentro da norma estabelecida, através de um processo semi-automático. 17 Serão descritos também os processos dos ensaios experimentais, onde foram feitos diversos ensaios de tração em amostras de PTFE no Laboratório de Ensaios de Tubos (LET/ LMTA) da Universidade Federal Fluminense, UFF. Será mostrada a sistemática de utilização do vídeo-extensômetro e a preparação do corpo de prova para a utilização deste meio de medição, a metodologia do ensaio de tração e algumas questões interessantes sobre os experimentos com o PTFE. Finalmente será proposto um modelo matemático que represente o comportamento do PTFE. Dentro do tópico Resultados e Discussões, serão analisados os resultados experimentais, que servirão de base para a determinação dos parâmetros do modelo e será mostrada a comparação gráfica das curvas experimentais e do modelo matemático. Na última parte desta dissertação será exposta uma conclusão. 2.0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS SOBRE POLÍMEROS Polímeros são macromoléculas formadas por pequenas moléculas chamadas monômeros que se ligam covalentemente por meio de uma reação denominada polimerização. Os polímeros podem ser naturais ou sintéticos. Dentre os vários polímeros naturais podemos citar a celulose (plantas), caseína (proteína do leite), látex natural e seda. São exemplos de polímeros sintéticos o PTFE, o PVC, o Nylon e o acrílico [2]. Quanto à fusibilidade, os polímeros sintéticos podem ser classificados em termoplásticos (podem ser fundidos por aquecimento e solidificados por resfriamento) e termorrígidos (infusíveis e insolúveis, não permitem reprocessamento). Os termoplásticos de engenharia apresentam melhores propriedades térmicas e mecânicas que os convencionais, além de possuírem um maior custo. São exemplos de termoplásticos de engenharia, o policarbonato – PC (utilizados na fabricação de CD, janelas de aeronaves e ginásios de esportes) e as poliamidas – Nylons (usados em engrenagens plásticas, tecidos impermeáveis, etc). Os termoplásticos convencionais são encontrados principalmente nas embalagens plásticas como garrafas, copos descartáveis, potes, sacos plásticos, etc. [2]. Os polímeros exibem dois tipos de morfologia no estado sólido: amorfo e semicristalino. Em um polímero amorfo, as moléculas estão orientadas aleatoriamente e estão entrelaçadas. Os polímeros amorfos são, geralmente, transparentes. Nos polímeros semicristalinos, as moléculas exibem um empacotamento regular, ordenado, em determinadas regiões. Devido às fortes 19 interações intermoleculares, os polímeros semicristalinos são mais duros e resistentes; como as regiões cristalinas espalham a luz, estes polímeros são mais opacos [3]. Um fluoropolímero é um polímero baseado em fluorocarbonos com fortes ligações carbono–flúor. São uma classe de materiais composta de politetrafluoretileno (PTFE), do etileno-propileno fluorado (FEP), do perfluoralcooloxitileno (ECTFE), do etileno-tetrafluoretileno (ETFE), do fluoreto de polivinilideno (PVDF), do fluoreto de polivinila (PVF) e dos copolímeros de etileno halogenados e fluorados [4] As principais características dos fluoropolímeros são sua inércia química, sua estabilidade em altas e baixas temperaturas, excelentes propriedades elétricas e baixo coeficiente de atrito. As resinas são relativamente moles. Sua resistência a desgastes e deformações é baixa, porém, essa característica pode ser facilmente melhorada pela mistura das resinas com fibras inorgânicas ou materiais em partículas. São excelentes as propriedades elétricas dos fluoropolímeros e eles se mantêm estáveis dentro de uma grande faixa de frequências e de condições ambientais. A resistência dielétrica e a resistência superficial a arcos dessas resinas plásticas fluoradas são elevadas e não sofrem variações pela ação de calor ou temperatura [1]. Os fluoropolímeros e outros termoplásticos apresentam uma reação não linear quando submetidos a carregamentos externos. Em pequenas deformações, o comportamento observado é linear-viscoplástico. 2.2 CARACTERÍSTICAS, PROPRIEDADES E APLICAÇÕES DO PTFE O PTFE é um polímero similar ao polietileno, onde os átomos de hidrogênio estão substituídos por flúor. A fórmula química do monômero (tetrafluoretileno) é (CF2)2 , e o polímero (politetrafluoretileno) é (CF2-CF2)n. O PTFE é um polímero semicristalino. O percentual cristalino pode ser alterado para um dado peso molecular conforme o tipo de tratamento térmico usado durante a fabricação do polímero. O PTFE tem no mínimo 4 fases conhecidas, 20 dependendo da pressão e temperatura, ilustrado na Fig 2.1 [7]. Figura 2.1 Esquema do diagrama de fase do PTFE a baixas pressões [7]. Uma das principais características do PTFE é a sua propriedade de ser uma substância praticamente inerte, que não reage com outras substâncias químicas exceto em situações muito especiais, devido, basicamente, à proteção dos átomos de flúor sobre a cadeia carbônica. Esta propriedade é responsável pela característica da não toxidade do PTFE, implicando na sua utilização em diversas áreas que exijam condições especiais de utilização, como higiene e não reatividade [4]. O PTFE é um dos materiais conhecidos com o menor coeficiente de atrito. Talvez, esta seja uma das mais conhecidas virtudes do PTFE, o que faz deste material uma referência em um grande campo de aplicações. As superfícies antiaderentes do PTFE podem ser tratadas quimicamente de modo a ser possível a aplicação de adesivos para colagem de alumínio, aço, 21 borracha e outros materiais [1]. A impermeabilidade é outra característica do PTFE, que faz com que o material mantenha suas qualidades em ambientes úmidos, além da baixa aderência e ótima aceitabilidade pelo corpo humano, permitindo que ele seja usado em diversos tipos de prótese. Ele apresenta boa margem de temperatura de trabalho, entre –180ºC a 250ºC. Em –200ºC vitrifica e acima de 375ºC entra em estado "gel" [1]. A resistência ao desgaste do PTFE, que é relativamente baixa para seu uso como material de mancais, é contornada pela adição de produtos como fibras de vidro, carbono, bronze ou óxidos metálicos. Dessa forma, sua resistência ao desgaste é melhorada em até mil vezes, enquantoque seu coeficiente de atrito é somente ligeiramente aumentado. A tabela 2.1 mostra algumas cargas utilizadas junto com o PTFE para formar compósitos e as principais qualidades melhoradas com a aplicação da carga. O resultado é que a resistência, no caso do PTFE acrescido de enchimentos e dentro de sua faixa de operação, acaba sendo maior que a de qualquer outro plástico utilizado em mancais, sendo igualada unicamente por algumas formas de carbono [1]. O coeficiente de atrito estático de PTFE se reduz à medida do aumento da carga. Portanto, as superfícies dos mancais com PTFE não engripam, mesmo quando sob cargas extremamente elevadas. A velocidade no escorregamento tem efeito marcante nas características de atrito de resinas PTFE não reforçadas, enquanto que a temperatura exerce influência muito pequena sobre elas [1]. Além das qualidades já citadas, ainda podem ser mencionados o fato de o PTFE ser bom dissipador de calor, ter alta resistência dielétrica, ser autolubrificante, ser resistente às intempéries e aos raios solares, ser incombustível e ser bom amortecedor de vibrações. As principais propriedades físicas do PTFE estão mostradas na tabela 2.2. Entretanto, o PTFE tem algumas limitações. Ele tem baixa resistência mecânica, baixa resistência abrasiva, dimensões reduzidas do semi- acabado e processos fabris complexos [1]. 