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TCC Guilherme Braga versao final

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO"
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
GUILHERME BRAGA DA ROCHA RIBEIRO
A COLABORAÇÃO PREMIADA E OS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
FRANCA
2017
GUILHERME BRAGA DA ROCHA RIBEIRO
A COLABORAÇÃO PREMIADA E OS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciência Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", como pré-requisito para obtenção do Título de Bacharel em Direito. 
Orientador: Prof. Dr. Paulo César Corrêa Borges
FRANCA
2017
GUILHERME BRAGA DA ROCHA RIBEIRO
A COLABORAÇÃO PREMIADA E OS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciência Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", como pré-requisito para obtenção do Título de Bacharel em Direito. 
BANCA EXAMINADORA
Presidente:___________________________________________________________
Prof. Dr. Paulo César Corrêa Borges
1º Examinador:________________________________________________________
2º Examinador:________________________________________________________
Franca, ____ de ___________________ de 2017.
Dedico aos meus pais Haroldo Ribeiro e Cecília Ribeiro pelo modelo de honestidade, ética e dedicação. Dedico também aos meus irmãos André Ribeiro e Caio Ribeiro por todo o apoio e cooperação. 
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer aos meus pais e meus familiares por todo o apoio, educação, paciência e carinho a mim dados durante toda a graduação.
Ao professor Paulo Borges pela oportunidade e confiança em mim depositada para a realização desse trabalho e aos membros da banca pelos ensinamentos e exemplos de seriedade e profissionalismo. 
À todos os colegas da Vigésima Oitava Turma de Direito da Unesp, pela mútua colaboração e por tornar toda a experiência da graduação mas prazerosa com grandes momentos de demonstração de amizade e cumplicidade. Também aos amigos Narayana, Talita e Wágner com quem pude contar nos momentos de fazer trabalhos, estudar bem como se divertir e compartilhar momentos bons. 
Aos membros da Sapateria Unesp Franca pelos momentos inesquecíveis que me ensinaram o que a união em torno de um bem comum é muito prazerosa e que o comprometimento para se fazer algo que se ama é o que faz tudo valer a pena. 
Aos moradores da República Alcatraz e Tcheca pelo acolhimento em uma cidade desconhecida e por terem se tornado verdadeiras família para mim. E à República King Size, pelo acolhimento, por um breve momento, mas que resultou em amizades eternas. 
Aos membros do CEPC, pelo projeto e estudo que originou a escolha do tema a ser trabalhado nesta monografia. 
Por fim gostaria de agradecer aos professores da Unesp pelo compartilhamento de conhecimentos e aos funcionários da Unesp pela dedicação e atendimento cordial aos alunos da faculdade. 
"Um dia, os juristas vão se ocupar do direito premial. E farão isso quando, pressionados pelas necessidades práticas, conseguirem introduzir matéria premial dentro do direito, isto é, fora da mera faculdade ou arbítrio. Delimitando-se com regras precisas, nem tanto no interesse do aspirante ao prêmio, mas, sobretudo no interesse superior da coletividade." 
Rudolf Von Ihering, 1853.
RIBEIRO, Guilherme Braga da Rocha. A colaboração premiada e os crimes contra a administração pública. 2017. 85 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Direito) - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Franca, 2017. 
RESUMO
O presente trabalho discorre sobre o instituto da colaboração premiada e sua aplicação acerca dos crimes contra a administração pública. Estuda-se as origens desse instituto em ordenamentos de outros países e no Brasil. Também analisa-se seu conceito e sua natureza jurídica, bem como os requisitos, benefícios e o procedimento atinentes à sua aplicação. Aborda-se os crimes contra a administração pública analisando a definição, a classificação, os tipos penais e a forma como esse tipo de crime se materializa e os problemas que essas práticas delituosas causam à sociedade brasileira. Por fim, a aplicação da colaboração premiada na investigação e responsabilização de delitos de corrupção, expondo as dificuldades advindas destes delitos, questões controversas acerca da colaboração, posicionamentos contrários e favoráveis a esse instituto e a resposta da jurisprudência sobre tais questões. Para tal, foi feito levantamento doutrinário e jurisprudencial acerca do tema exposto para verificar o posicionamento e proposições de autores e intérpretes do direito. 
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................10
CAPÍTULO 1 O INSTITUTODA COLABORAÇÃO PREMIADA.......................13
1.1 Origens....................................................................................................................13
1.1.1 Itália.....................................................................................................................13
1.1.2 Estados Unidos.....................................................................................................14
1.1.3 Brasil....................................................................................................................15
1.2 Conceito..................................................................................................................18
1.3 Natureza Jurídica..................................................................................................20
1.4 Requisitos para a concessão da colaboração premiada.....................................23
1.4.1 Disposições Gerais.............................................................................................23
1.4.2 Voluntariedade...................................................................................................26
1.4.3 Eficácia da colaboração....................................................................................28
1.4.4 Circunstâncias Subjetivas e Objetivas Favoráveis...........................................31
1.5 Benefícios decorrentes da colaboração premiada.............................................33
1.6 Procedimento........................................................................................................36
1.6.1 Momento.............................................................................................................36
1.6.2 Legitimidade.......................................................................................................37
1.6.3 Da Decisão Homologatória do Acordo de Colaboração Premiada..................39
1.7 Valoração como prova.........................................................................................40
CAPÍTULO 2. DOS CRIMES CONTRA A ADMINSTRAÇÃO PÚBLICA................44
2.1 Definição dos crimes contra a administração pública......................................44
2.2 Classificação........................................................................................................45
2.3 Tipos Penais ........................................................................................................48
2.3.1 Peculato.............................................................................................................48
2.3.2 Concussão..........................................................................................................48
2.3.3 Corrupção Passiva............................................................................................49
2.3.4 Prevaricação.....................................................................................................51
2.3.5 Corrupção Ativa................................................................................................522.3.6 Tráfico de Influência.........................................................................................53
2.3.7 Lavagem de Dinheiro........................................................................................55
2.3.8 Organização Criminosa....................................................................................56
2.4 A Corrupção no Brasil........................................................................................57
CAPÍTULO 3. ASPECTOS SOBRE A APLICAÇÃO DA COLABORAÇÃO PREMIADA...............................................................................................................60
3.1 Dificuldades Relacionadas à Corrupção............................................................60
3.2 Aspectos controversos acerca da colaboração premiada.................................63
3.2.1 Constitucionalidade da colaboração premiada...............................................63
3.2.2 Direito de não se autoincriminar.....................................................................64
3.2.3 Princípio da Culpabilidade..............................................................................65
3.2.4 Quebra da Isonomia.........................................................................................67
3.2.5 Eficácia probatória e presunção de Inocência do corréu não colaborador...68
3.3 Posicionamentos contrários à colaboração premiada......................................69
3.4 Posicionamentos favoráveis à colaboração premiada......................................71
3.5 Análise Jurisprudencial......................................................................................75
CONCLUSÃO...........................................................................................................80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................83
INTRODUÇÃO
	A corrupção é uma prática que sempre existiu na história da humanidade, segundo Nietzche a corrupção não é um fenômeno normal, mas é muito comum e também uma criação humana, demasiada humana. Ou seja, a corrupção é algo intrínseco à humanidade desde tempos imemoriáveis. Entretanto, observa-se que a prática de corrupção, causadora de prejuízo direto aos cofres da administração pública que é abastecido pelos impostos pagos com o tempo de dedicação de milhões de brasileiros e, portanto, um prejuízo indireto à sociedade como um todo, tem tomado proporções gigantescas no Brasil. [1: NIETZCHE apud MACHADO, Antônio Alberto. Se for pra falar de corrupção. Disponível em: < https://avessoedireito.wordpress.com/2014/10/09/se-for-pra-falar-de-corrupcao/>. Acesso em: 27 set 2017. ]
	Uma das causas do aumento exponencial, da corrupção, observado no país se dão pela fragilidade que os órgãos públicos têm para investigar e combater a prática desses crimes usando-se dos métodos tradicionais de investigação que se mostram obsoletos e inócuos para que haja uma persecução penal adequada e solucione tais crimes. Soma-se a isso o fato das associações criminosas, que atuam na esfera administrativa, travestidos de políticos, funcionários públicos e empresários, contarem com recursos que facilitam a operação criminosa e dificultam a investigação desses crimes. Podemos citar, grande volume de pessoas, aparato tecnológico desenvolvido, grande volume de recursos financeiros, remessa de divisas oriundas de atividade criminosa para paraísos fiscais no exterior, lavagem de dinheiro, contabilidade do crime bem estruturada, entre outros.
