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Prof. Paulo Younes
 Aula 05					
REINCIDÊNCIA, ATENUANTES e CONCURSO DE CRIMES
Reincidência (art. 63 CP)
Pressuposto: é a existência de uma sentença penal condenatória transitada em julgado. Se o novo crime foi cometido no dia do trânsito em julgado da sentença ainda não há reincidência.
Contravenção penal: gera reincidência em dois caos: 
(1) se após o trânsito em julgado de uma condenação por crime, o agente vier a cometer uma contravenção, no Brasil;
(2) se após o trânsito em julgado de uma nova condenação por contravenção, no Brasil, o agente vier a cometer uma nova contravenção.
OBS: e se o agente, após o trânsito em julgado de uma condenação, no Brasil, por contravenção, vier a cometer, aqui ou no estrangeiro, novo crime? Não caracterizará reincidência, por falta de previsão expressa nos arts. 63 do CP e 7º da LCP.
E no caso de multa ou sursis? Há reincidência, pois a lei não faz distinção ao tipo de sanção aplicada.
E o perdão judicial (art. 120 do CP)? Não há reincidência pois a sentença que concede o perdão judicial é meramente declaratória.
E a medida de segurança aos inimputáveis (art. 26 caput)? Não há reincidência, pois é uma sentença absolutória, segundo entendimento majoritário.
Efeitos.
Produz o maior número de efeitos desfavoráveis ao réu, por exemplo: como agravante genérica da pena (art. 61, I); impede a obtenção do furto privilegiado, da apropriação indébita privilegiada, do estelionato privilegiado (arts. 155, p. 2º; 170 e 171, p. 1º); impede a transação e a suspensão condicional do processo (art. 76, p. 2º, I e 89 da lei 9.099/95), etc.
Espécies.
Reincidência real: ocorre quando o agente comete novo crime depois de ter cumprido total ou parcialmente a pena do crime anterior.
Reincidência ficta ou presumida: basta a prática do novo crime depois do trânsito em julgado. Não se exige que o réu tenha cumprido a pena anterior. Esta é a adotada pelo nosso código.
Reincidência específica: os crimes são de mesma natureza.
Reincidência genérica: crimes de natureza distinta. O nosso código não distingue entre as duas espécies.
Crimes militares e políticos.
Militares próprios: previstos exclusivamente no CPMilitar, p. ex., dormir em serviço. Os impróprios estão previstos simultaneamente no CPMilitar e na legislação penal comum, p. ex., furto estupro, lesão corporal.
Crimes políticos: atentam contra a segurança ou organização do Estado e podem ainda lesar bem jurídico tutelado pela legislação penal ordinária, previstos na lei 7.170/83.
Duração da condenação anterior: Art. 64, I do CP.
Sursis e livramento condicional? O prazo de 5 anos é contado do início do período de prova e não da extinção da pena.
A sentença, ainda assim, continua a valer como maus antecedentes (art. 59).
Primário e reincidente.
Reincidente é o que comete novo crime depois do trânsito em julgado de uma condenação anterior, por crime cometido no Brasil ou no estrangeiro.
Primário é o que nunca cometeu crime algum (ou o agente que não cometeu nenhum crime depois do trânsito em julgado de condenação anterior).
Tecnicamente Primário: é o criminoso que não é reincidente, mas registra condenação definitiva. É o primário de maus antecedentes.
Circunstâncias atenuantes (arts. 65/66 CP).
Regras: incidem na segunda fase de aplicação da pena; o quantum não é indicado pela lei, reservando-se à discricionariedade do juiz; sua incidência é obrigatória, salvo quando a pena-base é fixada no mínimo legal ou quando já funcionarem como causa de diminuição de pena.
Art. 65: o rol é meramente exemplificativo pois o art. 66 admite a existência de outras atenuantes não previstas em lei (ex.: o acusado de homicídio, durante o processo, arrisca a própria vida, salvando uma criança que se afoga no rio).
Art. 65, I – menor de 21 e maior de 70 anos: menor entre 18 e 21 anos na data do fato (e o civilmente emancipado? Não pode figurar como réu na esfera criminal); e a velhice dos setenta anos na data da sentença.