22 Tab.2.1 Propriedades obtidas no PTFE com utilização de cargas [5] CARGA PROPRIEDADES OBTIDAS Fibra de vidro Resistência à compressãoResistência ao desgaste Ótima resistência química Carbono Resistência à compresãoResistência ao desgaste Boa condutibilidade térmica. Grafite Boa condutibilidade térmicaBoas propriedades de deslizamento Baixo coeficiente de atrito Bronze Resistência à compressão Resistência ao desgaste Baixo escoamento a frio Ótima condutibilidade térmica MoS2 Ótima propriedade de deslizamentoReduz o desgaste Tab.2.2 Propriedades físicas do PTFE puro [5]. PROPRIEDADE Unidade de Medida Resina Granular Densidade G/cm3 2,18 Absorção a água % 0 Coeficiente de expansão térmica 1/k 12 Temperatura de fusão ºC 327 Temperatura a distorção ao calor ºC 49 Temperatura contínua de serviço ºC 260 23 Temperatura de fragilidade ºC -200 Módulo de YoUng MPa 420 Módulo de Flexão MPa 630 Resistência ao impacto J/m 160 Permissividade Rel. (1 MHZ) 1 2,1 Fator de dissipação 1 3 Resistividade volumétrica Ωm >1018 O PTFE está presente em um amplo campo de aplicações onde são aproveitados suas qualidades excepcionais. Ele pode ser aplicado em peças moldadas de ajuste e vedação, anéis de vedação para êmbolos e cotovelos, gaxetas, selos mecânicos, mancais, películas antiaderentes, placas e guias de deslizamento, diafragmas, isolantes para cabos coaxiais, acessórios e cabos condutores para motores, componentes para sistemas térmicos entre outras aplicações. O PTFE é de difícil usinagem, o que dificulta seu uso em processos fabris comumente utilizados. Em virtude desta característica, algumas modificações químicas tem sido introduzidas na formulação do PTFE a fim de se obter propriedades que permitam uma melhor trabalhabilidade [1]. As resinas PTFE, em função de sua alta viscosidade em estado de fusão, não podem ser processadas segundo as técnicas convencionais de extrusão e moldagem. Em lugar delas, as resinas são processadas por métodos de prensagem e sinterização (semelhantes aos processos de pós em metalurgia) ou então por extrusão lubrificada e sinterização. Elas são opacas, cristalizadas e maleáveis. Quando aquecidas acima de 340ºC, tornam-se transparentes, amorfas e de tratamento relativamente difícil, sofrendo fraturas quando severamente deformadas. Ao serem resfriadas, voltam ao seu estado original. As resinas PTFE são encontradas em pós granulados para moldagens por compressão ou extrusão, em 24 pós para extrusões com lubrificação, em dispersões aquosas destinadas a revestimentos e impregnações profundas [1]. 2.3 HISTÓRIA DO PTFE [4] Em 1938 Roy J. Plunkett (1910-1994) descobriu acidentalmente o PTFE quando trabalhava com gases refrigerantes para a empresa DuPont e em 1946 o novo material foi apresentado para fins comerciais. Na década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, cientistas envolvidos com os militares dos Estados Unidos se empenharam em encontrar materiais para proteger gaxetas, válvulas e instalações contra a corrosão. O PTFE foi utilizado em uma gama de aplicações militares, incluindo seu uso como parte do Projeto Manhattan (desenvolvimento da bomba atômica), o que levou a um aumento do uso do PTFE e à demanda por produção em escala internacional. Em 1954, Marc Gregoire, um engenheiro francês, descobre um processo para aderir o Teflon ao alumínio e aplica o conceito para criar a panela anti-aderente. Em 1969, Dr. Robert Gore encontrou um meio de expandir o PTFE para formar uma membrana “microporosa”. A nova membrana é usada para formar tecidos para roupas especiais, sendo caracterizada por impedir que a água exterior não possa entrar, sendo impermeável, e por outro lado que o suor interno evaporado possa sair, resultando em uma vestimenta transpirável. 2.4 OUTROS TRABALHO PUBLICADOS SOBRE O PTFE Há muitos trabalhos desenvolvidos, tendo como objetivo principal o estudo do comportamento mecânico do PTFE. Dentre estes, pode ser citado o trabalho proposto por Bergstrom e Hilbert [6], que apresenta um modelo constitutivo para prever o comportamento mecânico de fluoropolímeros, sua dependência com o tempo e com a temperatura. Rae et al. [7] testaram amostras de PTFE Tefon® 7A e Teflon® 7C, as quais foram submetidas à compressão com taxas de deformação de 10-4 s-1 a 1 s-1 e com 25 temperaturas entre -198ºC a 200ºC. Eles estudaram também as propriedades mecânicas do PTFE submetido à compressão em condições de grandes e pequenas deformações. Foi adotado em seu trabalho a deformação real e foi mantido uma taxa de deformação constante para os ensaios em grandes deformações. O trabalho de P. J. Rae e E. N. Brown [8] apresenta uma continuação do trabalho [7], sobre o comportamento do mecânico do PTFE Tefon® 7A e Teflon® 7C . Neste trabalho, Rae e Brown estudam o PTFE submetido às forças de tração em condições diferentes de temperatura, entre -50ºC e 150ºC, e para uma determinada gama de taxas de deformações, entre 2 x 10 -4 a 0,1 s-1, com corpos de prova moldados conforme a norma ASTM D-638 tipo V. Devido à ductilidade do PTFE, as propriedades mecânicas foram investigadas para grandes e pequenas deformações (dadas em deformação verdadeira). Uma taxa de deformação constante foi utilizada para todos os ensaios com grandes deformações. Rae e Brown [8] verificaram que a sensibilidade à taxa de deformação é menor na tração que na compressão, em uma ordem de magnitude maior que 2,5 vezes. Eles explicam, porém, que esta observação é uma ilusão causada pela imensa deformação até o rompimento do teflon. Duan et al. [9] propuseram um modelo constitutivo baseado em trabalhos encontrados na literatura para prever o comportamento de polímeros semicristalinos submetidos à tensão. Tal modelo foi validado usando dados experimentais obtidos a partir de ensaios realizados em dois tipos de polímeros, polimetilmetacrilato (PMMA) e policarbonato (PC), em três condições diferentes de temperatura e taxa de deformação. O trabalho desenvolvido por Brown et al. [10] apresentaum modelo constitutivo do comportamento do fluorpolímero PCTFE (policlorotrifluoretileno) em tração e compressão. Além do modelo analítico, foram realizados ensaios experimentais com diferentes temperaturas, variando entre -85 a 150ºC, e com taxas de deformação variando de 1x10-4 a 2,9x10-3s-1. Richeton et al [11] estudaram o comportamento mecânico de três tipos de polímeros amorfos submetidos à compressão. Observaram a influência da temperatura e da taxa de deformação e propuseram um modelo constitutivo levando em consideração tais variáveis. 