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SILVA Rodolfo Magno Araujo Da

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA - UFRR 
CENTRO DE COMUNICAÇÃO, LETRAS E ARTES VISUAIS - CCLA 
 DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
RODOLFO MAGNO ARAÚJO DA SILVA 
 
 
 
 
 
A VIABILIDADE DA CRIAÇÃO DE UMA REVISTA CULTURAL NO MERCADO DE 
BOA VISTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Boa Vista-RR 
2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
RODOLFO MAGNO ARAÚJO DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
A VIABILIDADE DA CRIAÇÃO DE UMA REVISTA CULTURAL NO MERCADO DE 
BOA VISTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Boa Vista - RR 
2011 
Trabalho de conclusão de curso apresentado 
como pré-requisito para a conclusão do Curso de 
Comunicação Social – Jornalismo da 
Universidade Federal de Roraima. 
 
Orientadora: Professora Sandra Gomes 
 
 
 
 
 
 
 
RODOLFO MAGNO ARAÚJO DA SILVA 
 
 
 
 
 
A VIABILIDADE DA CRIAÇÃO DE UMA REVISTA CULTURAL NO MERCADO DE 
BOA VISTA 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado como pré-requisito para a conclusão 
do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal de Roraima, 
defendida dia 22 de junho de 2011 e avaliada pela seguinte banca examinadora: 
 
__________________________________ 
Prof.ª Msc Sandra Gomes 
Orientadora / Curso de Comunicação – UFRR 
__________________________________ 
Prof.ª Dra Maria Schirley Luft 
Membro Interno 
____________________________________ 
Prof.ª Dra Sônia Costa Padilha 
Membro Interno 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha mãe, Rita, que nunca deixou 
que me faltasse nada, principalmente 
amor; 
Ao meu pai, Sérgio, que mesmo 
distante sempre esteve presente me 
apoiando; 
E à minha avó, Gessina, que me 
ensinou a simplicidade. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço, primeiramente, à fonte do universo que me possibilitou essa valiosa 
oportunidade para experimentar a vida e assim evoluir sustentado em minhas 
próprias bases. 
Aos colegas de curso de todas as turmas às quais fui inserido e acolhido durante 
toda essa jornada. 
Aos professores do curso de Comunicação Social – Jornalismo da UFRR, os quais 
reservaram a mim parte do seu valioso conhecimento tanto na área acadêmica como 
profissional. 
À secretária do Departamento de Jornalismo da UFRR, Eulina, por tão carinhoso 
tratamento e presteza, cujo brilho sempre me guiou na solução dos eventuais 
problemas. 
À jornalista Andrezza Trajano, pelo importante auxílio durante a realização deste 
trabalho. 
Ao Comandante Geral da PMRR, coronel Gleisson Vitória da Silva, ao meu chefe 
imediato, tenente-coronel Magalhães José Damasceno, Chefe de Gabinete e da 5ª 
Seção do Estado Maior Geral da PMRR, bem como aos companheiros de farda do 
Gabinete do Comando Geral, por terem me ajudado nesse período de conclusão de 
curso, compreendendo a importância desse processo e do conhecimento adquirido 
para a minha evolução pessoal e profissional. 
E, em especial, à professora mestre Sandra Gomes do Departamento de Jornalismo 
da UFRR, por ser a luz que iluminou os meus passos não só durante a realização do 
presente trabalho, mas também acerca de toda a atividade profissional jornalística, 
sua importância no contexto social e seu papel fundamental para o esclarecimento 
da sociedade a respeito dos fatos e costumes que a cercam. Grato. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Nós humanos fazemos parte da natureza. Comemos, bebemos, respiramos, temos filhos, 
envelhecemos. (...). Porém apenas os seres humanos são capazes de produzir cultura”. (SCHMIDT) 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho procurou investigar a viabilidade de criação de uma revista 
cultural no mercado de Boa Vista - capital do Estado de Roraima - por meio de 
entrevistas semi-estruturadas e aplicação de questionários de forma quantitativa e 
qualitativa. Entendemos que a cultura local é extremamente rica, fruto de uma raiz 
indígena-amazônica diversificada e da miscigenação com outras culturas 
impulsionadas pelas políticas de colonização da região norte, que foram implantadas 
pelo governo brasileiro a partir dos anos 1930. O conteúdo também aborda a 
importância da discussão crítica sobre a cultura de uma sociedade, objetivando à 
reflexão e o esclarecimento do mundo ao qual estamos inseridos. Com o constante 
crescimento da industrial cultural e dos modelos de produção de massa, é 
necessário que os veículos de comunicação convidem os seus leitores para a 
análise a respeito dessa temática, cumprindo assim sua função social de fomentar a 
reflexão sobre os fatos do cotidiano de um povo. 
 
Palavras chave: Cultura, Jornalismo, Revista, Pesquisa, Boa Vista, Roraima 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
This study aimed to investigate the feasibility of creating a cultural magazine in the 
market of Boa Vista - Roraima state capital - through semi-structured interviews and 
questionnaires in a quantitative and qualitative. We understand the local culture is 
extremely rich, thanks to a diverse Amazonian indigenous roots, and mixing with 
other cultures driven by policies of colonization of the northern region, which was 
implemented by the Brazilian government from the year 1930. The content also 
addresses the importance of critical discussion about the culture of a society, seeking 
to reflect and explain the world in which we operate. With the steady growth of 
cultural and industrial models of mass production, it is necessary for the media to 
invite your readers to the analysis regarding this issue, thus fulfilling their social 
function to encourage reflection on the facts of everyday life for a people. 
 
Keywords: Culture, Journalism, Magazine, Research, Boa Vista, Roraima
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
GRÁFICO 1 ............................................................................................................... 36 
GRÁFICO 2 ............................................................................................................... 30 
GRÁFICO 3 ............................................................................................................... 31 
GRÁFICO 4 ............................................................................................................... 31 
GRÁFICO 5 ............................................................................................................... 41 
GRÁFICO 6 ............................................................................................................... 42 
GRÁFICO 7 ............................................................................................................... 43 
GRÁFICO 8 ............................................................................................................... 44 
GRÁFICO 9 ............................................................................................................... 45 
GRÁFICO 10 ............................................................................................................. 46 
GRÁFICO 11 ............................................................................................................. 47 
GRÁFICO 12 ............................................................................................................. 48 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURASFigura 1.....................................................................................................................28 
Figura 2.....................................................................................................................32 
Figura 3.....................................................................................................................34 
Figura 4.....................................................................................................................37 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
Introdução ................................................................................................................. 12 
Capítulo I .................................................................................................................. 14 
1.1 A cultura em sociedade ....................................................................................... 14 
1.1.2 O surgimento da cultura brasileira .................................................................... 15 
1.2 Jornalismo cultural em sociedade ....................................................................... 17 
1.2.1 Jornalismo e produção cultural ......................................................................... 18 
1.3 Revistas ............................................................................................................... 20 
1.3.1 Breve história das revistas ............................................................................... 20 
1.3.2 Revistas como medição de desenvolvimento social ........................................ 21 
1.4 Metodologia empregada na pesquisa ................................................................. 23 
Capítulo II ................................................................................................................. 25 
Objetivos da pesquisa ............................................................................................... 25 
2.2 Porque revista ..................................................................................................... 25 
2.3 A formação da cultura roraimense ...................................................................... 27 
2.4 Breve comentário sobre o movimento Roraimeira .............................................. 29 
2.5 Boa Vista e movimentação cultural atual ............................................................ 29 
2.6 Revistas locais .................................................................................................... 32 
2.6.1 Revista diretrizes .............................................................................................. 33 
2.6.2 Revista Perspectiva Amazônica ....................................................................... 34 
2.6.3 Revista Somos ................................................................................................. 35 
2.6.4 Revista Sala de Cinema ................................................................................... 37 
2.7 Entrevista com jornaleiros proprietários e gerentes de revistarias ..................... 39 
Capítulo III ................................................................................................................ 40 
3.1 Entrevista com empresários ................................................................................ 40 
Conclusão ..................................................................................................................49 
Bibliografia .................................................................................................................51 
 
