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0 CENTRO UNIVERSITÁRIO - UNINOVAFAPI BACHARELADO EM ENFERMAGEM TAYSE RIBEIRO DE OLIVEIRA ROXANNY ENOLYLARA OLIVEIRA LIRA COSTA PERCEPÇÃO DAS MULHERES SOBRE VIOLÊNCIA OBSTETRICA TERESINA –PI 1 TAYSE RIBEIRO DE OLIVEIRA ROXANNY ENOLYLARA OLIVEIRA LIRA COSTA PERCEPÇÃO DAS MULHERES SOBRE VIOLÊNCIA OBSTETRICA Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, apresentado ao Centro Universitário – UNINOVAFAPI, como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Enfermagem. Orientadora: Profa. Especialista. Nadiana Lima Monte TERESINA 2016 2 3 4 Dedicamos este trabalho a todos aqueles que nos apoiaram e contribuíram direta ou indiretamente para concretização deste. 5 AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, pelo dom da vida, pela sabedoria, paciência, amparo e por ter nos guiado para concluirmos essa pesquisa. À nossa Orientadora, Professora, Especialista Nadiana Lima Monte pela paciência, disponibilidade e pelos momentos dedicados na orientação deste trabalho. À professora Mestra Francisca Cecília Viana Rocha. Pelos os ensinamentos dedicados na disciplina de Trabalho de Conclusão do Curso. Aos nossos familiares e amigos pelo apoio, compreensão e pela ajuda na concretização de mais uma jornada. À maternidade Dona Evangelina Rosa, por nos disponibilizar o espaço para a realização dessa pesquisa e por nos acolher tão bem. Agradeço às mulheres que participaram deste estudo, pois com brandura compartilharam conosco seus sentimentos e emoções durante um dos momentos mais importantes de suas vidas, a gestação e o parto, contribuindo de maneira inestimável para este trabalho. Ao Centro Universitário UNINOVAFAPI por ter contribuído e muito para nossa realização profissional. E a todos os professores, pacientes e demais pessoas que encontramos nessa fase tão importante de nossas vidas. 6 “As nuvens mudam sempre de posição, mas são sempre nuvens no céu. Assim devemos ser todo dia, mutantes, porém leais com o que pensamos e sonhamos; lembre-se, tudo se desmancha no ar, menos os pensamentos”. (Paulo Beleki) 7 RESUMO O presente trabalho trata sobre violência obstétrica, que se caracteriza pela apropriação do corpo e processos reprodutivos das mulheres pelos profissionais da saúde, através do tratamento desumanizado, abuso da medicação e patologização dos processos naturais, causando a perda da autonomia e capacidade de decidir livremente sobre os seus corpos e sexualidade, impactando negativamente na qualidade de vida das mulheres. Tendo como objeto de estudo, a percepção das mulheres sobre violência obstétrica no processo parturitivo. O objetivo dessa pesquisa é caracterizar a violência obstétrica vivenciada pelas mulheres durante o processo parturitivo. Metodologia Trata-se de um estudo de campo, de natureza exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa, fundamentada com uma revisão de literatura. A pesquisa teve como cenário uma maternidade pública do Estado do Piauí. Os participantes da pesquisa foram mulheres que buscam atendimento na referida maternidade. A coleta dos dados foi feita por intermédio da técnica do Grupo Focal. E de entrevistas complementares. A coleta dos dados foi realizada no mês de março de 2016. Foram analisados o perfil sócio demográficos das mulheres, após análise das entrevistas e considerando o objeto de estudo, surgiu duas categorias na pesquisa. Negligencia na assistência e Agressão verbal. Conclusão por ser um tema que abrange em sua totalidade situações comuns do nosso dia-a-dia, trazendo em particular aspectos que envolvem as relações humanas e o contexto sociocultural. O presente estudo pretende contribuir, fornecendo aos profissionais um panorama sobre o assunto, viabilizando o entendimento e a discussão da temática Descritores: violência Obstétrica e Violência Institucional. 8 ABSTRACT The present work treats on obstetric violence, characterized by that by the appropriation of the body women reproductive processes of by health professionals, through the dehumanized treatment medication abuse and pathologisation of natural processes, causing the loss of autonomy and ability to decide freely about your body and sexuality, negatively impacting the quality of life of women. With the object of study, the perception of women on obstetric violence in the process parturition. The objective of this research it is characterize the violence obstetric experienced by women during the birth process. Methodology This a field study, exploratory and descriptive, with a qualitative approach, grounded with a literature review. The search had as scenario a public maternity State of Piauí. The participants search was women who search assistance in that maternity. The data collection was done through the intermediary of technique of focus group. and complementary interviews. The data collection was carried out in March 2016. They analyzed the profile partner demographic of women, after analysis of the interviews and considering the object of study, arose two categories in the survey. Negligence in assistance and verbal aggression. Conclusion to be a theme that encompasses in its totality common situations of our dayto-day, bringing in particular aspects involving