	Diante das dificuldades encontradas no que se refere à investigação, combate e prevenção à corrupção, mostra-se necessário que o estado lance mão de novas estratégias para uma mais efetiva solução no combate ao crimes contra a administração pública. Entre essas estratégias pode-se destacar a colaboração premiada, através do fornecimento de informações a respeito da empreitada criminosa, por um, ou mais dos coautores do delito, pode-se observar uma maior facilidade na colheita de provas, na identificação dos autores e na busco dos frutos oriundos das atividade criminosa para que se possa ressarcir o dano ao patrimônio público. 
	A colaboração premiada já era prevista no ordenamento jurídico brasileiro em leis penais especiais esparsas todavia não havia uma regulamentação clara e universal. A lei 12.850/2013 (Lei das Organizações Criminosas) traz essa regulamentação faltante e determina a colaboração premiada como um método de obtenção de prova e estabelece requisitos para a concessão e celebração do acordo, assim como os benefícios que podem ser concedidos à pessoa que colabora, desde que, suas contribuições sejam consideradas efetivas e verdadeiras.
	O presente estudo tem por objetivo entender a utilidade da aplicação desse instituto que pode vir a trazer benesses na investigação de crimes de corrupção. Além disso, objetiva-se entender a mecânica de aplicação desse instrumento para tal analisando a lei, os procedimentos e os princípios que acompanham a adoção da colaboração premiada. 
	A importância dessa pesquisa se dá na problemática de que a aplicação do instituto da colaboração premiada pode ser considerada imoral e antiética. Além do fato de haver muita informação conflitante acerca desse instrumento devido à grande repercussão e visibilidade que a colaboração premiada está tendo nos dias de hoje, nos mais diferentes veículos midiáticos. 
	Muitos autores consideram que a colaboração premiada é um fomento à traição viu e uma forma de se estimular a impunidade de quem se beneficia do acordo, além do mais, há que considere que a colaboração premiada resulta em injustiça por dar penas diferentes a autores do mesmo delito. De outra sorte há que defenda que a criminalidade não encontra apoio nos mesmos princípios de ética e moralidade pelo fato dos delinquentes causarem dano à sociedade, não podendo eles estarem sujeitos aos mesmos preceitos morais do cidadão de bem. Ainda, esses autores defendem que a sensação de impunidade sempre existiu, principalmente quando se trata de crimes contra a administração pública, independente da existência de colaboração premiada ou não. 
	O que se buscará demonstrar no presente é que a colaboração premiada se justifica pela sua utilidade no combate à corrupção, cometida por associações criminosas, pelo fatos desses delitos serem extremamente complexos e difíceis de investigar. Ou seja, deseja-se mostrar como a colaboração premiada pode ser útil para reduzir a criminalidade na esfera administrativa e reduzir a enorme quantidade de prejuízo causada ao erário e indiretamente aos cidadãos brasileiros contribuintes que veem o dinheiro de seu trabalho, pago atrvés de impostos ser, inescrupulosamente subtraído. 
	A divisão do presente trabalho se dá em três capítulos. O primeiro capítulo busca analisar o instituto da colaboração premiada propriamente dito. Primeiramente busca-se entender a colaboração premiada através da análise de suas origens em países que tiveram experiências conhecidas com o instituto e no próprio Brasil. Depois, será abordado o conceito e natureza jurídica do instituto. Após isso será analisada a regulamentação que a lei 12.850/2013 trouxe a respeito da questão, no que tange aos requisitos, benefícios, procedimento e valor probatório do instrumento em análise. 
	O segundo capítulo tem por objetivo o estudo dos crimes contra a administração pública, sua definição e sua classificação, como entre cometidos por particulares e cometidos por funcionários públicos, para tal também é abordado o conceito de funcionário público para fins penais. Logo após, é feita uma análise individualizada dos principais tipos penais característicos dos crimes de corrupção e de outros delitos que são relacionados à prática de corrupção como o concurso de agentes e a lavagem de dinheiro. Por fim, busca-se compreender e fenômeno da corrupção no Brasil. 
	No terceiro e último capítulo procura-se compreender as dificuldades relacionadas à investigação e responsabilização penal dos crimesde corrupção, entender quais os aspectos controversos oriundos se sua aplicação. Ademais intenta-se enunciar como a doutrina se posiciona a esse respeito e qual foi a resposta encontrada pela jurisprudência quanto aos aspectos polêmicos que cercam o instituto colaborativo premiado. 
	No desenvolvimento desse estudo foi usado o método dedutivo-bibliográfico, foi feito um levantamento de um amplo conjunto bibliográfico, dentre os quais, doutrinas, livros, leis, artigos científicos, trabalhos de conclusão de curso, pesquisa de dados tanto em meios físicos, quanto eletrônicos provenientes como a internet. Buscou-se caracterizar a colaboração premiada, refletir sobre a sua utilidade e os problemas advindos da sua utilização. Do mesmo modo, procurou-se entender as problemáticas acerca dos crimes de corrupção, no que se refere aos meios como esses delitos ocorrem e em como esses meios dificultam a investigação e combate apropriado desse tipo de delito. Finalmente buscou-se justificar a utilização do método da colaboração premiada analisando-se os aspectos controversos que envolvem esse instrumento, instituído pela Lei n. 12.850/2013 para complementar os métodos tradicionais de investigação que se mostram cada vez mais ineficientes. 
CAPÍTULO 1 O INSTITUTO DA COLABORAÇÃO PREMIADA
1.1 Origens
	Podemos encontrar meios de obtenção de prova parecidos com o que hoje se chama de colaboração premiada nos tempos da idade média onde segundo José Marson Guidi: 
A colaboração era valorada segundo dois critérios: se feita sob confissão espontânea e se a confissão era obtida sob tortura. Aquele que confessasse espontaneamente estaria inclinado a mentir em prejuízo de outrem. Naquela época, considerava-se que era mais fácil o corréu mentir do que falar a verdade.[2: GUIDI, José Alexandre Marson. Colaboração Premiada no combate ao crime organizado. Franca: Lemos & Cruz, 2006, p. 101. apud COSTA, Marcos Dangelo. Delação Premiada. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/vdisk3/data/Delacaopremiada.pdf>. 2008, p. 21. Acesso em: fev de 2017.]
	Embora a colaboração premiada exista em ordenamentos jurídicos de diversos países, foram as experiências da Itália e dos Estados Unidos que mais influenciaram no modo como a colaboração premiada é utilizada no ordenamento jurídico brasileiro e a seguir analisaremos as origens da colaboração premiada nestes dois países e em seguida os surgimento deste instituto no Brasil. 
1.1.1 Itália
	Na Itália o instituto da colaboração premiada surge para combater crimes relacionados ao terrorismo na década de 1970, entretanto é no combate às organizações mafiosas que ele se notabiliza. Principalmente através da Operação Mãos Limpas (operazione mani pulite). 
	No que diz respeito à origem da colaboração com a justiça na Itália Silvio D' Amico citado por Eduardo Araújo da Silva nos revela que: 
No direito italiano, as origens históricas do fenômeno dos “colaboradores da Justiça” é de difícil identificação; porém sua adoção foi incentivada nos anos 70 para o combate dos atos de terrorismo, sobretudo a extorsão mediante sequestro, culminando por atingir seu estágio atual de prestígio nos anos 80, quando se mostrou extremamente eficaz nos processos instaurados para a apuração da criminalidade mafiosa. O denominado pentitismo do tipo mafioso permitiu às autoridades uma visão concreta sobre a capacidade operativa das Máfias, determinando a ampliação de sua previsão legislativa e a criação de uma estrutura administrativa para sua gestão operativa e logística (Setor de Colaboradores da Justiça) [...] A denominação pentito, que deu origem ao fenômeno do pentitismo, foi criada pela imprensa nos anos 70, para designar a figura jurídica prevista no art. 3º da Lei nº 304/82, ou seja, o sujeito que, submetido a processo penal, confessava sua própria responsabilidade e fornecia às autoridades notícias úteis à reconstituição dos fatos do crime (conexos com o terrorismo ou com a eversão do ordenamento constitucional) e a individualização dos respectivos responsáveis.[3: D' AMICO apud SILVA, Eduardo Araújo da. Crime Organizado: Procedimento probatório. São Paulo: Atlas, 2003, p. 79.]
	Sobre as origens da delação premiada, observamos que na Itália o instituto teve sucesso na resolução de crimes complexos praticados por organizações criminosas tradicionais que perpetuaram naquele país por um bom tempo.Atualmente tais organizações, conhecidas como máfias, não estão presentes nos noticiários internacionais devido a solução dessas práticas criminosas através do chamado pentitismo que se trata de um instituto parecido com a nossa colaboração premiada consubstanciado através da famosa Operação Mãos Limpas. 
