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FORMAÇÃO DE TRIBUTARISTA -- Planejamento Tributário -- 2012 Módulo I 1 MÓDULO I 1. INTRODUÇÃO 1.1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES É correta a afirmação de ALBERT HENSEL1 de que “É aspiração naturalíssima e intimamente ligada à vida econômica, a de se procurar determinado resultado econômico com a maior economia, isto é, com a menor despesa (e os tributos que incidirão sobre os atos e fatos necessários à obtenção daquele resultado econômico, são parcelas que integrarão a despesa).” Determinados comportamentos dos particulares perante a tributação, tendentes a excluir ou a diminuir encargos tributários, têm sido definidos pela literatura especializada como hipótese de planejamento tributário (denominação jurídica: elisão fiscal). O tema planejamento tributário é até hoje pouco abordado pelos autores nacionais. São poucas as obras que tratam especificamente do tema2, apesar de a matéria receber algum tratamento em várias obras de direito tributário3. No tocante à prática da economia legal de impostos, destacam-se as obras do Prof. Humberto Bonavides Borges, pioneiro em escrever sobre a matéria: 1 In Diritto Tributario, Milano, 1956 (trad. Italiana da 3ª edição alemã de 1933), pág. 143, apud ALFREDO AUGUSTO BECKER. Teoria Geral do Direito Tributário, 2ª ed., São Paulo, Saraiva, 1972. 2 Segundo GERALDO ATALIBA, ao prefaciar a obra Elisão Fiscal, de Diva Prestes Marcondes Malerbi, “Este tema foi tratado entre nós, pioneiramente, pelo Prof. Antonio Roberto Sampaio Dória (1970). Chamou a atenção de Diva Malerbi, quando conosco fez, brilhantemente, o curso de mestrado em direito tributário.” p. 5. 3 Ex.: in Teoria Geral do Direito Tributário, BECKER , dentro do Capítulo III - Interpretação das Leis Tributárias, dedica 16 páginas sobre Fraude e Evasão Fiscal, apesar de dizer que “A evasão fiscal (elusão ou evasão fiscal) distingue-se fundamentalmente da fraude fiscal, como a seguir se demonstrará.” p. 122. Módulo I 2 Planejamento Tributário – IPI, ICMS e ISS4; Gerência de Impostos5; e, Auditoria de Tributos – IPI, ICMS, ISS6. Outros países têm vastas obras acerca do tema. Na França, encontram- se verdadeiros tratados a respeito da noção de evasão fiscal, seja ela legal ou ilegal7. Verifica-se pelas citações do Prof. Sampaio Dória8 que não é diferente em países como os Estados Unidos da América, Espanha, Itália, entre outros. Segundo CHARLES ROBBEZ MASSON9, a expressão evasão fiscal10 é largamente utilizada, mas, sem uma definição precisa. O assunto ganhou tal contorno que a Associação Fiscal Internacional, reunida num congresso em Veneza em 1983, após dois dias de trabalho, desistiu de propor uma definição da noção de evasão11. Outro ponto a problematizar o tema é o da sua fixação terminológica. Expressões como evasão ilícita ou ilegítima ou ilegal, fraude, fraude ilícita ou ilegal, para designar a modalidade dolosa de frustrar a satisfação de tributo devido, pontilham obras diversas, em vários idiomas. Em contraponto se alinham, para caracterizar a modalidade válida de evitar o surgimento de obrigação tributária, elisão, evasão, evasão lícita ou legítima ou legal, economia legal de impostos, planejamento tributário. 4 Em sua 9ª Edição pela Editora Atlas, 2006. 5 Tiragem da 6ª Edição pela Editora Atlas, 2007. 6 Tiragem da 4ª Edição pela Editora Atlas em 2008. 7Ver, por todos, CHARLES ROBBEZ MASSON, La Notion D’Évasion Fiscale en Droit Interne Français, contendo quase 500 páginas sobre o assunto. 8 Elisão e Evasão Fiscal, passim. 9 Op. Cit., p. 29. 10 “L’éxpression <évasion fiscale> est aujourd’hui largemente utilisée par un très vaste public mais, curieusemente, très peu des profanes qui l’utilisent peuvent endonner une définition précise. Quant aux spécialistes de la matière fiscale, ils semblet très partagés sur le sujet, comme nous le montrerons ultérieurement, ce qui rend l’aprproche de cette notion très difficile. C’est pourquoi vouloir en préciser le contenu juridique d’un façon claire et homogène semble relever de la gageure, sinon d’une impossibilité rédhibitoire, à tel ponto que <l’Association Fiscale Internationale, réunie en Congrès à Venise, en 1983, a renoncé, après deux jours de travaux, à proposer une définition de la notion d’évasion>”. 11 Tradução livre do autor. Módulo I 3 Não se perca de vista o verdadeiro ódio12 que o contribuinte brasileiro tem aos impostos e ao fisco: “AS ORIGENS DO ÓDIO AOS IMPOSTOS E AO FISCO NO BRASIL” Se cavavam o seio de seus montes para dêles extraírem ouro, leis absurdas e o quinto vieram logo esmorecê-los em seus trabalhos apenas encetados, ao mesmo tempo que o Estado português, com sôfrega ambição devorava os tesouros que a benigna natureza lhes ofertava; fazia também vergar as desgraçadas minas sob o pêso do mais odioso dos tributos da capitação. Queriam que os brasileiros pagassem até o ar que respiravam e a terra que pisavam. Se a indústria de alguns homens, mais que ativos, tentava dar nova forma aos produtos do seu solo para com êles cobrir a nudez de seus filhos, leis tirânicas os impediam e castigavam estas nobres tentativas. Sempre quiseram os europeus conservar êste rico país na mais dura e triste dependência da metrópole, porque julgavam ser-lhes necessário estancar, ou pelo menos empobrecer a fonte perene de suas riquezas. Se a atividade de algum colono oferecia aos seus concidadãos, de quando em quando algum novo ramo de riqueza rural, naturalizando vegetais exóticos, úteis e preciosos, impostos onerosos vinham logo dar cabo de tão felizes começos. Se homens empreendedores ousavam mudar o curso de caudalosos ribeirões para arrancarem de seus álveos os diamantes, eram logo impedidos pelos agentes cruéis do monopólio e punidos por leis inexoráveis. 