human relationships and the sociocultural context. This study intends to contribute, providing professionals a panorama on the subject, enabling the understanding and the theme of discussion. KEYWORDS: violence obstetric, Institutional violence 9 SUMÁRIO 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 10 1.1 OBJETO DE ESTUDO 12 1.2 QUESTÃO NORTEADORA 12 1.3 OBJETIVO 12 1.4 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA 11 2 REFERENCIAL TEMÁTICO 13 3 METODOLOGIA 16 4 RESULTADO E DISCURSÃO DOS DADOS 20 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 26 6 REFERENCIAS 27 APENDICES ANEXOS10 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A violência obstétrica existe e caracteriza-se pela a apropriação do corpo e processos reprodutivos das mulheres pelos profissionais da saúde, através do tratamento desumanizado, abuso da medicação e patologização dos processos naturais, causando a perda da autonomia e capacidade de decidir livremente sobre os seus corpos e sexualidade, impactando negativamente na qualidade de vida das mulheres (BRASIL, 2013) Em países como Argentina e Venezuela, a violência é reconhecida como um crime cometido contra mulheres, e como tal deve ser prevenido, punido e erradicado. Para que a realidade da violência obstétrica mude, é necessário compreendê-la e denunciá-la, bem como assegurar que os casos em que ela aconteceu sejam acolhidos, apurados e julgados. É também necessário que se cumpram as leis e normas vigentes no país, que garantem às mulheres o pleno exercício de sua cidadania, liberdade sexual e reprodutiva e direito à saúde (BRASIL, 2013) O parto é um evento social que integra o rol das experiências humanas mais significativas para os envolvidos. Diferente de outros eventos que requerem assistência hospitalar, o parto é um processo fisiológico normal que requer cuidado e acolhimento. Apesar disto, de acordo com a literatura vigente, esse momento é, várias vezes, permeado pela violência institucional, cometida justamente por aqueles que deveriam ser seus principais cuidadores (AGUIAR; D’OLIVEIRA2011) Esta violência, segundo D‘oliveira, Diniz e Schraiber (2002), é expressa desde a negligência na assistência, discriminação social, violência verbal (tratamento grosseiro, ameaças, reprimendas, gritos, humilhação intencional) e violência física (incluindo não utilização de medicação analgésica quando tecnicamente indicada), até o abuso sexual. Por isso, a assistência ao parto no Brasil é frequentemente vista como uma forma de violência contra as mulheres, na qual são despersonalizadas, desumanizadas e submetidas a uma série de intervenções, muitas vezes desnecessárias, como a prática habitual da episiotomia. Porém, os preconceitos ainda presentes na formação do profissional de saúde e na organização dos hospitais fazem com que as frequentes violações dos direitos humanos e direitos reprodutivos conquistados pelas mulheres sejam incorporadas e passem a fazer parte da “rotina normal” da assistência obstétrica. (SANTOS, et al.2008) Para Frutuoso, e Bruggemann, (2013) no Brasil, toda mulher tem direito a um acompanhante de sua escolha durante todo o período de duração do trabalho de parto, parto e 11 pós-parto, além de ser tratada com dignidade e ter garantida sua integridade física e psicológica. Ainda de acordo com os autores acima. Possibilitar que a mulher tenha um acompanhante, de sua livre escolha, no trabalho de parto, parto e pós-parto, é considerada uma prática benéfica que deve ser encorajada e está amparada pelas evidências científicas. As mulheres que recebem apoio contínuo durante o trabalho de parto, quando comparadas com as que não possuem um provedor de apoio, têm mais chance de não serem submetidas à cesariana e de terem um parto normal sem uso de analgesia; tempo de trabalho de parto reduzido; menor insatisfação com a experiência do processo de nascimento. Frutuoso, e Bruggemann, (2013) A desvalorização do parto natural e a prática cada vez maior de intervenções cirúrgicas desnecessárias mostram o quanto a população feminina é carente de informação e educação em saúde. A relação profissional de saúde-paciente, usualmente assimétrica, faz com que as mulheres, sentindo-se menos capacitadas para escolher e fazer valer seus desejos, tenham dificuldades em participar da decisão diante das questões técnicas levantadas pelos profissionais de saúde. Fato este que poderia ser solucionado ou pelo menos amenizado com a prática da humanização na assistência ao parto e nascimento, que engloba os cuidados de enfermagem durante o processo gravídico puerperal (MARQUE; DIAS; AZEVEDO, 2006) A violência na assistência ao processo parturitivo se constitui um grave problema para a saúde da mulher. Evidencia-se que 25% das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de violência durante o seu trabalho de parto e parto. Essa violência é resultado da própria precariedade do sistema de saúde, que também restringe consideravelmente o acesso aos serviços oferecidos. Tal cenário faz com que muitas mulheres em trabalho de parto passem por uma verdadeira peregrinação em busca de uma vaga na rede pública do serviço de saúde, com sério risco para a própria vida e a de seu concepto por falta de atendimento