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historia do brasil 2

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4. A Regência (1831-1840)
4.1 Centralização versus descentralização: reformas institucionais
Nenhum tema de ordem política no Brasil é tão importante para o futuro democrático daquele país do que o que diz respeito ao recorte de suas instituições políticas e que, em última instância, significa falar da questão federativa que neste momento começa a sair das preocupações restritas dos círculos acadêmicos para ganhar as ruas.
É unânime entre os cientistas políticos que tem se dedicado a estudar o Brasil, a constatação de que um dos principais problemas, no que diz respeito ao desenvolvimento democrático, é o fato de não termos uma tradição cívica da população que compõe o país, ou seja, as questões públicas estão longe das preocupações da maior parte da população. Por outro lado, está se tornando unânime, também, a identificação das razões deste desinteresse em participar das decisões políticas e estas estão associadas à formação histórica do país e ao seu recorte institucional. 
 
Uma história de centralização 
 
O longo período de colônia (1500 a 1822) deixou marcas profundas na cultura brasileira. O processo de independência veio muito mais como vontade das elites descontentes com a metrópole, do que da vontade do conjunto da população; diferente, por exemplo, do que ocorreu com os EUA, em que a população toma parte, de forma ativa, no processo de independização.
	Com o período do Império (1822 a 1889) a situação tambem não muda em relação ao envolvimento da população com as questões políticas. Nem mesmo o advento da República (1889) ocorreu devido às pressões de uma população em luta por melhores condições de vida e sim, como se costuma dizer, por um golpe arquitetado na caserna, haja visto que os militares encontravam-se descontentes com o espaço que ocupavam na vida política e, desta forma, envolveram-se e tiveram uma participação ativa na criação da República, porém, a população manteve-se distante das questões que diziam respeito ao destino do país.
Esta situação de participação de apenas uma elite na vida política nacional só irá se alterar a partir da década de 1920 e culminará na, assim chamada, revolução de 1930 com a ascensão de Vargas ao poder, pondo fim ao período denominado de Primeira República e principiando a chamada Segunda República, que irá até 1964 quando os militares tomam o poder em um golpe, findando com o pouco de democracia que havia sido conquistada pela população até então. Com este golpe tem início o período mais difícil da vida política nacional que somente encerrará, de fato, com o processo constituinte e a promulgação da constituição democrática de 1988.
Se observarmos o período de democracia efetiva na história política brasileira, o que podemos notar, de pronto, é o quanto foi reduzido o tempo desta experiência. Mesmo assim, podemos observar uma grande disposição política e consideráveis avanços conquistados pela população, principalmente nos últimos dez anos.
Por muito tempo se disse que antes de abrir à possibilidade de participação política por parte da população, deveríamos munir o Estado de instituições fortes, para desta forma evitar o desmando ou então, de forma mais ideologizada, a anarquia. Como se tivesse um grau de precedência entre a institucionalização do Estado e a participação política, o que a nosso ver não se justifica, já que ambas se fortalecem ao mesmo tempo, na medida em que a participação engendra e aperfeiçoa as instituições e estas a participação em uma relação simbiótica. O que não invalida o argumento de que a democracia substantiva pressupõe instituições fortes, ou seja, institucionalizadas.
Hoje, após a constituição de 1988, podemos dizer que temos a possibilidade de viabilizar uma democracia substantiva no Brasil, a partir da existência de uma constituição democrática; de um parlamento em pleno funcionamento; de um sistema de partidos relativamente estruturados; de uma sociedade civil que reconhece suas instituições políticas e predisposta a participar; de um sistema eleitoral que impede a fraude nas eleições e, em fim, de condições que, podemos dizer, se igualam às existentes em países com um alto grau de desenvolvimento democrático.
Dito isto, não significa que não tenhamos problemas a serem resolvidos, os temos sim e muitos, mas a diferença com o passado é que hoje possuímos as condições para avançarmos no fortalecimento democrático. Um dos mais importantes e complexos aspectos que devemos resolver é aquele que diz respeito, de forma mais ampla, ao que se convencionou chamar, no Brasil, de "questão federativa" e de forma mais específica, as questões que dizem respeito ao debate centralização versus descentralização política-administrativa.
A história do estado Brasil é uma história de centralização política e administrativa. No Império, em que a base econômica era centrado em um regime escravocrata, centrada no latifúndio, a centralização das decisões de toda a ordem se constituíam em uma necessidade para a sobrevivência do próprio regime. Com a adoção da República presidencialista, muda-se o regime, mas não a centralização na dimensão da tomada de decisões políticas e administrativas. Esta realidade será a tônica em toda a Primeira República, tendo cedido um pouco de 1930 a 1937, com a chegada de Vargas ao poder, mas recobrando um recrudescimento, ainda com o próprio Vargas, a partir do Estado Novo, em 1937.
No período do Estado Novo (1937 a 1945), foi o momento em que o Estado mais se fez presente e de forma mais centralizada, é o período em que, na economia, o Estado assume para si a tarefa de implementação da indústria de base e toda a infra-estrutura para a industrialização que naquele momento inicia.
É a partir da deposição de Vargas em 1945 e com a constituição de 1946 que se iniciará um breve período, relativamente democrático no Brasil e que culminaria com as discussões populares que envolveram as chamadas reformas de base, propostas pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), partido do então presidente João Goulart. Estas discussões foram interrompidas, de forma abrupta, pelo golpe militar de 1964, tendo aí, os militares, retomado a centralização das decisões políticas e administrativas. O que não é de se estranhar, pois, a centralização é uma característica nas instituições militares.
É apenas a partir de 1988, com a nova constituição que ocorrerá uma mudança significativa do ponto de vista institucional, pois foram dadas as condições de uma descentralização efetiva nas decisões de governo, com a garantia constitucional de a população tomar as decisões por meio de seus representantes, eleitos diretamente em todos os níveis, mas principalmente participar através dos novos instrumentos da democracia direta, que são: o referendo, o plebiscito e a iniciativa popular.
A predisposição constitucional associada as características institucionais que antes mencionávamos, por si só, não são suficiente para garantir a continuidade do aperfeiçoamento e o fortalecimento democrático. Faz-se necessário observar o ensinamento do mestre da política, N. Maquiavel, ao argumentar que ao bom príncipe, em tempos de paz, convém dedicar-se ao estudo da história, para aprender com os erros dos governantes do passado para não cometê-los em suas ações e, por outro lado, imitá-los nas ações bem sucedidas.
O atual debate político no Brasil sobre o federalismo e a descentralização política-administrativa começa a tomar corpo e acirrar os ânimos de todos os que com a discussão se envolvem, indo muito além do círculo político e acadêmico diretamente envolvidos com a temática. Um dos motivos a alimentar este debate diz respeito ao fato de possuirmos um regime presidencialista extremamente centralizado. E, com a alternância de poder, próprio dos regimes democráticos, mudam-se os planos de governo e as prioridades das políticas públicas, fazendo da descontinuidade uma das principais características em tais políticas. Esta característica faz com que o desperdício dos escassos recursos públicos chegue a níveis alarmantes.
Desta forma,não é difícil para os cidadãos perceberem que se as prioridades nos investimentos dos recursos públicos e o acompanhamento da execução de tais ações fossem definidas pela população diretamente envolvida, os resultados seriam diversos, pois, mesmo mudando os governos, não mudariam as prioridades locais, mantendo uma linha de continuidade e, desta forma, evitando o desperdício de obras inacabadas. É fácil constatar que quando as ações são definidas por simples técnicos, distanciados dos problemas, na capital administrativa, nem sempre dispõem das informações indispensáveis para a tomada de decisões. Além da morosidade natural, decorrente da busca de informações e todas as providências necessárias, contam com o retardo decorrente de ajustes que sempre se fazem necessários neste tipo de ação.
No período da ditadura militar, que só terá termo, de fato, com a promulgação da nova constituição em 1988, o principal tema a mover os setores da classe política e a intelectualidade comprometidos com a democracia, não poderia ser outro que os esforços para reconquistar a democracia política e social. Após a promulgação da constituição a questão que começa a tomar corpo nas discussões políticas passa a ser aqueles referentes a execução das políticas públicas e da implementação dos dispositivos constitucionais, já que, a lei maior do país havia sido elaborada com a ampla participação da população, com o resultado de uma carta constitucional avançada do ponto de vista democrático. Porém, as dificuldades na implementação de políticas governamentais, mesmo os de amplo apoio da população, como os referentes à saúde, à educação ou ao processo de municipalização, não avançavam ou avançavam com muitas dificuldades. A pergunta que políticos e intelectuais começaram a fazer foi no sentido de encontrar as razões do porquê de tais processos não fluírem.
A existência de determinadas administrações municipais que sob a mesma constituição conseguem implementar políticas públicas com rapidez e eficiência com melhorias substanciais na relação custo/benefícios, percebidas pela própria população, amplia as indagações, com a diferença de que nestes municípios o orçamento público é discutido e a sua execução se dá obedecendo a vontade da população que define quais são as prioridades e controlam a sua execução. Estes avanços são possíveis, porém, muitos são os entraves que a carência de recursos impõe, já que a união centraliza e os libera, conforme as conveniências de quem ocupa o poder central. Chegamos neste ponto em um dos mais importantes aspectos que possibilitam a continuidade do desenvolvimento democrático no Brasil, ou seja, a questão que diz respeito a reforma administrativa 
 
A reforma administrativa 
 
O pano de fundo desta discussão como é explicitado por Pereira em Da Administração Pública Burocrática à Gerencial, é o da crise dos estados modernos, que estaria conformada , entre outros fatores, por uma crise fiscal; déficit público; restrição dos gastos sociais; baixo nível da poupança interna; busca de captação de recursos adicionais no setor privado para financiar as políticas sociais; esgotamento do modelo do Estado produtor/executor; pelas mudanças no cenário internacional (globalização da economia; aumento da competição; revolução tecnológica); privatização do Estado (ineficiente, corrupto, clientelista) e superação do modelo da administração burocrática.