12 SAMUEL MONTEIRO, Tributos e Contribuições: tratado teórico e prático, Tomo I, 1ª ed., Ed. Hemus, 1990, P. VII. Módulo I 4 .................................................................................................................... Tal foi a sorte do Brasil por quase três séculos, tal a mesquinha política que Portugal, sempre acanhado em suas vistas, sempre faminto e tirânico, imaginou para cimentar o seu domínio e manter o seu fictício esplendor. .................................................................................................................... “E porquanto a ambição de poder e a sêde de ouro são sempre insaciáveis, e sem freio, não se esqueceu Portugal de mandar continuamente baxás desapiedados, magistrados corruptos e enxames de agentes fiscais de tôda espécie, que, no delírio de suas paixões e avareza, despedaçavam os laços da moral, assim pública, como doméstica, devoravam os mesquinhos restos de suores e fadigas dos habitantes e dilaceravam as entranhas do Brasil, que os sustentava e enriquecia, para que reduzidos à última desesperação seus povos, quais submissos muçulmanos, fôssem em romarias à nova Meca comprar, com ricosdons e oferendas, uma vida, bem que obscura e lânguida, ao menos mais suportável e folgada” (Exerto do Manifesto de 6 de agosto de 1822, do Imperador Dom Pedro I, apud Octávio Tarquínio de Souza, em sua obra O Pensamento Vivo de José Bonifácio:.).” Também é certo que em nenhum ser humano, em qualquer país, há o desejo incontido de pagar tributos: “O ESTADO E O SEU PODER FISCAL” O poder fiscal envolve o poder de destruir. O poder de impor contribuições sobre as pessoas e seus bens é essencial à existência mesma do governo e pode ser legitimamente exercido sobre os objetos Módulo I 5 aos quais seja aplicável com a máxima amplitude com que o governo possa desejar aplicá-lo. “Portanto, o povo de um Estado outorga ao seu governo o direito de impor contribuições sobre si próprio e sobre seus bens, e como as exigências do governo não podem ser limitadas, inexiste limite ao exercício deste direito, confiado no interesse do legislador e na influência dos eleitores sobre seus representantes, para a proteção contra seu abuso. O poder fiscal envolve o poder de destruir.” (Marshall – leading case Mc.Culloch X Maryland – Corte Suprema dos Estados Unidos da América – 1819)13 Por isso, constantemente se buscam meios para diminuir a carga tributária, o que é legítimo por parte dos contribuintes. 1.2. LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA Desde 05 de outubro de 1988 (data da promulgação da atual Constituição Federal), até 05 de outubro de 2011 (seu 23º aniversário), foram editadas no Brasil 4.353.665 (quatro milhões, trezentos e cinqüenta e três mil, seiscentos e sessenta e cinco) normas que regem a vida dos cidadãos brasileiros. Isto representa, em média, 518 normas editadas todos os dias ou 776 normas editadas por dia útil. Normas Gerais Federais No âmbito federal, foram editadas 155.954 normas desde a promulgação da Constituição Federal, passando por 6 emendas constitucionais de revisão, 67 emendas constitucionais, 2 leis delegadas, 80 leis complementares, 4.762 13 BERNARDO RIBEIRO DE MORAES, Compêndio de Direito Tributário, Ed. Forense, Rio de Janeiro, 1987, p. 113. Módulo I 6 leis ordinárias, 1.162 medidas provisórias originárias, 5.491 reedições de medidas provisórias, 10.590 decretos federais e 133.793 normas complementares (portarias, instruções normativas, ordens de serviço, atos declaratórios, pareceres normativos, etc.). Em média, foram editadas 18,57 normas federais por dia ou 27,79 normas federais por dia útil nestes 23 anos. QUANTIDADE DE NORMAS EDITADAS - 23 ANOS DA CF DE 1988 NORMAS FEDERAIS GERAIS TRIBUTÁRIAS CONSTITUIÇÃO FEDERAL 1 1 EMENDAS CONSTITUCIONAIS DE REVISÃO 6 - EMENDAS CONSTITUCIONAIS 67 14 LEIS DELEGADAS 2 - LEIS COMPLEMENTARES 80 36 LEIS ORDINÁRIAS 4.762 1.091 MEDIDAS PROVISÓRIAS ORIGINÁRIAS 1.162 195 MEDIDAS PROVISÓRIAS REEDITADAS 5.491 1.674 DECRETOS FEDERAIS 10.590 1.559 NORMAS COMPLEMENTARES* 133.793 24.932 TOTAL 155.954 29.502 MÉDIA POR DIA 18,57 3,51 MÉDIA POR DIA ÚTIL 27,79 5,26 Normas Gerais Estaduais Os Estados editaram 1.136.185 normas, sendo 259.889 leis complementares e ordinárias, 376.994 decretos e 499.301 normas complementares. Em média foram editadas 135,28 normas por dia ou 202,46 normas por dia útil, em nível estadual. Neste período, em média, cada Estado editou 42.081 normas, o que dá 5,01 norma/dia ou 7,50 norma/dia útil. Módulo I 7 NORMAS ESTADUAIS GERAIS TOTAL ESTADUAIS MÉDIA POR ESTADO LEIS COMPLEMENTARES/ ORDINÁRIAS 259.889 DECRETOS 376.994 NORMAS COMPLEMENTARES 499.301 TOTAL 1.136.185 42.081 MÉDIA POR DIA 135,28 5,01 MÉDIA POR DIA ÚTIL 202,46 7,50 Normas Gerais Municipais Já os Municípios são responsáveis pela edição de 3.061.526 normas, divididas em 542.745 leis complementares e ordinárias, 577.500 decretos, e 1.941.282 normas complementares. Em média, os municípios brasileiros editaram 364,51 normas por dia ou 545,53 normas por dia útil. Assim, considerando que existem 5.565 municípios no Brasil, cada um deles editou, em média, 549,94 normas neste período. NORMAS MUNICIPAIS GERAIS TOTAL MUNICIPAIS MÉDIA POR MUNICÍPIO LEIS COMPLEMENTARES/ 542.745 ORDINÁRIAS