Art. 65, II – desconhecimento da lei: não exclui o crime, mas funciona como atenuante, ainda que inescusável. No erro de proibição, se escusável, exclui a culpabilidade; se inescusável, o juiz pode diminuir a pena de um sexto a um terço (art. 21).
“Por si só, a ignorância da lei não exime o agente da pena. Mas, se além de ignorar o texto legal, o agente não tiver possibilidade de conhecer a ilicitude do fato, não estaremos mais no restrito campo da ignorância da lei, mas do erro de proibição, excluindo-se, por conseqüência, a culpabilidade.”
Art. 65, III:
a – motivo de relevante valor moral ou social: toma-se por base o critério do homo medius, e não os valores subjetivos do agente.
b – arrependimento ou reparação do dano: no arrependimento eficaz do art. 15, o agente impede a consumação do crime, nesta atenuante o agente não evita a consumação, e, sim, outras conseqüências que o delito poderia vir a acarretar, subsistindo a sua responsabilidade penal;
Reparação do dano: nesta atenuante, a reparação ocorre antes da sentença, porém após o recebimento da denúncia ou queixa. Na causa de diminuição de pena do art. 16, a reparação do dano ocorre antes do recebimento da denúncia ou queixa.
c – coação resistível, obediência hierárquica e violenta emoção: na análise da resistibilidade da coação, analisa-se o perfil subjetivo do agente.
d – confissão espontânea: deve ser feita ao juiz ou delegado de polícia; pode ser feita até antes do trânsito em julgado da condenação.
e – multidão em tumulto: a quantidade de participantes fica ao arbítrio prudente do juiz; a agitação deve ser repentina, súbita, sem premeditação; a razão desta atenuante é a menor intensidade do dolo; o provocador da multidão não se beneficia da atenuante.
Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes (art. 67).
Regras: 
a) duas agravantes: a pena será agravada duas vezes, idem às atenuantes;
b) uma agravante e uma atenuante: prevalecem as de cunho subjetivo, que são as preponderantes. Circunstâncias preponderantes são as referentes:
I- aos motivos do crime (ex: torpe, fútil, relevante valor moral ou social); 
II- à personalidade do agente (ex: menoridade e velhice);	
III- à reincidência.
No concurso entre circunstâncias agravantes e atenuantes preponderantes, uma exclui a outra (ex. reincidência e relevante valor moral). Esse entendimento não é pacífico; existe uma corrente no sentido de que as atenuantes preponderantes, prevalecem sobre as agravantes preponderantes (ex. reincidência e menoridade, prevalece a atenuante da menoridade).
Obs: a menoridade é preponderante por excelência, devendo, portanto, superar o aumento das outras agravantes preponderantes.
“Na fase de aplicação da pena, o juiz não pode utilizar raciocínio aritmético, por exemplo, assim: há duas atenuantes, e duas agravantes, que se anulam, pelo que mantenho a pena-base. Em qualquer das hipóteses de concurso de agravantes e atenuantes, haverá prevalência das circunstâncias subjetivas” (Ney M. Teles).
Causas de aumento e de diminuição (art. 68).
Estão definidas tanto na parte geral quanto na parte especial do CP: exs.: causas de aumento: arts. 121, p. 4º; 155, p. 1º; 157, p. 2º; 29, p. 2º; 60, p. 1º; causas de diminuição: arts. 121, p. 1º; 129, p. 4º; 171, p. 1º; 155, p. 2º; 14, p. único; 16; 24, p. 2º.
Concurso de causas de aumento e diminuição:
Regras:	
Parte Geral:
1) duas ou mais causas de aumento: todas terão incidência;
2) duas ou mais causas de diminuição: todas terão incidência.
Parte Especial:
1) duas ou mais causas de aumento: aplica-se a causa que mais aumenta. As outras incidem como agravantes ou na fixação da pena-base;
2) duas ou mais causas de diminuição: aplica-se a causa que mais diminua. As outras incidem como atenuantes ou na fixação da pena-base.
Obs: uma de aumento e uma de diminuição: primeiro diminui e depois aumenta (sendo que aumenta-se dapena encontrada na segunda fase, e não, da operação imediatamente anterior).
