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Governança Corporativa Professor conteudista: Marco Antonio Dias Sumário Governança Corporativa Unidade I 1 CONCEITOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA .......................................................................................4 1.1 Governança corporativa .......................................................................................................................4 1.2 Resumo ........................................................................................................................................................9 2 PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA ...........................................................................................9 2.1 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC ..........................................................9 2.2 Código de melhores práticas de governança corporativa ................................................... 12 2.3 Resumo ..................................................................................................................................................... 14 3 ESTRUTURA LEGAL EMBASADORA DA GOVERNANÇA CORPORATIVA ...................................... 14 3.1 Ação ordinária ....................................................................................................................................... 15 3.2 Ação preferencial .................................................................................................................................. 16 3.3 Acionista majoritário .......................................................................................................................... 16 3.4 Acionista minoritário .......................................................................................................................... 16 3.5 Auditoria independente ..................................................................................................................... 16 3.6 Código de conduta .............................................................................................................................. 17 3.7 Comitê de auditoria ............................................................................................................................ 17 3.8 Conflito de interesses ......................................................................................................................... 17 3.9 Free float (ações em circulação) ..................................................................................................... 17 3.10 Regimento interno do conselho .................................................................................................. 18 3.11 Sessão executiva ................................................................................................................................. 18 3.12 Stakeholders (partes interessadas) ............................................................................................. 18 3.13 Tag along ............................................................................................................................................... 18 3.14 Resumo .................................................................................................................................................. 19 4 EVOLUÇÃO DAS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA ...................................................... 19 4.1 Evolução recente .................................................................................................................................. 19 4.2 Novo Mercado ....................................................................................................................................... 21 4.3 Resumo ..................................................................................................................................................... 34 5 A ORIGEM DA GOVERNANÇA CORPORATIVA E SUA IMPORTÂNCIA PARA AS ORGANIZAÇÕES NO ATUAL CONTEXTO BRASILEIRO E MUNDIAL ................................ 34 5.1 Linha do tempo - 1992 ...................................................................................................................... 34 5.2 Linha do tempo - 1994 ...................................................................................................................... 35 5.3 Linha do tempo - 1995 ...................................................................................................................... 35 5.4 Linha do tempo - 1996 ...................................................................................................................... 36 5.5 Linha do tempo - 1997 ...................................................................................................................... 36 5.6 Linha do tempo - 1998 ...................................................................................................................... 36 5.7 Linha do tempo – 1999 ..................................................................................................................... 37 5.8 Linha do tempo – 2000 ..................................................................................................................... 37 5.9 Linha do tempo – 2001 ...................................................................................................................... 38 5.10 Linha do tempo – 2002 ................................................................................................................... 39 5.11 Linha do tempo – 2003 ................................................................................................................... 39 5.12 Linha do tempo – 2004 ................................................................................................................... 40 5.13 Linha do tempo – 2005 ................................................................................................................... 41 5.14 Linha do tempo – 2006 ................................................................................................................... 41 5.15 Modelos de governança .................................................................................................................. 42 5.16 Resumo .................................................................................................................................................. 44 Unidade II 6 BASES ECONÔMICAS E DE RELACIONAMENTO DA GOVERNANÇA CORPORATIVA .............. 45 6.1 Teoria dos custos de transação ....................................................................................................... 46 6.2 Valor, valores e responsabilidade social ...................................................................................... 46 6.3 Ética ........................................................................................................................................................... 47 6.4 Resumo ..................................................................................................................................................... 48 7 TEORIA DA AGÊNCIA ...................................................................................................................................... 48 7.1 Teoria de agência .................................................................................................................................. 48 7.2 Custos de agência ................................................................................................................................ 50 7.3 Resumo ..................................................................................................................................................... 51 8 MECANISMOS INTERNOS ............................................................................................................................. 52 8.1 Conselho de administração ..............................................................................................................52 8.2 Sistema de remuneração ................................................................................................................... 53 8.2.1 Remuneração variável .......................................................................................................................... 54 8.3 Estrutura de propriedade .................................................................................................................. 