DECRETOS 577.500 NORMAS COMPLEMENTARES 1.941.282 TOTAL 3.061.526 549,94 MÉDIA POR DIA 364,51 MÉDIA POR DIA ÚTIL 545,53 Módulo I 8 Normas Tributárias Do total de normas editadas no Brasil nestes 23 anos, cerca de 6,3% se referem à matéria tributária. São 29.502 normas tributárias federais (10,7% das normas tributárias), 85.715 normas tributárias estaduais (31,1% das normas tributárias) e 159.877 normas tributárias municipais (58,2% das normas tributárias). TOTAL DE NORMAS EDITADAS GERAIS TRIBUTÁRIAS FEDERAL 155.954 29.502 ESTADUAL 1.136.185 85.715 MUNICIPAL 3.061.526 159.877 4.353.665 275.094 Normas Tributárias por Dia Em média foram editadas 33 normas tributárias/dia ou 1,3 norma tributária por hora. QUANTIDADE DE NORMAS EDITADAS POR DIA GERAIS TRIBUTÁRIAS FEDERAL 19 4 ESTADUAL 135 10 MUNICIPAL 365 19 518 33 Normas Tributárias por Dia Útil Em média foram editadas 49 normas tributárias/dia útil ou 6,1 normas por hora/útil. Dividindo-se a média/dia útil das normas estaduais pelos 26 Estados mais o Distrito Federal, e a média/dia útil das normas municipais pelos 5.565 municípios brasileiros, temos que são editadas por dia útil cerca de 5,83 normas tributárias. Módulo I 9 Normas Gerais e Tributárias em Vigor Do total de 4.353.665 normas gerais editadas, 13,02% ou 566.847 estavam em vigor quando a Constituição Federal completou 23 anos. Das 275.095 normas tributárias editadas, 7,3% ou 20.082 estavam em vigor em 05 de outubro de 2011. Quantificação das Normas Tributárias em Vigor Em média, cada norma tributária editada tem 11,23 artigos, cada artigo tem 2,33 parágrafos, 7,45 incisos e 0,98 alínea. Assim, foram editados neste período 3.089.302 artigos, 7.198.075 parágrafos, 23.015.303 incisos e 3.027.516 alíneas. Estão em vigor 225.519 artigos, 525.459 parágrafos, 1.680.117 incisos e 221.009 alíneas. NORMAS TRIBUTÁRIAS ARTIGOS PARÁGRAFOS INCISOS ALÍNEAS EDITADAS 275.095 3.089.302 7.198.075 23.015.303 3.027.516 EM VIGOR 20.082 225.519 525.459 1.680.117 221.009 Quantidade das Normas Tributárias em Vigor: Pela Ótica das Empresas Como a média das empresas não realiza negócios em todos os Estados brasileiros, a estimativa de normas que cada uma deve seguir é de 3.507, ou 30.384 artigos, 91.764 parágrafos, 293.408 incisos e 38.596 alíneas. Isto corresponde a 5,9 quilômetros de normas, se impressas em papel formato A4 e letra tipo Arial 12. Em decorrência desta quantidade de normas,Módulo I 10 as empresas gastam cerca de R$ 43 bilhões por ano para manter pessoal, sistemas e equipamentos no acompanhamento das modificações da legislação. Quantidade de Normas por Habitante Dividindo-se a quantidade de normas editadas pelo número de habitantes do país, verifica-se que nos três anos anteriores à promulgação da Constituição de 1988 foi editada 1 (uma) norma geral para cada grupo de 300 habitantes. No período de 1989 a 2011 foi editada 1 (uma) norma para cada grupo de 44 habitantes. ANO POPULAÇÃO* QUANTIDADE NORMAS GERAIS EDITADAS QDE. NORMAS TRIBUTÁRIAS EDITADAS GRUPO DE HABITANTES POR NORMA GERAL GRUPO DE HABITANTES POR NORMA TRIBUTÁRIA 1985 a 04/10/1988 137.178.106 457.141 29.713 300 4617 1989 142.922.447 543.998 118.922 263 1202 1990 145.498.408 641.917 123.893 227 1174 1991 147.829.114 751.043 129.072 197 1145 1992 150.221.490 889.986 134.467 169 1117 1993 152.626.209 1.060.864 140.087 144 1090 1994 155.043.203 1.259.776 145.943 123 1062 1995 157.472.402 1.498.564 152.043 105 1036 1996 159.913.740 1.787.127 158.398 89 1010 1997 162.367.151 2.126.681 165.019 76 984 1998 164.832.569 2.479.285 171.916 66 959 1999 167.309.929 2.782.984 179.102 60 934 2000 169.799.170 2.896.208 186.588 59 910 2001 170.985.986 3.014.739 194.388 57 880 2002 172.059.217 3.139.908 202.513 55 850 2003 174.543.960 3.267.654 210.977 53 827 2004 177.040.157 3.315.947 219.796 53 805 2005 179.929.714 3.434.805 225.626 52 797 2006 182.456.722 3.510.804 229.616 52 795 2007 183.941.359 3.628.013 235.900 51 780 2008 186.572.933 3.776.364 240.210 49 777 2009 189.193.242 3.989.765 244.148 47 775 2010 190.732.694 4.155.915 249.124 46 766 2011 192.376.496 4.353.665 275.094 44 699 *POPULAÇÃO: a) 1985 a 1988 = média da população projetada pelo IBGE, no dia 1º de julho de cada ano. b) 1989 e 1990 = população projetada pelo IBGE, no dia 1º de julho de cada ano. Módulo I 11 c) = 1991 a 2010 = estimativa da população pelo IBGE. d) = População revista pelo IBGE 1.3. O NOSSO PRESENTE TRIBUTÁRIO: CARO E COMPLEXO O Brasil possui o sistema tributário mais complexo e mais caro do mundo. Isto traz um custo financeiro enorme ao contribuinte e ainda causa a constante insegurança de se estar ou não cumprindo com todas as obrigações exigidas pelo fisco. Cerca de 62 tributos são cobrados no Brasil, entre impostos, taxas e contribuições. Desde os mais conhecidos como Imposto de Renda, IPTU, IPVA e INSS, passando por aqueles que estão ligados às atividades empresariais, como ICMS, IPI, PIS, COFINS, CSLL e ISS, até aqueles que pouco são conhecidos pela população, como CIDE, Imposto de Importação, Taxas, Salário-Educação, etc. Para disciplinar todos estes tributos à legislação tributária é modificada constantemente: mais de 3.500 normas estão em vigor – leis complementares, leis ordinárias, medidas provisórias, decretos, portarias, instruções, etc. Não bastasse a enorme quantidade de normas, também é exigido o cumprimento de inúmeras obrigações acessórias, ou burocracias, por parte dos contribuintes. As empresas devem cumprir cerca de 97 obrigações acessórias para tentar estar em dia com o