Obs: uma causa de diminuição da parte geral e outra da parte especial: ambas têm incidência. (ex. tentativa de rapto para fim de casamento: incidem as causas de diminuição dos arts 14, II e 221, 1ª parte CP.	
Obs: uma causa de aumento da parte geral e outra da especial: ambas têm incidência (ex. furto noturno continuado, incidem as causa de aumento dos arts. 155, p. 1º e 71, ambos do CP.
Caso concreto: João, de 19 anos, tendo capacidade diminuída, realiza tentativa de homicídio privilegiado, contra Marco, de 13 anos de idade. 
Análise: Na hipótese, haveria três causas de diminuição e uma de aumento:
a) duas da parte geral (tentativa e capacidade diminuída: arts. 14, II, p. único e 26, p. único);
b) uma da parte especial (privilégio: 121, p. 1º);
c) uma causa de aumento da parte especial (contra menor de 14 anos: art. 121, p. 4º).
Fixação da pena
1ª Fase:	 Pena–base: 6 anos e 6 meses.
2ª Fase: Atenuante da menoridade (art. 65, I): 6 anos menos 6 meses: 6 anos de reclusão. 
3ª Fase: 
1) tentativa: 6 anos menos 2/3: 2 anos de reclusão;
2) capacidade diminuída: 2 anos menos 2/3: 8 meses de reclusão;
3) privilégio do 121, p. 1º: 8 meses menos ¼: 6 meses
4) contra menor de 14 anos: 1/3 de 6 anos: 2 anos. 
Pena final: 2 anos e 6 meses de reclusão.
Caso concreto: João, reincidente, com péssima conduta social, imputável, por meio de asfixia, sob o domínio de violenta emoção, logo após a injusta provocação da vítima, realiza tentativa de homicídio, contra sua sogra, de 65 anos de idade.
Análise: Na hipótese, observamos:
a) circunstância judicial desfavorável (art. 59): ¼;
b) 1 qualificadora (art. 121, p. 2.º, III): pena mínima;
c) 1 agravante genérica (art. 61, I); 1/6;
d) 2 causas de diminuição de pena (art. 14, II, p. único e art. 121, p. 1.º): tentativa ½ e privilégio ¼.
e) 1 causa de aumento de pena (art. 121, p. 4.º): 1/3.
Fixação da pena.
1.ª Fase: Pena-base (art. 59): 12 + 3 = 15 anos.
2.ª Fase: 2 agravantes: 15 + 1/3 = 20 anos.
3.ª Fase: 
1) tentativa: 20 – 1/2 = 10 anos;
2) privilégio do art. 121, p. 1.º: 10 – 1/4 = 7 anos e meio;
3) senilidade da vítima: art. 121, p. 4.º: 7 anos e meio + 1/3 de 20 anos: 14 anos dois meses e seis dias (pena final).
CONCURSO DE CRIMES
Acontece o concurso de crimes quando o agente, mediante uma ou várias condutas, pratica duas ou mais infrações penais. 
Apresenta-se sob três formas (espécies): concurso material (art. 69); formal (art. 70) e crime continuado (art. 71).
Concurso Material (69 CP).
O agente, mediante mais de uma conduta, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não. Dois requisitos: pluralidade de condutas e pluralidade de crimes.
Homogêneo: quando os crimes são idênticos (ex. dois homicídios); Heterogêneo: quando o agente viola diferentes normas penais (ex. homicídio e estupro).
O magistrado deve fixar, separadamente, a pena de cada um dos delitos. E, depois, na própria sentença, somá-las.
Obs: Concurso Material e Reincidência: “Não se confunde concurso real com reincidência. Nesta há também diversos crimes praticados pelo mesmo sujeito, mas, desses, um ou mais já foram objeto de sentença condenatória definitiva, e o que vier a ocorrer depois disto não se pode juntar aos anteriores em uma seqüência de crimes concorrentes. A repetição criminosa depois da condenação constitui a circunstância agravante da reincidência” (Aníbal Bruno). 
Exemplo: João mata José, depois comete lesões corporais em Maria, e, por último, realiza o crime de calúnia contra Marta.
Três condutas e três fatos: três os crimes: um homicídio, uma lesão corporal e uma calúnia. São crimes diferentes ainda que realizados em momentos próximos.