55 8.3.1 A reforma da Lei das Sociedades Anônimas ................................................................................ 56 8.4 Resumo ..................................................................................................................................................... 58 1 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - Unidade I Apresentação da disciplina Prezado aluno, Este texto foi construído com o objetivo de lhe trazer o que temos de mais moderno em gestão administrativa, e assim preparar o tema sob a ótica da excelência no curso de Administração de Empresas. Então, para começar, seria bom lembrarmos de uma máxima que existe na administração: quem não controla não administra. Isto é, se você quer administrar uma empresa ou um processo organizacional qualquer, você tem que saber controlar. Para aumentar ainda mais o nosso desafio, o que você acha de administrar sem ter o controle direto, apenas por meio de gestão por informações e práticas? No mundo corporativo, há uma diferença entre o valor contábil e o valor econômico da empresa, ou, para sua melhor compreensão, usando temas de domínio cotidiano: o preço de qualquer ação em qualquer bolsa de valores no mundo não será o mesmo que o valor patrimonial. Sabe por quê? Porque a contabilidade tradicional não leva em conta os intangíveis ou os chamados aspectos não financeiros. No século XXI, os intangíveis podem ser mais valiosos do que os ativos tangíveis, então temos neste caso um efeito que batizamos de “efeito iceberg”, em que os aspectos tangíveis são contabilizados e o que é realmente valioso não é visto no balanço patrimonial nem na demonstração dos resultados. 5 10 15 20 25 2 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - Os termos aos quais aqui nos referimos como intangíveis, como goodwill, marca, reputação, qualidade da governança, qualidade da gestão, histórico de respeito aos direitos humanos, aspectos sociais e trabalhistas, e a consideração dos ecossistemas na comunidade onde a empresa opera, tornaram-se temas de debate e, portanto, relevantes. Para que você se localize no texto, sugerimos que você relacione o parágrafo anterior à perenidade ou, simplificando, às chances de sustentação de uma empresa junto à comunidade. Para isso, o mundo contemporâneo criou uma palavrinha mágica que simplifica tudo: sustentabilidade. Quando as empresas são questionadas sobre os motivos pelos quais preparam relatórios sobre temas da sustentabilidade, as respostas variam. Por exemplo: Fazemos isso porque nossos concorrentes estão fazendo; descobrimos que, estrategicamente, somos capazes de gerir reputação e marca de uma forma mais qualificada; nossas partes interessadas (stakeholders) querem; e, talvez o mais importante de todos, porque melhora nosso gerenciamento de riscos. Um dos princípios da boa governança corporativa é que o conselho de administração tem o dever de prover a orientação estratégica para a empresa no desenvolvimento da estratégia empresarial, em que aspectos de curto e longo prazos precisam ser considerados. No que diz respeito a este último, aconselhamos levar em conta os temas da sustentabilidade, de onde você pode deduzir que governança, estratégia e sustentabilidade se tornaram inseparáveis. É por isso que acreditamos que cuidar zelosamente do tema governança corporativa, sua estrutura e suas práticas de funcionamento levará você ao encontro do mais alto nível informacional corporativo, cuidadosamente distribuído em oito módulos, divididos em duas grandes unidades. 5 10 15 20 25 30 3 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - Visão geral do conteúdo UNIDADE I Introdução à governança corporativa Nesta primeira unidade, formada por cinco módulos, procura-se trabalhar os vários aspectos conceituais básicos da governança corporativa, incluindo sua estrutura, suas práticas, origens e contribuição para a sociedade empresarial brasileira. UNIDADE II Teorias e mecanismos internos e externos de governança corporativa Nesta segunda e última unidade, formada por três módulos, procura-se trabalhar os aspectos estruturais da governança corporativa, incluindo relacionamentos, ética, responsabilidade social e, não menos importante, as atribuições do conselho de administração, seus controles internos e os conflitos de agência. Uma informação que merece ser destacada é que a referência maior para a elaboração do conteúdo de todos os módulos é o Código das melhores práticas de governança corporativa, do respeitadíssimo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, utilizado por organizações que estão buscando o reconhecimento do mercado por meio da transparência e equidade de suas ações empresariais. De forma muito sintética e objetiva, procuramos mostrar que o que está sendo proposto nesta disciplina é algo que vem sendo aplicado no mundo corporativo. Bons estudos! Prof. Marco Antonio Dias 5 10 15 20 25 4 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - INTRODUÇÃO À GOVERNANÇA CORPORATIVA 1 CONCEITOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA Objetivos Recuperar os principais conceitos estabelecidos e construídos para dimensionar a importância da governança corporativa e qual a sua contribuição na interpretação do tema. 1.1 Governança corporativa O termo governança corporativa foi criado no início da década de 1990 nos países desenvolvidos, mais especificamente nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, para definir as regras que regem o relacionamento dentro de uma companhia dos interesses de acionistas controladores, acionistas minoritários e administradores (Garcia, 2005). O termo é relativamente novo no Brasil, motivo de controvérsias e embates acalorados, a começar pela sua terminologia. Para grandes mestres, como o professor Arnold Wald (2005), a terminologia correta seria “governo das empresas”. Segundo o jurista: Descabe caracterizar a sociedade anônima como corporação, tratando-se de anglicanismo condenável, não só por respeito à língua nacional como também pela associação de ideias que pode acarretar. Na língua portuguesa, corporação tem sentido de associação profissional, sendo inclusive uma reminiscência medieval... Acresce que os adjetivos corporativo e corporativista têm sentido pejorativo, dando ideia de prevalência de interesses de um grupo ou de uma classe. Ao contrário desta noção, o termo governança das empresas pretende denominar a renovação da entidade,atendendo aos 5 10 15 20 25 5 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - interesses de todos aqueles que a integram ou com ela colaboram. Vários autores estrangeiros já definiram o conceito de governança corporativa e entre as principais definições podemos citar as de: Shleifer e Vishny (1997): “Governança corporativa lida com as maneiras pelas quais os fornecedores de recursos garantem que obterão para si o retorno sobre seu investimento”. La Porta et al. (2000): “Governança corporativa é o conjunto de mecanismos que protegem os investidores externos da expropriação pelos internos (gestores e acionistas controladores)”. Jensen (2001): “Governança é a estrutura de controle de alto nível, consistindo dos direitos de decisão do conselho de administração e do diretor executivo, dos procedimentos para alterá-los, do tamanho e composição do conselho de administração e da compensação e posse de ações dos gestores e conselheiros”. Para José Alexandre Scheinkman (2005), governança corporativa seria: todo um conjunto de mecanismos que investidores não controladores (acionistas minoritários e credores) têm à sua disposição para limitar a expropriação [dos direitos dos minoritários e credores pelos administradores e majoritário]. Estes mecanismos prescrevem regras de conduta para a empresa e de disclosure, e garantem a observância das regras (enforcement). Uma vez que, em muitos casos, os responsáveis pela condução de uma empresa e/ou acionistas majoritários podem tomar decisões, após a venda de ações aos minoritários, que prejudiquem o interesse destes. 