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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA - UFRR CENTRO DE COMUNICAÇÃO, LETRAS E ARTES VISUAIS - CCLA DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL RODOLFO MAGNO ARAÚJO DA SILVA A VIABILIDADE DA CRIAÇÃO DE UMA REVISTA CULTURAL NO MERCADO DE BOA VISTA Boa Vista-RR 2011 RODOLFO MAGNO ARAÚJO DA SILVA A VIABILIDADE DA CRIAÇÃO DE UMA REVISTA CULTURAL NO MERCADO DE BOA VISTA Boa Vista - RR 2011 Trabalho de conclusão de curso apresentado como pré-requisito para a conclusão do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal de Roraima. Orientadora: Professora Sandra Gomes RODOLFO MAGNO ARAÚJO DA SILVA A VIABILIDADE DA CRIAÇÃO DE UMA REVISTA CULTURAL NO MERCADO DE BOA VISTA Trabalho de conclusão de curso apresentado como pré-requisito para a conclusão do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal de Roraima, defendida dia 22 de junho de 2011 e avaliada pela seguinte banca examinadora: __________________________________ Prof.ª Msc Sandra Gomes Orientadora / Curso de Comunicação – UFRR __________________________________ Prof.ª Dra Maria Schirley Luft Membro Interno ____________________________________ Prof.ª Dra Sônia Costa Padilha Membro Interno À minha mãe, Rita, que nunca deixou que me faltasse nada, principalmente amor; Ao meu pai, Sérgio, que mesmo distante sempre esteve presente me apoiando; E à minha avó, Gessina, que me ensinou a simplicidade. AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, à fonte do universo que me possibilitou essa valiosa oportunidade para experimentar a vida e assim evoluir sustentado em minhas próprias bases. Aos colegas de curso de todas as turmas às quais fui inserido e acolhido durante toda essa jornada. Aos professores do curso de Comunicação Social – Jornalismo da UFRR, os quais reservaram a mim parte do seu valioso conhecimento tanto na área acadêmica como profissional. À secretária do Departamento de Jornalismo da UFRR, Eulina, por tão carinhoso tratamento e presteza, cujo brilho sempre me guiou na solução dos eventuais problemas. À jornalista Andrezza Trajano, pelo importante auxílio durante a realização deste trabalho. Ao Comandante Geral da PMRR, coronel Gleisson Vitória da Silva, ao meu chefe imediato, tenente-coronel Magalhães José Damasceno, Chefe de Gabinete e da 5ª Seção do Estado Maior Geral da PMRR, bem como aos companheiros de farda do Gabinete do Comando Geral, por terem me ajudado nesse período de conclusão de curso, compreendendo a importância desse processo e do conhecimento adquirido para a minha evolução pessoal e profissional. E, em especial, à professora mestre Sandra Gomes do Departamento de Jornalismo da UFRR, por ser a luz que iluminou os meus passos não só durante a realização do presente trabalho, mas também acerca de toda a atividade profissional jornalística, sua importância no contexto social e seu papel fundamental para o esclarecimento da sociedade a respeito dos fatos e costumes que a cercam. Grato. “Nós humanos fazemos parte da natureza. Comemos, bebemos, respiramos, temos filhos, envelhecemos. (...). Porém apenas os seres humanos são capazes de produzir cultura”. (SCHMIDT) RESUMO Este trabalho procurou investigar a viabilidade de criação de uma revista cultural no mercado de Boa Vista - capital do Estado de Roraima - por meio de entrevistas semi-estruturadas e aplicação de questionários de forma quantitativa e qualitativa. Entendemos que a cultura local é extremamente rica, fruto de uma raiz indígena-amazônica diversificada e da miscigenação com outras culturas impulsionadas pelas políticas de colonização da região norte, que foram implantadas pelo governo brasileiro a partir dos anos 1930. O conteúdo também aborda a importância da discussão crítica sobre a cultura de uma sociedade, objetivando à reflexão e o esclarecimento do mundo ao qual estamos inseridos. Com o constante crescimento da industrial cultural e dos modelos de produção de massa, é necessário que os veículos de comunicação convidem os seus leitores para a análise a respeito dessa temática, cumprindo assim sua função social de fomentar a reflexão sobre os fatos do cotidiano de um povo. Palavras chave: Cultura, Jornalismo, Revista, Pesquisa, Boa Vista, Roraima ABSTRACT This study aimed to investigate the feasibility of creating a cultural magazine in the market of Boa Vista - Roraima state capital - through semi-structured interviews and questionnaires in a quantitative and qualitative. We understand the local culture is extremely rich, thanks to a diverse Amazonian indigenous roots, and mixing with other cultures driven by policies of colonization of the northern region, which was implemented by the Brazilian government from the year 1930. The content also addresses the importance of critical discussion about the culture of a society, seeking to reflect and explain the world in which we operate. With the steady growth of cultural and industrial models of mass production, it is necessary for the media to invite your readers to the analysis regarding this issue, thus fulfilling their social function to encourage reflection on the facts of everyday life for a people. Keywords: Culture, Journalism, Magazine, Research, Boa Vista, Roraima LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 ............................................................................................................... 36 GRÁFICO 2 ............................................................................................................... 30 GRÁFICO 3 ............................................................................................................... 31 GRÁFICO 4 ............................................................................................................... 31 GRÁFICO 5 ............................................................................................................... 41 GRÁFICO 6 ............................................................................................................... 42 GRÁFICO 7 ............................................................................................................... 43 GRÁFICO 8 ............................................................................................................... 44 GRÁFICO 9 ............................................................................................................... 45 GRÁFICO 10 ............................................................................................................. 46 GRÁFICO 11 ............................................................................................................. 47 GRÁFICO 12 ............................................................................................................. 48 LISTA DE FIGURASFigura 1.....................................................................................................................28 Figura 2.....................................................................................................................32 Figura 3.....................................................................................................................34 Figura 4.....................................................................................................................37 SUMÁRIO Introdução ................................................................................................................. 12 Capítulo I .................................................................................................................. 14 1.1 A cultura em sociedade ....................................................................................... 14 1.1.2 O surgimento da cultura brasileira .................................................................... 15 1.2 Jornalismo cultural em sociedade ....................................................................... 17 1.2.1 Jornalismo e produção cultural ......................................................................... 18 1.3 Revistas ............................................................................................................... 20 1.3.1 Breve história das revistas ............................................................................... 20 1.3.2 Revistas como medição de desenvolvimento social ........................................ 21 1.4 Metodologia empregada na pesquisa ................................................................. 23 Capítulo II ................................................................................................................. 25 Objetivos da pesquisa ............................................................................................... 