26 Ensaios experimentais de relaxação em tensão do PTFE foram realizados por Heranández-Jimánez et al. [12] e os resultados foram comparados com as previsões do modelo de Maxwell. Comportamento mecânico do PTFE sob carregamento cíclico tem sido estudado em baixas e altas temperaturas [13,14]. Vários modelos constitutivos foram propostos para prever o comportamento mecânico complexo de materiais termofixos e termoplásticos. O comportamento de polímeros submetidos à deformação com carregamento cíclico, “ratcheting”, e em diferentes temperaturas tem sido descritos através de modelos constitutivos [16-20]. Outros trabalhos foram feitos em polímeros sólidos analisando a ruptura por deformação [21-23]. Foram encontrados na literatura estudos sobre o comportamento mecânico de polímeros em altas taxas de deformação [24-26]. L.C.S. Nunes [27] estudou ensaios mecânicos com a utilização de sistemas de medição óptico sem contato. Costa Mattos [28] publicou estudos sobre o fenômeno da superplasciticade. 3.0 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 MATERIAIS E APARATO DE CORTE 3.1.1 CORPO DE PROVA O material utilizado neste trabalho provem de uma placa de PTFE puro, (comumente denominado Teflon®), com 2mm de espessura, a partir da qual foram usinados corpos de prova do tipo 1, seguindo a norma ASTM D-638-08 [28]. As dimensões principais do corpo de prova são as seguintes: comprimento útil de 50mm; espessura igual a 2mm; largura igual a 13 mm, como ilustrado na figura 3.1. A confecção dos corpos de prova foi realizada através do processo de fresamento utilizando um mecanismo especialmente desenvolvido para esta finalidade. Figura 3.1 Dimensões do corpo de prova padronizado. Os cortes de todos os corpos de provas seguiram um único sentido na placa de PTFE, no intuito de amenizar prováveis diferenças entre estes provenientes de uma possível não uniformidade do material ao longo da placa. As primeiras tentativas de cortar o corpo de prova foram feitas através de 28 método manual, em que um pedaço de PTFE era prensado entre duas placas metálicas no formato normalizado do corpo de prova. Após afixar o teflon entre as placas, a parte excedente fora do molde era cortada manualmente com um estilete. Tal processo se mostrou ineficaz, uma vez que a força aplicada para efetuar o corte causava o deslizamento do polímetro no molde e consequentemente irregularidades na seção útil do corpo de prova. O maior aperto entre entre as placas não resolvia o problema e poderia implicar em deformação permanente do polímero inviabilizando assim o seu uso nos ensaios. Tal experiência nos mostrou que a confecção manual dos corpos de prova está sujeita à improdutividade e imperfeições que influenciariam nos resultados dos ensaios de tração. Devido à indisponibilidade de um ferramental adequado para a confecção dos corpos de prova em PTFE, em função das peculiaridades mecânicas deste, foi necessário realizar um novo procedimento para a obtenção destes corpos de provas padronizados. A providência tomada foi a criação de um equipamento especialmente projetado para a confecção dos corpos de prova do tipo I, através de uma placa de PTFE com 2 mm de espessura, em conformidade com a norma ASTM D-638-08 [33]. As premissas aplicadas ao projeto do novo equipamento eram: ser barato e o mais simples possível. O critério de simplicidade foi o fundamento para a elaboração do projeto, tendo em vista que uma pessoa possa manipular o dispositivo sem grandes dificuldades. Os corpos de prova cortados teriam que estar dentro dos limites toleráveis pela norma aplicada e ser suficientemente similares para garantir a repetibilidade nos ensaios dentro de critérios aceitáveis. As características mecânicas do teflon definiram alguns princípios aplicados ao projeto do novo ferramental. A geometria do corpo de prova seria obtida por fresamento, utilizando uma ferramenta de corte disponível no mercado. A propriedade de resistência à alta temperatura do PTFE possibilitou a utilização de fresamento para o corte dos corpos de prova sem a necessidade de cuidados para o resfriamento da superfície a ser cortada. Outros polímeros termoplásticos poderiam sofrer amolecimento no local de corte causando imprecisão nas medidas esperadas e dano nas propriedades originais entre outros problemas. 29 A ferramenta de corte utilizada é mostrada na figura 3.2. Comercialmente denominada broca cortadorada, marca Dremel modelo 560, executa corte de peças planas através de rotação e deslocamento lateral. Ela é especialmente aplicada em trabalhos com placas de gesso em obras civis. Figura 3.2 Ferramenta de corte (catálogo de produtos da Dremel) Figura 3.3 Aparato de corte desenvolvido por Luiz Fernando Garcia Júnior e Thiago Silva Baron (cortesia dos autores) [29]. Um modelo inicial do aparato de corte foi criado e tinha como premissa ser um protótipo para avaliar a eficiência da ferramenta de corte no PTFE, prover os primeiros corpos de prova para os ensaios e ter custo mínimo, utilizando como propulsor uma furadeira de bancada já existente no laboratório e componentes que não necessitassem de custo com usinagens. 30 Um projeto de aparato de corte para PTFE, baseado no modelo inicial, foi tema do trabalho conclusão de curso de graduação de Luiz Fernando Garcia Júnior e Thiago Silva Baron [25], que utilizara programas de modelagem em computador e propuzeram um projeto mais eficiente e mais fácil de operar. O equipamento construído pode ser visto na figura 3.3. É importante frisar que, neste projeto, o desenho original do mecanismo sofreu várias modificações, influenciadas por questões de funcionalidade e de construção do aparato de corte. A experiência que foi adquirida na construção do primeiro modelo e durante o desenvolvimento do projeto de graduação mostrou aspectos importantes para o melhor desempenho do mecanismo. 