1.1.2 Estados Unidos 
	Sobre a experiência dos Estados Unidos da América Luiz Flávio Gomes diz: 
Como sistema global de resolução dos conflitos penais a Justiça consensuada (ou negociada) tem origem (no século XX) nos Estados Unidos da América que, seguindo a tradição anglo-saxônica, criaram um peculiar procedimento para permitir a negociação penal não só na criminalidade pequena ou média, sim, em todo e qualquer tipo de delito. A denominada “justiça pactada ou contratada ou negociada” está centrada, especialmente, sobre a plea bargaining...O mais conhecido modelo de plea bargaining é o que consiste no seguinte: uma vez que se dá conhecimento da acusação – qualquer que seja o crime – para o imputado, pede-se a pleading, isto é, para se pronunciar sobre a culpabilidade; se se declara culpado (pleads guilty) – se confessa – opera-se a plea, é dizer, a resposta da defesa e então pode o juiz, uma vez comprovada a voluntariedade da declaração, fixar a data da sentença (sentencing), ocasião em que se aplicará a pena (geralmente “reduzida” – ou porque menos grave ou porque abrangerá menos crimes -, em razão do acordo entre as partes), sem necessidade de processo ou veredito (trial ou veredict); em caso contrário, abre-se ou continua o processo e entra em ação o jurado.[4: GOMES, Luiz Flávio. Origens da Colaboração Premiada e da Justiça consensuada. Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/origens-da-delacao-premiada-e-da-justica-consensuada/14866>. Acesso em: 06 fev. 2017.]
	Sobre as vantagens e desvantagens que caracterizam esse instituto norte-americano Gomes considera: 
As vantagens deste sistema, dentre outras, são: a) permite um pronto julgamento da maioria dos assuntos penais (hoje cerca de 97% dos processos são resolvidos dessa maneira, segundo informação do Juiz Federal norte americano Jeremy D. Fogel, da Califórnia); b) evita os efeitos negativos que a “demora” do processo provoca, sobretudo para o imputado preso; c) facilita uma pronta “reabilitação” do infrator; d) com menos recursos humanos e materiais – economia – são julgados mais casos – eficiência – etc.[5: GOMES, Luiz Flávio. Origens da Colaboração Premiada e da Justiça consensuada. Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/origens-da-delacao-premiada-e-da-justica-consensuada/14866>. Acesso em: 06 fev. 2017.]
Dentre as desvantagens são citadas: o menosprezo pelos princípios da inocência, da verdade real, do contraditório etc., a sua injustiça porque há, com frequência, flagrante “desigualdade” entre os negociadores, a falta de publicidade, sua pressão e coação psicológicas, sua manipulação política etc. Essas críticas resultam em grande parte invalidadas quando o “acordo” emana efetivamente da livre manifestação da vontade do implicado, sempre assistido, ademais, por profissional técnico. Cabe considerar que tanto na plea bargaining como na colaboração premiada brasileira, a negociação não conta com a presença do juiz (que conta apenas com o papel de homologador).[6: GOMES, Luiz Flávio. Origens da Colaboração Premiada e da Justiça consensuada. Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/origens-da-delacao-premiada-e-da-justica-consensuada/14866>. Acesso em: 06 fev. 2017.]
	Analisando a repercussão da colaboração com a justiça nos Estados Unidos,percebe-se estrondoso sucesso, que não se observa somente para a solução de crimes complexos praticados por organizações criminosas, como para diversos outros tipos de delito. A colaboração é responsável pela solução de cerca de 97% dos ilícitos penais o que torna a justiça muito mais célere. Todavia tal instituto americano não se encontra livre de críticas uma vez que percebe-se uma série de lesões a princípios norteadores do processo penal tais quais, presunção de inocência, verdade real, contraditório entre outros. Além disso, observa-se a ocorrência de ações que maculam o caráter igualitário que o processo deve ter, como desigualdade entre negociadores, ausência de publicidade, manipulação política e coação psicológica ao colaborador. 
1.1.3 Brasil 
	No Brasil o surgimento remonta ao tempo das ordenações filipinas e Luiz Flávio Gomes revela: 
Quando consideramos exclusivamente o instituto da colaboração premiada, sabe-se que ela já estava prevista nas Ordenações Filipinas, que começou a vigorar em 1603 (por ato de Felipe II da Espanha, Felipe I de Portugal) e que foi a base do direito português (e brasileiro) até à promulgação das sucessivas Constituições e Códigos, que foram acontecendo até o século XX (Constituição de 1824, Código Penal de 1830, Código de Processo Penal de 1832, Código Civil de 1916 etc.). As citadas Ordenações previam, no crime de lesa majestade, ou seja, traição contra o rei ou contra o Estado real, a possibilidade de perdão para o traidor, desde que não fosse o líder do grupo e delatasse (dedurasse) todos os participantes do delito.[7: GOMES, Luiz Flávio. Origens da Colaboração Premiada e da Justiça consensuada. Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/origens-da-delacao-premiada-e-da-justica-consensuada/14866>. Acesso em: 06 fev. 2017.]
	Avançando-se no tempo, no direito contemporâneo, o instituto da colaboração premiada volta a aparecer em 1990 por força da Lei 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos) e Gomes nos diz: 
A colaboração premiada, no direito contemporâneo (e, mais precisamente, depois da redemocratização), aparece em 1990, por força da Lei 8.072/90 (lei dos crimes hediondos), que no seu art. 8°, parágrafo único, prevê a redução da pena para o “participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha”. Essa lei também acrescentou o § 4°, ao art. 159 do Código Penal (extorsão mediante sequestro), estendendo o mesmo benefício ao coautor do crime (desde que houvesse a recuperação da pessoa sequestrada). Posteriormente, o instituto surgiu na primeira lei das organizações criminosas (Lei n° 9.034/95), já revogada; no seu art. 6° previa a redução da pena, desde que “a espontânea colaboração do agente levasse ao esclarecimento de infrações penais e de sua autoria”. Hoje, como se sabe, essa lei já não vigora, posto que revogada pela Lei 12.850/13, que regulamentou com detalhes a colaboração premiada. A lei de lavagem de capitais (Lei n° 9.613/98) ampliou o leque de favores, prevendo, além da redução da pena (ou sua substituição), seu cumprimento em regime semiaberto ou aberto e a possibilidade do perdão judicial (art. 1°, § 5°). Esse regramento foi mantido pela Lei 12.683/12 (que alterou a anterior lei de lavagem de capitais).[8: GOMES, Luiz Flávio. Origens da Colaboração Premiada e da Justiça consensuada. Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/origens-da-delacao-premiada-e-da-justica-consensuada/14866>. Acesso em: 06 fev. 2017.]
	Outros dispositivos também incorporaram a colaboração premiada nos seus textos e sobre isso Gomes continua: 
Benefícios idênticos foram contemplados na lei de proteção de vítimas e testemunhas (Lei n° 9.807/99, arts. 13 e 14), porém, com o detalhe de que este foi o primeiro texto que possibilitou a colaboração premiada em qualquer tipo de crime. A lei de drogas (Lei n° 11.343/2006), no art. 41, possui previsão de redução da pena àquele que, voluntariamente, contribuir com a investigação e o processo criminal... Em todos os crimes cometidos por meio de organização criminosa também se tornou possível a colaboração premiada, agora por força da recente Lei 12.850/13, que veio suprir uma séria lacuna do nosso direito, que previa a colaboração, mas não cuidava dos detalhes do seu procedimento (isso constituía uma fonte de muita insegurança jurídica). Aliás, para os críticos, mesmo após essa regulamentação minuciosa continua a insegurança, porque a colaboração pode dar margem a muitos abusos.[9: GOMES, Luiz Flávio. Origens da Colaboração Premiada e da Justiça consensuada. Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/origens-da-delacao-premiada-e-da-justica-consensuada/14866>. Acesso em: 06 fev. 2017.]