25 2.2 Porque revista ..................................................................................................... 25 2.3 A formação da cultura roraimense ...................................................................... 27 2.4 Breve comentário sobre o movimento Roraimeira .............................................. 29 2.5 Boa Vista e movimentação cultural atual ............................................................ 29 2.6 Revistas locais .................................................................................................... 32 2.6.1 Revista diretrizes .............................................................................................. 33 2.6.2 Revista Perspectiva Amazônica ....................................................................... 34 2.6.3 Revista Somos ................................................................................................. 35 2.6.4 Revista Sala de Cinema ................................................................................... 37 2.7 Entrevista com jornaleiros proprietários e gerentes de revistarias ..................... 39 Capítulo III ................................................................................................................ 40 3.1 Entrevista com empresários ................................................................................ 40 Conclusão ..................................................................................................................49 Bibliografia .................................................................................................................51 12 INTRODUÇÃO A presente pesquisa tem como objetivo avaliar a viabilidade da criação de um novo veículo de comunicação em Boa Vista que tenha um foco totalmente direcionado à cultural local. Para isso foram utilizadas técnicas de entrevistas semi- estruturadas com editores de revistas já criadas no mercado local e aplicação de questionários com características quantitativas e qualitativas ao empresariado local, visando descobrir se há interesse por parte da classe no investimento em uma revista que aborde de forma mais aprofundada a cultura roraimense. Ao longo desses anos, mesmo com o crescimento e com melhoria da qualidade do jornalismo roraimense, pouco se tem refletido e explorado sobre a riqueza e potencialidades da cultura de Roraima. Várias mídias sucumbem aos releases institucionais como mais uma forma de se manterem ativas, perdendo parte de sua liberdade de informação e incorporando ao produto jornalístico um conflito de interesses políticos que acaba por destruir sua essência. A escassez de revistas locais, que tratem de forma mais elaborada os acontecimentos cotidianos e formadores da história desse novo Estado, é falta que a sociedade roraimense não pode deixar passar despercebida. É a partir desse ponto que surge o interesse no Jornalismo de Revista. As oportunidades que as revistas proporcionam, seja pela profundidade das notícias, o seu reflexo histórico ou pela intimidade que possui com seu público, são peças-chave importantes na busca da atenção dos leitores para a reflexão e a construção de um futuro, além da identificação das características de um povo. Somando-se a essa mídia, temos o Jornalismo Cultural que traz consigo desde o seu princípio, com o surgimento da imprensa (PIZA, 2001), a crítica que, não apenas aos produtos culturais, impulsiona o debate a respeito das ações e os costumes de uma comunidade à qual o escritor está inserido. É perceptível em nosso contexto que não basta apenas investir em políticas de incentivo à cultura, sem haver uma profunda reflexão sobre o assunto. Assim, com uma introspecção social por meio da cultura, entenderemos nossas falhas e evoluiremos para um nível coletivo cada vez mais harmonioso. 13 Essa preocupação faz parte da função social do jornalista de transmitir a maior quantidade de informações possível, de forma clara e coesa, para que o público, em seu próprio raciocínio, busque a melhor verdade acerca dos acontecimentos do nosso cotidiano. No entanto, como qualquer outra mídia, revistas são produtos de mercado de onde os profissionais tiram o seu sustento, e, para a criação desse projeto com tal significado, foi necessário realizar uma pesquisa entre os empresários, jornaleiros e editores de revistas ativas e inativas de Boa Vista a fim de verificar se é possível a auto-sustentabilidade do produto no mercado da capital. É importante destacar que Roraima é um Estado novo e distante dos grandes centros econômicos do país. Como tal, ainda sofre com o lento desenvolvimento e a falta de atrativos impede que empresas se instalem e invistam em projetos locais. A maior parte da população encontra-se na capital Boa Vista e sua maior fonte de renda vem de empregos públicos. Um cenário político instável contribui ainda mais para retardar o alvorecer de um lugar repleto de belezas e complexidades. Outro motivo que nos remete a reflexão sobre a temática são os produtos e formas provenientes da indústria cultural. No mundo atual, onde a produção se dá em larga escala, a oferta de objetos culturais ultrapassa a sua naturalidade, transformando-se em bens de consumo presos a modelos de criação baseados nos anseios da massa popular. É providencial que haja uma constante discussão sobre esses produtos para que a sociedade não confunda arte com entretenimento, mesmo sendo esses dois conceitos paralelos. Levando-se em conta todos esses pontos, surgiu a idéia de se trabalhar a criação de uma revista que tratasse de forma mais elaborada as complexidades culturais e suas nuances dentro de um contextosocial miscigenado e em constante mutação. 14 Capítulo I 1.1 A cultura em sociedade Há algum tempo, o significado dado à cultura era atrelado pelo senso comum à ação culta de elitismo, destinada apenas a uma pequena parcela da sociedade. O termo popular “aculturado” estava direcionado às pessoas possuidoras de conhecimentos diversos, que tinham acesso a livros, revistas e outras publicações pouco acessíveis. Ainda hoje, existem pessoas que tendem a caracterizar cultura como algo inatingível e, percebendo-a como mero acúmulo de conhecimento, perdem o interesse por sua essência. Com a globalização do conhecimento e a produção de cultura em larga escala - seja por meio das mídias na democratização cultural ou pelo avanço tecnológico e a produção industrial - um conceito mais claro sobre cultura passou a fazer parte do conhecimento da maioria. Em um determinado momento, o individuo percebe-se parte de um conjunto de informações que são de extrema importância para o entendimento do homem e o meio em que vive. A diversidade cultural, a qual todos pertencemos, torna especial toda ação consciente, o que gera uma inclusão social, onde um indivíduo, em seus afazeres simples e rotineiros, determina a identidade de um grupo pertencente a um lugar, espaço e tempo. As ações culturais humanas, em certo período, são provas reais do caminho percorrido pela humanidade e para onde esta se direciona. Cultura é um termo bastante abrangente, com vasta conceituação nos diversos campos da ciência. Em uma rápida busca pelo dicionário Aurélio, encontramos diversas conceituações próprias dessas variadas áreas do saber. Em seu sentido mais simples, cultura significa o ato de cultivar, um hábito constante e identificável. Na conceituação antropológica, encontramos maior afinidade com os anseios sociais dentro da temática. “O conjunto complexo dos códigos e padrões que regulam a ação humana individual e coletiva, tal como se desenvolvem em uma sociedade ou grupo específico, e que se manifestam em praticamente todos os aspectos da vida: modos de sobrevivência, normas de comportamento, crenças, instituições, valores espirituais, criações materiais, etc.”. (Dicionário Aurélio, programa que acompanha o livro) 15 Segundo Santos (1994, p. 21), os estudos sobre cultura se intensificaram na medida em que as relações entre as nações foram se tornando cada vez mais constantes. O autor apresenta uma conceituação que, simples, pode ser encontrada no cotidiano de cada um. “Por vezes se fala de cultura para se referir unicamente às expressões artísticas, como o teatro, a música, a pintura, a escultura. Outras vezes, ao se falar da cultura da nossa época ela é quase que identificada com os meios de comunicação de massa, tais como o rádio, o cinema, a televisão. Ou então cultura diz respeitos às festas e cerimônias tradicionais, às lendas e crenças de um povo, ou a seu modo de se vestir, à sua comida, a seu idioma. A lista pode ser ampliada.” (SANTOS, 1994, p. 22) Optamos por destacar o conceito descrito por Laraia (2009) que diz que cultural é “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. Todas as ações comportamentais de um determinado grupo são denominadas cultura, sendo assim, classificar o assunto apenas como acúmulo de conhecimento, não deve passar apenas de uma forma comum e errônea de entendimento. 