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ANÁLISE JURÍDICA SOBRE A EFICÁCIA DA DELAÇÃO PREMIADA COMO MECANISMO NO COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS.

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INSTITUTO METROPOLITADO DE ENSINO – IME 
CENTRO UNIVERSITÁRIO – FAMETRO 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
FREDERICO MARTIN EMILIO DA SILVA STEENBUCK 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE JURÍDICA SOBRE A EFICÁCIA DA DELAÇÃO PREMIADA COMO 
MECANISMO NO COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MANAUS 
2020 
FREDERICO MARTIN EMILIO DA SILVA STEENBUCK 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE JURÍDICA SOBRE A EFICÁCIA DA DELAÇÃO PREMIADA COMO 
MECANISMO NO COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Artigo Científico apresentado ao Curso de Direito do 
Centro Universitário Fametro, como requisito parcial 
para obtenção de grau de bacharel em Direito. 
 
Orientadora: Roberta Karina Cabral kanzler 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MANAUS 
2020
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 
 
Análise jurídica sobre a eficácia da delação premiada como mecanismo no 
combate às organizações criminosas./ Frederico Martin Emilio da Silva Steenbuck. – 
Manaus: FAMETRO, 2020. 
 
XXp. 
 
Orientadora: Profa. Roberta Karina Cabral kanzler 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção do 
título de Bacharel em Direito pelo Centro Universitário FAMETRO, 2020. 1. 
 
Direito. 
 
CDU.: 
Responsável técnico: Allison Silva de Andrade (CRB11/1102) 
Biblioteca CEUNI-FAMETRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente a Deus, por sua luz e bondade 
eterna; aos meus familiares, pelo apoio nessa hora 
decisiva; aos professores, coordenadores e colegas 
do Curso de Direito, pela convivência proveitosa e 
amigável ao longo desses anos e, especialmente, a 
minha Orientadora do trabalho, pelos ensinamentos 
e indispensável apoio nas pesquisas realizadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aprovado em ____ / ____ / ______. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
 
 
 
 
__________________________________________ 
Orientadora: Roberta Karina Cabral kanzler 
 
 
 
 
 
__________________________________________ 
Incluir o nome do segundo professor 
 
 
 
 
 
__________________________________________ 
Incluir o nome do terceiro professor
5 
ANÁLISE JURÍDICA SOBRE A EFICÁCIA DA DELAÇÃO PREMIADA COMO 
MECANISMO NO COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS. 
 
Frederico Martin Emilio da Silva Steenbuck 1 
 
RESUMO 
 
A presente pesquisa tem como objetivo principal, fazer uma análise dos aspectos 
jurídicos relevantes e as controvérsias da delação premiada no ordenamento jurídico 
pátrio, como mecanismo de combate ao crime organizado. O estudo também teve 
como finalidade o desenvolvimento de uma análise sobre os requisitos à eficácia da 
Delação Premiada; demonstração da aplicação da Delação Premiada; assim como a 
explicação sobre as vantagens de fazer o uso da Delação Premiada. Sua 
elaboração será de forma explicativa, com análise crítica de doutrina e da legislação 
pertinente, e de forma qualitativa, baseando-se em pesquisa documental 
bibliográfica. Sendo demonstrados de maneira clara e expositiva, os devidos 
esclarecimentos das controvérsias sobre este tema. O instituto da delação mostrou-
se um bom auxílio para persecução penal. Concluindo pela utilização da delação 
premiada para a proteção do bem jurídico. Dessa forma, analisam-se as abordagens 
doutrinárias sobre o tema, havendo argumentos contrários e favoráveis. 
 
Palavras-chave: Delação premiada. Análise jurídica. Eficácia. Organização 
criminosa. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho vem abordar sobre a delação premiada, realizando uma 
análise jurídica sobre a sua utilização no combate ao crime organizado. A delação 
premiada estabelece como mecanismo negocial de obtenção de provas, na esfera 
das investigações que envolvem as organizações criminosas na lei 12.850/13, tem 
sido amplamente utilizada. 
Nesse contexto será abordado o conceito de delação premiada conforme a lei 
12.850/13, os legitimados para a realização do acordo de colaboração premiada e 
acerca dos benefícios do colaborador que contribuir eficazmente, para o 
fornecimento de informações relevantes. A legislação permite que a delação possa 
ser aplicada a qualquer tipo de crime, uma vez que não é limitada e determinada 
pelos tipos penais, dessa forma consegue atrair maiores interesses por parte dos 
participantes da ação criminosa. 
A delação premiada é um Instituto do Direito Penal que se amplificou diante 
dos obstáculos enfrentadas, no decorrer do tempo, para que se punissem crimes 
 
1
 Graduando do Curso de Direito do Centro Universitário Fametro. E-mail 
Frederico.steenbuck@hotmail.com 
6 
cometidos em concurso de pessoas. 
Considerando que as organizações criminosas se apresentam como 
verdadeiras empresas voltadas à prática de infrações penais, com estrutura 
hierárquica e divisão de tarefas é necessário empregar meios especiais de obtenção 
de prova, capazes de fornecer informações eficazes para o combate do crime 
organizado. Portanto, tais como a colaboração premiada, a qual se utiliza dos 
próprios investigados ou acusados para a produção de prova, mediante a concessão 
de benefícios referentes à pena. 
Devido à complexidade do Estado em acompanhar a evolução das 
organizações criminosas houve a necessidade de se desenvolver um aparelhamento 
para conter essa prática delituosa. Desta forma, a delação premiada se apresenta 
como solução para suprir a ineficiência estatal e também como uma forma de 
apresentar resultados práticos à sociedade. 
É imperativa a verificação da ocorrência de compatibilidade desse meio de 
aquisição de provas com os preceitos constitucionais e processuais existentes no 
ordenamento jurídico brasileiro. Tratando-se de um método especial de 
investigação, de certa forma, novo e, com o objetivo de combater diretamente as 
organizações criminosas, não está isento de críticas e da suscitação de muitas 
discussões no âmbito acadêmico e doutrinário quanto a legitimidade do seu valor 
probatório, uma vez que não há comparação com nenhum outro método 
investigativo já existente na atual legislação brasileira. 
A possibilidade de declarações de acusados serem consideradas como 
provas já existe na legislação brasileira em diversas leis esparsas, sem haver, no 
entanto, antes da Lei 12.850/2013, nenhuma legislação que fosse específica e 
regulamentasse o tema, o que contribuía muito para as divergências sobre seu valor 
probatório. 
A Lei 12.850/2013 trouxe muitos avanços para o instituto da colaboração 
premiada e para as latentes discussões em torno da mesma, prevendo uma série de 
inovações e regulamentando o método de investigação, que até então não possui 
uma legislação que o tratasse de forma específica. 
A tese que se pretende defender, por meio de uma pesquisa jurisprudencial, 
legal e doutrinária, é a da constitucionalidade e plena aplicabilidade do instituto da 
delação premiada, tendo em vista a contribuição de tal instituto para a resolução dos 
crimes e diminuição ou repressão da criminalidade. 
7 
1 DELAÇÃO PREMIADA 
 