5 10 15 20 25 30 6 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - Agora, é importante ressaltar que boa parte das definições acima tem como base uma visão contratualista das companhias, que leva em conta apenas os interesses do grupo de sócios das empresas, o modelo shareholder, que vigora principalmente nos Estados Unidos e no Reino Unido. Entretanto, no Brasil, o IBGC tem uma definição que chamamos de intermediária e mais flexível, não sendo excessivamente corporativista, como segue: Governança corporativa é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre acionistas/cotistas, conselho de administração, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal. As boas práticas de governança corporativa têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade. Descreve o processo de tomada de decisão e de implementação (relação entre acionistas, conselho, diretoria e auditoria). Dá mais autonomia para gestão, ao mesmo tempo em que cria mecanismos para reduzir o risco de apropriação indevida do valor agregado pelos gestores e pela corporação. Abaixo, o atual conceito de governança amplamente divulgado pelo IBGC, após revisão do texto elaborado em 1995, na ocasião de sua fundação: Governança corporativa é o sistema que assegura aos sócios-proprietários o governo estratégico da empresa e a efetiva monitoração da diretoria executiva. A relação entre propriedade e gestão se dá através do conselho de administração, a auditoria independente e o conselho fiscal, instrumentos fundamentais para o exercício do controle. A boa governança corporativa garante equidade aos sócios, transparência e responsabilidade pelos resultados (accountability). 5 10 15 20 25 30 35 7 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - Problemas de relacionamento entre acionistas e empresas não são exclusividade de um mercado, e sim, uma discussão global. Em outro plano maior, mas ainda na linha institucionalista, deve incluir outros grupos sociais que também têm interesse na preservação da companhia e que são igualmente afetados pelas decisões tomadas por seus administradores, tais como: credores em geral, fornecedores, trabalhadores, consumidores e a comunidade em geral, dando origem ao modelo stakeholders, preponderante em países da Europa Ocidental. A governança corporativa deve zelar, entre outros objetivos, pelo conceito da maximização da riqueza dos acionistas, imputando isto como principal responsabilidade dos executivos. Neste caso específico, o objetivo do executivo será o de sempre buscar o máximo de riqueza para os acionistas, no entanto, esta ação ou esforço conflita com o chamado modelo de equilíbrio dos interesses dos stakeholders1, também colocado como um objetivo da governança corporativa, criando claramente um conflito de interesses. Jamais haverá equilíbrio desses dois objetivos da governança corporativa quando os executivos aplicarem seus esforços na transferência de riquezas para os acionistas, pois neste caso os clientes, que também pertencem ao grupo dos stakeholders, não chegariam a nenhum acordo de preços, pressupondo que a empresa estivesse levando alguma vantagem, ferindo o outro objetivo da governança, que busca o “equilíbrio” de interesses. O conceito de governança corporativa que tem por base o modelo stakeholders é criticado por Jensen (2001, p. 2), ao afirmar que: conceder o controle a qualquer outro grupo que não aos acionistas seria o equivalente a permitir que este grupo jogasse poker com o dinheiro dos outros, criando ineficiências que levariam à possibilidade de 1 Os stakeholders são todos os envolvidos com a companhia, como clientes, empregados, fornecedores etc. 5 10 15 20 25 30 8 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - fracasso da corporação. A negação implícita desta proposição é a falácia que se esconde por trás da chamada teoria dos stakeholders. Além disso, para Jensen (2001, p. 2), os proponentes da teoria de equilíbrio dos interesses dos stakeholders não explicam como os conflitos entre diferentes stakeholders deveriam ser resolvidos. Segundo o autor: esta teoria deixa os executivos sem qualquer princípio para tomada de decisão, fazendo-os responsáveis por ninguém a não ser por suas preferências pessoais – ironicamente o oposto do que os defensores da teoria dos stakeholders desejam alcançar. À parte das colocações acima, não se pode negar que o conceito de governança corporativa pela ótica dos stakeholders tem uma abrangência muito mais ampla quando identifica não apenas o acionista minoritário, mas também outros grupos que possam ser afetados pela atuação da companhia. Como exemplo, temos o caso dos credores da empresa, que pela sua condição também desenvolvem com os administradores uma espécie de relação “agente-principal”, muito próxima da que existe entre estes últimos e os acionistas. Isso só acontece porque mesmo tendo os credores direito ao adimplemento de uma renda fixa sobre capital emprestado, portanto, não sujeitos ao recebimento de valores, apenas quando da apuração de lucro, esses estão sujeitos ao risco de crédito decorrente da possibilidade do devedordescumprir com sua obrigação por incapacidade de fazê-lo. Dessa forma, o credor, que também é um investidor, por abrir mão de recursos, mesmo que temporariamente, em troca de um ativo ou de uma nota promissória emitida por uma firma, também é afetado pela política de governança corporativa dessa empresa, visto que é por meio dela que esses podem monitorar 5 10 15 20 25 30 9 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - a atuação dos gestores da empresa em direção a viabilizar o futuro pagamento de seus empréstimos. Ponto de reflexão Você é capaz de conceituar governança corporativa, utilizando sua própria percepção a respeito do tema? 1.2 Resumo Como observamos neste módulo, um sistema de governança corporativa é composto pelo conjunto de instituições, regulamentos e convenções culturais que rege a relação entre as administrações das empresas e os acionistas ou outros grupos às quais as administrações, de acordo com o tipo de modelo, devem prestar contas. As características e o desenvolvimento desses modelos, que podem ser associados a grupos de países, refletem as peculiaridades de formas distintas de organização capitalista e prioridades políticas e sociais diversas. 2 PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA Objetivos Neste módulo, traremos a você uma dimensão prática dos conceitos aprendidos no módulo anterior e apresentaremos a excelência da governança por meio do papel fundamental desenvolvido pelo IBGC. 2.1 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa é diretamente voltado para a aplicação da governança corporativa no mercado brasileiro. Fundado em 27 de novembro de 1995, como uma entidade cultural não possuidora de fins lucrativos, 5 10 15 20 10 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - podemos considerá-lo o primeiro instituto a introduzir de forma organizada a governança corporativa no território brasileiro, sendo o órgão-referência no desenvolvimento de melhores práticas de governança corporativa na atualidade (IBGC, 2008). Como afirma o próprio Instituto: O objetivo maior do IBGC é semear a transparência na gestão das empresas, a equidade entre os sócios, a prestação de contas e a responsabilidade corporativa. Tais posturas têm facilitado o acesso das companhias ao mercado de capitais e a atração de investidores, resultando em maior criação de valor. Além disso, têm influenciado positivamente a alta gestão das empresas não listadas em bolsa (IBGC, 2008). O IBGC foi o responsável pela elaboração do Código das melhores práticas de governança corporativa, criado e lançado em 1999, e atualizado em 2004 (IBGC, 2008). No que tange à estrutura do IBGC, pode-se afirmar que há excelência nesse aspecto. Certamente, o IBGC poderá ser considerado como um instituto com propósitos inovadores e de alguma forma “radical” em alguns aspectos, no entanto, a aplicação de suas “práticas” diante do cenário internacional atual parece um recurso técnico de sobrevivência das corporações, e não apenas uma escolha saudável e correta da boa administração. O Instituto visa ser um referencial no assunto da governança corporativa, sendo uma base para o desenvolvimento sustentável das empresas brasileiras e fortalecendo o vínculo entre todos envolvidos. O Instituto estabelece alguns valores, como o proativismo, a diversidade e a independência (IBGC, 2008). Dentre eles, deve estar presente a coerência com os aspectos da governança corporativa, que são: • transparência: mais que a obrigação de informar, é o desejo de disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos; 5 10 15 20 25 30 35 11 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - • equidade: respeito pelos direitos de todas as partes interessadas; • prestação de contas (accountability): responsabilidade integral pelos atos praticados no exercício dos mandatos; • responsabilidade corporativa: zelar pela perenidade das organizações, incorporando considerações de ordem social e ambiental de longo prazo na definição dos negócios e operações (sustentabilidade empresarial) (IBGC, 2008). Além dessas características, como era de se esperar, percebe-se que internamente o IBGC é um referencial aplicador das práticas da boa governança corporativa. Sua administração é exercida pelo conselho de administração e pelo comitê executivo, formados da seguinte maneira: Assembleia geral: é o foro de manifestação dos associados do IBGC. Todos têm direito a voto em decisões da entidade e elegem os membros do conselho de administração. Na assembleia geral ordinária, faz-se a prestação de contas pela gestão, a aprovação do orçamento anual e a aprovação das demonstrações financeiras. Conselho de administração: formado por nove integrantes, é responsável pela orientação geral, pela definição da estratégia e pelo monitoramento dos planos de ação. Assim como se manifesta sobre o desenvolvimento da governança corporativa no país. As reuniões do conselho acontecem oito vezes por ano, e seus membros têm mandato de um ano. Comitê executivo: composto por três associados ao Instituto, eleitos pelo conselho de administração, sendo pelo menos um deles integrante do conselho. 