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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE BACHARELADO EM ENFERMAGEM BEATRIZ CURINTIMA NINA A ATUAÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM FRENTE À MULHER EM PROCESSO DE ABORTAMENTO EM UMA MATERNIDADE PÚBLICA DE RORAIMA BOA VISTA, RORAIMA 2017 BEATRIZ CURINTIMA NINA A ATUAÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM FRENTE À MULHER EM PROCESSO DE ABORTAMENTO EM UMA MATERNIDADE PÚBLICA DE RORAIMA Monografia apresentada como requisito para conclusão do Curso de Bacharelado em Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Roraima. Orientadora: Prof.ª Ma. Cíntia Freitas Casimiro BOA VISTA, RORAIMA 2017 BEATRIZ CURINTIMA NINA A ATUAÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM FRENTE À MULHER EM PROCESSO DE ABORTAMENTO EM UMA MATERNIDADE PÚBLICA DE RORAIMA Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem pela Universidade Federal de Roraima – UFRR. Defendida no dia 01 de novembro de 2017 e aprovado pela seguinte Banca Examinadora: ____________________________________________ Profª.Ma. Cíntia Freitas Casimiro Orientadora/Curso de Enfermagem – UFRR ____________________________________________ Profª.Ma. Tárcia Milene de Almeida Costa Barreto Curso de Enfermagem – UFRR ____________________________________________ Enfª. Gabrielle Almeida Rodrigues Secretaria Estadual de Saúde (SESAU-RR) DEDICATÓRIA À minha mãe e minha avó: Irley Regina Epifânio Curintima Odete Epifânio Curintima (in memorian) AGRADECIMENTOS Primeiramente à Deus e Nossa Senhora por serem minha fonte de vida, fé, força, coragem e sabedoria. Por me conduzirem a este caminho e profissão. À minha avó Odete, minha rainha que olhou por mim lá do céu, presença viva em meu ser. À minha mãe Irley meu maior exemplo de vida, que abriu mãos dos seus próprios sonhos para criar e me educar, pela motivação diária e amor incondicional. As mãos que me ensinaram a andar, me trouxeram até aqui. À minha família amada pelo apoio e incentivo infindável, carinho, sobretudo a compreensão pelas vezes que me ausentei. Às minhas primas Vanessa e Katchucia que foram fundamentais nessa jornada acadêmica, sempre acreditaram no meu potencial e estiveram ao meu lado. À minha irmã de alma Tainá por ter caminhado comigo até aqui, me incentivando e acreditando que sou capaz. Ao meu namorado Igor que soube ser paciente, que inúmeras vezes enxugou minhas lágrimas e soube compreender as minhas angústias, sendo companheiro e um amigo fiel. Aos meus tios Haroldo e Marcelo que muitas vezes fizeram o papel de pai, me auxiliando na medida do possível. À minha tia Célia por ter contribuído ao longo da minha vida, pelos conselhos e a presença no momento que estive frágil. Aos meus companheiros de curso e amigos Bruno, Wellen, Cleiton, Sônia, Shirlene, Pablo, Hudson, Brizola, Karen, Tatiana, Victória e Ticiane. À Ilaenis minha mãe de coração, presente que a graduação me deu, exemplo de garra e persistência. À minha amiga e irmã Yasmim cúmplice, parceira e futura mamãe da Lara. Aos presentes que o internato me proporcionou, minhas lindas companheiras Amanda Ramos, Amanda Braga e Fernanda, que tornaram essa etapa final mais leve e divertida, partilhando momentos inesquecíveis, sendo fundamentais na conclusão deste trabalho. À minha prezada orientadora Profa. MsC. Cíntia Freitas Casimiro por ter aceito o convite de conduzir essa pesquisa. Gratidão eterna pela paciência, incentivo diário, por ter me transmitindo paz e segurança nos momentos de aflição. Aos meus honrosos (as) professores (as) do curso de Enfermagem, gratidão pela dedicação, doação e empenho ao transmitir o conhecimento durantes esses longos anos. À Universidade Federal de Roraima, pela oportunidade da graduação. Aos meus anjos Antônio, Ponciano e Raniery que partiram ao longo dessa jornada, deixando uma saudade eterna, gratidão por suas passagens em minha vida. E aqueles que não foram mencionados, mas que participaram e contribuíram para construção deste trabalho, minha gratidão. RESUMO Abordado atualmente como um grave problema de saúde pública, o aborto tem sua prática restrita no Brasil. No entanto, as