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Poemas de Ferreira Gullar

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mar azul
mar azul	marco azul
mar azul	marco azul	barco zul
mar azul	marco azul	barco zul	arco azul
mar azul	marco azul	barco zul	arco azul	ar azul
verde	verde	verde
verde	verde	verde
verde	verde	verde
verde	verde	verde	erva
POEMAS ESCOLHIDOS DE FERREIRA GULLAR 
TRADUZIR-SE
(MELHORES POEMAS – SELEÇÃO DE FAUSTO CUNHA. 17ª ED. SÃO PAULO: GLOBO,2005)
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
HOMEM COMUM 
Sou um homem comum 
de carne e de memória 
de osso e esquecimento. 
e a vida sopra dentro de mim 
pânica 
feito a chama de um maçarico 
e pode 
subitamente 
cessar. 
Sou como você 
     feito de coisas lembradas 
     e esquecidas 
     rostos e 
     mãos, o quarda-sol vermelho ao meio-dia 
     em Pastos-Bons 
     defuntas alegrias flores passarinhos 
     facho de tarde luminosa 
     nomes que já nem sei 
     bandejas bandeiras bananeiras 
             tudo 
     misturado 
        essa lenha perfumada 
     que se acende 
     e me faz caminhar 
Sou um homem comum 
     brasileiro, maior, casado, reservista, 
     e não vejo na vida, amigo, 
     nenhum sentido, senão 
     lutarmos juntos por um mundo melhor. 
Poeta fui de rápido destino. 
Mas a poesia é rara e não comove 
nem move o pau-de-arara. 
     Quero, por isso, falar com você, 
     de homem para homem, 
     apoiar-me em você 
     oferecer-lhe o meu braço 
        que o tempo é pouco 
        e o latifúndio está aí, matando. 
Que o tempo é pouco 
e aí estão o Chase Bank, 
a IT & T, a Bond and Share, 
a Wilson, a Hanna, a Anderson Clayton, 
e sabe-se lá quantos outros 
braços do polvo a nos sugar a vida 
e a bolsa 
     Homem comum, igual 
     a você, 
cruzo a Avenida sob a pressão do imperialismo. 
     A sombra do latifúndio 
     mancha a paisagem 
     turva as águas do mar 
     e a infância nos volta 
     à boca, amarga, 
     suja de lama e de fome. 
Mas somos muitos milhões de homens 
     comuns 
     e podemos formar uma muralha 
     com nossos corpos de sonho e margaridas. 
DOIS E DOIS: QUATRO
Como dois e dois são quatro 
Sei que a vida vale a pena 
embora o pão seja caro 
e a liberdade pequena 
Como teus olhos são claros 
e a tua pele morena 
como é azul o oceano 
e a lagoa, serena 
e a noite carrega o dia 
no seu colo de açucena 
- sei que dois e dois são quatro 
sei que a vida vale a pena 
mesmo que o pão seja caro 
e a liberdade pequena.
Cantiga para não morrer
Quando você for se embora 
moça branca como a neve, 
me leve. 
Se acaso você não possa 
me carregar pela mão, 
menina branca de neve, 
me leve no coração. 
Se no coração não possa 
por acaso me levar, 
moça de sonho e de neve, 
me leve no seu lembra. 
E se aí também não possa 
por tanta coisa que leve 
já viva em seu pensamento, 
menina branca de neve, 
me leve no esquecimento 
Traduzir-se
Uma parte de mim é todo mundo 
Outra parte é ninguém, fundo sem fundo 
Uma parte de mim é multidão 
Outra parte estranheza e solidão 
Uma parte de mim pesa, pondera 
Outra parte delira 
Uma parte de mim almoça e janta 
Outra parte se espanta 
Uma parte de mim é permanente 
Outra parte se sabe de repente 
Uma parte de mim é só vertigem 
Outra parte linguagem 
Traduzir uma parte na outra parte 
Que é uma questão de vida e morte 
Será arte ? 
POEMA
Se morro 
universo se apaga como se apagam 
as coisas deste quarto 
                                 se apago a lâmpada: 
os sapatos - da - ásia, as camisas 
e guerras na cadeira, o paletó - 
dos - andes, 
          bilhões de quatrilhões de seres 
e de sóis 
        morrem comigo.
Ou não: 
       o sol voltará a marcar 
       este mesmo ponto do assoalho 
       onde esteve meu pé; 
                                     deste quarto 
       ouvirás o barulho dos ônibus na rua; 
           uma nova cidade 
           surgirá de dentro desta 
           como a árvore da árvore.
Só que ninguém poderá ler no esgarçar destas nuvens 
a mesma história que eu leio, comovido.
MAU DESPERTAR
Saio do sono como 
de uma batalha 
travada em 
lugar algum
Não sei na madrugada 
se estou ferido 
se o corpo 
        tenho 
        riscado 
de hematomas
Zonzo lavo 
       na pia 
os olhos donde 
ainda escorre 
uns restos de treva. (agosto 1977)
Nova Canção do Exílio
Minha amada tem palmeiras
Onde cantam passarinhos
e as aves que ali gorjeiam
em seus seios fazem ninhos
Ao brincarmos sós à noite
nem me dou conta de mim:
seu corpo branco na noite
luze mais do que o jasmim
Minha amada tem palmeiras
tem regatos tem cascata
e as aves que ali gorjeiam
são como flautas de prata
Não permita Deus que eu viva
perdido noutros caminhos
sem gozar das alegrias
que se escondem em seus carinhos
sem me perder nas palmeiras
onde cantam os passarinhos.
METADE
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca; 
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada 
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta 
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso 
Mas a outra metade é um vulcão...
Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria 
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...
E que a minha loucura seja perdoada 
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também

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