	Ainda sobre a Lei n. 12.850/2013 que revogou a Lei n. 9.034/1995, Rosmar Rodrigues Alencar em parceria com Nestor Távora dispõem: 
A nova lei (Lei n. 12.850/2013) que define organização criminosa, dispõe sobre os meios de obtenção de provas e a investigação criminal das infrações penais correlatas, revogou expressamente a Lei n. 9.034/1995. Esta antiga lei que dispunha sobre "crime organizado", previa em seu art. 6º, que a pena do agente seria reduzida de 1/3 a 2/3, se ele colaborasse espontaneamente para as investigações que envolvessem organizações criminosas, levando ao esclarecimento de infrações e sua autoria. Trata-se de causa obrigatória de redução de pena, desde que a delação seja realmente eficaz, tendo nexo causal entre as informações prestadas e o esclarecimento do crime. A delação nos termos dessa revogada lei n. 9.034/1995, podia ocorrer a qualquer momento, até mesmo após o trânsito em julgado da sentença. A lei n. 12.850 regrou de forma diversa o instituto da delação (quando o agente-colaborador aponta coautores) ou colaboração premiada (expressão mais ampla que abrange também o agente que auxilia nas investigações de forma eficaz sem apontar comparsas), alinhando-a entre as técnicas especiais de investigação para o esclarecimento de crimes atribuídos a organizações criminosas.
	No Brasil observa-se uma ausência de sistematização do instituto que foi adotado por leis esparsas, não há padronização nos tempos de pena que são diminuídos, as leis diferem sobre os favores concedidos ao colaborador, bem como sobre seus procedimentos. As antigas leis, principalmente a Lei n. 9.034/1995, eram passíveis de severas críticas uma vez que havia ausência de definição do que era crime organizado e a celebração do acordo sob a vigência desta norma podia ferir certos princípios do processo penal tais quais o contraditório, a publicidade e o princípio do juiz natural. Atualmente a Lei n. 12.850/2013 parece ter estabelecido um procedimento mais completo que está de acordo com os princípios do processo penal, mostrando-se mais eficaz e justo. Para que se tenha uma melhor noção de como o instituto funciona no Brasil passaremos a estudar o seu conceito, natureza jurídica, requisitos, benefícios, procedimento e a validade como prova do instituto em questão. 
1.2 Conceito
	O termo colaboração premiada nos remete ao fornecimento de informações sobre determinado fato delituoso, no qual o delator é partícipe, em troca de benefícios como redução da pena ou perdão judicial. O colaborador se compromete a revelar quem são os agentes que participaram com ele da empreitada criminosa, além de oferecer informações que possam restituir o dano ou impedir a consumação do fato criminoso ou até garantir a integridade física de possíveis vítimas. 
 	Para Jacques de Camargo Penteado:
A delação premiada é um instrumento de combate ao crime organizado. O termo delação advém do latim “delatione” e expressa uma revelação, uma acusação e, mais especificamente, a “acusação que é feita por uma das próprias pessoas que participam da conspiração, revelando uma traição aos próprios companheiros”. Trata-se da acusação proveniente de uma pessoa que praticou um crime e revela os demais sujeitos ativos dessa mesma infração penal ou evidencia o local em que se encontram bens, direitosou valores objetos da infração pena. Por essa delação, o delator recebe um prêmio (redução de pena, perdão judicial, cumprimento da pena em regime penitenciário mais brando etc.)[10: PENTEADO, Jaques de Camargo. Delação premiada. Revista dos Tribunais. Brasília, v.848, ano 95, p. 711-736, jun. 2006. apud SOUZA, Roany Mendes de. Delação premiada no combate ao crime organizado no Brasil. Disponível em: <http://repositorio.uniceub.br/bitstream/123456789/469/3/20721224.pdf>. Acesso em: 06 fev. 2017. ]
 	Segundo Luiz Flávio Gomes, a colaboração premiada: 
Nada mais significa que assumir culpa por um crime (confessar) e delatar outras pessoas. Colaboração é traição (que não é uma virtude), mas em termos investigatórios ela pode eventualmente ser útil, principalmente em países com alto índice de corrupção, como é o caso do Brasil.[11: GOMES, Luiz Flávio. Justiça Colaborativa e Colaboração Premiada. Disponível em: <https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2108608/justica-colaborativa-e-delacao-premiada>. Acesso em: 06 fev. 2017. ]
	Para Fernando Capez a colaboração premiada:
Consiste na afirmativa feita por um acusado, ao ser interrogado em juízo ou ouvido na polícia. Além de confessar a autoria de um fato criminoso, igualmente atribui a um terceiro a participação como seu comparsa. O delator, no caso, preenchidos os requisitos legais, é contemplado com o benefício da redução obrigatória da pena,conforme Leis n. 8072/90 (Lei dos crimes Hediondos), 12.850/2013 (Lei do Crime Organizado), 9.807/99 (Lei de Proteção a Testemunhas) e 11.343/2006 (Lei de Drogas). [12: CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 23 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p.458]
	Por sua vez, Pierpaolo Cruz Bottini, sobre a colaboração premiada expressa: 
Trata-se do benefício concedido pelo juiz ao réu que colabora com o esclarecimento dos fatos, desde que suas declarações sejam úteis para a apuração de infrações, identificação de seus autores ou para a localização do produto do ilícito. Em troca da cooperação, o acusado pode ser agraciado com uma redução de pena ou com o perdão judicial.[13: BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Colaboração premiada exige regulamentação mais clara. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2012-nov-13/direito-defesa-delacao-premiada-exige-regulamentacao-clara>. Acesso em: 06 fev. 2017. ]
	Vale aqui destacar a explicação de Márcio Augusto Friggi de Carvalho que fala
A colaboração ou delação premiada é instrumento de investigação criminal que consiste, grosso modo, na possibilidade de se atribuir recompensa legal ao autor ou partícipe de infração penal que opte por ajudar os atores da persecução penal, contribuindo efetivamente para a identificação dos demais coautores ou partícipes, recuperação total ou parcial do produto do delito e/ou localização da vítima com a sua integridade física preservada. Em outras palavras, o instituto da colaboração premiada consiste em um benefício concedido ao acusado que, admitindo a participação no delito, fornece às autoridades informações eficazes, capazes de contribuir para a resolução do crime.[14: CARVALHO, Marcos Augusto Friggi. Colaboração Premiada. Disponível em: <www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao.../COLABORAÇÃO%20PREMIADA.doc>. Acesso em: 06 fev. 2017. ]
		A colaboração premiada é tratada, principalmente na mídia, como sinônimo de delação premiada, apesar de não os serem, sobre essa questão Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar esclarecem:
A colaboração premiada é mais ampla, porque não requer, necessariamente, que o sujeito ativo do delito aponte coautores ou partícipes (que podem, a depender do delito existir ou não, bastando imaginar a colaboração do agente que, arrependido, torna impossível resgate de vítima com integridade física preservada ou a apreensão total do produto do crime, porém não praticou o crime em coautoria.[15: ALENCAR, Rosmar Rodrigues. TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 11. ed. Salvador: Podivm, 2016. p. 928. ]
A delação premiada exige além da colaboração para a elucidação de uma infração penal, que o agente aponte outros comparsas que, em concurso de pessoas, participaram da empreitada criminosa, como uma forma de chamamento de corréu. Outras expressões são verificadas na prática para designá-la, tais como imputação de corréu, chamamento de cúmplice, pentitismo (alusivo a pentito ou arrependido), crow witness (testemunho da coroa) ou, ainda, colaboração processual. [16: ALENCAR, Rosmar Rodrigues. TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 11. ed. Salvador: Podivm, 2016. p.p. 928-929.]
	Notoriamente os crimes nos quais a colaboração premiada é mais utilizada como meio de obtenção de prova são os crimes cometidos por organizações criminosas. E justamente pelo fato dos criminosos serem organizados, a investigação acerca de suas atividades delituosas se mostra cada vez mais complicada. Isso ocorre porque atualmente essas organizações contam com aparato tecnológico, armamentos e poder aquisitivo que pode chegar a corromper membros de instituições públicas. Essas vantagens os permite exercer suas atividades e não deixarem rastros. Para combater essa dificuldade é que o Estado lança mão do recurso da colaboração premiada afim de buscar a solução do crime em questão obtendo as informações necessárias e diminuir a lesão ao bem jurídico protegido. 
	Sobre essa questão Márcio Augusto Friggi de Carvalho tece o seguinte comentário: 
Evidentemente, o instrumento em análise ganhou importância com o crescimento e organização dos grupos criminosos, tecnologicamente bem arranjados, com braços no próprio Estado e especialização em áreas como a financeira e econômica, tráfico de drogas ou terrorismo. O chefe, no mais das vezes, não atua direta e materialmente na execução do projeto delituoso, contexto em que exsurge a colaboração premiada como ferramenta importante para que o Estado possa escalar com maior possibilidade de sucesso a pirâmide da organização criminosa.[17: CARVALHO, Marcos Augusto Friggi. Colaboração Premiada. Disponível em: <www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao.../COLABORAÇÃO%20PREMIADA.doc>. Acesso em: 07 fev. 2017. ]
	Postas estas elucidações acerca do conceito do instituto da colaboração premiada passemos a analisar sua natureza jurídica. 