discussões que envolvem o assunto estão relacionadas à aspectos morais, éticos e religiosos. Tratado como um tema polêmico na sociedade e no âmbito da saúde, revela conflitos de sentimentos, bem como de condutas e posturas dos profissionais que estão frente à essa assistência. Trata-se, portanto, de uma pesquisa de caráter descritivo com abordagem qualitativa, tendo a caracterização dos dados pessoais e profissionais dos entrevistados. A pesquisa foi realizada através de entrevista semiestruturada, o qual continha três perguntas norteadoras sobre o tema. Os sujeitos do estudo constituíram-se de 06 enfermeiros e 07 técnicos de enfermagem que atuam nos setores do Hospital Materno Infantil. Após as entrevistas realizou-se a transcrições, obtendo-se quatro categorias, na qual notou- se que a maioria dos profissionais de enfermagem tem uma abordagem mecanicista aos cuidados em situações de abortamento, o acolhimento à mulher não é realizado por diversos fatores, entre eles, pelo entendimento de que essa prática cabe aos profissionais de psicologia e serviço social, o vínculo paciente-equipe está a depender da etiologia do abortamento. Outro ponto relevante é que não há aconselhamento reprodutivo, nem oferta de métodos contraceptivos, sendo fundamental para educação sexual e reprodutiva da mulher. Existe uma necessidade de capacitação sobre abortamento, de atualizações de normas que subsidiem a atuação profissional, assim como dos direitos e legislações quanto ao abortamento. Portanto, destaca-se a relevância de modificações nesta assistência que ainda emprega condutas pouco humanizadas e, a necessidade de um olhar holístico sobre essas mulheres, desvinculando-as de um crime cometido contra a vida. PALVRAS - CHAVES: Enfermagem. Assistência Integral à Saúde da Mulher. Abortamento. ABSTRACT Currently addressed as a serious public health problem, abortion has its practice restricted in Brazil. However, the discussions that involve the subject are related to moral, ethical and religious aspects. Treated as a controversial theme in society and in health, it reveals conflicts of feelings, as well as conduct and attitudes of the professionals who are in front of this assistance. Thus, this study sought to analyze the performance of the nursing team that is ahead of the woman in the abortion situation. It is, therefore, a descriptive research with a qualitative approach, with the characterization of the personal and professional data of the interviewees. The research was conducted through a semistructured interview, which contained three guiding questions on the subject. The subjects of the study were 06 nurses and 07 nursing technicians who work in the Maternal and Child Hospital sectors. After the interviews, transcriptions were carried out, obtaining four categories, in which it was noticed that the majority of nursing professionals have a mechanistic approach to care in situations of abortion, the reception to the woman is not performed by several factors, among they, on the understanding that this practice belongs to professionals in psychology and social work, the patient-team relationship depends on the etiology of abortion. Another relevant point is that there is no reproductive counseling or provision of contraceptive methods, and it is essential for the sexual and reproductive education of women. There is a need for training on abortion, updating of standardsto support professional practice, as well as abortion rights and legislation. Therefore, the relevance of changes in this assistance that still employs little humanized behaviors and the need for a holistic look at these women, detaching them from a crime committed against life. Keywords: Nursing. Comprehensive Health Care. Abortion. SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA ........... 8 1.2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 11 1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 11 1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................................... 11 1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 11 2.REFERENCIAL TEMÁTICO .................................................................................. 