A delação premiada é considerada uma técnica especial de investigação, 
consubstanciada em um meio extraordinário de obtenção de provas. Nesse sentido, 
pode-se dizer que é uma confissão acrescida de alguns elementos de suma 
importância, na qual, o delator, além de confessar sua participação ou coautoria no 
crime praticado, fornece informações exclusivas e efetivas para a rápida elucidação 
do delito, como por exemplo, a localização da vitima e do produto do crime, além da 
identificação dos demais integrantes envolvidos, auxiliando o Estado para o efetivo 
desmantelamento da organização criminosa, seu objetivo primordial. 
O conceito e o significado de colaboração premiada podem ser extraídos das 
disposições previstas na Lei de Organização Criminosa. 
Diante do grande avançoda criminalidade e dos sofisticados meios utilizados 
pelas organizações criminosas, cumulados com o assoberbamento do judiciário, 
mostra-se necessária uma busca por novas políticas eficazes no combate às ações 
de grupos organizados. É aí que se destaca e ganha força o instituto da delação 
premiada, método utilizado pelo Estado para auxiliá-lo na manutenção da ordem e 
segurança pública, com a finalidade de desestruturar as associações criminosas. 
Segundo o Minidicionário de Língua Portuguesa de Evanildo Bechara (2009, 
p. 263), o termo "delação" significa denunciação, acusação ou revelação. No 
entanto, tal instituto não tem apenas a característica de denunciar ou revelar uma 
ação delituosa praticada por outrem. Na ciência do direito, delação tem um 
significado mais complexo. Nessa ótica, delação seria a confissão de uma infração 
penal somada à denunciação dos demais integrantes do grupo delituoso, isto é, nos 
delitos praticados em concurso de pessoas, um dos coautores ou partícipes, além 
de confessar o seu envolvimento, revela a participação de uma ou mais pessoas na 
prática do mesmo crime. Já a expressão "premiada" deriva do prêmio legal que o 
Estado fornece em troca das informações prestadas pelo delator. (LIMA, 2014, p. 
126). 
A Lei nº 12.8502013, teve como princípio a definição do que seria uma 
organização criminosa, a possibilidade de disposição sobre os meios que 
possibilitariam a investigação criminal, a metodologia aplicada no processo de 
obtenção das provas, as infrações penais relativas e o procedimento criminal, 
assegurando em seu art. 4º a previsão legal de que, o magistrado poderá, a 
8 
requerimento das partes, conferir o perdão judicial, conceder a redução em até 2/3 
(dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos, do 
agente colaborador que, de forma efetiva e voluntária venha a contribuir com a 
investigação e com o processo criminal, desde que dessa voluntária colaboração 
incidam resultados efetivos que contribuam para a desconstrução do modus 
operandi das organizações criminosas, a punição de seus agentes e a obtenção da 
recuperação do produto do crime. 
 
 
1.1 DELAÇÃO OU COLABORAÇÃO 
 
Inicialmente, é fundamental que se faça a diferenciação das expressões que 
nomeiam o instituto. Há agentes que fazem referência a “colaboração premiada”, ao 
mesmo tempo em que, no contexto popular, se expõe como “delação premiada”. 
De acordo com Gomes (2014, p. 23), a delação premiada distingue-se da 
colaboração premiada, pois “inspirado na doutrina de Vladimir Aras e tendo por base 
a Lei 12.850/13 (artigo 4º), entende-se que a colaboração premiada (gênero) se 
subdivide em cinco espécies, que se justificam conforme o resultado pretendido e 
alcançado”. Dessa forma, Aras define que a primeira espécie é a delação premiada 
ou chamamento de coacusado. 
Segundo Gomes (2014, p. 26), ambos institutos possuem como objetivo, 
tomar conhecimento da participação dos demais partícipes e corréus da pratica 
criminosa e cada crime respectivamente por eles efetuados na ação penal. 
Nesta sequencia, a segunda categoria apresentada é a colaboração 
reveladora do aparelhamento estrutural e o modo de funcionamento da organização 
criminosa, momento em que se toma conhecimento, por meio da colaboração, da 
estrutura hierárquica e divisão de tarefas dentro da organização criminosa 
investigada. 
A vista disso há a colaboração preventiva, o seguimento da colaboração 
premiada, pontuado como terceiro ponto, que objetiva a prevenção ao cometimento 
de novos delitos que possam ser praticados pela organização criminosa que já faz 
parte da investigação criminal em andamento. 
Como quarto quesito, a colaboração para localização e recuperação de bens 
ativos, que também é espécie de colaboração premiada. Esse instituto tem como 
finalidade a recuperação parcial ou total das receitas e dos produtos advindos de 
9 
crime obtidos pela organização criminosa. 
Finalmente, há o processo para a colaboração para determinação da 
liberdade da pessoa, que objetiva a localização de pessoas, vítimas de sequestro, 
por exemplo, com sua integridade física preservada. 
Assim, diante dos conceitos em epigrafe compilados, há o entendimento de 
que a delação premiada pode ser tratada como espécie da colaboração premiada. 
Nucci, (2013, p. 38), por sua vez, entende que a distinção entre a colaboração 
e a delação é outra, haja vista que a colaboração está ligada à cooperação, não 
sendo essa prevista no ordenamento jurídico brasileiro. 
 
 
1.2 FUNCIONAMENTO DA DELAÇÃO PREMIADA 
 
A delação premiada, cuja conduta ética do delator causa polêmicas, 
chegando a ser questionada e até criticada, tem suas origens, no direito brasileiro, 
desde as Ordenações Filipinas. Em função de sua ética questionável, tal 
procedimento acabou sendo abandonado pelo ordenamento pátrio, ressurgindo em 
época mais recente, em 1.990, com a Lei de Crimes Hediondos. 
A partir de 1.990, com a previsão do instituto da delação premiada na Lei de 
Crimes hediondos, vários outros diplomas passaram a prevê-lo, tais como: a antiga 
Lei de Crime Organizado1 (Lei 9.034/95), Código Penal2 (no crime de extorsão 
mediante sequestro), Lei de lavagem de Capitais3 (Lei 9.613/98), Lei de Proteção às 
Vítimas e testemunhas4 (Lei 9.807/99) e Lei de Drogas5 (Lei 11.343/06). 
A Lei 9.807 de 13 de julho de 1.999 foi instituída para legislar sobre os 
programas especiais de proteção às vítimas e testemunhas ameaçadas, sendo uma 
lei considerada mais abrangente quanto à delação, vindo a estabelecer maiores 
requisitos para a concessão do benefício. O artigo 13 da referida lei possibilita o 
perdão judicial como prêmio ao réu que colaborar, o que não havia sido mencionado 
nas leis anteriores. 
E o artigo 15 dedica-se à proteção de acusados ou condenados que tenham 
colaborado nas fases de investigação policial e no processo criminal. 
Entretanto, as maiores inovações em relação ao referido instituto vieram com 
a nova Lei de Crime Organizado (lei 12.850/13). A lei em comento prevê a 
colaboração premiada como um dos meios de obtenção de prova, deixando uma 
seção inteira para regulamentá-la. 
10 
Já em seu artigo 4 prevê o perdão judicial e a redução ou substituição de 
pena para quem haja colaborado efetiva e voluntariamente com as investigações e 
com o processo criminal, logo em seguida apresentando um rol de resultados 
alternativos que devem ocorrer para que algum desses benefícios seja concedido. 
Prevê também no §3 do artigo 4 a suspensão em até 06 (seis) meses, prorrogáveis 
por igual período, da denúncia em relação ao réu colaborador, se necessário a 
finalização das investigações. Observa-se que se suspende também o prazo 
prescricional. 
Outra inovação importante foi a do §4 do artigo 4 que prevê a possibilidade de 
o Ministério Público deixar de oferecer denúncia em relação ao réu delator em 
algumas hipóteses; bem como a do §6 da Lei que permite apenas que o delegado 
de polícia ou o membro do Ministério Público ofereçam o acordo de delação, ficando 
o juiz de fora, que apenas irá homologar o acordo já feito. 
Adiante, prevê o §10 do artigo 4 que as partes podem se retratar da proposta, 
caso em que as provas auto-incriminatórias produzidas pelo delator não poderão ser 
utilizadas contra ele. Por outro lado, dispõe o §14 do artigo 4 da Lei que o réu que 
decidir colaborar deverá renunciar ao seu direito constitucional de ficar em silêncio. 
Garante ainda a Lei no §16 do seu artigo 4 que não haverá sentença 
condenatória proferida apenas com base nas informações prestadas pelo réu 
delator. Por fim, o artigo 5 da Lei 12.850/13 dispõe quais são os direitos conferidos 
ao colaborador, dentre eles, a proteção dele e de sua família, nos termos da lei de 
proteção ás vítimas e testemunhas (Lei 9.807/99). 
 