1.3 Natureza Jurídica
	Quanto à sua natureza jurídica podemos colocar a colaboração premiada como um meio de obtenção de prova que possui elementos de confissão, mas que também possui elementos de prova testemunhal. 
	Sobre a natureza probatória pode se citar a súmula nº 65 das Mesas de Processo Penal da USP segundo a qual: "O interrogatório do corréu, incriminando outro, tem, com relação a este, natureza depoimento testemunhal, devendo, por isso, se admitirem reperguntas"[18: STJ - Quinta Turma - HC 189.324/RJ - Rel. Min. Laurita Vaz - DJe 26-09-2012 apud ALENCAR, Rosmar Rodrigues. TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 11. ed. Salvador: Podivm, 2016, p. 927]
	Sobre a natureza probatória da colaboração premiada O STF tem uma posição que Rosmar Alencar e Nestor Távora pontuam: 
Segundo o STF, o sistema processual brasileiro não admite a oitiva de corréu na qualidade de testemunha ou, mesmo, de informante, exceção aberta para o caso de corréu colaborador ou delator, a chamada delação premiada. Isso quer dizer que em razão do compromisso do delator com o êxito das investigações e porque sua colaboração, em regra, implica imputação de autoria de infração penal a outrem, tem ele o dever, nessa parte, de declarar informação verdadeira. [19: STF - Segunda Turma - RHC 116108 - Relator Min. Ricardo Lewandowski - julgado em 01/10/3013 - Processo Eletrônico - DJe-2006 DIVULG 16-10-2013 - PUBLIC 17-10-2013 apud ALENCAR, Rosmar Rodrigues; TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 11. ed. Salvador: Podivm, 2016. p. 927. ]
	Os mesmos autores completam dizendo que a colaboração premiada: "Tem natureza jurídica de meio de obtenção de prova. A ideia da nova lei é contraprestacional. Exige-se eficácia, efetividade defluente da colaboração,para que haja aplicação do benefício a título de moeda de troca."[20: ALENCAR, Rosmar Rodrigues. TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 11. ed. Salvador: Podivm, 2016. p. 929. ]
	Complementando essa ideia Gustavo Henrique Badaró e Pierpaolo Cruz Bottini refletem: "Prevalece o entendimento de que o delator, na parte que atribui a si a prática do crime, produz confissão e, na parte que aponta a participação dos demais coautores, age como testemunha (testemunha imprópria)". [21: BADARÓ, Gustavo Henrique; BOTTINI, Pierpaolo Cruz Rodrigues. Lavagem de Dinheiro: aspectos penais e processuais penais: comentários à lei 9.613/1998, com as alterações da Lei 12.683/2012. 2. ed. São Paulo: RT, 2013. p. 173 apud ALENCAR, Rosmar Rodrigues; TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 11. ed. Salvador: Podivm, 2016. p. 927.]
	Fernando Capez, por sua vez vê a colaboração premiada como um meio de prova testemunhal e reflete: 
Nesse contexto, sustentávamos que, quando houvesse a delação feita por corréu, o juiz deveria tomá-la, nessa parte como prova testemunhal, facultando reperguntas ao outro acusado, em atenção à ampla defesa e ao contraditório. Entretanto, com o advento da Lei n. 10.792/2003, a qual alterou o art. 188 do CPP, possibilitou-se a formulação de reperguntas ao final do interrogatório.[22: CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 23 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p.458.]
	Há também a presença de correntes doutrinárias que defendam que a colaboração premiada possui uma natureza mista sendo utilizada como meio de obtenção de prova e como um meio de defesa. Sobre isso Dandy Jesus Leite Lopes explicita: 
A partir das lições doutrinárias, pode-se definir, portanto, o instituto colaboração premiada como sendo um instrumento jurídico-penal de investigação criminal para a obtenção de provas, em que o delator e/ou colaborador fornece as informações exigidas por lei, obtendo do Estado um incentivo, ou seja, um benefício, ante a opção tomada – voluntariamente – em contribuir com o sucesso da persecução criminal. Assim, é perfeitamente possível identificar que a colaboração premiada possui natureza mista. Trata-se, portanto, de meio e/ou instrumento de obtenção de provas, e meio de defesa propriamente dita, uma vez que o agente colaborador pode buscar os benefícios previstos em lei, e oferecidos pelo Estado, a título de estratégia defensiva. A quaestio juris quanto à natureza jurídica da colaboração premiada ainda não possui bases harmônicas na doutrina e na jurisprudência. No entanto, o Supremo Tribunal Federal vem sinalizando, à vista do diálogo das fontes, tratar-se de um negócio jurídico processual. De qualquer sorte, dúvidas não há quanto à natureza penal do referido instituto, posicionando-se como causa motivadora de diminuição da sanção penal, concessão de perdão judicial ou modificação de tipo da pena a ser aplicada, de acordo e nos limites de cada lei de regência incidente no caso concreto, conforme análise adiante. [23: BORGES, Dandy Jesus Leite. Colaboração Premiada: Evolução normativa e questões jurídicas relevantes. Disponível em: <http://www.conamp.org.br/pt/biblioteca/artigos/item/1097-colaboracao-premiada-evolucao-normativa-e-questoes-juridicas-relevantes.html>.]
	Portanto conclui-se que a natureza jurídica do instituto da colaboração premiada se encontra em alguns momentos com característica de confissão porque o réu confessa sua participação no crime e em outros momentos tem características de prova testemunhal porque o corréu esclarece fatos sobre um terceiro que praticou o crime. 
	Vale destacar que há uma espécie de troca de favores, ou contraprestação na medida em que o corréu colaborador se beneficia de favores legais e o órgão investigador vê a sua investigação e solução do delito facilitada. 
	Verifica-se também que, além de um meio de obtenção de prova, a colaboração premiada pode se traduzir em um meio válido de defesa. Quando o corréu colabora com as investigações do fato criminoso em questão ele quer melhorar a sua situação perante a justiça desejando cumprir uma pena menor ou não cumprir pena alguma o réu se obriga a cumprir requisitos impostos pela lei, afim de alcançar os benefícios determinados pela mesma. Requisitos e benefícios que serão expostos a seguir. 
1.4 Requisitos para a concessão da colaboração premiada
1.4.1 Disposições Gerais
	Antes de se falar nos requisitos propriamente ditos, vale a pena lembrar que o instituto da colaboração premiada pode ser usado para a solução de outros crimes como tráfico de entorpecentes de acordo com Lei 11.343/2006 e para a solução do crime de extorsão mediante sequestro de acordo com o art. 159, §4º do Código Penal, entre outros. Entretanto é na solução de crimes realizados por organizações criminosas definidos na Lei 12.850/2013 que a colaboração premiada se mostra mais eficiente. Portanto os requisitos relacionados aos crimes cometidos por esse tipo de organização, em especial os crimes contra a administração pública com lesão aos cofres públicos receberão maior destaque pelo fato de serem complexos de difícil investigação e solução. 
	O primeiro e mais óbvio requisito é que o crime seja praticado em concurso de agentes, ou seja, por mais de uma pessoa, pode-se se encontrar a definição de concurso de agentes, ou concurso de pessoas no art. 29 do Código Penal. [24: Art.29: Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.]
	Contudo no que se refere aos crimes cometidos por organizações criminosas o requisito quanto ao número de participantes é maior, e além disso é preciso que eles hajam para atingir uma determinada finalidade e que cometam infrações com uma pena mínima determinada por lei. Os critérios para a delimitação de determinada conduta como crime cometido por organização criminosa estão previstos no art. 1º, §1º da lei 12.850/2013 que expressa:
Art. 1o Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado.
§ 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.[25: BRASIL, Lei n. 12.850 de 02 de agosto de 2013. Define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei no 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 05 ago. 2013. p. 3. ed. extra Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso em: 07 fev 2017.]
	Sobre esse conceito Eduardo Araújo da Silva diz: 
O conceito – que chamaremos de próprio - de organização criminosa está no art. 1º, §1º, da nova Lei, que estabelece basicamente o requisito estrutural (associação de 4 ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente), finalístico (vantagem de qualquer natureza – desde que ilícita -, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 anos, ou que sejam de caráter transnacional) e temporal (que haja permanência e estabilidade – requisito implícito).[26: DA SILVA, Eduardo Araújo. Organizações criminosas: aspectos penais e processuais da Lei nº 12850/13, 2013 p. 24. apud MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>.Acesso em: 07 fev.2017. ]
	Visto isso, nota-se que quanto à estrutura da organizações há um critério relacionado ao número de pessoas que a compõe, sendo o número de 4 ou mais pessoas, uma finalidade ilícita que essa organização busca, que a obtenção de vantagem indevida praticada por meios ilegais, bem como um critério de gravidade do delito demonstrada pelo requisito mínimo de 4 anos da pena cominada ao delito praticado.
