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direitos humanos 2016 2

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GRADUAÇÃO
 2016.2
DIREITOS HUMANOS
AUTORES: MICHAEL FREITAS MOHALLEM, AMANDA PERES, BRUNA BRILHANTE, 
VINICIUS REIS, LARISSA CAMPOS E LUÍZA BRUXELLAS
COLABORADOR: WALDO RAMALHO
Sumário
Direitos Humanos
APRESENTAÇÃO DO CURSO DE DIREITOS HUMANOS ..................................................................................................... 3
AULA 01: INTRODUÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS ........................................................................................................ 6
AULA 02: DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DOS DIREITOS HUMANOS. ............................................................................. 16
AULA 03: UNIVERSALISMO E RELATIVISMO CULTURAL DOS DIREITOS HUMANOS .............................................................. 28
AULA 04: A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS .................................................................. 38
AULA 05: SISTEMA GLOBAL — MECANISMOS CONVENCIONAIS E EXTRACONVENCIONAIS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS. ......47
AULA 06: SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 
— INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS EUROPEU, AFRICANO E AMERICANO. ............................................................................ 57
AULA 07: SISTEMA INTERAMERICANO — A COMISSÃO E A CORTE INTERAMERICANAS DE DIREITOS HUMANOS. ....................... 63
AULAS 08 E 09: FUNDAMENTOS DOS DIREITOS ECONÔMICOS SOCIAIS E CULTURAIS 
— POBREZA EXTREMA E DIREITOS HUMANOS ......................................................................................................... 78
AULA 10: DIREITO À VIDA .................................................................................................................................... 97
AULA 11: LIBERDADE DE RELIGIÃO E DIREITO AO ESTADO LAICO ................................................................................. 106
AULA 12: DIREITOS HUMANOS E VIOLÊNCIA URBANA — HOMICÍDIO, TRÁFICO E SUPERENCARCERAMENTO .......................... 116
AULA 13: DIREITO HUMANITÁRIO ........................................................................................................................ 124
AULA 14: REFUGIADOS ..................................................................................................................................... 133
AULA 15: TRABALHO ESCRAVO ........................................................................................................................... 142
AULA 16: DISCRIMINAÇÃO E VIOLÊNCIA DE GÊNERO ................................................................................................ 147
AULA 17: ORIENTAÇÃO SEXUAL E IDENTIDADE DE GÊNERO ........................................................................................ 159
AULA 18: CRIANÇA E ADOLESCENTE ..................................................................................................................... 166
AULA 19: DISCRIMINAÇÃO RACIAL ....................................................................................................................... 180
AULA 20: POVOS INDÍGENAS E TRIBAIS ................................................................................................................ 193
AULA 21: DIREITO AO DESENVOLVIMENTO ............................................................................................................. 206
AULA 22: MEIO AMBIENTE E DIREITOS HUMANOS ................................................................................................... 210
AULA 23: A DITADURA MILITAR E A JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO NO BRASIL ........................................................................ 224
AULA 24: O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL NA PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ............................................................ 232
AULA 25: PRIVACIDADE .................................................................................................................................... 234
DIREITOS HUMANOS
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APRESENTAÇÃO DO CURSO DE DIREITOS HUMANOS
O curso oferecerá espaço para o desenvolvimento do conhecimento tanto 
em sala de aula, por meio dos debates sobre as leituras e sobre os aconteci-
mentos reais que envolvem aspectos jurídicos e políticos dos direitos huma-
nos, quanto pelo aprendizado orientado pelas leituras semanais e atividades 
de pesquisa que formam o curso de direitos humanos. A metodologia parti-
cipativa será adotada e as leituras obrigatórias serão esperadas para o aprofun-
damento das discussões. A cada tema serão discutidas as visões doutrinárias 
e decisões jurisdicionais pertinentes bem como a análise crítica dos tratados 
internacionais de direitos humanos e eventual ausência de direitos positiva-
dos na esfera internacional e doméstica.
BIBLIOGRAFIA
O curso não seguirá um único livro, manual ou apostila. O roteiro indi-
cará leituras obrigatórias e facultativas para cada aula. Algumas leituras serão 
em inglês.
Acesso aos materiais de leitura: o curso está organizado na plataforma 
ECLASS FGV (https://eclass.fgv.br). As leituras para cada aula serão dispo-
nibilizadas com antecedência, haverá sugestões de leituras e atividades com-
plementares, bem como sugestões de filmes e sites relevantes para os temas 
estudados.
ATENDIMENTO AOS ALUNOS
Procure trazer as questões no horário das aulas sempre que possível, ou logo 
depois de encerrada a aula. Caso necessite tratar de assunto fora do ambiente 
de sala de aula, o professor estará disponível na sua sala (13º andar, sala 1318) 
terças e quintas das 16:00 às 16:30h, mas por favor agende o horário por email 
ou telefone. O email também é uma opção para resolver um problema, embo-
ra a resposta nem sempre será imediata: michael.mohallem@fgv.br
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
Haverá quatro atividades obrigatórias de avaliação e uma opcional:
1. Prova 1 (sem consulta, 30% da nota total): a prova terá duração 
máxima de 1:40h. Não é permitida a consulta de quaisquer mate-
riais, legislação ou tratados. A prova tem como limite 4 páginas ou 
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1 folha almaço. Deverão ser respondidas questões selecionadas pelo 
aluno dentre um universo de questões definidas pelo professor (o 
número de questões disponíveis e o número de perguntas obrigató-
rias serão definidos posteriormente).
2. Prova 2 (com consulta, 50% da nota total): a prova terá duração 
máxima de 1:40h. Permite-se a consulta a quaisquer materiais, ex-
ceto por meio de aparelhos eletrônicos e o contato com colegas. A 
prova tem como limite 4 páginas ou 1 folha almaço.
3. Argumento jurisprudencial em direitos humanos (10% da nota 
total): cada aluno fará um breve trabalho selecionando 1 tema para 
apresentar durante a respectiva aula. O trabalho deverá defender 
um argumento, ou uma tese jurídica sobre determinada questão de 
direitos humanos, fundamentando com a jurisprudência de um ou 
mais de um tribunal internacional, comissão ou comitê de tratado 
de direitos humanos. O trabalho escrito deverá ser entregue até 2 
dias antes da aula/apresentação através do sistema de dropbox no 
ambiente ECLASS da disciplina de Direitos Humanos.
4. Participação em sala de aula (10% da nota total): a participa-
ção será avaliada através de questões apresentadas pelo professor 
em sala de aula, sobre a leitura obrigatória e temas das aulas. Os 
alunos responderão voluntariamente através dos seus celulares ou 
computadores através do site http://www.socrative.com (turma: 
9PMEYAFQ) e através do debate tradicional.
5. Atividade complementar (+ 5% da nota total): os alunos que qui-
serem obter como nota extra até o máximo de 5% da nota total de-
verão propor uma atividade que envolva tema de direitos humanos, 
que seja complementar ao curso e que seja realizada de modo inde-
pendente das aulas. Por exemplo, a aluna e aluno poderão organizar 
um debate por conta própria ou em parceria com um doscoletivos 
da Escola (como o Coletivo Utopia, o Coletivo de Mulheres, a Re-
vista Ágora ou o Centro Acadêmico), poderão elaborar um artigo 
para ser publicado em site jurídico, jornal ou mesmo na revista 
Ágora, poderão participar de atividade relevante para os direitos 
humanos com uma ONG, etc. Esses são exemplos. Antes de iniciar 
a atividade, fale com o professor para se certificar de que será consi-
derada para fins de avaliação.
Procure observar os seguintes pontos durante a elaboração das provas:
1. Observe o limite de páginas.
2. Leitura atenta dos enunciados.
3. Objetividade da resposta e cuidado com repetição de uma mesma ideia.
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4. Pode ser que se exija conhecimento especifico de uma ou mais leitu-
ras. Neste caso, não adiante dar a sua opinião. Será esperada a visão 
crítica sobre os argumentos e teses da autora ou autor.
5. Se a prova for com escolhas de questões, espera-se que a escolha 
seja por assuntos que o aluno sinta-se pronto para responder. Não 
escolha questões sobre as quais não tem segurança para responder.
6. Atenção às palavra usadas e rigor das ideias.
7. Direitos humanos não é um apanhado de opiniões pessoais. Há 
questões que exigem técnica jurídica.
8. Preparem-se para fazer a prova. A participação em sala e os slides não 
são suficientes. A leitura será necessária para um bom desempenho.
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AULA 01: INTRODUÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS
Na primeira aula assistiremos trechos de 3 filmes que tratam de violações 
de direitos humanos. Os trechos serão retirados do Documentário “Ônibus 
174”, de José Padilha, do Filme “Tropa de Elite 2: o Inimigo agora É Outro”, 
também de José Padilha e de “Carandiru: O Filme”, de Héctor Babenco. Em 
seguida será feita uma discussão sobre as principais questões suscitadas pelos 
filmes. Os textos abaixo auxiliam a compreensão dos trechos selecionados e 
ajudarão a incrementar o debate em sala de aula.
O objetivo dessa aula é discutir a necessidade da existência dos direitos 
humanos como uma forma de garantia de proteção universal. Os direitos 
humanos não fazem distinção entre raça, religião ou classe social. Além de 
pregar a igualdade, sua utilidade imediata é impedir que as pessoas tenham 
seus direitos mais básicos, como a vida, violados.