A necessidade de mudanças na organização e nas funções do Estado estaria determinada pelo fato do Governo deter uma baixa capacidade de governo, ou seja ele não teria como fazer cumprir seus mandatos em função da inefetividade das decisões governamentais, por algum tipo de deficiência organizativa e/ou funcional. A reforma do aparelho de estado portanto visaria ampliar o grau de governabilidade, aumentando a capacidade do Estado em implementar de forma eficiente e eficaz as políticas públicas. Para tal seria necessário, aproximar-se da lógica privada de gerenciar: aumentar a competitividade, a eficiência, e a racionalidade no uso dos recursos.
Para isso o governo propõe um conjunto de medidas que implicam tanto em mudanças na base jurídico legal existente quanto nas relações de propriedade no interior do Estado. Essas mudanças visariam agilizar a administração através do aumento da descentralização e do grau de autonomia de órgãos e instancias da administração superando os atuais entraves que se situam nas áreas de compras, contratação de pessoal, execução orçamentária entre outros. Este conjunto de medidas envolve propostas de emendas constitucionais e a criação de nova legislação infra-constitucional contemplando: um redirecionamento do papel executor do Estado para o de promotor e regulador; uma ampliação da autonomia administrativa para fundações públicas e autarquias; implantação dos princípios da administração gerencial na administração pública; "publicização" de setores do Estado através da transferencia de suas atribuições para organizações privadas (organizações sociais); por um novo pacto federativo, através da descentralização da execução; por propostas de desregulamentação e desburocratização; modificações na lei de licitações e mudanças na legislação referente ao funcionalismo público.
O eixo central da proposta do Governo para a Reforma do Estado, parte da análise histórica dos três tipos de Administração Pública (patrimonialista, burocrática, gerencial). Defende o modelo gerencial que estaria baseado no controle de resultados, na competição administrada e na busca de eficiência (qualidade/custos) e critica o modelo burocrático que estaria baseado no controle de processos e na busca de efetividade e eficácia das decisões. O modelo patrimonialista estaria superado, tendo em vista o atual estágio de desenvolvimento da sociedade civil e da conquista de um grau maior de cidadania no país.
A estratégia definida pelo governo envolve três dimensões: o envio ao Congresso de um conjunto de emendas à constituição; projeto de lei criando as organizações sociais e mudanças na lei de licitações. As emendas constitucionais visam de um lado dar um grau diferenciado de autonomia às autarquias e fundações e de outro introduzir medidas que acabem com a estabilidade rígida do funcionalismo e com o r regime jurídico único.
Para dar consistência e lógica ao seu projeto o Ministério da Administração e Reforma do Estado (MARE) inovou ao definir uma matriz que classifica as funções de Estado em um gradiente indo daquelas consideradas típicas ou essenciais, àquelas em que o setor privado ou o mercado assumem papel relevante. A administração burocrática prevaleceria apenas no núcleo estratégico enquanto o mercado, através do programa nacional de privatizações absorveria as atuais empresas estatais. Para os níveis das atividades exclusivas e dos serviços não exclusivos foram concebidos respectivamente os modelos de agencias executivas e das organizações sociais. Enquanto o primeiro permanece dentro do Estado, o segundo transforma instituições públicas em organismos privados sem fins lucrativos. De comum aos dois, a implantação de modelos gerenciais semelhantes operacionalizados através dos denominados contratos de gestão.
As organizações sociais abrangeriam o setor de atividades não exclusivas a partir da transformação de instituições públicas das áreas de ensino, pesquisa, saúde, desenvolvimento tecnológico, cultura e preservação do meio-ambiente, em pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos.
Neste modelo analítico e propositivo, Estado e mercado são espaços onde se dá a articulação entre os sistemas econômicos e sociais. A proposta do governo sugere a existência de um espaço entre Estado e mercado em que no sentido Estado / mercado diminuiria a razão pública, decresceriam a racionalidade política e a efetividade e por outro lado aumentariam a razão privada, a racionalidade econômica e a eficiência. Uma avaliação mais critica destas propostas do governo demandaria um espaço e esforço de outra ordem do que nos propomos aqui e fica para uma outraoportunidade.
Como conclusão gostaríamos de salientar que a reforma do Estado, no sentido de instrumentalizá-lo com instituições descentralizadas e institucionalizadas é uma condição indispensável para a consubstanciação da democracia efetiva e é necessário ter paciência histórica já que o desenvolvimento da cultura cívica obedece uma relação simbiótica entre o engendrar de novas instituições e a participação e, o processo de descentralização política-administrativa é um passo importante da engenharia política a favorecer este aspecto. Neste sentido, as reformas propostas pelo governo são importantes mas não garantem por si só que teremos a institucionalização de um Estado mais horizontalizado, propiciando o acesso mais rápido dos cidadãos a ele. É necessário desenvolver uma cultura cívica e para isto teremos que lutar contra os resquícios de nossa história patrimonialista e de um estado centralizado e distante dos cidadãos.
Ato Adicional de 1834
Durante o Período Regencial, várias medidas foram tomadas com o intuito de se conter as rebeliões provinciais. 
Em 1831, o ministro Antônio Feijó propôs a criação da Guarda Nacional, milícia organizada com o intuito de conter os levantes que tomavam o país. 
No ano seguinte, o Código de Processo Criminal concedia maior liberdade para que os juízes de paz punissem os delitos ocorridos em esfera local.
Apesar destas medidas de controle, as revoltas se avolumavam e, junto delas, a pressão dos setores políticos liberais em realizar um processo de descentralização do cenário político. 
Fortalecidos pela visível instabilidade, os liberais conseguiram aprovar, em agosto de 1834, o chamado Ato Adicional. Por meio deste dispositivo legal foram realizadas significativas reformas no texto constitucional.
Inicialmente, a consolidação da reforma parecia impor a hegemonia dos liberais frente aos conservadores. Contudo, os Presidentes de Província continuavam sendo indicados pelo governo central e as províncias não poderiam descumprir nenhum ato que partisse do mesmo. Dessa forma, estes mecanismos impediam a delegação de poderes e direitos para as províncias.
Segundo o Ato Adicional, as províncias poderiam formar suas próprias Assembleias Legislativas. Por meio de tal instituição, os representantes políticos locais controlariam a arrecadação de impostos e os gastos do poder local. 
Além de criarem leis, os membros dessa assembleia tinham autonomia para nomearem os funcionários do governo. Com o passar do tempo, essa última regalia se transformou em barganha política destinada à compra de votos.
Outra significativa conquista do Ato previa a extinção da Regência Trina. Em seu lugar, uma Regência Uma seria eleita através do voto direto. Na verdade, essa conquista em nada modificava o problema da exclusão política no país. Respeitando as leis eleitorais da Constituição, somente as pessoas que comprovassem uma determinada renda poderiam votar e lançar candidatura.
Determinações de menor valor apontavam que a capital do Império seria transformada em Município Neutro. Com isso, seu território era politicamente autônomo em relação à província do Rio de Janeiro. 
Além disso, confirmando uma determinação já existente, o Ato Adicional estipulou a suspensão do Conselho de Estado e do Poder Moderador, dois órgãos que só poderiam funcionar com a posse de um novo rei.
Apesar de suas intenções liberais, o Ato Adicional de 1834 não teve a força necessária para que o desmando e o centralismo fossem enfraquecidos do cenário político da época. Outros mecanismos e as intensas disputas políticas acabaram frustrando as intenções almejadas por tal mudança. 
Não por acaso, em maio de 1840, a Lei Interpretativa do Ato Adicional anulou algumas das conquistas de 1834.
4.3 A dimensão externa.
Política Externa: Administrar o imobilismo.
1840-1855: consolidação do Império
1840: 1ª formação de ministérios: liberais, que deram o golpe da maioridade colocaram D. Pedro no poder.
Anistia – regência
Eleições do cacete
1841: 2ª formação de ministérios: conservadores
Fortalecer seu poder
Controle da elite rural
Código Processo Criminal
Conselho de Estado
Criação do chefe de polícia
Regresso conservador = concentração política e controle da elite agrária
1842: rebeliões liberais de 1842
SP: Sorocaba: Diogo Feijó
MG: Barbacena: Teófilo Otoni
Duque de Caxias derrota os rebeldes
1844: 3ª formação de ministérios: liberais por 4 anos
1848: 4ª formação de ministérios: conservadores até 1853
Estopim da revolução: queda dos liberais, mas tinha antecedentes antigos e profundos
Outros motivos: injustiça social e exploração econômica à maior parte das terras pertenciam à família Cavalcanti
Ideias republicanas e revolucionárias provenientes de:
. Revolução de 1817
. Confederação do Equador (1824)
. Jornal ‘o Repúblico’
. Revolução na França, em 1848
Sentimento anti-lusitano (comércio dominado pelos portugueses)
Senado conservador anula o apontamento de um liberal (Antônio Chichorro da Gama)
Programa da Revolução
Proclamação da República
Nacionalização do Comércio
Garantia de trabalho
Voto universal
Liberdade de imprensa
Reformas socioeconômicas
1849: revolucionários ocupam Olinda e atacam Recife, onde foram derrotados pelas tropas governamentais. Insucesso: sertanejos aderem à ideia.