	Observado isso, pode-se concluir que o instituto da colaboração premiada tem por objetivo a solução de crimes que se caracterizam por serem complexos e difíceis de investigar, ou seja na solução de crimes mais graves.
	Contudo o instituto em escopo não é proibido na solução de outros crimes menos graves, na realidade a delação premiada pode ser utilizada para a solução de qualquer delito como determina o art. 13 da lei 9.807/99. Além disso, há entendimento no mesmo sentido em decisão do STJ: [27: Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado: I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa; II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada; III - a recuperação total ou parcial do produto do crime. Parágrafo único: A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.]
PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA IMPETRAR HABEAS CORPUS. DELAÇÃO PREMIADA. EFETIVA COLABORAÇÃO DO CORRÉU NA APURAÇÃO DA VERDADE REAL. APLICAÇÃO DA MINORANTE NO PATAMAR MÍNIMO. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. ORDEM CONCEDIDA. (....) 2. O sistema geral de delação premiada está previsto na Lei 9.807/99. Apesar da previsão em outras leis, os requisitos gerais estabelecidos na Lei de Proteção a Testemunha devem ser preenchidos para a concessão do benefício. 3. A delação premiada, a depender das condicionantes estabelecidas na norma, assume a natureza jurídica de perdão judicial, implicando a extinção da punibilidade, ou de causa de diminuição de pena (...)”. (HC 97509/MG, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 15/06/2010, DJe 02/08/2010) Veja, ainda: “RECURSO ESPECIAL DO SEGUNDO RECORRENTE (CRISTIANO). (...) VIOLAÇÃO AOS ARTS. 13 E 14 DA LEI 9.807/99. OCORRÊNCIA. BENEFÍCIOS DA DELAÇÃO PREMIADA. AUSÊNCIA DE RESTRIÇÃO PELO TIPO DE DELITO. RECURSO ESPECIAL A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO. (...) 2. A Lei 9.807/99 (Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas), que trata da delação premiada, não traz qualquer restrição relativa à sua aplicação apenas a determinados delitos. 3. Recurso especial a que se dá parcial provimento, para determinar o retorno dos autos à origem, para que seja analisado o preenchimento dos requisitos legais para aplicação dos benefícios da delação premiada.[28: STJ, REsp 1109485/DF, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 12/04/2012, DJe 25/04/2012 apud MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>. 2013, p.p. 6-7. ]
	Apesar de decisão supracitada existem correntes de doutrinadores e de magistrados que defendem que o instituto da colaboração premiada não pode ser banalizado ao ponto de ser usado na solução de crimes simples ignorando o aparato investigativo disponível ao Estado na busca da verdade real. 
	Para Andrey Borges Mendonça: "deve-se ter cautela para não banalizar o instituto, utilizando meios de obtenção de prova para infrações sem gravidade, o que poderia afrontar o princípio da proporcionalidade."[29: MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>. 2013, p. 7.]
	Gustavó Badaró também comenta sobre essa questão: 
Se, de um lado, não parece possível imaginar a persecução penal de certas modalidades criminosas sem delação premiada, por outro lado, não é desejável ou admissível que toda e qualquer investigação criminal seja realizada com delação premiada. Sem eliminar nem banalizar a delação premiada, é preciso grande cuidado e prudência em sua utilização. [30: BADARÓ, Gustavo. O valor probatório da delação premiada: sobre o §16 do art. 4º da Lei n. 12.850/2013. Disponível em: <http://www.academia.edu/11467576/O_valor_probat%C3%B3rio_da_dela%C3%A7%C3%A3o_premida_sobre_o_16_do_art._4o_da_Lei_n_12850_2013>. Acesso em: 11 fev. 2017. ]
	E corroborando com essa posição há notória fala do Ministro Gilson Dipp do STJ que diz: "Acordo de delação premiada é para crimes graves, não só do corréu colaborador como daquele corréu delatado, porque acordo de delação premiada não foi feito para furto de galinha, não pode ser banalizado".[31: Voto proferido no bojo do HC 59115/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 12/12/2006, DJ 12/02/2007, p. 281. apud MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>. Acesso em: 07 fev. 2017. ]
	Analisando o art. 4º, caput, da Lei 12.850/2013 que diz:
Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados... [32: BRASIL, Lei n. 12.850 de 02 de agosto de 2013. Define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei no 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 05 ago. 2013. p. 3. ed. extra Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso em 07 fev. 2017. ]
	Observando-se o disposto no artigo supracitado, podemos extrair três requisitos que são determinados por essa lei. Andrey Borges de Mendonça os define como: "voluntariedade, eficácia da colaboração e circunstâncias objetivas e subjetivas favoráveis."[33: MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>. Acesso em: 07 fev. 2017.]
1.4.2 Voluntariedade
	Em relação ao requisito da voluntariedade este não se confunde com espontaneidade sobre essa diferenciação Rosmar Alencar com Nestor Távora salientam:
Diferentemente da Lei n. 9.034/1995, a partir da Lei n. 12.850/2013 basta que a delação seja voluntária (não se exigindo mais a espontaneidade). Em outras palavras, o agente colaborador pode acatar sugestões externas ao seu espírito ou ao seu desejo próprio de colaborar, sem ter havido interferência de terceiros. A espontaneidade se distingue da voluntariedade, pois esta se caracteriza pela mera ausência de coação, independentemente de qual o motivo que levou o agente a contribuir, ou até mesmo se foi aconselhado pela autoridade ou terceiros a fazê-lo. [34: ALENCAR, Rosmar Rodrigues. TÁVORA, Nestor. Curso de DireitoProcessual Penal. 11. ed. Salvador: Podivm, 2016. p. 930. ]
	Complementando essa ideia Andrey Borges de Mendonça explica: 
A voluntariedade da colaboração (art. 4º, caput) indica que a colaboração, embora não precise ser espontânea (ou seja, pode decorrer de orientação do advogado ou de proposta do MP), não pode ser fruto de coação, seja física ou psíquica, ou de promessa de vantagens ilegais não previstas no acordo. O legislador toma, nesse sentido, diversas precauções e cautelas para garantir a voluntariedade. Assim, exige-se que em todos os atos de negociação, confirmação e execução, o colaborador esteja acompanhado e assistido pelo advogado (art. 4º, §15º).[35: MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>. Acesso em 07 fev. 2017.]
	No que tange essa questão existe uma crítica por parte da doutrina no que diz respeito ao uso do acordo de colaboração premiada como moeda de troca usando da liberdade do pessoa que está em vias de celebrar a delação. Se essa pessoa aceita delatar seus comparsas não terá um pedido de prisão cautelar em seu nome. A respeito disso destaco a explanação de Daniel Zaclis: 
Observe-se, de pronto, que voluntariedade não se confunde com espontaneidade. Dessa forma, a colaboração pode muito bem surgir da proposta de representante do Ministério Público ou da própria orientação do advogado. O que não se admite, por outro lado, é que a delação nasça de um ato coativo, seja ele físico ou psíquico. É sob esse aspecto específico que tem surgido muitas discussões acerca da delação premiada. Isso porque, muitos dos acordos assinados recentemente utilizam a liberdade do indivíduo como genuína moeda de troca. De modo simplificado: se o delator decidir contribuir, a prisão cautelar (aquelas impostas sem pena definitiva) é revogada; se não auxiliar nas investigações, permanecerá encarcerado. Afora isso, muitas vezes os indivíduos somente decidem fazer a delação quando todos seus bens já estão constritos pelo Poder Público, bem como quando há notícia de que familiares poderiam eventualmente ser presos se o sujeito não decidir contribuir com as investigações. É preciso indagar se, diante desse cenário, de revogação de medidas cautelares em troca de delação, existe de fato voluntariedade, exigida por lei, na decisão do delator. Conforme se verifica, primeiro se castiga o indivíduo com prisões (muitas vezes desnecessárias) e o sequestro de seus bens, para então inquiri-lo sobre o interesse de auxiliar o Ministério Público ou a Polícia nas investigações. Questionável, portanto, a voluntariedade do acordo nessas hipóteses, pois claramente há uma coação implícita na condução da proposta.[36: ZACLIS, Daniel. A Voluntariedade na delação premiada. Disponível em: <http://painelacademico.uol.com.br/painel-academico/4572-a-voluntariedade-na-delacao-premiada>. Acesso em: 07 fev. 2017.]