5 10 15 20 25 30 12 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - As funções do comitê executivo são: gerenciar as atividades sociais, de negócios e operações do Instituto e zelar pela observância da lei, do Estatuto do IBGC e pelo cumprimento das negociações tomadas na assembleia geral, reuniões do conselho de administração e em suas próprias reuniões. Secretaria geral: indicada pelo comitê executivo, coloca em prática os direcionamentos e orientações emanados por este e pelo conselho de administração (IBGC, 2008). Portanto, é possível afirmar que o IBGC é o principal órgão no Brasil que trata do tema da governança corporativa. 2.2 Código de melhores práticas de governança corporativa O mencionado código de melhores práticas de governança corporativa, como já dito anteriormente, foi um projeto codificado para o aprimoramento da forma de gestão de uma sociedade empresarial de capital aberto brasileira. O código foi criado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa no ano de 1999, e, desde então, já foi atualizado algumas vezes, estando atualmente na terceira versão. A versão inicial do Código se voltou de forma prioritária ao conselho de administração das companhias abertas, analisando as atribuições, a composição e o consequente funcionamento do conselho, sendo claramente exposto o objetivo de seguir as tendências mundiais inovadoras da governança corporativa. O IBGC aponta que essa primeira versão teve origem da seguinte maneira: “O documento foi elaborado a partir de reflexões sobre aLei das Sociedades Anônimas então vigente e das discussões e conclusões de um grupo de empresários reunido em abril de 1997, no Top Management Summit, em Itu” (IBGC, 2008). 5 10 15 20 25 13 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - Na sequência, a segunda versão foi publicada no ano de 2001, tendo como principal foco a consolidação dos argumentos técnicos ao princípio da equidade entre acionistas. Nesta versão, foram expostos, de forma geral, todos os aspectos da atualidade da época da governança corporativa, como o conselho de administração, gestores, conselho fiscal, auditoria, dentre outras análises, como conflitos de ética e o, naquela época, novo princípio da prestação de contas (IBGC, 2008). E finalmente, a terceira versão, publicada em março de 2004, teve o seu conteúdo voltado para a inclusão do princípio da responsabilidade corporativa, como afirma abaixo o IBGC: A intenção era atentar para a perenidade das organizações, contribuindo com valores e orientações de estratégia empresarial. O princípio evidenciou a importância de as ações serem integradas, considerando também o aspecto social e ambiental, e não só econômico. Como o foco consiste na atuação responsável, isso se reproduz na “contratação preferencial de recursos oferecidos pela própria comunidade”, por exemplo (IBGC, 2008). Versão esta que ainda é a mais atual para a realidade brasileira de governança corporativa. É notório que as atualizações do Código de melhores práticas refletem as constantes reflexões sobre o tema da governança corporativa, o que acarreta num grande acervo informativo que deve ser utilizado no âmbito empresarial de forma rígida, a fim de que sejam propagados tais princípios e práticas. Tal documento é considerado uma referência na área da gestão empresarial nacional, devido ao alto grau de conhecimento e nível técnico oferecidos. Não é à toa que os maiores estudiosos de mercado apontam uma crescente utilização deste Código, 5 10 15 20 25 30 14 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - adequado à realidade do mercado empresarial brasileiro e mundial (IBGC, 2008). Assim, a terceira versão dividiu o código em capítulos: Propriedade (sócios), Conselho de Administração, Gestão, Auditoria Independente, Conselho Fiscal, Conduta e Conflito de Interesses (IBGC, 2008). Ponto de reflexão Você conhece o papel do IBGC na modernização dos controles de gestão no Brasil? 2.3 Resumo Este módulo tratou basicamente de apresentar o papel do IBGC e seu código de práticas e condutas que podem levar à perenidade das organizações. Apresentou também uma estrutura organizacional sugestiva para o embasamento dessas práticas, contendo seus objetivos e fases de implantação. 3 ESTRUTURA LEGAL EMBASADORA DA GOVERNANÇA CORPORATIVA Objetivos Como diria um bom chef de cozinha, aqui, apresentaremos os principais ingredientes deste saboroso prato, o qual já conhecemos como governança corporativa. Tais ingredientes são parte da estrutura fundamental para o funcionamento da governança, como acionistas, majoritários e minoritários, ações preferenciais e ordinárias, entre outros importantes quesitos. Aproveite e boa leitura. 5 10 15 20 15 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - Principais temas acerca da governança corporativa Dimensão Temas Estrutura de propriedade Práticas de governança corporativa Políticas públicas • Tipo predominante de controle acionário (disperso x concentrado) • Separação ou sobreposição entre propriedade e gestão • Classes de ações, pirâmides e participações cruzadas • Papel dos investidores institucionais • Conselho de administração - Composição - Atuação (efetiva x cerimonial) - Processos (formal x informal) • Direitos dos acionistas minoritários - Eliminação de práticas que dificultem os votos acionistas minoritários - Equiparação dos direitos entre possuidores de American Depositary Receipts (ADRs) e os proprietários de ações propriamente ditas - Condições de recompra de ações dos minoritários - Preços pagos às ações dos minoritários em caso de venda do controle acionário (tag along) • Transparência - Agilidade na divulgação de decisões importantes tomadas pela alta administração - Transparência no relacionamento com empresas relacionadas (controladas e coligadas) - Utilização de padrões contábeis confiáveis - Integridade dos relatórios financeiros • Legislação e aparato legal que protejam os direitos acionistas minoritários e dos credores • Atuação dos órgãos de controle do mercado de capitais • Apoio aos códigos coluntários de boas práticas de governança • Estímulo para que os fundos de pensão e outros investidores institucionais tenham incentivos e estrutura de governança que os motivem a pressionar as empresas a modificar práticas de governança corporativa Quadro 01 – Principais temas de governança corporativa Fonte: De Paula, 2003. 3.1 Ação ordinária Ação que confere a seu titular o direito de voto nas instâncias decisórias da sociedade, além do direito de participar 16 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - dos resultados da companhia. Cada ação ordinária corresponde a um voto nas deliberações da assembleia geral. 3.2 Ação preferencial Classe de ações que confere aos seus detentores determinadas vantagens de natureza financeira ou política em troca de restrições parciais ou totais no exercício do poder de voto. As vantagens podem incluir prioridade na distribuição de dividendos e/ou reembolso de capital, tag along, dividendos 10% superiores aos das ações ordinárias, dentre outros. O estatuto deve definir as situações nas quais as ações preferenciais têm direito de voto 3.3 Acionista majoritário Pessoa física ou jurídica, ou grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto ou sob controle comum, que: a) seja titular de direitos de sócio que lhe assegurem a maioria dos votos nas deliberações da assembleia geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia; b) use efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia. 3.4 Acionista minoritário Proprietário de ações cujo total não lhe permite participar do controle da companhia. 