3.1.2 O APARATO DE CORTE O aparato de corte é composto por uma base plana de apoio, duas plataformas móveis e o pedestal de apoio do mecanismo de corte. No primeiro modelo fabricado, mostrado na figura 3.4, o elemento pedestal e mecanismo de corte é uma furadeira de bancada com ferramenta de fresamento. O alumínio foi o principal material utilizado na sua construção. Figura 3.4 Modelo inicial do aparato de corte 31 O método de funcionamento do aparato de corte se caracteriza por um mecanismo que fixa uma placa de PTFE em um par de plataformas que corre através de pivôs sobre a base. Um dos lados do PTFE fica exposto à ação da ferramenta de corte que é acionada por um motor elétrico. O conjunto motor- ferramenta fica instalado em um pedestal, fixo na base. Figura 3.5 Base do aparato de corte montado na furadeira de coluna, mostrando as guias e o gabarito. A plataforma inferior desliza no sentido longitudinal do corpo e prova, através de duas guias instaladas na base.Na figura 3.5 pode-se ver a base do mecanismo, as guias e o gabarito. Nesta figura vê-se també a ferramenta de corte apoiada em uma peça de PTFE, que é utilizada para minimizar as vibrações durante o processo de corte, servindo de apoio à ponta da ferramenta, que não é cortante. O pedaço de PTFE fica fixado na plataforma superior do aparato de corte, que se movimenta seguindo o sentido transversal do corpo de prova e acompanha o contorno do gabarito, possibilitando a forma do corpo de prova. A plataforma superior contém pivôs que garantem a fixação com a plataforma inferior e restringem os movimentos que não sejam perpendiculares à base. A plataforma 32 superior contém um pino que, imposto pela ação de uma mola, segue o contorno de um gabarito que define o contorno do corpo de prova. Há também um mecanismo de fixação do PTFE junto à plataforma para resistir aos esforços aplicados pela fresa no material polimérico. A distância percorrida pela plataforma foi definida de acordo com o comprimento da placa de PTFE que seria fixado na estrutura deslizante. Para obter o corpo de prova tipo I da norma ASTM D-638-08, foi escolhido arbitrariamente o comprimento de 200 mm, para que posteriormente fosse possível obter outros tipos de corpos de provas. Segundo o trabalho de Júnior e Baron [25] o custo para a fabricação do aparato de corte ficou em aproximadamente R$ 150,00; sendo que a microretífica custa R$ 100,00. É importante ressaltar que esse custo não inclui a mão-de-obra. Todos os corpos de provas atenderam a norma ASTM 638 e foram fabricados de forma uniforme, o que não seria conseguido caso fossem feitos de maneira manual. Figura 3.6 Ilustração de um pedaço típico de PTFE, pronto para o aparato de corte. Para fabricar os corpos de prova utilizando o aparato de corte, primeiramente é necessário cortar pedaços com medidas aproximadas de 30 mm de largura e 180 mm de comprimento, similar ao mostrado na figura 3.6. A base do equipamento é acoplada à mesa da furadeira de bancada e alinhada à ferramenta de corte. Um pedaço de PTFE deve ser fixados na plataforma superior utilizando os componentes adequados. O conjunto é posicionado em uma extremidade da base, de forma que a ferramenta corte o material no sentido oposto ao movimento do polímero. Após ligar o mecanismo, o movimento deve ser feito pela plataforma inferior manualmente, com velocidade lenta e constante até a conclusão do corte de 33 um lado da peça de PTFE. Desliga-se o mecanismo e recoloca-se o PTFE para que seja cortado o outro lado. Neste ponto, vale destacar o cuidado necessário com o posicionamento do polímero para conseguir uma peça com as medidas esperadas e com simetria correta. Repete-se o procedimento de corte até a finalização do processo. A figura 3.7 ilustra o aparato no momento do corte do corpo de prova, destacando-se o sistema de garras que fixam a peça ao conjunto. Figura 3.7 Posição da ferramenta de corte no corpo de prova 3.2 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Os ensaios deste trabalho foram realizados no Laboratório de Ensaios em Dutos (LED / LMTA), utilizando a máquina universal de ensaios Autograph AG-X 100kN – Shimadzu (figura 3.8), considerando diferentes taxas de deformação. Os experimentos foram realizados em temperatura ambiente e, para cada ensaio de tração, a velocidade de deslocamento do travessão da máquina foi mantida constante. 34 Figura 3.8 Máquina de ensaio universal utilizada. Para medir as deformações do comprimento útil foi utilizado um sistema de medição óptico sem contato. Tal sistema, denominado vídeo-extensômetro, é composto por duas câmeras CCD (Charged Coupled Device), um software que mede em tempo real os deslocamentos das marcações feitas no corpo de prova, suporte regulável e outros componentes. 3.2.1 PREPARAÇÃO DO CORPO DE PROVA A utilização do vídeo-extensômetro requer uma marcação no corpo de prova que se apresente bastante visível na imagem gerada durante todo o tempo do ensaio de tração. A medida do centro e do comprimento útil do corpo de prova foi 35 obtida utilizando um gabarito impresso em papel, no formato do corpo de prova, que indicava as posições com as medidas exatas, de forma a tornar mais eficiente e rápida o processo de aplicação das marcas no corpo de prova. O fato de o corpo de prova de PTFE ser branco ampliou as opções das marcações possíveis. Foram aplicados três tipos diferentes de marcadores na etapa de ensaios experimentais deste trabalho, visto nas figura 3.9(a-c). Durante os testes, o método de marcação foi aperfeiçoado conforme a experiência adquirida com o uso do vídeo-extensômetro e de acordo com a taxa de deformação utilizada. Nos primeiros ensaios o corpo de prova foi marcado com caneta apropriada para escrita em plástico (especificamente para anotações em mídia CD), cor preta, fazendo um traço nos limites do comprimento útil, mostrado na figura 3.9(a). Este processo se mostrou prático e rápido de ser executado, porém, a marca feita sofria distorção e clareamento quando o corpo de prova atingia deformações maiores que 200% e causava a interrupção das medidas em alguns ensaios por falha no rastreamento das marcas na imagem pelo programa do sistema. Entretanto, foi possível obter resultados em alguns casos, principalmente nos ensaios com taxas de deformações maiores. Outro método de marcação foi a utilização de clipes metálicos, pintados de preto, presos ao corpo de prova de forma que um arame ficasse visível na imagem captada, visto na figura 3.9(b). Este método tem a desvantagem de exigir perícia no posicionamento dos clipes, porque só é possível ser colocado no local certo após o ajuste