1.1.2 O surgimento da cultura brasileira Por mais que o mundo esteja hoje se globalizando, formando uma única rede homogênea de pessoas e interesses, a cultura ainda determina a identificação das variadas etnias espalhadas pelo globo. No Brasil, um país continental por sua extensão territorial, a cultura é bastante rica e miscigenada formada das raízes de três outras fontes culturais possuidoras de suas próprias reinvenções: a européia, a africana e a indígena. (SODRÉ, 2003, p. 10) Com o processo de colonização, os litorais brasileiros foram os primeiros lugares a sofrerem uma mistura de culturas. As tradições indígenas se mesclaram aos costumes dos navegadores europeus e às características dos escravos africanos. Esse processo aconteceu praticamente em todas as Américas, sendo Portugal, Espanha e Inglaterra os países europeus que mais influenciaram essa mistura. Sodré (2003, p. 12) explica que a partir disso decorre um processo que a Sociologia empírica batizou, e a Antropologia consagrou, como “aculturação”. 16 “Há que aceitar a heterogeneidade de cada uma delas... Na elaboração da etapa anterior a cultura de cada uma influi, necessariamente, o regime ao qual estavam submetidas: o índio vivia no regime da comunidade primitiva, em organização tribal; o português, em regime feudal; o africano, no regime da comunidade primitiva ou no regime escravista. Cada uma dessas correntes humanas carreia essa cultura anterior para o Brasil”. (SODRÉ, 2003, p. 11) O autor divide ainda a origem do desenvolvimento da cultura no Brasil em três etapas de onde o país parte da fase inicial em que, praticamente, não há camada social intermediária entre senhores ou servos para uma fase em que a classe dominante, no Brasil, é a burguesia, tendo desaparecido o escravismo, porém, permanecendo parcelas de população vivendo em relações pré-capitalistas: 1ª Etapa: cultura transplantada anterior ao aparecimento da camada social intermediária, a pequena burguesia (período escravista ou feudal); 2ª etapa: cultura transplantada posterior ao aparecimento da camada social intermediária, a pequena burguesia (período escravista ou feudal); 3ª etapa: surgimento e processo de desenvolvimento da cultura nacional, com alastramento das relações capitalistas (burguesia). (SODRÉ, 2003, p. 14) A partir de 1930, com as políticas populistas e de industrialização no país, as massas urbanas crescem e criam um estilo de vida distinto devido ao êxodo rural da época. Essa é uma nova fase de miscigenação das culturas das já existentes no Brasil. É também nesse período que se tenta criar uma cultura nacional partindo dos costumes populares. “A problemática da cultura popular tem sido uma questão política por que sempre esteve profundamente ligada a uma reinterpretação do popular pelos grupos sociais e á própria construção do Estado brasileiro”. (LOPES, 2005, p. 23) Até 1950, agências de fomento do Estado brasileiro tentam manter alguns tipos de arte que só sobrevivem com auxílio governamental, como a música clássica, enquanto a iniciativa privada trabalha basicamente com a cultura popular. Segundo Lopes (2005, p. 25) é a partir desse ponto que a indústria cultural brasileira encontra não só o “público consumidor de certos bens culturais”, mas também formas de produção cultural que estão presentes nos próprios emissores, ou seja, a classe popular brasileira. 17 1.2 Jornalismo cultural em sociedade Jornalismo cultural é o ramo do jornalismo que tem por missão informar e opinar sobre a produção e a circulação de bens culturais na sociedade. Complementarmente, o jornalismo cultural pode servir como veículo para que parte desta produção chegue ao público, publicando crônicas, contos, poemas, fotografias não-jornalísticas, desenhos de humor e ilustrações, ou através da veiculação de trechos de livros, letras de música e reprodução de quadros e desenhos. (GOMES, 2005, p. 8) Segundo Piza (2004), a história do jornalismo cultural teve início com os críticos literários e com o surgimento da imprensa. Nilson Lage (2006), em seu discurso sobre areportagem também relata esse surgimento não só do jornalismo cultural como o jornalismo em si. “Quando o jornalismo surgiu, no início do século do século XVII, o paradigma do texto informativo era o discurso retórico, empregado desde os tempos remotos para a exaltação do Estado e da fé. As línguas nacionais européias vinham surgindo, cada qual com seus grandes autores literários (Camões em Portugal; Cervantes e Quevedo na Espanha; Shakespeare e Milton na Inglaterra; Racine e Moliére na França) – e este era o padrão que se buscava imitar”. (LAGE, 2006, p. 9) Piza (2004) explica que no Brasil, o ramo cultural de jornalismo só teve início no final do século XIX com Machado de Assis. Outros escritores renomados da nossa história como Lima Barreto e Mário de Andrade também fizeram parte desse alvorecer como críticos culturais, escrevendo para publicações como o Diário de São Paulo e para revistas como O Cruzeiro. Com a evolução dos veículos de comunicação no início do Século XX, o assunto passa a ter maior destaque nos veículos de informação, porém, sempre dividindo espaço com outras editorias (mídias multitemáticas). O autor (PIZA, 2007) cita ainda em sua obra a importância das revistas e dos tablóides literários que surgiram nesse período e os bons resultados de sua junção com os assuntos e críticas literárias por sua relação artística. “Quem continuou a desempenhar um papel fundamental no jornalismo cultural foram as revistas, incluindo na categoria os tablóides literários semanais e quinzenais. Em todo momento de muita agitação intelectual e artística do século XX, em toda a cidade que vivia a efervescência cultural, a presença de diversas revistas – com ensaios, 18 resenhas, críticas, reportagens, perfis, entrevistas, além de publicação de contos e poemas – era ostensiva”. (PIZA, 2007, p.19) 1.2.1 Jornalismo e produção cultural O maior destaque do jornalismo cultural e sua importância para este trabalho encontra-se dentro de “seu valor relevante no desenvolvimento intelectual de uma sociedade, que discute sua história e seus costumes durante o cotidiano, abrindo portas para novas idéias”. (PIZA, 2007) No entanto, alguns pensadores entendem que, por meio da indústria de massa, os produtos culturais têm caminhado no sentido contrário à contribuição social, manipulando os consumidores através de seus próprios desejos, sob as fórmulas da produção cultural. O pensador marxista Walter Benjamin, da escola de Frankfurt, descreve esse fenômeno em seu livro: “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica”, que a arte, em tempos industriais, estava perdendo a sua “aura”, tornando-se produto para consumo, para consolo instantâneo, não mais para a reflexão ou perturbação. Nos dias atuais, as artes podem ser encontradas e adquiridas por todos os lados. Essa é uma caracteristica capitalista de transformar quaisquer tendências em produto de consumo. Adorno e Horkheimer - além de outros filósofos também provenientes da primeira geração da Escola de Frankfurt - (1947) já ensaivam sobre essa “Indústria Cultural” na obra Dialética do Esclarecimento onde, segundo os autores, a cultura transformou-se em mercadoria servindo às massas apenas como entretenimento e diversão. Outros pensadores também discordam da ação de democratização cultural, alegando sua a banalização na criação da cultura de massa, que visa atender a interesses mercadológicos e econômicos. Para Lopes (2005, p. 18), a cultura de massas, por ser a forma histórica em que a cultura se organiza, concomitantemente às fortes tendências de homegeinização que põe em marcha, repõe as distinções sociais em outro patamar, reproduzindo e produzindo novos hábitos de classe. Já Daniel Piza, (2007) defende a democratização da cultura para que ela tenha condições de chegar a todos, mas alerta sobre o dever do jornalismo em fomentar a reflexão e o senso crítico sobre toda a produção cultural, já considerando as teorias contra a indústria cultural de massa. O jornalista vai mais além e relata 19 que as críticas dentro desta modalidade de jornalismo ultrapassam a mera avaliação para o consumo de qualquer elemento cultural, levando o leitor a uma reflexão acerca do meio ao qual está incluído. “Seu papel, como já dito, nunca foi apenas o de anunciar e comentar as obras lançadas nas sete artes, mas também refletir (sobre) o comportamento, os novos hábitos sociais, os contatos com a realidade política-econômica da qual a cultura é parte ao mesmo tempo integrante e