Buscar

A retórica Aristotélica e a nova Retórica de 3.9.2 3.9.3

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Da retórica Aristotélica à nova Retórica de Chaim Perelman 
Maria Nívia Dantas 2018.1
Historicamente, o surgimento da retórica remonta o século V a.C. e está associado ao movimento sofista na mesma época do nascimento da democracia grega. 
 
 Corax e seu pupilo Tísias x PLATÃO
 (Sofistas)
Assim a retórica, que surgiu ligada à sofística, carrega o preconceito contra si. A mudança de um sentido mais amplo e positivo da expressão retórica a um mais negativo e limitado parece ter ocorrido gradualmente ao longo do século V a.C.
Platão distingue os filósofos dos sofistas (retóricos) pelas diferenças no caráter e nas intenções morais. 
Talvez a maior atribuição ao seu sentido negativo seja o modelo cartesiano da razão como protótipo do Racionalismo Moderno. 
A retórica clássica grega perde a sua importância no século I (d.C) e passa a ser profundamente criticada no século XIX com as ideias cartesianas e com o positivismo de Auguste Comte. 
A força da retórica se converteu em um conjunto de técnicas ornamentativas, sem objetivo persuasivo. 
O Direito, ao se reivindicar como ciência, tenta divorciar-se da retórica.
 (+) Evidências
 (-) Linguagem (Retórica)
Os sucessos da ciência e dos métodos cartesianos ameaçaram e preponderaram sobre o humanismo retórico. 
Seguindo a perspectiva de Descartes (BARILLI,1987,p.10), o conhecimento científico deve progredir por inferências providas de evidência interna por meio da dedução. Não há dúvidas que o ideal de uma ciência, principalmente a jurídica, pautada na busca de verdades claras e distintas, guarda, até hoje, as marcas do legado “cartesiano”.
LEITURA
Sob a rubrica de sofistas, agrupam-se diversos pensadores que, mesmo não constituindo uma escola no sentido técnico do termo, mantiveram entre si certa afinidade de métodos e propósitos. Propunham-se os sofistas a ensinar a arte da política e as qualidades indispensáveis para a formação de bons cidadãos, o que incluía a retórica, ou "a arte da persuasão exercida nos tribunais e nas outras assembleias a propósito daquelas coisas que são justas e injustas". São os sofistas, portanto, os primeiros protagonistas importantes da história da Retórica. Mestres na arte de bem falar, adquiriram extraordinária reputação e seus ensinamentos eram disputados avidamente pelos jovens bem-nascidos. Se os sofistas gozavam de excelente reputação em sua própria época, o mesmo não se pode dizer de sua posteridade; graças a Platão, o termo "sofista" e seus derivados adquiriram uma irredutível conotação pejorativa. Muitas das acepções atuais da palavra Retórica - como a que a identifica com "adornos empolados ou pomposos de um discurso", segundo o dicionário Aurélio - correspondem a distorções de fundo platônico daquilo que originariamente se chamou Retórica na Grécia antiga.
Escolástica
substantivo feminino
1. fil. Teol. - pensamento cristão da Idade Média, baseado na tentativa de conciliação entre um ideal de racionalidade, corporificado especialmente na tradição grega do platonismo e do aristotelismo, e a experiência de contato direto com a verdade revelada, tal como a concebe a fé cristã; escolasticismo.
Dialética 
Dialética (AO 1945: dialéctica) (do grego διαλεκτική (τέχνη), pelo latim dialectĭca ou dialectĭce) é um método de diálogo cujo foco é a contraposição e contradição de ideias que levam a outras ideias e que tem sido um tema central na filosofia ocidental e oriental desde os tempos antigos. A tradução literal de dialética significa "caminho entre as ideias".
"Aos poucos, passou a ser a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão." Também conhecida como a arte da palavra.
"Aristóteles considerava Zenão de Eleia (aprox. 490-430 a.C.) o fundador da dialética. Outros consideraram Sócrates (469-399 a.C.)".
No período medieval, o estudo da dialética (ou lógica) era obrigatório e, parte integrante do Trivium que, junto com o Quadrivium, compunha a metodologia de ensino das sete Artes liberais.
Um dos métodos diáleticos mais conhecidos é o desenvolvido pelo filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831).
