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Fé Pública

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CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA – NÃO TEM PRINCIPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO
1. PREVISÃO LEGAL: Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
Obs: não cabe suspensão condicional do processo; possível preventiva do réu primário.
Bem jurídico: fé pública (autenticidade dos documentos emanados da administração pública).
STF: não tem admitido a aplicação do princípio da insignificância, nos crimes contra a fé pública.
Ativo: crime comum. ATENÇÃO: quando funcionário público, cometendo o crime prevalecendo-se do cargo (é “conditio sine qua non”), incide a majorante do § 1º.
Passivo: dois. Primário: o próprio Estado. Secundário (ou eventual): eventual 3º prejudicado com a falsificação.
3. TIPO OBJETIVO
Falsificar: no todo ou em parte. No todo: o documento é inteiramente criado. Em parte: o agente aproveita-se dos espaços em branco. Alterar: o agente modifica documento público existente e verdadeiro, substituindo, por exemplo, palavras.
Objeto material: é o documento público. Aliás, é a única diferença deste crime para o delito do art. 298.
Documento: toda peça escrita que condensa graficamente o pensamento de alguém, podendo provar um fato ou a realização de algum ato dotado de relevância jurídica.
4. CLASSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO
Documento formal E materialmente público:
Formal: emanado de agente público no exercício da função.
Materialmente: seu conteúdo diz respeito a questões inerentes ao interesse público.
Exemplo: denúncia (peça acusatória na ação pena pública); sentença judicial; o autógrafo no procedimento legislativo.
Documento formalmente público, mas materialmente particular:
Formalmente: emanado de agente público no exercício da função.
Materialmente: conteúdo de interesse privado.
Exemplo: atos praticados por tabeliães.
CUIDADO: os documentos escritos a lápis, ainda que emanados da administração pública, não são considerados documentos públicos. Motivo: insegurança em relação à manutenção de sua integridade.
# Qual crime configura o comportamento de substituição de fotografia em documento verdadeiro? Art. 297, CP: prevalece. O art. 307 é subsidiário.
ATENÇÃO: a falsificação deve ser apta a iludir. Falsificação grosseira: pode configurar outro crime (ex.: estelionato), mas não o art. 297. Conclusão: é IMPORTANTE a realização de perícia.
# Existe hipótese em que a perícia é dispensável? R.: substituição de fotografias (a falsificação é extraída da simples substituição).
5. DOCUMENTO PÚBLICO POR EQUIPARAÇÃO
Art. 297, § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.
1º) Documento emanado de paraestatal
2º) Título ao portador ou transmissível por endosso
CUIDADO: se o documento perder essa característica, deixa de ser público por equiparação. Ex.: o cheque, passado o prazo de apresentação, deixa de ser transmissível por endosso (apenas por cessão civil) – aquele que o falsifica não incorre no crime do art. 297, CP.
3º) Ações de sociedade comercial
Preferenciais ou não.
4º) Livros mercantis
Não importando se obrigatórios ou facultativos.
5º) Testamento particular
# Não abrangendo o codicilo.
6. TIPO SUBJETIVO: DOLO (sem finalidade especial). CUIDADO: dependendo da finalidade especial que anima o agente, outro poderá ser o crime.
7. CONSUMAÇÃO: No momento em que é praticada a falsificação potencialmente lesiva.
Cuidado: é irrelevante que o agente faça uso do documento falsificado.
Se quem usa o documento é o próprio falsificador: art. 297 (ficando o art. 304, CP, absorvido).
Se quem usa o documento falso não participou (direta ou indiretamente) da falsificação: o falsificador responde pelo art. 297 e quem usa, pelo art. 304.
Tentativa: admite.
8. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE: Art. 297, CP: norma geral. P. da especialidade: Lei 4.737/65 (Código Eleitoral), art. 348: falsidade documental pública – “para fins eleitorais” é o elemento especializante. Lei 7.492/86 (S.F.N.), art. 2º.
9. COMPARAÇÃO
	Art. 297
	Art. 298
	Objeto material: documento público ou equiparado.
	Objeto material: documento particular (é todo e qualquer documento não público ou não equiparado a público).
FALSIDADE IDEOLÓGICA