	Seguindo nesse sentido o mesmo autor complementa: 
Nem se pode dizer que a consensualidade do acordo já comprovaria a vontade do delator de contribuir com a persecução penal, pouco importando o conteúdo da contrapartida oferecida pelo Poder Público. Logicamente que se tratando de liberdades individuais, o consenso é insuficiente para autorizar conduta ilegal. Como medida excepcional, ou bem estão presentes os requisitos para manter a custódia antes de encerrado o processo, ou então que se coloque o indivíduo em liberdade. Uma pessoa não está mais ou menos apta a responder um processo em liberdade apenas porque decidiu delatar. É imperioso, até no interesse da própria investigação, que o delator esteja absolutamente livre de qualquer coação psíquica para assinar o acordo. Sob a promessa (ilegal, reitere-se) de sair da prisão em troca de informações relevantes sobre o esquema delituoso, torna-se fácil perceber que o delator poderá muitas vezes fornecer elementos imprecisos e para além de seu conhecimento efetivo para atingir seu intento maior (liberdade).[37: ZACLIS, Daniel. A Voluntariedade na delação premiada. Disponível em: <http://painelacademico.uol.com.br/painel-academico/4572-a-voluntariedade-na-delacao-premiada>. Acesso em: 07 fev.2017. ]
	Definidas tais observações, o que se pode extrair delas é, que o requisito da voluntariedade não se confunde com o requisito da espontaneidade como afirmava a Lei n. 9.034/1995, ou seja, a celebração do acordo pode ser orientada pelo defensor, como também ser proposta pelo representante do Ministério Público. Ademais, é importante que a celebração do acordo esteja livre de qualquer forma de coação para que seja válida. 
	Atualmente, na solução de crimes contra a administração pública, observa-se a vinculação da liberdade do possível colaborador, através de revogação ou da não determinação da prisão cautelar, à celebração do acordo. Essa prática aparenta ser duvidosa uma vez que as prisões cautelares tem de cumprir seus próprios requisitos, assim como a colaboração premiada, todavia esses requisitos devem ser observados de forma separada. Ou seja, se há requisitos observados para a prisão cautelar do indivíduo que assim seja, entretanto se não há a presença de tais requisitos que o indivíduo seja mantido em liberdade. Esclarecida a questão da voluntariedade passemos a analisar o requisito da eficácia da colaboração.
1.4.3 Eficácia da colaboração
	Outro requisito necessário à concessão da colaboração premiada é que essa colaboração seja eficaz, ou seja, que produza resultados úteis na investigação do crime e na eventual persecução penal. 
	Vale ressaltar que esses resultados não são cumulativos, ou seja, basta que o colaborador revele apenas um para que seja beneficiado com o acordo de colaboração premiada. Sobre essa questão Andrey Borges de Mendonça salienta: 
A lei é clara ao estabelecer que se contenta com apenas um dos requisitos. Interessante anotar que o legislador indica uma escala crescente de importância da colaboração, do inciso I ao V, a apontar, ao menos em uma primeira análise, que o benefício concedido ao colaborador deve ser também crescente nessa direção. Da mesma forma, a obtenção de pluralidade de resultados deve ser considerado na análise do benefício a ser concedido.[38: MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>. Acesso em: 08 fev. 2017]
	Sobre os resultados determinados nos incisos do art. 4º da Lei n. 12.850/2013, vejamos a explanação do mesmo autor: 
Assim, enquanto no inciso I o agente apenas identifica os demais coautores, no inciso II revela toda a estrutura hierárquica e a divisão de tarefas. É o chamado “agente revelador”. No inciso III o legislador demonstra que a contribuição do agente pode ser na prevenção de infrações penais, o que certamente é muito relevante (...) Nesse caso irão atuar proativamente e não de maneira histórica. No inciso IV, o legislador demonstra, seguindo a tendência internacional, a relevância em asfixiar o patrimônio da organização criminosa. (...) Hoje ninguém duvida de que para a persecução penal eficiente de organizações criminosas é essencial a identificação e perdimento dos bens e valores da organização, para impedir que ela continue a atuar, retroalimentando-se. Tanto assim que a tendência nos países europeus é criar mecanismos que facilitem o perdimento dos bens que são produto ou proveito das infrações penais das organizações criminosas, inclusive pela previsão de presunções legais. Por fim, o inc. V se preocupa com a vida e integridade física da vítima, certamente valor maior a ser protegido pelo ordenamento jurídico (...) Assim, reiteramos que o legislador apresenta uma margem crescente de importância da contribuição do colaborador, que deve ser considerada,ao menos em princípio, na análise dos benefícios a serem propostas a ele.[39: MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>. 08 fev 2017]
	Rosmar Alencar juntamente com Nestor Távora também emitem explicação a respeito dos resultados esperados na colaboração premiada do coautor participante da conduta criminosa: 
Os benefícios previstos no art. 4º, da Lei do crime organizado, podem ser aplicados em maior ou menor grau ao indiciado ou ao acusado que colaborar em maior ou menor proporção para a persecução penal, com obtenção de um ou mais dos seguintes resultados:
a) identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; 
b) revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;
c) prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
d) recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;
e) localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada
Sabendo que não é fácil investigar crimes que são imputados a ditas organizações, o legislador previu a possibilidade de aplicar "sanção premial" a quem, sendo coautor do delito, colaborar efetivamente para as investigações ou para o processo penal, com a previsão de leque mais amplo que outros diplomas legais (...). [40: ALENCAR, Rosmar Rodrigues. TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 11. ed. Salvador: Podivm, 2016. p.p. 943-944. ]
	Há ainda de se destacar que, para que se celebre o acordo de colaboração premiada a obtenção de resultado útil é requisito essencial para a concessão dos benefícios, e que para isso não basta somente a intenção do agente em delatar ou informar. Em relação a isso destaco as palavras de Andrey Borges de Mendonça: 
Ao estabelecer a eficácia da colaboração, verifica-se que não basta a boa vontade do agente em contribuir, sendo a colaboração uma “obrigação de resultado”, por assim dizer, de sorte que somente se os resultados efetivamente forem atingidos é que o colaborador poderá ser beneficiado (...) Embora as circunstâncias pessoais sejam importantes na consideração do benefício a ser aplicado, conforme consta do art. 4º, §1º, a eficácia da colaboração – ou seja, que os resultados sejam efetivamente alcançados – é condição sine qua non para a concessão do benefício. [41: MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>. Acesso em: 08 fev. 2017.]
	Além do que, existe entendimento no mesmo sentido da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª região segundo o qual: "Se as informações prestadas forem superficiais, não fornecendo à investigação subsídios que levassem à incriminação de outros agentes ou ao alcance de resultados positivos para a persecução penal, não cabe a aplicação do benefício".[42: TRF da 4ª Região, ACR n. 2007.70.05.003026-4/PR, Relator Desembargador Federal Élcio Pinheiro de Castro, 8ª Turma, unânime, julgado em 28/05/2008, publicado no DE em 04/06/2008. apud MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>. Acesso em: 08 fev. 2017.]
	Destaca-se destas explanações a obrigatoriedade da obtenção de resultado útil como condição essencial para a concessão dos benefícios oriundos da celebração do acordo de colaboração premiada. Portanto, não basta que o corréu tenha intenção de colaborar nas investigações bem como na persecução penal, é preciso que através de suas revelações os resultados, ou pelo menos um deles, definidos nos incisos I a V do art. 4º da Lei n. 12.850/2013 sejam obtidos. Caracterizando-se então como um resultado útil. 
	Outro fato que se mostra relevante é a presença de uma escala proporcional de resultados e benefícios. Isto é, quanto melhor o resultado alcançado pela colaboração maior será o benefício concedido ao colaborador. Por exemplo, se através da informação do coautor o produto da infração ser recuperado totalmente, este terá uma maior redução da pena. Vale ressaltar que os benefícios relacionados ao instituto, que está sendo estudado, serão analisados posteriormente nesse trabalho. 
	Isso posto, passemos ao estudo dos requisitos relacionados às circunstâncias objetivas e subjetivas cuja presença deve ser observada no colaborador. 