3.9.2 Retórica Aristotélica
Maria Nívia Dantas
A elaboração de pequenos tratados sobre a "arte retórica" era uma prática comum na Grécia antiga. Todos os sofistas e oradores proeminentes elaboraram em alguma parte de suas vidas pequenos textos que pudessem servir de orientação para seus alunos; mas a retórica só receberia uma sólida base teórica por meio da obra daquele que foi o mais influente e mais versátil dos filósofos gregos: Aristóteles.
Aristóteles nasceu em Estagira, no norte da Grécia, em 384 a.C. e morreu na ilha de Euboea em 322 a.C. 
Aluno de Platão na Academia, fundador de sua própria escola - o Liceu;
Tutor de Alexandre, o Grande;
Aristóteles foi a primeira pessoa a dar importância ao estudo sistemático das diversas disciplinas das artes e ciências que surgiam como entidades separadas pela primeira vez no século IV a.C., inclusive no que diz respeito à definição dos conceitos básicos e das relações entre cada uma.
Possuidor de um verdadeiro espírito enciclopédico, Aristóteles escreveu centenas de obras sobre os mais variados campos do saber, da poesia à biologia, [...] Entre estes textos, encontra-se a Arte Retórica. Nessa obra clássica, Aristóteles elabora uma conceitualização da retórica dividindo-a em categorias e dando nomes às diversas técnicas utilizadas, a exemplo do que fez em diversos outros campos do conhecimento.
Em alguns momentos a retórica é concebida como uma ferramenta, uma disciplina puramente formal utilizável em diversos campos do conhecimento. É essa a concepção vigente entre os estudiosos antigos e medievais.
Os estudiosos modernos, entretanto, tem preferido ver na retórica uma arte produtora, a exemplo da poética e das belas artes. 
A retórica é classificada em gêneros, de acordo com o objetivo a que se propõe: pode ser:
 deliberativa, se o auditório tiver que julgar uma ação futura;
 judicial, se o auditório tiver que julgar uma ação passada; 
 epidítica, se o auditório não tiver que julgar ações passadas nem futuras. (discurso de louvor ou censura ao presente)
Para Aristóteles, o discurso é composto necessariamente de no mínimo quatro elementos: 
Exórdio; 
Enunciação da tese; 
Prova e 
Epílogo. 
A função do exórdio é tornar o auditório receptivo à atuação do orador e fornecer uma introdução geral ao discurso, tornando claro seu propósito.
Quanto aos meios de prova utilizados, podem ser não artísticos ou artísticos. 
Meios de prova não artísticos são as provas em sentido estrito, as evidências, tais como testemunhas ou documentos. 
Meios de prova artísticos são os argumentos inventados pelo orador, e podem ser de três tipos, como: 
aqueles derivados do caráter do próprio orador, que empresta sua credibilidade à causa (ethos); 
aqueles em que o orador procura lidar com as emoções do auditório (pathos); 
e aqueles derivados da razão (logos). 
Os argumentos lógicos se apresentam sob duas formas: 
induções, ou o uso de exemplos, 
e deduções, chamadas em retórica de "entimemas".
O entimema, ou silogismo retórico, é aquele tipo de silogismo em que as premissas não se referem àquilo que é certo, mas àquilo que é provável, e tem importância fundamental para a retórica já que na maioria dos casos em que estão em jogo assuntos humanos nem sempre se pode basear a argumentação apenas naquilo que é verdadeiro, mas apenas no que é verossímil.
Um entimema é um argumento que contém pelo menos uma premissa não formulada, habitualmente designada por premissa implícita. Pode-se também dizer que se trata de uma premissa subentendida ou oculta. 
Por exemplo: no argumento
 “Heitor é advogado, logo o Heitor tem formação universitária”
A premissa implícita é “os advogados têm formação universitária”. 
Sem esta premissa o argumento não seria válido. (Há entimemasque continuam a ser argumentos inválidos mesmo após a explicitação das premissas subentendidas, pois encerram outras incorrecções.)
Exemplo de um entimema.