1. PREVISÃO LEGAL
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular. Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.
Bem jurídico: Fé Pública (credibilidade do documento).
Falsidade material (art. 297/298): envolve a forma do documento (sua parte exterior). Falsidade ideológica: Envolve a ideia, o conteúdo do documento (juízo inverídico).
2. SUJEITOS
Ativo: qualquer pessoa que tenha o dever jurídico de declarar a verdade. Se não tiver: art. 297 ou 298.
ATENÇÃO: se funcionário público, prevalecendo-se do cargo, incide a majorante do parágrafo único.
Passivo: Primário: Estado. Secundário: terceiro prejudicado com a falsidade.
3. TIPO OBJETIVO
Existem as seguintes ações nucleares.
1º) Omitir declaração: crime omissivo puro.
2º) Inserir declaração falsa: o agente age diretamente.
3º) Inserir declaração diversa da que deveria ser escrita: o agente age diretamente.
4º) Fazer inserir declaração falsa: o agente induz terceiro.
5ª) Fazer inserir declaração diversa: o agente induz terceiro.
ATENÇÃO: a falsidade deve ser apta a ILUDIR (não significa que depende de perícia). De acordo com a jurisprudência, em regra, não existe crime quando a falsa ideia recai sobre documento cujo conteúdo está sujeito à fiscalização da autoridade. 
Abuso de papel em branco assinada: Se o papel em branco foi confiado ao agente: art. 299, IDEOLOGICA. Se o agente detém posse ilegítima do papel: art. 297 ou 298, depende se o documento é público ou particular.
4. TIPO SUBJETIVO: DOLO + finalidade específica (propósito de lesar direito, criar obrigação ou alterar a veracidade sobre fato juridicamente relevante).
5. CONSUMAÇÃO: Com a realização dos comportamentos nucleares. Cuidado: dispensa o uso do documento ou efetivo dano (delito formal).
ATENÇÃO: em regra, admite tentativa. Exceção: a modalidade omissiva (omitir declaração é crime omissivo próprio).
6. CAUSA DE AUMENTO
Art. 299, parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.
Objeto material: assentamento de registro civil (art. 29 da Lei 6015/73).
CUIDADO: não configura 299, parágrafo único, os seguintes comportamentos sobre assentamento de registro civil: 1 - Art. 241, CP – REGISTRO CIVIL INEXISTENTE 2 - Art. 242, CP.- PARTO SUPOSTO
FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO (Lei 12.550/11)
TIPO PENAL
Art. 311-A.  Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de:  
I - concurso público;    II - avaliação ou exame públicos;   III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou    IV - exame ou processo seletivo previstos em lei:    Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.    § 1o  Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput.§ 2o  Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública:    Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.  § 3o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário público.
Obs.1: Considerando que a pena mínima é igual a um ano, o delito admite suspensão condicional do processo. Obs.2:Sendo a pena máxima igual a quatro anos, não cabe prisão preventiva para o acusado primário.
BEM JURÍDICO TUTELADO: Tutela-se a credibilidade do certame de interesse público. Igualmente, defende-se a lisura, a transparência, a legalidade, a moralidade, a isonomia e a segurança.
Veja: tutela-se os certames de interesse público – e não apenas os certames públicos. Por isso, o tipo penal tutela certames particulares, desde que tenham interesse público.
SUJEITO ATIVO: Trata-se de crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa. O tipo não exige qualidade ou condição especial do agente. SE FOR FUNCIONÁRIO PÚBLICO: A PENA É AUMENTADA DE 1/3 (§3º) Art. 311-A, § 3o, CP: Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido por funcionário público. Aumentada a pena de 1/3, eis as consequências: Não caberá mais suspensão condicional do processo (1 ano + 1/3). Caberá prisão preventiva, mesmo para o agente primário (4 anos + 1/3).
DISTINÇÃO: VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL x FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO
Art. 325, “caput”, CP: Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.
Aplicando-se o Princípio da Especialidade, a violação de sigilo funcional envolvendo certames de interesse público não caracteriza o art. 325, mas sim o art. 311-A.
	
VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL ENVOLVENDO CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO
	
VIOLAÇÃO DE OUTRO SIGILO FUNCIONAL
	
Art. 311-A
	
Art. 325
SUJEITO PASSIVO: A vítima é o Estado e, secundariamente, os particulares lesados pela conduta do agente (ex.: candidatos aprovados em concurso posteriormente anulado).
CONDUTA: Utilizar ou divulgar
	
UTILIZAR
	
DIVULGAR
	
Empregar, aplicar
	
Tornar público, propagar.
Indevidamente (Elemento Normativo do Tipo)
Indevidamente: sem justo motivo. Com o fim de beneficiar a si ou a outrem ou de comprometer a credibilidade do certame (Elemento Subjetivo do Tipo)
Conteúdo sigiloso: O conteúdo sigiloso não abrange apenas as perguntas e respostas, mas qualquer dado que, utilizado indevidamente, gera desigualdade na disputa Ex.1: Pessoa revela ao candidato que a pergunta será tirada do livro X. Ex.2: Pessoa adianta ao candidato, antes do edital, qual a bibliografia para que será utilizada.
A fraude deve recair sobre:
Concurso público: instrumento de acesso a cargos e empregos públicos.
Avaliação ou exames públicos: Ex.: Exame psicotécnico.
Processo seletivo para ingresso no Ensino Superior: Vestibular e outras formas de avaliação seletiva para ingresso no Ensino Superior (Ex.: ENEM).
Exame ou processo seletivo previsto em lei: Ex.: Exame da OAB (previsto na Lei 8906/94).
COLA ELETRÔNICA
A “cola eletrônica” é a utilização de aparelho transmissor e receptor em prova.
Até a Lei 12.550/11, os Tribunais Superiores afirmavam tratar-se de fato atípico.
Agora, com a novel lei, é preciso diferenciar duas situações:
	
ACESSO PRIVILEGIADO A 
CONTEÚDO SIGILOSO
	
NÃO HÁ ACESSO PRIVILEGIADO A CONTEÚDO SIGILOSO
	
Art. 311-A
	
Fato Atípico
	
Ex.: Pessoa pega o gabarito antes da prova e dá as respostas ao candidato pelo aparelho eletrônico
	
Ex.: Professor de biologia pega o caderno de prova, RESOLVE AS QUESTÕES e dá as respostas ao candidato pelo aparelho eletrônico
Se o modo de execução envolve terceiro que, tendo acesso privilegiado ao gabarito da prova, revela ao candidato de um concurso público as respostas aos quesitos, pratica, junto com o candidato beneficiário, o crime do art. 311-A (aquele, por divulgar, e este, por utilizar o conteúdo secreto em benefício próprio). Já nos casos em que o candidato, com ponto eletrônico no ouvido, se vale de terceiro expert para lhe revelar as alternativas corretas, permanece fato atípico (apesar de seu grau de reprovação social), pois os sujeitos envolvidos (candidato e terceiro) não trabalharam com conteúdo sigiloso (o gabarito continuou sigiloso para ambos).
COLA ELETRÔNICA” EM PROVAS DE VESTIBULAR OU CONCURSOS STF: A cola eletrônica não configura estelionato, pois não há proveito patrimonial imediato e não há vítima determinada. 
QUEM PERMITE OU FACILITA O ACESSO DE PESSOAS NÃO AUTORIZADAS ÀS INFORMAÇÕES SIGILOSAS: §1º
Art. 311-A, § 1o, CP: Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações mencionadas no caput.    
ELEMENTO SUBJETIVO
Como vimos, o elemento subjetivo é o dolo, com a finalidade especial de: Beneficiar a si ou a outrem e Comprometer a credibilidade do certame. Mas Atenção: Na modalidade equiparada do § 1º (permitir ou facilitar o acesso de pessoas não autorizadas), basta o dolo, não se exigindo finalidade especial.
A negligência no resguardo do conteúdo sigiloso é fato atípico.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA: O delito se consuma com a prática dos núcleos, dispensando a vantagem particular ou o efetivo dano à credibilidade do certame. Logo, trata-se de delito formal. A tentativa é admissível.
QUALIFICADORA: DANO À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 311-A, § 2o , CP: Se da ação ou omissão resulta dano à administração pública:    Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.  O dano pode ser material ou moral.
NOVA PENA RESTRITIVA DE DIREITOS: PROIBIÇÃO DE INSCREVER-SE EM CONCURSO, AVALIAÇÃO OU EXAME PÚBLICOS. Art. 47, V, CP: As penas de interdição temporária de direitos são: proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos.  A nova pena restritiva de direitos consiste em proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos. A nova pena restritiva de direitos não é exclusiva para o art. 311-A, mas será especialmente utilizada no caso deste tipo penal. 
NÃO É FALSIDADE IDEOLÓGICA: “O preenchimento, através de ‘cola eletrônica’, de gabaritos em concurso vestibular não tipifica crime de falsidade ideológica. É que nos gabaritos não foi omitida, inserida ou feita declaração falsa diversa daquela que devia ser escrita. As declarações ou inserções feitas nos cartões de resposta por meio de sinais eram verdadeiras e apenas foram obtidas por meio não convencional. A eventual fraude mostra-se insuficiente para caracterizar o estelionato que não existe ‘in incertam personam’”. (Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 7376/SC, Sexta Turma, Relator Ministro Fernando Gonçalves, transcrição parcial da ementa).

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