3.5 Auditoria independente Órgão externo à organização, e isento de conflito de interesses, que tem a atribuição básica de verificar se as demonstrações financeiras refletem adequadamente a realidade da organização. 5 10 15 20 17 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - 3.6 Código de conduta Manual elaborado pela diretoria de acordo com os princípios e políticasdefinidos pelo conselho de administração, visando orientar administradores e funcionários na sua conduta profissional cotidiana. O código de conduta deve também definir responsabilidades sociais e ambientais. 3.7 Comitê de auditoria Órgão estatutário, formado por conselheiros de administração, que se reporta ao colegiado integral do conselho de administração para tratar dos assuntos relacionados às normas a ser cumpridas pelos auditores independentes contratados por essas instituições. O comitê é instituído para analisar as demonstrações financeiras, promover a supervisão e a responsabilização da área financeira, garantir que a diretoria desenvolva controles internos confiáveis e que a auditoria interna desempenhe a contento o seu papel, selecionar, fixar a remuneração, acompanhar o trabalho e, sendo o caso, decidir pela destituição dos auditores independentes, zelando pela garantia de uma correta revisão das práticas da diretoria e da auditoria interna. 3.8 Conflito de interesses Há conflito de interesses quando alguém não é independente em relação à matéria em discussão e pode influenciar ou tomar decisões motivadas por interesses distintos daqueles da organização. 3.9 Free float (ações em circulação) Quantidade de ações de uma empresa disponível para negociação livre em mercado de capitais, ou seja, são todas as ações de emissão da companhia exceto aquelas: (i) de titularidade do acionista controlador, de seu cônjuge, companheiro(a) e dependentes incluídos na declaração anual de Imposto de 5 10 15 20 25 18 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - Renda; (ii) em tesouraria; (iii) de titularidade de controladas e coligadas da companhia, assim como de outras sociedades que com qualquer uma dessas integrem um mesmo grupo de fato ou de direito; (iv) de titularidade de controladas e coligadas do acionista controlador, assim como de outras sociedades que com qualquer uma dessas integrem um mesmo grupo de fato ou de direito; e (v) preferenciais de classe especial que tenham por fim garantir direitos políticos diferenciados, intransferíveis e de propriedade exclusiva do ente desestatizante. 3.10 Regimento interno do conselho Conjunto de normas e regras que explicita as responsabilidades, as atribuições, o funcionamento, as rotinas de trabalho e a interação entre os principais órgãos da empresa, entre eles o conselho de administração, seus comitês, a diretoria, o conselho fiscal e o conselho consultivo, se existente, prevenindo situações de conflito, notadamente com o executivo principal (CEO). 3.11 Sessão executiva Parte da reunião do conselho de administração na qual o executivo principal ou os integrantes da diretoria não participam. 3.12 Stakeholders (partes interessadas) Indivíduos ou entidades que assumem algum tipo de risco, direto ou indireto, em face da sociedade. São eles, além dos acionistas: empregados, clientes, fornecedores, credores, governos, entre outros. 3.13 Tag along É a extensão parcial ou total a todos os demais sócios das empresas das mesmas condições obtidas pelos controladores quando da venda do controle de uma sociedade. 5 10 15 20 25 19 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - Ponto de reflexão Se você fosse um empresário, como trataria seus stakeholders? 3.14 Resumo Este módulo trouxe a você, de forma bastante esquemática, toda a árvore de conhecimento oferecida pela governança corporativa sob a luz da administração moderna: a ética nos negócios, a auditoria independente e, um tabu na empresa, os conflitos de interesses. 4 EVOLUÇÃO DAS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA Objetivos Neste módulo, mostraremos como a Bovespa tem sido protagonista nas iniciativas de aplicabilidade da governança corporativa no mercado de capitais brasileiro, tendo criado segmentos especiais de listagem, destinados a empresas com padrões superiores de governança corporativa. Além do mercado tradicional, passaram a existir três segmentos diferenciados de governança: Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado. O objetivo dessas informações é estimular seu interesse como um futuro investidor no mercado de capitais brasileiro e, quiçá, internacional. 4.1 Evolução recente Na década de 1990, com a expansão da economia nacional, investidores estrangeiros começaram a participar, em proporções cada vez maiores, do capital de empresas brasileiras, inicialmente por meio de investimentos realizados dentro do país e, depois, 5 10 15 20 20 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - pela aquisição de ADRs representativos de ações de companhias nacionais nas bolsas americanas. Quando decidiu listar suas ações nas bolsas americanas, as companhias abertas brasileiras foram submetidas a diversas regras impostas pela SEC – Securities and Exchange Commission, órgão regulador do mercado de capitais norte-americano, relacionadas a aspectos contábeis de transparência e divulgação de informações, que nada mais são do que princípios de governança corporativa. Inclusive, essas companhias passaram a ter contato com práticas avançadas de relação com investidores, acionistas minoritários e analistas de mercado, aplicadas no mercado americano, que obrigaram as empresas a aperfeiçoar suas políticas de divulgação de informações por meio, por exemplo, da realização periódica de non deal roadshow2 ou de outras formas de contato com os investidores. Diante disso, companhias brasileiras começaram a ter contato com um universo de controle muito mais exigente e sofisticado, acostumado a investir em mercados com práticas de governança corporativa mais avançadas que as encontradas no mercado brasileiro. A este número crescente de investidores estrangeiros soma-se uma participação crescente de investidores institucionais brasileiros de grande porte mais conscientes de seus direitos. Contudo, o aprimoramento das práticas de governança corporativa e o processo de privatização dos anos 1990 resultaram no surgimento de grandes empresas privatizadas, cujo controle passou a ser compartilhado entre vários grupos nacionais e internacionais. Em face de todo esse contexto, algumas iniciativas institucionais e governamentais foram implementadas nos últimos anos, com o objetivo de assegurar melhorias das práticas 2 Visitas a investidores de um país ou região sem vínculo a uma oferta de títulos. 5 10 15 20 25 30 21 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - de governança corporativa das empresas brasileiras, das quais destacamos: • a aprovação da Lei nº 10.303/01; • a criação do Novo Mercado e dos Níveis 1 e 2 de governança corporativa pela Bolsa de Valores de São Paulo – Bovespa; • as novas regras de definição dos limites de aplicação dos recursos dos fundos de pensão. 