12 
 
INTRODUÇÃO 
 
A presente pesquisa tem como objetivo avaliar a viabilidade da criação de um 
novo veículo de comunicação em Boa Vista que tenha um foco totalmente 
direcionado à cultural local. Para isso foram utilizadas técnicas de entrevistas semi-
estruturadas com editores de revistas já criadas no mercado local e aplicação de 
questionários com características quantitativas e qualitativas ao empresariado local, 
visando descobrir se há interesse por parte da classe no investimento em uma 
revista que aborde de forma mais aprofundada a cultura roraimense. 
Ao longo desses anos, mesmo com o crescimento e com melhoria da 
qualidade do jornalismo roraimense, pouco se tem refletido e explorado sobre a 
riqueza e potencialidades da cultura de Roraima. Várias mídias sucumbem aos 
releases institucionais como mais uma forma de se manterem ativas, perdendo parte 
de sua liberdade de informação e incorporando ao produto jornalístico um conflito de 
interesses políticos que acaba por destruir sua essência. 
A escassez de revistas locais, que tratem de forma mais elaborada os 
acontecimentos cotidianos e formadores da história desse novo Estado, é falta que a 
sociedade roraimense não pode deixar passar despercebida. É a partir desse ponto 
que surge o interesse no Jornalismo de Revista. As oportunidades que as revistas 
proporcionam, seja pela profundidade das notícias, o seu reflexo histórico ou pela 
intimidade que possui com seu público, são peças-chave importantes na busca da 
atenção dos leitores para a reflexão e a construção de um futuro, além da 
identificação das características de um povo. 
Somando-se a essa mídia, temos o Jornalismo Cultural que traz consigo 
desde o seu princípio, com o surgimento da imprensa (PIZA, 2001), a crítica que, 
não apenas aos produtos culturais, impulsiona o debate a respeito das ações e os 
costumes de uma comunidade à qual o escritor está inserido. É perceptível em 
nosso contexto que não basta apenas investir em políticas de incentivo à cultura, 
sem haver uma profunda reflexão sobre o assunto. Assim, com uma introspecção 
social por meio da cultura, entenderemos nossas falhas e evoluiremos para um nível 
coletivo cada vez mais harmonioso. 
13 
 
 Essa preocupação faz parte da função social do jornalista de transmitir a 
maior quantidade de informações possível, de forma clara e coesa, para que o 
público, em seu próprio raciocínio, busque a melhor verdade acerca dos 
acontecimentos do nosso cotidiano. 
No entanto, como qualquer outra mídia, revistas são produtos de mercado de 
onde os profissionais tiram o seu sustento, e, para a criação desse projeto com tal 
significado, foi necessário realizar uma pesquisa entre os empresários, jornaleiros e 
editores de revistas ativas e inativas de Boa Vista a fim de verificar se é possível a 
auto-sustentabilidade do produto no mercado da capital. 
É importante destacar que Roraima é um Estado novo e distante dos grandes 
centros econômicos do país. Como tal, ainda sofre com o lento desenvolvimento e a 
falta de atrativos impede que empresas se instalem e invistam em projetos locais. A 
maior parte da população encontra-se na capital Boa Vista e sua maior fonte de 
renda vem de empregos públicos. Um cenário político instável contribui ainda mais 
para retardar o alvorecer de um lugar repleto de belezas e complexidades. 
Outro motivo que nos remete a reflexão sobre a temática são os produtos e 
formas provenientes da indústria cultural. No mundo atual, onde a produção se dá 
em larga escala, a oferta de objetos culturais ultrapassa a sua naturalidade, 
transformando-se em bens de consumo presos a modelos de criação baseados nos 
anseios da massa popular. É providencial que haja uma constante discussão sobre 
esses produtos para que a sociedade não confunda arte com entretenimento, 
mesmo sendo esses dois conceitos paralelos. 
 Levando-se em conta todos esses pontos, surgiu a idéia de se trabalhar a 
criação de uma revista que tratasse de forma mais elaborada as complexidades 
culturais e suas nuances dentro de um contextosocial miscigenado e em constante 
mutação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
Capítulo I 
 
1.1 A cultura em sociedade 
Há algum tempo, o significado dado à cultura era atrelado pelo senso comum 
à ação culta de elitismo, destinada apenas a uma pequena parcela da sociedade. O 
termo popular “aculturado” estava direcionado às pessoas possuidoras de 
conhecimentos diversos, que tinham acesso a livros, revistas e outras publicações 
pouco acessíveis. Ainda hoje, existem pessoas que tendem a caracterizar cultura 
como algo inatingível e, percebendo-a como mero acúmulo de conhecimento, 
perdem o interesse por sua essência. 
Com a globalização do conhecimento e a produção de cultura em larga escala 
- seja por meio das mídias na democratização cultural ou pelo avanço tecnológico e 
a produção industrial - um conceito mais claro sobre cultura passou a fazer parte do 
conhecimento da maioria. Em um determinado momento, o individuo percebe-se 
parte de um conjunto de informações que são de extrema importância para o 
entendimento do homem e o meio em que vive. 
A diversidade cultural, a qual todos pertencemos, torna especial toda ação 
consciente, o que gera uma inclusão social, onde um indivíduo, em seus afazeres 
simples e rotineiros, determina a identidade de um grupo pertencente a um lugar, 
espaço e tempo. As ações culturais humanas, em certo período, são provas reais do 
caminho percorrido pela humanidade e para onde esta se direciona. 
Cultura é um termo bastante abrangente, com vasta conceituação nos 
diversos campos da ciência. Em uma rápida busca pelo dicionário Aurélio, 
encontramos diversas conceituações próprias dessas variadas áreas do saber. Em 
seu sentido mais simples, cultura significa o ato de cultivar, um hábito constante e 
identificável. Na conceituação antropológica, encontramos maior afinidade com os 
anseios sociais dentro da temática. 
“O conjunto complexo dos códigos e padrões que regulam a ação humana individual 
e coletiva, tal como se desenvolvem em uma sociedade ou grupo específico, e que se 
manifestam em praticamente todos os aspectos da vida: modos de sobrevivência, normas 
de comportamento, crenças, instituições, valores espirituais, criações materiais, etc.”. 
(Dicionário Aurélio, programa que acompanha o livro) 
 
15 
 
Segundo Santos (1994, p. 21), os estudos sobre cultura se intensificaram na 
medida em que as relações entre as nações foram se tornando cada vez mais 
constantes. O autor apresenta uma conceituação que, simples, pode ser encontrada 
no cotidiano de cada um. 
“Por vezes se fala de cultura para se referir unicamente às expressões artísticas, 
como o teatro, a música, a pintura, a escultura. Outras vezes, ao se falar da cultura da 
nossa época ela é quase que identificada com os meios de comunicação de massa, tais 
como o rádio, o cinema, a televisão. Ou então cultura diz respeitos às festas e cerimônias 
tradicionais, às lendas e crenças de um povo, ou a seu modo de se vestir, à sua comida, a 
seu idioma. A lista pode ser ampliada.” (SANTOS, 1994, p. 22) 
Optamos por destacar o conceito descrito por Laraia (2009) que diz que 
cultural é “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a 
moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo 
homem como membro da sociedade”. 
Todas as ações comportamentais de um determinado grupo são 
denominadas cultura, sendo assim, classificar o assunto apenas como acúmulo de 
conhecimento, não deve passar apenas de uma forma comum e errônea de 
entendimento. 
 
1.1.2 O surgimento da cultura brasileira 
Por mais que o mundo esteja hoje se globalizando, formando uma única rede 
homogênea de pessoas e interesses, a cultura ainda determina a identificação das 
variadas etnias espalhadas pelo globo. No Brasil, um país continental por sua 
extensão territorial, a cultura é bastante rica e miscigenada formada das raízes de 
três outras fontes culturais possuidoras de suas próprias reinvenções: a européia, a 
africana e a indígena. (SODRÉ, 2003, p. 10) 
Com o processo de colonização, os litorais brasileiros foram os primeiros 
lugares a sofrerem uma mistura de culturas. As tradições indígenas se mesclaram 
aos costumes dos navegadores europeus e às características dos escravos 
africanos. Esse processo aconteceu praticamente em todas as Américas, sendo 
Portugal, Espanha e Inglaterra os países europeus que mais influenciaram essa 
mistura. Sodré (2003, p. 12) explica que a partir disso decorre um processo que a 
Sociologia empírica batizou, e a Antropologia consagrou, como “aculturação”. 
16 
 