Causas do fracasso
Extrema violência da repressão governamental
Traição de vários líderes rebeldes
1850: Capitão Ivo Velloso continua lutando, mas foi preso e traído
Pacificação: processo que levou ao triunfo da ordem
Café: crise econômica chega ao fim
Mais importante acontecimento do século XIX
Fortaleceu tanto o governo como a elite agrária
Resolve o problema entre a elite e as camadas, mas não entre os partidos, cuja solução se dá com o sistema parlamentarista.
1847: adota-se o parlamentarismo
Parlamentarismo no 2º Reinado
Poder Executivo: 1º Ministro, escolhido pelo chefe de Estado
1º Ministro escolhe seu gabinete e solicita voto de confiança
5. O Segundo Reinado (1840-1889)
O centralismo é um sistema político em que o poder político e administrativo é concentrado nos órgãos centrais do Estado. Opõe-se ao federalismo, no qual o poder é distribuído entre os vários entes que constituem o estado.
Tradicionalmente centralista é a França, por exemplo, cujas subdivisões geográficas (arrondissements) têm pouca autonomia. Também são organizados de maneira centralizada a Grécia, Luxemburgo, Portugal, Suécia e Japão. Federalistas são os Estados Unidos da América, o Brasil, o Canadá, a Alemanha, a Áustria e a Suíça. Os entes que compõem essas federações têm diferentes nomes (estados, na Alemanha e na Áustria; cantões, na Suíça; comunidades autônomas, na Espanha; países, no caso do Reino Unido).
No entanto, todos os governos constituídos são, em algum grau, necessariamente centralizados. Mesmo num estado federado, a autoridade e as prerrogativas do poder central estão acima da autoridade e prerrogativas das partes que o constituem.
Não se deve confundir desconcentração com descentralização. A desconcentração corresponde a uma simples delegação de competências, enquanto que a descentralização é uma verdadeira transferência de competências ou de poderes de um ente de direito público para outro.
TUDO PARECE indicar que estamos entrando numa fase da história social e política do país marcada por algumas inversões na relação entre a sociedade civil e o Estado. A história do Brasil independente tem sido uma história de tutela do Estado sobre a sociedade, sociedade cujos marcos históricos resultam de processos que fluem lentamente e cujas mudanças apenas lentamente chegam à consciência da maioria de seus membros, mesmo daqueles que na militância política transformadora podem estar mais perto da sua compreensão. Circunstâncias próprias do período ditatorial recente despertaram as possibilidades criativas da sociedade em face do Estado. Disseminaram-se os movimentos sociais e as organizações populares e tudo sugeria, e ainda sugere, umafase nova de nossa história social marcada pelo protagonismo da sociedade. No entanto, essa curta vivacidade social parece estar entrando em crise, diante de um Estado que foi mais ágil na definição das circunstâncias do agir histórico.
Para quem tem acompanhado o surgimento e a atuação dos movimentos sociais, e neles os dos chamados movimentos populares, essa inversão propõe a necessidade de uma compreensão não só das mudanças, mas do lugar desses movimentos na nova situação e no novo cenário político que se abriu com o fim da ditadura. Se essa tendência se confirmar, esses movimentos vão se tornar anômicos, do que, aliás, já existem não poucas evidências: suas referências ideológicas não correspondem à circunstância histórica nem às possibilidades de intervenções transformadoras que nela se abrem.
A inversão e a anomia poderão decorrer do incremento no conservadorismo da sociedade e do seu atraso em relação às possibilidades históricas abertas em favor da sociedade pelo Estado reduzido em sua abrangência ou, ao menos, modernizado. É certamente motivo de apreensão que a sociedade e seus agentes compreendam mal o possível histórico deste momento, sobretudo porque, recuando o Estado em suas tarefas substitutivas da sociedade, cria-se um âmbito desregulamentado da vida social e política que tende a favorecer grupos de direita e até extremismos, na falta de uma intervenção efetiva, universalista, construtiva e menos retórica de grupos e partidos de esquerda.
O que foi a crise do Estado durante a ditadura e crise do Estado ditatorial na sua fase final, quando os setores liberais das oligarquias se autonomizaram em relação ao partido governante, é agora a crise da sociedade civil, na sua dificuldade para dar o passo político que a circunstância lhe pede. Resta saber se os movimentos sociais e as organizações que em nome da sociedade falam e agem têm condições, a curto prazo, de compreender sua refuncionalização decorrente das mudanças recentes. Impasses aparentemente sem sentido entre a sociedade e o Estado sugerem haver dificuldades para o desenvolvimento dessa compreensão e esse é o ponto problemático que motiva estas considerações.
No tempo da ditadura, a sociedade inorganizada e privada de sua expressão política plena combateu o Estado autoritário, muitas vezes em nome de interesses particularistas, os interesses de grupos singulares e nem sempre majoritários, como a classe operária, os trabalhadores rurais, os jovens da classe média, grupos femininos e feministas, grupos de vizinhança e moradores etc. A sociedade habituada à dominação populista teve que construir aos poucos a compreensão do seu lugar subalterno em face do Estado e dos limites institucionais da circunstância histórica às suas reivindicações.
O surgimento dos movimentos sociais, urbanos e rurais, fora de enquadramentos partidários, foi de certo modo uma grande novidade na sociedade brasileira, uma nova forma de expressão social que se combinou com o florescer de novos sujeitos sociais e políticos. As restrições partidárias viabilizaram a emergência de protagonistas do enredo histórico que o populismo das décadas anteriores havia sepultado na vala comum dos beneficiados antecipadamente pelo Estado provedor. Todas as demandas sociais ganhavam expressão e solução nas antecipações dos governantes e dos políticos.
Mesmo demandas que se tornariam explosivas no período ditatorial e sobretudo no período pós-ditatorial, como a da reforma agrária, não expressavam de fato as verdadeiras necessidades dos pobres do campo. Eles estiveram, em grande parte, acomodados num sistema de cooptação e paternalismo que os conservara na conveniente subserviência e no conformismo de um regime de trabalho resultante de tentativas de acerto e erro, verdadeiros experimentos a assegurar a legitimidade de um longo período de transição do trabalho escravo para o trabalho livre.
O discurso da reforma agrária era localizado e constituía um modo de enquadrar e dar sentido político a uma justa reivindicação imediata de sobrevivência, que se perdia em conflitos de natureza policial e arranjos locais e localizados. Correspondia muito mais a uma visão dos problemas sociais de setores radicais da classe média, na esquerda e também na direita, do que propriamente ao que pensavam e pensam, e precisam, as diferentes e desencontradas categorias de trabalhadores rurais: meeiros, parceiros, posseiros, minifundistas, braçais temporários ou permanentes. Não por acaso, o vocabulário dessas lutas, como agrário, camponês, latifúndio, burguesia etc., é um vocabulário historicamente ausente do nosso mundo rural, palavras que não expressam de fato os conflitos e as polarizações sociais, que fluem de outro modo e por outros modos de tomar consciência das contradições sociais. O vocabulário da luta não coincide com o vocabulário da vida, o que quer dizer que a consciência da luta é diversa da consciência de quem quer dirigir a luta. Esse distanciamento tem sido próprio das lutas camponesas em muitos países, conseqüência das peculiaridades históricas dessa categoria social, como dizia Marx, mas também conseqüência da impotência própria da indefinida classe social que quer dirigir as outras classes, que é classe média e nela a intelectualidade iluminista, que ele era e não disse.
Os problemas sociais do campo encontrariam resposta e solução numa muito pouco definida reforma social que seria a reforma agrária. Até hoje, a classe média militante, os setores radicais dessa classe, procuram de distintos modos enquadrar os problemas do campo e dos trabalhadores rurais na questão agrária e propor-lhe como solução uma reforma agrária que depende de extensos prólogos para que se defina o que afinal é a reforma agrária. Descolamento próprio de uma reivindicação mediada por interesses e concepções de uma categoria social diferente da categoria ou das categorias em nome das quais a reivindicação ou a pressão é feita. Esse desencontro, que é grave, é a base do que estou chamando de tendência à anomia no caso dos movimentos populares no campo. Isso não invalida a motivação iluminista da classe média que, com razão, se inquieta com a pobreza e as más condições de vida das populações pobres. Mas, essa intervenção complica o próprio anseio de justiça das vítimas de um longo processo de desenvolvimento econômico excludente, à medida em que as fantasias cultivadas pela classe média sobre a pobreza, ainda que generosas, estão descompassadas em relação ao mundo de quem é objeto da reivindicação.
Não é estranho, portanto, que os interesses dos diferentes grupos desigualmente atingidos por diferentes intervenções do governo ditatorial, em diferentes momentos, tenham se manifestado como interesses particularistas, sem conexão uns com os outros. A demora na aglutinação desses particularismos teve como causa a heterogênea intervenção espoliativa ou repressiva do Estado ditatorial nos diferentes setores da sociedade, da economia e da política.