4.2 Novo Mercado No final da década de 1990, estava consolidada a crise pela qual passava o mercado de ações nopaís. Para termos uma dimensão, basta olhar para o número de companhias listadas na Bovespa: havia caído de 550 empresas, em 1996, para 440, em 2001. O volume negociado após atingir US$ 191 bilhões, em 1997, recuara para US$ 101 bilhões em 2000 e para US$ 65 bilhões em 2001, sem contar o movimento das companhias para o fechamento de capital (Scheinkman, 2005). Sob tensão, a Bovespa, em mais uma das medidas tomadas com o objetivo de reanimar o mercado, cria o Novo Mercado como um segmento especial de listagem de ações de companhias que se comprometem voluntariamente a adotar as boas práticas de governança corporativa. Numa necessária adaptação à realidade do mercado de ações brasileiro, são criados dois estágios intermediários: Níveis I e II, que, juntos com o Novo Mercado, estabelecem compromissos crescentes de adoção de melhores práticas de governança corporativa (Bovespa, 2002b). O Novo Mercado tem seu fundamento inspirado na constatação de que entre os diversos fatores que contribuem para a fragilidade do mercado de capitais brasileiro está a falta de proteção aos acionistas minoritários. Dessa forma, 5 10 15 20 25 30 22 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - a valorização e a liquidez das ações de um mercado são influenciadas positivamente pelo grau de segurança que os direitos concedidos aos acionistas oferecem e pela qualidade das informações prestadas pelas empresas (Bovespa, 2002a). A ausência de regras adequadas de defesa dos interesses dos acionistas minoritários acarreta a exigência, por parte dos investidores, de um deságio sobre o preço da ação, causando uma desvalorização no valor de mercado das companhias. Dessa forma, é esperado que as empresas cujas ações estejam listadas em um dos segmentos diferenciados de governança corporativa, nas quais os riscos envolvidos são minimizados, apresentem prêmios de risco consideravelmente reduzidos, implicando valorização do patrimônio de todos os acionistas (Bovespa, 2001). Abaixo, relacionamos as principais características dos segmentos de negociação de empresas com as boas práticas de governança. Novo Mercado: • realização de ofertas públicas de colocação de ações por meio de mecanismos que favoreçam a dispersão do capital; • manutenção em circulação de uma parcela mínima de ações, representando 25% do capital; • extensão para todos os acionistas das mesmas condições obtidas pelos controladores quando da venda do controle da companhia; • conselho de administração com, no mínimo, cinco membros e mandato unificado de um ano; • disponibilização de balanço anual, seguindo as normas do US GAAP3 ou IAS4; 3 Princípios de Contabilidade Geralmente Aceitos dos Estados Unidos. Conjunto de normas, convenções, padrões e procedimentos contábeis utilizados na produção de informações financeiras, conforme estabelecido pela FASB – Financial Accounting Standards Board. 4Padrões internacionais de contabilidade estabelecidos pelo IASB – International Accounting Standards Board. 5 10 15 20 25 30 23 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - • introdução de melhorias nas informações prestadas trimestralmente, entre as quais a exigência de consolidação e de revisão especial; • obrigatoriedade da realização de uma oferta de compra de todas as ações em circulação pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento do capital ou cancelamento do registro de negociação no Novo Mercado; • prestação de informações sobre negociações envolvendo ativos e derivativos de emissão da companhia por parte de acionistas controladores ou administradores da empresa; • apresentação das demonstrações de fluxo de caixa; • adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado5 para resolução de conflitos societários. Nível 1 As companhias Nível 1 se comprometem, principalmente, com melhorias na prestação de informações ao mercado e com a dispersão acionária. As principais práticas agrupadas no Nível 1 são: • manutenção em circulação de uma parcela mínima de ações, representando 25% do capital; • realização de ofertas públicas de colocação de ações por meio de mecanismos que favoreçam a dispersão do capital; • melhoria nas informações prestadas trimestralmente, entre as quais a exigência de consolidação e de revisão especial; 5 Divisão criada pela Bolsa de Valores de São Paulo para a solução de conflitos societários que possam surgir nas empresas do Novo Mercado e do Nível 2 de Governança Corporativa. Busca resolver conflitos decorrentes da aplicação das disposições contidas na Lei das SAs, nos estatutos das companhias, nas normas do Conselho Monetário Nacional, do Banco Central e da CVM - Comissão de Valores Mobiliários, e nas demais normas aplicáveis ao mercado de capitais em geral. 5 10 15 20 25 24 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - • prestação de informações sobre negociações de ativos e derivativos de emissão da companhia por parte de acionistas controladores ou administradores da empresa; • divulgação de acordos de acionistas e programas de stock options6; • disponibilização de um calendário anual de eventos corporativos; • apresentação das demonstrações do fluxo de caixa. Nível 2 Para a classificação como companhia Nível 2, além da aceitação das obrigações contidas no Nível 1, a empresa e seus controladores adotam um conjunto bem mais amplo de práticas de governança e de direitos adicionais para os acionistas minoritários. Resumidamente, os critérios de listagem de companhias Nível 2 são: • conselho de administração com, no mínimo, cinco membros e mandato unificado de um ano; • disponibilização de balanço anual seguindo as normas do US GAAP ou IAS; • extensão para todos os acionistas detentores de ações ordinárias das mesmas condições obtidas pelos controladores, quando da venda do controle da companhia, e de, no mínimo, 70% deste valor para os detentores de ações preferenciais; • direito de voto às ações preferenciais em algumas matérias, como transformação, incorporação, cisão e fusão da companhia e aprovação de contratos entre a companhia e empresas do mesmo grupo; 6 Forma de remuneração de executivos de uma companhia. Em função de resultados obtidos ou desempenho pessoal, o executivo tem a opção de adquirir ações da companhia, com preço e prazo determinados. Normalmente, o preço é subsidiado, ou seja, abaixo da cotação de mercado. 5 10 15 20 25 25 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - • obrigatoriedade de realização de uma oferta de compra de todas as ações em circulação pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento do capital ou cancelamento do registro de negociação neste Nível; • adesão à câmara de arbitragem para resolução de conflitos societários. O sucesso da iniciativa da Bovespa pode ser atestado pelo nível de adesão das empresas ao Novo Mercado e aos NíveisI e 2 de governança, como comprova a seguinte relação de companhias listadas nesses mercados: Razão Social Nome de Pregão ABYARA PLANEJAMENTO IMOBILIÁRIO S.A. ABYARA AÇÚCAR GUARANI S.A. GUARANI AGRA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS S.A. AGRA INCORP AMERICAN BANKNOTE S.A. ABNOTE AMIL PARTICIPAÇÕES S.A. AMIL B2W - COMPANHIA GLOBAL DO VAREJO B2W VAREJO BCO BRASIL S.A. BRASIL BCO NOSSA CAIXA S.A. NOSSA CAIXA BEMATECH S.A. BEMATECH BMFBOVESPA S.A. BOLSA VALORES MERC FUT BMFBOVESPA BR MALLS PARTICIPAÇÕES S.A. BR MALLS PAR BRASIL BROKERS PARTICIPAÇÕES S.A. BR BROKERS BRASIL ECODIESEL IND COM BIO.OL.VEG.S.A. ECODIESEL BRASILAGRO - CIA BRAS DE PROP AGRÍCOLAS BRASILAGRO BRF - BRASIL FOODS S.A. BRF FOODS BROOKFIELD INCORPORAÇÕES S.A. BROOKFIELD CAMARGO CORREA DESENV. IMOBILIÁRIO S.A. CC DES IMOB CIA CONCESSÕES RODOVIÁRIAS CCR RODOVIAS CIA HERING CIA HERING CIA PROVIDÊNCIA INDÚSTRIA E COMÉRCIO PROVIDÊNCIA CIA SANEAMENTO BÁSICO EST SÃO PAULO SABESP CIA SANEAMENTO DE MINAS GERAIS-COPASA MG COPASA 5 10 26 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - COMPANHIA BRASILEIRA DE MEIOS DE PAGAMENTO VISANET CONSTRUTORA TENDA S.A. TENDA COSAN S.A. INDÚSTRIA E COMÉRCIO COSAN CPFL ENERGIA S.A. CPFL ENERGIA CR2 EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS S.A. CR2 CREMER S.A. CREMER CSU CARDSYSTEM S.A. CSU CARDSYST CYRELA BRAZIL REALTY S.A.EMPREEND E PART CYRELA REALT CYRELA COMMERCIAL PROPERT S.A. EMPR PART CYRE COM-CCP DIAGNÓSTICOS DA AMÉRICA S.A. DASA DROGASIL S.A. DROGASIL EDP - ENERGIAS DO BRASIL S.A. ENERGIAS BR EMBRAER-EMPRESA BRAS DE AERONÁUTICA S.A. EMBRAER EQUATORIAL ENERGIA S.A. EQUATORIAL ESTÁCIO PARTICIPAÇÕES S.A. ESTÁCIO PART ETERNIT S.A. ETERNIT EVEN CONSTRUTORA E INCORPORADORA S.A. EVEN EZ TEC EMPREEND. E PARTICIPAÇÕES S.A. EZTEC FERTILIZANTES HERINGER S.A. FER HERINGER GAFISA S.A. GAFISA GENERAL SHOPPING BRASIL S.A. GENERALSHOPP GRENDENE S.A. GRENDENE GVT (HOLDING) S.A. GVT HOLDING HELBOR EMPREENDIMENTOS S.A. HELBOR HYPERMARCAS S.A. HYPERMARCAS IDEIASNET S.A. IDEIASNET IGUATEMI EMPRESA DE SHOPPING CENTERS S.A IGUATEMI INDÚSTRIAS ROMI S.A. INDS ROMI INPAR S.A. INPAR S/A INVEST TUR BRASIL - DESENV. IMOB. TUR. S.A. INVEST TUR IOCHPE MAXION S.A. IOCHP-MAXION JBS S.A. JBS JHSF PARTICIPAÇÕES S.A. JHSF PART KLABIN SEGALL S.A. KLABINSEGALL LE LIS BLANC DEUX COM CONFEC ROUPAS S.A. LE LIS BLANC 27 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - LIGHT S.A. LIGHT S/A LLX LOGÍSTICA S.A. LLX LOG LOCALIZA RENT A CAR S.A. LOCALIZA LOG-IN LOGISTICA INTERMODAL S.A. LOG-IN LOJAS RENNER S.A. LOJAS RENNER LPS BRASIL - CONSULTORIA DE IMÓVEIS S.A. LOPES BRASIL LUPATECH S.A. LUPATECH M.DIAS BRANCO S.A. IND COM DE ALIMENTOS M.DIASBRANCO