autônoma”. (PIZA, 2004, p. 57) Analisa-se, a partir desse ponto que, com os constantes apelos da indústria pelo mercado da cultura de massa - tema também contido e explicado em Dialética do Esclarecimento1 – é necessária a intensificação da crítica para que a arte realmente não perca sua característica reflexiva e se transforme apenas em produtos banais de entretenimento. Coutinho (2005, p. 40) explica que os mesmos direitos e liberdades que têm o criador de um elemento cultural em produzir sua obra, têm o crítico cultural em suas avaliações sobre o resultado dessa obra. “A mais ampla liberdade de criação (cultural) tem como contrapartida necessária a mais ampla liberdade de crítica: se só ao criador cabe, em última instância, definir os conteúdos e as formas de sua criação... ao crítico cultural cabe o direito de exercer a sua plena liberdade de avaliar – em nome dos critérios que considerar válidos – os resultados concretos dessa criação. É evidente que a prática dessa dupla liberdade, de criação e de crítica, implica de ambas as partes a possibilidade do acerto do acerto ou do fracasso (com todas as suas gramas intermediárias). Mas a decisão quanto a isso não pode, em nenhum caso, depender de outra instância que não seja a própria dialética da vida cultural, na pluralidade de suas orientações e tendências.” (COUTINHO, 2005, p. 40) Observando toda essa complexidade que envolve a temática cultural, percebe-se o quão importante é a reflexão sobre o assunto e como essa reflexão pode contribuir para a evolução de uma sociedade, que busca entender suas atitudes diante de seu passado e futuro. Com a capacidade de identificação e valorização das caracteristicas diversificadas das comunidades que caminham sobre este planeta, a crítica cultural pode ser um caminho para que as sociedades evoluam e se prepararem para o alvorecer de novos tempos. Nesse ponto, uma mídia que se aprofunde no tema pode contíbuir. 1 Tema pode ser encontrado na Obra Dialética do Esclarecimento - ADORNO, Theodor W; HORKHEIMER, Max. (1985), Dialética do Esclarecimento. Tradução de Guido Antonio de Almeida, Rio de Janeiro, Zahar Editores. 20 1.3 Revistas De acordo com Scalzo (2006, p. 11) uma revista é um veículo de comunicação, um produto, um negócio, uma marca, um objeto, um conjunto de serviços, uma mistura de jornalismo e entretenimento. Nenhuma das definições acima está errada, mas também nenhuma delas abrange completamente o universo que envolve uma revista e seus leitores. Dada citação nos prepara para o conhecimento de um grande espaço que é o mundo das revistas. Hoje, pode-se encontrar de tudo nelas, desde assuntos dedicados totalmente a religião até exemplares segmentados a diversos assuntos caracterizando-se uma mídia multitemática. No entanto, ainda são bastante escassas as pesquisas a respeito desse tipo de mídia. Poucos autores dedicaram-se ao esclarecimento desse item jornalístico e sua imensa contribuição para a imprensa mundial, o que se reflete nas academias de jornalismo. 1.3.1 Breve História das revistas A história mostraque o surgimento das revistas traz consigo uma ideologia que a identifica e identifica o seu público. O desenvolvimento intelectual da localidade onde se instala também cresce devido às oportunidades que as pessoas têm em divulgar suas idéias e refletir sobre os assuntos tratados de forma mais profunda. Scalzo relata que a primeira revista de que se tem notícia foi publicada em 1663, na Alemanha, e chamava-se Erbauliche Monaths-Unterredungen (Edificantes Discussões Mentais), que tinha todas as características de um livro, todavia, só foi considerada revista, porque continha vários artigos sobre um mesmo assunto: teologia. O termo magazine só surgiu no ano de 1931, na Inglaterra, quando foi publicada a The Gentleman’s Magazine, que era inspirada nos grandes magazines – lojas que vendiam um pouco de tudo – e reunia vários assuntos e os apresentava de forma leve e agradável. (Scalzo, 2006, p. 19) A revista, como produto de consumo, sempre esteve ligada ao desenvolvimento cultural, industrial e econômico de um país. No Brasil, as primeiras revistas iniciaram com a chegada da corte portuguesa e seus hábitos, em 1808. 21 A primeira publicação que se tem notícia em território brasileiro foi lançada com o nome de As Variedades ou Ensaios de Literatura, que abriu caminhos para futuros fenômenos editoriais como a revista O Cruzeiro, criada pelo jornalista Assis Chateubriand, a revista Realidade, além de diversas publicações atuais como Veja, Isto é, Época e Superinteressante. 1.3.2 Revistas como medição de desenvolvimento social Uma pesquisa realizada pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC) no ano de 2010 registrou um avanço de 7% na circulação de revistas no país, segundo o portal Comunique-se. De acordo com Pedro Martins Silva, presidente do IVC, o avanço aconteceu devido ao bom momento econômico e, conseqüente, ao aumento do poder aquisitivo da população que fez o brasileiro comprar mais revistas. Comparando-se essa notícia, Scalzo (2006, p. 20) nos lembra que as revistas são como um espelho do desenvolvimento cultural e educacional de uma comunidade. A autora cita um exemplo em que as revistas começam a ganhar os EUA na medida em que o país se desenvolve, o analfabetismo diminui, cresce o interesse por novas idéias e conseqüentemente a necessidade de divulgá-las. Antigamente, o acesso aos livros era mais difícil do que é hoje. E as revistas atuavam como um meio termo entre os livros e as mídias de informação. Ainda nos dias atuais as revistas ajudam na formação e educação de grandes fatias da população de forma específica dependendo da segmentação da publicação. 1.3.3 Vantagens A maioria das revistas são semanais, quinzenais ou mensais. Diferentemente dos jornais diários, as revistas possuem mais tempo para o fechamento da edição (deadline), o que acarreta uma maior elaboração das notícias e uma pesquisa com maior profundidade e clareza. Outro ponto positivo das revistas está na intimidade que elas têm com os seus leitores. O público desse segmento também tem maior acesso à estrutura da revista, podendo indicar mudanças ou até mesmo sugerir a criação de uma nova coluna para as próximas edições. 22 Marília Scalzo (2006), mais uma vez, lembra que as revistas são feitas com papel de qualidade e um recurso gráfico e artístico que as outras mídias do gênero não possuem, o que garante a durabilidade da mídia. “Não dá para esquecer também que revistas são impressas e o que é impresso, historicamente, parece mais verdadeiro do que aquilo que não é [...] é certo que jornais e revistas venderão muito mais no dia e na semana seguintes – eles servem para confirmar, explicar e aprofundar a história já vista na tevê e ouvida no rádio”. (SCALZO, 2006, p. 13) Para os jornalistas de revista, também existem muitas vantagens. Enquanto os profissionais dos veículos diários estão constantemente correndo contra o tempo para executarem as suas pautas - o que influencia no resultado final de suas produções - em uma revista há mais tempo para maior coleta de dados e pesquisa, gerando maior profundidade dos textos produzidos. “É exatamente essa característica que diferencia o trabalho do jornalista que trabalha em revista. Quem trabalha em jornal, tevê, rádio ou Internet tem uma maneira peculiar de pensar, está condicionado para responder mais rápido aos fatos. A mudança de sintonia e de ritmo que deve, obrigatoriamente, ocorrer na cabeça de um jornalista que, depois de trabalhar num jornal, vai bater ponto numa revista nem sempre é óbvia ou fácil de assimilar.” (SCALZO, 2006, p. 42) 1.3.4 Desvantagens O calcanhar de Aquiles das revistas são os custos de sua produção. Por conterem consideráveis recursos visuais e qualidade material, a impressão acaba por encarecer o produto. A maior parte das revistas tem periodicidade semanal ou mensal, diferentemente dos jornais, programas de TV e rádio, além de outros veículos digitais que possuem característica diária. Esse fator é relevante para empresários que vêem nos veículos diários maior publicidade de seus produtos. O baixo custo para publicidade nesses gênero de mídias também atrai as empresas. “Anúncios na tevê são melhores, pois alcançam mais pessoas. O mesmo anuncio em uma revista atinge um número bem menor de pessoas com preços quase iguais aos da tevê, devido à sua especialidade no design e complexidade de entretenimento”. (SCALZO, 2006, p. 16) 23 CAPITULO II 1.4 Metodologia empregada na pesquisa No que diz respeito às investigações sociais, Gil (2010, p. 26 e 27) explica que existem dois tipos de pesquisas na área: a pura e a aplicada. Enquanto “a pesquisa pura busca o progresso da ciência” a pesquisa aplicada preocupa-se com a aplicação, utilização e