Aplicação das penas: Regras:
1) Se privativas de liberdade: aplicam-se cumulativamente. No exemplo, deve o juiz individualizar a pena para cada um dos delitos e, só após proceder a soma das penas.
Ex: Homicídio – pena: 6 anos de reclusão.
Lesões corporais – pena: 1 ano de detenção.
Calúnia – pena: 6 meses de detenção.
Total da pena a ser cumprida: 6 anos de reclusão e 1 ano e 6 meses de detenção.
2) Se possível a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos: somente é possível a substituição de uma das penas privativas de liberdade aplicadas, se a pena aplicada para o crime concorrente tiver sido suspensa, pela concessão do sursis. É a regra do parág. 1º do art. 69 CP.
Ex: Homicídio – pena: 2 anos de reclusão: concessão do sursis, suspendendo-se a pena por 4 anos.
Lesões corporais – pena: 1 ano de detenção: substituição por uma pena restritiva de direitos.
Calúnia – pena: 6 meses de detenção: substituição por pena de multa.
3) Se possível a substituição das várias penas privativas de liberdade cabíveis por penas restritivas de direitos: se compatíveis, pode o condenado cumpri-las simultaneamente; se incompatíveis, o cumprimento será sucessivo.
Ex: Homicídio culposo – pena: 3 anos de reclusão: substituição por uma pena restritiva de direitos: prestação de serviços à comunidade.
Lesões corporais – pena: 1 ano de detenção: substituição por uma restritiva de direitos: suspensão da habilitação para dirigir veículo automotor.
Calúnia – pena: 6 meses de detenção: substituição por uma pena restritiva de direitos: prestação pecuniária.
Concurso Formal (art. 70 CP).
O agente, mediante uma só conduta, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não. Ex. João provoca a explosão de uma bomba dentro de uma sala de aula, causando a morte de 25 estudantes. Dois requisitos: unidade de conduta e pluralidade de crimes.
O CP adota a teoria objetiva. Já, a teoria subjetiva, exige ainda um terceiro requisito, qual seja, a unidade de desígnio (unidade de intenção). Essa teoria não se sustenta, pois “inviabiliza o concurso formal entre crimes culposos, uma vez que na culpa não há desígnio ou propósito”(Flávio M. Barros).
Toda conduta é composta de um ou vários atos. O ato é apenas um momento da conduta. No concurso formal exige-se a unidade de conduta que só se configura quando os diversos atos são realizados no mesmo contexto temporal e espacial, ex.: desfecha três tiros na vítima; o agente que rouba diversas pessoas, dentro de um ônibus, realiza uma só conduta, com vários atos.
Concurso formal perfeito: se heterogêneo, aplica-se a pena mais grave; se homogêneo, uma delas, aumentada, em ambos os casos, de 1/6 até ½. Exs.: Mauro, atropela e mata, culposamente, João e José: concurso formal perfeito homogêneo de dois homicídios culposos. Aplica-se a pena de um deles , aumentada de 1/6 até ½; José atropela um casal, matando o homem e produzindo lesões corporais na mulher, culposamente. Aplica-se a pena do homicídio culposos, aumentada da 1/6 até ½.
Obs: a pena aplicada pela regra do art. 70 não pode exceder a pena que seria cabível pela regra do art. 69 do CP. Usando o exemplo anterior: homicídio e lesões corporais culposas: 
Homicídio – pena: 3 anos de detenção + ½ = 4 anos e 6 meses; 
Aplicando-se a regra do art. 69, no seu grau máximo de pena: 4 anos. Nesse caso, aplica-se a regra do concurso material, somando-se as penas dos dois crimes.
Concurso formal imperfeito: “...quando, mediante uma só conduta dolosa, o agente pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, resultantes de desígnios autônomos.” Aplicam-se as penas cumulativamente.
Desígnio: vontade, desejo, fim. Crimes desejados pelo agente que, realizou uma só e única conduta. 
Autonomia de desígnios: ex. o agente, ao instalar a bomba, tinha a vontade de matar as duas pessoas que trabalhavam naquele local. É a intenção de produzir, com uma só conduta, mais de um resultado lesivo.