A ditadura militar não foi, no entanto, um bloco político coeso e coerente. As cassações políticas não ocorreram de vez, foram se sucedendo, encerradas, reabertas, encerradas novamente, sempre em função de providências repressivas tópicas. Por seu lado, a política fundiária se cumpriu como exceção e não como regra, contraditoriamente combatendo o latifúndio nas áreas de tensão social e, ao mesmo tempo, gestando o latifúndio de empresa em novas regiões, o que simultaneamente produzia novas tensões. Enquanto fazia a reforma agrária tópica de cunho militar e repressivo, por razões de segurança nacional, o Estado atendia à demanda dos movimentos sociais locais, precários, surgidos na emergência de conflitos inesperados, e ao mesmo tempo reprimia, prendia e processava as lideranças e apoiadores desses movimentos. Um reconhecimento confuso de um fato histórico verdadeiro, o de que os agentes da luta política pela reforma agrária não eram necessariamente os mesmos que dela necessitavam.
Mas, houve uma certa articulação dos particularismos, menos porconsciência e projeto próprios e mais porque o antagônico é que assegurava a unidade relativa das oposições. Gestou-se aí um oposicionismo residual, uma coalisão dos resíduos da repressão e do autoritarismo, sem o qual teria sido impossível a superação do regime militar e a transição para um Estado democrático. Era a mediação do adversário, o Estado ditatorial, que garantia a força das oposições, embora tendessem elas a ser um conjunto de corporativismos. Essa articulação veio de fora, de grupos institucionais extrapartidários mais amplos e nem sempre enraizados na situação social daqueles em nome dos quais reivindicavam. Até hoje, muito do debate sobre a reforma agrária expressa essa desconexão entre a situação dramática de quem dela precisa e a imprecisa consciência que dela tem os que a reivindicam em nome dos que são dela necessitados.
Foi extraordinário o papel que a Igreja teve e continuou tendo nessa articulação, com suas pastorais sociais, como a pastoral indígena, a pastoral da terra, a pastoral do trabalho. Elas foram corretamente definidas pelos bispos como pastorais de suplência, mero socorro temporário. As tensões sociais e políticas recrudescidas na ditadura ganhavam um rosto, um protagonista, na mediação pastoral. O clamor popular, como com justeza definiram os bispos num de seus documentos, valia-se do aparato da Igreja, de seus canais de expressão e comunicação, único modo de exprimir-se num país em que a expressão política radical, que tocava nos problemas de raiz, era considerada crime.
Mesmo os partidos políticos clandestinos procuraram abrigo sob o manto protetor da Igreja. Membros de partidos oficialmente ateus o fizeram. Partidos ou tendências, como eram chamados, com atuação restrita e sem maior alcance, ganharam espaço por esse meio, ampliaram sua atuação valendo-se da penetração popular da Igreja, da legitimidade que, de certo modo, conservou durante a ditadura. No geral, quase todos esses grupos desdenhavam esse papel da Igreja. Baseavam-se na suposição de que tudo que não fosse partidário e partidariamente de esquerda despolitizava e atrofiava as demandas sociais, confinando-as em quadros ideológicos impróprios para a ação política.
Um certo aparelhismo tomou conta dessa mediação impolítica que cumpria uma função, sem dúvida, política. O resultado foi a busca da laicização da ação dos grupos de Igreja e até mesmo a sua institucionalização como grupos seculares, como foi o caso do MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, convertidos em grupos semipartidários. Houve grande resistência, até mesmo por parte dos bispos, quando a oportunidade se apresentou, em constituir um Partido Católico no Brasil, coisa que teria sido possível. Com isso, os católicos passaram a expressar-se por meio do partido de oposição à ditadura e nele de preferência por meio das tendências ditas de esquerda. Foi assim até o surgimento do Partido dos Trabalhadores, que herdou a maior parte desses parasitismos, desses aparelhismos, embora não todos.
Ao menos no que se refere às lutas sociais no campo, bem antes do final da ditadura e nos dias anteriores à reunião do episcopado que lançou o documento Igreja e Problemas da Terra, em 1980, uma definição de princípios e concepções sobre a questão agrária e a reforma agrária, o Estado demonstrou que estava dando passos na direção de um reconhecimento do papel histórico dos grupos comunitários e das novas formas de atuação da sociedade. Coincidindo com a primeira visita do Papa, o general Golbery do Couto e Silva, ideólogo do regime, em discurso na Escola Superior de Guerra, sublinhou o risco político e a anomalia de uma sociedade que passara a expressar suas demandas por canais não-partidários, como era o caso da Igreja. Portanto, antes mesmo que o regime militar se extinguisse, o Estado brasileiro tomava consciência das mudanças na relação entre a sociedade e o Estado e se propunha a reconstituir a hegemonia do Estado, mediante a abertura política, de modo a incorporar a nova vitalidade social como um fator politicamente positivo e administrável. Isto é, o Estado se abria para a possibilidade de fazer da sociedade um agente auxiliar, de modo a eliminar o conflito entre ambos, agravado pelo próprio regime. Mas, essa era ainda a concepção do Estado centralizado, lógica das nossas ditaduras, que enquadra, tutela e dirige a sociedade.
Sem dúvida, gestava-se aí, ainda que de modo confuso, o reconhecimento das mudanças nesse relacionamento que, de outros modos, ocorria em outros países, sobretudo nos países hegemônicos, em conseqüência do nem sempre corretamente chamado de neoliberalismo. Lembro, muito de passagem, a reemergência das nacionalidades em países como a Espanha, a Grã-Bretanha, entre outros, e o reconhecimento de sua legitimidade política, depois de décadas de sufocamento e até de repressão. No nosso caso, o equivalente foi o reconhecimento, mesmo durante o regime militar, da realidade própria das populações indígenas e de seus direitos territoriais e da legitimidade das reivindicações territoriais das populações rurais mediante o Estatuto da Terra e da não-intervenção na Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura. É claro que o Estado impôs, também, a legitimidade de sua soberania sobre as providências relativas à questão do território, como um ponto além do qual não admitia ultrapassagem.
Vencida a ditadura, o Estado se tornou liberal ou retornou ao seu liberalismo de base municipal e localista, aparentemente revitalizando as tradições oligárquicas. De certo modo, cumpria-se uma vez mais na história republicana o movimento pendular entre centralização política e descentralização, entre o absolutismo republicano e a federação oligárquica, entre a ditadura e a democracia (1). Mas, o Estado defrontou-se com a sociedade mobilizada, expressando-se por meio dos movimentos sociais e das organizações populares. Os limites, aliás, da força política desses novos sujeitos fizeram-se ver na campanha pelas diretas-já. De um lado, porque os novos sujeitos não se revelaram em condições de agir autonomamente. Tiveram que aliar-se a outros setores, tradicionais, da sociedade, setores de classe média e de tradição liberal e colocar-se sob sua hegemonia. Ficou claro que esses novos sujeitos não tinham condições de exercitar um protagonismo hegemônico e decisivo. Mas, ao mesmo tempo, os movimentos sociais e as organizações populares haviam passado a carregar o ônus do aparelhismo dos grupos partidários que durante a ditadura não tiveram condições de atuar com identidade própria. Tornaram-se cativos de concepções políticas hierárquicas e corporativas que comprometiam justamente sua novidade e sua criatividade. Os movimentos sociais, ao se deixarem aparelhar pelos partidos, dessacralizaram a esperança.
Enquanto o Estado se abriu num liberalismo peculiar, expressão também da sua fragilidade em face do pacto político de antagônicos que viabilizara o fim da ditadura, a sociedade civil foi se tornando, rapidamente, corporativa e autoritária. Os movimentos sociais tornaram-se organizações, não raro agressivas, autoritárias e intolerantes, com burocracia própria, bloqueando o espaço para novos e autênticos movimentos sociais. Os particularismos se enrijeceram, não evoluíram em direção aos valores universais que sua prática anunciava, não perceberam a dimensão adequada de sua prática.
No limite, os movimentos sociais e as organizações populares passaram a negar a política, o debate e a corresponsabilidade, que seriam próprios da sociedade civil que tivesse evoluído na direção de assumir o fortalecimento da sociedade em face do Estado. Ao contrário, organizam-se como Estado (o PT, um partido que em grande parte representa organizações populares e sindicais, e seu gabinete paralelo; o MST e seu empenho em estabelecer uma soberania particularista nas porções do território que presume conquistar, no pressuposto de que são territórios liberados, similar ao que fundou a ação do PCdoB nos anos 50).
Não assumem esse confrontocomo confronto entre sociedade civil e Estado que contenha a possibilidade histórica do fortalecimento da sociedade civil e sua definição como protagonista da versão moderna da inclusão social dos pobres como agentes do próprio destino. Uma sociedade civil diversificada quanto à composição das classes sociais que, ao se tornar progressivamente a categoria que protagoniza o processo histórico e lhe dá direção, retira do Estado grande parte de seu conteúdo específico de classe e o torna menos dirigente e mais serviço à sociedade. Algo parecido com o que a Igreja Católica, em países como o Brasil, diz ser e procura ser.