Há anos atrás eu e um amigo íamos a percorrer uma avenida de Lisboa (Av. Almirante Reis) quando vimos um homem a comprar um limão. Disse imediatamente ao meu amigo, como se fosse uma enorme evidência: “Ele está a comprar um limão, logo é drogado”. Como o meu amigo duvidou da conclusão (achando que o facto de uma pessoa comprar um limão não é razão suficiente para concluirmos que é drogada), vi-me obrigado a explicitar as várias razões (premissas) que não tinha formulado por as achar óbvias. Ei-las:
Normalmente as pessoas compram mais do que um limão, mas não seria prático um toxicodependente fazer isso, já que o sumo de limão costuma ser usado para preparar doses de heroína, e aquele indivíduo tinha um certo ar pálido e macilento que caracteriza muitos toxicodependentes. Além disso, aquela zona era um lugar de passagem quase contínua de toxicodependentes que iam comprar droga ao bairro da Curraleira (que na época era uma conhecida zona de tráfico).
Perante essas razões adicionais que explicitei, o meu amigo ficou convencido: “Deves ter razão”.
No entanto, mesmo reforçada com essas razões a conclusão é apenas uma consequência provável (e não necessária) das premissas – como é característico dos argumentos não dedutivos.
Embora isso não fosse provável, podia suceder que as premissas fossem todas verdadeiras e a conclusão falsa. 
Por exemplo: o facto de só comprar um limão podia explicar-se pela circunstância de partir de férias no dia seguinte e não querer deixar em casa produtos perecíveis; o ar pálido e macilento podia dever-se a uma doença qualquer; etc.
O epílogo tem por objetivo deixar no auditório uma boa impressão do orador (e uma má impressão de seu oponente) e recapitular brevemente os pontos principais do discurso. 
Em síntese, a técnica retórica de Aristóteles – Retórica II (1998, p. 67) – consiste nos principais meios ou recursos persuasivos de que se vale o orador para persuadir o auditório.
Os meios de persuasão podem classificar-se em técnicos e não técnicos. 
Os meios de persuasão não técnicos são os que existem independentemente do orador, como: leis, tratados, testemunhos, documentos; 
já os meios de persuasão técnicos são aqueles que o próprio orador inventa [...] e se repartem por três grupos: 
Ethos ---- o caráter do orador; 
Pathos ---- a emoção do auditório e 
Logos ---- a argumentação. 
Em primeiro lugar, o ethos, pois persuade-se pelo caráter quando o discurso é proferido de tal maneira que deixa a impressão de o orador ser digno de fé, porque se acredita mais e bem mais depressa em pessoas honestas, em todas as coisas em geral, mas sobretudo nas de que não há conhecimento exato e que deixam margem para dúvida. 
É, porém, necessário que essa confiança seja resultado do discurso e não de uma opinião prévia sobre o caráter do orador; pois não se deve considerar sem importância para a persuasão a probidade (honestidade) do que fala, como, aliás, alguns autores dessa arte propõem, mas que se poderia dizer que o caráter é o principal meio de persuasão.
Quanto ao pathos, persuade-se pela disposição dos ouvintes, quando estes são levados a sentir emoção por meio do discurso, pois os juízos emitidos variam, conforme sentimentos de tristeza ou alegria, amor ou ódio. É dessa espécie de prova e só dessa que se tentam ocupar os autores atuais de artes retóricas.
[...] Se o orador suscita nos juízes sentimentos de alegria ou tristeza, amor ou ódio, compaixão ou irritação, estes poderão decidir num sentido ou no outro. Foi, aliás, este o ponto mais estudado nos anteriores tratadistas da retórica.
Por último, os logos, persuade-se, enfim, pelo discurso, quando se mostra a verdade ou o que parece ser verdade.
[...] O discurso argumentativo é a parte mais importante da oratória. É aquela a que se aplicam as principais regras e princípios da técnica retórica – é a arte de persuadir – e os recursos argumentativos.
A partir da década de 50, no século XX, é que começou a se esboçar uma corrente filosófica e acadêmica de vulto que tinha por objetivo recuperar a dignidade dessa forma de conhecimento tão antiga e tão intimamente ligada à história da humanidade. [...]
Segundo Perelman (2000), o objeto da Retórica é o estudo das técnicas discursivas que visam a provocar ou a intensificar, aumentar a adesão das mentes, ou seja, de certo auditório, às teses apresentadas a seu assentimento. Trata-se de um processo racional de decisão em situação de incerteza, de verossimilhança, de probabilidade.
Sendo assim, a configuração contemporânea do pensamento jurídico provoca uma ruptura com o contorno básico de compreensão do Direito conforme descrito acima. A partir da década de 50, surgem diversas críticas ao modelo lógico do raciocínio jurídico próprio do positivismo jurídico. Essas críticas, ressaltam a inadequação e a insuficiência da metodologia lógico-formalista e sublinham a necessidade de elaborar novos instrumentos de pesquisa da argumentação prática, em geral, e a jurídica em particular e a retórica começou a recuperar seu prestígio. 