Diferentemente é a conduta do que instala a bomba e a dispara no mesmo lugar, sem saber se, além da vítima que desejava matar, estaria também ali outra pessoa. Neste caso seriam dois crimes resultantesde um só desígnio, concurso formal perfeito. 
Diferenças: 
Concurso formal perfeito 			Concurso formal imperfeito
conduta dolosa ou culposa 					conduta dolosa
 unicidade de desígnios 					desígnios autônomos
Jurisprudência: 
CONCURSO FORMAL - Roubo e seqüestro - Agente que transporta a vítima contra a sua vontade a outro local. 
Ementa da Redação: Réu que, além de praticar roubo, obriga a vítima a transportá-lo até outra cidade, privando-a de sua liberdade mediante ameaça com arma de fogo. Hipótese em que não há falar em exaurimento do delito de roubo e, sim, no acréscimo de outro delito que se consuma no momento em que há restrição da liberdade de locomoção. 
É inadmissível que, na época atual, em que os assaltos se sucedem com preocupante freqüência, o plus consistente no aprisionamento da ou das vítimas seja considerado post factum impunível.
... Portanto, para o delito de roubo, a pena-base deve ser fixada em quatro anos, adicionando-se a ela um terço, em virtude das qualificadoras, mais um sexto, em decorrência do concurso formal, totalizando-se uma reprimenda de 6 anos, 2 meses e 20 dias. A pena pecuniária, por seu turno, permanece no mínimo, ou seja, 10 dias-multa, com o acréscimo devido (um terço mais um sexto), o que resulta em 15 dias-multa. 
No tocante ao seqüestro, a mesma regra se impõe, reduzindo-se a reprimenda corporal a um ano, acrescida de um sexto, em razão do concurso formal, resultando em 1 ano e 2 meses de reclusão; a pena pecuniária mantém-se, pelos mesmos motivos, em 11 dias-multa. 
Destarte, a pena reclusiva totaliza 7 anos, 4 meses e 20 dias, enquanto que a pecuniária mantém-se em 26 dias-multa, no valor unitário mínimo legal.
CONCURSO MATERIAL - Roubo qualificado e corrupção de menores - Descaracterização - Prática de uma ação ensejando dois crimes, caracterizando-se, assim, concurso formal. 
Ementa da Redação: Não há que se falar em concurso material, e sim formal, quando o agente de prática delituosa chamar menor para assaltar posto de gasolina com ele, tendo em mente somente o produto do roubo e não a corrupção daquele que, com ele, participou do crime. Existem, em suma, dois crimes, roubo e corrupção de menor, por meio de uma só ação delituosa.
CONCURSO FORMAL - Caracterização - Latrocínio e roubo qualificado - Ação única onde se cometeu mais de um delito - Inteligência do art. 70 do CP. 
Ementa da Redação: Tratando-se de latrocínio e roubo qualificado executados contra diversas vítimas evidencia-se o concurso formal, uma vez que, com uma única ação, mais de um delito foi cometido, conforme previsão do art. 70 do CP. 
Ap 201.834-3/2 - 1.a Câm. - j. 07.04.1997 - rel. Des. Jarbas Mazzoni.
CONCURSO FORMAL - Caracterização - Roubo - Prática do delito contra várias vítimas mediante uma só ação - Inteligência do art. 70 do CP. 
Ementa da Redação: Se os agentes, com um único propósito e mediante uma só ação, praticam dois crimes de roubo contra vítimas diversas, configurados estão dois delitos homogêneos, devendo-se, assim, reconhecer o concurso formal previsto no art. 70 do CP. 
REsp 54.760/DF - 6.a T. - j. 27.08.1996 - rel. desig. Min. Adhemar Maciel - DJU 07.04.1997.
CONCURSO FORMAL - Falsidade documental e estelionato - Pretensão da absorção do primeiro pelo segundo - inadmissibilidade - Crimes de naturezas diversas. 
Ementa Oficial: Quando duas figuras delituosas são de naturezas diversas, uma atingindo o interesse público e outra o interesse particular como o falso e o estelionato e, sendo o primeiro mais severamente apenado que o segundo, inadmissível aplicar-se a teoria da absorção, impondo-se, no caso, o reconhecimento do cúmulo formal na aplicação da pena. 