em tempo hábil (RODRIGUES, et al. 2014) Por outro lado, o desconhecimento e o desrespeito, aos direitos sexuais e reprodutivos, além dos direitos humanos da mulher, possibilitam a imposição de normas e valores morais depreciativos levadas a efeito por alguns profissionais de saúde. Tais normas e valores também são apontados como importantes fatores de formação da complexa trama de relações que envolvem as atitudes de violência com as mulheres. Majoritariamente, esses maus tratos relacionam-se com uma assistência discriminatória quanto ao gênero, entrelaçados com questões de classe social e etnia subjacente à permanência de uma ideologia que naturaliza a 12 condição social e reprodutora da mulher com seu destino biológico (RODRIGUES, et al. 2014) Dessa maneira mostra-se evidente a necessidade de se refletir que é necessário modificar o acesso ao direito reprodutivo básico. Implementar estratégias para aumentar a segurança, um atendimento humanizado, aumentado a satisfação das usuárias, nas maternidades e hospitais. Com intuito de que os atendimentos nesses locais possam ser uma experiência gratificante para as parturientes. 1.1 OBJETO DE ESTUDO A percepção das mulheres sobre violência obstétrica no processo parturitivo. 1.2 QUESTÃO NORTEADORA Como se caracteriza a violência obstétrica no processo parturitivo? 1.3 OBJETIVO Caracterizar e analisar a violência obstétrica vivenciada pelas mulheres durante o processo parturitivo. Em uma maternidade pública da cidade de Teresina, Estado do Piauí. 1.4 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA O tema surgiu a partir da vivência em estágios da disciplina Saúde da Mulher, onde tivemos uma aproximação maior com as mulheres em processo parturitivo. Durante a assistência ouviu-se relatos de situações de violência sofridas pelas mesmas. Entende-se que se submeteram a elas principalmente por desconhecerem o processo fisiológico do parto, por temerem pelo bebê, pelo mau atendimento, pela condição de desigualdade entre médico e paciente. A violência obstétrica na percepção das mulheres no processo parturitivo, e suas repercussões perinatais, é um tema que abrange em sua totalidade situações comuns do nosso dia-a-dia, trazendo em particular aspectos que envolvem as relações humanas e o contexto sociocultural. O presente estudo pretendeu contribuir, fornecendo aos profissionais um panorama sobre o assunto, viabilizando o entendimento e a discussão da temática. 13 2 REFERENCIAL TEMÁTICO Atualmente discute-se a necessidade de humanizar o cuidado, a assistência, a relação com o usuário do serviço de saúde. O SUS instituiu uma política pública de saúde que, apesar dos avanços acumulados, hoje, ainda enfrenta fragmentação do processo de trabalho e das relações entre os diferentes profissionais, fragmentação da rede assistencial, precária interação nas equipes, burocratização e verticalização do sistema, baixo investimento na qualificação dos trabalhadores, formação dos profissionais de saúde distante do debatee da formulação da política pública de saúde, entre outros aspectos tão ou mais importantes do que os citados aqui, resultantes de ações consideradas desumanizadas na relação com os usuários do serviço público de saúde(OLIVEIRA; COLLET, 2006) Nesse sentido, justifica-se a reflexão sobre a humanização, que deve considerar a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores; fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos; aumento do grau de corresponsabilidade na produção de saúde; estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no processo de gestão; identificação das necessidades sociais de saúde; mudança nos modelos de atenção e gestão dos processos de trabalho, tendo como foco as necessidades dos cidadãos e a produção de saúde. (OLIVEIRA; COLLET, 2006) Em 1985, a Organização Mundial de Saúde publicou o documento "Tecnologia Apropriada para Partos e Nascimentos". Este documento retrata os deveres dos serviços de saúde em relação ao parto e nascimento, discorda do uso inapropriado e indiscriminado de tecnologias invasivas no parto, assim como destaca os direitos da população à assistência pré- natal e à informação (PORFIRÍO, PROGIANTI, SOUZA, 2010) Anos depois, em 1995, o Ministério da Saúde (MS), a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), o Fundo das Nações para Infância (UNICEF), a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas sobre População (FNUP) lançaram o projeto "Maternidade Segura" que é um conjunto de oito passos considerados seguros para o processo de gestar e parir (PORFIRÍO; PROGIANTI; SOUZA 2010) Em 1998, o MS criou portarias e resoluções regulamentando várias ações e incentivos a humanização. Neste sentido houve as publicações das portarias MS/2815 de 29 de maio de 1998 e MS/163 de 22 de setembro de 1998, que propõe a assistência ao parto de baixo risco pela profissional enfermeira obstétrica e cria o modelo do Laudo de Enfermagem para 14 Emissão de Autorização de Internação Hospitalar - AIH, respectivamente (PORFIRÍO; PROGIANTI; SOUZA, 2010) A expressão "humanização do parto" tem sido utilizada pelo Ministério da Saúde, desde o final da década de 1990, como forma de se referir a uma série de políticas públicas promovidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), pelo Banco Mundial, com o apoio de diversos atores sociais, como ONGs e entidades profissionais (HOTIMSKY; SCHRAIBER, 2005) No Brasil, um grande passo na luta pela humanização do parto foi dado com a criação do Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), instituído pela portaria nº 569, de 01/06/2000, do Ministério da Saúde (BRASIL 2000) O PHPN tem como foco principal o resgate da dignidade durante o processo parturitivo, bem como a transformação da assistência durante a gestação, parto e puerpério, priorizando o parto vaginal, a não medicalização do parto e a redução de intervenções cirúrgicas desnecessárias, tornando assim, o momento do parto um processo mais ativo por parte da mulher (GRIBOSKI; GUILHEM, 2006. PINHEIRO; BITTAR, 2012) No Brasil, a pessoa escolhida pela mulher para acompanhá-la durante o trabalho de parto e parto, geralmente, tem sido responsável pelo apoio, desenvolvendo medidas que contemplam, de modo especial, os aspectos emocionais e de conforto físico. No entanto, para que o acompanhante desempenhe esse papel, é necessário acolhê-lo e inseri-lo no contexto institucional, fornecendo-lhe as orientações necessárias. (FRUTUOSO; BRUGGEMANN, 2013) Ainda de acordo com os autores citados acima, a obrigatoriedade em permitir a presença de um acompanhante, de livre escolha da mulher, durante o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, nas instituições de saúde brasileiras, é amparada pela Lei n. 11.108/2005. Essa conquista é resultado de esforços de entidades, movimentos sociais e, principalmente, da campanha organizada pela Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (REHUNA) em prol do direito à presença de um acompanhante de livre escolha da mulher. O parto representa um marco na vida de qualquer mulher que o vivencia, trazendo amplas repercussões nos âmbitos físico, psicológico e social. Do ponto de vista psicológico, constitui-se em um momento em que as expectativas e ansiedades que acompanharam a gestante tomam uma dimensão real, a qual será lembrada intensamente, em decorrência das emoções positivas ou negativas experimentadas (GOMES; FONSECA; ROBALLO, 2011) Ainda conforme as referidas autoras, embora se saiba que condutas baseadas somente nos aspectos físicos não são suficientes, em nosso país vigora um modelo de assistência em 15 que o domínio do evento fisiológico, muitas vezes, é mais relevante que o bem-estar da parturiente. Esse modelo caracteriza-se pelo enfoque nos riscos potenciais, os quais justificam a execução de um grande número de procedimentos invasivos, como o uso de cistócitos, e até mesmo intervenções danosas como “a proibição de alimentação durante o trabalho de parto, a exigência de tricotomia, a realização rotineira de episiotomia, a imposição de posição de litotomia, além da exclusão da presença de familiares e/ou amigos(as) do processo de parturição. Na realidade, a sofisticação tecnológica da prática obstétrica tornou-a mecanizada e massificada, o que, em muitos casos, gera maior insegurança e ansiedade na mulher, prejudicando o trabalho de parto. Na última década, a assistência ao trabalho de parto tem sido motivo de muitas discussões, tanto no que se refere à qualidade propriamente dita, quanto aos procedimentos utilizados. O parto hospitalar propicia o contato da parturiente com os inquestionáveis avanços tecnológicos da obstetrícia para o controle dos riscos materno-fetais, com os recursos farmacológicos para analgesia e anestesia e com os diversos métodos de controle da vitalidade fetal. Entretanto, deixou-se de valorizar orientações e procedimentos simples para o melhor uso do corpo durante o trabalho de parto (BIO; BITTAR; ZUGAIB, 2006) Os procedimentos e condutas listadas são alguns exemplos do que acontece, com maior ou menor frequência, em maternidades e hospitais públicos e privados no Brasil durante a assistência ao parto. Segundo inúmeros especialistas e pesquisadores da área da saúde contrários à medicalização do nascimento e ativistas da humanização do parto, as incontáveis intervenções médicas praticadas em mães e bebês brasileiros corriqueiramente não são fundamentadas em evidências científicas que as sustentem ou justifiquem. E, além disso, são, há muito tempo, rejeitadas pela Organização Mundial da Saúde (KAMPF, 2013) Nesse sentido, é importante destacar a importância da violência obstétrica que pode ferir direitos civis, humanos e até penais. A violência obstétrica é ainda pouco reconhecida enquanto um ato violento, pois no mesmo momento que ela ocorre, as mulheres estão vivenciando marcantes emoções, que as fazem se calar, sendo necessário abordar os direitos da mulher durante a gestação, parto e pós-parto, especialmente nas consultas de pré-natais, onde se tem a oportunidade de abordar os variados assuntos. 