Como o objeto do estudo deste capítulo também diz respeito a esse segundo aspecto, será dada uma atenção exclusiva sobre a obra do pensador que mais ajudou a romper com a tradição cartesiano-positivista de desconsideração da retórica: Chaim Perelman, filósofo de origem polonesa radicado na Bélgica.
3.9.3 Algumas questões teóricas da argumentação de Chaim Perelman
Maria Nívia Dantas
3.9.3 Algumas questões teóricas da argumentação de Chaim Perelman
Chaïm Perelman, professor na Universidade Livre de Bruxelas, publicou, em 1958, em coautoria com a professora Lucie Olbrecht-Tyteca, Tratado da argumentação: a nova retórica. O próprio subtítulo do livro já denota e acentua o caminho pelo qual o jurisfilósofo percorreu: a herança aristotélica. O primeiro parágrafo da introdução é muito significativo quanto a essa intenção do autor, pois escreve o filósofo e jurista, ao iniciar o seu Tratado da argumentação, tratar-se da “[...] publicação de um tratado consagrado à argumentação e a sua ligação a uma velha tradição, a da Retórica e da Dialética gregas” (PERELMAN, 2000, p. 1).
A primeira parte do primeiro parágrafo serve para afirmar com toda a clareza, desde o início, uma genealogia que coloca a obra na direta sucessão da problemática grega sobre a Retórica. As raízes são claramente afirmadas e remontam aos gregos, particularmente a Aristóteles. Essa referência grega é um reatar de uma tradição rompida e, ao mesmo tempo, a ruptura com uma outra tradição, a da modernidade, fatos que o autor proclama ao afirmar: “[...] constituem uma ruptura com uma concepção da razão e do raciocínio saído de Descartes, que marcam com o seu selo a filosofia ocidental” (PERELMAN, 2000, p. 1).
Por essa razão, o alvo principal da Nova Retórica é a concepção de razão que teve origem com o pensamento cartesiano, ao qual dedica a primeira e a última frase do Tratado da argumentação, uma vez que Descartes tem quase por falso tudo o que não é mais que verossímil (PERELMAN, 2000, p. 194).
Os estudos de Perelman vão além dos limites da Retórica antiga, que objetivava a arte de falar em público de forma persuasiva perante uma multidão, com o intuito de obter a adesão à tese defendida. A nova retórica, do filósofo de Bruxelas (2000, p. 6), estende-se à argumentação escrita e preocupa-se mais em compreender o mecanismo do pensamento “do que as de um mestre de eloquência cioso de formar praticantes”. Ela, na realidade, preocupa-se com o ponto de partida do raciocínio com o seu desenvolvimento e com o resultado a ser obtido, retomando conceitos e categorias da Antiguidade, ao valorizar a argumentação como técnica para lidar com valores, objetiva chegar a acordos, descritos pela argumentação.
As palavras perelmanianas, escritas em 1958, trazem, portanto, quase uma premonição do que será a crítica pós-moderna darazão, porque em vez da necessidade do encadeamento das ideias no raciocínio e da evidência com que estas se impõem ao espírito, o vocabulário privilegiado é outro e nele emergem termos como verossímil, plausível, provável. A verossimilhança (2000, p. 6) diferencia-se da verdade porque aquela é semelhante ao vero e se decide apenas na instância interlocutória que é um auditório, por isso as provas são necessárias e estão voltadas para o estatuto aproximativo da probabilidade e do plausível.
A verossimilhança é, portanto, a marca do discurso retórico e, no espaço jurídico, cumprirá papel determinante na equação de realização do fenômeno jurídico em toda sua extensão. 
A noção de verossímil é tradicionalmente explorada na retórica argumentativa. A priori, característica de um modo de correlação entre o enunciado e a realidade, o verossímil deve ser compreendido tanto como um produto quanto como um fundamento do discurso.