Boa parte da dificuldade vem dos reducionismos interpretativos que atravessaram a prática desses híbridos movimentos sociais e organizações populares, também influenciados fortemente pelas igrejas. A Igreja Católica e algumas igrejas protestantes elegeram o pobre e desvalido como o sujeito da história do presente, como a figura humana cujas carências põem em evidência os riscos que um regime econômico degradante impõe à condição humana e aos valores universais do homem e da humanização do homem. É nesse plano que se aproximam dos partidos políticos de esquerda tradicionais. Apesar da justeza dos valores desse quadro de referência, esse pobre é uma abstração. Não levamos em conta que no mundo contemporâneo há uma grande diversidade de pobrezas, muito além da mera pobreza do essencial à sobrevivência física da pessoa. O pobre desse imaginário social é um pobre esquálido e fotográfico, que também existe, infelizmente, em muitos lugares do mundo - um pobre abaixo da linha da miséria, mas também abaixo da linha da participação ativa nos destinos da sociedade. Uma sociedade de miseráveis não é uma sociedade de cidadãos nem pode sê-la.
Nas gradações da pobreza é preciso reconhecer que muitos são pobres não porque padeçam privações materiais do essencial à sobrevivência. A criatividade popular tem gestado estratégias de sobrevivência que perturbam a lógica econômica dominante e oferecem saídas onde os técnicos e economistas não vêm saída alguma. A pobreza moderna é maior e bem diversa da pobreza definitiva de um imaginário religioso ou de uma classe média em que o pobre está reduzido a um esquálido esquema de interpretação social e política. O essencial da pobreza moderna e capitalista está na transformação do homem em coisa, na sua desumanização. Na sociedade capitalista é pobre quem é pobre de humanidade. Quando a pobreza material e alimentar o atinge, estamos apenas em face da extrema exacerbação da coisificação do ser humano: ele se tornou descartável, sua vida já nem mesmo vale o bocado de comida que come - a máquina da produção de riqueza não tem para ele lugar e não o tem sobretudo porque o priva de participação no universo utópico da esperança. No geral, as igrejas vêm se afastando completamente do ideário social da esperança e vão sendo cooptadas por um ideário materialista pobre e sem sentido, mesmo entre aqueles que nelas se consideram progressistas.
Aos que crêem, quase que se poderia lembrar que Deus não está essencialmente no particularismo do bocado, mas na universalidade da boca que se alimenta, que também fala, mesmo quando não tem o que comer. E ao falar expressa uma consciência, o espírito, a consciência utópica de que o comer é subsidiário do falar e do pensar, do querer e do transformar. A boca que apenas come é a boca pobre, não necessariamente a boca dos pobres. A boca que apenas come é a boca imaginada pela consciência instrumental do militante político que não pode falar a fala de sua própria classe, oscilante e indefinida, por isso usurpa a classe alheia e a consciência alheia, dos trabalhadores e dos pobres, para falar em nome deles, no lugar deles, o que não é o que eles necessariamente precisam e querem. O radicalismo dessa usurpação não expressa nem mesmo as necessidades radicais da sociedade (2), quanto mais as necessidades dos pobres. Pode-se mesmo dizer que nessa infernal inversão, os pobres são excluídos porque foram excluídos e privados do direito de falar por si mesmos, vítimas da palavra usurpada no discurso pré-fabricado e divorciado da práxis de uma classe média com fortes tendências autoritárias, mesmo quando se proclama revolucionária e identificada com o sagrado princípio da liberdade de consciência.
Transformações que estão ocorrendo nas próprias igrejas que, obviamente, não são corpo distinto da sociedade, indicam claramente essas gradações da pobreza. Os que se incomodam, até com razão, com a liturgia da dança que tem se difundido nas cerimônias religiosas, esquecem que ela representa grave e significativa crítica da pobreza teológica. Nela se nega e se critica explicitamente a concepção de que o corpo flagelado dos pobres é um corpo santo, de que na pobreza está a santidade. A idéia do corpo pobre como corpo santo é uma sisuda idéia monástica acentuadamente em conflito com a concepção popular de que o corpo santificado e bendito é o corpo farto e alegre e não o corpo carente. Nessas novas tendências, que se desenvolvem nos vazios deixados pelo maniqueísmo religioso e político, o corpo se reconcilia com a fé à medida em que restituem ao corpo a alegria de um corpo destinatário da vida e não apenas da política.
O amplo espaço de manifestação da sociedade civil do período pós-ditatorial não foi decididamente ocupado. Só poderia sê-lo pela sociedade organizada e atuante, isto é, pela festa e pela alegria. Ao invés disso, os agentes do protagonismo popular se distanciaram dessa possibilidade, recuaram para posições populistas e de patronagem. Foram ficando confinados no pequeno território que sobrou para o protagonismo da pobreza. Curiosamente, o pobre deixou de ser o pobre genérico, a vítima genérica do desenvolvimento capitalista, para se tornar apenas o pobre residual - o excluído, o desempregado, o de poucas oportunidades, não a maioria, não o pobre que somos, mas o pobre de quem temos pena. Por isso, a população pode generosa e comovidamente apoiar muitas das justas manifestações do MST e na eleição seguinte votar em candidatos que representam justamente o latifúndio e a dominação oligárquica.
A esses desencontros juntem-se outros. O setor da Igreja que conciliava ou concilia o discurso sobre o pobre com uma prática encarnada foi sendo dilacerado pelo reducionismo da exclusão. Isso abriu um distanciamento progressivo entre os bispos e as comunidades de base. Ao se tentar dar uma dimensão política às CEBs, deu-se, na verdade, uma dimensão partidária, num país em que as esperanças das populações que podem ter uma identidade nas CEBs poderiam, também, expressar sua vontade política por meio de vários e não só de um partido político - do PT ao PSDB, passando por partidos como o PDT, o PSB, o PPS, entre outros. Esse seqüestro ideológico e político fez com que as vanguardas das esquerdas populares avançassem mais depressa do que as bases, fez com que os grupos de mediação ficassem sozinhos lá adiante, separados do povo e da maioria dos bispos. Caíram na armadilha da incompreensão, divorciaram a teoria da prática, que parece caminhar para a impossibilidade de uma reconciliação.
Esse fechamento anuncia e propõe o Estado centralizado e autoritário como expressão da vontade social e, por ele, a sociedade subjugada, e não o contrário, que seria o Estado a serviço de uma sociedade civil soberana, consciente, pluralista, moderna. Todas as indicações são de que movimentos e organizações populares, e partidos com eles identificados, não percebem a alternativa e o espaço de ação que está aberto, que desloca o protagonismo da História do Estado para a sociedade. E obviamente isso só tem sentido numa sociedade complexa, pluralista e democrática, na qual a diferença dos particularismos, como os que caracterizam hoje os nossos movimentos sociais e as nossas organizações populares, ganha força política e legitimidade histórica na possibilidade das coalisões e dos valores universais e históricos referidos ao bem comum. Exatamente o oposto do quevem acontecendo.
O amplo território da liberdade, da democracia e da sociedade como agente do querer histórico, vem se abrindo desde o fim da ditadura em conseqüência justamente da ação dos movimentos sociais e das organizações populares. Mas, também, em conseqüência do amadurecimento político dos grupos sociais e políticos de centro, dos liberais, da esquerda independente e até mesmo de setores das oligarquias que se modernizaram nas últimas décadas e revalorizaram seu liberalismo enraizado nas tradições ideológicas e políticas do século XIX, quando eram a esquerda do regime monárquico. É o território que possibilita fazer da sociedade uma sociedade ativa na gestão dos direitos e da qualidade de vida, basicamente o município e os grupos comunitários. Esse território vem sendo desdenhado (3) e abandonado à iniciativa de outros grupos que, aliás, constituem um fato positivo na presente circunstância histórica: uma direita civilizada, conservadora em algumas questões, liberal em outras, que se propõe democraticamente, em bases modernas, a disputar a possibilidade da co-gestão local da relação entre a sociedade e o Estado com os grupos de esquerda e com uma direita remanescente do governo militar, que tende ao populismo, à repressão e não raro à corrupção.
Os movimentos sociais e as organizações populares, que têm suas raízes históricas nas reivindicações e nos embates do período ditatorial, parecem engessados na moldura dos confrontos de então, enquanto a sociedade e o Estado se transformam mais depressa do que podem perceber. Esses grupos afundaram numa prática própria do tempo da ditadura, a de desestabilizar o governo e precipitar crises institucionais, questionando sua legitimidade. Só que agora podem vir a ser governo (e já estão sendo em municípios e estados). Minam, portanto, sua própria legitimidade política. Em grande parte, porque as referências ideológicas desses grupos e dos grupos de mediação que os apóiam e orientam são referências construídas estritamente na suposição de que todos os conflitos são conflitos de classes, na suposição simplificadora de que o confronto político da época da ditadura era um grande e final confronto entre o proletariado e a burguesia, entre o bem e o mal. Deriva daí, no meu modo de ver, o notório messianismo hoje subjacente à ação desses movimentos e organizações, na espera de um presidente-messias que instituirá, finalmente, a república de Belo Monte, suprimirá a política e alimentará os pobres com o pão nosso de cada dia e o ideológico fundamentalismo que tornará a política inteligível, a sociedade dócil e punirá com espada de fogo os que inadvertidamente cumpriram como foi possível a missão que a História lhes reservou ao longo do tempo.
É evidente a anomia desse mal disfarçado sebastianismo. A enorme riqueza de uma prática criativa, que tem sido a desses grupos e movimentos, perde-se na ideologia descompassada e desenraizada que não está a ela referida, que não a traduz em consciência social e projeto histórico. Antes, a afasta de sua vitalidade e da rica consistência do historicamente possível que ela própria tem aberto. Esse messianismo ideológico dessacraliza a mística dos movimentos populares e corrói o carisma de suas lideranças. Destrói, portanto, a utopia que eles encerram e vai deixando, assim, de ser a referência crítica que renova e fundamenta a práxis.