conseqüências práticas dos conhecimentos: - “Sua preocupação está menos voltada para a aplicação imediata numa realidade circunstancial” afirma. (GIL, 2010, p. 26 e 27) Dada a natureza da problemática da presente pesquisa, seguimos a segunda opção descrita pelo autor, utilizando as técnicas de entrevistas focalizadas e entrevistas semi-estruturadas com editores de revistas locais e proprietários de revistarias, bem como questionários de caráter qualitativo e quantitativo com empresários locais de ramos diversificados. Muitos autores consideram a entrevista como a técnica por excelência na investigação social, tendo valor semelhante ao tubo de ensaio na Química e ao microscópio na Microbiologia. (GIL, 2010, p. 109 e 110) Tanto aos editores quanto aos empresários, foram formuladas perguntas a fim de verificar especificamente a viabilidade de criação do projeto na forma econômica e prática. Essa delimitação se deu para que o desenvolvimento da pesquisa não se estendesse, visto sua ampla conceituação sobre a temática cultural. Aos empresários, a aplicação de questionário se deu por vantagens como rapidez em atingir um grande número de entrevistados, imparcialidade e anonimato de suas respostas (GIL, 2010, p. 110). Foi observando o que diz Goldenberg (2007, p. 62) que atentamos para a unificação da pesquisa quantitativa e qualitativa, sendo esse: “...o conjunto de diferentes pontos de vista, e diferentes maneiras de e analisar dados (qualitativa e quantitativamente), que permite uma idéia mais ampla e inteligível da complexidade de um problema”. O cruzamento de informações de ambas as características permite um maior confiabilidade e permite investigar diferentes questões que venham a surgem dentro da pesquisa. (GOLDENBERG, 2007, p. 62) 24 Como foi visto nos temas anteriores, as funções sociais desempenhadas pela culturae pelo jornalismo são extremamente necessárias à saúde de uma sociedade que vive sob um regime capitalista e, conseqüentemente, sob as ofertas intermináveis da indústria cultural. É importante fomentar o senso-crítico da população para não se tornarem prisioneiros de uma produção, porém, sem perder as oportunidades da democratização cultural. Unindo todo esse esforço às características intimistas, estéticas e de profundidade da mídia revista, estaremos seguindo a função social do jornalismo que é contribuir com a cidadania, a dignificação e a evolução de uma sociedade. É por meio da informação veraz, clara e libertadora que atingiremos esse objetivo maior da profissão. Para a criação deste projeto – uma revista cultural – é necessária a investigação da viabilidade do empreendimento como parte de um mercado ao qual o jornalismo também está contido. Visto o paradigma científico das comunicações em estudo dos fenômenos de massa (LOPES, 2005, p. 36), buscamos verificar a história das revistas já criadas em Boa Vista por meio de entrevistas aos seus respectivos editores, obtendo informações empíricas a respeito do período em que estiveram presentes no mercado. Alguns jornaleiros também foram questionados sobre a intensidade de venda das revistas que atualmente compõem suas vitrines. 25 2.1 Objetivos da pesquisa O jornalismo em Roraima nasceu antes mesmo da transformação do Território Federal em Estado. Na sua história, três tipos de mídias se destacaram: o jornal impresso, o rádio e por último a TV. Diversas empresas e programas foram criados e, após algum tempo em funcionamento, desfeitos para dar origem a outros produtos, mas sempre nos mesmos difusores. Durante o seu processo de criação, o jornalismo roraimense esteve mais focado no jornal impresso, o que, inclusive, é perceptível também na formação de alunos do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Roraima (UFRR), com habilitação em jornalismo. Tal fator se dá pelo baixo custo de produção dos jornais e preços baixos de publicidade. É importante destacar que Roraima é um Estado novo e distante dos grandes centros econômicos do país. Como tal, ainda sofre com o lento desenvolvimento e a falta de atrativos impede que empresas se instalem, investindo em projetos locais. A maior parte da população encontra-se na capital Boa Vista e sua maior fonte de renda vem de empregos públicos. Um cenário político instável contribui ainda mais para retardar o alvorecer de um lugar repleto de cultura, belezas e complexidades. Diante do contexto, sempre houve uma carência local por notícias em profundidade que explicassem melhor os acontecimentos, a fim de gerar discussões sobre os fatos para esclarecer melhor a população. É nessa base que o jornalismo se sustenta: informar a sociedade para que esta desenvolva o senso crítico e dignifique sua coletividade. 2.2 Por que revista? A escassez de revistas locais, que tratem de forma mais elaborada os acontecimentos cotidianos e formadores da história desse novo Estado, é falta que a sociedade roraimense não pode deixar passar despercebida. As oportunidades que as revistas proporcionam, seja pela profundidade das notícias ou pela intimidade que atinge em seus leitores, são fatores importantes para a construção do futuro e das características de um povo e sua cultura. Roraima possui vasto campo para a criação de uma revista com abordagem cultural, pois, além de ser um Estado formado por imigrantes e miscigenados, possui uma história indígena-cultural rica e bastante abrangente. Existe uma identidade 26 artística muito forte com enfoque na cultura indígena e o seu maior exemplo é o movimento da década de 80, a Roraimeira (OLIVEIRA; WANKLER; SOUZA; 2009, p.21). Teatro, artistas plásticos, pintores, escultores e artesãos estão por toda parte lembrando que a cultura pode ser um ponto de partida para a construção de uma sociedade próspera e saudável. No entanto, a grande incógnita surge a partir do questionamento a respeito da viabilidade da criação desse projeto. Revista é uma mídia cara devido ao seu alto custo de produção que se reveste em um caráter atrativo, colorido e com design altamente especializado. A economia roraimense está longe de ser considerada estável e promissora. Há muitos anos, a renda da população vem dos serviços públicos nas esferas federal, estadual e municipal, caracterizando a economia do contracheque. A existência desse fator econômico é que faz surgir o interesse em uma pesquisa para avaliar se é possível e viável criar um projeto gráfico como uma revista que pode influenciar visivelmente a vida de uma comunidade. Para verificar essa viabilidade, foram aplicados questionários no comércio local, com o objetivo de descobrir se os empresários têm ou não interesse em vincular a sua marca a esse projeto. Caso havendo resultados positivos, tal fator significaria boa parte da independência do projeto. Além desse ponto, o questionário visa identificar a relação do segmento empresarial como anunciante, detectando se há ou não política e verba publicitária constante ou se é realizado de forma pontual, através de demandas sazonais. A fim de verificar também a experiência de outros projetos locais de mesma característica, foram feitas entrevistas semi-estruturadas com editores e proprietários de bancas de revista locais. Entendemos que o resultado dessa coleta de informações seria extremamente útil para a criação do projeto. 2.3 A formação da cultura roraimense Roraima, assim como a maioria dos Estados da região Norte, possui a maior parte de sua cultura ligada às raízes indígenas, no entanto, outras identidades culturais uniram-se às já existentes e formaram uma única expressão cultural, própria da região. A migração de pessoas para o Estado, principalmente do nordeste do país, tem sido fator relevante para a formação da cultura local. Essa migração tem 27 acontecido, em boa parte, devido às políticas públicas de colonização e povoamento fomentadas pelo governo brasileiro a partir dos anos 30 (Era Vargas) e com o surgimento de grande movimentação de migrantes em decorrência do garimpo nos anos 1980. Segundo Vieira (2008, p.19), desde o período colonial (1500-1822), a atividade agrícola foi utilizada como estratégia de povoamento e de desenvolvimento sócio-econômico. “Foram criadas inúmeras leis e órgãos públicos específicos para viabilizar a colonização agrícola do País. Ainda hoje essa estratégia é mantida pela administração pública brasileira”. (VIEIRA, 2008, p. 19) Roraima ainda possui uma das culturas indígenas mais ricas do País. São dez etnias indígenas (BENTO, Pedro, 2008, p. 27, 28) espalhadas por todos os seus 224.301,040 Km2 (IBGE, 2010) de extensão territorial, e com uma população total de aproximadamente 36 mil índios – a 3ª maior população indígena do Brasil -, segundo informações do site do Conselho Indígena de Roraima (CIR). As dez etnias indígenas citas são: Macuxí, Wapichana, Taurepang, Ingaricó, Ye’kuana, Yanomami, Patamona, Sapará, Wai Wai e Waimiri Atroari. Das populações indígenas citadas, destaca-se a Macuxí com aproximadamente 23.433 habitantes, instalados em áreas de lavrado, montanhas e ás margens dos rios no nordeste de Roraima. Por ser a principal etnia indígena do Estado, comumente as pessoas nascidas em solo roraimense são chamadas de Macuxí. (CARVALHO, 2008, p. 31) Na figura 08 temos um exemplo da produção cultural das populações indígenas espalhadas pelo Estado e em qual tipo de arte cada uma é especializada.28 Figura 1 É importante destacar que Roraima faz fronteira com dois países da América do Sul, Guyana Inglesa e Venezuela. Cada um deles possuindo linguagem própria (Inglês e Castelhano, respectivamente) e carregando em si suas identidades culturais e influências. 