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01Crimes Previdenciário

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Crimes Previdenciário
Antônio Paulo Soares Lopes da Silveira
Mestre em Ciências Criminais - PUCRS
Advogado Cível e Criminal 
I - Uma introdução necessária. 
	Como se trata do primeiro artigo de uma série que analisa brevemente certos aspectos dos tipos penais previdenciários, inexorável uma breve introdução apresentando o objetivo do estudo. 
	Indiscutível que todos os sistemas previdenciários, em especial o brasileiro, são constituídos de complexas relações e interações sociais, envolvendo uma gama de debates jurídicos e mais ainda atos administrativos ordinários.
	Existe uma gigantesca estrutura para administrar e organizar o sistema previdenciário brasileiro, o qual pela precariedade de investimento, e ou pela demanda comum de serviços, possibilita a criação de certos hiatos de segurança oportunizando a pratica de condutas desviantes – crimes. Alguns casos envolvendo servidores públicos, em outros envolvendo contribuintes. 
	Diante disso, os tipos penais previdenciários surgem como o mais forte braço do Estado para combater certas práticas que afetam sobremaneira toda a previdência, principalmente seus cofres, consistindo na última esfera de proteção do direito – a ultima ratio do direito. 
	Assim, os fatos sociais escolhidos pelo legislador para se tornarem crimes previdenciários, tem o objetivo de proteger bens jurídicos relacionados ao sistema previdenciário, consistindo na forma máxima de proteção jurídica do sistema previdenciário. 
	Os textos, portanto, explicarão de forma introdutória as peculiaridades dos crimes previdenciários existentes no ordenamento jurídico brasileiro, bem como indicarão precedentes pontuais sobre certos crimes. 
	A importância do estudo surge exatamente na avaliação da efetividade da criminalização de certas condutas e se elas conseguem atingir os objetivos propostos de prevenção geral das práticas danosas ao sistema, bem como se é necessário a utilização do direito penal para tanto. 
	No limiar de uma radical mudança no sistema previdenciário, que a partir de 2017 será profundamente alterado para diminuir, restringir e acabar com diversos direitos dos contribuintes, devemos observar como o direito penal pode ser instrumentalizado para blindar principalmente os cofres da previdência.
Diante do quadro que se apresenta, o objetivo do texto também será responder ao relevante questionamento: o pensamento autoritário que paira sobre toda a nação poderá alcançar até a especialidade dos tipos previdenciários? 
A pergunta se valida diante da escassez de recursos que se anuncia cotidianamente em campanhas governamentais e pelos políticos, bem como pelo fato de que há muito a criminologia nos ensina que o direito penal é o remédio à todas as doenças e a expansão da persecução penal a cura de todos os males. 
II – Previdência social e a necessidade de proteção 
 