fisco: declarações, formulários, livros, guias, etc. O custo que as empresas têm para cumprir com as obrigações acessórias é de cerca de 1,5% do seu faturamento. Assim, em 2011 as empresas brasileiras tiveram aumento de custo de mais de R$ 43 bilhões somente para o cumprimento da burocracia exigida pelo Poder Público. E, por último, por causa da cumulatividade dos tributos: multiincidência Módulo I 12 sobre uma mesma base de cálculo e várias vezes na cadeia produtiva, chamado efeito cascata: o PIS/COFINS, que incide sobre o ICMS, que incide sobre o INSS, e assim por diante. Pode-se denominar de Efeito Cascata Horizontal a incidência repetidas vezes de um mesmo tributo nas várias etapas da produção ou circulação: como acontecia com a CPMF, em que a alíquota de 0,38% incidia nas várias etapas da cadeia produtiva, ou como acontece com o PIS e COFINS cumulativos. Denomina-se de Efeito Cascata Vertical a incidência de um determinado tributo sobre o valor de outros tributos. O PIS e a COFINS incidem sobre o valor do ICMS, do INSS, do IRPJ e da Contribuição Social. Com a divulgação da nova metodologia de cálculo do PIB – Produto Interno Bruto pelo IBGE, em 21 de março de 2007, os valores nominais da somatória de riquezas produzidas pelo país foram revistos. Desta forma, houve sensível modificação na carga tributária em relação ao PIB desde 2000, como abaixo se verifica: Módulo I 13 *DIFERENÇAS NAS SOMATÓRIAS DEVEM-SE A ARREDONDAMENTOS ** 2010 – Estimativas do IBPT em 21/02/2010 Conforme estudos do IBPT a arrecadação tributária ultrapassou a R$ 553 bilhões em 2003, atingiu R$ 650,15 bilhões em 2004 e chegou a R$ 733 bilhões em 2005. Em 2006 a arrecadação ultrapassou a R$ 815 bilhões. A arrecadação tributária tem crescido a cada ano que passa, tendo atingido R$ 1,290 trilhão em 2010 e, em 2011 ultrapassou R$ 1,5 trilhão. Módulo I 14 Quanto às empresas brasileiras, a sua carga tributária global é a seguinte: a) Carga Tributária sobre o Faturamento: 33,25% b) Carga Tributária sobre o Total de Custos/Despesas: 47,14% c) Carga Tributária sobre o Lucro: 52,23% d) Carga Tributária sobre o Valor Agregado: 45% O cidadão paga tributos sobre a sua renda (Imposto de Renda, Contribuição Previdenciária, Contribuição Sindical), sobre o seu patrimônio (IPTU, IPVA, ITR, ITCMD, ITBI) e sobre o seu consumo (embutidos no preço final de mercadorias e serviços estão ICMS, IPI, PIS, COFINS,). Desta forma, em média, 40,82% do rendimento total de cada brasileiro é destinado ao pagamento de tributos, equivalentes a 149 dias de trabalho por ano. 1.4. NOSSO PASSADO TRIBUTÁRIO: CARGA EM EXPANSÃO Durante o Império, a economia brasileira era eminentemente agrícola e extremamente aberta, sendo que a principal fonte de receitas públicas era o comércio exterior. Neste período, o imposto de importação se constituía no principal tributo, alcançando em alguns exercícios a 2/3 de toda a receita pública (às vésperas da proclamação da República este imposto era responsável por aproximadamente metade da receita total do governo). Com a proclamação da República e a promulgação da Constituição de 1891 permaneceu o sistema tributário existente ao final do Império, com algumas adequações em face do regime federativo, dotando os estados e municípios de receitas que lhes permitissem a autonomia financeira. Foi adotado o regime de separação de fontes tributárias, sendo discriminados os impostos de competência exclusiva da União e dos estados. Quanto aos Módulo I 15 municípios, ficaram os estados encarregados de fixar os impostos municipais de forma a assegurar-lhes a autonomia. Além disto, tanto a União como osestados tinham poder para criar outras receitas tributárias. Competia à União a cobrança dos seguintes tributos: impostos sobre a importação de procedência estrangeira; direitos de entrada, saída e estadia de navios; taxas de selo; taxas dos correios e telégrafos federais. Já aos estados competia a cobrança dos seguintes tributos: imposto sobre a exportação de mercadorias de sua própria produção; imposto sobre Imóveis rurais e urbanos; imposto sobre transmissão de propriedade; imposto sobre indústrias e profissões; taxas de selos quanto aos atos emanados de seus respectivos Governos e negócios de sua economia; contribuições concernentes aos seus telégrafos e correios. O Imposto de Renda foi instituído no Brasil através da Lei nº 4.625/1922, sendo que a primeira declaração exigida foi referente ao exercício de 1924. No exercício de 1922 foi criado o imposto sobre vendas mercantis, mais tarde denominado imposto de vendas e consignações e transferido para órbita estadual. Durante todo o período anterior à Constituição de 1934, o imposto de importação manteve-se como a principal fonte de receita da União. Até o início da Primeira Guerra Mundial, ele foi responsável por cerca de metade da receita total da União, enquanto o imposto de consumo correspondia a aproximadamente 10% da mesma. A redução dos fluxos de comércio exterior devido ao conflito obrigou o governo a buscar receita através da tributação de bases domésticas. Cresceu então a importância relativa do imposto de consumo e dos diversos impostos sobre rendimentos, tanto devido ao crescimento da receita destes impostos – definitivo no primeiro caso e temporário no segundo – como à redução da arrecadação do imposto de Módulo I 16 importação. Terminada a guerra, a receita do imposto de importação tornou a crescer, mas sua importância relativa continuou menor que no período anterior (em torno de 35% da receita total da