16 3 METODOLOGIA 3.1 NATUREZA DO ESTUDO Trata-se de um estudo de campo, de natureza exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa, fundamentada com uma revisão de literatura. Para Minayo (2006) o método qualitativo é definido como aquele capaz de incorporar as questões do significado e da intencionalidade como inseparáveis dos atos, das relações e das estruturassociais. Portanto, esse método volta-se à estrutura social do fenômeno, ocupam-se do universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. De acordo com Gil (2009), a pesquisa de campo teve por objetivo adquirir informações acerca de um problema relacionado aos indivíduos, grupos, comunidades e institutos, compreendendo os vários aspectos da sociedade. A natureza exploratória e descritiva são as que comumente são utilizadas pelos pesquisadores sociais. Proporcionam maior familiaridade com o problema tornando o assunto mais explícito, como também descrevem as características do assunto em questão. 3.2 CENÁRIO DO ESTUDO A pesquisa teve como cenário uma maternidade pública do Estado do Piauí na qual é referência no atendimento de alta complexidade à saúde da mulher. Localizada na capital do Estado. A referida instituição foi fundada em 15 de junho de 1976 por Dr. Dirceu Mendes Arcoverde. A estrutura física da Instituição, juntamente com seus equipamentos e materiais para a realização do funcionamento foram de origem da Inglaterra. A instituição é um hospital público de grande porte e o maior do estado do Piauí, responsável por 63% dos nascimentos na cidade de Teresina. As somas de internações por mês totalizam em média de 1200, sendo que 900 são partos, realiza assistência de média e alta complexidade à mulher e a criança, bem como ações de promoção e prevenção a saúde. Funciona como hospital escola para os cursos de graduação e pós-graduação nas áreas da saúde. 3.3 PARTICIPANTES DA PESQUISA 17 As participantes da pesquisa foram mulheres que buscaram atendimento na referida maternidade em processo parturitivo. Como critério de inclusão as mulheres deviam ter tido algum tipo de atendimento naquela instituição e assinarem o Termo de Consentimento de livre esclarecido (TCLE) no qual consta a justificativa, os objetivos e os procedimentos que serão utilizados na pesquisa, com o detalhamento dos métodos utilizados. Como critério de exclusão dos participantes serão mulheres que permanecerem na sala de pré-parto, enfermaria de gestantes, e mulheres que apresentem qualquer alteração fisiológica e psicológica que inviabilizasse a sua participação. Portanto, por se tratar de uma pesquisa com abordagem qualitativa com utilização da técnica do Grupo Focal (GF) as pesquisadoras, pretendem intencionalmente ouvir de 6 a 10 mulheres. 3.4 COLETA DE DADOS A coleta dos dados foi feita por intermédio da técnica do Grupo Focal (GF) e de entrevistas complementares. A coleta dos dados foi realizada no mês de Março de 2016. Todas as falas foram gravadas. As entrevistadas foram identificadas por flores. Os GFs são grupos de discussão que dialogam sobre um tema em particular, ao receberem estímulos apropriados para o debate. Essa técnica distingue-se por suas características próprias, principalmente pelo processo de interação grupal, que é uma resultante da procura de dados. Essa técnica facilita a formação de ideias novas e originais. Gera possibilidades contextualizadas pelo próprio grupo de estudo. Oportuniza a interpretação de crenças, valores, conceitos, conflitos, confrontos e pontos de vista. E ainda possibilita entender o estreitamento em relação ao tema, no cotidiano. O grupo focal, como técnica de pesquisa, utiliza sessões grupais de discussão, centralizando um tópico específico a ser debatido entre os participantes. A pesquisa focalizou a temática Percepção das Mulheres sobre Violência Obstétrica, sendo desenvolvida com um grupo de mulheres puérperas. O grupo focal abrangeu um encontro com um mediador entre 6 a 10 participantes. O processo realizou-se-á mediante entrevista com as mulheres, destacando como pontos positivos a condução ao pensamento crítico e ao processo de desalienação; e a possibilidade desta técnica desvelar significados singulares e a que se relacionam, sob o ponto de vista dos sujeitos pesquisados. Destaca-se que o grupo focal teve como objetivo a melhor abordagem ao tema “Percepção das Mulheres sobre Violência Obstétrica”, desconstruindo e reconstruindo conceitos e buscando novas respostas para as inquietações que o tema conjuga. (RESSEL; et al. 2008) 18 3.5 ANÁLISE DE DADOS Foram ouvidas exaustivamente todas as entrevistas para a realização das transcrições das mesmas, entre os meses de Março e Abril. Foi realizada análise sistemática e organização dos dados, com construção de categorias sob a perspectiva de BARDIN (2004) De acordo com o autor acima, análise categorial é um conjunto de métodos de análise das comunicações visando obter, por procedimentos objetivos e sistemáticos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos e qualitativos) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens. 3.6 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS A presente pesquisa, por se tratar de uma pesquisa que envolve seres humanos, os seus aspectos éticos e legais atendeu a resolução Nº 466, de 12 de dezembro de 2012, que considerando que todo o progresso e seu avanço devem, sempre, respeitar a dignidade, a liberdade e a autonomia do ser humano. Foi explicado a todos os participantes o teor da pesquisa podendo os mesmos manifestar-se de forma autônoma, consciente, livre e esclarecida. A pesquisa foi submetida à comissão de ética da instituição de