As cenas selecionadas do documentário “Ônibus 174” e o texto de apoio 
dessa aula pretendem mostrar o lado oculto da violência. Neste caso, o se-
questrador do ônibus, o Sandro, vivenciou a Chacina da Candelária quando 
era criança e desde então nunca teve qualquer tipo de reparação ou mesmo de 
apoio básico do Estado. Dessa forma, observa-se que há um outro lado nessa 
em em muitas outras histórias de violência,que ignora que o Estado e a so-
ciedade como todo criam diversos “Sandros” diariamente quando não agem 
contra as violações de direitos humanos ou não oferecem o suporte mínimo 
que qualquer pessoa necessita para se desenvolver.
O filme “Tropa de Elite 2: o Inimigo agora é Outro” mostra o lado de 
defensores dos direitos humanos que buscam solucionar os confrontos com 
a polícia de forma pacífica e sem a violência de costume do BOPE. A cena a 
ser passada em sala de aula mostra o Capitão Nascimento chamando o de-
tento de Bangu I de “vagabundo” e Fraga, defensor de direitos humanos, de 
“defensor de vagabundo”. Essa forma de referência é muito comum, mas será 
que faz jus a essas pessoas? Será que esses defensores só defendem bandido? 
Ou será que eles buscam o respeito a direitos tão básicos, como o da vida, que 
acabam atingindo em maior escala a faixa da população mais pobre e que, por 
uma questão socioeconômica, acaba sendo também a classe que mais comete 
crimes de sangue?
Sobre o filme Carandiru, nota-se com muita clareza, na cena destacada, a 
violência policial e o extermínio que ocorreu nessa prisão. Homens desarma-
dos e sem chances de defesa foram mortos a tiros. Abaixo selecionou-se uma 
notícia (texto 3) que fala sobre como o Brasil, 22 anos depois do massacre, 
devido a má gestão de seus presídios, está colaborando para a criação de mais 
“Carandirus”.
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TEXTO 1:
Tragédia do ônibus 174 completa quinze anos
12/06/2015, por William de Oliveira
Há exatos quinze anos uma tragédia que marcou a cidade do Rio de Ja-
neiro acontecia dentro do ônibus que fazia o itinerário Gávea — Central do 
Brasil. O episódio, que ficou conhecido como “Ônibus 174”, mudou os ru-
mos da política de segurança pública da cidade, foi roteiro de documentários, 
filme de ficção e continua sendo tema de debate até hoje.
Em entrevista para o Viva Favela, Damiana Souza, última refém a deixar 
o ônibus, relata o que aconteceu no dia e como tem sido sua vida após a tra-
gédia. “Como é que pode a gente sair de casa, feliz, de mão dada uma com 
a outra…Era dia 12 de junho. Encontramos meu marido no caminho e ele 
falou ‘vocês estão com cara de que vão aprontar’ e a Geisa respondeu ‘a gente 
vai passear no shopping’ e descemos rindo”, lembra.
O desenho da tragédia
Geisa Gonçalves tinha 21 anos e estava grávida de dois meses. Ela e San-
dro Nascimento, que tinham a mesma idade, foram as duas únicas vítimas 
fatais do episódio. Geisa viera de Fortaleza dois anos antes e estava morando 
na Rocinha fazia oito meses. Lá ela conheceu Damiana e se tornaram grandes 
amigas, tanto que se tratavam como mãe e filha. As duas também eram com-
panheiras de trabalho na Ong Curumim, que funcionava no alto da favela. 
No 12 de junho do ano 2000 as duas embarcaram juntas no ônibus 174 
rumo a um banco no Jardim Botânico para trocar um cheque no valor de 
R$130, referente à venda de cestas de material reciclado confeccionadas por 
Geisa na Ong.
Sandro subiu alguns pontos depois armado com um revólver. Um dos pas-
sageiros percebeu a arma na cintura dele e avisou à uma viatura da polícia que 
passava pela rua no momento. A partir daí a tragédia começou a se desenhar. 
Os policiais pararam o ônibus para fazer uma averiguação e Sandro fez reféns 
os oito passageiros que estavam no veículo.
Foram mais de quatro horas de terror dentro do ônibus, dos quais Da-
miana destaca dois momentos de maior tensão. O primeiro, quando Sandro 
disse que mataria uma das reféns depois que contasse até cem. “Ele contava 
pulando os números, quando chegou no cem, ele fez ela se abaixar e fingiu 
ter dado um tiro na cabeça dela”, recorda. O outro foi quando ele colocou a 
arma na cabeça da Geisa e disse que ela iria morrer. “Ele dizia o tempo todo 
que a culpa era da polícia, que ele só queria ir embora, que ele não ia fazer 
nada, mas que a polícia causou a situação. Depois ele começou a gritar, fez 
um disparo para fora do ônibus, ficou fora de si e dizia que iria matar alguém” 
[…].
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“O Sandro era mais um”
Já era noite quando Sandro desceu do ônibus ainda com a arma aponta-
da para a cabeça de Geisa. O que parecia o fim do terror, acabou tendo um 
desfecho trágico. O policial do BOPE (Batalhão de Operações Especiais), 
Marcelo Santos, disparou contra Sandro, mas acertou o queixo de Geisa, que 
acabou levando três tiros nas costas do sequestrador.
Sandro morreu asfixiado pelos próprios policiais depois de ser colocado no 
camburão. Ele era um dos sobreviventes da chacina da Candelária, já havia 
passado por vários abrigos e vivia nas ruas quando cometeu o crime […].
O policial que atirou em Geisa foi levado a júri popular e absolvido. A 
tragédia ficou tão marcada na memória da população que pouco mais de ano 
após o sequestro, a linha 74 mudou de número, passando a se chamar 158.
Link: http://vivafavela.com.br/708-tragedia-do-onibus-174-completa-quin-
ze-anos/
TEXTO 2:
Tropa de elite 2, pelos olhos dos direitos humanos
Organizações pontuam pontos positivos e negativos no filme de maior público 
de todos tempos03/02/2011, por Leandro Uchoas
Tropa de elite 2 já conseguiria uma grande proeza se apenas superasse, em 
bilheteria, o primeiro filme da série. Foi muito além. O longa está chegando 
a 11 milhões de espectadores, um recorde. Ultrapassou o estadunidense Ava-
tar como filme mais assistido no Brasil em 2010 (9,1 milhões). É a película 
mais vista no país nos últimos 12 anos, perdendo apenas para Titanic, com 
público de 16 milhões. Como se não bastasse, o filme surge num momento 
político ímpar. Lançado uma semana após o primeiro turno das eleições, 
alcançou seu auge nas bilheterias paralelamente a uma das maiores crises de 
segurança pública do Rio de Janeiro. Se o filme, por si só, já alimentava o 
debate, a escalada de violência veio apenas a somar — não tencionando a 
discussão, necessariamente, para a mesma direção.
Um dos debates que se colocam com mais naturalidade é como os movi-
mentos e as organizações de direitos humanos receberam o longa. O primeiro 
Tropa de elite foi amplamente criticado por alguns setores. Considerado por 
muitos um filme fascista, foi rechaçado em uma série de debates públicos. O 
diretor José Padilha e o ator Wagner Moura, em incontáveis ocasiões, vieram 
a público em defesa de seu argumento — o filme estaria mostrando a segu-
rança pública sob o olhar de um policial do Bope, este sim eventualmente 
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fascista. Para os setores mais críticos, a explicação não foi aceita. Tropa de 
elite 2, propositalmente ou não, traz elementos novos. Surge nas telas um 
capitão Nascimento mais maduro, mais crítico sobre seu papel; as entranhas 
corruptas da polícia são explicitadas; um novo “inimigo” aparece, as milícias; 
um novo personagem, o professor Diogo Fraga, inspirado no deputado esta-
dual Marcelo Freixo (PsolRJ), encarna a defesa dos direitos humanos.
A pedido do Brasil de Fato, organizações de direitos humanos escreveram 
textos analisando o filme. As opiniões são diversas. Em geral, acreditasse que 
houve avanços, mas se pontua uma série de elementos preocupantes na nova 
película — principalmente tendo em vista sua mais do que comprovada ca-
pacidade de diálogo com a sociedade. “O novo capitão Nascimento combate 
as milícias e entende que o problema da violência é também um problema 
político. Quem queria um herói que luta contra o mal e mata ‘bandidos vaga-
bundos’ não gostou”, diz Taiguara Souza, do Instituto de Defensores de Di-
reitos Humanos (IDDH), que também pontua a qualidade técnica do filme. 
“Enquanto na primeira versão de Tropa de elite dava-se ênfase ao discurso 
policial, margem à apologia da tortura e à legitimação dos discursos fascistas, 
a atuação do deputado Diogo Fraga mostrou a ineficácia dessa política de 
segurança pública”, completa.
Taiguara, porém, aponta problemas. “Como a primeira versão, [o filme] 
constrói e reafirma conceitos problemáticos no imaginário social: heroiciza o 
Bope como padrão de polícia incorruptível, que pode violar garantias funda-
mentais para cumprir suas missões institucionais. O roteiro centra-se, ainda, no 
paradigma do inimigo. Não mais traficantes, mas milícias paramilitares”, diz.
Na Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, os integran-
tes debateram coletivamente o filme para elaborar um texto. Consideram que 
Tropa de elite 2 suscita uma reflexão crítica maior em relação ao primeiro 
filme, a corrupção política e policial aparece como um problema mais grave 
que o tráfico, e o movimento de direitos humanos é retratado de maneira 
mais interessante, ainda que através de um único personagem.