MAGNESITA REFRATÁRIOS S.A. MAGNESITA SA MARFRIG ALIMENTOS S/A MARFRIG MARISA S.A. MARISA MEDIAL SAÚDE S.A. MEDIAL SAÚDE METALFRIO SOLUTIONS S.A. METALFRIO MINERVA S.A. MINERVA MMX MINERAÇÃO E METÁLICOS S.A. MMX MINER MPX ENERGIA S.A. MPX ENERGIA MRV ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES S.A. MRV NATURA COSMÉTICOS S.A. NATURA OBRASCON HUARTE LAIN BRASIL S.A. OHL BRASIL ODONTOPREV S.A. ODONTOPREV OGX PETRÓLEO E GÁS PARTICIPAÇÕES S.A. OGX PETROLEO PDG REALTY S.A. EMPREEND E PARTICIPAÇÕES PDG REALT PORTO SEGURO S.A. PORTO SEGURO PORTOBELLO S.A. PORTOBELLO POSITIVO INFORMÁTICA S.A. POSITIVO INF PROFARMA DISTRIB PROD FARMACÊUTICOS S.A. PROFARMA REDECARD S.A. REDECARD RENAR MACAS S.A. RENAR RODOBENS NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS S.A. RODOBENSIMOB ROSSI RESIDENCIAL S.A. ROSSI RESID SÃO CARLOS EMPREEND E PARTICIPAÇÕES S.A. SÃO CARLOS SÃO MARTINHO S.A. SÃO MARTINHO SATIPEL INDUSTRIAL S.A. SATIPEL SLC AGRÍCOLA S.A. SLC AGRÍCOLA SPRINGS GLOBAL PARTICIPAÇÕES S.A. SPRINGS 28 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - TARPON INVESTIMENTOS S.A. TARPON INV TECNISA S.A. TECNISA TEGMA GESTÃO LOGÍSTICA S.A. TEGMA TEMPO PARTICIPAÇÕES S.A. TEMPO PART TOTVS S.A. TOTVS TPI - TRIUNFO PARTICIP. E INVEST. S.A. TRIUNFO PART TRACTEBEL ENERGIA S.A. TRACTEBEL TRISUL S.A. TRISUL WEG S.A. Quadro 02 – Empresas listadas no Novo Mercado Fonte: Bovespa, 2009. Razão Social Nome de Pregão ARACRUZ CELULOSE S.A. ARACRUZ BCO BRADESCO S.A. BRADESCO BCO CRUZEIRO DO SUL S.A. CRUZEIRO SUL BCO DAYCOVAL S.A. DAYCOVAL BCO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL S.A. BANRISUL BCO INDUSTRIAL E COMERCIAL S.A. BICBANCO BCO INDUSVAL S.A. INDUSVAL BCO PANAMERICANO S.A. PANAMERICANO BCO PINE S.A. PINE BRADESPAR S.A. BRADESPAR BRASIL TELECOM PARTICIPAÇÕES S.A. BRASIL T PAR BRASIL TELECOM S.A. BRASIL TELEC BRASKEM S.A. BRASKEM CENTRAIS ELET BRAS S.A. - ELETROBRÁS ELETROBRÁS CESP - CIA ENERGÉTICA DE SÃO PAULO CESP CIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO P. AÇÚCAR-CBD CIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS - CEMIG CEMIG CIA FIAÇÃO TECIDOS CEDRO CACHOEIRA CEDRO CIA PARANAENSE DE ENERGIA - COPEL COPEL CONFAB INDUSTRIAL S.A. CONFAB CTEEP - CIA TRANSMISSÃO ENERGIA ELÉTRICA PAULISTA TRAN PAULIST 29 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - DURATEX S.A. DURATEX FRAS-LE S.A. FRAS-LE GERDAU S.A. GERDAU ITAÚ UNIBANCO HOLDING S.A. ITAÚ UNIBANCO ITAUSA INVESTIMENTOS ITAÚ S.A. ITAUSA KLABIN S.A. KLABIN S/A MANGELS INDUSTRIAL S.A. MANGELS INDL METALÚRGICA GERDAU S.A. GERDAU MET PARANÁ BCO S.A. PARANÁ PARANAPANEMA S.A. PARANAPANEMA RANDON S.A. IMPLEMENTOS E PARTICIPAÇÕES RANDON PART SADIA S.A. SADIA S/A SÃO PAULO ALPARGATAS S.A. ALPARGATAS SUZANO PAPEL E CELULOSE S.A. SUZANO PAPEL ULTRAPAR PARTICIPAÇÕES S.A. ULTRAPAR UNIPAR UNIÃO DE IND PETROQ S.A. UNIPAR USINAS SID DE MINAS GERAIS S.A.-USIMINAS USIMINAS VALE S.A. VALE VOTORANTIM CELULOSE E PAPEL S.A. V C P Quadro 03 – Empresas listadas no Nível 1 Fonte: Bovespa, 2009. Razão Social Nome de Pregão ALL AMÉRICA LATINA LOGÍSTICA S.A. ALL AMER LAT ANHANGUERA EDUCACIONAL PARTICIPAÇÕES S.A ANHANGUERA BCO ABC BRASIL S.A. ABC BRASIL BCO SOFISA S.A. SOFISA CENTRAIS ELET DE SANTA CATARINA S.A. CELESC ELETROPAULO METROP. ELET. SÃO PAULO S.A. ELETROPAULO GOL LINHAS AÉREAS INTELIGENTES S.A. GOL KROTON EDUCACIONAL S.A. KROTON MARCOPOLO S.A. MARCOPOLO MULTIPLAN - EMPREEND IMOBILIÁRIOS S.A. MULTIPLAN NET SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO S.A. NET 30 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - SANTOS BRASIL PARTICIPAÇÕES S.A. SANTOS BRP SARAIVA S.A. LIVREIROS EDITORES SARAIVA LIVR SEB - SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO S.A SEB SUL AMÉRICA S.A. SUL AMÉRICA TAM S.A. TAM S/A TERNA PARTICIPAÇÕES S.A. TERNA PART UNIVERSO ONLINE S.A. UOL Quadro 04 – Empresas listadas no Nível 2 Fonte: Bovespa, 2009 Comprovando a importância assumida pelo Novo Mercadoe a crescente adesão das companhias às suas regras, observamos que a grande maiorias das distribuições primárias de ações realizadas ao longo de 2004 e todos os IPOs foram feitos por companhias cujas ações são listadas em um dos níveis diferenciados de governança corporativa da Bovespa, especialmente o Nível 2 e o Novo Mercado. Mesmo entre os segmentos da Bolsa que exigem boas práticas de governança, houve uma diferença de aceitação por parte dos investidores, como mostra levantamento realizado pela revista Capital Aberto com o apoio dos dados da Thomson Financial e da Economática, comparou o múltiplo EV7/Ebitda8 (valor da companhia em relação a sua geração operacional de caixa) das companhias que fizeram ofertas públicas de ações neste ano e constatou que os investidores se dispuseram a pagar mais por companhias listadas no Novo Mercado e no Nível 2 (Garcia, 2005). Ainda segundo Garcia (2005), Diagnósticos da América (DASA), Grendene, Gol, ALL e Natura foram avaliadas a múltiplos bem superiores aos das companhias registradas no Nível 1 da Bovespa – segmento que prevê uma série de 7 Valor de mercado da empresa, descontada a dívida líquida. 8 Em português, LAJIDA (Lucro Antes do pagamento de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização do diferido). Elemento de avaliação que mede a geração de caixa nas operações da empresa, antes que seja afetada pelos encargos financeiros e débitos contábeis. 5 10 15 20 31 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - exigências de transparência, mas não aproxima os direitos das ações ordinárias e preferenciais, como fazem os Níveis 2 e Novo Mercado. O compromisso das companhias brasileiras com as boas práticas de governança corporativa atesta o fato de que diversas companhias listadas nos níveis intermediários do Novo Mercado ou mesmo no segmento tradicional de negociações da Bovespa asseguram, voluntariamente, mais direitos aos acionistas do que aqueles previstos no regulamento da bolsa, como demonstra o Quadro 04, abaixo, que apresenta o percentual do tag along concedido paras as ações ordinárias (ON) e preferenciais (PN) e os segmentos de mercado em que são negociadas: ON PN ALL 100 100 Nível 2 Banco do Brasil 100 - Tradicional Batistella 80 80 Tradicional Bradesco 100 80 Nível 1 Brasken 100 100 Nível 1 Cambuci 80 80 Tradicional CCR 100 - Novo Mercado Cedro 80 80 Nível 1 Celesc 100 100 Nível 2 Chiarelli 80 80 Tradicional Coteminas 80 80 Tradicional CPFL Energia 100 - Novo Mercado DASA 100 - Novo Mercado Duratex 80 80 Tradicional Eleikeiroz 80 80 Tradicional Eletropaulo 100 70 Nível 2 Etemir 100 80 Nível 2 Catagazes 80 80 Tradicional Geração 80 80 Tradicional Gerdau Met 100 100 Nível 1 5 10 32 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - Gerdau 100 100 Nível 1 Gol 100 100 Nível 2 Grazziotin 80 80 Tradicional Grendene 100 - Novo Mercado Ideíasnet 100 - Tradicional Itaú 80 80 Nível 1 Itausa 80 80 Nível 1 Localiza 100 - Novo Mercado Marcopolo 100 80 Nível 2 Marisol 80 80 Tradicional Metalúrgica Iguaçu 80 100 Tradicional Nadir Figueiredo 80 80 Tradicional Natura 100 - Novo Mercado Net 100 100 Nível 2 Perdigão 80 80 Nível 1 Petropar 80 80 Tradicional Pettenati 80 80 Tradicional Porto Seguro 100 - Novo Mercado Randon 80 80 Nível 1 Renar maçâs 100 - Novo Mercado Rhodia Ster 80 80 Tradicional Sabesp 100 - Novo Mercado Sansuy 80 80 Tradicional Saraiva 80 90 Tradicional Submarino 100 - Novo Mercado Suzano 100 80 Nível 2 TAM 100 100 Nível 2 Tekno 80 80 Tradicional Tupy 100 100 Tradicional Ultrapar 100 100 Tradicional Weg 80 80 Nível 1 Quadro 04 – Percentual dos tag along concedidos pelas empresas listadas Fonte: Bovespa, 2009. 33 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - Evolução do índice Bovespa 14.090 12.122 18.154 16.005 24.467 33.605 27.324 22.022 14.458 26.500 27.841 35.124 44.929 51.631 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2007 2001 2005 2002 2000 2001 1994 Índice Bovespa 1997 Figura 01 – Evolução do índice Bovespa Fonte: Revista Época, 2007. (A pontuação, já corrigida pela inflação, subiu mais de dez vezes desde 1994.) 1994 – Estabilização do Real. 1997 – Crise da Ásia derruba mercados no mundo todo. 2000 – Estouro da bolha da Internet. 2001 – Estreia do Novo Mercado. Raymundo Magliano Filho lidera greve de operadores do pregão contra a incidência da CPMF sobre operações em bolsa. Ataques terroristas de 11 de setembro fecham a Bolsa de Nova York. 2002 – Primeiras empresas aderem ao Novo Mercado, entre elas a Comgás. 2005 – Fim do pregão de viva-voz. Começa a era dos negócios online. 