e a fixação do corpo de prova nas garras da máquina de ensaio, a fim de se evitar o desvio dos clipes durante a manipulação do corpo de prova. Foi observado em alguns testes, neste método de marcação, a ocorrência de desvio do clipe da posição horizontal, durante a parte final do alongamento do corpo de prova. Aparentemente, este fato pode ser atribuído à diminuição da área de contato do clipe, devido ao estreitamento do corpo de prova e à distorção sofrida pelo material. Outro fator negativo com o uso de clipes foi a necessidade de aplicar marcações auxiliares com caneta apropriada na lateral ou no verso do corpo de prova de modo a garantir que o clipe não tenha se deslocado durante o processo de preparação do corpo de prova na máquina de ensaio e para ficar registrado os 36 limites do comprimento útil após a ruptura da amostra, que causa o deslizamento e até a completa fuga do clipe. Outro método de marcação utilizado neste trabalho foi o uso de uma etiqueta, própria para este fim, que adere à superfície do corpo de prova por uma estreita fita adesiva, como mostra a figura 3.9 (c). Estas etiquetas são fornecidas pelo fabricante do sistema de vídeo-extensômetro e, a despeito da propriedade anti-aderente do PTFE, foram utilizadas também nos ensaios deste trabalho. (a) (b) (c) Figura 3.9 Marcações no corpo de prova: (a) caneta, (b) clipes e (c) etiqueta 3.2.2 MEDIÇÃO COM VÍDEO-EXTENSÔMETRO O vídeo-extensômetro é um equipamento capaz de executar medidas de deformações através da captura contínua de imagens da amostra durante o ensaio, usando uma ou mais câmeras de vídeo conectadas a um computador. Ele consiste em um conjunto de equipamentos que captam o deslocamento das marcas colocadas no corpo de prova, conforme esquema ilustrado na figura 3.10. No vídeo- extensômetroutilizado neste trabalho os principais elementos são: um par de 37 câmeras, um programa para processamento da imagem e para o controle da máquina de ensaio, além de acessórios como suportes para a câmera e para a iluminação, entre outros. Figura 3.10 Esquema de funcionamento do vídeo-extensômetro O corpo de prova tem o comprimento útil marcado com marcadores especiais, que devem ter a cor e contraste adequados para serem captados na imagem. Enquanto o corpo de prova é deformado no ensaio de tração, as marcas são seguidas pelo programa que mede a distância em pixel entre elas na imagem capturada. Esta distância, em pixel, pode ser medida em tempo real, convertida e registrada na grandeza de medida conforme os parâmetros configurados no controle do programa do sistema da máquina de ensaio. No vídeo-extensômetro utilizado neste trabalho há uma câmera que capta a imagem da amostra ampliada e outra que capta a imagem de toda a seção útil do corpo de prova durante o ensaio, inclusive na sua forma totalmente deformada. Está mostrado em destaque na figura 3.11 a fotografia do equipamento, onde se vê as câmeras apontadas para o corpo de prova, que tem seu comprimento útil marcado através de riscos feitos com caneta preta. É visto na figura 3.12 o suporte das câmeras, o detalhe das garras da máquina de ensaio e uma parte do sistema de iluminação especial do sistema. A finalidade da configuração com duas câmeras é para ser possível a medição da deformação da seção útil e, concomitantemente, de uma parte do deslocamento 38 com uma resolução maior. No presente trabalho foram utilizados os dados gerados apenas pela câmera que capta a imagem global, mesmo quanto era aplicado a configuração do sistema para duas câmeras. Figura 3.11 Câmeras do vídeo-extensômetro e um corpo de prova montado na máquina de ensaio. Figura 3.12 Detalhe do posicionamento do corpo de prova nas garras da máquina universal. O programa do sistema do vídeo-extensômetro tem que ser calibrado com os parâmetros solicitados, conforme o método de ensaio, neste caso, de tração. Neste 39 quesito, o sistema do vídeo-extensômetro também é passível de ser aplicado a outros tipos de ensaios como o ensaio de compressão, de flexão e de relaxação. Figura 3.13 Programas de configuração da máquina de ensaio e de controle do sistema do vídeo-extensômetro. Na configuração do programa para o ensaio de tração são solicitados informações sobre o tipo de corpo de prova e suas dimensões, sobre as condições de ensaio como velocidade de deslocamento do travessão ou a taxa de deformação e as informações necessárias referentes ao processamento de dados como a taxa de aquisição de dados. A figura 3.13 mostra o monitor do computador com o programa de configuração da máquina de ensaio e o programa de controle do sistema do vídeo-extensômetro. As dimensões do corpo de prova, solicitadas pelo programa, são utilizadas para os cálculos necessários para o controle da máquina de ensaio conforme os parâmetros programados e das grandezas escolhidas; estas informações também são utilizadas para a geração de gráficos em tempo real, sendo possível várias combinação de parâmetros. No ensaio de tração uniaxial podemos citar os parâmetro tempo, taxa de deformação, velocidade do travessão, deslocamento do travessão, alongamento da seção útil do corpo de prova, tensão e carga aplicada. Na figura 3.14 é mostrado o programa do vídeo-extensômetro durante o ensaio, com 40 as imagens transmitidas pelas câmeras e os cursores que seguem as marcações do corpo de prova. Ao fundo vê-se o gráfico gerado pelo programa da máquina de ensaio durante o teste. As informações requisitadas pelo programa sobre as condições de ensaio de tração uniaxial são taxa de deformação ou velocidade de deslocamento, aceleração inicial do ensaio, ponto de interrupção, condição de falha e outras. Figura 3.14 Programa do vídeo-extensômetro durante o ensaio e o gráfico gerado pelo programa da máquina de ensaio. 