A principal crítica que a Rede faz, no entanto, diz respeito aos prota-
gonistas. “As principais vítimas do sistema de violência e criminalidade, as 
moradoras e moradores das comunidades pobres, estão literalmente ausentes 
do enredo, são no máximo figurantes, e na maior parte das vezes apenas ce-
nário”, diz Maurício Campos, principal autor do texto da Rede. “Mais ainda, 
não existem personagens no filme que representem a importante resistência 
popular, que apesar de tudo se constrói na luta das vítimas e familiares de 
vítimas da violência, juventude favelada e periférica que se organiza no movi-
mento hip hop e outras expressões político culturais, pré-vestibulares comu-
nitários etc.”, afirma. A inexistência desses personagens impediria a empatia 
do público com o sofrimento popular, inviabilizando a compreensão das reais 
motivações de quem luta por direitos humanos.
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“Verificamos que os ‘heróis’ continuam a ser, no fundo, os mesmos do 
primeiro filme: os policiais brutais, fascistas, porém ‘honestos’, do Bope. A 
ideia fascista da ‘limpeza’ da sociedade por militares violentos, porém incor-
ruptíveis, não sofreu na verdade nenhuma crítica nos dois filmes”, lamenta 
Maurício, posicionamento que encontrou eco em muitos dos debates que 
sucederam ao filme. Antônio Pedro Soares, do Projeto Legal, tem uma visão 
bastante crítica. “A narrativa do filme reforça uma imagem reducionista dos 
movimentos de direitos humanos. Historicamente, os grupos conservadores 
de nosso país adotam a estratégia de reduzir a luta dos movimentos à pro-
teção dos cidadãos envolvidos com a criminalidade, taxados de ‘defensores 
de bandidos’. Por que não apresentar os movimentos de defesa dos direitos 
humanos da perspectiva dos Direitos Humanos Econômicos, Sociais e Cul-
turais (Dhesc)?”, questiona.
Adriano Dias, da ComCausa, faz uma análise complexa, elencando sensa-
ções positivas e negativas e fazendo a ligação com suas referências pessoais e 
profissionais. Ele considera que a esquerda foi infantilizada pelo filme, “com 
suas reflexões elocubrativas, denuncistas, de mera exposição de números”. 
Considera positiva a relação umbilical entre a violência e a política exposta 
pelo filme. Adriano também estabelece conexões entre os personagens do 
filme e seus prováveis inspiradores na realidade, com quem ele teve proximi-
dade em sua longa militância. “Apesar de não aparecer, alguns governadores 
foram até sócios dos esquemas criminosos controlados a partir da Secretaria 
de Segurança do Rio de Janeiro”, denuncia.
Link: http://antigo.brasildefato.com.br/node/5583
TEXTO 3:
Após 22 anos do Massacre do Carandiru contexto para novo extermí-
nio continua, sem que cause indignação
Sistema prisional e políticas de segurança pública atuam na mesma linha que 
permitiu ao Estado matar 111 pessoas.
Perfil dos assassinados indica que maioria era de presos provisórios. Sem pena. 
Assim como grande parte dos atualmente encarcerados
Há 22 anos, no dia 2 de outubro, na Casa de Detenção de São Paulo, 
ocorria a maior violação de direitos humanos de cidadãos sob custódia do 
Estado do mundo. Não há situação semelhante em todo o planeta. Mas nos 
presídios do Brasil, contextos idênticos e agravados, fazem com que abusos 
de direitos aconteçam com frequência.
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São episódios que não chamam a atenção para a responsabilização do Es-
tado. Para as autoridades, parece ser mais fácil e vendável atuar no sentido da 
militarização, prometendo reforços de atitudes repressivas, do que na corre-
ção das deficiências crônicas de ordens sociais e institucionais.
O perfil dos presos do Carandiru que foram mortos no Massacre — ao 
contrário do que se supõe — mostra a maioria com idade inferior a 30 anos, 
baixa escolaridade, detida por crimes de natureza patrimonial. Cerca de 80% 
não tinha sido condenada, eram, portanto, presos provisórios, que ocupavam 
o superlotado Pavilhão 9. Esse quadro continua ativo, como mostra esta re-
portagem da Ponte.
Foram mortes sem pena. A maioria sequer havia sido condenada. Naquele 
sábado, tentou-se esconder o que era impossível de ficar invisível: os corpos 
foram empilhados pelos presos sobreviventes em locais isolados do complexo 
penitenciário. Quiseramocultar os executados para que nada influenciasse o 
resultado das eleições municipais de outubro, que ocorreriam no dia seguinte. 
A sociedade civil, naquele momento, teve impressão de que a ação policial ti-
nha sido proporcional à demandada para reprimenda da desordem instalada. O 
verdadeiro número de mortos fora noticiado apenas 15 minutos antes do fecha-
mento das urnas, no dia 03 de outubro, mais de 24 horas depois das execuções.
Mas, para além do já tão repisado debate acerca da adequação e proporcio-
nalidade da ação da Polícia Militar naquela data, queremos chamar atenção 
para o fato de que o Massacre do Carandiru não foi — aliás, não é — um 
evento isolado, algo como uma situação excepcional que escapou ao controle 
dos envolvidos, e sim uma fotografia instantânea de uma prática habitual na 
história nacional, que desde os primórdios combina exclusão com violência.
Prática tem origem etimológica no termo “práxis”, e pode ser semantica-
mente definido como o agir humano pautado pela aplicação de regras e prin-
cípios. Partindo dessa problematização do conceito, afirmamos que a prática 
de massacrar determinados segmentos sociais no Brasil apoia-se no princípio 
que estabelece a divisão da sociedade em duas categorias distintas de cidadão: 
o nós, “cidadãos de bem”, e os outros, “criminosos”, historicamente sub-
metidos a um processo de desumanização que permite excluir e exterminar. 
Como é prática significa que é também habitual, o que revela mais do que 
uma reiteração temporal e remete a um estilo de vida, que se alicerça em cos-
tumes e valores coletivamente compartilhados, de forma consciente ou não.
O perfil dos 111 mortos no Massacre do Carandiru é muito semelhante 
ao da população carcerária atual: pouco mais de 1% dos presos possuem nível 
de instrução acima do Ensino Médio; o trabalho é garantido a aproximada-
mente 21% dos presos; somente 9% estudam; 9 crimes são responsáveis por 
94% dos aprisionamentos; crimes contra o patrimônio e tráfico de entorpe-
centes são responsáveis por encarcerar 75% dos presos; 40% da população 
encarcerada é composta por pessoas sem condenação definitiva.
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O perfil dos 111 mortos no Massacre do Carandiru se assemelha ao perfil 
da atual população carcerária: conforme dados recentes do Conselho Nacio-
nal de Justiça (CNJ), o total de pessoas presas é superior a 700.000 (somando 
encarcerados com pessoas que cumprem pena em regime domiciliar), sendo 
a 3ª maior população prisional do mundo. É mais que o dobro do que com-
porta o sistema penitenciário[2]. De acordo com informações do InfoPen 
(MJ), pouco mais de 1% dos presos possuem nível de instrução acima do 
Ensino Médio; o trabalho é garantido a aproximadamente 21% dos presos; 
somente 9% estudam; 9 crimes são responsáveis por 94% dos aprisionamen-
tos; crimes contra o patrimônio e tráfico de entorpecentes são responsáveis 
por encarcerar 75% dos presos; 40% da população encarcerada é composta 
por pessoas sem condenação definitiva.[3]
É um segmento que historicamente sofre processo de exclusão, de desu-
manização e, dessa maneira é percebido como sendo o outro, diferente do 
que eu me vejo. Por isso se suporta assistir sendo massacrados. Qual cidadão 
livre identificasse com o perfil dos que estão presos? Observa-se que “come-
ter crime” não é o único requisito para ser selecionado pelo sistema penal. 
O critério legal para se considerar um ato como crime não corresponde ao 
critério social de reprovação de condutas diuturnamente praticadas, sem que 
seus autores sofram a intervenção penal, apesar da previsão legal, e frequen-
temente de penas elevadas.
Situações cotidianas como baixar um filme da internet, assinar a lista de 
chamada da faculdade pela colega que se ausentou da aula ou dividir uma 
cerveja com o amigo de 17 anos, por exemplo, correspondem respectivamen-
te aos crimes de violação de direito autoral (artigo 184 do Código Penal, pena 
de detenção de 3 meses a 1 ano), falsificação de documento (artigo 298 do 
Código Penal, pena de 1 a 5 anos de reclusão, se a faculdade for particular, 
ou de 2 a 6 anos, se a faculdade em questão for pública, aplicando-se então o 
artigo 297 do CP) e entrega de substância viciante a criança ou adolescente 
(artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente, pena de detenção de 
2 a 4 anos), mas quem as vivencia dificilmente se enxerga como autor de 
fato típico penal. É claro que se pode alegar que são condutas não violentas, 
incomparáveis a um estupro, um homicídio ou um latrocínio. Porém, como 
já observamos acima, não são estes os crimes que superlotam os estabeleci-
mentos penitenciários, além do que tráfico de entorpecentes e furto também 
não são crimes violentos.
Evidentemente, não estamos a defender que se amplie a intervenção do 
Direito Penal para esses “crimes nossos de cada dia”, mas sim que se tome 
consciência de como opera o critério de seleção do sistema de justiça, que 
reforça o estilo de vida que nos divide nesse nós e os outros, fortalecendo a 
crença em uma fronteira que, na verdade, é muito menos nítida do que se 
imagina.