“Há que aceitar a heterogeneidade de cada uma delas... Na elaboração da etapa 
anterior a cultura de cada uma influi, necessariamente, o regime ao qual estavam 
submetidas: o índio vivia no regime da comunidade primitiva, em organização tribal; o 
português, em regime feudal; o africano, no regime da comunidade primitiva ou no 
regime escravista. Cada uma dessas correntes humanas carreia essa cultura anterior 
para o Brasil”. (SODRÉ, 2003, p. 11) 
O autor divide ainda a origem do desenvolvimento da cultura no Brasil em três 
etapas de onde o país parte da fase inicial em que, praticamente, não há camada 
social intermediária entre senhores ou servos para uma fase em que a classe 
dominante, no Brasil, é a burguesia, tendo desaparecido o escravismo, porém, 
permanecendo parcelas de população vivendo em relações pré-capitalistas: 
1ª Etapa: cultura transplantada anterior ao aparecimento da camada social 
intermediária, a pequena burguesia (período escravista ou feudal); 
2ª etapa: cultura transplantada posterior ao aparecimento da camada social 
intermediária, a pequena burguesia (período escravista ou feudal); 
3ª etapa: surgimento e processo de desenvolvimento da cultura nacional, com 
alastramento das relações capitalistas (burguesia). (SODRÉ, 2003, p. 14) 
 A partir de 1930, com as políticas populistas e de industrialização no país, as 
massas urbanas crescem e criam um estilo de vida distinto devido ao êxodo rural da 
época. Essa é uma nova fase de miscigenação das culturas das já existentes no 
Brasil. É também nesse período que se tenta criar uma cultura nacional partindo dos 
costumes populares. 
“A problemática da cultura popular tem sido uma questão política por que sempre 
esteve profundamente ligada a uma reinterpretação do popular pelos grupos sociais e á 
própria construção do Estado brasileiro”. (LOPES, 2005, p. 23) 
 
Até 1950, agências de fomento do Estado brasileiro tentam manter alguns 
tipos de arte que só sobrevivem com auxílio governamental, como a música clássica, 
enquanto a iniciativa privada trabalha basicamente com a cultura popular. Segundo 
Lopes (2005, p. 25) é a partir desse ponto que a indústria cultural brasileira encontra 
não só o “público consumidor de certos bens culturais”, mas também formas de 
produção cultural que estão presentes nos próprios emissores, ou seja, a classe 
popular brasileira. 
17 
 
1.2 Jornalismo cultural em sociedade 
Jornalismo cultural é o ramo do jornalismo que tem por missão informar e 
opinar sobre a produção e a circulação de bens culturais na sociedade. 
Complementarmente, o jornalismo cultural pode servir como veículo para que parte 
desta produção chegue ao público, publicando crônicas, contos, poemas, fotografias 
não-jornalísticas, desenhos de humor e ilustrações, ou através da veiculação de 
trechos de livros, letras de música e reprodução de quadros e desenhos. (GOMES, 
2005, p. 8) 
Segundo Piza (2004), a história do jornalismo cultural teve início com os 
críticos literários e com o surgimento da imprensa. Nilson Lage (2006), em seu 
discurso sobre areportagem também relata esse surgimento não só do jornalismo 
cultural como o jornalismo em si. 
“Quando o jornalismo surgiu, no início do século do século XVII, o paradigma do 
texto informativo era o discurso retórico, empregado desde os tempos remotos para a 
exaltação do Estado e da fé. As línguas nacionais européias vinham surgindo, cada qual 
com seus grandes autores literários (Camões em Portugal; Cervantes e Quevedo na 
Espanha; Shakespeare e Milton na Inglaterra; Racine e Moliére na França) – e este era o 
padrão que se buscava imitar”. (LAGE, 2006, p. 9) 
Piza (2004) explica que no Brasil, o ramo cultural de jornalismo só teve início 
no final do século XIX com Machado de Assis. Outros escritores renomados da 
nossa história como Lima Barreto e Mário de Andrade também fizeram parte desse 
alvorecer como críticos culturais, escrevendo para publicações como o Diário de São 
Paulo e para revistas como O Cruzeiro. Com a evolução dos veículos de 
comunicação no início do Século XX, o assunto passa a ter maior destaque nos 
veículos de informação, porém, sempre dividindo espaço com outras editorias 
(mídias multitemáticas). 
O autor (PIZA, 2007) cita ainda em sua obra a importância das revistas e dos 
tablóides literários que surgiram nesse período e os bons resultados de sua junção 
com os assuntos e críticas literárias por sua relação artística. 
 “Quem continuou a desempenhar um papel fundamental no jornalismo cultural 
foram as revistas, incluindo na categoria os tablóides literários semanais e quinzenais. 
Em todo momento de muita agitação intelectual e artística do século XX, em toda a 
cidade que vivia a efervescência cultural, a presença de diversas revistas – com ensaios, 
18 
 
resenhas, críticas, reportagens, perfis, entrevistas, além de publicação de contos e 
poemas – era ostensiva”. (PIZA, 2007, p.19) 
 
1.2.1 Jornalismo e produção cultural 
O maior destaque do jornalismo cultural e sua importância para este trabalho 
encontra-se dentro de “seu valor relevante no desenvolvimento intelectual de uma 
sociedade, que discute sua história e seus costumes durante o cotidiano, abrindo 
portas para novas idéias”. (PIZA, 2007) 
No entanto, alguns pensadores entendem que, por meio da indústria de 
massa, os produtos culturais têm caminhado no sentido contrário à contribuição 
social, manipulando os consumidores através de seus próprios desejos, sob as 
fórmulas da produção cultural. 
O pensador marxista Walter Benjamin, da escola de Frankfurt, descreve esse 
fenômeno em seu livro: “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica”, que a 
arte, em tempos industriais, estava perdendo a sua “aura”, tornando-se produto para 
consumo, para consolo instantâneo, não mais para a reflexão ou perturbação. 
Nos dias atuais, as artes podem ser encontradas e adquiridas por todos os 
lados. Essa é uma caracteristica capitalista de transformar quaisquer tendências em 
produto de consumo. Adorno e Horkheimer - além de outros filósofos também 
provenientes da primeira geração da Escola de Frankfurt - (1947) já ensaivam sobre 
essa “Indústria Cultural” na obra Dialética do Esclarecimento onde, segundo os 
autores, a cultura transformou-se em mercadoria servindo às massas apenas como 
entretenimento e diversão. Outros pensadores também discordam da ação de 
democratização cultural, alegando sua a banalização na criação da cultura de 
massa, que visa atender a interesses mercadológicos e econômicos. 
Para Lopes (2005, p. 18), a cultura de massas, por ser a forma histórica em 
que a cultura se organiza, concomitantemente às fortes tendências de 
homegeinização que põe em marcha, repõe as distinções sociais em outro patamar, 
reproduzindo e produzindo novos hábitos de classe. 
Já Daniel Piza, (2007) defende a democratização da cultura para que ela 
tenha condições de chegar a todos, mas alerta sobre o dever do jornalismo em 
fomentar a reflexão e o senso crítico sobre toda a produção cultural, já considerando 
as teorias contra a indústria cultural de massa. O jornalista vai mais além e relata 
19 
 
que as críticas dentro desta modalidade de jornalismo ultrapassam a mera avaliação 
para o consumo de qualquer elemento cultural, levando o leitor a uma reflexão 
acerca do meio ao qual está incluído. 
“Seu papel, como já dito, nunca foi apenas o de anunciar e comentar as obras 
lançadas nas sete artes, mas também refletir (sobre) o comportamento, os novos hábitos 
sociais, os contatos com a realidade política-econômica da qual a cultura é parte ao 
mesmo tempo integrante e autônoma”. (PIZA, 2004, p. 57) 
Analisa-se, a partir desse ponto que, com os constantes apelos da indústria 
pelo mercado da cultura de massa - tema também contido e explicado em Dialética 
do Esclarecimento1 – é necessária a intensificação da crítica para que a arte 
realmente não perca sua característica reflexiva e se transforme apenas em 
produtos banais de entretenimento. 
Coutinho (2005, p. 40) explica que os mesmos direitos e liberdades que têm o 
criador de um elemento cultural em produzir sua obra, têm o crítico cultural em suas 
avaliações sobre o resultado dessa obra. 
“A mais ampla liberdade de criação (cultural) tem como contrapartida necessária a 
mais ampla liberdade de crítica: se só ao criador cabe, em última instância, definir os 
conteúdos e as formas de sua criação... ao crítico cultural cabe o direito de exercer a sua 
plena liberdade de avaliar – em nome dos critérios que considerar válidos – os resultados 
concretos dessa criação. É evidente que a prática dessa dupla liberdade, de criação e de 
crítica, implica de ambas as partes a possibilidade do acerto do acerto ou do fracasso (com 
todas as suas gramas intermediárias). Mas a decisão quanto a isso não pode, em nenhum 
caso, depender de outra instância que não seja a própria dialética da vida cultural, na 
pluralidade de suas orientações e tendências.” (COUTINHO, 2005, p. 40) 
Observando toda essa complexidade que envolve a temática cultural, 
percebe-se o quão importante é a reflexão sobre o assunto e como essa reflexão 
pode contribuir para a evolução de uma sociedade, que busca entender suas 
atitudes diante de seu passado e futuro. Com a capacidade de identificação e 
valorização das caracteristicas diversificadas das comunidades que caminham sobre 
este planeta, a crítica cultural pode ser um caminho para que as sociedades 
evoluam e se prepararem para o alvorecer de novos tempos. Nesse ponto, uma 
mídia que se aprofunde no tema pode contíbuir. 
 