29 2.4 Breve comentário sobre o movimento Roraimeira Em meados dos anos 1980, houve um “boom” migratório em Roraima motivado pela busca ao ouro nos diversos garimpos abertos dentro do Estado. De acordo com Oliveira, Wankler e Souza (2009, p. 31), foram os conflitos entre indígenas e garimpeiros, resultantes dessa grande movimentação, que sensibilizou e inspirou os artistas a produzirem artes mais voltadas ás temáticas locais. Diante da presença de pessoas com tantas formações culturais, dizia-se que Roraima não tinha uma identidade cultural definida. Em contradição a isso, alguns artistas locais começaram a introduzir em suas obras descrições sobre as características locais, dando ênfase à principal raiz cultural da região que é a identidade indígena. “O Movimento Cultural Roraimeira, iniciado na década de 1980, aglutinou músicos, escritores, dançarinos, poetas, fotógrafos, entre outras expressões artísticas voltados para construção cultural de uma identidade para o povo de Roraima, calcado, sobretudo, nos elementos da cultura e da paisagem natural existentes no estado”. (OLIVEIRA; WANKLER; SOUZA; 2009, p. 28) De acordo ainda com os autores, o trio Roraimeira, formado pelos músicos Nêuber Uchôa, Zeca Preto e Eliakin Rufino, inspirado pela pluralidade cultural existente em Roraima, sobretudo, pelas fortes influências caribenhas, criaram um ritmo musical batizado de makunaimeira, sendo essa uma fusão de ritmos e instrumentos amazônicos e latinos. (OLIVEIRA; WANKLER; SOUZA; 2009, p. 29) Atualmente, o movimento continua contribuindo para a formação dessa cultura local, desenvolvendo produções artísticas com enforque no contexto roraimense e amazônico. (OLIVEIRA; WANKLER; SOUZA; 2009, p. 35) 2.5 Boa Vista e movimento cultural atual Boa Vista é a capital do Estado de Roraima e possui uma longa história durante a ocupação portuguesa do extremo norte do Brasil. Segundo dados do site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade possui 284.313 mil habitantes, conforme informações do último senso realizado em 2010. Ainda de acordo com o site, o município apresenta um constante crescimento populacional desde os anos de 1991. Um ligeiro aumento de 1996 a 2000 mantém esse aumento constante até 2007, conforme gráfico exposto abaixo (IBGE). 30 Percebemos também por meio de gráficos do Instituto de 2009, que a existe maior incidência e preocupação com a base da educação da população, concentrando a maior parte dos índices para o ensino fundamental. No entanto, ensino médio e pré-escola têm níveis bastante baixos tanto em matrícula quanto em ocorrência de docentes. 31 Como capital do Estado, concentra em si a maior movimentação financeira de Roraima e o maior índice populacional. Decorrente desse fato, Boa Vista possui também a maior movimentação cultural, onde durante todo o ano são realizados diversos eventos artísticos. O órgão responsável pela realização desses eventos é a Fundação de Educação, Turismo, Esporte e Cultura da prefeitura de Boa Vista (FETEC). De acordo com o órgão, são realizados cerca de 10 grandes eventos durante o ano na capital, sendo o Boa Vista Junina o que mais se destaca pela grandiosidade da produção e pelo total de pessoas que atinge. Esses eventos têm um público total de 375 mil participantes, onde, entre os maiores, são investidos mais de 2 milhões de reais. 32 A FETEC, além de realizar, também investe na qualidade da divulgação do eventos, inclusive produzindo revistas institucionais como a revista Anarriê, que busca informar os leitores sobre o Boa Vista Junina. Figura 2 2.6 Revistas locais Para uma análise não muito extensa, escolhemos três revistas que foram publicadas em períodos diferentes, a fim de analisar também as mudanças temporais de mercado e de público. A fim de obter também ensinamentos a respeito da produção de uma mídia desse gênero no mercado local. 33 2.6.1 Revista Diretrizes A primeira edição da revista Diretrizes foi publicada no dia 30 de dezembro de 1990 pelo jornalista Laucides Oliveira. A mídia custava na época 350,00 Cruzeiros e, segundo o seu criador, era metade do valor das concorrentes nacionais, mas o preço variava muito devido às oscilações da inflação no país naquele ano. Diretrizes era impressa em Manaus (AM) com o tamanho de 26,5 x 20,5 cm no papel mais barato ou o que oferecesse melhores condições de custos - nesse caso o papel jornal em preto e branco - no entanto, possuía capa em estilo couchê com detalhes na cor verde. E a média de páginas da revista variava entre 30 e 70 páginas, dependendo do período publicação. Analisando algumas edições, percebemos que a revista não tinha uma periodicidade definida, circulando tanto de formal mensal quanto bimestral ou trimestral. A quantidade de espaço destinada aos anunciantes também variava de acordo sempre com as condições de venda da publicidade local. O conteúdo da revista era extremamente diversificado, contendo desde informações políticas até páginas sociais. Um detalhe a ser destacado do conteúdo de Diretrizes é que em algumas capas há a presença de ensaios fotográficos de mulheres da cidade. Segundo Laucides, essa era uma forma de valorizar a beleza feminina roraimense, mas também indica o uso de meios para chamar a atenção do leitor local. Impressiona a qualidade da revista, levando em conta que a produção total do produto (textos, fotos e diagramação) era feita somente pelo jornalista. Para Laucides, a maior dificuldade na produção da revista era a falta de mercado publicitário. “Naquela época tínhamos pouquíssimos empresários e o jornalista tinha que se virar”, diz o jornalista. A revista diretrizes continuou sendo produzida até 1992 quando encerrou suas atividades devido a problemas com a distribuição e com os patrocinadores. “A Diretrizes não foi a primeira/pioneira revista, mas foi a primeira a cumprir o seu papel de revista”, acrescenta o editor. 34 Figura 3 2.6.2 Revista Perspectiva Amazônica A revista Perspectiva Amazônica foi criada por volta do ano 2000 e pertencia ao grupo Folha de comunicação que buscava criar mais um meio de informação além do seu jornal diário (Folha de Boa Vista) para fazer parte da empresa. A mídia durou apenas um ano e oito meses por conta de um aumento nos custos de produção, que praticamente duplicaram, tornando o preço final da publicação inviável para a continuação do projeto. Para a distribuição das revistas, foi montado 35 um mapa das bancas da cidade e algumas pessoas foram contratadas para fazer esse serviço. Já na produção, trabalhavam cerca de sete pessoas, entre diagramadores, fotógrafos e jornalistas. De acordo com o editor da publicação na época, o jornalista Gelbson Braga, no início da produção a revista custava em torno de seis reais e era bem aceita no mercado. Ainda de acordo com o jornalista, sobravam poucas edições nas bancas. A revista continha em média 60 páginas coloridas e impressas em papel couchê no tamanho A4. Cerca de 40% do espaço da publicação era destinado aos anúncios, o que, no início, garantia a independência do produto. Sua tiragem era de três mil exemplares mensais. A Perspectiva Amazônica tinha caráter multitemático, ou seja, abordavadiversos assuntos referentes aos acontecimentos locais. O direcionamento ao público também era diversificado. O jornalista explica também que a produção de uma revista naquela época era muito mais trabalhosa e cara, pois não existiam os recursos que se tem hoje. “Nós trabalhávamos com fotolitos e câmeras fotográficas que ainda usavam filmes. Hoje em dia, a produção é muito mais prática, podendo ser trabalhada rapidamente e levada direto à gráfica para impressão”, relata. Outra dificuldade na produção de Perspectiva Amazônica estava no dead line da revista onde “muitas vezes os jornalistas atrasavam a entrega dos textos”, o que afetava a periodicidade, segundo Gelbson. Questionado sobre a viabilidade de produção de uma mídia local direcionada exclusivamente para