 
1.3 PREVISÃO LEGISLATIVA 
 
A discussão em torno do tema “delação premiada” induza duas ideias 
centrais: a primazia do valor da pessoa humana versus interesses do Estado. Na 
confrontação das ideias, há argumentos favoráveis a ambas. O aumento da 
criminalidade causa pânico à população, que reclama por mais rigor, mais 
segurança, e, por outro lado, a imagem do delator causa indignação, sendo o Estado 
apontado como autoritário e, ao mesmo tempo, benevolente com os criminosos, 
ficando o instituto da delação premiada apontado como inconstitucional pensamento 
que não deve prevalecer. 
A delação premiada, na concepção de alguns segmentos, é um instituto 
11 
inconstitucional, assim como o delator é considerado um traidor indigno de 
confiança. Doutrinadores, estudiosos do assunto, advogados e ministros dissertam 
sobre a inconstitucionalidade, dentre eles o advogado Bruno Baptista, o ministro 
Gilmar Mendes, Damásio de Jesus, dentre outros. Além da inconstitucionalidade, 
destacam o caráter antiético e imoral da delação. 
Na concepção de Helder Silva Santos, a delação premiada, além das 
questões de natureza axiológica, a aplicação do favor premial importa em um 
paradoxo jurídico que se manifesta sob variadas formas, como no desvirtuamento 
dos fins do direito penal, no enfraquecimento do poder normativo da lei e na quebra 
da noção de ordenamento jurídico Leciona Santos 
 
A pena, justamente por ser um mero acessório para o resguardo de bens 
jurídicos mais valiosos, não pode valer-se de qualquer pretexto para impor 
ao infrator restrição que extrapole os limites definidos implicitamente pela 
constituição por conta de sua natureza democrática. (SANTOS, 2012, p. 56) 
 
Invocando o artigo 5° da Constituição brasileira, o autor citado enfatiza que a 
função do Direito Penal é proteger os bens jurídicos valiosos elencados, não poderá 
o Estado violar frontalmente valores importantes que se dispõe a garantir. Assim, 
carece de lógica o instituto em questão, pois se o Direito Penal pretende proteger 
certos valores importantes a sociedade, não seria legítima a instituição da delação 
premiada, a qual insere no ordenamento jurídico um elemento nocivo que estimula a 
traição, a desconfiança e o individualismo. 
Damásio de Jesus, por sua vez, vê a delação premiada como algo 
antipedagógico, que vai de encontro a preceitos morais irrenunciáveis. Assegura o 
autor que a lei não é didática e não apresenta princípio cívico decente: ensina que 
trair é bom porque reduz a consequência do pecado penal. 
A favor da aplicação do instituto estudado, está a maioria da doutrina e quase 
que a totalidade da jurisprudência. Pode-se dizer que quanto menos força o Estado 
empregar para o cumprimento das leis e das penas, mais legitimidade terão suas 
instituições jurídicas. No contexto citado, a delação premiada se insere, pois ao fazer 
sua escolha pela delação, que é voluntária, espontânea, o indivíduo que praticou um 
crime sabe que será penalizado, e também sabe que esta pena poderá ser reduzida. 
Por outro lado, está contribuindo para que a sociedade esteja sendo retribuída 
dos males causados por ele e seus cúmplices. Assim, pode se afirmar que a delação 
é um recurso legítimo do ponto de vista constitucional, já que contribui 
12 
significativamente para que o Estado faça cumprir suas leis. Não há 
inconstitucionalidade no instituto da delação premiada à medida que o criminoso não 
vê seus direitos fundamentais violados, pois ele age de acordo com sua vontade, 
não há nenhum ato de violência que o obrigue, sendo sua liberdade de escolha 
respeitada; é somente dele a decisão. Como bem salienta Costa: 
 
[…] O criminoso não é obrigado a negociar. É um ato de iniciativa pessoal 
dele. As leis que tratam do favor premial colocam essa característica 
indispensável para que a delação seja premiada: a voluntariedade e/ou 
espontaneidade do agente (...). Mesmo sugerido por terceiros, respeita-se a 
liberdade de escolha do indivíduo e a decisão última é dele. Em se 
delatando, receberá seu premio, se tornar efetivo Jus Persequedi do 
Estado. (COSTA, 2015, p. 152) 
 
Em relação ao princípio da dignidade humana (art. 1°, inciso III, CF), este 
confere unidade aos direitos e garantias fundamentais, é um valor moral e espiritual 
inerente à pessoa humana, se manifestando na autodeterminação responsável de 
sua própria vida, trazendo consigo a perspectiva do respeito por parte de outras 
pessoas. Somente em casos excepcionais podem ser feitas limitações ao exercício 
dos direitos fundamentais. 
Esse princípio constitui critério para a integração da ordem constitucional e 
condiciona a aplicação do direito positivado. Por intermédio desse princípio, deve o 
Estado garantir o exercício do livre arbítrio e da liberdade pessoal. Sendo um ser 
único, pode optar por qual caminho, decisão tomar. Portanto, ao optar pela delação 
premiada, sua dignidade está preservada. 
Preserva-se também o direito constitucional ao silêncio do preso, previsto no 
artigo 5°, inciso LXIII da CRFB de 1988, uma vez que a delação premiada não é um 
instituto imposto, obrigatório. É um ato espontâneo, que parte da vontade do 
indivíduo criminoso. E é também garantido, através do pacto de São José da Costa 
Rica, do qual o Brasil é signatário, o direito que toda pessoa tem de “não ser 
obrigada a depor contra si mesma, nem declarar-se culpada”. O infrator não é 
obrigado a confessar, por força de garantia judicial internacional, assim como pela 
constituição de nosso país. 
No que tange ao princípio da proporcionalidade, há doutrinadores que alegam 
que a proporcionalidade da pena nos casos da delação premiada fere tal princípio 
constitucional. Mas não há inconstitucionalidade em tais casos, tendo em vista que 
ao colaborar para a elucidação de um crime, o que contribuiu para a investigação e 
13 
solução de um crime, expondo a si e sua família, tenha pena menor e diferenciada 
daquele ou daqueles que infringiram a lei. Como destaca Costa: 
 
A aplicação da mesma pena aos agentes, (...) representa ofensa a condição 
humana, atingindo-o, de modo contundente, na sua dignidade de pessoa. 
Existe uma dificuldade para que esse princípio possa ser viabilizado, ou 
seja, não há um critério que seja útil como medida de proporcionalidade. 
Esse critério deve ser buscado em um juízo de adequabilidade entre a 
gravidade do preceito sancionatório e a danosidade social do 
comportamento incriminado. E é claro que aquele que colaborou com a 
justiça por meio da delação causou uma menor danosidade social, razão 
pela qual deve receber uma redução de sua pena em relação a seus 
comparsas.(COSTA, 2015, p.162) 
 
Assim posto, a figura da delação premiada, criticada por uns e vista como 
significativa por outros, foi uma resposta aos anseios da população diante da 
criminalidade cada vez maior e, com o agravante dos crimes praticados estarem 
cada vez mais sofisticados e mais cruéis, onde também o crime organizado não 
ameaça somente os cidadãos, mas também as instituições e a própria soberania do 
Estado. Desse modo, não é inconstitucional, já que não viola a Constituição da 
República. 
 