1
 Tema pode ser encontrado na Obra Dialética do Esclarecimento - ADORNO, Theodor W; HORKHEIMER, 
Max. (1985), Dialética do Esclarecimento. Tradução de Guido Antonio de Almeida, Rio de Janeiro, 
Zahar Editores. 
20 
 
1.3 Revistas 
De acordo com Scalzo (2006, p. 11) uma revista é um veículo de 
comunicação, um produto, um negócio, uma marca, um objeto, um conjunto de 
serviços, uma mistura de jornalismo e entretenimento. Nenhuma das definições 
acima está errada, mas também nenhuma delas abrange completamente o universo 
que envolve uma revista e seus leitores. 
Dada citação nos prepara para o conhecimento de um grande espaço que é o 
mundo das revistas. Hoje, pode-se encontrar de tudo nelas, desde assuntos 
dedicados totalmente a religião até exemplares segmentados a diversos assuntos 
caracterizando-se uma mídia multitemática. 
No entanto, ainda são bastante escassas as pesquisas a respeito desse tipo 
de mídia. Poucos autores dedicaram-se ao esclarecimento desse item jornalístico e 
sua imensa contribuição para a imprensa mundial, o que se reflete nas academias 
de jornalismo. 
 
1.3.1 Breve História das revistas 
A história mostraque o surgimento das revistas traz consigo uma ideologia 
que a identifica e identifica o seu público. O desenvolvimento intelectual da 
localidade onde se instala também cresce devido às oportunidades que as pessoas 
têm em divulgar suas idéias e refletir sobre os assuntos tratados de forma mais 
profunda. 
Scalzo relata que a primeira revista de que se tem notícia foi publicada em 
1663, na Alemanha, e chamava-se Erbauliche Monaths-Unterredungen (Edificantes 
Discussões Mentais), que tinha todas as características de um livro, todavia, só foi 
considerada revista, porque continha vários artigos sobre um mesmo assunto: 
teologia. 
O termo magazine só surgiu no ano de 1931, na Inglaterra, quando foi 
publicada a The Gentleman’s Magazine, que era inspirada nos grandes magazines – 
lojas que vendiam um pouco de tudo – e reunia vários assuntos e os apresentava de 
forma leve e agradável. (Scalzo, 2006, p. 19) 
A revista, como produto de consumo, sempre esteve ligada ao 
desenvolvimento cultural, industrial e econômico de um país. No Brasil, as primeiras 
revistas iniciaram com a chegada da corte portuguesa e seus hábitos, em 1808. 
21 
 
A primeira publicação que se tem notícia em território brasileiro foi lançada 
com o nome de As Variedades ou Ensaios de Literatura, que abriu caminhos para 
futuros fenômenos editoriais como a revista O Cruzeiro, criada pelo jornalista Assis 
Chateubriand, a revista Realidade, além de diversas publicações atuais como Veja, 
Isto é, Época e Superinteressante. 
 
1.3.2 Revistas como medição de desenvolvimento social 
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC) no ano 
de 2010 registrou um avanço de 7% na circulação de revistas no país, segundo o 
portal Comunique-se. De acordo com Pedro Martins Silva, presidente do IVC, o 
avanço aconteceu devido ao bom momento econômico e, conseqüente, ao aumento 
do poder aquisitivo da população que fez o brasileiro comprar mais revistas. 
Comparando-se essa notícia, Scalzo (2006, p. 20) nos lembra que as revistas 
são como um espelho do desenvolvimento cultural e educacional de uma 
comunidade. A autora cita um exemplo em que as revistas começam a ganhar os 
EUA na medida em que o país se desenvolve, o analfabetismo diminui, cresce o 
interesse por novas idéias e conseqüentemente a necessidade de divulgá-las. 
Antigamente, o acesso aos livros era mais difícil do que é hoje. E as revistas 
atuavam como um meio termo entre os livros e as mídias de informação. Ainda nos 
dias atuais as revistas ajudam na formação e educação de grandes fatias da 
população de forma específica dependendo da segmentação da publicação. 
 
 
1.3.3 Vantagens 
A maioria das revistas são semanais, quinzenais ou mensais. Diferentemente 
dos jornais diários, as revistas possuem mais tempo para o fechamento da edição 
(deadline), o que acarreta uma maior elaboração das notícias e uma pesquisa com 
maior profundidade e clareza. Outro ponto positivo das revistas está na intimidade 
que elas têm com os seus leitores. O público desse segmento também tem maior 
acesso à estrutura da revista, podendo indicar mudanças ou até mesmo sugerir a 
criação de uma nova coluna para as próximas edições. 
22 
 
Marília Scalzo (2006), mais uma vez, lembra que as revistas são feitas com 
papel de qualidade e um recurso gráfico e artístico que as outras mídias do gênero 
não possuem, o que garante a durabilidade da mídia. 
“Não dá para esquecer também que revistas são impressas e o que é impresso, 
historicamente, parece mais verdadeiro do que aquilo que não é [...] é certo que jornais e 
revistas venderão muito mais no dia e na semana seguintes – eles servem para confirmar, 
explicar e aprofundar a história já vista na tevê e ouvida no rádio”. (SCALZO, 2006, p. 13) 
Para os jornalistas de revista, também existem muitas vantagens. Enquanto 
os profissionais dos veículos diários estão constantemente correndo contra o tempo 
para executarem as suas pautas - o que influencia no resultado final de suas 
produções - em uma revista há mais tempo para maior coleta de dados e pesquisa, 
gerando maior profundidade dos textos produzidos. 
“É exatamente essa característica que diferencia o trabalho do jornalista que 
trabalha em revista. Quem trabalha em jornal, tevê, rádio ou Internet tem uma maneira 
peculiar de pensar, está condicionado para responder mais rápido aos fatos. A mudança 
de sintonia e de ritmo que deve, obrigatoriamente, ocorrer na cabeça de um jornalista 
que, depois de trabalhar num jornal, vai bater ponto numa revista nem sempre é óbvia ou 
fácil de assimilar.” (SCALZO, 2006, p. 42) 
 
 
1.3.4 Desvantagens 
O calcanhar de Aquiles das revistas são os custos de sua produção. Por 
conterem consideráveis recursos visuais e qualidade material, a impressão acaba 
por encarecer o produto. 
A maior parte das revistas tem periodicidade semanal ou mensal, 
diferentemente dos jornais, programas de TV e rádio, além de outros veículos 
digitais que possuem característica diária. Esse fator é relevante para empresários 
que vêem nos veículos diários maior publicidade de seus produtos. O baixo custo 
para publicidade nesses gênero de mídias também atrai as empresas. 
 “Anúncios na tevê são melhores, pois alcançam mais pessoas. O mesmo 
anuncio em uma revista atinge um número bem menor de pessoas com preços quase iguais 
aos da tevê, devido à sua especialidade no design e complexidade de entretenimento”. 
(SCALZO, 2006, p. 16) 
 
 
23 
 
CAPITULO II 
 
 
1.4 Metodologia empregada na pesquisa 
No que diz respeito às investigações sociais, Gil (2010, p. 26 e 27) explica 
que existem dois tipos de pesquisas na área: a pura e a aplicada. Enquanto “a 
pesquisa pura busca o progresso da ciência” a pesquisa aplicada preocupa-se com 
a aplicação, utilização e conseqüências práticas dos conhecimentos: - “Sua 
preocupação está menos voltada para a aplicação imediata numa realidade 
circunstancial” afirma. (GIL, 2010, p. 26 e 27) 
Dada a natureza da problemática da presente pesquisa, seguimos a segunda 
opção descrita pelo autor, utilizando as técnicas de entrevistas focalizadas e 
entrevistas semi-estruturadas com editores de revistas locais e proprietários de 
revistarias, bem como questionários de caráter qualitativo e quantitativo com 
empresários locais de ramos diversificados. Muitos autores consideram a entrevista 
como a técnica por excelência na investigação social, tendo valor semelhante ao 
tubo de ensaio na Química e ao microscópio na Microbiologia. (GIL, 2010, p. 109 e 
110) 
Tanto aos editores quanto aos empresários, foram formuladas perguntas a fim 
de verificar especificamente a viabilidade de criação do projeto na forma econômica 
e prática. Essa delimitação se deu para que o desenvolvimento da pesquisa não se 
estendesse, visto sua ampla conceituação sobre a temática cultural. 
Aos empresários, a aplicação de questionário se deu por vantagens como 
rapidez em atingir um grande número de entrevistados, imparcialidade e anonimato 
de suas respostas (GIL, 2010, p. 110). Foi observando o que diz Goldenberg (2007, 
p. 62) que atentamos para a unificação da pesquisa quantitativa e qualitativa, sendo 
esse: 
“...o conjunto de diferentes pontos de vista, e diferentes maneiras de e analisar 
dados (qualitativa e quantitativamente), que permite uma idéia mais ampla e inteligível da 
complexidade de um problema”. O cruzamento de informações de ambas as características 
permite um maior confiabilidade e permite investigar diferentes questões que venham a 
surgem dentro da pesquisa. (GOLDENBERG, 2007, p. 62) 
24 
 