13 2.1 HISTÓRICO DO MOVIMENTO FEMINISTA SOBRE OS DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS ...................................................................................................... 13 2.2 ABORTO NO BRASIL: ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E SOCIAIS .............. 14 2.3 ASSISTÊNCIA DISCRIMINATÓRIA E A ENFERMAGEM FRENTE A ESSE PROCESSO DE ABORTAMENTO ........................................................................... 16 2.4 ACOLHIMENTO E ORIENTAÇÕES PÓS-ABORTAMENTO .............................. 18 3. METODOLOGIA ................................................................................................... 20 3.1TIPO DE ESTUDO ............................................................................................... 20 3.2 LOCAL DO ESTUDO .......................................................................................... 20 3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA ................................................................................ 21 3.4 PROCEDIMENTOS DE COLETAS DE DADOS ................................................. 21 3.5 ANÁLISE DE DADOS.......................................................................................... 22 3.6 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS ......................................................................... 23 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 24 4.1 ACOLHIMENTO E CUIDADOS À MULHER ....................................................... 25 4.2 CONDUTAS DE ENFERMAGEM PÓS-ABORTAMENTO .................................. 30 4.3 ATENDIMENTO AO ABORTO LEGAL................................................................ 33 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 38 6. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 40 ANEXO....................................................................................................................52 8 1.INTRODUÇÃO 1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA O abortamento é definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a interrupção da gestação até a 20-22º semana, com produto da concepção pesando menos que 500 gramas. Sendo o aborto o produto eliminado no abortamento (MILANEZ et al, 2016). A classificação do aborto se dará conforme a etiologia, que podem ser: provocados ou induzido (realizado voluntariamente, por vontade própria da mãe), e espontâneos ou natural (quando o próprio organismo da mulher expulsa). E o tempo que ocorre, precoce - até a 13º semana de gestação; e tardio - entre a 13º semana de gestação a 20-22º semanas. Todavia, as complicações físicas e psicológicas trazidas à mulher em decorrência de um procedimento físico, o aborto, não depende de sua classificação (BONASSA et al., 2015; RIBEIRO; BOLPATO, 2013). No Brasil existem três condições que o ato poderá ser realizado, denominado assim de Abortamento legal (eletivo e/ou médico), que são casos previstos em lei (abortamento sentimental – quando a gravidez é consequência de estupro; abortamento terapêutico – em casos de risco de vida iminente da mãe; e mais recentemente os casos de anencefalia do feto, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano 2012. De acordo com o Código Penal Brasileiro, no art.128, caracteriza como crime a prática do aborto, cometido pela própria mulher ou executado por terceiros com a permissão da mesma, configurado crime contra a vida, salvo os casos citados (FEBRASGO, 2010; VENTURA, 2009). Todavia, responsável pelos extensos números de mortalidade e das consequências irreversíveis à saúde da mulher, o aborto provocado é considerado na atualidade um grave problema de saúde pública que está longe de ser solucionado (PITILIN, 2016). Ao referir-se ao assunto, Rocha (2015), diz que, a gravidez não planejada é o maior contribuinte para altas taxas do aborto, estimado neste dado que, a cada 208 milhões de mulheres no mundo que engravidam, apenas 53% (corresponde a 123 milhões) planeja a gravidez, o restante de 41% (85 milhões) não planeja. A prática 9 abortiva também se atrela a vários outros fatores, como o