 
2 DELAÇÃO PREMIADA DA LEI Nº 12.850/13 
 
No ordenamento jurídico brasileiro, os primeiros registros da delação 
premiada podem ser constatados no período do Brasil-colônia, nas Ordenações 
Filipinas (1603-1867), que trazia um livro específico sobre delação premiada, em se 
tratando de crimes de falsificação, principalmente, de moeda. 
Jesus (2016, p. 44) aduz que no ordenamento jurídico pátrio, a delação 
premiada teve sua origem nas Ordenações Filipinas, que esteve em vigência de 
1603 até a entrada em vigor do Código Criminal de 1830. 
A parte criminal do Código Filipino constava no Livro V, Título CXVI, que 
tratava da delação premiada, sob o título “Como se perdoará aos malfeitores, que 
derem outros à prisão”, que outorgava o perdão aos criminosos delatores e tinha um 
alcance, inclusive, por premiar, com a absolvição, criminosos delatores de delitosalheios. 
Ainda no período de Ordenações Filipinas é possível ressaltar um movimento 
histórico-político clássico da história do Brasil, que foi a Inconfidência Mineira, em 
que o Coronel Joaquim Silvério dos Reis alcançou o perdão de suas dívidas com a 
14 
Coroa Portuguesa em troca da delação de seus colegas, que foram presos e 
acoimados do crime de lesa-majestade (traição cometida contra a pessoa do Rei). 
Dentre os participantes, Joaquim José da Silva Xavier foi apresentado como 
chefe do movimento e, por conseguinte, condenado à morte por enforcamento. 
Depois de executado, teve sua cabeça exibida na cidade de Vila Rica, atualmente 
conhecida como Ouro Preto; a fim de desconvencer outras possíveis conflagrações 
contra as lideranças governamentais. 
Outro período que também faz jus a destaque é o do Regime Militar, a partir 
de 1964, em que a delação premiada era muito empregada para descobrir as 
pessoas que discordavam com aquele modelo de governo e, deste modo, eram 
consideradas criminosas. 
Apesar de todos esses registros, a delação premiada propriamente dita passa 
a incorporar nosso ordenamento jurídico com a Lei dos Crimes Hediondos (nº 
8.072/90), que acarretou como desígnio a efetiva desconstrução da quadrilha ou 
grupo que tenha sido formada para fins criminosos e considerados hediondos; 
possibilitando assim uma diminuição de pena. 
A partir daí a delação premiada sobreveio a agregar outras numerosas 
legislações, a saber: 
- Lei dos Crimes Contra a Ordem Tributária (8.137/90), em seu artigo 16º, 
parágrafo único, in verbis: 
 
“Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou coautoria, o 
coautor ou partícipe que através da confissão espontânea revelar à 
autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena 
reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços).” 
 
- Lei de Lavagem de Dinheiro (12.683/12), artigo 2º que alterou o dispositivo 
do 1º, § 5º da lei anterior de Lavagem de Capitais (9.613/98), estabelecendo: 
 
A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime 
aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-
la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou 
partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando 
esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à 
identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, 
direitos ou valores objeto do crime. 
 
- Lei de Extorsão Mediante Sequestro (9.269/96) artigo 4º, in verbis: “Se o 
crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, 
facilitando a libertação do sequestrado, terá a pena reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois 
15 
terços)”. Também prevista na antiga Lei do Crime Organizado (9.034/95), que regula 
os meios de cautela dos crimes cometidos pelas organizações criminosas e as 
formas de contê-las. 
Pode-se inferir que a Lei do Crime Organizado não teve o desígnio de 
restringir a concessão da delação premiada somente para os casos de organização 
criminosa stricto sensu, mas se inclui também a associação criminosa e a quadrilha 
ou grupo. 
Ainda, exige-se que a colaboração seja irrefletida e não apenas voluntária, 
pois, conforme prescreve Capez (2014, p. 98). 
 
Não basta que o ato esteja na esfera de vontade do agente, exigindo-se 
também que ele tenha partido a iniciativa de colaborar, sem anterior 
sugestão ou conselho de terceiro. Além disso, a colaboração deve ser 
eficaz, sendo exigido nexo causal entre ela e o efetivo esclarecimento de 
infrações penais e sua autoria. (GUIDI, 2006, p. 114/115) 
 
Apesar de previsões legais esparsas, é possível estabelecer alguns requisitos 
específicos da delação premiada que são comuns a todas elas, e que poderiam 
fundir-se em uma só lei. São eles: colaboração espontânea; participação do delator 
na pratica da infração; relevância nas declarações; e efetividades das informações. 
Discute Guidi (2006, p. 117) a existência de duas classificações que 
distinguem a delação entre sistema aberto fechado. A primeira delas é a forma 
aberta, em que o delator confessa ter cometido o crime e imputa a conduta a 
terceiros. 
 Atendidos os requisitos legais, poderá o delator ser beneficiado com a 
redução da pena até mesmo o perdão judicial. A segunda forma é a fechada, o 
delator não possui interesse em beneficio algum, e apenas colabora de forma 
anônima. 
A Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso IV, veda a possibilidade do 
anonimato: 
 
IV - É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; 
Acredita, portanto este autor, que a delação anônima em si não pode dar 
ensejo a persecução penal do Estado, tendo em vista a dificuldade de 
punição em caso de informações falsas. (BRASIL, 1988) 
 
Não se descarta, porém, que tais informações sirvam para apuração de 
possível ocorrência do fato ilícito ou como forma de prevenção. 
16 
2.1 ACORDO DE DELAÇÃO PREMIADA 
 
Dentre os diplomas legais que tratam da delação premiada inexiste dispositivo 
que discipline a etapa processual para sua aplicação ou ocorrência, gerando assim, 
divergências doutrinárias. Há posicionamentos de que este instituto se dê na fase do 
interrogatório do acusado (réu- colaborador), por esta fase conter a confissão, ou 
ocorra em qualquer momento da persecutio criminis, até mesmo após o trânsito em 
julgado da sentença, quer dizer, até na fase de execução penal. 
Diante desse entendimento, Damásio de Jesus, explica que ao analisar os 
dispositivos referentes à delação premiada, tem-se primeiramente, que “o benefício 
somente poderá ser aplicado até a fase de sentença. No entanto, não se pode 
excluir a possibilidade de concessão do prêmio após o trânsito em julgado, através 
da Revisão Criminal, desde que a hipótese ensejadora seja a descoberta de nova 
prova de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize a 
diminuição especial da pena, nos termos do artigo 621 inciso III do Código de 
Processo Penal.”. 
Sendo, portanto, sustentável que uma colaboração posterior ao trânsito em 
julgado seja beneficiada com os prêmios da delação premiada. Todavia, a 
concessão dos benéficos, destaca a jurisprudência em relação ao perdão judicial, 
que deve possuir aplicação na sentença de mérito, por ser uma causa declaratória 
da extinção da punibilidade, como dispõe Código Penal em seu artigo107, inciso 
XIX. 
Pode-se inferir que o fato de não estar expressamente previsto o momento 
processual para a delação, não obsta sua aplicação em outras fases da ação penal, 
principalmente em fase de execução da pena. Uma vez que, este instituto possui 
procedimentos inerentes ao devido processo legal, não estando, então, limitado à 
sentença penal. Sobre a aplicação da delação durante a execução da pena, esta 
decorre da efetiva colaboração nesse momento do processo. 
Assim, é possível a utilização, por analogia, dos mecanismos que podem 
modificar a sentença condenatória, denominados de incidentes de execução 
normatizados na Lei de Execuções Penais nº.7210/84, como fonte subsidiária; 
ficando a cargo do juízo da execução analisá-los de acordo com artigo 66, inciso III, 
alínea f, da referida lei, e verificar a existência dos requisitos da Lei nº.9807/99. 
17 
Dessa forma, verifica-se que não há determinação de momento para que a 
delação seja aplicada, podendo ocorrer desde o início, com o interrogatório até na 
fase de execução da pena, isso porque este instituto possui aplicação diferenciada, 
e baseada na colaboração do delator, então tudo dependerá do caso que está 
ocorrendo. Cientes de que, se acontecer durante a execução, mesmo com a 
sentença, esta poderá vir a ser alterada, podendo a pena ser modificada, reduzida 
ou mesmo extinta. 
 