Como foi visto nos temas anteriores, as funções sociais desempenhadas pela 
culturae pelo jornalismo são extremamente necessárias à saúde de uma sociedade 
que vive sob um regime capitalista e, conseqüentemente, sob as ofertas 
intermináveis da indústria cultural. É importante fomentar o senso-crítico da 
população para não se tornarem prisioneiros de uma produção, porém, sem perder 
as oportunidades da democratização cultural. 
Unindo todo esse esforço às características intimistas, estéticas e de 
profundidade da mídia revista, estaremos seguindo a função social do jornalismo 
que é contribuir com a cidadania, a dignificação e a evolução de uma sociedade. É 
por meio da informação veraz, clara e libertadora que atingiremos esse objetivo 
maior da profissão. 
Para a criação deste projeto – uma revista cultural – é necessária a 
investigação da viabilidade do empreendimento como parte de um mercado ao qual 
o jornalismo também está contido. Visto o paradigma científico das comunicações 
em estudo dos fenômenos de massa (LOPES, 2005, p. 36), buscamos verificar a 
história das revistas já criadas em Boa Vista por meio de entrevistas aos seus 
respectivos editores, obtendo informações empíricas a respeito do período em que 
estiveram presentes no mercado. Alguns jornaleiros também foram questionados 
sobre a intensidade de venda das revistas que atualmente compõem suas vitrines. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
2.1 Objetivos da pesquisa 
O jornalismo em Roraima nasceu antes mesmo da transformação do Território 
Federal em Estado. Na sua história, três tipos de mídias se destacaram: o jornal 
impresso, o rádio e por último a TV. Diversas empresas e programas foram criados 
e, após algum tempo em funcionamento, desfeitos para dar origem a outros 
produtos, mas sempre nos mesmos difusores. 
 Durante o seu processo de criação, o jornalismo roraimense esteve mais 
focado no jornal impresso, o que, inclusive, é perceptível também na formação de 
alunos do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Roraima 
(UFRR), com habilitação em jornalismo. Tal fator se dá pelo baixo custo de produção 
dos jornais e preços baixos de publicidade. 
É importante destacar que Roraima é um Estado novo e distante dos grandes 
centros econômicos do país. Como tal, ainda sofre com o lento desenvolvimento e a 
falta de atrativos impede que empresas se instalem, investindo em projetos locais. A 
maior parte da população encontra-se na capital Boa Vista e sua maior fonte de 
renda vem de empregos públicos. Um cenário político instável contribui ainda mais 
para retardar o alvorecer de um lugar repleto de cultura, belezas e complexidades. 
Diante do contexto, sempre houve uma carência local por notícias em 
profundidade que explicassem melhor os acontecimentos, a fim de gerar discussões 
sobre os fatos para esclarecer melhor a população. É nessa base que o jornalismo 
se sustenta: informar a sociedade para que esta desenvolva o senso crítico e 
dignifique sua coletividade. 
 
2.2 Por que revista? 
A escassez de revistas locais, que tratem de forma mais elaborada os 
acontecimentos cotidianos e formadores da história desse novo Estado, é falta que a 
sociedade roraimense não pode deixar passar despercebida. As oportunidades que 
as revistas proporcionam, seja pela profundidade das notícias ou pela intimidade que 
atinge em seus leitores, são fatores importantes para a construção do futuro e das 
características de um povo e sua cultura. 
Roraima possui vasto campo para a criação de uma revista com abordagem 
cultural, pois, além de ser um Estado formado por imigrantes e miscigenados, possui 
uma história indígena-cultural rica e bastante abrangente. Existe uma identidade 
26 
 
artística muito forte com enfoque na cultura indígena e o seu maior exemplo é o 
movimento da década de 80, a Roraimeira (OLIVEIRA; WANKLER; SOUZA; 2009, 
p.21). Teatro, artistas plásticos, pintores, escultores e artesãos estão por toda parte 
lembrando que a cultura pode ser um ponto de partida para a construção de uma 
sociedade próspera e saudável. 
 No entanto, a grande incógnita surge a partir do questionamento a respeito 
da viabilidade da criação desse projeto. Revista é uma mídia cara devido ao seu alto 
custo de produção que se reveste em um caráter atrativo, colorido e com design 
altamente especializado. A economia roraimense está longe de ser considerada 
estável e promissora. Há muitos anos, a renda da população vem dos serviços 
públicos nas esferas federal, estadual e municipal, caracterizando a economia do 
contracheque. A existência desse fator econômico é que faz surgir o interesse em 
uma pesquisa para avaliar se é possível e viável criar um projeto gráfico como uma 
revista que pode influenciar visivelmente a vida de uma comunidade. 
Para verificar essa viabilidade, foram aplicados questionários no comércio 
local, com o objetivo de descobrir se os empresários têm ou não interesse em 
vincular a sua marca a esse projeto. Caso havendo resultados positivos, tal fator 
significaria boa parte da independência do projeto. Além desse ponto, o questionário 
visa identificar a relação do segmento empresarial como anunciante, detectando se 
há ou não política e verba publicitária constante ou se é realizado de forma pontual, 
através de demandas sazonais. 
 A fim de verificar também a experiência de outros projetos locais de mesma 
característica, foram feitas entrevistas semi-estruturadas com editores e proprietários 
de bancas de revista locais. Entendemos que o resultado dessa coleta de 
informações seria extremamente útil para a criação do projeto. 
 
2.3 A formação da cultura roraimense 
Roraima, assim como a maioria dos Estados da região Norte, possui a maior 
parte de sua cultura ligada às raízes indígenas, no entanto, outras identidades 
culturais uniram-se às já existentes e formaram uma única expressão cultural, 
própria da região. 
A migração de pessoas para o Estado, principalmente do nordeste do país, 
tem sido fator relevante para a formação da cultura local. Essa migração tem 
27 
 
acontecido, em boa parte, devido às políticas públicas de colonização e povoamento 
fomentadas pelo governo brasileiro a partir dos anos 30 (Era Vargas) e com o 
surgimento de grande movimentação de migrantes em decorrência do garimpo nos 
anos 1980. Segundo Vieira (2008, p.19), desde o período colonial (1500-1822), a 
atividade agrícola foi utilizada como estratégia de povoamento e de desenvolvimento 
sócio-econômico. 
“Foram criadas inúmeras leis e órgãos públicos específicos para viabilizar a 
colonização agrícola do País. Ainda hoje essa estratégia é mantida pela administração 
pública brasileira”. (VIEIRA, 2008, p. 19) 
Roraima ainda possui uma das culturas indígenas mais ricas do País. São 
dez etnias indígenas (BENTO, Pedro, 2008, p. 27, 28) espalhadas por todos os seus 
224.301,040 Km2 (IBGE, 2010) de extensão territorial, e com uma população total 
de aproximadamente 36 mil índios – a 3ª maior população indígena do Brasil -, 
segundo informações do site do Conselho Indígena de Roraima (CIR). 
As dez etnias indígenas citas são: Macuxí, Wapichana, Taurepang, Ingaricó, 
Ye’kuana, Yanomami, Patamona, Sapará, Wai Wai e Waimiri Atroari. Das 
populações indígenas citadas, destaca-se a Macuxí com aproximadamente 23.433 
habitantes, instalados em áreas de lavrado, montanhas e ás margens dos rios no 
nordeste de Roraima. Por ser a principal etnia indígena do Estado, comumente as 
pessoas nascidas em solo roraimense são chamadas de Macuxí. (CARVALHO, 
2008, p. 31) 
Na figura 08 temos um exemplo da produção cultural das populações 
indígenas espalhadas pelo Estado e em qual tipo de arte cada uma é especializada.28 
 
Figura 1 
 
 
 É importante destacar que Roraima faz fronteira com dois países da América 
do Sul, Guyana Inglesa e Venezuela. Cada um deles possuindo linguagem própria 
(Inglês e Castelhano, respectivamente) e carregando em si suas identidades 
culturais e influências. 
 