1.4.4 Circunstâncias Subjetivas e Objetivas Favoráveis
	Para a concessão dos benefícios relacionados ao acordo de colaboração premiada, além da voluntariedade do colaborador e da eficácia da informação prestada, é preciso que ele também cumpra com os requisitos determinados pelo §1º do art. 4º da Lei n. 12.850/2013 que expressa:
Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: (...) § 1º Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração.[43: BRASIL, Lei n. 12.850 de 02 de agosto de 2013. Define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei no 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 05 ago. 2013. p. 3. ed. extra Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso em: 08 fev. 2017.]
	A respeito deste requisito André Borges de Mendonça revela: 
O legislador indica que devem ser analisadas as circunstâncias objetivas e subjetivas do caso concreto para verificar se é ou não cabível a colaboração. Veja, portanto, que não se trata de direito subjetivo do investigado/imputado/condenado realizar o acordo e receber os benefícios. O membro do MP e o Delegado de Polícia devem verificar a adequação da colaboração àquele caso concreto, à luz da estratégia investigativa e da persecução penal, sem olvidar a própria repercussão social do fato criminoso e sua gravidade (...) Mas não é só: as circunstâncias pessoais do agente também são importantes. Embora não se exija a primariedade do agente ou que tenha bons antecedentes (...)é necessário que o colaborador demonstre interesse em efetivamente colaborar com as autoridades, não ocultando das autoridades sua participação ou qualquer outro fato que seja de interesse da investigação. Assim, pressuposto da colaboração é que o agente realmente faça o disclosure de todos os elementos que possua, sem omissões ou reservas mentais em relação aos colaboradores. Do contrário, caracterizado que o colaborador está mentindo ou omitindo, não será cabível a colaboração e, ainda, poderá ser caso de sua rescisão.[44: MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>. Acesso em: 08 fev. 2017.]
	Tal requisito mostra-se diretamente vinculado às circunstâncias do caso concreto, o que pode-se destacar é a nãoexigência de primariedade e bons antecedentes para a concessão do benefício e que o colaborador realmente revele tudo o que sabe sob pena de rescisão do acordo de colaboração celebrado. Sobre tal situação Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto pontuam: 
O art. 4º, §1º não exige a primariedade do agente ou que tenha bons antecedentes, pelos seguintes motivos: poderia frustrar boa parte dos acordos concretos, pois os envolvidos nesse tipo de criminalidade em geral não são primários. Ademais, diversamente do que ocorreu em outras leis, em que se exigiu a primariedade, como no caso do art. 13, caput, da Lei 9807/99, a lei (12.850/13) não o fez.[45: CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado: comentários à nova Lei sobre o crime organizado – Lei nº 12.850/2013. Salvador: JusPodivm, 2013. p. 47 apud MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>. Acesso em: 08 fev. 2017.]
	Colocados os pontos acerca dos requisitos necessários à concessão dos benefícios decorrentes da celebração do acordo de colaboração premiada passemos a analisar quais são os benefícios a serem usufruídos pelo corréu. 
1.5 Benefícios decorrentes da colaboração premiada
	Sobre os benefícios alcançados pelo suspeito, indiciado ou réu colaborador, que também são chamados de prêmios pela doutrina e ainda podem ser conhecidos pela alcunha de sanção premial. Sobre esse prêmio Rosmar Alencar e Nestor Távora fazem uma explicação geral: 
O prêmio a ser aplicável pode consistir em benefícios penais e/ou processuais penais proporcionais ao grau de efetividade da colaboração. Daí que, mesmo antes do início do processo penal, pode o Ministério Público e a autoridade policial, com a prudência necessária, instar investigados ou indiciados a colaborarem, informando-lhes sobre a possibilidade de auferirem benefícios penais e/ou processuais penais, na hipótese de êxito da colaboração. [46: ALENCAR, Rosmar Rodrigues. TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 11. ed. Salvador: Podivm, 2016. p. 928.]
	Os benefícios que podem ser alcançados pelo corréu colaborador estão previstos no caput do art. 4º da Lei n. 12.850/2013, o qual já foi mencionado, e são: a) redução de até dois terços da pena privativa de liberdade; b) substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos; c) perdão judicial ao colaborador e d) suspensão do prazo, por seis meses prorrogáveis por igual período, para o oferecimento da denúncia ou para que se suspenda o processo, enquanto se verifica o cumprimento das condições relacionadas à colaboração. Nesse caso o prazo prescricional também é suspenso. Os benefícios acima enumerados são aqueles concedidos em momento anterior à sentença penal condenatória. Para benefícios posteriores à sentença condenatória a lei supracitada determina a redução da pena até a metade, ou, a progressão do regime, mesmo não se verificando o cumprimento dos requisitos objetivos para tal.
	A respeito do papel do juiz na concessão dos benefícios Rosmar Alencar junto a Nestor Távora esclarecem: 
 O juiz deve escolher a sanção premial de forma fundamentada, procedendo segundo parâmetros relativos à personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade, a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração (dosimetria extracondenatória). O juiz, considerando a maior ou menor colaboração, fixará contornos mais ou menos extensos de benefícios em favor do agente colaborador. Malgrado questionável eticamente (porque beneficia o agente que, participando do delito com os demais coautores, teria resolvido trair seus comparsas, delatando-os), a colaboração ou delação premiada é mecanismo que pode se mostrar eficaz para o combate de infrações penais de difícil apuração. A condução desse meio de obtenção de elementos de informação ou de provas deve respeitar os limites consignados na Lei n. 12.850/2013, com a observância dos conceitos legais que são pressupostos preliminares para a incidência das demais normas restritivas a direitos fundamentais dos demais corréus.[47: ALENCAR, Rosmar Rodrigues. TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 11. ed. Salvador: Podivm, 2016. p. 950.]
	No que se refere a essa questão, observa-se preocupação do autor Andrey Mendonça que destaca três pontos importantes que devem ser considerados pelos operadores da justiça na concessão de benefícios e assim nos informa: 
Primeiro, é necessário que haja bastante responsabilidade ao propor o benefício, evitando propostas que não possam ser cumpridas ou que são inexequíveis. Isto traz apenas descrédito e prejudica sobremaneira a eficiência do sistema de proteção às testemunhas e a credibilidade da colaboração premiada, uma vez que há alta probabilidade de o beneficiário se frustrar com o sistema e dele se desligar, prejudicando a própria persecução penal e colocando em risco sua própria vida.[48: MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>. Acesso em: 08 fev. 2017. ]
	Partilhando da mesma preocupação o STJ se pronunciou da seguinte forma: "A aplicação da delação premiada (...) deve ser cuidadosa, tanto pelo perigo da denúncia irresponsável quanto pelas consequências dela advinda para o delator e sua família, no que concerne, especialmente, à segurança."[49: STJ, HC 97509/MG, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 15/06/2010, DJe 02/08/2010. apud MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>. Acesso em: 08 fev. 2017.]
	Outro ponto muito interessante que Mendonça destaca é a possibilidade da concessão de benefícios, que não são determinados pela Lei n. 12.850/2013, através do princípio da norma mais benéfica ao réu, desde que não contrarie dispositivo expresso em lei. Sobre essa situação o autor indaga: 
Seriam possíveis outros benefícios – penais ou processuais - além daqueles expressamente previstos em lei? Como se trata de normativa benéfica ao réu, desde que não haja proibição – ou seja, não afronte o ordenamento jurídico - e esteja dentro do marco da razoabilidade, é possível que outros benefícios sejam ofertados e eventualmente aplicados. Neste tema, como se trata de norma mais favorável ao réu, inexiste a restrição da legalidade estrita. Ademais, é importante notar que o magistrado irá fiscalizar tais benefícios, assim como o Tribunal. Na Correição Parcial 20090400035046446 (...) o TRF da 4ª Região asseverou-se que a prática ampliou a previsão legal para admitir a previsão de benefícios processuais (suspensão do processo, liberdade provisória, dispensa de fiança, obrigações de depor ou de realizar determinadas provas pessoais...), penais (redução ou limitação de penas, estipulação de regimes prisionais mais benéficos, ampliação e criação de modalidades alternativas de respostas criminais, exclusão de perdimento...), fora dos limites dos fatos (para revelação de outros crimes da quadrilha...), ou mesmo extrapenais (reparando danos do crime, dando imediato atendimento às vítimas...). [50: MENDONÇA, Andrey Borges de. A Colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013). Disponível em: <http://www.prrj.mpf.mp.br/sala-de-imprensa/publicacoes/custos-legis/a-colaboracao-premiada-e-a-nova-lei-do-crime-organizado-lei-12.850-2013/view>. Acesso em: 08 fev. 2017.]
	O último ponto comentado pelo mesmo autor, trata da possibilidade de concessão de benefício maior do aquele previamente celebrado,

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