 
2.2 BENEFÍCIOS DO COLABORADOR 
 
A Lei nº. 9807/99 aborda a delação de forma ampla, estabelecendo dois 
prêmios para ao delator: o perdão judicial ou a diminuiçãoda pena, desde que 
estejam presentes os requisitos dos artigos 13 e 14 desta lei. Que para o primeiro 
dispositivo são a primariedade do réu, colaboração efetiva e voluntária, identificação 
dos co-autores ou partícipes no crime, localização da vítima com a integridade 
preservada ou a recuperação total ou parcial do produto do crime. Para o segundo, 
exclui-se apenas que o réu seja primário. Entendendo-se este requisito como sendo 
a pessoa que não tenha sido condenada por sentença penal transitada em julgado. 
A concessão dos benefícios depende da presença dos requisitos 
anteriormente citados no caso, que serão analisados pelo juiz. Entendendo este, 
pela não aplicação, mesmo estando presentes os elementos ensejadores da 
delação, cabe a interposição de recurso de Apelação pelo Ministério Público ou pela 
defesa, por caracterizar tais benefícios, direito subjetivo do réu-colaborador, 
conforme a doutrina majoritária. 
Há de se ressaltar, que o artigo 15 do mesmo diploma legal, disciplina medida 
de segurança e proteção, se o réu estiver sob ameaça, ou coação eventual ou 
efetiva. Sendo estas medidas, por interpretação, as constantes no artigo 7º da 
mesma lei, como local diferenciado se o réu estiver cumprindo prisão cautelar ou 
cumprindo pena em regime fechado aplicam-se medidas especiais, que melhor se 
amolde a situação do réu, uma vez que, neste caso, não poderão ser incluídos no 
sistema estatal de proteção, conforme dispõe o artigo 2º, §2 da Lei 9807/99, abaixo 
transcrito: 
 
Art. 2o A proteção concedida pelos programas e as medidas dela 
decorrentes levarão em conta a gravidade da coação ou da ameaça à 
integridade física ou psicológica, a dificuldade de preveni-las ou reprimi-las 
18 
pelos meios convencionais e a sua importância para a produção da prova. § 
2o Estão excluídos da proteção os indivíduos cuja personalidade ou conduta 
seja incompatível com as restrições de comportamento exigidas pelo 
programa, os condenados que estejam cumprindo pena e os indiciados ou 
acusados sob prisão cautelar em qualquer de suas modalidades. Tal 
exclusão não trará prejuízo à eventual prestação de medidas de 
preservação da integridade física desses indivíduos por parte dos órgãos de 
segurança pública. 
 
Tem-se, portanto, que o delator não ficará desamparado por não 
preencherem os requisitos para proteção especializada, pois determina a 
Constituição Federal em seu artigo 144, que os órgãos públicos são responsáveis 
pela segurança e proteção da incolumidade física dos indivíduos. 
Portanto, os efeitos serão positivos conforme o delator se adéque aos 
requisitos dispostos na lei. 
 
 
2.3 VALOR PROBATÓRIO DA COLABORAÇÃO PREMIADA 
 
Apesar da colaboração premiada não possuir previsão no rol das provas 
constantes no Título VII do Código de Processo Penal, a Lei 12.850/2013, de forma 
mais explicitada no artigo 3º, inciso I, deu a possibilidade ao instituto a natureza de 
meio de obtenção de provas por meio de participação voluntária do agente envolvido 
na denúncia. 
Ocorre que, a mesma lei, no artigo subsequente, em seu § 16º, ao falar do 
instituto, sugere que a delação premiada é uma prova, embora não disponha de 
capacidade legal de embasar, sozinha, uma condenação penal. 
Ao dispor do instituto da delação premiada como instrumento para obtenção 
de provas em um processo penal, como auxílio na motivação da condenação de um 
agente da organização criminosa, o magistrado deve pautar-se pela causa, fazendo 
a justificativa da escolha e da materialidade da prova, a qual deve estar em 
conformidade com as demais existentes nos autos do processo. 
A delação premiada, por si só, é incapaz de ser o elemento unívoco de 
motivação para a condenação de réus envolvidos em corrupção no ordenamento 
jurídico pátrio. Havendo a necessidade de um quadro probatório que corrobore com 
o depoimento do delator, sob a pena de violação ao disposto no artigo 4º, § 16, da 
Lei 12.850/2013. 
Não há a possibilidade de expedição de sentença condenatória com a 
existência de somente a colaboração premiada no processo, de forma isolada, sem 
19 
que sejam citadas ou sem apresentação de provas substanciais comprobatórias que 
corroborem com a delação, ou ainda que a contrariem com base na sua 
improcedência ou não tão somente na delação. 
Dessa feita, cabe ao magistrado a indicação de elementos outros probatórios 
com capacidade de confirmação da delação, assim, o juiz do processo estará em 
atendimento ao que está disposto na Lei, realizando o resumo da delação em prova 
processual e a valorando no caso concreto. Todavia, quando se faz menção da 
valoração das provas, faz-se necessário que se tenha em mente que a colaboração 
premiada possui natureza relativa, conforme Nucci (2016, p. 69) “esse meio de 
prova baseia-se em uma declaração de um interessado que obterá benefícios 
delatando terceiros”. 
 
A corrupção envolve quem paga e quem recebe. Se eles se calarem, não 
vamos descobrir, jamais. Usualmente é ainda levantado outro óbice à 
delação premiada, qual seja, a sua reduzida confiabilidade. Um investigado 
ou acusado submetido a uma situação de pressão poderia, para livrar-se 
dela, mentir a respeito do envolvimento de terceiros em crime. Entretanto, 
cabível aqui não é a condenação do uso da delação premiada, mas sim 
tomar-se o devido cuidado para se obter a confirmação dos fatos por ela 
revelados por meio de fontes independentes de prova (MORO. 2004, p. 59) 
 
No entanto, embora possa dispor com tal natureza, vale destacar que é o 
magistrado que, por meio de livre arbítrio e decisão própria motivada, com amparo 
em outros elementos probatórios que definirá a valoração dada à delação. 
No que tange a corroboração da delação premiada por outros meios de 
captação de provas, não há no ordenamento jurídico pátrio qualquer dispositivo 
prevendo qual a natureza da prova com capacidade de exercer tal validação, 
podendo, desse modo, acontecer através do rol de provas previsto no título VII do 
Código de Processo Penal, anteriormente citado. 
 
 
2.4 EFICÁCIA DA COLABORAÇÃO PREMIADA COMO MEIO DE OBTENÇÃO DE 
PROVA NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO 
 
A delação premiada, embora tenha seu caráter reprovável socialmente, 
desempenha com destaque o papel de assistente estatal, cujo objetivo de reduzir a 
impunidade organizada, ao romper com a Lei do silêncio entre os componentes das 
organizações criminosas, obtendo com a colaboração do delator elementos 
probatórios, antes impossíveis, devido ao aspecto mutativo desta rede criminosa. 
Culminando no fortalecimento do Direito Penal, com a conseqüente proteção dos 
20 
bens jurídicos sociais, concretizando o Estado o juspuniendi. Portanto, é mister 
lembrar que quando a delação alcança sua finalidade, seu caráter aético, pejorativo 
e inconcebível, desaparece, pois mesmo havendo uma concessão de benefício a um 
criminoso, há o desmantelamento e a punição de uma organização inteira, sendo 
proveitoso para a segurança da coletividade. Conforme assevera Fabiana Greghi: 
 
“O instituto da Delação Premiada propicia inúmeras vantagens à sociedade 
por ser uma forma eficiente de combate à criminalidade organizada (...) 
Afinal, a denúncia de um crime deve ser estimulada como obrigação do 
sujeito que, ao delatar a ação criminosa e levar a punição dos criminosos, 
estará colaborando para o bem de todos” 
 
Assim, constata-se que os efeitos desta lei para a sociedade são bastante 
benéficos, vez que, retira do convívio social, de modo eficaz, pela própria 
colaboração voluntária ou espontânea de um integrante do crime, os agentes dos 
delitos. 
 