início precoce da vida sexual, falta de informação de métodos contraceptivos ou falhas, fatores socioeconômicos, número de filho e abuso sexual. Dados da Pesquisa Nacional de Aborto revelam que, entre mulheres brasileiras com idade até 40 anos, aproximadamente uma em cada cinco já fez pelo menos um aborto (DINIZ et al., 2017). Os mesmos pesquisadores indicam ainda que no ano de 2015 ocorreram cerca de meio milhão de abortos. Existem inúmeras possibilidades e suposições que podem determinar as causas dos abortamentos, estudos indicam que o risco para um aborto tende a aumentar não só com a paridade, mas com a idade paterna e materna, ou seja, em mulheres abaixo de 20 anos de idade, há uma adição de 12% e quando acima de 40 anos cerca de 26% (FEBRASGO, 2010). Segundo Perez e Diniz (2013), a suspensão da gravidez representa a quarta causa de internações nas redes públicas de saúde e também de mortalidade materna. Um novo estudo divulgado pela OMS (2010) chamou atenção para o número alarmante de 80 milhões de gravidezes não desejadas, dentro destas, 45 milhões são interrompidas. Outro número citado é que seriam praticados todos os anos 19 milhões de abortos sem nenhuma intervenção de profissionais de saúde, o que resultam em 68 mil mortes anualmente. O ato ocorre indiscriminadamente entre as diferentes classes sociais, entretanto, as complicações após a tentativa do abortamento é dependente do fator social e econômico dessa mulher, ou seja, mulheres socialmente privilegiadas estão menos vulneráveis aos riscos, pois buscam assistência em clínicas privadas que realizam procedimentos assépticos e seguros, diferentemente da classe menos favorecida, que recorrem a práticas inseguras, precárias e sem os cuidados de profissionais aptos (SILVA; ARAÚJO, 2011). Para Benute et al (2012), embora a problemática do aborto esteja presente nas políticas públicas, bem como, nos programas de saúde da mulher do Sistema Único de Saúde (SUS), os profissionais que estão na assistência são influenciados por suas questões éticas, morais e religiosas, dificultando assim, a aceitar prestar um serviço acolhedor, respeitando os direitos reprodutivos e as condições que favoreceram o abortamento. Considerando-se tal contexto, este estudo tem como proposta conhecer a percepção do profissional de enfermagem que presta assistência à mulher em situações de abortamento, visando identificar o discurso destes profissionais em 10 relação a esse processo em uma maternidade pública de Boavista, visto que, são necessárias mudanças quanto atenção e cuidados prestados a elas. 11 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Geral Analisar a atuação da equipe sobre o atendimento prestado à mulher em processo de abortamento. 1.2.2 Objetivos Específicos Avaliar o conhecimento da equipe de enfermagem sobre os direitos sexuais e reprodutivos, aborto legal e a Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento; Identificar a conduta da equipe de enfermagem na assistência à mulher nos diferentes processos de abortamento (acolhimento, ambiência, procedimentos e orientações no pós-aborto). 1.3 JUSTIFICATIVA O interesse pelo tema surgiu através da proximidade da pesquisadora com esta temática na disciplina de saúde da mulher, no decorrer da graduação. O assunto foi abordado e discutido com os colegas, sobre questões éticas e morais, percebeu- se que, desde a graduação o aborto torna-se um dilema ético para muitos. No entanto, é dever do futuro profissional enfermeiro, atender de maneira acolhedora e respeitosa a mulher, qualquer que seja o motivo pelo qual se deu o abortamento (espontâneo ou provocado). Para Brito et al (2015), acrescentar discussões sobre o contexto do aborto durante a formação de enfermagem torna-se crucial, tendo em vista que, a graduação possibilita um local aberto para debater não só os cuidados técnicos, mas também abordar valores culturais, morais e éticos. E salientar que, o profissional precisará em certas situações desacomodar-se de seus valores para não implicar no seu serviço. Em vista disso, sabe-se que o aborto é um grave problema de saúde pública, que anualmente levam milhares de mulheres à óbito no