3.2.3 ENSAIOS DE TRAÇÃO Foi ensaiado um grande número de corpos de prova no início dos testes experimentais, com a finalidade de encontrar a melhor configuração do sistema de vídeo-extensômetro e definir a gama de velocidades possíveis de ser aplicados à máquina de ensaio. Paulo Nota Parei aqui 41 No presente trabalho, foi utilizado o parâmetro velocidade do deslocamento do travessão da máquina constante para os ensaios realizados. É interessante ressaltar que o controle da taxa de deformação do comprimento útil gerou resultados instáveis, sem a possibilidade de aplicá-los à pesquisa. A configuração do programa da máquina de ensaio com o parâmetro taxa de deformação constante implica em um tempo alto de processamento e de resposta do sistema, ou seja, o tempo necessário para o processamento da imagem (oriundo do sistema de medição pelo vídeo extensômetro) e a resposta da máquina de ensaio é maior que o intervalo entre os pontos coletados, resultando em uma instabilidade dos resultados e uma acentuada oscilação da curva do gráfico, de forma que ficam inadequados para a utilização na pesquisa. Está ilustrado na figura 3.15 gráficos mostrando as taxas de deformação ao longo do tempo para diferentes velocidades do travessão da máquina de ensaios. Outro fator que demandou muito tempo na etapa inicial dos ensaios foi o posicionamento das câmeras nos suportes de sustentação. As câmeras devem ficar alinhadas ao corpo de prova, conforme mostrado na figura 3.16, a uma distância suficiente para ser possível a captura da imagem de toda a extensão da seção útil após a deformação total. Ao ser posicionadas a uma distância curta, a imagem capturada pelas câmeras apresentava boa visibilidade, mas as marcas alvos saíam fora dos limites da tela, quando se atingia uma grande deformação da amostra, e o rastreamento destas eram perdidas pelo programa causando a interrupção da leitura das medidas devido à perda de visibilidade dos alvos pelo programa. No posicionamento mais afastado, toda a imagem do corpo de prova com deformação máxima podia ser captada, porém as imagens das marcas alvos ficavam muito pequenas para ser capturadas pelo programa. Em virtude dos limites impostos pela máquina de ensaio, o intervalo das velocidades consideradas neste estudo situou-se entre 3 mm/min e 1000 mm/min. Abaixo de 3 mm/min não era possível manter o controle da velocidade pela máquina de ensaio. Acima de 1000 mm/min, a máquina de ensaio alcançava sua velocidade máxima e, além disso, não se conseguia uma quantidade suficiente de pontos para análise da pesquisa. 42 Na modelagem matemática deste trabalho será utilizada a taxa de deformação do comprimento útil do corpo de prova. A taxa de deformação será obtida pelos resultados dos ensaios com o controle da velocidade do travessão da máquina de ensaio. Pode ser observado no gráficos da figura 3.15 que a taxa de deformação do comprimento útil sofre uma oscilação nos instantes iniciais e tende a se estabilizar ao longo do tempo. Portanto, baseado nestes resultados, o valor da taxa de deformação aplicada na modelagem será a média dos resultados obtidos com a velocidade do travessão constante, desconsiderando-se variação da parte inicial. Figura 3.15 Taxas de deformação do comprimento útil ao longo do tempo para diferentes velocidades constantes do travessão da máquina de ensaio. 43 Figura 3.16 Sistema do vídeo-extensômetro montado no suporte e alinhado com o corpo deprova. Tabela 3.1 Ensaios realizados sem rompimento do corpo de prova. Incompleto – sem rompimento do CP VALOR UNIDADE DATA 0,20 %/min 23/09/10 5 1/s 29/09/10 10 mm/min 19/04/10 20 mm/min 26/01/10 400 mm/min 19/04/10 400 mm/min 26/04/10 400 mm/min 18/06/10 400 mm/min 18/06/10 800 mm/min 19/04/10 1000 mm/min 19/04/10 1000 mm/min 06/05/10 44 Tabela 3.2 Ensaios realizados com rompimento do corpo de prova. Completo – com rompimento do CP VALOR UNIDADE DATA 0 1/s 09/09/10 1 1/s 09/09/10 1 1/s 29/09/10 5 1/s 09/09/10 5 1/s 29/09/10 3 mm/min 09/07/10 3 mm/min 09/07/10 5 mm/min 06/05/10 10 mm/min 18/06/10 10 mm/min 29/09/10 200 mm/min 27/01/10 200 mm/min 18/06/10 400 mm/min 26/04/10 400 mm/min 29/04/10 400 mm/min 18/06/10 400 mm/min 09/07/10 500 mm/min 06/05/10 500 mm/min 17/06/10 800 mm/min 29/04/10 800 mm/min 09/07/10 1000 mm/min 18/06/10 4.0 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 RESULTADOS EXPERIMENTAIS Uma das características do PTFE, quando submetido à tração, é apresentar uma grande deformação antes da fratura do material. Nos ensaios realizados, principalmente nas menores taxas de deformação, foram observadas deformações maiores que 200% até o momento da ruptura do material. O fenômeno de superplasticidade é caracterizado pela grande deformação permanente que alguns materiais apresentam quando submetidos a tensões numa temperatura e taxa de deformação apropriadas, produzindo alongamentos excepcionalmente grandes, acima de 200% antes da ruptura. O estudo do comportamento superplástico já é estudado por muitos pesquisadores, como H. S. da Costa Matos et al. [23]. Figura 4.1 Sequência de um ensaio de tração mostrando a grande deformação do corpo de prova de PTFE. 46 A figura 4.1 ilustra uma sequência de imagens de uma típica amostra de PTFE sob carregamento monotônico até seu rompimento. Pode ser visto que a deformação do corpo de prova é muito homogênea, isto é, há uma alta resistência em desenvolver uma região de estrangulamento: o corpo de prova vai se afinando de maneira muito uniforme, ao invés de formar um “pescoço”. A figura 4.2 mostra uma sequência de corpos de provas deformados em distintos estágios do processo de alongamento, onde se pode observar o estreitamento homogêneo das amostras e a forma da fratura. Em todos os ensaios realizados, o rompimento foi localizado e caracterizadopor uma fratura perpendicular ao eixo de tração. Figura 4.2 Amostras deformadas em diversas fases do ensaio de tração. Figura 4.3 Amostra de corpo de prova rompido na marcação e a trinca na outra marcação. É interessante considerar, para pesquisas futuras, um fenômeno 47 apresentado em alguns ensaios realizados com corpos de prova marcados com caneta (marcas que limitam o comprimento útil para medição com vídeo- extensômetro, explicado na seção anterior). Em parte das amostras, o rompimento se deu exatamente na linha marcada. Em outra parte, mesmo quando a ruptura se deu na parte central do comprimento útil, verificou-se uma trinca na linha marcada pela caneta. A caneta utilizada é destinada especialmente para anotação em mídia ótica, tipo CD/ DVD. A figura 4.3 evidencia o fenômeno acima descrito e a forma da fratura do PTFE observado em todos os ensaios. Para melhor compreensão do significado dos parâmetros utilizados neste trabalho, vamos considerar um ensaio de tração uniaxial onde o corpo de prova tem um comprimento inicial útil l0 e seção transversal A0 submetido a um alongamento prescrito Δl. A força associada a tal alongamento é dada por F. A deformação de engenharia, e, e a tensão de engenharia, s, são definidos por: e=Δl / lo (1) s=F /Ao (2) A deformação real ε e as tensões reais σ, são definidas por: ε=∫ lo l dl/ l= ln ( l /lo )=ln (1+e ) (3) σ=s (1 +e ) (4) Durante os experimentos foram feitos ensaios com diversas velocidades de deslocamento do travessão. Foram selecionados os ensaios representados pelos gráficos da figura 3.15, cosiderando as seguintes taxas de deformação: ė1 = 6,0 x 10- 4 ; ė2 = 7,7 x 10-2 ; ė3 = 9,2 x 10-2 ; ė4 = 1,3 x 10-1. Estes servirão de base para o desenvolvimento do modelo matemático e visam representar uma larga faixa de valores que permitam estudar a sensibilidade do PTFE à variação da taxa de deformação, quando este é submetido à tração uniaxial. Para ser possível visualizar as diferenças entre os resultados dos testes 48 selecionados, as curvas geradas foram apresentadas no mesmo gráfico. Na figura 4.4 são mostrados as curvas tensão-deformação de engenharia e na figura 4.5 as curvas tensão-deformação reais. Foram escolhidos ensaios que melhor representassem a gama dos experimentos realizados para as taxas de deformação escolhidas. Figura 4.4 Curvas tensão-deformação de engenharia, considerando diferentes taxas de deformação: equação (1) e (2). Figura 4.5 Curvas tensão-deformação reais, considerando diferentes taxas de deformação: equação (3) e (4). 