O verossímil é uma qualidade da opinião, que a opõe ao verdadeiro. Ele corresponde ao provável da estatística ou ao plausível da doxa, ou seja, às representações, maneiras de fazer, de pensar e dizer normais, coerentes, frequentes numa comunidade (rotinas, cenários, lugares-comuns, estereótipos), que pré-formam as expectativas e guiam as ações. Distinguem-se o verossímil dos argumentos e o verossímil dos esquemas argumentativos ou topoi, que, conjuntamente, devem produzir a persuasão. Relativamente aos argumentos, o verossímil é definido como aquilo sobre o qual não pesa a carga da prova. Dessa forma, para se defender de uma acusação de assassinato, uma atriz utilizará o topoi da profissão e do tempo.
Daí o autor nos dizer que ao lado da prova para a lógica tradicional, dedutiva ou indutiva, impõe-se considerar também outro tipo de argumentos, os dialéticos ou retóricos.
As provas fundadoras de uma convicção não têm a exatidão de uma prova dedutiva ou científica, como já visto. Basta pensarmos no sistema jurídico e na sua codificação de um conhecimento procedimental em que a prova tende a fundar um saber, mas voltado para o campo do verossímil, do plausível ou do provável. Se toda a prova fosse reduzida à evidência não teria necessidade de prova (2000, p. 5), logo a noção de evidência tem de ser entendida, para que uma teoria da argumentação seja possível, como uma força de persuasão que se insere numa escala proporcional.
Campo do plausível porque fundado em juízos de adesão, que dependem do posicionamento do destinatário e não da natureza do objeto do discurso; à medida que se transfere a responsabilidade da decisão final ao destinatário do discurso, enquanto titular da adesão, a Nova Retórica, escapando dos limites fixados por Aristóteles, possibilita uma prática discursiva ágil e dinâmica em situações que não exigem mais que verossimilhança em suas conclusões.
O conhecimento psicológico, sociológico ou ideológico do auditório é, pois, essencial à própria eficácia da argumentação. Compreendemos que assim seja dado o papel central que a natureza do auditório tem na argumentação, visto que a argumentação tem por objetivo não propriamente a verdade, mas a verossimilhança, essa semelhança ao verdadeiro só pode encontrar um critério de validade ou justeza naquilo que pensa o auditório, qual seja o seu estado de espírito, a força da sua convicção ou crença, eventualmente pela argumentação aduzida.
Desse modo, num processo penal com intervenção de um júri, o que processualmente está em causa não é tanto a verdade dos fatos, mas antes a adesão do espírito dos jurados a uma das teses em confronto: culpabilidade ou inocência (PERELMAN, 2000, p. 31). A verdade, que, cartesianamente, se impõe pela evidência, não resulta de uma deliberação argumentada, nem é, por isso, também objeto de um consenso. Deliberação e evidência são duas expressões quase contraditórias, porque, como descreve Perelman, “não se delibera quando a solução é necessária e não se argumenta contra a evidência” (PERELMAN, 2000, p. 1). 
Como sublinha o jurista de Bruxelas (2000, p. 5), não há que se confundir “evidência” com “verdade”, uma vez que a “evidência” se referirá apenas à adesão por parte do espírito que uma ideia merece. Estaremos, portanto, num campo puramente psicológico, enquanto que a questão da verdade, pelo menos na tradição racionalista cartesiana, contra a qual o teórico se inscreve em ruptura, implica uma necessidade e um constrangimento lógico.
O teórico define de prontoargumentação e demonstração e destaca a importância do tempo nessas categorizações. A citação abaixo esclarece a diferença entre esses dois elementos contraditórios: 
Damos o nome de argumentação ao conjunto das técnicas discursivas que permitem provocar ou aumentar a adesão das mentes às teses que se apresentam ao seu assentimento; sendo o termo tradicional demonstração reservado aos meios de prova que possibilitam concluir, a partir da verdade de certas proposições ou, ainda, no terreno da lógica formal, passar, com a ajuda de regras definidas de transformação, de certas teses de um sistema a outras teses do mesmo sistema. Enquanto a demonstração, em sua forma mais perfeita, é uma série de estruturas e de formas cujo desenvolvimento não poderia ser recusado, a argumentação tem uma natureza não coercitiva: deixa ao ouvinte a hesitação, a dúvida, a liberdade de escolha; mesmo quando propõe soluções racionais, não há uma vencedora infalível.(PERELMAN, 2000, p. 15)
A demonstração clássica e a lógica formal de um lado, e a argumentação do outro, podem, ao que nos parece, reduzir-se a uma diferença essencial ao sistema: o tempo não tem a menor importância na demonstração; em contrapartida, ele é, na argumentação, primordial, o ponto que melhor permite distinguir a argumentação da demonstração. Perelman (2000, p. 7) assinala que o tempo não cumpre papel algum na demonstração, entretanto, ele é fundamental para a argumentação, pois esta se insere no tempo porque é uma ação de indivíduos sobre outros: orador sobre interlocutor e vice-versa.