saúde, sendo aprovada o Termo de Anuência foi encaminhado para aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro Universitário UNINOVAFAPI, através da Plataforma Brasil. Os participantes estavam sujeitos a possíveis riscos, tais como constrangimento e desconforto, uma vez que há a exposição de informações. Para minimizar os riscos, as informações relacionadas à pesquisa foram tratadas de forma anônima e confidencial, isto é, a presente pesquisa assegurou o anonimato dos participantes, a proteção da imagem em todas as fases da pesquisa, garantindo que as informações não serão usadas em prejuízo dos participantes, como também a entrevista era interrompida a qualquer sinal de desconforto por parte das participantes. Os riscos foram minimizados por meio da adoção de intervenções como: a garantia de sigilo e preservação das informações, realização da entrevista em locais que proporcionassem conforto e segurança ao participante, a entrevista foi desenvolvida por um período de tempo mínimo, o que não acarretou a exaustão da participante, como também foi aplicada uma abordagem livre de julgamentos e valores. 19 Com o intuito de trazer benefícios diretos ou indiretos, esta pesquisa trouxe à tona informações sobre um tema ainda pouco discutido pela comunidade cientifica subsidiando debates que facilitarão a implementação de ações voltadas para o problema em questão. 20 4 RESULTADO E DISCURSSÃO DOS DADOS A pesquisa contou com 20 mulheres, que buscavam atendimento em uma maternidade pública do Estado do Piauí, a qual é referência no atendimento de alta complexidade à saúde da mulher. Foram obtidos os seguintes dados a partir do roteiro da pesquisa utilizado : A faixa etária das participantes variou entre 15 a 49 anos, sendo 2 participantes na faixa etária entre 15 a 19 anos, 4 entre faixa etária de 20 a 24, 4 entre faixa etária de 25 a 29 anos e 5 entre 30 e 34 anos, 1 entre faixa etária de 35 a 39 anos, 2 entre faixa etária de 40 a 44 anos. 2 entre 45 a 49 anos A respeito da naturalidade das entrevistadas 12 são de Teresina, 7 do interior do Estado e 1 do Estado de Pernambuco.Quanto ao estado civil das participantes, 8 eram casadas legalmente, 6 solteiras, 5 em união estável e 1 divorciada. No perfil profissional, 8 participantes exercem atividade de Dona de casa, 4 empregadas domésticas, 1 pescadora, 1 lavradora, 1 recepcionista e 1 operadora de telemarketing e outas 4 declararam não exercer nenhuma atividade. A maioria das participantes é de baixa renda, com 6 delas ganhando menos de um 1 salário mínimo, 8 até um salário mínimo, 3 recebendo entre um a dois salários mínimos, 1 ganha entre dois a três salários mínimos. 2 ganham acima de três salários mínimos. O grau de escolaridade encontrado para a maioria foi ensino médio completo 10, seguido de ensino fundamental completo 7 e ensino fundamental incompleto 3. Quanto aos antecedentes obstétricos a pesquisa revelou que 7 participantes tinham um filho, 5 tinham dois filhos, 7 tinham três filhos e 1 acima de quatro filhos. A maioria 13 teve parto normal e 7 tiveram partos cesarianas. Os dados obtidos na pesquisa foram tratados conforme a Técnica de Análise de Conteúdo Temático, a qual representa um conjunto de técnicas de análise das comunicações, utilizando procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das falas. De encontro com as frases e situações de negligencia e desrespeitosas de nossos resultados, nos deparamos com estudos que demonstram cuja maior necessidade para uma mulher em trabalho de parto está no manejo do controle emocional, pois as mulheres apontam como fator determinante para uma experiência de parto positiva a confiança na equipe a qual é assistida e ressaltam a importância do carinho, paciência e calma por parte dos profissionais, porém o que essas mulheres desconhecem é que esta atenção humanizada deve ser uma habilidade técnica inerente à obstetrícia. 21 O termo violência obstétrica é relativamente novo, embora as mulheres sejam desrespeitadas quando procuram atendimento a sua saúde sexual e reprodutiva há muito tempo. Por outro lado, o desconhecimento e o desrespeito, aos direitos sexuais e reprodutivos, além dos direitos humanos da mulher, possibilitam a imposição de normas e valores morais depreciativos levadas a efeito por alguns profissionais de saúde. Tais normas e valores também são apontados como importantes fatores de formação da complexa trama de relações que envolvem as atitudes de violência com as mulheres. Majoritariamente, esses maus tratos relacionam-se com uma assistência discriminatória quanto ao gênero, entrelaçados com questões de classe social e etnia subjacente à permanência de uma ideologia que naturaliza a condição social e reprodutora da mulher com seu destino biológico O conjunto dos dados analisados surpreende pelo fato de praticamente as mulheres entrevistadas evidenciarem desinformação acerca de seus direitos enquanto parturientes. Dos relatos das mulheres emergiram duas categorias: a Negligencia na Assistência e Agressão Verbal. NEGLIGENCIA NA ASSISTENCIA Esta categoria mostrou e agrupou situações de negligência no cuidado dentro da instituição de saúde. [...]eu cheguei fui atendida, chamaram o médico estava tomando cafezinho, quase não