Ap 1.224/96 - 4.a Câm. - j. 19.11.1996 - rel. Juiz subst. de Des. Antônio Izaias da Costa Abreu - DORJ 08.05.1997.
Crime Continuado (art. 71 CP).
O agente, mediante mais de uma conduta, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro (art. 71, caput, CP).
É uma exceção à regra do concurso material.
Natureza jurídica: 3 teorias: ficção jurídica; unidade real e unidade jurídica.
No Brasil prevalece a teoria da ficção jurídica: vislumbra-se no crime continuado uma pluralidade de crimes, considerando a unidade apenas para efeito de aplicação da pena. As outras teorias pregam a existência de um só delito.
“Se, por exemplo, o agente é absolvido dos diversos furtos que lhe são imputados em continuidade delitiva no mesmo processo, descobrindo-se, após o trânsito em julgado, outros furtos integrantes da seqüência delituosa, novo processo pode ser instaurado. Sobre esses novos fatos não se opera a coisa julgada, porque não foram objeto de decisão, ao passo que, se a unidade fosse real, a coisa julgada os atingiria.”(Flávio A. M. de Barros).
Pressupostos:
a) pluralidade de condutas: não apenas uma pluralidade de atos;
b) pluralidade de crimes da mesma espécie: duas correntes: 1ª) são os previstos no mesmo tipo legal, seja em sua forma simples, privilegiada, qualificada, consumada ou tentada; 2ª) são os que, além de ofenderem o mesmo bem jurídico, apresentam, ainda, em sua substância, caracteres comuns (mais aceita).
c) conexão temporal: jurisprudência dominante entende que não pode ocorrer mais do que trinta dias entre um crime e outro; conexão espacial: os delitos devem ser cometidos na mesma cidade ou em cidades vizinhas; conexão modal: o modus operandi do agente deve ser semelhante. Ex. o furto fraudulento não guarda nexo de continuidade com o furto mediante arrombamento; conexão ocasional: ex. o ladrão, após efetuar o primeiro furto, percebe que os moradores da casa ao lado estão viajando e resolve furtá-la também. O agente aproveita-se da mesma ocasião ou da mesma situação propícia nascida com o crime anterior.
Espécies: simples: as penas são idênticas: aplica-se a pena de um só, aumentando-a de um sexto a dois terços (ex. 3 furtos simples); qualificado: penas diversas: aplica-se a pena do crime mais grave, aumentando-a de um sexto a dois terços (ex. 2 furtos simples e 1 qualificado); específico: crimes dolosos contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa: aplica-se a pena de um só dos crimes , se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentando-a até o triplo.
Regras: 1) a pena não pode exceder a que seria cabível pela regra do concurso material; 2) ocorrendo um crime formal inserido no crime continuado, aplica-se apenas o aumento decorrente da continuidade delitiva (ex. um sujeito assalta 3 ônibus, na mesma noite, roubando, em cada um, 10 passageiros).
Súmula 723 STF: “Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano”.
Questão exemplificativa: Haverá nexo entre três homicídios praticados pelo mesmo agente, contra três padres, nas três últimas sextas-feiras santas, apesar de entre cada um mediar aproximadamente um ano, e entre o primeiro e o último ter decorrido cerca de dois anos? 
Jurisprudência:
CRIME CONTINUADO - Descaracterização - Variação na maneira de execução dos delitos - Crimes praticados entre período superior a um mês - Inaplicabilidade da regra do art. 71 do CP. 
Ementa Oficial: Não há crime continuado se o agente for variando a maneira de execução dos delitos praticados e entre dois deles ocorre período superior a um mês (CP, art. 71, caput). A simples prática reiterada de infrações demonstra que se trata de delinqüente habitual, fazendo do crime uma profissão e demonstrando um desajuste social incorrigível. 
Ag em execução 1.059.815/7 - 6.a Câm. - j. 18.06.1997 - rel. Juiz Penteado Navarro.
CRIME CONTINUADO - Peculato e estelionato qualificado - Caracterização - Crimes da mesma espécie - Benefício que se estende aos delitos praticadossucessivamente durante três meses, nas mesmas condições de tempo, lugar e forma de execução, ainda que omitidos na denúncia - Inteligência do art. 71 do CP. 