 
CONCLUSÃO 
 
O instituto da delação premiada é um instrumento que permite ao colaborador 
a redução de sua pena, mas muito raramente o perdão judicial, tendo em vista que 
os magistrados demonstram ter receio em oferecer tal benefício, que, na verdade, 
pode parecer aos olhos dos cidadãos como um privilégio exagerado paraquem 
também compactuou e participou de um crime. 
Com a edição da Lei 12.850 de 2013, outros benefícios foram previstos, como 
a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, bem 
como a possibilidade de oferecimento do acordo de delação premiada após o 
trânsito em julgado da condenação, o que ampliou, e muito, o alcance do instituto. 
Entretanto, apesar da notória presença de tal instituto no ordenamento 
jurídico brasileiro, que permite, concretamente, a elucidação de vários delitos, prisão 
de criminosos e a devida punição de indivíduos de alta periculosidade, a delação 
premiada apresenta algumas polêmicas no que concerne, tanto a sua eficácia, 
quanto na capacidade do Estado em oferecer proteção efetiva aos delatores. 
Um aspecto que merece análise diz respeito aos poucos que conseguem o 
perdão judicial, que, a despeito de ser raro, acontece. O colaborador que consegue 
o perdão judicial dificilmente voltará a ter uma vida social, familiar, financeira e 
econômica satisfatória, tendo em vista que tanto ele como seu grupo familiar terão 
21 
uma mudança radical de vida, passando, por outro lado, a depender de instituições 
que nem sempre oferecem a devida proteção e nem meios para uma vida segura e 
digna. É fato que muitos precisam mudar da identidade, de moradia e até de estado, 
o que pode vir acarretar transtornos psicológicos graves, pois o colaborador tem 
consciência que os criminosos não admitem a traição e que o Estado, por sua vez, 
ou não possui condições materiais para garantir sua integridade física e de sua 
família, ou se omite, negligencia, a proteção necessária. 
Outro ponto importante a ser analisado se refere à possibilidade de o corréu 
delatar falsamente os outros acusados, incriminando até mesmo inocentes em troca 
de benefícios legais. E por tal razão é imprescindível que essa delação seja 
acompanhada com cautela, considerando-se a verdade da confissão, a inexistência 
de rixas ou ódios em qualquer de suas manifestações, observação técnica acerca 
das informações prestadas, a certeza da inexistência da finalidade de se beneficiar 
ou eliminar a própria culpa em detrimento de um inocente e o mais importante, a 
preocupação constante da confirmação da delação através de outras provas, provas 
concretas e não somente através das palavras do colaborador. 
Assim, tomados todos os cuidados, não se deve considerar a delação e a 
conduta do delator como antiéticas, tendo em vista que se a colaboração deste vier 
a trazer resultados satisfatórios para o combate de crimes que causam tanta dor, 
sofrimento e grandes problemas para inúmeras famílias e para a sociedade que tem 
seus bens, pais, irmãos, parentes ou amigos ceifados de forma torpe, desumana, 
sua atitude estará contribuindo para que criminosos insanos sejam penalizados e 
para que a justiça seja cumprida. 
As controvérsias que cercam o instituto da delação premiada são muitas, 
havendo posicionamentos favoráveis e desfavoráveis quanto a sua aplicação. 
Aqueles que advogam a seu favor não aceitam a tese de ser um instrumento 
antiético e que atenta contra a confiança. Na verdade, a ética, a confiança, a 
moralidade e a justiça devem ser visualizadas em prol da sociedade, pois a 
obrigação é para com os seus membros, os cidadãos do bem. O que justifica 
substancialmente a delação é o dever de colaborar para a solução de um crime, 
pois, em ultima análise, esse é o verdadeiro interesse social. 
 
 
 
 
22 
LEGAL ANALYSIS ON THE EFFECTIVENESS OF THE AWARDED DELATION AS 
A MECHANISM TO COMBAT CRIMINAL ORGANIZATIONS. 
 
 
ABSTRACT 
 
The present research has as main objective, to make an analysis of the relevant legal 
aspects and the controversies of the accusation in the national legal system, as a 
mechanism to fight organized crime. The study also aimed to develop an analysis of the 
requirements for the effectiveness of the Awarded Statement; demonstration of the 
application of the Awarded Award; as well as the explanation of the advantages of using the 
Awarded Letter. Its elaboration will be in an explanatory way, with critical analysis of doctrine 
and pertinent legislation, and in a qualitative way, based on bibliographic documentary 
research. Being demonstrated in a clear and expository manner, the due clarification of the 
controversies on this topic. The whistleblowing institute proved to be a good aid for criminal 
prosecution. Concluding by the use of the awarded complaint for the protection of the legal 
good. In this way, the doctrinal approaches on the theme are analyzed, with arguments 
against and in favor. 
 
Keywords: Awarded sentence. Legal analysis. Efficiency. Criminal organization. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
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Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2009. 
 
BRASIL. Lei n.º 12.850/2013. Define organização criminosa e dispõe sobre a 
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providências. Diário Oficial da União, 05 ago. 2013. 
 
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FARIAS, Valdoir Bernardi de. Delação Premiada: constitucionalidade, 
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23 
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GUERRA FILHO, Willis Santiago. Ensaios de teoria constitucional, 
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MIRABETE, Julio Fabbrini e FABBRINI, Renato N., Manual de Direito Penal – 
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MORO, Sérgio Fernando. Considerações Sobre a Operação Mani Pulite. 
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NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 
5ª. ed. Rev., atual e Ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. 
 
NUCCI, Guilherme de Souza. Organização Criminosa. Comentários à Lei 
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RABONEZE, Ricardo; Provas obtidas por meios ilícitos; Ed. Síntese, 2002. 
 
TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito 
processual penal. – Salvador: Editora Podivm, 2009. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
INSTITUTO METROPOLITADO DE ENSINO – IME 
CENTRO UNIVERSITÁRIO – FAMETRO 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANEXO 
Projeto de Pesquisa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
Curso: Direito 
Aluno: Frederico Martin Emilio da Silva Steenbuck Área: Direito Penal 
Atividade: Trabalho de Conclusão de Curso Turma: DIR151V06 
Professor/Orientador: Antonio Lucena 
Disciplina: TCCI 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Tema: Delação Premiada. 
Delimitação: Análise jurídica sobre aeficácia da delação premiada como mecanismo no 
combate às organizações criminosas. 
Problematização: A colaboração da delação premiada é um meio eficaz para obtenção 
de prova no combate ao crime organizado? 
O presente trabalho vem abordar sobre a delação premiada, realizando uma análise 
jurídica sobre a sua utilização no combate ao crime organizado. A delação premiada estabelece 
como mecanismo negocial de obtenção de provas, na esfera das investigações que envolve as 
organizações criminosas na lei 12.850/13, tem sido amplamente utilizada. 
Nesse contexto será abordado o conceito de delação premiada conforme a lei 12.850/13, 
os legitimados para a realização do acordo de colaboração premiada e acerca dos benefícios do 
colaborador que contribuir eficazmente, para o fornecimento de informações relevantes. A 
legislação permite que a delação possa ser aplicada a qualquer tipo de crime, uma vez que não é 
limitada e determinada pelos tipos penais, dessa forma consegue atrair maiores interesses por 
parte dos participantes da ação criminosa. 
Considerando que as organizações criminosas se apresentam como verdadeiras empresas 
voltadas à prática de infrações penais, com estrutura hierárquica e divisão de tarefas é necessário 
empregar meios especiais de obtenção de prova, capazes de fornecer informações eficazes para 
o combate do crime organizado. Portanto, tais como a colaboração premiada, a qual se utiliza dos 
próprios investigados ou acusados para a produção de prova, mediante a concessão de benefícios 
referentes à pena. 
 