União na década de 20 e inicio dos anos 30). Na órbita estadual, o imposto de exportação (inclusive das vendas realizadas para outros estados) era a principal fonte de receita, gerando mais que 40% dos recursos destes governos. Outros tributos relativamente importantes eram o imposto de transmissão de propriedade e o imposto sobre indústrias e profissões. O último era também a principal fonte de receita tributária municipal, secundado pelo imposto predial. A Constituição de 1937 pouco modificou o sistema tributário estabelecido na Constituição anterior. Em relação a esta, os estados perderam a competência privativa para tributar o consumo de combustíveis de motor de explosão e aos municípios foi retirada a competência para tributar a renda das propriedades rurais. Em 1946, o imposto de vendas e consignações já era responsável por cerca de 60% da receita tributária estadual. Nos municípios, os impostos sobre indústrias e profissões e predial permaneceram como os mais importantes, correspondendo a pouco menos que 40 e 30% da receita tributária, respectivamente. Em 1946, o imposto de consumo era responsável por aproximadamente 40% da receita tributária da União e o IR – imposto de renda -, cuja arrecadação chegou a superar a do imposto de consumo em 1944, representava cerca de 27% da mesma. A Constituição de 1946 trouxe poucas modificações no que concerne ao elenco de tributos utilizados no país. Ela mostra, entretanto, a intenção de Módulo I 17 aumentar a dotação de recursos dos municípios. Dois novos impostos são adicionados à sua área de competência: o imposto sobre atos de sua economia ou assuntos de sua competência (imposto do selo municipal) e o imposto de indústrias e profissões, o último pertencente anteriormente aos estados mas já arrecadado em parte pelos municípios. Embora não tenha promovido uma reforma da estrutura tributária, a Constituição de 1946 modificou profundamente a discriminação de rendas entre as esferas do governo, institucionalizando um sistema de transferências de impostos. A partir da década de 50, com as políticas de desenvolvimento regional, houve uma crise econômica, tornando-se necessária a reforma do aparelho arrecadador, para fazer frente ao crescimento sistemático dos gastos públicos. Em 1963 foi ampliada a tributação dos rendimentos de capital, já que havia excesso de carga sobre o setor produtivo, devido à cumulatividade e ao progressivo aumento do imposto de renda das pessoas jurídicas. Durante o período 1946/1966, cresce a importância relativa dos impostos internos sobre produtos. Às vésperas da reforma tributária, o imposto de consumo é responsável por mais de 45% da receita tributária da União, o imposto de vendas e consignações corresponde a quase 90% da receita tributária estadual e o imposto de indústrias e profissões, que se tornara, na prática, uma versão municipal do imposto de vendas e consignações, gera quase 45% da receita tributária dos municípios. Em conjunto, eles perfazem 65% da receita tributária total do país. Entretanto, não são suficientes para cobrir as necessidades de dispêndio dos três níveis de governo. Desde 1947 (um ano após a CF de 46) se clamava por uma reforma tributária, a qual foi preparada e posta em prática entre 1963 e 1966. A Módulo I 18 verdadeira razão para ela ter ocorrido é a perda de arrecadação e a impossibilidade de fazer face ao aumento das despesas, que atingiu no início da década de 60 o índice de 13% do PIB (era 8% no final da década de 40). Em 1945 havia 1.669 municípios, chegando a 3.924 em 1966. Com a Revolução de março de 1964 a reforma tributária adquiriu impulso, com um novo sistema tributário criado a partir desta data, ocorrendo: a) Revisão do IR, com vigoroso crescimento da arrecadação; b) O imposto sobre o consumo foi reformulado, dando origem ao IPI; c) O IVC se transformou no ICM. Até 1978 a carga tributária ficou ao redor de 25% do PIB, com a União arrecadando ¾ do total e após as transferências para estados e municípios ficava com 2/3. Em 1970 houve criação do PIS para fazer face à concessão de incentivos e benefícios fiscais. Desde 1975 o sistema mostrava sinais de exaustão, em face destes incentivos e benefícios fiscais. Durante a década de 80 houve impressionante quantidade de alterações processadas na legislação para manter o nível de arrecadação. Em 1982 foi criado FINSOCIAL, o qual seria provisório, mas tornou-se permanente, sendo substituído posteriormente pela COFINS. 1.5. A TRIBUTAÇÃO DO FUTURO: SOCIOAMBIENTAL A arrecadação tributária brasileira está fortemente concentrada nos tributos sobre a produção de bens e serviços (que se traduz na tributação sobre o consumo) e na tributação direta sobre os salários. Módulo I 19 A tributação sobre a produção – consumo (ICMS, PIS, COFINS, IPI, parte do IOF) – resulta em 49% de toda a arrecadação tributária nos três níveis, enquanto que a tributação sobre salários (Imposto de Renda, Contribuição Previdenciária e Sindical) arrecada 27% do total. Na seqüência temos a arrecadação sobre capital e outras rendas (Imposto de Renda das empresas, parte do IOF) com 16% do total; comércio exterior (Imposto de Importação, Imposto de Exportação, taxas alfandegárias)com 3% do total; patrimônio (IPTU, IPVA, ITCMD, ITBI) com 2% da arrecadação total; e, 3% para os demais tributos. Ao longo da história, o sistema tributário brasileiro caminhou a reboque das experiências de outros países, baseado na facilidade de arrecadação e sem uma preocupação maior em se cumprir com uma justiça tributária. É