Ementa da Redação: Para o fim de aplicação das regras do crime continuado, previsto no art. 71 do CP, devem ser considerados da mesma espécie o crime de peculato e o estelionato qualificado, benefício que se estende, também, aos delitos omissos na denúncia, praticados através de ações sucessivas, durante três meses seguidos, nas mesmas condições de tempo, lugar e forma de execução. 
HC 97.02.24632-6/RJ - 2.a T. - j. 18.11.1997 - rel. Des. Federal Ney Magno Valadares - DJU 09.12.1997.
SONEGAÇÃO FISCAL - Concurso material - Inocorrência - Agente que incide em mais de uma conduta das previstas no art. 1.º da Lei 8.137/90 - Hipótese de crime continuado se as práticas delitivas se prolongam em período de tempo determinado. 
Ementa da Redação: O agente que incide em mais de uma conduta das previstas no art. 1.º da Lei 8.137/90 não está sujeito às regras do concurso material, mas sim da continuidade delitiva, principalmente se os atos de sonegação se prolongam em período de tempo determinado. 
Ap 207.893-3/4-00 - 1.ª Câm. Extraordinária - j. 22.04.1998 - rel. Des. Cardoso Perpétuo.
Multas no concurso de crimes (art. 72 CP).
As penas de multa são aplicadas distinta e integralmente. Ex: o agente comete seis furtos simples em concurso formal, o juiz, após aplicar a pena de reclusão de um só dos delitos, aumentando-a pela 1/2, passa a aplicar a pena de multa, que no furto é cominada cumulativamente. Fixa, para cada delito, 10 dias-multa, totalizando 60 dias-multa. 
Crime continuado: controvérsia. Corrente majoritária compartilha o entendimento de que a aplicação cumulativa da pena de multa estende-se a todas as modalidades de concurso de crimes.
Limite das penas (art.75 CP).
O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 anos.
Art. 10 da LCP: a duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a 5 anos.
Admite-se a condenação superior a trinta anos de prisão. O juízo da execução unifica as penas no limite máximo de trinta anos. 
Exceção: 
Art. 75, p. 2º CP: soma-se o restante da pena com a nova condenação, respeitando-se o limite máximo de 30 anos. “Quando da nova condenação, repita-se por fato posterior ao início da execução penal – e não por fato posterior ao da primeira condenação -, será feita nova unificação, desprezando-se o tempo de pena já cumprido.” (Ney Moura Teles. 
Ex: Jorge está, há oito anos, cumprindo uma pena, já unificada, de 30 anos de reclusão, quando comete outro fato típico. Sobrevindo, após um ano, nova condenação a 16 anos de reclusão, será feita nova unificação, desprezando-se o tempo de pena cumprido. Restarão 21 anos da primeira pena, que serão somados com os 16 da nova pena, chegando-se a 37 anos, os quais serão novamente unificados em 30 anos.
Outro caso: 300 anos de prisão, unificando-se em 30 anos. Após cumprir 20 anos comete um novo delito, sendo condenado a seis meses de reclusão. Nova unificação será feita entre o restante da pena unificada, 10 anos e a nova condenação de seis meses.
E o condenado a 30 anos de reclusão que, nos primeiros dias de seu ingresso no presídio, vier a cometer um homicídio, permanecerá praticamente impune desse novo delito?
Livramento condicional e progressão de regimes? Questão controvertida. Dois entendimentos: 
Damásio de Jesus e Heleno Fragoso: a unificação refere-se exclusivamente ao cumprimento de pena, pois estariam em condições de igualdade, o condenado a 30 anos e o condenado a 300 anos , o que seria um absurdo.
Mirabete e Alberto Silva Franco: entendem que a pena a ser considerada como base de cálculo é a unificada. “O cumprimento de qualquer pena privativa de liberdade só faz sentido se existir, na mente do condenado, a perspectiva de obtenção de liberdade.”	
Súmula 715 STF: “A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução”.
Concurso de infrações (art. 76 CP).
Executa-se primeiro a pena mais grave. Reclusão, detenção e prisão simples.
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