49 Verifica-se pelos resultados da tensão de escoamento que a resposta do material depende claramente da velocidade imposta ao travessão, ou seja, da taxa de deformação associada. A tensão de tração no material cresce com o aumento da taxa de deformação. Em contrapartida, nada pode ser dito a respeito da tensão máxima de ruptura. Neste contexto, no presente trabalho não foi considerado o fenômeno de dano. Para melhor compreensão e análise destes resultados, a região do gráfico tensão-deformação real foi dividida em três regiões e desconsiderou-se uma pequena região da deformação inicial ( ε < 4%), para todos os casos. O parâmetro que será utilizado para distinguir as regiões é a segunda derivada parcial da tensão real em relação à deformação real, ∂2σ/∂ε2 , que indica a variação da inclinação da curva do gráfico em questão. Na região I, inicialmente ∂2σ/∂ε2 é alto, porém se torna menor gradualmente; na região II, ∂2σ/∂ε2 tende a zero e na região III, ∂2σ/∂ε2 aumenta novamente. A figura 4.6 ilustra uma representação da curva tensão-deformação real e a a variação do parâmetro ∂σ/∂ε, no qual ε* é definido como o valor da deformação associado à transição entre a regiões II e a região III. Nos experimentos realizados, é observado que ε* não é muito sensível à taxa de deformação, ou seja, para as diversas taxas de deformação, ε* se manteve próximo a um valor constante. Fig 4.6 Curva tensão-deformação real e das inclinações ∂σ/∂ε e ∂2σ/∂ε2: definição de ε*. 50 Figura 4.7 Comparação entre a curvas tensão-deformação e a curva ∂σ/∂ε para diferentes taxas de deformação. A figura 4.7(a-d) mostra as curvas tensão-deformação dos dados experimentais para as taxas de deformação iguais a ė1 = 6,0 x 10-4 , ė2 = 7,7 x 10-2, ė3 = 9,2 x 10-2 , ė4 = 1,3 x 10-1 s-1 e as respectivas curvas que representam a variação da inclinação, ∂σ/∂ε. O valor de ε* é estipulado equivalente a 0,8 para todos os casos. Pode-se notar que a ruptura ocorreu imediatamente após este valor para as taxas de deformação 7,7 x 10-2 e 1,3 x 10-1 s-1, figuras 4.6(b) e 4.6(c). 51 4.2 MODELO PROPOSTO Nesta seção será apresentado um modelo constitutivo fenomenológico do politetrafluoretileno sob carregamento de tração. A partir dos resultados experimentais obtidos neste trabalho, foi desenvolvida uma metodologia para se obter um modelo capaz de prever o comportamento do PTFE, submetido à tração uniaxial para distintas taxas de deformações. O modelo matemático proposto é composto por duas partes: a primeira parteé definida pela faixa que contém a região I e a região II do gráfico tensão- deformação real, de acordo com as considerações da seção anterior. Portanto, esta parte representa o comportamento do PTFE do instante inicial da deformação até o ponto ε* . A segunda parte representa os valores da deformação real maiores que ε*. Para determinar uma expressão adequada que modele o comportamento do PTFE, deformado por carregamento monotônico de tração uniaxial e para distintas taxas de deformação, é proposto o seguinte modelo matemático: (5) A primeira parte do modelo matemático proposto é baseada no modelo de saturação, onde β é definida como uma constante positiva. A dependência com a taxa de deformação é definida pela tensão de escoamento σf , no qual é suposta ser dada pela seguinte expressão: (6) Onde A e B são constantes a serem determinadas. O segundo termo da primeira expressão é uma equação de potência com coeficiente de resistência KI e expoente de encruamento n. A segunda parte da modelagem matemática proposta é definida pelo coeficiente de resistência KII e o expoente de encruamento m. Os parâmetros 52 aplicados neste modelo podem estar relacionados ao comportamento das cadeias moleculares do material, supondo-se que estas sofrem um alinhamento durante a deformação trativa. Após a região II estas cadeias estariam tão alinhas a ponto de causar a alteração do coportamento mecânico à tração. Por definição, σ*f = σ(ε*). 4.3 IDENTIFICAÇÃO DE PARÂMETROS Conforme descrito na seção anterior, o modelo proposto, equação (5), pode ser divido em duas partes. O parâmetro ε* determina o ponto de interseção entre as equações citadas e deve ser previamente determinado. Ele representa o ponto de transição entre a região II e a região III da curva tensão-deformação real, conforme visto na figura 4.6. De acordo com os resultados experimentais, ilustrados na figura 4.7(a-d), é bastante representativo o valor aproximado da deformação real de transição, ε*, ser estipulado em 0,8. Tabela 4.1 Resultados da primeira parte do modelo para valores menores que ε* . Taxa de deformação de engenharia e*(s-1) σf(MPa) β KI (MPa) n 6 x 10-4 9,6 160 2,83 1,247 7,7 x 10-2 12,38 320,8 3,056 1,427 9,2 x 10-2 12,88 542,9 3,223 1,403 1,3 x 10-1 14,78 243,2 3,018 1,413 Tabela 4.2 Resultados da segunda parte do modelo para valores maiores que ε* . Taxa de deformação de engenharia e*(s-1) σ*f(MPa) KII (MPa) m 6 x 10-4 30,74 110,9 1,4 7,7 x 10-2 40,07 9,2 x 10-2 44 1,3 x 10-1 47,84 53 O próximo passo é estimar os seguintes parâmetros: σf , β, KI e n do primeiro termo da equação (5) e σ*f, KII e m do segundo termo para cada taxa de deformação de engenharia. Portanto, para esta etapa, todos os parâmetros foram estimados usando o método Levenberg-Marquard [28-30]. Os parâmetros estimados, para distintas taxas de deformação de engenharia são mostrados nas tabelas 4.1 e 4.2. Os dados experimentais e o modelo proposto, considerando todos os parâmetros, estão mostrados nas figuras 4.8 e 4.9. Entretanto, é sugerido para aplicações práticas considerar β, KI e n como constante do material. Por esta razão, é proposto considerar a média dos valores destes parâmetros, isto é, βm = 317; KIm = 3,12 MPa; e n = 1,4. A dependência com a taxa de deformação é incluída na modelagem através de σf e usando a equação (6). É importante observar que, da equação (3), a relação entre deformação de engenharia e real é dado por: (7) Portanto, a equação (6) pode ser reescrita na forma: (8) A figura 4.10 ilustra os dados experimentais e o modelo de previsão, aonde encontramos A = 39 MPa e B = 9,5 MPa. 54 Figura 4.8 Comparação entre o modelo e os resultados experimentais das curvas tensão-deformação verdadeiras para diferentes taxas de deformação: (0 < ε ≤ ε*). Figura 4.9 Comparação entre o modelo e os resultados experimentais das curvas tensão-deformação verdadeiras para diferentes taxas de deformação: (ε >ε*). 