 
 JUSTIFICATIVA 
 
Essa temática é de extrema relevância, pois houve um aumento de crimes cometidos por 
organizações criminosas, com um esquema apurado para cometer delitos e movimentar muito 
dinheiro é um problema que consterna e inquieta os indivíduos em particular o Estado, que tem 
26 
como desafio elaborar aplicar e promover mecanismos eficazes para reprimir o crime organizado, 
de maneira a evitar propagar e comprometer a paz social. 
Com isso se torna necessário a necessidade de reação para combater a criminalidade, 
dessa forma surge o instituto da delação premiada que suscita divergências em seu significado e 
repercussão na sociedade, mas que tem aplicação efetiva porque se explora de certa forma, a 
colaboração como uma medida de política criminal. 
Essa orientação de política criminal intimamente ligada ao direito premial, consagrada no 
Direito Positivo de vários países, tem por objetivo descobrir fraquezas na organização criminosa e 
explorá-la e essas organizações têm o uso da tecnologia, de documentos e informações 
privilegiadas, para movimentar dinheiro e processar dados trazendo a complexidade por crimes 
praticados. 
Esta se constitui no rompimento da “affectio societatis”, um dos elementos importantíssimos 
presente nas organizações criminosas atualmente e ao enfraquecer este ponto forte o Estado, 
obtém êxito na persecução criminal através da busca da verdade real e material, que o legislador 
integrou no sistema legal ao inserir a delação premiada. 
De modo a discutir sobre a aplicação, bem como sobre os aspectos críticos existentes em 
relação ao tema. Dando enfoque, ao aspecto eficaz como instrumento que auxilia na investigação 
e repressão destes crimes e a necessidade de regulamentação específica para que a aplicação 
deste não seja feita de forma deturpada e banal, mas que se considere o bem-estar social. 
Para que o Estado e o Poder Judiciário tenham acesso às informações que levam a essas 
organizações é necessário fazer o uso do mecanismo da delação premiada.Uma das contribuições 
que esse tema pode trazer é mostrar que a delação premiada ao fornecer informações 
privilegiadas prestadas por parte do colaborador, cabendo ao magistrado recebê-lo ou não, pode 
auxiliar o Estado a reduzir à prática desses crimes que trazem inúmeros danos a sociedade. 
 
 
OBJETIVOS 
 
OBJETIVO GERAL: 
Analisar os aspectos jurídicos relevantes e controvérsias da delação premiada. 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 
Analisar os requisitos à eficácia da Delação Premiada; 
Demonstrar a aplicação da Delação Premiada; 
Explicar as vantagens de fazer o uso da Delação Premiada. 
 
 
27 
 
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
Inicialmente é importante apresentar o conceito de delação ou colaboração premiada 
conforme disposto na presente lei nº 12.850/2013, que define organização criminosa e dispõe 
sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o 
procedimento criminal. 
Preliminarmente deve-se pontuar o conceito etimologicamente do termo delação que advêm 
do latim: delatio, de deferre, portanto tem sua abrangência nas ações: denunciar, deferir, delatar, 
acusar. 
Analisando a legislação, lei n° 12.850/2013, tem-se no artigo 4°, a qual dita que o juiz 
poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a 
pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado 
efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa 
colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados (MOSSIN 2016). 
O conceito proposto por Frederico Valdez (2016, p. 31): O instituto da colaboração 
premiada costuma ser inserido no âmbito do chamado direito premial, expressão que sugere uma 
contradição pelo fato de ligar a ideia de benefício ao ramo do direito que se distingue exatamente 
pela previsão de ameaça de penas e proteção coativa mediante aplicação de sanções. 
Não se pode analisar a colaboração premiada com o viés apenas de incriminação de 
terceiros, verificando todos os elementos que compõe a revelação das notícias e provas, assim 
surge à necessidade de ampliar essa interpretação, ou seja, deve haver uma valoração da troca 
de informação versus a elucidação dos fatos para que seja contemplada a amenização da 
responsabilidade. 
Nos artigos 4 ° ao 7º, tem-se o conceito do instituto da colaboração premiada, sobre a 
natureza jurídica e os pressupostos de validez que consistem na oportunidade que o acusado 
possui de confessar seus crimes, até mesmo no momento da fase de investigação criminal, com o 
objetivo de prevenir novas infrações, bem como prestar auxílio efetivo às autoridades policiais no 
recolhimento de provas importantes, inclusive prisões. Desta maneira atinge a efetividade do 
desenvolvimento das investigações, visando resolução adequada do inquérito ou do processo. 
Para Prado (2016) as organizações criminosas não têm uma definição que seja comum a 
todas as legislações referentes à matéria. Todavia, são enumeradas algumas características que 
podem ser encontradas de forma geral no crime organizado, tais como acumulação de poder 
econômico, poder de corrupção, intimidação e estrutura piramidal. Com isso, é possível conceituar 
28 
o crime organizado como uma estrutura estabelecida por um determinado número de integrantes, 
de maneira duradoura, que tem como principal finalidade a prática de determinados delitos, de 
forma reiterada e com o mesmo modo de atuação, bem como pelo emprego de alta tecnologia 
bélica. Destaque-se outro conceito, proposto por (Augusto Pascolati Junior, 2014): De maneira 
geral, consoante com a disciplina da Lei. 12.850/2013 consiste na efetiva e voluntária colaboração 
do agente na investigação criminal que propicie de forma útil, e alternativamente, a elucidação dos 
fatos, a identificação dos autores, coautores e partícipes, a revelação da estrutura hierárquica da 
organização, a prevenção de novas infrações penais, a recuperação total ou parcial do produto ou 
proveito do crime ou a localização de eventual prova. 
No olhar do Procurador da República e Coordenador da Operação lava jato, Deltan 
Dallagnol: “é uma oportunidade para que o investigador espie por cima do labirinto e descubram 
quais são os melhores caminhos, isto é, aqueles com maior probabilidade de sucesso na obtençãode provas”. 
Gilson Dipp leciona que (IDP 2015): A “delação premiada”, é denominação popular da 
chamada colaboração premiada instituída pela Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013, e fruto de 
progressiva formalização pelos magistrados de competência criminal ao longo de vários anos no 
trato da criminalidade organizada, tanto na área federal quanto na justiça estadual com inspiração 
no direito comparado. Para esse efeito, os juízes foram elaborando conceitos e procedimentos a 
partir das necessidades da prática processual que permitisse a adoção da colaboração negociada 
entre acusação e defesa a respeito de condutas criminosas ou ilícitas penais de acentuada 
gravidade, praticadas por organização criminosa ou através dela. 
O Ministro Haroldo Rodrigues, Desembargador convocado do TJ/CE, na sexta turma do 
STJ, ao julgar o HC nº 90.962/SP10 informou que “o instituto da delação premiada consiste em ato 
do acusado que, admitindo a participação no delito, fornece às autoridades informações eficazes, 
capazes de contribuir para a resolução do crime”. Concluindo que o acusado deve estar inserido 
no rol dos participantes do delito para que sejam validadas essas informações prestadas. 
Nesta linha argumentativa, o colegiado entendeu que o investigado teria o reconhecimento 
e homologação da deleção premiada caso se demonstre todo o detalhamento das ações, a oferta 
de dados que comprovem a atividade ilícita de forma que seja segura para a incriminação real e 
efetiva, objetivando a concretização da resolução do caso. Nesse HC específico não se conseguiu 
atingir todos os requisitos, assim foram apenas reconhecidos a atenuante da confissão 
espontânea. 
De acordo com Heloísa Estellita (p. 2-4, 2009): Desafia diversos questionamentos: desde 
29 
sua conveniência político criminal, passado por sua apreciação sob o ponto de vista da quebra da 
ética ínsita ao proceder dentro de um Estado Democrático de Direito, ou pelas questões relativas 
ao seu valor probatório, até sua natureza jurídico-penal, sua função processual penal e as 
implicações daí decorrentes para o postulado do devido processo legal em nosso direito positivo. 
É possível perceber que a versão moderna do instituto sempre surge como resposta do Estado 
para momentos de grave crise democrática, o que acaba por servir de justificativa para adoção da 
concessão de benesses pessoais em troca da colaboração do acusado. Normalmente, é 
momentos emergenciais caracterizados pela ineficiência do tradicional sistema de persecução 
penal para combater todo o tipo de criminalidade, em especial o crime organizado. 
De acordo com o advogado Gamil Foppel Hireche afirma que o instituto deixa nítido a falta 
de preparo dos órgãos acusatório e das polícias, no que se refere a investigação criminal. 
Esclarece: em assim se procedendo, confessou o legislador a incapacidade absoluta de a Polícia, 
o Ministério Público, a Magistratura, de o Poder, enfim, lutar contra o crime organizado. Este ser, 
de questionável existência, estaria a impor uma dura derrota ao Poder oficial. Para combater o 
crime, o Estado junta-se ao criminoso, alia-se a ele, contando com sua colaboração. (Lumem 
Juris, 2003.) 
Para Heráclito Antônio Mossin e Júlio César Mossin.(p.27, 2016) Assim esclarecem os 
advogados: Esse instituto, também está atinente ao caráter de política criminal, além de outros 
favores legais, contém em seu cerne, a título de prêmio ao delator ou colaborar, a dedução da 
sanção penal a ele imposta em caráter definitivo. A delação premiada, ao lado de outras situações, 
também se constitui de causa de diminuição obrigatória da pena, independentemente do 
inicialmente é importante apresentar o conceito de delação ou colaboração premiada conforme 
disposto na presente lei nº 12.850/2013, que define organização criminosa e dispõe sobre a 
investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o 
procedimento criminal. 
Conforme ressalta Gustavo Badaró (p.26-29 2015): Modernamente, Munhoz Conde adverte 
que dar valor probatório à declaração do corréu implica abrir a porta para a violação do direito 
fundamental à presunção de inocência e a práticas que podem converter o processo penal em 
uma autêntica frente de chantagens, acordos interessados entre alguns acusados, entre a Polícia 
e o Ministério Público, com a consequente retirada das acusações contra uns, para conseguir a 
condenação de outros. 
Em sentido oposto, almejando justificar a situação emergencial do instituto é a visão 
externada por Frederico Valdez Pereira (p.71-72), quando demonstra que: [...] A situação da 
30 
emergência investigativa manifesta-se atualmente de forma mais provável na criminalidade 
organizada ou difusa, tendo em vista as reconhecidas dificuldades probatórias dos tradicionais 
meios de investigação em alcançar alguma eficiência diante do fenômeno criminal organizado, 
principalmente por terem sido instrumentos apuratórios moldados sob a perspectiva do ilícito penal 
clássico, caracterizado pela estrutura individual da lesão cometida por sujeito ativo individual a 
sujeito passivo também individualizado, levando autoridades responsáveis pela investigação e 
repressão a condicionar a obtenção de resultados positivos no enfrentamento do crime organizado 
a adoção de métodos especiais de investigação e inteligência. 
Com o proposto por Pereira, encontra-se o Procurador da República Ricardo Pael Ardenghi 
(p.1040,2016) Trata-se do que os alemães chamam de Ermittlungsnotstand a situação de 
perplexidade e paralisia estatal diante da criminalidade moderna, ou ainda impotência dos órgãos 
de persecução penal em face de métodos utilizados pelas organizações criminosas. De fato, a 
estrutura “empresarial” do crime organizado, encontrada principalmente da lavagem de dinheiro, 
torna seus agentes praticamente imunes à justiça criminal . 
 
