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Análise As Duas Faces de um Crime

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Psicologia Aplicada ao Direito
O filme “As Duas Faces de um Crime”, de 1996 foi produzido por Gregory Hoblit e aborda em meio a um julgamento de homicídio a questão da saúde mental. 
Toda a trama está voltada para o assassinato do arcebispo Rushman e o réu Aaron Stample, encontrado em fuga da cena do crime coberto de sangue cujo material genético era compatível com o do clérigo, mas que afirma não lembrar-se do ocorrido. 
Aaron Stample, interpretado por Edward Norton, mostra-se um jovem extremamente inseguro e vulnerável. Gago, foi maltratado em todas as esferas nas quais tentou inserir-se. Apesar de não explicitar os maus tratos sofridos durante a vivência com seu pai, Aaron demonstra medo ao referir-se a ele e dizendo que esse não seria um homem bom. Ao mudar-se para Chicago, viveu nas ruas até ser encontrado pelo arcebispo, lugar em que possivelmente sofreu com o frio, a fome, a sede e a marginalização, dentre tantos outros perigos aos quais moradores de rua estão sujeitos. Ao ser acolhido na Casa do Salvador, o jovem tornou-se coroinha, mas não cessaram os maus tratos. Durante a sua estadia na instituição, foi compelido pelo arcebispo a gravar vídeos caseiros em que tinha relações sexuais com sua suposta namorada Linda Forbes e outro coroinha, Alex, sob a ameaça de ter que sair da Casa do Salvador por já ter completado 18 anos.
No decorrer do filme, podem-se identificar diversos traços contemplados no capítulo 3 do livro Psicologia Jurídicos, de José Osmir Fiorelli e Rosana Cathya Ragazzoni Mangini acerca de transtornos mentais. Levando em conta principalmente os transtornos de personalidade, conceitua-se que essa é “uma condição estável e duradoura dos comportamentos da pessoa, embora não permanente.” Como citado no texto. É notório que não existem personalidades normais ou anormais, sendo que esta não é absoluta, mas apenas o fruto de diferentes percepções e vivencias. No entanto, existem diversas características que a influenciam, dentre elas a instabilidade emocional, definida pela incapacidade de lidar com frustrações. 
A constante situação de estresse prolongado e os eventos traumáticos que Aaron foi submetido o afetaram de múltiplas maneiras, transformando-o em uma “bomba-relógio” prestes a explodir. Era visivelmente instável emocionalmente, pois além da gagueira, era possível observar a amnésia dissociativa , a fuga dissociativa e o histrionismo, geralmente observado em mulheres, causando choros e descontrole em situações de estresse. Além do excesso de imaginação, uma vez que Aaron afirma que havia visto a sombra de uma terceira pessoa debruçada sobre o corpo do arcebispo, algo claramente contestável quando o próprio réu confirma que apagou no momento do crime e não se lembrava de nada. 
Aaron demonstra-se dependente, não consegue tomar grandes decisões por conta própria, por isso recorreria a Roy, outra personalidade fruto de um possível transtorno de personalidade múltipla. Nesses casos, cada um dos espectros teria memórias, comportamentos, preferências e uma personalidade própria, sob a qual o outro espectro não teria acesso. Roy e Aaron são duas pessoas dentro de um corpo. Enquanto esse é suscetível a explosões violentas e agressivas, o outro é reprimido emocionalmente e extremamente ansioso.
Roy poderia se enquadrar como portador de transtorno da Personalidade Anti-Social, ou seja, seria psicopata, sociopata ou alguma outra psicopatologia do gênero, sem que esta seja enquadrada na categoria de doença mental. É considerada apenas como um desvio de caráter, um transtorno de conduta em que há falhas na formação do superego. Dentre as suas principais características é possível identificar a superestima, a manipulação, mentira patológica, indiferença, falta de empatia, descontroles comportamentais, e outras. 
Outro importante personagem do filme é o advogado de defesa Martin Vail, interpretado por Richard Gere. Nele é possível observar traços de um desequilíbrio entre o id, ego e superego, em que os dois primeiros acabam por ter mais peso sobre o individuo que o último. O advogado se importa excessivamente com a sua carreira, o dinheiro, os carros, entrevistas, com os “15 segundos de fama”, mostrando que é movido por prazeres e vontades imediatos e superficiais, mas consegue regular os impulsos, inserindo-os na realidade. No entanto, é perceptível que o personagem é desprovido de valores morais, como ao alterar a cena do crime quando pega a fita de videocassete ou quando a entrega anonimamente para a advogada de acusação, para que esta fosse obrigada a mostrar ao júri, mesmo que pudesse vir a prejudicá-la. Vail é vaidoso e narcisista, um provável traço de instabilidade emocional.
A advogada de acusação Janet Venable, interpretada por Laura Linney, também possui detalhes que possam demonstrar estresse, como as muitas cenas em que aparece fumando um cigarro, mesmo contra as normas estabelecidas nos locais, como no bar em que ocorreu o jantar da Ordem dos Advogados e o gabinete da juíza responsável pelo julgamento. Apesar de ser uma mulher bem sucedida e autossuficiente, sofre com o transtorno de personalidade de evitação, em que mesmo desejando o relacionamento afetivo, se isola, é possível observar que ela se retrai ao ser tocada por Vail, mesmo que evidentemente deseje. Possuí também, o medo de rejeição novamente pelo advogado e de desaprovação de Shaughnessy, seu chefe. 
O último personagem de exímia importância seria o próprio arcebispo Rushman, interpretado por Stanley Anderson, era emocionalmente instável e portador de parafilias, ou seja, transtornos de preferência sexual. Era sexualmente perverso, pois para satisfazer seus anseios sexuais mais íntimos, fazia uso da coerção em coroinhas para que estes tivessem relações sexuais, muitas vezes a três, para que pudesse assistir e se excitar. Aos olhos da sociedade, era um homem bom e um exemplo a ser seguido, no entanto, no particular, além de estar envolvido com empresários gananciosos em construções de até 60 milhões de dólares, realizava suas fantasias sexuais sob a ameaça de expulsar os coroinhas da Casa do Salvador. 
O filme demonstra os desafios da profissão de advogado, em que sempre é possível acabar por deixar livre um assassino de sangue frio, como foi o caso do advogado Martin Vail, que descobre, na ultima cena, que seu cliente Aaron Stample esteve mentindo todo o tempo sobre a dupla personalidade, usando esta apenas como um modo de ser julgado como inimputável, livrando-se assim, da pena de morte que seria sujeito caso condenado. 
É possível perceber também, que todos os principais personagens são portadores de algum transtorno de personalidade, em maior ou menor grau de seriedade. Quebra o estereótipo de que apenas pessoas traumatizadas ou com algum desvio de conduta teriam que lidar com isso, mostrando que estão presentes em diversos tipos de pessoas os mais diversos tipos de transtornos.

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