55 Figura 4.10 Tensão de escoamento real em função da taxa de deformação de engenharia. 4.4 VALIDAÇÃO DO MODELO A fim de validar o modelo proposto, os dados experimentais são comparados com os valores estimados pelo modelo, considerando βm = 317; KIm = 3,12 MPa; n = 1,4; A = 39 Mpas e B = 9,5 MPa. Quatro diferentes taxas de deformação são consideradas: ė1 = 6,0 x 10-4 , ė2 = 7,7 x 10-2, ė3 = 9,2 x 10-2 , ė4 = 1,3 x 10-1 s-1. Pelos resultados mostrados na figura 4.11, fica evidenciado uma boa concordância entre os dados experimentais e os valores calculados pelo modelo, usando os parâmetros estimados. A pequena discrepância pode ser atribuída à resposta do material, que é muito complexa. Além disso, é importante enfatizar que com apenas três ensaios, com três taxas de deformação distintas, são suficientes para prever o comportamento do PTFE. 56 Fig. 4.11 Comparação entre o modelo ajustado e os resultados experimentais das curvas tensão-deformação verdadeiras para diferentes taxas de deformação. 5.0 CONCLUSÕES Neste trabalho foram realizados ensaios experimentais de tração uniaxial em um corpo de prova de PTFE normalizado, considerando diferentes taxas de deformação. Com base nos dados obtidos, foi proposto um modelo constitutivo para o comportamento mecânico do PTFE. Foi desenvolvido um aparato para o corte de corpos de prova de PTFE normalizados. No projeto do aparato, foram utilizados materiais comuns e baratos e os recursos disponíveis no laboratório. Os corpos de prova resultantes atenderam aos requisitos da norma aplicada. Os ensaios foram realizado em condições de laboratório, sendo a taxa de deformação controlada pela máquina de ensaio. Foram observadas grandes deformações que foram medidas utilizando-se um sistema de medição ótico sem contato (vídeo-extensômetro). Geralmente, nos ensaios feitos com as menores taxas de deformação, a deformação ultrapassava 200% antes da ruptura. Na fase de escoamento do PTFE foram observadas duas regiões distintas no gráfico tensão-deformação. O local de transição entre estas regiões pouco variou nas diferentes taxas de deformação aplicadas e ficou definido para este ponto o valor de 0,8 de deformação. O modelo proposto é formado por duas partes: uma que considera a região do gráfico tensão-deformação real anterior ao ponto transição citado, de 0,8 de deformação, e a outra parte, os valores acima deste. Para calcular as constantes materiais deste modelo são necessárias apenas três ensaios com taxas de deformação constantes e distintas. O principal objetivo deste trabalho, foi desenvolver um modelo constitutivo para obter o máximo de informação sobre as propriedades macroscópicas de amostras de politetrafluoretileno, em ensaios de 58 tração realizadas em temperatura ambiente, com diferentes taxas de deformação, com um mínimo de testes laboratoriais, poupando tempo e reduzindo os custos experimentais. 6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS [1] POLIFLUOR IND. E COM. DE PLÁSTICOS LTDA. Pesquisa sobre Teflon. Disponível em: http://www.polifluor.com.br/teflon.pdf [2] CENTRO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURALLUTIONS - USP. Experimentoteca: Caracterização de polímeros. Disponível em: http://www.cdcc.usp.br/exper/medio/quimica/9bpolimerosg.pdf [3] Crawford, R. J. Plastics engineering. Oxford: Butterworth-Heinemann, 1998. [4] DUPONT FLUOROPOLYMER SOLUTIONS. A brief history of fluoropolymers. Disponível em: http://www2.dupont.com/Teflon_Plunkett/en_US/assets/downloads/k20165.pdf>[5] TECNOFLUOR. Sobre o PTFE. 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[31] da Costa Mattos, H.S.; Monteiro, A.H.; Sampaio, E.M. “Modelling the strength of bonded butt-joints”. Compos. B. Eng. 41 (2010) 654–662. [32] da Costa-Mattos, H.S.; Chimisso, F.E.G. “Modelling creep tests in HMPE fibres used in ultra-deep-sea mooring ropes”. Int. J. Solids Struct. 48 (2011) 144–152. [33] Standard test method for tensile properties of plastics. ASTM – D638–08. [34] Levenberg, K. “A method for the solution of certain problems in least squares”. Quart. Appl. Math. 2 (1944) 164–168. [35] Marquardt, D. “An Algorithm for least-squares Estimation of nonlinear parameters”. SIAM J. Appl. Math. 11 (1963) 431–441. [36] Gill, P.R., Murray W., Wright M.H., "The Levenberg-Marquardt Method." x4.7.3 in Practical Optimization. Academic Press, London, 1981, 136–137. 7.0 ANEXOS 63 7.1 GRÁFICOS DAS CURVAS TENSÃO-DEFORMAÇÃO REAIS DOS DADOS EXPERIMENTAIS REALIZADOS NESTA PESQUISA Fig. 7.1 Fig. 7.2 Fig. 7.3 64 Fig. 7.4 Fig. 7.5 Fig. 7.6 65 Fig. 7.7 Fig. 7.8 Fig. 7.9 66 Fig. 7.10 Fig. 7.11 Fig. 7.12 67 Fig. 7.13 Fig. 7.14 Fig. 7.15 68 7.2 PROGRAMA DA MÁQUINA DE ENSAIO UNIVERSAL E DO VÍDEO- EXTENSÔMETRO Fig. 7.16 Sequência das telas de configuração do programa da máquina de ensaio Trapezium-X. 69 Fig. 7.17 Tela de configuração do programa do vídeo-extensômetro. 8.0 APÊNDICES CARTA DE ACEITE E TRABALHO APRESENTADO NO CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIA DOS MATERIAIS – CBECiMat 19 TRABALHO PUBLICADO NA REVISTA POLYMER TESTING FOLHETOS DE APRESENTAÇÃO DO SISTEMA DE VÍDEO- EXTENSÔMETRO E DO PROGRAMA DA MÁQUINA DE ENSAIO Resumo Abstract SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS 1.0 INTRODUÇÃO 2.0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS SOBRE POLÍMEROS 2.2 CARACTERÍSTICAS, PROPRIEDADES E APLICAÇÕES DO PTFE 2.3 HISTÓRIA DO PTFE [4] 2.4 OUTROS TRABALHO PUBLICADOS SOBRE O PTFE 3.0 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 MATERIAIS E APARATO DE CORTE 3.1.1 CORPO DE PROVA 3.1.2 O APARATO DE CORTE 3.2 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 3.2.1 PREPARAÇÃO DO CORPO DE PROVA 3.2.2 MEDIÇÃO COM VÍDEO-EXTENSÔMETRO 3.2.3 ENSAIOS DE TRAÇÃO 4.0 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 RESULTADOS EXPERIMENTAIS 4.2 MODELO PROPOSTO 4.3 IDENTIFICAÇÃO DE PARÂMETROS 4.4 VALIDAÇÃO DO MODELO 5.0 CONCLUSÕES 6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 7.0 ANEXOS 8.0 APÊNDICES
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