29 
 
2.4 Breve comentário sobre o movimento Roraimeira 
 Em meados dos anos 1980, houve um “boom” migratório em Roraima 
motivado pela busca ao ouro nos diversos garimpos abertos dentro do Estado. De 
acordo com Oliveira, Wankler e Souza (2009, p. 31), foram os conflitos entre 
indígenas e garimpeiros, resultantes dessa grande movimentação, que sensibilizou e 
inspirou os artistas a produzirem artes mais voltadas ás temáticas locais. 
 Diante da presença de pessoas com tantas formações culturais, dizia-se que 
Roraima não tinha uma identidade cultural definida. Em contradição a isso, alguns 
artistas locais começaram a introduzir em suas obras descrições sobre as 
características locais, dando ênfase à principal raiz cultural da região que é a 
identidade indígena. 
“O Movimento Cultural Roraimeira, iniciado na década de 1980, aglutinou músicos, 
escritores, dançarinos, poetas, fotógrafos, entre outras expressões artísticas voltados para 
construção cultural de uma identidade para o povo de Roraima, calcado, sobretudo, nos 
elementos da cultura e da paisagem natural existentes no estado”. (OLIVEIRA; 
WANKLER; SOUZA; 2009, p. 28) 
 De acordo ainda com os autores, o trio Roraimeira, formado pelos músicos 
Nêuber Uchôa, Zeca Preto e Eliakin Rufino, inspirado pela pluralidade cultural 
existente em Roraima, sobretudo, pelas fortes influências caribenhas, criaram um 
ritmo musical batizado de makunaimeira, sendo essa uma fusão de ritmos e 
instrumentos amazônicos e latinos. (OLIVEIRA; WANKLER; SOUZA; 2009, p. 29) 
 Atualmente, o movimento continua contribuindo para a formação dessa 
cultura local, desenvolvendo produções artísticas com enforque no contexto 
roraimense e amazônico. (OLIVEIRA; WANKLER; SOUZA; 2009, p. 35) 
 
2.5 Boa Vista e movimento cultural atual 
 Boa Vista é a capital do Estado de Roraima e possui uma longa história 
durante a ocupação portuguesa do extremo norte do Brasil. Segundo dados do site 
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade possui 284.313 mil 
habitantes, conforme informações do último senso realizado em 2010. Ainda de 
acordo com o site, o município apresenta um constante crescimento populacional 
desde os anos de 1991. Um ligeiro aumento de 1996 a 2000 mantém esse aumento 
constante até 2007, conforme gráfico exposto abaixo (IBGE). 
30 
 
 
 
 Percebemos também por meio de gráficos do Instituto de 2009, que a existe 
maior incidência e preocupação com a base da educação da população, 
concentrando a maior parte dos índices para o ensino fundamental. No entanto, 
ensino médio e pré-escola têm níveis bastante baixos tanto em matrícula quanto em 
ocorrência de docentes. 
 
31 
 
 
 
Como capital do Estado, concentra em si a maior movimentação financeira de 
Roraima e o maior índice populacional. Decorrente desse fato, Boa Vista possui 
também a maior movimentação cultural, onde durante todo o ano são realizados 
diversos eventos artísticos. 
 O órgão responsável pela realização desses eventos é a Fundação de 
Educação, Turismo, Esporte e Cultura da prefeitura de Boa Vista (FETEC). De 
acordo com o órgão, são realizados cerca de 10 grandes eventos durante o ano na 
capital, sendo o Boa Vista Junina o que mais se destaca pela grandiosidade da 
produção e pelo total de pessoas que atinge. Esses eventos têm um público total de 
375 mil participantes, onde, entre os maiores, são investidos mais de 2 milhões de 
reais. 
32 
 
 A FETEC, além de realizar, também investe na qualidade da divulgação do 
eventos, inclusive produzindo revistas institucionais como a revista Anarriê, que 
busca informar os leitores sobre o Boa Vista Junina. 
 
Figura 2 
 
 
2.6 Revistas locais 
Para uma análise não muito extensa, escolhemos três revistas que foram 
publicadas em períodos diferentes, a fim de analisar também as mudanças 
temporais de mercado e de público. A fim de obter também ensinamentos a respeito 
da produção de uma mídia desse gênero no mercado local. 
 
33 
 
2.6.1 Revista Diretrizes 
A primeira edição da revista Diretrizes foi publicada no dia 30 de dezembro de 
1990 pelo jornalista Laucides Oliveira. A mídia custava na época 350,00 Cruzeiros e, 
segundo o seu criador, era metade do valor das concorrentes nacionais, mas o 
preço variava muito devido às oscilações da inflação no país naquele ano. 
Diretrizes era impressa em Manaus (AM) com o tamanho de 26,5 x 20,5 cm 
no papel mais barato ou o que oferecesse melhores condições de custos - nesse 
caso o papel jornal em preto e branco - no entanto, possuía capa em estilo couchê 
com detalhes na cor verde. E a média de páginas da revista variava entre 30 e 70 
páginas, dependendo do período publicação. 
Analisando algumas edições, percebemos que a revista não tinha uma 
periodicidade definida, circulando tanto de formal mensal quanto bimestral ou 
trimestral. A quantidade de espaço destinada aos anunciantes também variava de 
acordo sempre com as condições de venda da publicidade local. 
O conteúdo da revista era extremamente diversificado, contendo desde 
informações políticas até páginas sociais. Um detalhe a ser destacado do conteúdo 
de Diretrizes é que em algumas capas há a presença de ensaios fotográficos de 
mulheres da cidade. Segundo Laucides, essa era uma forma de valorizar a beleza 
feminina roraimense, mas também indica o uso de meios para chamar a atenção do 
leitor local. 
Impressiona a qualidade da revista, levando em conta que a produção total do 
produto (textos, fotos e diagramação) era feita somente pelo jornalista. 
Para Laucides, a maior dificuldade na produção da revista era a falta de 
mercado publicitário. “Naquela época tínhamos pouquíssimos empresários e o 
jornalista tinha que se virar”, diz o jornalista. 
A revista diretrizes continuou sendo produzida até 1992 quando encerrou 
suas atividades devido a problemas com a distribuição e com os patrocinadores. “A 
Diretrizes não foi a primeira/pioneira revista, mas foi a primeira a cumprir o seu papel 
de revista”, acrescenta o editor. 
 
 
 
34 
 
Figura 3 
 
2.6.2 Revista Perspectiva Amazônica 
A revista Perspectiva Amazônica foi criada por volta do ano 2000 e pertencia 
ao grupo Folha de comunicação que buscava criar mais um meio de informação 
além do seu jornal diário (Folha de Boa Vista) para fazer parte da empresa. A mídia 
durou apenas um ano e oito meses por conta de um aumento nos custos de 
produção, que praticamente duplicaram, tornando o preço final da publicação 
inviável para a continuação do projeto. Para a distribuição das revistas, foi montado 
35 
 
um mapa das bancas da cidade e algumas pessoas foram contratadas para fazer 
esse serviço. Já na produção, trabalhavam cerca de sete pessoas, entre 
diagramadores, fotógrafos e jornalistas. 
De acordo com o editor da publicação na época, o jornalista Gelbson Braga, 
no início da produção a revista custava em torno de seis reais e era bem aceita no 
mercado. Ainda de acordo com o jornalista, sobravam poucas edições nas bancas. 
A revista continha em média 60 páginas coloridas e impressas em papel 
couchê no tamanho A4. Cerca de 40% do espaço da publicação era destinado aos 
anúncios, o que, no início, garantia a independência do produto. Sua tiragem era de 
três mil exemplares mensais. A Perspectiva Amazônica tinha caráter multitemático, 
ou seja, abordavadiversos assuntos referentes aos acontecimentos locais. O 
direcionamento ao público também era diversificado. 
O jornalista explica também que a produção de uma revista naquela época 
era muito mais trabalhosa e cara, pois não existiam os recursos que se tem hoje. 
“Nós trabalhávamos com fotolitos e câmeras fotográficas que ainda usavam filmes. 
Hoje em dia, a produção é muito mais prática, podendo ser trabalhada rapidamente 
e levada direto à gráfica para impressão”, relata. 
Outra dificuldade na produção de Perspectiva Amazônica estava no dead line 
da revista onde “muitas vezes os jornalistas atrasavam a entrega dos textos”, o que 
afetava a periodicidade, segundo Gelbson. 
Questionado sobre a viabilidade de produção de uma mídia local direcionada 
exclusivamente para a área de cultura, o editor acredita que é possível sim sua 
criação em Boa Vista, porém é preciso um buscar apoio e realizar um bom trabalho 
de divulgação da revista. “É preciso ir atrás de anunciantes e colaboradores que 
queiram vincular a sua marca a esse produto. Seria interessante vincular a revista a 
outro produto jornalístico, como fazíamos com a Perspectiva Amazônica. Algumas 
vezes nós encartávamos a edição junto ao jornal Folha de Boa Vista e assim 
divulgávamos nosso produto”, diz. 
 