SISTEMAS ELEITORAIS
Nas estruturas políticas dos países que vivem sob o regime democrático representativo, os partidos políticos são parte essencial de sua organização. Podemos definir “partidos políticos” como uma organização voltada para a disputa do controle legítimo do governo de uma nação por meio de um processo eleitoral, ou seja, pelo voto.
As formas como se organizam esses grupos partidários dependem de como são estipuladas as regras de embate político de uma nação. Dito isso, os sistemas podem ser tanto unipartidários, em que apenas um partido único forma o cenário político de uma nação, bipartidários, em que apenas dois partidos políticos disputam o poder, ou pluripartidário, em que vários partidos diferentes envolvem-se na disputa política.
♦ Sistemas eleitorais e partidos
A organização partidária é a chave para a manutenção de um governo representativo, isto é, um sistema político em que os membros da sociedade submetida a um governo escolhem indivíduos para representar seus anseios dentro do jogo político. Essa forma de governo representativo justifica-se diante das dificuldades inerentes a um sistema de decisões diretas, em que a população vota diretamente nas questões de seu governo, já que a realização de frequentes votações absolutas é custosa, demorada e muito pouco prática.
Dessa maneira, as organizações partidárias variam de acordo com o sistema eleitoral ao qual estão submetidas. Noberto Bobbio define um sistema eleitoral como os “procedimentos institucionalizados para atribuição de encargos por parte dos membros de uma organização ou de alguns deles.” De forma mais simples, um sistema eleitoral é a forma como são estipuladas as regras que determinam como os votos de uma eleição atuarão na definição do corpo político que exercerá o poder de um governo legítimo.
→ Sistemas majoritários e proporcionais
Podemos identificar duas grandes famílias de sistemas eleitorais: os sistemas majoritários e os proporcionais. Há ainda um terceiro sistema, que se configura pela junção de certas características dessas duas e que é identificado como um sistema eleitoral misto. Entretanto, neste texto abordaremos apenas os sistemas majoritários e proporcionais.
A diferença básica dos dois principais sistemas eleitorais é que enquanto o sistema majoritário busca garantir a eleição de candidatos que conseguem arrecadar mais votos, o sistema proporcional busca garantir que os cargos sejam distribuídos de forma proporcional em relação à quantidade de votos recebidos pelos concorrentes.
As discussões recentes que foram reacendidas nas propostas da reforma política que se desenrola em nosso sistema político debatem também os méritos e desméritos desses sistemas eleitorais. Aqueles que defendem a adoção de um sistema majoritário pautam-se na tendência ao bipartidarismo ou ao unipartidarismo. A vantagem estaria no maior controle que os eleitores teriam sobre seus representantes, que seriam diretamente escolhidos mediante a contagem absoluta de votos. Aqueles que advogam pelo sistema proporcional entendem que, no Parlamento de uma nação, a diversidade da comunidade que o elegeu deve estar representada. Teoricamente, as eleições proporcionais garantiriam que minorias conquistassem representação mesmo com uma quantidade pequena de votos.
Divisões do sistema majoritário
O sistema eleitoral majoritário é utilizado em nosso país na definição de cargos do Poder Executivo (presidente, governador e prefeito) e para os cargos do Senado Federal. Existem as classificações de sistema majoritário por maioria simples, dois turnos (que é o caso das eleições para o Executivo no Brasil) ou voto alternativo.
Pela maioria simples, mais conhecido em nosso meio como “voto distrital” ou “distritão”, a contagem de votos é feita e o candidato que alcança a maioria absoluta de votos é eleito. Esse é o sistema utilizado no Reino Unido, para a eleição de deputados, e em inúmeros outros países, como os Estados Unidos, o Canadá e a Índia.
A organização das eleições nesse sistema é feita a partir da divisão de distritos eleitorais com um número semelhante de eleitores. Na Inglaterra, por exemplo, o território é dividido em 659 distritos eleitorais, cada um com aproximadamente 69 mil eleitores. Cada um desses distritos deve eleger um representante, e cada partido apresenta apenas um candidato por distrito. O candidato mais votado de cada distrito é eleito.
O sistema majoritário em dois turnos considera um percentual mínimo a ser alcançado, geralmente acima de 50% do total de votos, pelo candidato mais votado. Se esse candidato não conseguir alcançar o número de votos no primeiroturno, disputará um segundo turno com o segundo candidato mais votado.
Uma das vantagens desse tipo de sistema eleitoral é que ele garante que os candidatos sejam eleitos com número de votos expressivos, o que garante maior legitimidade ao seu mandato. Outra vantagem é que os partidos extremistas tendem a ter maiores dificuldades em conseguir representação, já que dificilmente conseguem forjar alianças com partidos mais moderados. Um partido de extrema-direita, por exemplo, teria maior dificuldade em angariar apoio dos demais partidos de posição política mais branda.
No sistema majoritário com voto alternativo, o eleitor vota em mais de um candidato, construindo uma ordem de importância, de forma que caso seu candidato preferido não consiga ter votos expressivos, para que aquele voto não seja desperdiçado, ele é transferido para o segundo candidato ordenado na lista do eleitor. Esse é o sistema usado para a eleição de deputados na Austrália desde 1918.
→ Divisões do sistema proporcional
Os sistemas proporcionais baseiam-se na preocupação em relação à representatividade da sociedade dentro de um Parlamento. Seus defensores argumentam que as diferentes opiniões que tenham força expressiva no meio social devem também ser representadas no cenário político. Assim sendo, o Poder Legislativo deve ser um espelho da sociedade que encabeça.
A obra do jurista Thomas Hare, em seu livro publicado em 1859 de nome “Tratando sobre eleição de representantes parlamentar e municipal”, foi uma das principais inspirações para a construção dos sistemas proporcionais de representação. A ideia também foi fortemente defendida por Stuart Mills em sua obra “O governo representativo”, que defendia que a representação deveria alcançar também os anseios individuais dos eleitores, e não apenas os comuns ou os que são levantados por partidos.
O objetivo da fórmula proporcional é garantir que as cadeiras de um Parlamento sejam distribuídas proporcionalmente à porcentagem de votos que cada partido conseguiu angariar. Dessa forma, se um partido consegue arrecadar 30% dos votos totais, teoricamente, ele deve receber 30% dos cargos que disputa.
Para ficar mais claro, vamos imaginar que teremos uma eleição pelo sistema proporcional em que utilizaremos uma fórmula eleitoral bastante simplificada. Cada partido receberá uma quantidade de cadeiras de acordo com a porcentagem direta de votos que conquistou. Nessa eleição imaginária, temos três partidos, “A”, “B” e “C”, que disputaram 10 cadeiras de um Parlamento. Digamos ainda que o partido “A” conseguiu conquistar 50% dos votos válidos, o que proporcionalmente lhe garante cinco das dez cadeiras em disputa. Já o partido B conseguiu angariar votos suficientes para conquistar 30% dos votos e obteve três cadeiras. O partido C, por sua vez, conseguiu apenas 20% dos votos, recebendo as duas últimas cadeiras.
A partir dessa distribuição, os cargos passam a ser distribuídos de acordo com a quantidade de votos de cada candidato dentro do partido. Tendo chegado a esse resultado, vamos supor que o candidato João do partido “A” recebeu 10.000 votos; Maria, a segunda mais votada, recebeu 5000 votos; Pedro recebeu 4000 votos; Joana, 3000 votos e Marcelo, 1000 votos. Como esses foram os cinco candidatos mais votados dentro do partido, eles receberiam as cinco cadeiras destinadas ao partido “A”. A distribuição seria feita da mesma forma nos demais partidos até que todas as cadeiras fossem ocupadas.
Voto único transferível e o sistema de listas
Existem dois tipos distintos de representação proporcional: o voto único transferível e o sistema de listas. O voto único transferível assemelha-se ao voto alternativo do sistema majoritário. O eleitor vota em vários candidatos e constrói uma lista com uma ordem de importância. Nesse sistema, os distritos eleitorais são definidos a partir de uma média de eleitores, que podem eleger três, quatro ou cinco representantes. A apuração de votos é feita a partir de uma quota definida pelo cálculo de votos/cadeira+1 (quantidade de votos dividida pela quantidade de cadeiras mais um) em cada distrito. O candidato que ultrapassa a quota é considerado eleito e os votos que excedem são redistribuídos pela ordem de importância determinada pelo eleitor.
O sistema eleitoral proporcional por lista baseia-se na construção de uma lista de candidatos feita por cada partido, ou coligação, que concorre a uma eleição. Os eleitores votam na lista do partido que desejam. A partir da votação, as cadeiras são distribuídas proporcionalmente à quantidade de votos que cada lista conseguiu angariar, à quantidade total de votos e à quantidade de cargos disponíveis, sendo eleitos em ordem os nomes que foram listados a partir da quantidade de cadeiras que a lista conseguiu conquistar. Existem ainda diferenciações nas regras de construção das listas dos candidatos: a lista fechada, a lista aberta e a lista flexível.
Lista fechada, aberta e flexível
No sistema da lista fechada, os partidos definem o ordenamento dos candidatos antes das eleições. O eleitor vota na lista de candidatos que mais lhe agrada sem expressar preferência por um candidato específico da lista. O regime de lista fechada pode ser tanto proporcional – os votos recebidos são distribuídos entre os candidatos de cada partido em uma ordem determinada pelos próprios partidos – quanto distrital – o partido que tem mais votos elege seus candidatos para todos os cargos em disputa.