O artigo 194 da Constituição Federal de 1988 expressamente define que “a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.”
Extrai-se do texto constitucional e do artigo 1º da Lei n.º 8.212/91 que a seguridade social é um conjunto de inciativas públicas e da sociedade civil que tem por objetivo assegurar à população o direito a saúde, previdência social e assistência social. 
A previdência social está disciplinada no artigo 201 da magna carta, e tem como objetivo preservar o estado de bem-estar social e a dignidade da pessoa humana, elementos fundamentais do Estado de Direito. 
Imperiosa é a verificação de quais bens jurídicos estão sendo afetados pelas condutas praticadas, para constatar se existe a necessidade de proteção do Estado, ainda mais em sua máxima intensidade: o direito penal. 
Essa constatação é importante pois um bem jurídico tutelável só pode ser encontrado em um valor jurídico constitucionalmente reconhecido em nome do sistema social total e que, deste modo, se pode afirmar que preexiste ao ordenamento jurídico-penal. Devem, portanto, considerar-se a concretização dos valores constitucionalmente expressos ou implicitamente ligados aos direitos e deveres fundamentais e à ordenação social, política e econômica. 
O legislador criminal poderá opor a criminalização em atenção aos bens constitucionalmente previstos, aqueles que pela filtragem valorativa do legislador constituinte são opostos como base e estrutura jurídica da comunidade. Servindo a constituição como base e fonte, bem como seu limite.
Assim, o bem protegido deve ser de relevância fundamental, estando ancorado nas linhas dos direitos fundamentais do cidadão. O Estado tem por objetivo fornecer e assegurar aos cidadãos os direitos que decorrem de uma busca pela Dignidade da Pessoa Humana, sendo orbitados pelos demais direitos necessários para uma vida digna, livre e de coexistência pacífica pelos demais membros da sociedade.
Em outras palavras, bem jurídico é tudo aquilo que é imprescindível para a satisfação das necessidades humanas, tratando-se de um direito fundamental que deve ser protegido pelo direito penal. 
Inequívoco que a Seguridade Social, estando inclusa nela a Previdência Social, é um instrumento para suprir as necessidades básicas do ser humano e promover políticas no sentido de promover o bem-estar social e a justiça social. Deste modo, à Previdência Social é atribuído um valor constitucional passível da mais intensa proteção pelo Estado.
Assim, no que pese parte da doutrina entender que o bem jurídico tutelado é a defesa do patrimônio público ou a ordem econômica, entende-se que a proteção também se relaciona com a função social da previdência e os objetivos humanistas imanentes. Ou seja, ultrapassando as questões meramente materiais, o bem jurídico tutelado seriam as políticas de seguridade social que promovem a solidariedade e inclusão de todos os cidadãos, reforçando os valores constitucionais indispensáveis a pessoa humana. 
Uma importante lição de Cézar Bittencourt: “bem jurídico protegido são as fontes de custeio da seguridade social, particularmente os direitos relativos à saúde, à previdência, e à assistência social (art. 194 CF) ou sinteticamente, a seguridade social.” (Tratado de Direito Penal – Parte Especial. v. 4. São Paulo: Saraiva, 2016. P. 499). 
Por fim, com o objetivo de indicar um conceito mais recorrente, a doutrina mais recente elenca principalmente como bem jurídico protegido pelos crimes previdenciários: a arrecadação tributária ou o patrimônio da previdência social. 
Todavia, importante ressaltar que a matéria não é pacífica, existindo inúmeros entendimentos sobre qual é o bem jurídico dos crimes previdenciários. Aliás, não é incomum essa divergência teórica, pois diversas questões envolvendo crimes econômicos, por se tratar de novas disciplinas do direito penal, estão em recente debate e pesquisa, motivo pelo qual dificilmente uma posição poderá ser considerada predominante. 
III – Organização dos crimes previdenciários
O INSS, como gestor da estrutura previdenciária brasileira, atua no controle da arrecadação dos tributos previdenciários e na concessão dos benefícios previdenciários aos assegurados e aos necessitados.
Portanto, dentro da especialidade dos crimes previdenciários pode-se observar duas modalidades: a) crimes contra o sistema de arrecadação; b) crimes contra o sistema de concessão de benefícios. 
Os crimes contra o sistema de arrecadação previdenciário são de natureza estritamente fiscal, podendo adentrar o rol dos crimes de colarinho branco e serem denominados crimes econômicos. 
Nessa modalidade existem duas condutas previstas, o crime de apropriação indébita previdenciária, tipificado no artigo 168-A, do Código Penal, e o crime de sonegação de contribuição previdenciária, tipificado no artigo 337-A, do Código Penal. 
Já os crimes contra o sistema de concessão de benefícios se dividem em próprios e impróprios. Os delitos impróprios configuram-se pelo recebimento indevido de um benefíciomediante fraude ou ardil. A conduta está tipificada no artigo 171, do Código Penal, como crime de estelionato, com previsão de majorante no parágrafo terceiro pelo fato de ser cometido contra a previdência pública, daí a nomenclatura estelionato previdenciário. Ainda, existe a previsão da falsidade documental previdenciária, prevista nos parágrafos 3º e 4º do artigo 297 do CP. 
Importante ressalta que os crimes de falsidade documental (art. 296, §1º, CP), falsificação de documento particular (art. 298, CP), falsidade ideológica (art. 299, CP), uso de documento falso (art. 304), e falso testemunho ou falsa perícia (art. 342, CP), geralmente servem como condutas meio para a prática do estelionato previdenciário. Todavia, estes não serão analisados, haja vista que, em nosso entendimento, as condutas são absorvidas pela prática do crime fim. 
Já na modalidade dos delitos próprios, que só podem ser praticados por servidores da previdência pública, existem duas condutas previstas, o crime de inserção de dados falsos em sistema de informação, previsto no artigo 313-A, do Código Penal, e o crime de alteração não autorizada no sistema informatizado da previdência, previsto no artigo 313-B, do Código Penal. 
Ainda, poderia ser inserida nessa modalidade condutas que não pertencem a especialidade dos crimes previdenciários, mas que podem ser vistas no exercício da função do cargo público, como o crime de violação de sigilo profissional, disposta no artigo 325, §1º e 2º, do Código Penal. No inciso I está prevista a conduta típica de permissão ou facilitação do uso de senha de acesso de pessoas não autorizadas aos sistemas de informação ou bancos de dados da Previdência Social, e no inciso II está prevista a conduta típica de utilização indevida do acesso restrito. 
Ressalta-se importante questão, a Lei 9.983/00 modificou o conceito de funcionário público para fins penais. Ocorreu a alteração do artigo 327 do Código Penal, pelo qual equiparou-se “...a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública”. Portanto, ocorreu uma grande ampliação das pessoas que podem praticar os delitos previdenciários próprios. 
Resumo dos Crimes Previdenciários: 
- Apropriação indébita previdenciária (art. 168-A, CP).
- Estelionato Previdenciário (art. 171, §3°, CP).
- Falsidade documental previdenciária, prevista nos parágrafos (art. 297, § 3º e 4º, CP). 
- Inserção de dados falsos em sistema de informação (art. 313-A, CP).
- Alteração não autorizada no sistema informatizado da Previdência (art. 313-B, CP).
- Sonegação de contribuição (art. 337-A).
- Violação de sigilo funcional (art. 325, §§ 1º e 2º, incisos I e II, CP).
No próximo artigo iniciaremos a análise dos crimes contra o sistema de arrecadação, começando pela apropriação indébita previdenciária (168-A, CP), e assim sucessivamente durante os próximos meses. 
Referências: 
BITENCOURT, Cézar. Tratado de Direito Penal – Parte Especial. v. 4. São Paulo: Saraiva, 2016. 
FILHO, Edmar Oliveira Andrade. Direito Penal Tributário. 7. ed. São Paulo: Editora Altas, 2015. 
SALOMÃO, Heloisa Estellita Salomão (Coord.). Direito Penal Empresarial. São Paulo: Dialética, 2001.

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