certo que os países pobres ou em desenvolvimento concentram suas arrecadações nos tributos embutidos no preço final de mercadorias e serviços (denominados tributos sobre o consumo), já que a renda média da população é pequena, o quê dificulta a cobrança de tributos sobre a renda e sobre o patrimônio. Mas tal proceder torna o sistema tributário injusto, pois onera de maneira elevada as populações mais pobres, sem que os mais ricos contribuam na sua exata capacidade econômica. Assim, a tributação sobre o consumo é regressiva, ao contrário da tributação sobre renda e patrimônio que são progressivas. O cenário político-econômico de 2007/2012 está moldado em gastos públicos elevados, juros em queda, dívida externa controlada, dívida interna em elevação, baixa inflação, falta de investimentos substanciais em infra-estrutura, Módulo I 20 apreciação do Real em relação ao Dólar, dificultando as exportações de manufaturados e incentivando as importações. A criação e majoração de tributos ocorrida a partir de 2002, dão ao governo federal algum fôlego de caixa para ir tocando sua política de ampliação de gastos sociais, mas o impede de fazer grandes investimentos em obras de infra-estrutura. Já os Estados vêem sua principal fonte de arrecadação (o ICMS) dar sinais de esgotamento. Em virtude de o governo federal estar privilegiando o aumento das contribuições em detrimento dos impostos partilhados, muitos governos estaduais enfrentarão dificuldade de caixa. Os municípios também enfrentarão dificuldades com suas contas, pois a sua participação nas receitas federais vem diminuindo, e a sua possibilidade de aumento de arrecadação dos tributos municipais é muito pequena. Face ao aquecimento global e os reflexos econômicos das mudanças climáticas, haverá a criação de um tributo ambiental, que pode ser a CIDE Ambiental, nos moldes propostos pelo Ministério do Meio-Ambiente. Haverá a mudança gradual da incidência do INSS sobre a folha de pagamento para o faturamento, como já está previsto no texto constitucional. Os debates sobre uma reforma tributária de grandes dimensões se ampliarão. Isto porque, o atual modelo tributário apresentará esgotamento quanto ao aumento da arrecadação de vários dos principais tributos. A implantação de um IVA – Imposto sobre Valor Agregado moderno será a espinha dorsal do novo modelo tributário. O IVA resultará da fusão do ICMS, COFINS, IPI e ISS, com partilha automática de sua arrecadação entre os entes federados. Módulo I 21 O aspecto inovador do IVA brasileiro é que ele considerará como crédito o montante da folha de pagamento. Isto será uma verdadeira revolução no conceito mundial de imposto sobre valor agregado. A tributação ambiental será intensificada, com a utilização de alíquotas maiores para as atividades que tragam impacto ambiental, com a conseqüente diminuição sobre as atividades de proteção e recuperação do meio-ambiente. Portanto, a tributação estará intimamente ligada às questões sociais e ambientais. Teremos em breve um sistema tributário híbrido, em que os tradicionais conceitos de impostos, taxas e contribuições terão de ser revistos. Haverá a quebra de vários paradigmas, como por exemplo de que não se pode tributar de maneira diferente produtos iguais, mesmo que utilizem matérias-primas diferentes. Assim, se determinado produto for fabricado com matéria-prima que agrida o meio ambiente ele será altamente taxado, enquanto que o seu similar que utilize matéria-prima corretamente ecológica terá uma tributação amena. Na fabricação de confecções, se o tecido utilizado é reciclado ele terá menor tributação, enquanto que aquele que utilize tecido não- reciclado (ou não-reciclável) será taxado a mais. Também as questões sociais serão levadas em conta quanto à tributação. Hoje, por exemplo, o carvão que é consumido em churrasqueiras é tributado da mesma maneira, independentemente da matéria-prima que utiliza da forma como é produzido e da mão-de-obra que é utilizada. No futuro (bem próximo), se a fábrica utilizar mão-de-obra infantil ou não der boas condições de trabalho na fabricação do produto, ela poderá ter uma tributação acentuada, enquanto que aquela que é social e ambientalmente responsável terá uma tributação menor. Módulo I 22 Os tributos sobre o patrimônio terão elevação de alíquotas, pois os entes federados dependerão mais da sua arrecadação. Apesar de previsto constitucionalmente, atualmente o imposto de exportação tem baixa incidência sobre o comércio exterior, sendo a sua arrecadação praticamente inexistente. Com a reforma tributária, vários produtos e serviços voltarão a ser taxados por ele. Haverá uma menor quantidade de tributos, com a simplificação na arrecadação de muitos deles. Mas, um sistema tributário mais simples e menos burocrático não quer dizer que será mais justo do que o existente hoje. Ele continuará fortemente concentrado na tributação sobre o consumo e salários. Passados alguns anos da implantação do IVA, haverá a criação de um imposto específico sobre o consumo de determinados bens e serviços, como fumo, bebidas, perfumes e sobre o comércio eletrônico. Também, poderá haver uma nova CPMF, já como contribuição permanente. 1.6. OS TRIBUTOS COBRADOS ATUALMENTE NO BRASIL O Direito Tributário preocupa-se com o objeto da obrigação tributária, que é o tributo. O art. 3º do Código Tributário Nacional14 assim o define, verbis: “Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.” 