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Também é revelador desse estilo de vida — de se enxergar fora do espectro 
de clientes preferenciais do sistema de justiça criminal — a absoluta falta de 
constrangimento em se aplaudir atos de violência, tais como se demonstra 
pela eleição do comandante do Massacre, Coronel Ubiratan, em 2002, can-
didato registrado sob o nº 111[4].
“Ocorre que o sistema repressivo que é oferecido submete os presos a gra-
ves violações de direitos humanos, sem condições mínimas de dignidade, 
porque o Estado privilegia o aprisionamento como “panaceia” ou “válvula de 
escape” para questões de segurança pública, sem reconhecer que mesmo com 
construção de novos presídios, continuará havendo superlotação e os proble-
mas dela advindos, o que fortalece as facções criminosas, e que por sua vez, 
praticam atitudes de reação contra a opressão do Estado e da sociedade civil.”
Com a famosa bandeira do “bandido bom é bandido morto”, virou fenô-
meno comum a criação de páginas Em redes sociais que defendem e apoiam 
medidas como tortura e pena de morte para “bandido”, criticando-se sem-
pre, em contrapartida, os defensores de direitos humanos. Fotos de pessoas 
baleadas, mormente em abordagens policiais nas periferias, são as mais vi-
sualizadas.
Quanto mais sangue, mais curtidas e compartilhamentos. A violência 
como entretenimento se difunde na mesma proporção em que ganha espaço 
e popularidade os programas policiais que dominam parte dos canais aber-
tos em horário nobre. Disseminam-se os sentimentos de medo, dissuasão, 
vingança e, sobretudo, a sensação de que o extermínio ou encarceramento 
definitivo de inimigos vai diminuir os problemas da violência ou da crimi-
nalidade.
Ocorre que o sistema repressivo que é oferecido submete os selecionados a 
graves violações de direitos humanos, sem condições mínimas de dignidade, 
porque o Estado privilegia o aprisionamento como “panaceia” ou “válvula 
de escape” para questões de segurança pública, sem reconhecer que mesmo 
com construção de novos presídios, continuará havendo superlotação e os 
problemas dela advindos, o que fortalece as facções criminosas, que, por sua 
vez, praticam atitudes de reação contra a opressão do Estado e da sociedade 
civil.[5]
Permanece, assim, a situação cíclica de insegurança e pânico que encontra 
no Massacre do Carandiru o símbolo de uma política penitenciária injusta, 
perversa e disfuncional e que coloca em discussão o papel da polícia e seus 
limites nas agendas de todo e qualquer movimento em prol dos direitos (de 
todos) humanos, ou seja, do Estado de Direito pleno.
A prisão como forma do aparato repressivo por excelência, tem sua longe-
vidade em decorrência de sua aceitação na sociedade. É preciso tomar consci-
ênciade que são os miseráveis que estão sendo encarcerados para que os livres 
se preservem da responsabilidade de fazer frente às disparidades sociais. São 
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 14
necessárias políticas sociais de extirpação das desigualdades e não políticas 
criminais que acentuem a maximização da pobreza.
A realidade é uma só: são massacrados pelo sistema penal os que são se-
lecionados pelo sistema penal. A ausência de identificação com essa situação 
afasta a capacidade de indignação individual e coletiva e, assim, pouco se 
contribuirá para uma sociedade menos militarizada, menos punitiva. Mais 
igual.
[1]O uso da violência foi o meio empregado por mais de 300 membros 
da Tropa de Choque e da Rota para reprimir briga de poucos detentos do 
Pavilhão 9. Utiliza-se o termo massacre para retratar que a violência foi des-
proporcional e predominantemente oriunda de uma das partes do conflito.
[2] Disponível em: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/28746cnjdivulgad
adossobrenovapopulacaocarcerariabrasileira
[3] Disponível em http://portal.mj.gov.br.
[4] O comandante da operação da PM que resultou no massacre foi elei-
to deputado estadual por SP em 2002 com 56.155 votos. Disponível em: 
http://www.tse.gov.br/internet/eleicoes/2002/result_blank.htm
[5] Interessante notar que o Massacre do Carandiru motivou a organiza-
ção e surgimento de uma das maiores facções criminosas do Brasil: o Primei-
ro Comando da Capital (PCC), criado em 1993, um ano após o episódio.
Link: http://ponte.org/apos-22-anos-do-massacre-do-carandiru-contex-
to-para-novo-exterminio-continua-sem-que-cause-indignacao/
ATIVIDADE OBRIGATÓRIA:
Trechos do Documentário “Ônibus 174”, de José Padilha.
Trechos do Filme “Tropa de Elite 2: o Inimigo agora É Outro”, de José 
Padilha
Trechos do Filme “Carandiru: O Filme”, de Héctor Babenco
LEITURA OBRIGATÓRIA:
VIEIRA, Oscar Vilhena. A gramática dos direitos humanos. Boletim Científi-
co da Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU), Brasília, ano 
I — nº 4, p. 13-24, 33 — jul./set. 2002 (leiam até a parte 7 e a conclusão).
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 15
LEITURA COMPLEMENTAR:
EULETÉRIO, Joana Maria. Ônibus 174: um olhar sobre a violência urbana 
e a exclusão social. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 47, N. 2, 
p. 153-164, mai/ago 2011.
MARCO, de Helena. Análise do filme: TROPA DE ELITE 2 — Polícia vs 
Direitos Humanos. Diário de Direito e Letras, 2014
HERRERA, MARIA BELELA. Desafios que o Tema Direitos Humanos 
Coloca para o Século XXI. Direitos Humanos no Século XXI — NEV, p. 
217 a 232.
RELATÓRIO Nº34/00 CASO 11.291 (CARANDIRU). Página. 12 a 28, 
13/abril/2000.
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 16
AULA 02: DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DOS DIREITOS 
HUMANOS.
INTRODUÇÃO
A aula 2 aborda as origens, as etapas de desenvolvimento e os possíveis 
caminhos do futuro dos direitos humanos. A leitura obrigatória discorrerá 
sobre a identificação dos momentos e documentos históricos que caracteriza-
ram a progressiva ampliação dos direitos humanos. O texto abaixo, extraído 
da revista Foreign Policy e a leitura complementar (o texto de William A. 
Edmundson, The Future of Rights) auxiliarão o debate em sala de aula sobre 
as novas fronteiras dos direitos humanos. A notícia em destaque do jornal El 
PAÍS, tratado do relatório da Anistia Internacional e a estagnação dos gover-
nos brasileiros frente às constantes violações de direitos humanos no Brasil.
Na aula será apresentado um vídeo que ilustra brevemente a História dos 
Direitos Humanos. Esse vídeo explicará o que são os direitos humanos e 
como eles são únicos direitos a serem aplicáveis a todos, sem qualquer distin-
ção. Esse vídeo mostrará o surgimento desses direitos, a sua evolução com o 
passar dos anos e a sua normatização na Declaração dos Direitos do Homem 
e do Cidadão, o que garantiu seu caráter universal. O vídeo também ressalta 
o desrespeito a esses direitos, mesmo que sejam universais.
QUESTÃO TERMINOLÓGICA E CONCEITUAL: DIREITOS FUNDAMENTAIS, 
DIREITOS HUMANOS E AFINS;
Os direitos fundamentais, por essência, se inserem numa esfera de pro-
teção distinta, especial, cara, e por essa razão são tratados pela constituição 
de forma peculiar. O artigo 60, no seu parágrafo 4º, estabelece as chamadas 
cláusulas pétreas, que são as matérias protegidas contra emendas que propo-
nham sua abolição. A constituição determina que não sejam abolidas a forma 
federativa de Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação 
dos Poderes, e os direitos e garantias individuais.
Art. 60. …
§ 4º — Não será objeto de deliberação a proposta de emenda ten-
dente a abolir:
...
IV — os direitos e garantias individuais.
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 17
1 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos 
direitos fundamentais. 6ª ed., Porto 
Alegre : Livraria do Advogado, 2006, 
p. 35-36
2 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito 
Constitucional Positivo, p. 182.
3 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos, 
do original L’età dei Diritti. Tradução 
autorizada do idioma italiano da edição 
publicada Giulio Einaudi Editore. Else-
vier, 2004, p. 9
O texto do inciso IV do § 4º do artigo 60, como visto, veda emendas 
tendentes a abolir “direitos e garantias individuais”, mas a doutrina predo-
minante não adota a interpretação literal segundo a qual seriam protegidas 
apenas as normas referentes aos direitos individuais previstos no art. 5º., O 
STF já se posicionou a esse respeito na ADIn 939-7/DF, afirmando que há 
cláusulas pétreas na Constituição que não são previstas no art. 5º, de modo 
que a Constituição brasileira estende a todos os direitos fundamentais a pro-
teção contra emendas que busquem restringir ou abolir tais direitos.
DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS
As diferenças entre os termos “direitos humanos” e “direitos fundamen-
tais” nem sempre são precisamente tratadas pela doutrina, afinal, ambos cui-
dam de proteção essencial à pessoa, e trata-se de dimensões sempre mais 
inter-relacionadas.