2007– A Bovespa começa a se estruturar para a abertura de capital. Em Nova York, o índice Dow Jones atinge o recorde histórico de 13 mil pontos. 5 10 15 34 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - Ponto de reflexão Você é capaz de dimensionar a importância do Novo Mercado na governança dos negócios empresariais no Brasil? 4.3 Resumo Este módulo apresentou a você, além do mercado tradicional de capitais, outros três segmentos diferenciados de governança, que passaram a existir com a criação do Novo Mercado: Nível 1, Nível 2 e o próprio Novo Mercado. 5 A ORIGEM DA GOVERNANÇA CORPORATIVA E SUA IMPORTÂNCIA PARA AS ORGANIZAÇÕES NO ATUAL CONTEXTO BRASILEIRO E MUNDIAL Objetivos Neste módulo, contaremos a você toda a história do surgimento da governança corporativa por meio de uma linha do tempo, para que você não perca um só detalhe. Preparamos ainda comparações de modelos de governança corporativa espalhados pelos continentes asiático, europeu e americano, no intuito de ilustrarmos melhor este tema e para que você também possa construir seu próprio entendimento a respeito. 5.1 Linha do tempo - 1992 Governança em outros paises O Relatório Cadbury é considerado o primeiro código de boas práticas de governança corporativa. Tal documento, elaborado por uma comissão coordenada por Sir Adrian 5 10 15 35 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - Cadbury, surgiu como resposta aos escândalos registrados nos mercados corporativo e financeiro da Inglaterra no final dos anos 1980. O relatório influenciou os futuros códigos de diversos países. Como marco da sua implementação nas empresas, temos a General Motors, que divulgou suas Diretrizes de Governança Corporativa, consideradas o primeiro código de governança elaborado por uma empresa. Governança no Brasil Não há registro sobre governançaneste período. 5.2 Linha do tempo - 1994 Governança em outros paises Em pesquisa realizada pelo Calpers (California Public Employees Retirement System), observou-se que mais da metade das trezentas maiores companhias dos EUA havia desenvolvido manuais próprios de recomendações de governança corporativa. Governança no Brasil Não há registro sobre governança neste período. 5.3 Linha do tempo - 1995 Governança em outros paises Publicação do Relatório Vienot, marco da governança na França. Governança no Brasil Fundado o Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração (IBCA), atual IBGC. 5 10 15 20 36 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - 5.4 Linha do tempo - 1996 Governança em outros paises Não há registros relevantes sobre governança neste período. Governança no Brasil O primeiro evento público do IBCA, no Museu de Arte Moderna, abre o ciclo de debates, inédito no país, sobre conselheiros de administração e governança corporativa. 5.5 Linha do tempo - 1997 Governança em outros paises Criação do Novo Mercado (Neuer Markt) da Bolsa de Frankfurt, Alemanha. No mesmo ano, a Federação Japonesa das Organizações Econômicas lança um relatório com recomendações sobre governança corporativa. Em setembro, ocorre a crise asiática, fomentada, entre outras coisas, por más práticas de governança corporativa. Governança no Brasil É aprovada a Lei 9.457, reformando a Lei das Sociedades Anônimas original (Lei 6.404/1976). A lei revoga o tag along de 100% para ordinaristas, sendo considerada um retrocesso na questão dos direitos dos acionistas minoritários. 5.6 Linha do tempo - 1998 Governança em outros paises Em julho, é lançado o relatório britânico, produzido pelo Comitê Hampel, intitulado Combined Code. 5 10 15 20 37 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - O Comitê de Governança Corporativa, estabelecido pelo Fórum de Governança Corporativa do Japão, elabora Os princípios de governança corporativa - uma visão japonesa. O documento baseou-se no relatório britânico, porém com diretrizes mais modestas. No mesmo ano, a OCDE cria o Business Sector Advisory Group on Corporate Governance. Governança no Brasil Criado o primeiro fundo voltado para a governança (Dynamo Puma) no programa de Valor e Liquidez do BNDESPar. 5.7 Linha do tempo – 1999 Governança em outros paises O grupo de governança corporativa da OCDE abre caminho para a consolidação dos Principles of Corporate Governance, divulgados em maio, contendo diretrizes e recomendações sobre as boas práticas de governança. Governança no Brasil O IBCA passa a se denominar IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). Lançado o primeiro código brasileiro sobre governança corporativa, o Código das melhores práticas de governança corporativa, de autoria do IBGC. 5.8 Linha do tempo – 2000 Governança em outros paises O Banco Mundial e o Mckinsey concluem em estudo que investidores estão dispostos a pagar entre 18% e 28% a mais por empresas com governança. 5 10 15 20 38 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - Em São Paulo, acontece a primeira mesa redonda sobre governança corporativa na América Latina, cujo resultado foi a produção de um relatório com as conclusões da realidade de cada região. Governança no Brasil Em novembro, o IBGC realiza o 1° Congresso Brasileiro de Governança Corporativa, em comemoração ao quinto aniversário do Instituto, com a intenção de divulgar os conceitos e práticas de governança. Em dezembro, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) lança oficialmente os segmentos diferenciados de governança corporativa: Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado. 5.9 Linha do tempo – 2001 Governança em outros paises Em novembro, são divulgados os problemas de fraude contábil na Enron. Na sequência, diversas empresas norte- americanas são obrigadas a refazer suas demonstrações financeiras. Como uma das consequências, a empresa de auditoria norte-americana Arthur Andersen cessa suas operações, após ser acusada de obstruir os trabalhos da Justiça. O código produzido pela OCDE é revisado e incorpora o resultado de debates internacionais. Governança no Brasil A Bovespa cria o Índice de Governança Corporativa (IGC), cujo objetivo é medir o desempenho de uma carteira composta por ações de empresas que apresentem bons níveis de governança. A Lei das SAs é reformulada e é promulgada a Lei 10.303/2001, apresentando avanços, mesmo que tímidos, em relação ao projeto inicial. 5 10 15 20 25 39 GOVERNANÇA CORPORATIVA Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - 5.10 Linha do tempo – 2002 Governança em outros paises O Congresso norte-americano aprova a Lei Sarbanes-Oxley (SOX) em julho, como resposta aos escândalos corporativos envolvendo grandes empresas do país, como a Enron, Worldcom, Tyco, entre outras. No mês seguinte, a SEC (Securities and Exchange Commission) edita algumas normas complementares e a Bolsa de Valores de Nova York aprova novos requisitos de governança corporativa como condição para listagem de empresas. Governança no Brasil Em junho, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) lança sua cartilha sobre governança: Recomendações da CVM sobre governança corporativa, voltada para as companhias abertas. A CCR e a Sabesp ingressam pioneiramente no Novo Mercado. 5.11 Linha do tempo – 2003 Governança em outros paises Em maio, a Nasdaq anuncia normas semelhantes as da Bolsa de Nova York. Em dezembro, ocorre um escândalo corporativo na Parmalat, sendo o primeiro de muitos problemas de governança corporativa com grandes empresas da Europa. Na Inglaterra, é lançado o Higgs Report, contendo recomendações sobre o papel dos conselheiros externos. É lançado o Revised Combined Code, uma revisão do código de governança britânico. As empresas do país passam a ser sujeitas 5 10 15 20 40 Unidade I Re vi sã o: B ea tr iz - D ia gr am aç ão : L éo - 1 4/ 07 /2 01 0 - 2º R ev is ão : B ea tr iz - R ed ia gr am aç ão : L éo 2 4/ 07 /2 01 0 - à regra do comply or explain (pratique ou explique), sendo obrigadas a divulgar de forma clara as eventuais práticas de governança não adequadas às recomendações do código do país. Na Alemanha, é lançado o código de governança alemão, que seguia de forma similar a abordagem do comply or explain. Governança no Brasil Realizada a primeira edição do Prêmio IBGC de Monografias. Lançada a pesquisa Panorama Atual da Governança Corporativa no Brasil, objeto de parceria entre o IBGC e a Booz Allen Hamilton. 5.12 Linha do tempo – 2004 Governança em outros paises A partir de recomendação da V Mesa Redonda de Governança Corporativa da América Latina, a OCDE cria o Círculo de Companhias. Governança no
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