a área de cultura, o editor acredita que é possível sim sua criação em Boa Vista, porém é preciso um buscar apoio e realizar um bom trabalho de divulgação da revista. “É preciso ir atrás de anunciantes e colaboradores que queiram vincular a sua marca a esse produto. Seria interessante vincular a revista a outro produto jornalístico, como fazíamos com a Perspectiva Amazônica. Algumas vezes nós encartávamos a edição junto ao jornal Folha de Boa Vista e assim divulgávamos nosso produto”, diz. 2.6.3 Revista Somos A revista Somos é uma mídia mensal da Federação do Comércio (Fecomercio) com tiragem de 1.500 exemplares por publicação. Atualmente, é a 36 revista de maior destaque no mercado jornalístico de Boa Vista. Possui uma média de 70 a 80 páginas e é impressa em papel couchê e capa tratada com verniz. Segundo o editor da revista, o jornalista Pablo Sérgio, a revista existe há cinco anos, no entanto, a equipe considera o ano de 2009 como a data de surgimento da Somos como revista independente, pois, antes disso a mídia tinha a característica de ser uma Custom Publish (Revista Institucional) que publicava os releases das instituições ligadas ao FECOMÉRCIO de Roraima. Trabalham diretamente na realização da revista Somos cerca de quatro pessoas: dois jornalistas, um diagramador e um publicitário. O espaço destinado aos anunciantes e colaboradores chega a 60% devido ao fato de a revista vender espaços jornalísticos também. O editor explica que tanto a prefeitura de Boa Vista quanto o governo de Roraima investem em espaços na revista para divulgação de suas ações. A mídia tem como foco o empreendedorismo, porém, é também direcionada para a área social, tendo conteúdo diversificado. Pablo Sérgio relata que as maiores dificuldades na produção de Somos estão relacionadas à estrutura e deficiência de pessoas trabalhando na revista, levando em consideração a qualidade da publicação. Apesar da revista ser independente, os principais mantenedores da Somos são os poderes públicos por meio dos espaços publicitários e as instituições do sistema S (Sesc, Sesi, Senac, Senai, etc), que publicam releases na revista por meio de suas assessorias. Em relação à criação de uma revista cultural em Boa Vista, o editor acredita ser interessante, importante e necessária, porém, não se conseguiria um público muito amplo de interesse. “Temos grupos em efervescência como o do teatro, da música e folclóricos, mas ainda não são grupos muito protagonistas (grupos instáveis). A sociedade ainda não tem a consciência de valorizar sua cultura, mas se toda ela tivesse a oportunidade de ter uma revista sobre o assunto seria importante”. 37 Figura 4 2.6.4 Revista Sala de Cinema A mídia é uma publicação bimensal produzida pelo acadêmico de jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Bruno Almeida, e por Israel Mattos. A revista foi criada em 20 de junho de 2010 e possui um tamanho padrão A4 de 170g em papel couchê brilhoso. Sala de Cinema, como próprio nome deixa bem claro, é direcionada aos amantes do cinema, que encontram em seu conteúdo informações 38 sobre a produção cinematográfica em geral, resenhas de filmes e dicas sobre o assunto. De acordo com Bruno, a revista possui, atualmente, um total de 60 páginas, no entanto, a idéia é aumentar essa quantidade para 80 páginas por publicação. A distribuição da mídia é gratuita, o que influi diretamente em sua quantidade de espaço destinado aos anúncios e a estrutura da revista. “Às vezes, acontece de no último dia em que estamos fechando uma edição, um cliente nos liga e diz que quer fechar uma página. Então, somos obrigados a retirar alguma reportagem, e colocar o anunciante. Com isso, acabamos mudando também toda a ordem das matérias do periódico”, relata. O acadêmico explica ainda que a maior dificuldade na produção dentro do mercado local se deu na criação do produto. A desconfiança dos empresários em investir num produto novo e diferente, produzido por um editor jovem. Mas que, hoje, todas essas barreiras foram superadas e Sala de Cinema conta com excelente reputação entre os investidores e os interessados em relacionar sua marca ao produto informativo. Questionado sobre suficiência por parte de anúncios dos empresários, o editor afirma que no momento, para o mercado de local, os investimentos são suficientes. “Em nível de Boa Vista, e como são apenas duas pessoas. Sim, é suficiente. Porém, como queremos crescer e fazer um trabalho ainda mais diferente é preciso uma participação maior. Porém, o mercado empresarial em Boa Vista é limitado. Diferente de Manaus, onde em apenas uma hora, durante uma de nossas visitas, três grandes empresas da cidade, se interessam pelo projeto” afirma. A criação de uma revista cultural no mercado de Boa Vista, segundo Bruno: “Se for bem elaborada, diagramada e principalmente, impressa com qualidade, tem tudo para fazer sucesso sim. O público de Boa Vista está mudando. Eles estão querendo algo novo. Pena, que os empresários e pessoas do nosso meio de comunicação não percebem isso. A revista Sala de Cinema, quando começou, ninguém acreditava nela. Hoje, recebemos elogios e críticas positivas e negativas. Já recebemos diversas propostas de trabalhos devido ao trabalho que realizamos com ela. Porém, temos um sonho a ser alcançado, e sonho não tem preço. Em breve, estaremos lançando outra revista na cidade, para abranger todo o estado. E já temos grandes parceiros fechados. E também, estamos caminhando para o mercado de Manaus. Tudo isso, resultado de muito trabalho. No começo tudo é difícil, mas com o tempo os resultados aparecem. O importante é não desistir e nem se deixar entristecer pelas dificuldades que aparecem. Se fossemos desistir a 39 cada “não” que recebemos, a revista Sala de Cinema não existiria até hoje. Enfim, tudo é válido, é mercado existe pra isso. Basta ter forca de vontade e muita determinação!”. 2.7 Entrevistas com proprietários e gerentes de revistarias Em uma rápida entrevista aos donos ou gerentes de algumas revistarias de Boa Vista – com um total de apenas três perguntas semi-estruturadas – pudemos identificar uma falta de política de distribuição e contato com esses empresários por parte das revistas locais. Um planejamento estratégico dos melhores pontos de vendas onde estão localizadas essas revistarias seria importante para a própria divulgação e oferta do produto. Conforme a entrevista, houve pontos de vendas onde os editores das revistas não ofereceram o seu material, não despertando o interesse dos proprietários das bancas e diminuindo o poder de alcance do produto. Quanto ao índice de vendagem das revistas, os proprietários informam que, mesmo voltando algumas revistas, a saída tem sido boa, com a maioria das mídias vendidas. Alguns fatores como a baixa diversidadee oferta de revistas locais e a falta de divulgação contribuem para o retorno de alguns produtos. Em relação à criação de uma revista cultural no mercado local, a maioria desses empresários acredita ser de interesse de seus clientes seja pela busca por informações de cunho local, seja pela grande movimentação cultural presente no Estado. “Acredito que uma revista com esse enfoque atrairia sim a atenção do público, pois a cultura, como um todo, está muito ativa, atualmente, no estado de Roraima e envolve um número de pessoas enorme”, afirma um dos proprietários. 40 CAPÍTULO III 3.1 Pesquisas com empresários A presente pesquisa teve como preocupação investigar se o empresariado local teria interesse em anunciar sua marca em uma revista com enfoque cultural, viabilizando sua produção. Para isso, foram feitos questionários não identificados com perguntas quantitativas e qualitativas ao segmento em Boa Vista. Foram aplicados um total de 20 questionários em empreendimentos de ramos diversificados. A opção em não fixar determinados segmentos comerciais teve como objetivo perceber, de forma qualitativa, se o mercado empresarial, em sua totalidade, está acessível ao tipo de mídia que este projeto pretende avaliar. É importante registrar que a maioria dos empresários foi receptiva e se mostrou prestativa em responder a pesquisa, porém, houve alguns se recusaram a participar, principalmente no momento em que foram questionados sobre o montante de verbas destinada aos anúncios da empresa. Outros se recusaram após saberem da pesquisa se tratar de um trabalho acadêmico, dando a impressão de não haver interesse no auxílio à produção científica. A pesquisa foi realizada entre os meses de maio e junho de 2011 com empresas localizadas em pontos variados na cidade Boa Vista, capital do estado de Roraima. 