Segundo a lição de Ingo Sarlet, os conceitos possuem diferenças que se evi-
denciam quando considerados os aspectos espacial e de aplicação e proteção 
dos respectivos direitos. Os direitos fundamentais definem aqueles direitos 
do ser humano “reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucio-
nal positivo de determinado Estado” enquanto o termo direitos humanos se 
estabelece no plano internacional por meio das convenções e tratados. Ainda 
que os países inseridos na comunidade internacional assinem progressiva-
mente mais tratados de direitos humanos e os incorporem as suas ordens jurí-
dicas, as formas de efetivá-los nem sempre são claras como costumam ser em 
relação aos direitos tratados como fundamentais no plano constitucional.1
Neste mesmo sentido, José Afonso da Silva atribui ao termo direitos fun-
damentais o papel de designar, “no nível do direito positivo, aquelas prerro-
gativas e instituições que ele [direito positivo] concretiza em garantias de uma 
convivência digna, livre e igual para todas as pessoas.”2
CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS DIREITOS HUMANOS
Uma primeira forma de classificar os direitos humanos é a distinção que 
leva em conta os momentos históricos em que se afirmaram como direi-
tos através de ondas evolucionais. Trata-se de uma compreensão dos direitos 
que os observa como produtos históricos: “os direitos do homem, por mais 
fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas 
circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra 
velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de 
uma vez por todas.”3
1. SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 6ª ed., Porto Alegre : Livraria do Advogado, 2006, p. 35-36
2. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito ConstitucionalPositivo, p. 182.
3. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos, do original L’età dei Diritti. Tradução autorizada do idioma italiano da edição publicada Giulio Einaudi Editore. Elsevier, 2004, p. 9
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 18
4 Idem.
Segundo essa visão histórica apresentada por Norberto Bobbio, podemos 
classificar os direitos segundo gerações ou dimensões:
Primeira geração: são os direitos voltados à preservação das liberdades 
fundamentais e os direitos individuais e políticos clássicos, tais como religião, 
locomoção, pensamento e opinião, voto, etc. A primeira geração de direi-
tos consolidou-se nos documentos liberais do final do século XVIII, como 
a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776) e a 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, na França (1789).
Segunda geração: são os direitos voltados às prestações sociais básicas, 
como educação, saúde, oportunidades de trabalho, moradia, transporte, pre-
vidência social, etc, bem como os direitos econômicos e culturais. Consoli-
dam-se no período do Estado Social do pós-guerra (1914-1918), que deixa 
de ser absenteísta para assumir postura ativa, de quem são exigidas medidas 
de implementação de direitos. Marcaram o momento de ascensão histórica 
dos direitos de segunda geração a Constituição do México de 1917, que foi a 
primeira a prever proteção aos direitos sociais, a Constituição alemã de 1919, 
denominada Constituição de Weimar, que consagrou a presença dos direitos 
sociais no plano constitucional e a Revolução Russa de outubro de 1917, que 
impôs o governo socialista soviético.
Terceira geração: são os direitos relacionados ao desenvolvimento, meio 
ambiente equilibrado e paz. Segundo a lição de Bobbio, “constituem uma ca-
tegoria, para dizer a verdade, ainda excessivamente heterogênea e vaga, o que 
nos impede de compreender do que efetivamente se trata. O mais importante 
deles é o reivindicado pelos movimentos ecológicos: o direitos de viver num 
ambiente não poluído.”4
Vale ressaltar que o termo “geração” não é utilizado neste contexto como 
representação de um grupo geracional que passa a ser superado por outro. A 
conceito de geração deve ser compreendido em comunhão com a ideia de 
acumulação, de modo que os direitos conquistados em um dados momento 
histórico se somem à geração seguinte de direitos, e assim sucessivamente.
Outro propósito do esclarecimento do conceito de geração é evitar o ran-
queamento de um rol de direitos sobre outro, de modo a afirmar a indivisi-
bilidade dos direitos humanos. O debate sobre a hierarquia entre as gerações 
de direitos marcou os anos do pós-II Guerra Mundial. A Guerra marcou a 
absoluta ruptura dos Estados com os direitos humanos, de modo que quan-
do foram encerrados os combates, a comunidade internacional decidiu pela 
criação da Organização das Nações Unidas (1945) e adotou a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos (1948) como símbolos desse movimento de 
reconstrução moral da sociedade mundial.
Após a elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos passou-
-se a discussão de dois dos mais importantes instrumentos internacionais de 
proteção dos direitos humanos: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e 
4. Idem.
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 19
Políticos e o Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (ambos cria-
dos em 1966, vigentes a partir de 1976). Durante o processo de construção 
dos pactos havia duas fortes correntes, representadas pelos dois blocos polí-
ticos existentes no período da Guerra Fria, cada qual buscando a prevalência 
de um dos dois grupos de direito sobre os demais. A solução encontrada foi 
a elaboração de dois documentos distintos ao invés de um único que englo-
basse todos os direitos de natureza civil, política, social, econômica e cultural.
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E DOS DIREITOS 
HUMANOS
a) Historicidade: conforme vimos acima, os direitos humanos e os direi-
tos fundamentais nascem em certas circunstâncias, desenvolvem através do 
tempo e se acumulam. Hoje são protegidos pelas cláusulas pétreas, no caso 
brasileiro, e pela compressão de que são irreversíveis enquanto direitos con-
quistados no plano internacional.
b) Universalidade: destinam-se a todos os indivíduos no território brasi-
leiro, sem qualquer distinção, tal como os direitos humanos no plano inter-
nacional destinam-se a todos os seres humanos do planeta.
c) Inalienabilidade ou indisponibilidade: não podem ser transferidos 
ou negociados entre o titular do direito e qualquer outra pessoa. São indispo-
níveis para qualquer finalidade.
d) Irrenunciabilidade: por serem direitos fundamentais, inalienáveis, não 
o são também renunciáveis. Importante notar que renúncia é diferente de 
não exercício, de modo que o indivíduo poderá optar por não fazer valer seu 
direito, mas jamais renunciá-lo por completo.
e) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não possuem prazo ou 
qualquer limitação temporal para sua utilização, de modo que são sempre 
exigíveis perante o Estado.
f ) Limitabilidade: a aplicação dos direitos fundamentais, como vimos, 
poderá, em alguns casos, significar a restrição ou limitação de outro direito 
no caso concreto. A aplicação, portanto, não é absoluta e dependerá da inter-
pretação e aplicação jurisdicional.
g) Inter-relacionabilidade: os direitos fundamentais relacionam-se e em 
muitos casos dependem um dos outros para que sejam efetivamente garan-
tidos. Por exemplo, o direito de herança pressupõe o direito à propriedade.
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 20
5 SILVA. Curso de Direito Constitucional 
Positivo, p. 187
CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO 
BRASILEIRA
Uma segunda forma de classificação dos direitos e garantias fundamentais, 
agora considerando os direitos previstos na Constituição brasileira, é dividida 
por José Afonso da Silva em cinco espécies:5
1. Direitos individuais (art. 5º): são assegurados ao indivíduo isoladamen-
te e podem ser opostos aos demais indivíduos. A expressão é em geral utilizada 
para definir o direito à vida, igualdade, liberdade, segurança e propriedade.
2. Direitos coletivos (art. 5º): prerrogativas meta-individuais, titulariza-
dos por mais de uma pessoa. Segundo a definição trazida pelo artigo 81 do 
Código do Consumidor (Lei 8.078/90), os direitos coletivos são “os tran-
sindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou 
classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação 
jurídica-base.”
3. Direitos sociais (art. 6º e 193 a 232): prerrogativas meta-individuais, 
mas decorrem da inserção do indivíduo na sociedade estatal. Materializam-
-se através das prestações positivas que buscam a concretização do princípio 
da igualdade material, de modo a ampliar a qualidade das condições de vida. 
São proporcionadas pelo Estado aos cidadãos titulares de tais direitos.
4. Direitos de nacionalidade (art. 12): são as prerrogativas que decorrem 
do reconhecimento do vínculo jurídico-político de nacionalidade entre o in-
divíduo e o Estado. Criam-se direitos e obrigações específicos em razão da 
condição de nacional.
5. Direitos políticos (arts. 14 a 17): são direitos que garantem a participa-
ção dos indivíduos, direta ou indiretamente, nas esferas de deliberação políti-
ca da sociedade. Através dos instrumentos garantidos pelos direitos políticos 
é possível exercer a soberania popular.
APLICABILIDADE IMEDIATA, CLÁUSULA ABERTA E TITULARIDADE.
O artigo 5º da Constituição, em seu § 1º define que “as normas definido-
ras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”. Em seguida 
estabelece o § 2º que “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não 
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou 
dos tratados internacionais em que a República Federativa doBrasil seja parte”.
Partindo-se dessas duas normas podemos concluir que quaisquer direi-
tos podem ser imediatamente exigidos, ainda que exigi-los signifique cobrar 
o Poder Público pela omissão de não regulamentação. Conforme lições na 
Disciplina de direitos Constitucional, as normas constitucionais podem ser 
divididas dentre aquelas cuja aplicabilidade completa depende de regulamen-
5. SILVA. Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 187
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 21
tação infraconstitucional, aquelas normas cuja aplicabilidade pode ser res-
tringida pela norma regulamentadora e as normas de eficácia completa ou 
plena. Importante frisar que o mandamento do art. 5º, § 1º não é sem efeito. 
Mesmo as normas denominada de eficácia limitada produzem seus efeitos 
(ainda que parcialmente). A necessidade de norma integrativa infraconstitu-
cional já orienta a atuação do legislador que estará em mora e incorrerá em 
omissão constitucional caso não produza a norma exigida. Ademais, a norma 
constitucional, mesmo que de eficácia limitada, determina o sentido de atu-
ação do legislador e baliza seu espaço de deliberação.