Brasil em decorrência das práticas realizadas clandestinamente e da criminalização. É um tema polêmico dentro da sociedade e que suscita questionamentos em torno da legalidade, moralidade, 12 religião e a ética. No entanto, a discriminação do ato impossibilita discussões de novas políticas públicas na saúde e ações voltadas para redução das elevadas taxas de mortalidade materna e eventuais riscos com sua prática indiscriminada. Portanto, a realização desta pesquisa justifica-se da relevância de compreender a atuação dos profissionais de enfermagem no atendimento à mulher em abortamento e, a partir disso, propiciar reflexões, visando a implantação de condutas para a promoção de uma assistência humanizada e de qualidade. 13 2.REFERENCIAL TEMÁTICO 2.1 HISTÓRICO DO MOVIMENTO FEMINISTA SOBRE OS DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS A saúde da mulher só foi introduzida nas políticas nacionais por volta das primeiras décadas do século XX, no entanto as questões tratadas abordavam temas circunscritos ‒ como o ciclo gravídico-puerperal ‒ decorrente da visão limitada sobre a mulher e seu papel social, haja visto que as atribuições femininas se baseavam estritamente em funções domésticas, como a responsabilidade com a educação, criação e zelo à família. Essa atenção centralizadora e fragmentada seguiu até meados da década de 70 (BRASIL, 2004; FREITAS et al., 2009). Todavia, nessa mesma década, um movimento formado por mulheres ganhava força para garantir os direitos dentro de um novo contexto social e cultural que se inseriam. As reivindicações surgiam, a fim de que, conquistassem o direito a autonomia, controle pessoal da fertilidade e uma atenção essencialmente à saúde reprodutiva. Essa fase foi marcada também pela luta do movimento para descriminalização do aborto e a garantia à contracepção (VENTURA, 2009). A manifestação tinha como objetivo integrar nas políticas, as questões de gênero, a sexualidade, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, anticoncepção e desigualdades. Tal comprometimento feminino, resultou na formulação em 1983, posteriormente divulgado pelo Ministério da Saúde, o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher-PAISM, já em 1984 (FREITAS et al., 2009). Constituído como marco histórico, o PAISM centrava na integralidade e equidade, abrangendo a saúde da mulher em todas as suas fases do ciclo vital. O programa foi considerado um dos mais bem-conceituados mundialmente quando referido à saúde da mulher (BRASIL, 2005). Para Paiva et al (2016), a restrição da assistência prestada somente ao parto, nascimento e puerpério, foi rompida justamente com o advento do programa. O PAISM conseguiu reorientar a atenção à saúde da mulher, propondo dentro do atendimento, ações educativas, proporcionando conhecimento e autonomia da mulher sobre seu próprio corpo, saúde e sexualidade. Nesse contexto, o autor, descreve sobre saúde sexual e reprodutiva. Segundo ele, a saúde sexual contempla o direito de “expressar a sexualidade com liberdade de forma segura e saudável, sem nenhum 14 tipo de coerção” e tendo como garantia o acesso à educação sexual pelo decorrer da vida. Já a saúde reprodutiva, refere-se à independência da mulher e seu companheiro de determinar o quantitativo de filhos, da escolha sobre métodos contraceptivos e de concepção, tido estes, como direitos constitucionais. Assim, no ano de 1994, o conceito de saúde reprodutiva foi inserido no programa, promovendo um atendimento integralizado à reprodutividade feminina, sobretudo, a garantia de seus direitos. Abrangendo as características femininas e reprodutivas desde a (adolescência até menopausa), acrescentado junto a elas, a assistência pré-natal e do planejamento familiar (CARVALHO; PAES, 2014). 