vinha aí deu o toque botou o soro e voltou para sala de café tomar café. E lá eu fiquei na sala sozinha[...] Flor de Lis É lastimável que na hora de dar à luz, o momento mais esperado de uma mulher, o profissional agiu com um descaso desse. Submetendo a mesma condição humilhantes. A negligencia trata-se do descuido dos profissionais para com as parturientes, desde a falta de informações necessárias até a privação de assistência. (D’OLIVEIRA; DINIZ; SCHRAIBER,2002) [.....]não ainda não tá na hora não, ai me deixaram lá sozinha[.....]Flor Margarida 22 O parto é um evento que integra a vivência reprodutiva da mulher e seu parceiro. Diante do cenário em que o discurso do médico tem muito mais poder frente ao da mulher no atendimento ao parto, os anseios e opiniões dessas não são, na maior parte das ocorrências, reconhecidos ou traduzidos para o discurso dominante (MUNIZ; BARBOSA, 2012) A lei nº 11.108, de 07/04/05, publicada no Diário Oficial da União no dia 08/04/05. O apoio emocional de um acompanhante de confiança da parturiente – e feito à sua escolha – é importante para que a mulher possa suportar a dor e tensão. Por essa razão, é importante que os médicos e demais profissionais da saúde estejam sensibilizados quanto à relevância da presença do acompanhante no decorrer do trabalho de parto [....]eu tive eclampsia e duas vezes andei pertinho de morrer, a minha sorte foi que a médica esqueceu de alguma coisa e voltou na sala ai quando ela chegou eu estava dando eclampsia e me levaram pra sala de parto[....]Flor de Maracujá Todas as mulheres têm direito a receber informações sobre o seu estado de saúde e sobre os procedimentos indicados, em linguagem clara, de modo respeitoso e compreensível. O profissional de saúde tem o dever de explicar a finalidade de cada intervenção ou tratamento, assim como os riscos ou possíveis complicações e as alternativas disponíveis. Com base nessas informações, a mulher tem o direito de recusar tratamentos ou procedimentos em seu corpo, o que se chama direito à recusa informada. A relação profissional de saúde-paciente, usualmente assimétrica, faz com que as mulheres, sentindo-se menos capacitadas para escolher e fazer valer seus desejos, tenham dificuldades em participar da decisão diante das questões técnicas levantadas pelos profissionais de saúde. Fato este que poderia ser solucionado ou pelo menos amenizado com a prática da humanização na assistência ao parto e nascimento, que engloba os cuidados de enfermagem durante o processo gravídico puerperal (MARQUE; DIAS E AZEVEDO 2006) 23 [...]na hora que estava nascendo foi que eu desci para chamar a enfermeira, abri a porta foi que ela veio quase o menino nasce[...]Flor de Lis A parturiente fica vulnerável no sentido de que está exercendo uma tarefa que não deveria ser atrapalhada por nenhuma outra questão que não fosse o próprio ato de parir. O momento requer que o entorno proteja a mulher. É fundamental que o acompanhamento de trabalho de parto e parto seja um momento de confiança e segurança entre profissional e cliente. Necessário se faz um cuidado com orientações a cada procedimento, valorizando a participação ativa das parturientes e respeitando o momento de dor. Segundo Deslandes (2004), humanizar diz respeito à prestação de uma assistência que tenha como prioridade a qualidade do cuidado garantindo o respeito quanto aos direitos do paciente, sua individualidade e cultura, bem como a valorização do profissional que presta a assistência, estabelecendo um ambiente concreto nas instituições de saúde, que regularize o lado humano das pessoas envolvidas no processo de cuidar [.....]. Eu achei assim uma coisa muito chocante porque pra mim eu fiquei assim desnorteada na maternidade durante uma hora sem entender chorando e assim ninguém chegava pra mim ajudar.[.....]Flor Acácia O parto é um evento social que integra o rol das experiências humanas mais significativas para os envolvidos. Diferente de outros eventos que requerem assistência hospitalar, o parto é um processo fisiológico normal que requer cuidado e acolhimento. Apesar disto, de acordo com a literatura vigente, esse momento é, várias vezes, permeado pela violência institucional, cometida justamente por aqueles que deveriam ser seus principais cuidadores. Dias e Ramos (2003) também mencionam circunstâncias caracterizadas por violência naárea da saúde, que denominaram de violência pela falta de solidariedade e sensibilidade e que foram relacionadas, na sua maior parte, ao desenvolvimento de técnicas, procedimentos inadequados, falta de informação, negligência, indiferença e desrespeito, assim como a desigualdade. 