Outra importante informação que se extraí do art. 5º § 2º é que as normas 
elencadas no artigo 5º são exemplificativas, e poderão ser ampliadas tanto 
pelo legislador quanto através de incorporação de tratados internacionais, 
particularmente os de direitos humanos (que poderão ser incorporados com 
status de norma constitucional, nos termos do art. 5º § 3º). Trata-se de cláu-
sula que dá abertura ao legislador e ao Poder Executivo para ampliar a prote-
ção constitucional a novos direitos.
Por fim, cabe-nos tratar da titularidade dos direitos fundamentais. O art. 
5º anuncia que são todos “iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País 
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade” (grifo meu). O termo “residentes no País”, segundo interpreta-
ção literal, restringiria a proteção do artigo 5º apenas aos estrangeiros estabe-
lecidos no país. Entretanto, a doutrina brasileira e a jurisprudência do STF 
entende que diversas das proteções daquele artigo são igualmente garantidas 
aos estrangeiros não-residentes.
NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA PLENA E APLICABILIDADE 
DIRETA E IMEDIATA.
Normas de eficácia plena produzem efeitos jurídicos desde o momento em 
que entram em vigor (não confundir vigência com a validade. Uma norma 
pode ser válida e ter sua vigência adiada através da vacatio legis, por exemplo). 
A principal característica de uma norma de eficácia plena é o fato de que não 
necessita de qualquer outra norma infraconstitucional para sua aplicação.
NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA CONTIDA OU RESTRINGÍVEIS 
DE APLICABILIDADE DIRETA E IMEDIATA MAS PASSÍVEIS DE RESTRIÇÃO.
As normas de eficácia contida, embora tenham recebido do constituinte 
normatividade suficiente para produzir efeitos imediatos e plenos, são do-
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 22
6 Texto disponível em <http://brasil.
elpais.com/brasil/2016/02/23/politi-
ca/1456259176_490268.html>, últi-
mo acesso em 10/08/2016.
tadas de meios normativos que permitem ao legislador infraconstitucional 
reduzir sua eficácia e aplicabilidade (ou restringidas circunstancialmente pela 
própria constituição).
NORMAS DE EFICÁCIA LIMITADA OU REDUZIDA.
São normas que produzem apenas parcialmente seus efeitos e necessitam 
de norma integrativa infraconstitucional para produzir a totalidade de seus 
efeitos. Importante ressaltar que todas as normas constitucionais, até mesmo 
aquelas de eficácia limitada, são dotadas de eficácia jurídica pois determi-
nam o sentido de atuação do legislador e balizam sua atuação legiferante. 
Por exemplo, o artigo 219 estabelece que “o mercado interno integra o patri-
mônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento 
cultural e sócio-econômico, o bem-estar da população e a autonomia tecno-
lógica do País, nos termos de lei federal.” A norma não apenas classifica o 
mercado nacional como patrimônio nacional como também determina seu 
incentivo por parte do Poder Público, nos termos do que vier a ser estabele-
cido por lei.
Portanto a lei poderá dar sentido à norma constitucional ao especificar e 
definir a atuação governamental para a concretização da vontade constitucio-
nal, mas não poderá incentivar o mercado interno de modo que prejudique 
o desenvolvimento cultural. Note-se que a norma constitucional surte efeitos 
e condiciona a atuação do legislador.
NOTÍCIA:
Texto 1
Brasil, um país em “permanente violação de direitos humanos”6
Anistia Internacional divulga relatório em que alerta sobre o retrocesso brasi-
leiro no âmbito legislativo
24/02/2016, por MARÍA MARTÍN em El País
O relatório “Estado dos Direitos Humanos” de 2015 que a Anistia Inter-
nacional vai enviar à presidenta Dilma Rousseff, ministros e governadores 
tem, infelizmente, muito em comum com o Brasil do passado. A morte de 
jovens negros, as execuções extrajudiciais, os abusos policiais, a falta de trans-
parência e a vulnerabilidade dos defensores dos direitos humanos em áreas 
rurais continuam sendo, e isso há cerca de 30 anos, as maiores preocupações 
6. Texto disponível em <http://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/23/politica/1456259176_490268.html>, último acesso em 10/08/2016.
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 23
da ONG britânica, sem que as autoridades tenham se mobilizado de forma 
efetiva para mudar o cenário.
“Ao longo dos últimos anos viemos alertando sobre os mesmos problemas. 
O Brasil vive em estado permanente de violação de direitos humanos de uma 
parcela importante da sua população. E é uma violação altamente seletiva”, 
lamenta Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil. 
“O país avançou muito na conquista de direitos, basta pensar nas políticas 
de redução de pobreza, mas se manteve um alto grau de violações em outras 
esferas”.
A novidade deste ano vem das mãos de alguns congressistas e senadores 
que, segundo a organização, têm se esforçado em ameaçar as conquistas de 
direitos humanos, alcançadas desde o fim da ditadura militar. A ONG des-
taca uma série de propostas de lei desengavetadas no ano passado e que, se 
aprovadas, vão significar um “enorme retrocesso no marco constitucional”, 
lamenta Roque. Entre elas está a emenda à Constituição que reduz a idade 
em que crianças e adolescentes podem ser julgados como adultos (de 18 para 
16 anos) ou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215 que transfere 
para o Poder Legislativo a responsabilidade por demarcar terras indígenas. A 
organização expressa sua preocupação também diante da proposta de lei, de 
autoria do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que dificulta o atendi-
mento de saúde a mulheres vítimas de abuso sexual, e da aprovação de uma 
lei antiterrorismo que possa criminalizar manifestantes.
O número de homicídios no Brasil —mais de 58.000 por ano, segundo o 
último relatório do Fórum de Segurança Pública — continua sendo alarman-
te, segundo a Anistia. O capítulo dedicado ao Brasil no relatório crítica que 
o Governo Dilma Rousseff ainda não tenha implementado o Plano Nacional 
de Redução de Homicídios, prometido em julho. “O número absoluto de 
homicídios é uma calamidade que chama a atenção há muito tempo não 
só da Anistia, senão de muitas outras organizações, e a sociedade continua 
olhando para outro lado”, afirma Roque. O foco dessa violência, como de-
monstram os números da letalidade no Brasil coletados pelo Fórum, conti-
nua sendo o mesmo: jovens e negros das periferias.
“Isso fica ainda mais grave quando olhamos para o papel que o Estado tem 
nesse volume de homicídios. Uma parte grande dessas mortes são causadas 
pela polícia em operações formais ou paralelas,em grupos de extermínio ou 
milícias”, explica Roque. Alguns casos que saíram à luz em 2015 ilustram 
bem essa realidade. A chacina de Osasco (São Paulo) onde, em apenas uma 
noite, foram assassinadas 18 pessoas supostamente por policiais ou a execu-
ção de cinco jovens com mais de 100 tiros de fuzil vindos de policiais milita-
res em Costa Barros, um subúrbio do Rio, foram só algumas delas.
A impunidade costuma ser, segundo a Anistia, uma constante. Segundo o 
relatório, “policiais responsáveis por execuções extrajudiciais desfrutaram de 
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 24
7 Texto disponível em <http://foreign-
policy.com/2015/02/02/unrestricted-
-internet-access-human-rights-tech-
nology-constitution/>, último acesso 
em 10/08/2016
quase total impunidade”. A ONG ilustra sua conclusão com dados da cidade 
do Rio de Janeiro e critica a ausência de informações que permitam calcular 
o impacto da violência policial no país. “Das 220 investigações sobre homicí-
dios cometidos por policiais abertas em 2011, houve, até 2015, somente um 
caso em que um policial foi indiciado. Em abril de 2015, 183 dessas investi-
gações continuavam abertas”, afirma o documento.
Texto 2
Is Unrestricted Internet Access a Modern Human Right?7
BY DAVID ROTHKOPF (Foreign Policy)
FEBRUARY 2, 2015
National constitutions are supposed to enshrine fundamental rights for 
everyone — and for generations. Such documents are also products of mo-
ments in time and reflect perceptions of life in those moments. That’s why 
the best of them, like the U.S. Constitution, contain the seeds of their own 
reinvention. Indeed, the secret to a sustainable constitution is that it both 
captures what is enduring and anticipates the need to change.
Over the years, the U.S. Constitution has been amended 27 times — the 
first 10 being the Bill of Rights, of course — to ensure that it stays current 
with prevailing views of what is fundamental or best for the United States. 
Among the finest examples of the Constitution’s adaptability to shifting and 
maturing norms are the 13th Amendment, which ended slavery, and the 
15th and 19th amendments, which guaranteed voting rights for everyone, 
regardless of race or gender, respectively.
Because it is meant to be malleable, the original Constitution included 
references to very few technologies. In fact, America’s founders were so sure 
that technologies would evolve over time that they even included protection 
of the rights of innovators in Article 1, Section 8 (the Copyright Clause). The 
technologies that were mentioned were ones that by the late 1700s had beco-
me so ingrained in day-to-day life that they were seen as natural to the course 
of human existence, or at least critical to the functioning of government: 
money, for instance, and a military. In at least two cases in the Bill of Rights, 
the unfettered use of technologies was seen as necessary for citizens’ freedom 
— those technologies being the press and arms. The press was more than 
three centuries old when the Constitution enshrined the right to freedom of 
expression. Meanwhile, the arms referenced were not specified, but no doubt 
included the firearms of the day that were essential to the upkeep of a militia, 
which was the express rationale (even if today it is generally overlooked) for 
the right to bear arms in the first place.