2.6.3 Revista Somos 
A revista Somos é uma mídia mensal da Federação do Comércio 
(Fecomercio) com tiragem de 1.500 exemplares por publicação. Atualmente, é a 
36 
 
revista de maior destaque no mercado jornalístico de Boa Vista. Possui uma média 
de 70 a 80 páginas e é impressa em papel couchê e capa tratada com verniz. 
Segundo o editor da revista, o jornalista Pablo Sérgio, a revista existe há 
cinco anos, no entanto, a equipe considera o ano de 2009 como a data de 
surgimento da Somos como revista independente, pois, antes disso a mídia tinha a 
característica de ser uma Custom Publish (Revista Institucional) que publicava os 
releases das instituições ligadas ao FECOMÉRCIO de Roraima. 
Trabalham diretamente na realização da revista Somos cerca de quatro 
pessoas: dois jornalistas, um diagramador e um publicitário. O espaço destinado aos 
anunciantes e colaboradores chega a 60% devido ao fato de a revista vender 
espaços jornalísticos também. O editor explica que tanto a prefeitura de Boa Vista 
quanto o governo de Roraima investem em espaços na revista para divulgação de 
suas ações. 
A mídia tem como foco o empreendedorismo, porém, é também direcionada 
para a área social, tendo conteúdo diversificado. Pablo Sérgio relata que as maiores 
dificuldades na produção de Somos estão relacionadas à estrutura e deficiência de 
pessoas trabalhando na revista, levando em consideração a qualidade da 
publicação. 
Apesar da revista ser independente, os principais mantenedores da Somos 
são os poderes públicos por meio dos espaços publicitários e as instituições do 
sistema S (Sesc, Sesi, Senac, Senai, etc), que publicam releases na revista por meio 
de suas assessorias. 
Em relação à criação de uma revista cultural em Boa Vista, o editor acredita 
ser interessante, importante e necessária, porém, não se conseguiria um público 
muito amplo de interesse. “Temos grupos em efervescência como o do teatro, da 
música e folclóricos, mas ainda não são grupos muito protagonistas (grupos 
instáveis). A sociedade ainda não tem a consciência de valorizar sua cultura, mas se 
toda ela tivesse a oportunidade de ter uma revista sobre o assunto seria importante”. 
 
 
 
 
37 
 
Figura 4 
 
 
2.6.4 Revista Sala de Cinema 
A mídia é uma publicação bimensal produzida pelo acadêmico de jornalismo 
da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Bruno Almeida, e por Israel Mattos. A 
revista foi criada em 20 de junho de 2010 e possui um tamanho padrão A4 de 170g 
em papel couchê brilhoso. Sala de Cinema, como próprio nome deixa bem claro, é 
direcionada aos amantes do cinema, que encontram em seu conteúdo informações 
38 
 
sobre a produção cinematográfica em geral, resenhas de filmes e dicas sobre o 
assunto. 
De acordo com Bruno, a revista possui, atualmente, um total de 60 páginas, 
no entanto, a idéia é aumentar essa quantidade para 80 páginas por publicação. A 
distribuição da mídia é gratuita, o que influi diretamente em sua quantidade de 
espaço destinado aos anúncios e a estrutura da revista. “Às vezes, acontece de no 
último dia em que estamos fechando uma edição, um cliente nos liga e diz que quer 
fechar uma página. Então, somos obrigados a retirar alguma reportagem, e colocar o 
anunciante. Com isso, acabamos mudando também toda a ordem das matérias do 
periódico”, relata. 
O acadêmico explica ainda que a maior dificuldade na produção dentro do 
mercado local se deu na criação do produto. A desconfiança dos empresários em 
investir num produto novo e diferente, produzido por um editor jovem. Mas que, hoje, 
todas essas barreiras foram superadas e Sala de Cinema conta com excelente 
reputação entre os investidores e os interessados em relacionar sua marca ao 
produto informativo. 
Questionado sobre suficiência por parte de anúncios dos empresários, o 
editor afirma que no momento, para o mercado de local, os investimentos são 
suficientes. “Em nível de Boa Vista, e como são apenas duas pessoas. Sim, é 
suficiente. Porém, como queremos crescer e fazer um trabalho ainda mais diferente 
é preciso uma participação maior. Porém, o mercado empresarial em Boa Vista é 
limitado. Diferente de Manaus, onde em apenas uma hora, durante uma de nossas 
visitas, três grandes empresas da cidade, se interessam pelo projeto” afirma. 
A criação de uma revista cultural no mercado de Boa Vista, segundo Bruno: 
“Se for bem elaborada, diagramada e principalmente, impressa com qualidade, tem 
tudo para fazer sucesso sim. O público de Boa Vista está mudando. Eles estão querendo 
algo novo. Pena, que os empresários e pessoas do nosso meio de comunicação não 
percebem isso. A revista Sala de Cinema, quando começou, ninguém acreditava nela. Hoje, 
recebemos elogios e críticas positivas e negativas. Já recebemos diversas propostas de 
trabalhos devido ao trabalho que realizamos com ela. Porém, temos um sonho a ser 
alcançado, e sonho não tem preço. Em breve, estaremos lançando outra revista na cidade, 
para abranger todo o estado. E já temos grandes parceiros fechados. E também, estamos 
caminhando para o mercado de Manaus. Tudo isso, resultado de muito trabalho. No 
começo tudo é difícil, mas com o tempo os resultados aparecem. O importante é não 
desistir e nem se deixar entristecer pelas dificuldades que aparecem. Se fossemos desistir a 
39 
 
cada “não” que recebemos, a revista Sala de Cinema não existiria até hoje. Enfim, tudo é 
válido, é mercado existe pra isso. Basta ter forca de vontade e muita determinação!”. 
 
 
2.7 Entrevistas com proprietários e gerentes de revistarias 
 Em uma rápida entrevista aos donos ou gerentes de algumas revistarias de 
Boa Vista – com um total de apenas três perguntas semi-estruturadas – pudemos 
identificar uma falta de política de distribuição e contato com esses empresários por 
parte das revistas locais. Um planejamento estratégico dos melhores pontos de 
vendas onde estão localizadas essas revistarias seria importante para a própria 
divulgação e oferta do produto. Conforme a entrevista, houve pontos de vendas 
onde os editores das revistas não ofereceram o seu material, não despertando o 
interesse dos proprietários das bancas e diminuindo o poder de alcance do produto. 
 Quanto ao índice de vendagem das revistas, os proprietários informam que, 
mesmo voltando algumas revistas, a saída tem sido boa, com a maioria das mídias 
vendidas. Alguns fatores como a baixa diversidadee oferta de revistas locais e a 
falta de divulgação contribuem para o retorno de alguns produtos. 
 Em relação à criação de uma revista cultural no mercado local, a maioria 
desses empresários acredita ser de interesse de seus clientes seja pela busca por 
informações de cunho local, seja pela grande movimentação cultural presente no 
Estado. “Acredito que uma revista com esse enfoque atrairia sim a atenção do 
público, pois a cultura, como um todo, está muito ativa, atualmente, no estado de 
Roraima e envolve um número de pessoas enorme”, afirma um dos proprietários. 
 