41 Gráfico 5 O Gráfico 1 demonstra que a maioria das empresas entrevistadas trabalham com reserva de verba para a sua publicidade. Porém, é importante destacar que, com a impressão qualitativa da pesquisa, percebemos que quanto maior a empresa mais se reserva recursos para a publicidade. Alguns empresários também trabalham com esse recurso apenas durante alguns períodos do ano, não sendo uma regra o investimento em mídias de publicidade ou informativas durante o ano inteiro. No entanto, de acordo com as entrevistas realizadas com editores, a proposta de anúncio feita pessoalmente sempre tem bons resultados. 42 Gráfico 6 No gráfico 2 buscou-se averiguar qual o montante de recursos destinados à propaganda. Aqui, temos que levar em consideração a diversidade de empresas pesquisadas, pois tanto grandes como pequenos empreendimentos foram alvo dos questionários aplicados. Com base nas informações recolhidas, percebemos que a maior parte das empresas tem recursos para fins de divulgação de seu empreendimento, todavia, algumas investem mais e outras menos. Empresas maiores tendem a guardar mais recursos para divulgação de seus produtos e marca. Identificamos nessa questão uma grande demonstração de resistência por parte dos entrevistados. Muitos, ao serem questionados sobre a aplicação de suas verbas destinadas aos anúncios comerciais, se negaram a continuar respondendo a pesquisa, alegando falta de autorização por parte de um superior. 43 Gráfico 7 Aqui se buscou investigar qual mídia os empresários têm maior preferência. Conforme o gráfico ficou evidente a preferência pela TV. Em segundo, ficou o rádio e em terceiro as mídias impressas juntamente com o outdoor. Isso demonstra, respectivamente, qual mídia tem o melhor retorno por meio dos anúncios. A preferência pela televisão tem diversas explicações. Uma delas são os seus recursos móveis, o que favorece o entretenimento que sobrepuja a informação. Mas, quando muitos previam que os jornais poderiam falir diante desses fatores, o jornalismo impresso buscou verificar suas possibilidades, analisando suas vantagens e desvantagens para se manter no mercado e continuar vitoriosa. A profundidade continua sendo uma das melhores qualidades do jornalismo impresso. (ERBOLATO, 1991, p. 28) O meio digital ainda não oferece muitos atrativos para a divulgação, pois nem todos têm acesso rápido e fácil a um computador, nem mesmo um acesso a internet de qualidade. 44 Gráfico 8 Neste gráfico, a intenção foi descobrir, entre os principais veículos locais, qual tem maior preferência no meio empresarial. Acompanhando o gráfico anterior, mais uma vez TV e rádio tiveram maior preferência, sendo a TV Roraima e a Rádio Tropical os veículos preferidos dos anunciantes. Aqui, o impresso ganha maior destaque com o jornal Folha de Boa Vista, onde 45% dos anunciantes demonstrarem interesse por divulgar seus produtos nessa mídia. É importante destacar que os entrevistados poderiam marcar mais de uma opção, escolhendo num universo bastante variado de mídias locais, as que mais lhe interessavam quanto ao anúncio de seus produtos. 45 Gráfico 9 Quanto à satisfação obtida por meio de anúncios veiculados nas mídias não restam dúvidas. A maioria dos comentários dos empresários em relação a isso é a de que no dia após o início das propagandas o movimento de vendas aumenta consideravelmente. Essa conclusão é percebida na prática, com o cotidiano e essa percepção do aumento de vendas após veiculação em veículos jornalísticos. Observando as entrevistas feitas com os editores de revistas, principalmente das mídias mais antigas que reclamavam da falta de empresários que financiassem as suas revistas, identificamos uma melhora no mercado em relação aos anunciantes. O retorno desses anúncios, atrai o interesse cada vez maior dos comerciantes para a divulgação de seus produtos em mídias de informação. 46 Gráfico 10 O Gráfico 5 mostra que a maioria dos entrevistados tem interesse em divulgar sua empresa em um veículo novo. Mesmo que não especificando diretamente a mídia, existe boa aceitação por novos veículos de comunicação, o que contribui para apresentação desses novos produtos midiáticos. 47 Gráfico 11 Aqui chegamos ao ponto mais importante da pesquisa, onde as perguntas foram feitas pelo método qualitativo de investigação. Foi questionado aos entrevistados se haveria interesse em anunciar em uma revista voltada exclusivamente para assuntos da cultura local. Como demonstra o gráfico, 75% dos empresários têm interesse sim em anunciar em uma mídia dessa natureza. A maior parte deles tem interesse pelo fato da revista ser uma novidade. Outros 33% dos interessados acham que seus clientes se interessam por cultura e anunciar em uma revista desse gênero atingiria seus objetivos, além de atrair novos consumidores. Já 27% anunciariam no veículo para valorizar tanto a cultura quanto às mídias locais. Quanto aos 25% dos entrevistados que não tem interesse em divulgar em uma mídia de cunho cultural, 60% deles alegam que esse tipo de veículo não atende aos interesses da empresa, os demais relatam o alto custo de investimento e a falta de interesse de seus clientes pela cultura local. Sim Não 48 Gráfico 12 A última questão, também realizada de forma qualitativa a fim de investigar de uma forma mais ampla a reputação dos veículos de comunicaçãolocais diante da classe empresarial boa-vistense. Segundo os resultados, 65% dos entrevistados acreditam que os veículos informativos locais têm cumprido bem sua função de informar. Para 69% deles, houve uma melhoria na qualidade das informações e tem atendido as expectativas de informação. Outros 35% acham que os veículos não têm cumprido sua função, pois precisam melhorar em qualidade de informação ou acham que as mídias jornalísticas locais ainda sofrem muita influência dos governos. Destes 35%, mais da metade, 57%, acreditam que é preciso melhorar a qualidade dos veículos. Em relação às questões políticas, 43% acreditam que os veículos sofrem influência dos governos. Sim Não 49 Conclusão Ao final de todo essa produção e investigação sobre a viabilidade de criação de uma revista jornalística com enfoque na cultura roraimense, ficou ainda mais concreta a sensação de que uma mídia do gênero é anseio da sociedade, é interessante aos anunciantes e tem lugar garantido nas vitrines das revistarias de Boa Vista. A riqueza cultural de Roraima, movida pelos esforços dos artistas locais e a administração pública, necessita de maior atenção, tanto jornalística quanto histórica. No entanto, a reflexão a cerca dessa produção cultural deve ser incentivada pelos meios de comunicação de massa, a fim de explorar o melhor da indústria cultural e também evitar a alienação social por meio desta. O entretenimento não pode retirar da arte sua característica profundamente reflexiva, que nos atinge a alma e incentiva ao progresso. O auxílio ao processo de criação de uma identidade cultural roraimense pode encontrar nas revistas um poderoso aliado, devido à intimidade que possui com seu público. A profundidade das reportagens é outro fator que é perfeitamente compatível com a construção dessa indentidade. As experiências relatadas por editores de revistas locais não serviram apenas como descrições de fatos históricos sobre revistas locais, mas também como lições para a produção de mídias do gênero, algo ainda pouco explorado e analisado no contexto jornalístico. Em relação às pesquisas realizadas com empresários locais para averiguar seu interesse em anunciar nos veículos jornalísticos de Boa Vista, além do interesse em anunciar em uma revista sobre cultura local, percebemos e confirmamos a participação favorável dos empreendedores que, em sua maioria, buscam sempre divulgar seus produtos por meio de veículos jornalísticos e de entretenimento, sendo atendidos em suas expectativas e obtendo retorno satisfatório, segundo eles mesmos. O desejo é de que esta pesquisa possa auxiliar os interessados na produção de mídias jornalísticas, bem como contribuir com a produção científica a respeito das 50 revistas que tratem de temas amazônicos, fortalecendo assim o conhecimento sobre essa região tão importante para o planeta. 51 Bibliografia SCALZO, Marília. Jornalismo de Revista / Marília Scalzo. 3. Ed. – São Paulo: Contexto, 2006. (Coleção Comunicação). PIZA, Daniel Jornalismo Cultural / Daniel Piza.3. Ed. – São Paulo: Contexto, 2007. (Coleção Comunicação). ERBOLATO, Mário L. Técnicas de Codificação em Jornalismo / Mário L. Erbolato. 3. Ed. – São Paulo: Ática S.A., 1991. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 24 ed. - Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2009. LAGE, Nilson 1936 – A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística / Nilson Lage. – 6ª Ed. – Rio de Janeiro: Record, 2006. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 22ª Ed. São Paulo: Cortez, 2002. 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