7. Texto disponível em <http://foreignpolicy.com/2015/02/02/unrestricted-internet-access-human-rights-technology-constitution/>, último acesso em 10/08/2016
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 25
To be sure, technological progress challenges the assumptions that under-
lie even the best-conceived documents. This has been evident recently in the 
debate over whether Fourth Amendment guarantees against illegal searches 
and seizures, which explicitly pertain to the main information technology of 
the late 1700s (“papers”), cover technologies that have developed subsequen-
tly, such as email and metadata. And, surprisingly, there has not been more 
meaningful debate about whether the Constitution protects the use of arms 
that Madison & Co. could not possibly have foreseen — namely, modern 
assault weapons — and how the Second Amendment applies in a world wi-
thout militias.
Arguing that people cannot assert rights beyond the imagination of the 
Constitution’s framers is an absurdity, and a dangerous one. As the meta-
data instance shows, it is hazardous not to bring the American conception 
of rights in line with the ways and means of modern life. Just as it took the 
invention of the printing press to trigger a deliberation on freedom of ex-
pression, technological changes today are so profound that they demand a 
reconsideration of what constitutes a fundamental right.
In recent years, more people have maintained that the right to unfette-
red Internet access is the modern equivalent of the right to the comparable 
technologies of centuries ago. The U.N. special rapporteur on freedom of 
opinion and expression has argued that disconnecting people from the Inter-
net constitutes a human rights violation. A number of countries, including 
Costa Rica, Estonia, Finland, France, Greece, and Spain, have asserted some 
right of access in their constitutions or legal codes, or via judicial rulings. 
Meanwhile, some advocates, such as Internet co-inventor Vint Cerf, have 
argued that content on the Internet must be protected from censorship, lest 
people’s right to information be lost.
The thrust of these arguments converges on a single point: It is difficult, 
if not impossible in some places, to participate fully in today’s world without 
an open, available Internet. This will become even truer as access is increa-
singly required to win and perform jobs, gather news, participate in politics, 
receive education, connect with health-care systems, and engage in basic fi-
nancial services. (Coin and paper money, one of those few technologies men-
tioned in the U.S. Constitution, will fade in importance in coming decades, 
outmoded by mobile banking.)
These are daunting thoughts on a planet on which 4.4 billion people lack 
Internet access — but that number is shrinking rapidly. The International Te-
lecommunication Union projected in May 2014 that 3 billion people would 
be online by the end of 2014, up some 300 million from the previous year’s 
projection. In a July 2014 report, based on a canvass of more than 1,400 
experts, the Pew Research Center found that even though governments will 
likely find new ways to restrict Internet access and content, billions more 
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 26
people may be online by 2025. Microsoft has estimated that number will be 
close to 5 billion.
This revolution carries with it other important questions. If there is a right 
to the Internet, for instance, does that mean people must also have a right 
to the electricity needed to plug into the web? The answer, resoundingly, is 
yes — even though, in a great tragedy of multilateralism, the creators of the 
Millennium Development Goals failed to set a benchmark for energy access. 
Electricity once seemed a luxury, but today the nearly 1.3 billion without it 
are effectively cut off from modern life. Yet this raises another question: In a 
world where roughly 80 percent of electricity is — and for a long time will 
be — produced by burning fossil fuels, how is the right to a clean, healthy 
environment also protected? This points to a need for universal access to cle-
an, sustainable, and affordable energy.
Abstract as a discussion of fundamental rights may seem, determining 
what people must have to survive and thrive, and wrestling with the conflicts 
found among these elements, may represent the greatest challenge of this 
century. The world requires new rules that will empower and enablemore 
and more people to tap into the full promise of human existence, while not 
simultaneously undercutting and diminishing that promise.
These rules are being made possible by technological advances, but they 
will not actually come to be if leaders do not act to create them — if gover-
nments leave it to the happenstance of progress to sort out tensions among 
the modern ingredients of life, liberty, and the pursuit of happiness. The 
conversation about necessary action is already coming too late. The longer it 
takes to kick into high gear, the longer humans will continue hurtling toward 
a new economic and social reality. Simultaneously, there will be much slower 
progress toward ensuring that the gains this reality brings are not offset by the 
tragedy of too few people benefiting or by the planet’s gradual but irreversible 
degradation.
LEITURA OBRIGATÓRIA:
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos huma-
nos. São Paulo: Saraiva, 1999. 1a ed. p. 41-55.
LEITURA COMPLEMENTAR:
DEMBOUR, Marie-Bénédicte. What Are Human Rights? Four Schools of 
Thought. Human Rights Quarterly, Volume 32, Number 1, February 2010, 
p. 1-20.
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EDMUNDSON, William A. The Future of Rights. In An Introduction to 
Rights. Cambridge University Press, 2004, p. 173-192.
BERNSTORFF, Jochen. The Changing Fortunes of the Universal Decla-
ration of Human Rights: Genesis and Symbolic Dimensions of the Turn 
to Rights in International Law. The European Journal of International Law, 
Vol. 19 No. 5, 903 — 924
FILME: A História dos Direitos Humanos
Link do filme: https://www.youtube.com/watch?v=kcA6Q-IPlKE
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 28
AULA 03: UNIVERSALISMO E RELATIVISMO CULTURAL DOS 
DIREITOS HUMANOS
Tendo em vista os episódios trágicos durante a primeira e segunda guerra 
mundial, em 1945 a Organização das Nações Unidas — ONU — foi criada 
pelos países vencedores da guerra, com o objetivo de evitar que uma terceira 
guerra mundial viesse a ocorrer e de facilitar o diálogo entre os países. Três 
anos após sua criação, em 1948, foi elaborada a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, em que foram estipulados direitos fundamentais para 
todos os indivíduos.
Tais direitos são marcados por duas características principais: a univer-
salidade e a indivisibilidade. Universalidade porque o simples fato de ter a 
condição humana faz com que todo ser humano seja titular desses direitos 
baseado na idéia de dignidade intrínseca a cada um. Já a indivisibilidade diz 
respeito à impossibilidade de permanente exclusão de uns por outros, visto 
que a garantia de cada direito depende da observância dos demais.
A garantia desses direitos passa a ser vista como uma questão que concerne 
a toda comunidade internacional, e não mais a cada estado de forma separa-
da. Sendo assim, a soberania estatal, até então vista como ilimitada, é restrin-
gida. Cia-se um sistema de proteção dos direitos humanos que alcança, além 
do sistema global, os sistemas regionais, cuja coexistência opera para tutelar 
da forma mais efetiva possível esses direitos.
A Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993 reafirma os direitos 
garantidos anteriormente na Declaração Universal dos Direitos Humanos e 
reconhece a relação de interdependência entre a democracia, o desenvolvi-
mento e os direitos humanos.
A democracia é o regime que permite a completa implementação de direi-
tos humanos, contudo, de acordo com o índice de democracia da Economist 
Intelligence Unit, menos da metade da população mundial vive em algum 
tipo de democracia, sendo ainda menor a porcentagem dos países considera-
dos plenamente democráticos.
O autor Amartya Sen ao analisar tal questão em seu artigo “Asian Values 
and Human Rights” afirma que muitos dos países com regime autoritários 
na Ásia usam como justificativa que este regime é mais compatível com o 
sucesso da economia, proporcionando maior desenvolvimento, direito que 
também deve ser garantido. Entretanto, o autor alega que não há nenhum 
estudo que comprove que existe um conflito entre o desenvolvimento econô-
mico e a garantia de direitos políticos.
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1996 garante que 
os países possam fazer esse tipo de escolha, em seu art. 1˚: “Todos os povos 
têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam li-
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 29
vremente seu estatuto político e asseguram livremente seu desenvolvimento 
econômico, social e cultural.”
Por um lado, portanto, temos os direitos humanos universais que garan-
tem a todos os indivíduos direitos políticos, independente de qualquer con-
dição, porém, por outro lado, encontra-se o direito à autodeterminação, que 
garante a soberania a cada Estado de poder fazer suas próprias opções polí-
ticas, econômicas e sociais. Como resolver essa divergência? Nesse sentido, 
faz-se necessário entrar no debate sobre o universalismo e o relativismo cultu-
ral, um dos maiores desafios encontrados para a implementação dos direitos 
humanos atualmente.
UNIVERSALISMO X RELATIVISMO CULTURAL
A visão universalista entende que há um “mínimo ético irredutível” que é 
um conjunto de direitos que devem ser considerados por todos os indivíduos, 
independente de sua cultura. Acreditam, portanto, que a cultura não pode 
servir de parâmetro para relativizar certos direitos, como direito à vida ou 
direito à liberdade.
Para a visão relativista, a visão de direitos universais poderia ser fruto de 
uma prevalência imperialista cultural ocidental, cuja consequência seria de-
terminar direitos de acordo com as crenças e princípios da sociedade ociden-
tal de modo a propagar a cultura do ocidente como padrão de conduta a ser 
seguido por todas as sociedades.
Essa corrente entende que cada sociedade pode ter sua própria concepção 
de direitos humanos, de acordo com o sistema político, econômico, cultural 
e social que esteja inserida. Em maior ou menor grau, os relativistas sus-
tentam que a cultura deve ser fonte importante de direito e regras morais. 
Portanto, a partir do direito a autodeterminação, os países devem fazer suas 
próprias escolhas, mesmo que em alguma medida os direitos humanos uni-
versais sejam relativizados.