No caso do sistema de lista aberta, que é o que utilizamos em nosso país na definição do Parlamento, os eleitores detêm maior capacidade de definição dos candidatos. Cada partido apresenta uma lista de candidatos, sem nenhuma ordem específica, e os eleitores votam diretamente nos nomes da lista que lhes interessam. Os votos são contabilizados e usados para definir a quantidade de cargos que cada partido deverá receber, e os cargos são distribuídos de forma proporcional à quantidade de votos que cada partido recebeu.
Após a distribuição das cadeiras para os partidos, elas serão ocupadas pelos candidatos de acordo com a quantidade de votos que receberam diretamente, ou seja, a distribuição de cadeiras é feita a partir da comparação da quantidade de votos entre os candidatos do mesmo partido ou coligação. Dessa forma, os mais votados tomam posse dos cargos atribuídos aos seus partidos de maneira sucessiva até que não sobre nenhuma cadeira.
Por último, no sistema de lista flexível, o eleitor tem a possibilidade de interferir no ordenamento dos candidatos nas listas feitas pelos partidos antes das eleições. Se a lista formada ao final for de seu agrado, o eleitor pode votar na lista. Caso contrário, é possível indicar candidatos preferidos de duas formas: assinalando o nome do candidato na lista no ato do voto ou reordenando a lista segundo suas preferências.
O sistema eleitoral utilizado na Bélgica é um exemplo de lista flexível. Os eleitores podem assinalar sua preferência por um partido ou por um candidato. Os votos depositados no partido são então distribuídos progressivamente para o primeiro nome mais votado da lista. O objetivo é que os candidatos ultrapassem a quota de votos estabelecida como meta a ser alcançada para que consigam ocupar as cadeiras.
O cálculo dessa quota é feito a partir da divisão do total de votos recebidos pelo partido pelo número de cadeiras conquistadas mais 1 (q=v/c+1). Após o primeiro nome alcançar a quota, o restante dos votos é transferido para o segundo nome mais votado até que esse também alcance a quota e assim sucessivamente até que se esgotem os votos depositados no partido.
Críticas ao sistema proporcional
Um dos problemas levantados em relação à forma de representação proporcional é de que ela tende a produzir maior fragmentação parlamentar. Nos governos em que as eleições são feitas de forma proporcional, existe uma grande quantidade de partidos, o que torna difícil o surgimento de partidos com maioria absoluta.
Nesse cenário, os partidos de governo são forçadosa fazer alianças pós-eleitorais com os demais partidos para que consigam a força necessária para manter suas pautas de governo. Essas alianças podem afastar o governo eleito de suas metas originais. Nesse caso, um partido de esquerda que governa uma nação de posição majoritariamente liberal, por exemplo, por não ter apoio suficiente para aprovar as medidas que deseja, acaba por aceitar reduzir a intensidade de suas medidas para que consiga obter parte do apoio de um partido conservador para que suas políticas sejam aprovadas.
Outro grande problema apontado é que nem sempre os candidatos que recebem maior quantidade de votos são os que tomam posse. Em virtude da distribuição de cargos de acordo com a quantidade de votos angariados por uma coligação ou partido, existe a tendência de que as menores coligações recebam menor quantidade de cadeiras por conseguirem menor quantidade de votos totais. Isso quer dizer que mesmo que um candidato de um partido pequeno consiga quantidade expressiva de votos, o cargo acaba sendo ocupado por um candidato menos votado que se encontra em uma grande coligação que conseguiu grande quantidade de cadeiras na distribuição por partidos.
A discussão acerca da escolha por lista aberta ou lista fechada diz respeito à forma como as candidaturas de um dado partido para o Legislativo serão lançadas nas eleições. Esse aspecto do processo eleitoral influencia não apenas no andamento das eleições, mas em toda a dinâmica política.
Mapeamento das Unidades Territoriais
Objetivo
Representa, a partir do mapeamento topográfico, o espaço territorial brasileiro através de mapas elaborados especificamente para cada unidade territorial do país.
Produtos
Mapas do Brasil (escala geográfica - 1:2.500.000, 1:5.000.000, e 1:10.000.000); Mapas Regionais (escalas geográficas diversas); Mapas Estaduais (escalas geográficas diversas); Mapas Municipais (escalas topográficas diversas)
Interdependência
- Interna: Cartografia; Estruturas Territoriais; Geografia; Geodésia; Recursos Naturais e Estudos Ambientais; Estatísticas Populacionais, Agropecuárias, Econômicas e de Serviços.
- Externa: Ministério do Exército, Diretoria de Serviço Geográfico; órgãos estaduais e municipais de Cartografia; Institutos de Terras; SUDENE; INPE;
Uso da Informação
- Interna: base operacional para recenseamentos e pesquisas; divisões regionais do Brasil; atlas; Mapas Murais; mapeamento topográfico; mapeamento temático; avaliação da Divisão Territorial; organização e cadastramento de Estruturas Territoriais para fins específicos; planejamento e levantamento geocientífico
- Externa: Usuários: Ministério do Exército, Diretoria de Serviço Geográfico; secretarias e órgãos de Planejamento dos Estados e Municípios; secretarias e órgãos de Defesa e Segurança dos Estados e Municípios; Instituições Educacionais Públicas e Privadas; Superintendências de Desenvolvimento Regionais (SUDENE, SUDAM, etc); INPE; outros órgãos governamentais; Institutos de Pesquisas de Opinião e de Mercado; Secretarias de Saúde Pública Estaduais e Municipais; Institutos de Terras; sociedade em geral.
Aplicabilidade
Estudos e Projetos Governamentais; referenciamento e dimensionamento de obras públicas e privadas; estudos de evolução de surtos e endemias; navegação marítima e aérea; comunicações hidro-rodo-ferroviárias; autoproteção do País; defesa civil; finalidades científicas e didáticas; pesquisas de opinião e de mercado; mapeamento temático.
O Brasil República[editar | editar código-fonte]
Após a Proclamação da República Brasileira (1889), os seus governantes defrontaram-se com a questão dos seus limites territoriais que, embora definidos pela Constituição brasileira de 1891, não se encontravam delimitados. Por essa razão, a chamada República Velha vê-se envolvida numa série de questões de limites, tendo o seu máximo expoente na figura de José Maria da Silva Paranhos Júnior, barão do Rio Branco. Foram essas questões:
A Questão da Zona de Palmas (ou das Missões) (1890-1895)
A Argentina reivindicava a região Oeste dos atuais estados de Santa Catarina foi entregue a países da região sul da América, mediante ordem do Congresso Nacional em 1888,do Paraná e de Santa Catarina, pretendendo as fronteiras pelos rios Chapecó e Chopim, supostamente com base no Tratado de Madrid (1750).
Pouco antes da proclamação da República, ambos os países haviam acordado que o litígio seria solucionado por arbitramento. Nesse contexto, Quintino Bocaiúva, então Ministro das Relações Exteriores do Governo Provisório, assinou o Tratado de Montevidéu (25 de Janeiro de 1890), que dividia a região entre ambos. O Congresso Nacional Brasileiro não ratificou o Tratado (1891), e a questão foi submetida ao arbitramento do presidente estadunidense Grover Cleveland (1893-1897), cujo laudo foi inteiramente favorável ao Brasil (5 de Fevereiro de 1895), definindo-se as fronteiras pelos rio Peperiguaçu e Santo Antônio.
Nesta questão, estreou como advogado do Brasil, a partir de 1893, o barão do Rio Branco, escolhido pelo presidente marechal Floriano Peixoto (1891-1894) para substituir o barão Aguiar de Andrade, falecido no desempenho da Questão. Rio Branco apresentou ao presidente Cleveland uma exposição, acompanhada de valiosa documentação, reunida em seis volumes: A questão de limites entre o Brasil e a República Argentina (1894).
A Questão do Amapá (1894-1900)
Embora o 1º Tratado de Utrecht (1713) houvesse estabelecido os limites entre o Brasil e a Guiana Francesa pelo rio Oiapoque ou de Vicente Pinzón, esse limite havia sido contestado após a Revolução Francesa, sucessivamente pelo Diretório, pelo Consulado, e pelos impérios de Napoleão I e Napoleão III de França, sendo questionada a identidade daquele rio. A expansão colonialista europeia do final do século XIX suscitou novos conflitos na região, com o surgimento da República de Cunani e choques armados no rio Calçoene (1894).
O Tratado de 10 de Abril de 1897 escolheu para árbitro da Questão o presidente do Conselho Federal Suíço, Walter Hauser.
Os argumentos brasileiros foram expostos pelo barão do Rio Branco, encarregado em 1898 da Questão. A mesma já vinha sendo estudada informalmente pelo barão desde 1895 que, ao chegar a Berna, apresentou uma memória de sete volumes: A questão de limites entre o Brasil e a Guiana Francesa (1899-1900).
A sentença arbitral, datada de 1 de Dezembro de 1900, foi favorável ao Brasil, mantendo-se a fronteira pelo rio Oiapoque. A popularidade de Rio Branco atingiu uma dimensão nacional, e ele assumiu a Pasta das Relações Exteriores (1902-1912).