O filósofo e jurista de Bruxelas ao distinguir entre demonstração e argumentação ressalta que, inicialmente, a demonstração é desprovida de ambiguidade, enquanto a argumentação decorre no seio de uma língua natural, cuja ambiguidade não pode ser previamente excluída. Além disso, a demonstração – que se processa em conformidade com regras explicitadas em sistemas formalizados – parte de axiomas e princípios cujo estatuto é distinto do que se observa na argumentação.
Enquanto numa demonstração matemática, esses axiomas não estão em discussão, sejam eles evidentes, verdadeiros ou meras hipóteses, e por isso mesmo não dependem também de qualquer aceitação do auditório, na argumentação, a discutibilidade está sempre presente, já que o seu fim “não é deduzir consequências de certas premissas, mas provocar ou aumentar a adesão de um auditório às teses que se apresentam ao seu assentimento” (PERELMAN, 2000 p. 15-17). Pode-se, então, dizer que, na linha de pensamento perelmaniano, a diferença entre demonstração e argumentação surge ligada ao modo como nele se distingue a lógica tradicional da retórica.
Segundo Bertrand Russel in Perelman (2000, p. 57), “o homem racional seria simplesmente um monstro desumano”, pois é um ser unilateral, que funciona como uma máquina. Já o homem razoável não é sempre racional. Ele é influenciado pelo senso-comum ou pelo bom-senso e se esforça para fazer o que é aceito pelo seu próprio meio social e, se possível, por todos. Ele leva em consideração as mudanças das circunstâncias, a evolução social, a sensibilidade, o desenvolvimento da moral e os critérios modificáveis da decência, uma vez que “o razoável de ontem não é o razoável de hoje”.
O que é razoável modifica-se à medida que a Humanidade evolui. Um indivíduo razoável pode viver a qualquer momento com uma variedade de grupos, com diferentes ideais e filosofia, pois ele está preparado para viver num mundo pluralista, ao contrário do que é racional, o qual pode facilmente conduzir-nos a conclusões induzidas e socialmenteinadmissíveis; e quando isso acontece, Perelman (2001, p. 57) relata que se deve reavaliar todo o sistema. No Direito, ele prossegue a ideia de “razoável corresponde a uma solução equitativa”.
Por essa razão, o objeto da argumentação jurídica é visar à sustentação de uma tese, de tal modo que cada tese é passível de uma antítese, o que determina que as escolhas dos argumentos aspiram a superar ou a minimizar as fragilidades dos sentidos da linguagem e a reforçar os procedimentos de sustentação da tese, já que a verdade dos argumentos é sempre parcial, pois não há verdade absoluta.
Nessa linha de pensamento, afirma o teórico belga (PERELMAN, 2000, p.11): “Um argumento não é correto e coercitivo ou incorreto e sem valor, mas relevante ou irrelevante, forte ou fraco, consoante razões que lhe justificam o emprego no caso”. É por isso que o estudo dos argumentos, que nem o Direito nem as ciências humanas nem a filosofia podem dispensar, não se prende a uma teoria da demonstração rigorosa, concebida a exemplo de um cálculo mecanizável, mas a uma teoria da argumentação.
Portanto, existem decisões ou teses com fundamentos mais fortes, ou seja, com argumentos melhores que as sustentam, e que esses fundamentos, que nada mais são que argumentos, sustentam uma tese ou um posicionamento, mas não lhe comprovam a verdade, pois existem, no Direito, dois posicionamentos totalmente distintos, sem que em qualquer deles haja erro, razão por que se afirma que a verdade de cada um é sempre parcial.
A argumentação jurídica (2000, p. 15-17), portanto, centra-se inteiramente não na ideia de verdade, mas na de adesão, por isso o objeto de tal teoria é o estudo das técnicas discursivas que permitem provocar ou aumentar a adesão dos espíritos às teses que se lhes apresentam.