14 Lei nº 5.172, de 25.10.1966. Módulo I 23 Sem ingressar agora na análise das várias acepções do vocábulo tributo (gênero)15, mister é verificar a classificação das espécies tributárias estabelecida pela Constituição Federal de 88. O seu art. 145 assim prevê, verbis: “Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: I - impostos; II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.” Já o art. 148 estabelece, verbis: “Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III,’b’.”15 PAULO DE BARROS CARVALHO, in Curso de Direito Tributário, p.16. aborda “O vocábulo ‘ tributo’ experimenta nada menos do que seis significações diversas, quando utilizado nos textos do direito positivo, nas lições da doutrina e nas manifestações da jurisprudência. São elas: a) “tributo” como quantia em dinheiro; b) “tributo” como prestação correspondente ao dever jurídico do sujeito passivo; c) “tributo” como direito subjetivo de que é titular o sujeito ativo; d) “tributo” como sinônimo de relação jurídica tributária; e) “tributo” como norma jurídica tributária; f) “tributo” como norma, fato e relação jurídica. Módulo I 24 As contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas estão previstas no art. 149 da CF/88. Portanto, os tributos no Brasil dividem-se em: Impostos, Taxas, Contribuições Parafiscais16, Contribuições de Melhoria e Empréstimos Compulsórios. Os Impostos atualmente cobrados no Brasil são divididos em três esferas: Federais17: - Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza - IR; - Imposto sobre produtos industrializados - IPI; - Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários - IOF; - Imposto sobre a propriedade territorial rural - ITR; - Imposto sobre importação de produtos estrangeiros - II; - Imposto sobre exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados - IE. Estaduais18: - Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação - ICMS; 16 GERALDO ATALIBA observa o cuidado que se deve ter com o termo: “Os ‘práticos` e apressados aplicadores do direito tributário, toda vez que ficam perplexos diante de uma figura tributária de difícil definição costumam afirmar que se trata de contribuição parafiscal, ainda quando o sujeito ativo do tributo não seja pessoa diversa do estado.” Hipótese de Incidência Tributária, p. 192 . 17 A CF/88 prevê, ainda, que a União poderá instituir, mediante lei complementar, Imposto sobre grandes fortunas (art. 153, VII), o qual até hoje não foi criado. 18 O adicional estadual do imposto de renda - AIRE (CF/88, art. 155, II) deixou de ser arrecadado por Resolução do Senado Federal. Módulo I 25 - Imposto sobre propriedade de veículos automotores - IPVA; - Imposto sobre transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens e direitos - ITCMD. Municipais19: - Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana - IPTU; - Imposto sobre serviços de qualquer natureza - ISS; - Imposto sobre transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis - ITBI. As Taxas também são cobradas nas três esferas. Como exemplos: - Taxas Portuárias; - Taxa de Conservação e Limpeza; - Taxa de Combate a Incêndio; - Taxa de Emissão de Documentos; - Taxa de Alvará; - Taxa de Publicidade; - Taxa de Inspeção e Fiscalização. As Contribuições Parafiscais ou Especiais são cobradas principalmente, mas não exclusivamente, por entidades federais. Exemplos: - Contribuição Previdenciária para o INSS; - FGTS; - PIS/PASEP; - COFINS; - Contribuição social sobre o lucro das empresas; SESC; SENAC; SESI; SENAI; SENAR; - Seguro de Acidente de Trabalho - SAT; Contribuição Confederativa; - Contribuição Sindical; - CIDE: Combustíveis e Royalties; 19 O imposto, previsto no art. 156, III, da CF/88, sobre vendas a varejo de combustíveis líquido e gasosos, exceto óleo diesel - IVVC foi arrecadado até 1995. Módulo I 26 - Contribuições para Órgãos de Fiscalização Profissional: OAB, CRC, CREA, CRECI, ETC; - Salário Educação; - SEBRAE, etc. Como exemplos de Contribuições de Melhoria: Asfaltamento; Calçamento; Rede de Água; Rede de Esgotos. 1.7. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS TRIBUTOS Para o Prof. Bernardo Ribeiro de Moraes20, a idéia de tributo não tem sido a mesma no tempo e no espaço, podendo-se dizer, sem medo de erro, que o conceito moderno de tributo não corresponde ao seu sentido primitivo. As contribuições que nos recorda a história, afirma Manuel de Juano21, “podemos invocá-las a título ilustrativo, mas não como fiéis antecedentes dos gravames atuais, que descansam sobre bases e razões bem diferentes”. Todavia, mesmo assim, os fatos históricos nos ajudam na elaboração de uma idéia exata de tributo. Sem a história, jamais poderemos alcançar o seu sentido atual. Podemos dizer que o tributo, na sua significação mais simples, é tão antigo quanto a comunidade humana. Aparece ele com a manifestação da vida coletiva como necessidade imperiosa para a manutenção do agregado social. Afirma GUNTER SCHMÖLDERS22: “sempre que existam comunidades que tenham de satisfazer necessidades próprias, existirão também métodos para fazer com que seus membros prestem sua contribuição material para a satisfação dessas necessidades comuns”. 20 Compêndio de Direito Tributário, Rio de Janeiro, Ed. Forense, 1987, p. 176 e 177. 21 Curso de Finanzas y Derecho Tributario, Rosario, Ediciones Molachino, Tomo I, 1ª Ed., 1940, p. 215. 