Nesse sentido, surgem vários obstáculos a serem enfrentados. É necessário 
discutir se deve haver um limite na relativização dos direitos humanos, ou 
se todo direito pode ser relativizado em prol da cultura de cada povo (e em 
que medida). Se todos os direitos puderem ser relativizados, de que forma os 
indivíduos seriam protegidos em âmbito internacional? Esse parâmetro de 
interpretação não inviabilizaria os direitos humanos universais?
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INFANTICÍDIO INDÍGENA NO BRASIL
O direito à diversidade cultural dos povos é concedido especialmente aos 
povos indígenas na CF/88, em seus arts. 215 e 231:
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos cul-
turais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a 
valorização e a difusão das manifestações culturais.
§ 1º — O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, 
indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo 
civilizatório nacional.
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, 
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tra-
dicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer 
respeitar todos os seus bens
O infanticídio é um dos costumes de certas aldeias indígenas. Crianças 
com deficiência física, filhos de mãe de solteira ou que sejam fruto de adulté-
rio são, entres outras, razões que levam as mães a matarem seus filhos assim 
que o concebem. Trata-se de uma prática milenar, que na visão do povo in-
dígena,não se configura como um ato cruel, mas como um ato de amor, por 
acreditarem que se aquela criança sobreviver, haverá muito sofrimento, por 
parte da mesma e em toda a aldeia.
O antropólogo Ronaldo Lidório em seu artigo “Uma visão antropológica 
sobre a prática do infanticídio no Brasil” afirma:
“O relativismo cultural, inicialmente desenvolvido por Franz Boas e 
com base no historicismo de Herder, defende que bem e mal são elementos 
definidos em cada cultura. E que não há verdades universais visto que não 
há padrões para se pesar o comportamento humano e compará-lo a outro. 
Cada cultura pesa a si mesma e julga a si mesma. (…) Para o relativismo 
radical não há valores universais que orientem a humanidade, mas valores 
particulares que devem ser observados e tolerados. E assim, em sua compre-
ensão de ética, o bem e o mal são relativos aos valores de quem os observa 
e experimenta.”
Em vista disso, de acordo com o relativismo, o infanticídio pode ser vis-
to como um ato de maldade para a sociedade brasileira como um todo, mas 
não cabe aplicar tal julgamento quando proveniente da cultura indígena, 
pois eles têm seus próprios valores que devem ser respeitados. Por outro 
lado, o direito à vida e o direito à dignidade humana são direitos central-
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 31
mente protegidos, garantidos não só na CF/88, como também em diversos 
tratados internacionais.
Considerando que o infanticídio é visto como uma violação direta a tais 
direitos, o Código Penal institui em seu art. 123 a prática como crime. De-
veriam ser os índios punidos por tal prática? Ou os direitos à vida e à digni-
dade humana devem ser relativizados afim de respeitar a prática cultural? O 
entendimento atual é que os índios não devem ser imputáveis considerando a 
proteção à diversidade cultural, sendo assim, o infanticídio entre os indígenas 
é um ato tolerado como sendo um costume próprio do povo. Contudo, há ir-
resignação de grande parte da sociedade brasileira, que entende que o direito 
à vida não poderia ser assim relativizado. Nesse sentido, há, inclusive, proje-
tos de lei que buscam maneiras de erradicar a prática com a justificativa de 
que é uma forma de proteger os direitos fundamentais de crianças indígenas.
O USO DOS VÉUS NA EUROPA
Tendo em vista o alto fluxo de imigrantes, o continente europeu é atual-
mente formado por diversas religiões e culturas diferentes, sendo a muçulma-
na uma delas. O uso de véu, prática recorrente entre mulheres que seguem a 
religião, é alvo constante de debate, representando mais um caso paradigmá-
tico para discussão do relativismo cultural.
A França tem a maior população islâmica da Europa Ocidental, com um 
total de até 5 milhões de muçulmanos, sendo 2 milhões desse total mulheres 
que usam burca ou véus que cobrem o rosto. Em 2004, essas mulheres foram 
proibidas de usar seus véus para frequentar as escolas públicas com a justi-
ficativa de que estavam em um estado laico. O caso gerou polêmica entre a 
população islâmica, estudantes alegaram se sentirem nuas sem o uso do véu 
que faz parte de sua identidade, havendo, inclusive, um número considerável 
de casos de alunas que saíram da escola por se recusarem a seguir a nova regra.
Em 2010, houve a criação de mais uma lei que atacou diretamente a co-
munidade muçulmana. A nova lei visava proibir o uso de burca em lugares 
públicos, estabelecendo uma multa de até 150 euros a quem vestisse roupas 
que escondesse o rosto. O caso foi levado ao tribunal por uma mulher is-
lâmica que alegou ter sua liberdade religiosa ferida, mas o governo francês 
argumentou que a lei fora feita por questões de segurança.
A Corte Europeia de Direitos Humanos, que já havia se pronunciado so-
bre a legalidade da lei que proibiu o uso do véu nas escolas públicas, também 
decidiu pela validade da lei de 2010, apontando que ela promove harmonia 
entre uma população multicultural e não desrespeita a Convenção Europeia 
de Direitos Humanos.
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 32
É importante ressaltar que leis semelhantes foram instituídas em diversos 
outros países europeus, como a Holanda, a Turquia e a Alemanha. Com o 
argumento de que deve ser garantida a laicidade do estado, governos buscam 
diminuir o uso de símbolos religiosos na sociedade, em especial o uso do 
véu. Também sustentam que a proibição do véu é uma forma de combater 
o fundamentalismo islâmico, visto que reafirma a separação entre Igreja e 
Estado e uma forma de assegurar a liberdade da mulher, pois o uso do véu 
representaria uma forma de submissão da mulher ao homem.
Em direção oposta, muitos acreditam que a escolha do uso do véu deve 
ser respeitada, por representar uma cultura milenar e não necessariamente 
uma forma de submissão. Além disso, argumentam que a laicidade do estado 
passou a existir, pois o estado não era capaz de abraçar todas as religiões e se 
abster de ter uma religião foi a forma encontrada para que os indivíduos fos-
sem livres para escolher e professar as crenças e religiões que mais se identifi-
cassem. Sendo assim, a esfera individual dos indivíduos deveria ser estimadas, 
visto que eles não devem ser laicos e sim o estado. O uso do véu é forma de 
garantir a liberdade religiosa e liberdade de expressão, valores intrínsecos ao 
Estado democrático de direito.
NOTÍCIAS RECENTES
Texto 1
Mulheres muçulmanas sofrem ataques nas ruas de Curitiba
Marcelo Andrade
25/11/2015, Tribuna Paraná Online
Após os atentados em Paris, Curitiba registrou casos de agressão e hosti-
lização contra muçulmanos. Na última sextafeira, uma mulher levou uma 
pedrada apenas por estar trajando o véu islâmico. De acordo com a Sociedade 
Beneficente Muçulmana do Paraná, esses episódios são frequentes desde o 
atentado de 11 de setembro. Hoje, a cada caso de terrorismo que repercute 
na mídia, mesmo longe de qualquer zona de conflito, quem é muçulmano 
fica inseguro.
Por andarem mais caracterizadas que os homens, as mulheres sofrem mais 
agressões. “Próximo ao Jardim Botânico, um rapaz arremessou uma pedra 
que acertou minha perna e gritou para que eu voltasse ao meu país, mas eu 
sou brasileira”, conta Luciana Velloso. Vítimas de ofensas, piadas e até agres-
sões físicas, as mulheres buscam apoio umas nas outras. No dia 18 os abusos 
ocorreram com Paula Zahra. “Dessa vez me chamaram de terrorista. Já arre-
messaram latas de cerveja e até cuspida levei. Tem pessoas que tentam puxar o 
DIREITOS HUMANOS
FGV DIREITO RIO 33
véu pra provocar”. O que antes era apenas um constrangimento, virou medo. 
“Meu filho deixou de ir ao colégio, pois os colegas dizem que a mãe dele é 
uma mulhe rbomba”, afirma. Os casos serão levados à Comissão dos Direitos 
Humanos da OABPR, ao Núcleo de Promoção da Igualdade Étnico Racial 
(Nupier). “É um absurdo que as pessoas relacionem casos de terrorismo com 
viés político e econômico a pratica de uma religião que promove o bem. De-
vem ser responsabilizadas criminalmente”, defende Gamal Oumari, diretor 
da sociedade muçulmana do Paraná.
Portas abertas
Pra desassociar a ideia da prática religiosa do islã de atos políticos terroris-
tas, o muçulmanos mantém a Mesquita Imam Ali, próxima às ruínas do São 
Francisco, aberta à comunidade. “Desde o ataque às torres gêmeas, a imagem 
do islã passou a ser relacionada com atos bárbaros que não possuem absolu-
tamente nenhuma ligação com a prática da religião”, afirma Gamal.
Conversão ao Islã
Filho de casal católico, o jornalista Omar Nasser encontrou no islamismo 
a orientação espiritual para guiar sua vida. Após ler o alcorão e aprofundar os 
estudos sobre o islã, ele se tornou um muçulmano. “De acordo com o livro 
sagrado do islã, todos nascem muçulmanos. Ao longo da vida, muitos se afas-
tam desse caminho e cedem às tentações. Quando buscamos o conhecimento 
sagrado revertemos essa condição”, explica Omar.
Ele abriu mão de

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