METODOLOGIA-CRONOGRAMA 
 
A metodologia é o processo pelo qual se atinge este objetivo. É o caminho a ser trilhado 
para produzir conhecimento científico, dando as respostas necessárias de como foi realizada a 
pesquisa, quais métodos e instrumentos utilizados, bem como as justificativas das escolhas. 
Utilizando-se a classificação de Marconi e Lakatos (2014, p. 116) tem-se que o método de 
abordagem a ser adotado será o dedutivo, que tem como definição clássica ser aquele que parte 
do geral para alcançar o particular, ou seja, extrai o conhecimento a partir de premissas gerais 
aplicáveis a “hipóteses concretas”. 
Tomando ainda por referência a classificação dos referidos autores será adotada a seguinte 
técnica de pesquisa neste projeto: documentação indireta – com observação sistemática, 
abrangendo a pesquisa bibliográfica de fontes primárias e secundárias (doutrinas em geral, artigos 
científicos, dissertações de mestrado, teses de doutorado, etc.), além de documentação oficial 
(projetos de lei, mensagens, leis, decretos, súmulas, acórdãos, decisões, etc. 
CRONOGRAMA 
 
Etapa da Pesquisa Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan 
Elaboração e entrega 
do projeto de pesquisa 
 
 
 
Levantamento 
bibliográfico 
 
Reuniões semanais 
com os alunos 
 
Revisão bibliográfica 
31 
complementar 
Redação do artigo 
científico e revisão final 
 
Entrega do artigo 
científico encadernado 
 
 
 
 
SECÕES PROVISÓRIAS DO ARTIGO CIENTÍFICO 
 
ANÁLISE JURÍDICA SOBRE A EFICÁCIA DA DELAÇÃO PREMIADA COMO 
MECANISMO NO COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS. 
1 DELAÇÃO PREMIADA 
1.1 Delação ou colaboração 
1.2 Como funciona a delação premiada 
1.3 Previsão Legislativa 
2 DELAÇÃO PREMIADA DA LEI Nº 12.850/13 
2.1 Acordo de delação premiada 
2.2 Benefícios do colaborador 
2.3 Valor probatório e eficácia da colaboração premiada como meio de obtenção de 
prova no combate ao crime organizado 
 
REFERÊNCIAS 
ARDENGHI, Ricardo Pael. Fim do sigilo da delação premiadacom o recebimento da 
denúncia: necessidade de uma interpretação à luz do garantivismo penal integral. 3. ed. São 
Paulo: Atlas, 2016, p. 1040. 
BADARÓ, Gustavo. O valor probatório da delação premiada: sobre o § 16 do art. 4º da Lei nº 
12.850/13. São Paulo.Consulex, n. 443, 2015, p. 26-29. 
BRASIL.Lei nº 12.850, 2 de agosto de 2013. Que define organização criminosa e dispõe sobre a 
investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o 
procedimento criminal; altera o Decreto-Lei n°2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); 
revoga a Lei no9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011->. Acesso em 3 maio 2019. 
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC nº 90.962/SP (2007/0221730-9) Min. Relator: Haroldo 
Rodrigues j. 19/05/2011. 
DALLAGNOL, Deltan. As luzes da delação premiada. 04/07/2015. Revista Época. Disponível em: 
https://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/07/luzes-da-delacao-premiada.html>.Acesso em 5 
maio de 2019. 
32 
 DIPP, Gilson. A “delação” ou colaboração premiada: uma análise do instituto pela 
interpretação da lei. Brasília: IDP, 2015. Disponível em: <http://www.idp.edu.br/publicacoes/portal-
de-ebooks. Acesso em 10 maio de 2019. 
EL HIRECHE, GamilFoppel. Análise criminológica das organizações criminosas: da 
inexistência à impossibilidade de conceituação e suas repercussões no ordenamento jurídico 
pátrio. Manifestação do Direito Penal do Inimigo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003. 
ESTELITA, Heloísa. A delação premiada para identificação dos demais coautores ou partícipes: 
algumas reflexões à luz do devido processo legal. IBCCrim, São Paulo, ano 17, n. 202, p. 2-4, ser. 
2009. 
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: 
procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório publicações e trabalhos 
científicos. 7. ed. – 6. reimpr. São Paulo: Atlas: 2011. 
MOSSIN, Heráclito Antonio. Delação premiada: aspectos jurídicos. 2. ed. São Paulo: JH Mizuno, 
2016, p. 27. 
MOSSIN, Heráclito Antônio e MOSSIN, Júlio César O. G. Delação premiada: aspectos jurídicos. 
2. ed. São Paulo: JHMizuno, 2016, p. 29. 
PRADO, Luiz Régis. Direito Penal Econômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 
Disponível em: <www.proview.thomsonreuters.com. >. Acesso em 11 de maio de 2019. 
PEREIRA, Frederico Valdez. Delação premiada: legitimidade e procedimento. Curitiba: Juruá, 
2015, p. 71- 72. 
 
 
Manaus, ____/____/___ 
 
 
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Aluno 
 
 
_____________________________________ 
Orientador

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