22 Teoria Geral del Impuesto, Madrid, Editorial de Derecho Financeiro, 1ª Ed, 1962, p. 3. Módulo I 27 O tributo aparece, pois, como uma contribuição para o agregado social, para o atendimento de suas necessidades. Inicialmente, lembra ACHILLE DONATO GIANNINI23, a terminologia empregada para o tributo e as diversas espécies tributárias era imprecisa, havendo a utilização geral das palavras “tributo”, “imposto” e até de “taxa”, sem qualquer cuidado. Diversas denominações serviram para exprimir essa figura que representa um ônus exigido, unilateralmente, pela autoridade de seus súditos, a fim de poder cobrir os gastos da coletividade, v.g., tributum, stipendium annona, vectigalia ou functio, além de outras. A palavra tributum, com o tempo, acabou por ter aceitação e aplicação genéricas, transferindo-se da língua latina para as demais. TRIBUTUM provém do verbo latino tribuere (tribuo, - is, - ere, tribui, tributum), que significa dividir ou repartir entre as tribos. Mais tarde, na língua comum, a palavra passou a ter o sentido de distribuir, repartir ou dividir. Tributo, assim, vem a ser a carga pública distribuída entre o povo (tribo), podendo ser caracterizada, também, como uma exigência da autoridade para com os seus subordinados, a fim de atender o interesse coletivo. O objeto dessa exigência não é representado no tempo e no espaço apenas por uma prestação in pecunia (moeda ou dinheiro), abrangendo, também, os demais tipos de prestações: in natura ou specie (frutos, cereais, milho, animais, peixes, metais, cobre, vinho, azeite, forragens para animais, gêneros alimentícios, ect.) e in labore (qualquer serviço não remunerado prestado obrigatoriamente, fazer farinha, alojar nobres e militares, fazer comida para as tropas, exercer certa atividade, trabalhar na construção de prédio sagrado, reparar pontes, etc.). Eis o sentido genérico e primitivode tributo. 23 Iconcetti Fondamentali del Diritto Tributario, Torino, UTET, 1ª ed., 1945, p. 57. Módulo I 28 Já no seio das organizações mais rudimentares, evidentemente, encontramos essa prestação obrigatória realizada em benefício da coletividade, denominada tributo. Sua evolução, no curso histórico da humanidade, apresenta diversas etapas diferenciadas, assim sintetizadas: a) Nas comunidades primitivas, o tributo estava na dependência da satisfação das necessidades coletivas e dos caprichos do chefe, que o exigia, sem restrição alguma, de seus súditos. Eram prestações in labora, in natura ou in pecunia, exigidas em geral pela força (predominante entre os povos primitivos) e arbitrariedade. A atividade do Estado era parasitária, com a exploração fiscal dos territórios conquistados e dos povos submetidos. O tributo era exigido, na maioria das vezes, pelo povo vencedor sobre o vencido, a título de reparações ou indenizações de guerra. ALIOMAR BALEEIRO24 conceitua tal tributo como “o peso da força do vencedor sobre o vencido”, pois havia o uso de um poder de fato sem qualquer justificativa ética. Ouro, prata, metais, obras de arte, escravos, etc. eram arrancados dos povos vencidos pelos vencedores; b) No Estado feudal, encontramos a dispersão do patrimônio do Estado e o desenvolvimento da receita realenga (da coroa). O patrimônio do Estado é subdividido pelos duques, condes, bispos, etc. que se tornaram senhores das terras. O rei vive de seu patrimônio. Os senhores feudais criavam ônus para os seus vassalos, que também deveriam cobrir as despesas do Estado. O patrimônio do monarca se confunde com o patrimônio do Estado. O tributo, neste período, tem por finalidade principal reforçar o domínio territorial. Proliferam os pedágios, os direitos de passagem e diversas contribuições; c) Depois de uma era de transição, surge o Estado representativo, em que o tributo se fixa como um instrumento de receita, dentro de uma 24 Uma Introdução à Ciência das Finanças, Rio de Janeiro, Editora Forense, 12ª Ed., 1978, p. 146. Módulo I 29 economia coativa, para a manutenção de Estado. O tributo deixa de ser um instrumento de receita de utilização discricionária (individual e estatal) para depender de um órgão público, com o seu Poder Legislativo, que baixa a lei ordinária definidora. Os representantes do povo são quem escolhem quais os tributos a serem pagos. Assim, nas modernas coletividades, juridicamente organizadas, o tributo passa a ser uma manifestação da soberania do Estado (poder fiscal), que o cria para o desenvolvimento de suas atividades, em busca do bem comum. O tributo passa a ter finalidades fiscais (instrumento de receita pública) e extrafiscais (instrumento para a obtenção de fins de interesse público, social e econômico). O tributo, na sua evolução histórica, conforme podemos perceber, deixa de ser fruto do poder arbitrário ou discricionário do Estado para se constituir num instrumento jurídico (legal) de receita pública, definido pela lei ordinária. As etapas do desenvolvimento do tributo nos mostram uma evolução lenta, partindo da força para uma forma mais aberta, consubstanciada na lei ordinária. O tributo nada mais é, hoje, do que o poder fiscal normatizado, criador de receita pública (compulsória e derivada). O primeiro módulo do Curso Online de Formação de Tributarista – Planejamento Tributário chegou ao fim. No próximo módulo, analisaremos os princípios gerais do Sistema Tributário Brasileiro; vigência, aplicação e interpretação da legislação tributária; obrigação tributária; crédito tributário; classificação dos tributos e suas espécies; sistema tributário de outros países; e os problemas da tributação na internet. Módulo I 30 Realização: Av. Cândido Hartmann, 50 - Bigorrilho - 80730-440 - Curitiba, PR Tel.: (41) 3232-9241, ramal 6 - cursos@ibpt.com.br - www.ibpt.com.br
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