24 [....] Eu entrei na maternidade 10 horas da noite do dia 09 e fiquei sentindo dor até o dia 11, 11 e 05 da manhã. Ai nesse vai e volta meu filho nasceu morto por causa disso, tiveram que reanimar ele na hora ele graças a Deus reanimaram. Só que me disseram que foi negligencia que era pra mim ter tido Cesário, eu não tinha condições de eu ter ele normal, ele nasceu muito grande com 51cm, 3k e 900 muito grande e me laquearam. [....]Flor orquídea Acredita-se que é de responsabilidade da equipe de saúde, oferecer informações claras acerca da assistência prestada é uma condição imprescindível. Para Gonçalves et al., (2011), a mulher e seu corpo têm sido vistos como máquina, onde o engenheiro é o profissional médico que detém todo o saber sobre ela, negligenciando informações, emoções, sentimentos, percepções e direitos da mesma no gestar e parir, sendo impedidas de ter a presença de acompanhante, de decidir a posição que querem ter seus bebês e de expressar suas emoções e sentimentos, contrariando a Política Nacional de Humanização e mudando o foco da mulher para o procedimento, deixando-as mais vulneráveis à violência, silenciada pelos profissionais e pela própria parturiente. Porém, a amarga vivência e o trauma acompanham a mulher porta a fora da instituição. AGRESSÃO VERBAL A violência verbal é um comportamento agressivo, caracterizado por palavras danosas que tem a intenção de ridicularizar, humilhar, manipular e/ou ameaçar. Assim como acontece com a violência física, este tipo de agressão afeta significativamente a vítima, causando danos psicológicos brutais e irreparáveis [....]o médico ficava falando pra mim calar a boca[.....]Flor Copo de Leite Por estar focada no nascimento do seu filho, a vítima pode não se abalar tanto com a violência obstétrica no momento em que a sofre. A violência verbal refere-se a tratamento 25 rude, ameaças, gritos, humilhação e abuso verbal. (D’OLIVEIRA; DINIZ; SCHRAIBER,2002) De acordo com (Chiarotti et al., 2003; Hotimsky et al., 2002; Wagner, 2001; cladem, crlp, 1998; Jewkes, Abrahams, MVO, 1998; Nogueira, 1994), a mulher que deve aguentar a dor do parto como algo que ela é biologicamente capaz de suportar, e como o preço pelo suposto prazer sentido no ato sexual que deu origem àquela gestação. [.....]na verdade na hora do parto fui chamada até de burra pelo o médico né no caso[.....]Flor Tulipa O que era para ser um momento perfeito tornou-se uma lembrança ruim na vida da paciente houve uma falta de comunicação e respeito do profissional. Segundo Stefanelli (1993), o linguajar utilizado na relação entre o profissional de saúde e a cliente precisa ter o mesmo significado para ambos; caso contrário, o processo de comunicação não ocorrerá. E, se a comunicação não ocorrer efetivamente, o cuidado prestado pode ser afetado profundamente. A comunicação deve ser considerada como competência interpessoal a ser adquirida pelo profissional de saúde que, ao usá-la de modo terapêutico, permitirá que atenda a cliente em todas as suas dimensões. 26 CONCIDERAÇÕES FINAIS Dentro do que se reconhece como violência obstétrica pode se observar que tal violência foi citada em suas diversas formas, desde a negligencia na assistência, negativa de direitos como o de ter acompanhante em todo o processo parturitivo, negativa de informações esclarecedoras de diagnostico até agressões verbais. Nesse sentido, é importante destacar a importância da violência obstétrica que pode ferir direitos civis, humanos e até penais. A violência obstétrica é ainda pouco reconhecida enquanto um ato violento, pois no mesmo momento que ela ocorre, as mulheres estão vivenciando marcantes emoções, que as fazem se calar, sendo necessário abordar os direitos da mulher durante a gestação, parto e pós-parto. No contexto acadêmico a violência obstétrica é um tema comuns do nosso dia-a-dia, trouxe em particular aspectos que envolvem as relações humanas e o contexto sociocultural. O presente estudo contribuiu fornecendo aos profissionais um panorama sobre o assunto, viabilizando o entendimento e a discussão da temática. Dessa maneira mostra-se evidente a necessidade de se refletir que é necessário modificar o acesso ao direito reprodutivo básico. Implementar estratégias para aumentar a segurança, um atendimento humanizado, aumentado a satisfação das usuárias, nas maternidades e hospitais. Com intuito de que os atendimentos nesses locais possam ser uma experiência gratificante para as parturientes. Cabe aos gestores, profissionais de saúde e comunidade reivindicarem a implantação das políticas públicas destinadas ao adequado atendimento à mulher, garantindo que este ocorra de forma mais humanizada nesse momento que é um dos quais ela se encontra mais vulnerável e carente de apoio emocional Esperamos com esse trabalho suscitar reflexões sobre a humanização do cuidado na parturição e a necessidade nos profissionais de saúde e acadêmicos dos diversos cursos da área de saúde de viverem, sentirem e internalizarem o cuidado humanizado e, a partir desse processo, conscientizar-se do importante papel que desempenham na assistência à mulher. 27 REFERENCIAS AGUIAR, Janaína Marques de; D'OLIVEIRA, Ana Flávia Pires Lucas. Violência institucional em maternidades públicas sob a ótica das usuárias. Interface (Botucatu) 2011. AGUIAR, J. M.; OLIVEIRA, A. F. P. L.; SCHRAIBER, L. B.. Violência institucional, autoridade médica e poder nas maternidades sob a ótica dos profissionais de saúde. 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Como foi a assistência que a senhora recebeu desde o momento em que foi atendida na maternidade até o momento da alta? __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ 34 __________________________________________________________________________________ ANEXOS 35 36 37 38
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