É essencial, pois, que se conheça o auditório, saber quais são as teses que, se supõe, ele aceitaria, e que poderiam servir de premissas para a argumentação que o advogado se propõe a desenvolver, ou seja, que a Nova Retórica provoca o jurista a não pensar os fatos dentro dos ditames da lei, mas a pensá-los como ocorrências suscetíveis de valoração, ao lado de normas igualmente suscetíveis de valoração, justapostas a provas também suscetíveis de valoração que se aconchegam em argumentos favoráveis ou contrários aos interesses em jogo em determinada causa, mas que, de qualquer forma, revelam-se por meio do discurso e da prática judiciária.
Na realidade, o advogado (ou judiciário) busca a adesão de um auditório mais amplo do que a comunidade jurídica em si, procurando atingir a sociedade como um todo. Esse fato dialoga com o que Perelman (2000, p. 22) denomina auditório universal, isto é, aquele que não é persuadido apenas por argumentos jurídicos, mas que demanda uma fundamentação mais próxima da realidade social.
Dessa maneira, é impossível cogitar-se validamente do Direito sem pensar na sociedade sobre a qual atua e de que recebe o influxo. Direito e sociedade são realidades historicamente situadas, mutáveis e perfectíveis, em que de modo necessário se inscreve o homem, interagindo com seu semelhante na construção da vida cultural.
Sendo assim, mediante instrumentos retóricos (recursos e técnicas argumentativas), os advogados privilegiam determinados valores e fatos, em detrimento de outros. Criam-se, portanto, relações aparentes de causa e efeito, isto é, entre situações de fatos e normas jurídicas, por meio de argumentos quase lógicos, que se aproximam da lógica formal, mas não fazem parte dela, pois criam verdades formais, num modelo lógico argumentativo que admite questionamento, à medida que haja carência de suporte argumentativo (PERELMAN, 2000, p. 50).
A argumentação das partes, segundo o teórico em estudo, tem como objetivo ou efeito fornecer ao juiz as razões que lhe motivarão a decisão, razões que ele considerará as melhores tanto para ele como para os juízes de apelação e de cassação que, eventualmente, teriam de apreciar sua decisão, e às quais terão de submeter-se as partes e opinião pública, que poderia exigir, eventualmente, uma modificação da legislação (PERELMAN, 2000, p. 504-505).
Além disso, o ato de provar fica assim indissociavelmente ligado a uma dimensão referencial que implica a consideração das condições concretas do uso da linguagem natural e da ambiguidade sempre presente nas noções vagas e confusas que integram aquela. Do que se trata agora é de realizar uma prova nas e para as situações concretas em que se elabora, em face às quais se apresenta como justificativa razoável de uma opção, pois, como diz o filósofo (PERELMAN, 2000, p. 80):
[...] a possibilidade de conferir a uma mesma expressão sentidos múltiplos, por vezes inteiramente novos, de recorrer a metáforas, a interpretações controversas, está ligada às condições de emprego da linguagem natural. O fato desta recorrer frequentemente a noções confusas, que dão lugar a interpretações múltiplas, a definições variadas, obriga-nos muito frequentemente a efetuar escolhas, decisões, não necessariamente coincidentes. De onde a obrigação, bem frequente, de justificar esta escolha, de motivar estas decisões.
O autor luta contra as ideias do direito natural e do positivismo. Busca, assim, traçar uma nova racionalidade. Segundo Alain Lempereu, que prefacia a obra Ética e Direto (2001, p. XV):
[...] o direito não é o lugar do irracional nem do racionalismo tal como é conhecido em ciência. O meio termo proposto pela ‘Nova Retórica’ é o razoável e seu contraste, mais bem identificável por seus efeitos sociais, o desarrazoado. O filósofo de Bruxelas pleiteia, assim, que se leve em conta a atividade do direito, feita de debates, de trocas de argumentos e de questionamentos das ontologias assentes no real, no verossímil.
O realismo radical de Perelman tem condições de explicar a evolução no direito: é suscitada por uma dialética entre formalismo e pragmatismo, entre legislador e juiz. Para encontrar a solução mais adequada, o estatismo do prescrito legal é adaptado pelo dinamismo da decisão judiciária.
!ATENÇÃO
O verossímil seria um tipo de afirmação que admitiria o contrário; sua verdade não se submete à prova, mas postula o caráter de ser provavelmente verdadeira. Trata-se de um raciocínio, que provoca um efeito de verdade ou realidade, ou seja, algo é verossímil quando consegue provocar a representação de sua veracidade ou realidade.

Outros materiais