A Questão da ilha da Trindade (Janeiro de 1895 - Agosto de 1896)
A ilha da Trindade foi ocupada por forças do Almirantado britânico. Diante da reclamação diplomática brasileira, o "Foreign Office" informou que a ilha fora tida como abandonada, e que se pretendia a instalação de um cabo telegráfico submarino para Buenos Aires, na Argentina.
O Brasil recusou o arbitramento do litígio, previsto inclusive pela Constituição de 1891, considerando que não havia o que contestar sobre a soberania brasileira da ilha. Diante do impasse aceitou, entretanto, a mediação diplomática de Portugal, uma vez que este país dispunha de documentação histórica sobre o descobrimento e posse da ilha, além de fortes relações com o Executivo britânico. A Grã-Bretanha desistiu de sua pretensão (3 de Agosto de 1896), desocupando a ilha.
A Questão do Acre (1899-1903)
O povoamento da região, no contexto do Ciclo da Borracha, foi feito por seringueiros com o apoio de seringalistas do Amazonas.
O governo da Bolívia determinou a ocupação da região, levando à proclamação do Estado Independente do Acre pela população brasileira (1899), também com o apoio de seringalistas amazonenses. O processo foi liderado pelo jornalista espanhol Luis Gálvez Rodríguez de Arias, e o regime instaurado uma república, com capital em Puerto Alonso, atual Porto Acre.
A questão agravou-se em 1901 com o arrendamento da região a um consórcio estadunidense: o "BolivianSyndicate", com amplos poderes. O brasileiro José Plácido de Castro liderou uma nova reação, registrando-se choques armados que culminaram com a derrota das forças bolivianas (1902). Em função dos mesmos, tropas do Exército brasileiro concentraram-se em Corumbá.
Na iminência de um conflito armado internacional, o Chanceler brasileiro, barão do Rio Branco, iniciou negociações com a Bolívia, tendo previamente indenizado a Companhia estadunidense em 110 mil libras esterlinas pelo abandono de suas pretensões.
O Tratado de Petrópolis (17 de Novembro de 1903) encerrou a questão: mediante a retificação de pequenos trechos da linha de fronteira, o Brasil ficava com a região, mediante o pagamento de dois milhões de libras esterlinas e da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
O Tratado do Rio de Janeiro (1909) incorporava o restante da região acriana ao Brasil, mediante a permuta de terras com o Peru.
A Questão do Pirara (1904)
No século XIX acentuou-se a presença inglesa na fronteira com Roraima, a pretexto da indefinição de fronteiras, e de proteção aos missionários britânicos na catequese de populações indígenas.
Submetida ao arbitramento do rei Vítor Emanuel III da Itália, este dividiu a área pleiteada entre as partes (1904), cabendo a parte maior à Grã-Bretanha.
Atuou como advogado pelo Brasil, Joaquim Nabuco.
Os limites com a Guiana Holandesa (1906)
Os limites com a Guiana Holandesa foram fixados diretamente entre o barão do Rio Branco e o representante dos Países Baixos, Frederico Palm.
Os limites com a Colômbia (1907)
Os limites com a Colômbia foram fixados através do Tratado de Limites e Navegação Fluvial em 1907.
Os limites com o Uruguai (1908)
Por iniciativa do barão do Rio Branco, foi concedido ao Uruguai o condomínio da lagoa Mirim e do rio Jaguarão.
Os limites com o Peru (1909)
Os limites com o Peru foram fixados através do Tratado do Rio de Janeiro (1909), baseado no princípio do "uti possidetis".
Os nossos dias
Atualmente discute-se se a demarcação das terras indígenas nas fronteiras pode vir a representar um problema para a segurança nacional. Também em nossos dias, procuram-se ampliar as fronteiras marítimas, visando otimizar a exploração da Zona Econômica Exclusiva Brasileira no Oceano Atlântico, nomeadamente no tocante aos recursos da pesca e da exploração de gás e petróleo.
Política externa: as relações com a Europa e os Estados Unidos da América
Relações políticas Brasil x Europa
O Brasil e a UE compartilham uma relação de longa data baseada em fortes laços culturais e históricos. Na verdade, o Brasil foi um dos primeiros países a estabelecer relações diplomáticas com a UE. Na década de 1960, as duas partes procederam à troca de missões diplomáticas formais.
Em 2007, a UE reconheceu o Brasil como um dos seus principais parceiros mundiais através do estabelecimento formal da Parceria Estratégica UE-Brasil.
A parceria abrange várias questões, incluindo:
alterações climáticas,
energia sustentável,
combate à pobreza,
processo de integração do Mercosul, e
estabilidade e prosperidade na América Latina.
Cúpulas com sucesso
A nova parceria foi lançada na 1.ª Cúpula UE-Brasil, realizada em Lisboa em 2007.
As Cúpulas são organizadas anualmente e têm-se revelado eficazes no fortalecimento do diálogo político e da cooperação entre as duas partes.
Até a presente data, foram realizados diálogos regulares em mais de 15 domínios, nomeadamente: questões políticas e de direitos humanos, ambiente e alterações climáticas, cultura e educação, transportes marítimo e aéreo, energia e ciência e tecnologia. 
Entre os desenvolvimentos mais importantes das recentes Cúpulas incluem-se:
A adoção de um Plano de Ação Comum durante a 2.a Cimeira UE-Brasil, realizada no Rio de Janeiro em 2008. O Plano de Ação é executado através da cooperação entre as instituições governamentais sobre questões de política que servem de base à cooperação mútua.
A 3.ª Cimeira UE-Brasil, que teve lugar em Estocolmo em 2009, centrou-se nas alterações climáticas e ajudou a coordenar posições em preparação para a Cúpula Climática de Copenhaguen. 
O diálogo sobre as alterações climáticas foi retomado na 4.ª Cimeira UE-Brasil, realizada em Brasília em 2010. Neste evento foram também debatidas outras questões globais de interesse comum, como a crise econômica e financeira, o prosseguimento das negociações UE-Mercosul e a implementação do Plano de Ação UE-Brasil.
A 5.ª Cimeira UE-Brasil teve lugar em Bruxelas, em 2011. O prolongamento dos efeitos econômicos e sociais da crise financeira foi um dos assuntos debatidos.
A 6.a Cimeira UE-Brasil foi realizada em Brasília, em 2013. Os assuntos abordados contemplaram a Parceria Estratégica UE-Brasil e o Plano de Ação Comum 2012-2014, a situação das respectivas economias e as principais questões da economia mundial naquela oportunidade.
Em 2013 foram também objeto de debate o diálogo sobre a agricultura e também realizou-se uma Cúpula entre a UE e os chefes de Estado dos países da América Latina/Caribe (a Cúpula EU-LAC).
Relações econômicas
As relações econômicas entre a UE e o Brasil foram desenvolvidas através do processo das Cúpulas. Por exemplo, as questões económicas e a regulamentação financeira foram as principais prioridades da ordem de trabalhos da 2.ª Cúpula UE-Brasil.
Por sua vez, a 5.ª Cúpula centrou-se em questões como o emprego e as dimensões sociais da globalização, assim como nas oportunidades de crescimento da economia verde emergente.
Entre outras realizações, a Cúpula EU-LAC 2013 assistiu à assinatura de cartas de intenções entre a UE e o Brasil relacionadas com:
o estímulo ao turismo e o aumento do número de visitantes,
um Programa Conjunto sobre Cultura que, em parte, centralizou-se no desenvolvimento da economia criativa e das indústrias conexas,
um contrato de empréstimo de 500 milhões de euros ao setor da energia verde. 
Relações comerciais
O Brasil e a UE são parceiros comerciais importantes.
O comércio do Brasil com a UE representa 33,6 % do comércio total da UE com a região da América Latina (2014);
O Brasil detém 55 % do investimento total da UE na região (2013);
A UE é o principal parceiro comercial do Brasil, sendo responsável por 19,5 % do seu comércio total (2014);
O Brasil é o 10.º maior parceiro comercial da UE, sendo responsável por 2,0 % do comércio total da UE (2014);
O Brasil é o maior exportador de produtos agrícolas para a UE.
As importações da UE provenientes do Brasil são sobretudo de produtos primários, concretamente: bens agrícolas, combustíveis e minerais. Não obstante, os produtos industrializados também representam uma fatia significativa, e incluem: máquinas, equipamentos de transporte e outros bens de consumo.
As exportações da UE para o Brasil são essencialmente de produtos manufaturados, como máquinas, equipamentos de transporte e produtos químicos.
A UE é também o maior investidor estrangeiro no Brasil. Cerca de 50% do investimento direto estrangeiro (IDE) direcionado para o Brasil tem origem na UE.
 
Restrições às importações para o Brasil
Segundo a UE, o Brasil é o país do G-20 que possui o maior número de novas medidas comerciais potencialmente restritivas. Por isso, a UE tem procurado incentivar o Brasil a:
reduzir as barreiras pautais e não pautais,
manter regras e regulamentos estáveis para os investidores e comerciantes europeus.
Brasil e Mercosul
O Brasil é membro do Mercosul, o bloco comercial da América do Sul. A UE negocia um Acordo de Associação — incluindo uma zona de comércio livre — com este organismo regional.
O acordo deverá impulsionar a integração comercial regional entre os membros do Mercosul. Deverá também aumentar as oportunidades de comércio e investimento com a UE através da eliminação das barreiras pautais e não pautais.
Seção Comercial da Delegação da UE
A Seção Comercial monitora as políticas comerciais do Brasil. Também representa a UE em nível local nas questões relacionadas

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