 
 
 
 
 
40 
 
CAPÍTULO III 
 
 
3.1 Pesquisas com empresários 
A presente pesquisa teve como preocupação investigar se o empresariado 
local teria interesse em anunciar sua marca em uma revista com enfoque cultural, 
viabilizando sua produção. Para isso, foram feitos questionários não identificados 
com perguntas quantitativas e qualitativas ao segmento em Boa Vista. 
Foram aplicados um total de 20 questionários em empreendimentos de ramos 
diversificados. A opção em não fixar determinados segmentos comerciais teve como 
objetivo perceber, de forma qualitativa, se o mercado empresarial, em sua totalidade, 
está acessível ao tipo de mídia que este projeto pretende avaliar. 
É importante registrar que a maioria dos empresários foi receptiva e se 
mostrou prestativa em responder a pesquisa, porém, houve alguns se recusaram a 
participar, principalmente no momento em que foram questionados sobre o montante 
de verbas destinada aos anúncios da empresa. Outros se recusaram após saberem 
da pesquisa se tratar de um trabalho acadêmico, dando a impressão de não haver 
interesse no auxílio à produção científica. 
A pesquisa foi realizada entre os meses de maio e junho de 2011 com 
empresas localizadas em pontos variados na cidade Boa Vista, capital do estado de 
Roraima. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
Gráfico 5 
 
 
 
O Gráfico 1 demonstra que a maioria das empresas entrevistadas trabalham 
com reserva de verba para a sua publicidade. Porém, é importante destacar que, 
com a impressão qualitativa da pesquisa, percebemos que quanto maior a empresa 
mais se reserva recursos para a publicidade. Alguns empresários também trabalham 
com esse recurso apenas durante alguns períodos do ano, não sendo uma regra o 
investimento em mídias de publicidade ou informativas durante o ano inteiro. 
No entanto, de acordo com as entrevistas realizadas com editores, a proposta 
de anúncio feita pessoalmente sempre tem bons resultados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
Gráfico 6 
 
 
 
 
No gráfico 2 buscou-se averiguar qual o montante de recursos destinados à 
propaganda. Aqui, temos que levar em consideração a diversidade de empresas 
pesquisadas, pois tanto grandes como pequenos empreendimentos foram alvo dos 
questionários aplicados. 
Com base nas informações recolhidas, percebemos que a maior parte das 
empresas tem recursos para fins de divulgação de seu empreendimento, todavia, 
algumas investem mais e outras menos. Empresas maiores tendem a guardar mais 
recursos para divulgação de seus produtos e marca. 
Identificamos nessa questão uma grande demonstração de resistência por 
parte dos entrevistados. Muitos, ao serem questionados sobre a aplicação de suas 
verbas destinadas aos anúncios comerciais, se negaram a continuar respondendo a 
pesquisa, alegando falta de autorização por parte de um superior. 
 
 
 
43 
 
Gráfico 7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aqui se buscou investigar qual mídia os empresários têm maior preferência. 
Conforme o gráfico ficou evidente a preferência pela TV. Em segundo, ficou o rádio e 
em terceiro as mídias impressas juntamente com o outdoor. Isso demonstra, 
respectivamente, qual mídia tem o melhor retorno por meio dos anúncios. 
A preferência pela televisão tem diversas explicações. Uma delas são os seus 
recursos móveis, o que favorece o entretenimento que sobrepuja a informação. Mas, 
quando muitos previam que os jornais poderiam falir diante desses fatores, o 
jornalismo impresso buscou verificar suas possibilidades, analisando suas vantagens 
e desvantagens para se manter no mercado e continuar vitoriosa. A profundidade 
continua sendo uma das melhores qualidades do jornalismo impresso. (ERBOLATO, 
1991, p. 28) 
O meio digital ainda não oferece muitos atrativos para a divulgação, pois nem 
todos têm acesso rápido e fácil a um computador, nem mesmo um acesso a internet 
de qualidade. 
 
44 
 
Gráfico 8 
 
 
 
 
 
Neste gráfico, a intenção foi descobrir, entre os principais veículos locais, qual 
tem maior preferência no meio empresarial. Acompanhando o gráfico anterior, mais 
uma vez TV e rádio tiveram maior preferência, sendo a TV Roraima e a Rádio 
Tropical os veículos preferidos dos anunciantes. Aqui, o impresso ganha maior 
destaque com o jornal Folha de Boa Vista, onde 45% dos anunciantes 
demonstrarem interesse por divulgar seus produtos nessa mídia. 
É importante destacar que os entrevistados poderiam marcar mais de uma 
opção, escolhendo num universo bastante variado de mídias locais, as que mais lhe 
interessavam quanto ao anúncio de seus produtos. 
 
 
45 
 
Gráfico 9 
 
 
 
 
Quanto à satisfação obtida por meio de anúncios veiculados nas mídias não 
restam dúvidas. A maioria dos comentários dos empresários em relação a isso é a 
de que no dia após o início das propagandas o movimento de vendas aumenta 
consideravelmente. Essa conclusão é percebida na prática, com o cotidiano e essa 
percepção do aumento de vendas após veiculação em veículos jornalísticos. 
Observando as entrevistas feitas com os editores de revistas, principalmente 
das mídias mais antigas que reclamavam da falta de empresários que financiassem 
as suas revistas, identificamos uma melhora no mercado em relação aos 
anunciantes. O retorno desses anúncios, atrai o interesse cada vez maior dos 
comerciantes para a divulgação de seus produtos em mídias de informação. 
 
 
 
 
46 
 
Gráfico 10 
 
 
 
 
O Gráfico 5 mostra que a maioria dos entrevistados tem interesse em divulgar 
sua empresa em um veículo novo. Mesmo que não especificando diretamente a 
mídia, existe boa aceitação por novos veículos de comunicação, o que contribui para 
apresentação desses novos produtos midiáticos. 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
Gráfico 11 
 
 
 
Aqui chegamos ao ponto mais importante da pesquisa, onde as perguntas 
foram feitas pelo método qualitativo de investigação. Foi questionado aos 
entrevistados se haveria interesse em anunciar em uma revista voltada 
exclusivamente para assuntos da cultura local. Como demonstra o gráfico, 75% dos 
empresários têm interesse sim em anunciar em uma mídia dessa natureza. A maior 
parte deles tem interesse pelo fato da revista ser uma novidade. 
Outros 33% dos interessados acham que seus clientes se interessam por 
cultura e anunciar em uma revista desse gênero atingiria seus objetivos, além de 
atrair novos consumidores. Já 27% anunciariam no veículo para valorizar tanto a 
cultura quanto às mídias locais. 
Quanto aos 25% dos entrevistados que não tem interesse em divulgar em 
uma mídia de cunho cultural, 60% deles alegam que esse tipo de veículo não atende 
aos interesses da empresa, os demais relatam o alto custo de investimento e a falta 
de interesse de seus clientes pela cultura local. 
Sim Não 
48 
 
Gráfico 12 
 
 
 
A última questão, também realizada de forma qualitativa a fim de investigar de 
uma forma mais ampla a reputação dos veículos de comunicaçãolocais diante da 
classe empresarial boa-vistense. Segundo os resultados, 65% dos entrevistados 
acreditam que os veículos informativos locais têm cumprido bem sua função de 
informar. Para 69% deles, houve uma melhoria na qualidade das informações e tem 
atendido as expectativas de informação. 
Outros 35% acham que os veículos não têm cumprido sua função, pois 
precisam melhorar em qualidade de informação ou acham que as mídias 
jornalísticas locais ainda sofrem muita influência dos governos. 
Destes 35%, mais da metade, 57%, acreditam que é preciso melhorar a 
qualidade dos veículos. Em relação às questões políticas, 43% acreditam que os 
veículos sofrem influência dos governos. 
 
Sim Não 
49 
 
Conclusão 
 
 Ao final de todo essa produção e investigação sobre a viabilidade de criação 
de uma revista jornalística com enfoque na cultura roraimense, ficou ainda mais 
concreta a sensação de que uma mídia do gênero é anseio da sociedade, é 
interessante aos anunciantes e tem lugar garantido nas vitrines das revistarias de 
Boa Vista. 
 A riqueza cultural de Roraima, movida pelos esforços dos artistas locais e a 
administração pública, necessita de maior atenção, tanto jornalística quanto 
histórica. No entanto, a reflexão a cerca dessa produção cultural deve ser 
incentivada pelos meios de comunicação de massa, a fim de explorar o melhor da 
indústria cultural e também evitar a alienação social por meio desta. O 
entretenimento não pode retirar da arte sua característica profundamente reflexiva, 
que nos atinge a alma e incentiva ao progresso. 
 O auxílio ao processo de criação de uma identidade cultural roraimense pode 
encontrar nas revistas um poderoso aliado, devido à intimidade que possui com seu 
público. A profundidade das reportagens é outro fator que é perfeitamente 
compatível com a construção dessa indentidade. 
 As experiências relatadas por editores de revistas locais não serviram apenas 
como descrições de fatos históricos sobre revistas locais, mas também como lições 
para a produção de mídias do gênero, algo ainda pouco explorado e analisado no 
contexto jornalístico. 
 Em relação às pesquisas realizadas com empresários locais para averiguar 
seu interesse em anunciar nos veículos jornalísticos de Boa Vista, além do interesse 
em anunciar em uma revista sobre cultura local, percebemos e confirmamos a 
participação favorável dos empreendedores que, em sua maioria, buscam sempre 
divulgar seus produtos por meio de veículos jornalísticos e de entretenimento, sendo 
atendidos em suas expectativas e obtendo retorno satisfatório, segundo eles 
mesmos. 
 O desejo é de que esta pesquisa possa auxiliar os interessados na produção 
de mídias jornalísticas, bem como contribuir com a produção científica a respeito das 
50 
 
revistas que tratem de temas amazônicos, fortalecendo assim o conhecimento sobre 
essa região tão importante para o planeta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
51 
 
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