2.2 ABORTO NO BRASIL: ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E SOCIAIS A problemática do aborto como fator social no Brasil, foi graças à realização de estudos acadêmicos na área de Saúde Pública na década de 70. Através destas pesquisas foi identificada a correlação do aborto com a pobreza e a falta do planejamento familiar, culminando então um grave problema na saúde pública (SILVA; ARAÚJO, 2011). Segundo Pérez et al (2013), o número de abortos clandestinos no Brasil em 2000, já variava em 750 mil e 1,4 milhões, entretanto, o dado foi obtido com base nas internações de mulheres pelo SUS, haja vista que, a prática clandestina inviabiliza dados reais do problema. O que a torna preocupante, visto que, deixa-se de avaliar os valores fidedignos da incidência do aborto, encobrindo a gravidade das sequelas trazidas por tal ato. Porém, a magnitude deste problema foi mensurada não somente pelas internações, mas também pela curetagem (esvaziamento e/ou raspagem da cavidade uterina) representar o segundo procedimento obstétrico mais realizado nestas unidades (BRASIL, 2005). De acordo com Febrasgo (2010), outro dado sobre a magnitude do aborto no Brasil estimou que foram induzidos no ano de 2005 1.054.242 abortos. E que a ilegalidade desta prática gera consequências negativas para o cenário da saúde da mulher, pois o ato não é coibido, pelo contrário, propaga a desigualdade social. Se tratando que a maioria são jovens, sem condições financeiras, católicas e já possuem mais de um filho. 15 A temática representa ainda um enigma para saúde pública, enxergado como uma negligência na saúde sexual e reprodutiva da mulher no mundo, incluso Brasil, que está associado à mortalidade materna, com uma prevalência de 74/100.000 nascidos vivos, que corresponde a 11,4% destas mortes. O autor cita no estudo que, o perfil sociodemográfico tem grande influência na tomada de decisão pelo aborto, mulheres que não têm companheiro ou não possuem apoio familiar, tornam-se mais propensa. Mulheres que estavam diante da gravidez, foi visto que, referindo-se à situação conjugal destas, na amostra 80,3% tinham relacionamento estável, ou seja, estas mulheres recebiam apoio para seguir com a gravidez. Ao contrário das mulheressolteiras, que a sociedade em si desqualifica a gravidez quando há ausência da figura paterna. Portanto, a condição de se ter um relacionamento estável pode transformar a gravidez indesejada em algo agradável, eliminando a possibilidade de um aborto (MILANEZ et al., 2016). Frente a este sério problema de saúde pública, Brito et al (2015), menciona que, o cenário brasileiro mostra-se adverso às conquistas adquiridas pelo movimento feminista. E reforça que apesar de existir punições a quem cometer e/ou praticar aborto, salvo os casos permitidos por lei, nada impede seu acontecimento, pelo contrário, o ato torna-se cada vez perigoso e inseguro, acarretando sérias complicações à mulher, como esterilidade, hemorragias e até a morte. Para Anjos et al (2013), o aborto praticado de maneira insegura retrata uma injustiça social, pois a taxa de mortalidade associa-se às mulheres solteiras ou separadas, a discriminação e criminalização abrangem uma parte mais frágil da sociedade, que são mulheres negras e pobres e com baixa escolaridade. A desigualdade é vista na procura da assistência no Brasil, a maioria dos abortos provocados são realizados em clínicas clandestinas, com estruturas inadequadas, que garantem sérios riscos, como perfurações uterinas. Mulheres que são submetidas à introdução de objetos (agulhas de tricô) e medicações (Cytotec), causando lesões graves e crônicas, pondo em risco à própria vida. Portanto, a criminalização do aborto é pertencente ao comando jurídico, médico e, sobretudo dos discursos morais e religiosos que influencia no parecer legislativo em reavaliar as questões legais do aborto (FERRAZA; PEREZ, 2016; FUSCO; SILVA, 2008; SILVEIRA et al., 2016). 16 2.3 ASSISTÊNCIA DISCRIMINATÓRIA E A ENFERMAGEM FRENTE A ESSE PROCESSO DE ABORTAMENTO A desumanização no atendimento de mulheres em processo de abortamento é uma realidade clara dos serviços públicos brasileiros, visto em situações como, a demora no atendimento ou recusa de profissionais em acolhê-las e prestar assistência. O preconceito já é a primeira barreira que a mulher encontra antes de buscar o serviço de saúde especializado, isso retarda à procura do atendimento, tendo em vista que, a própria mulher se culpa por ter provocado o aborto ou não (BRASIL, 2005). Os profissionais de saúde rotulam as mulheres que chegam nesse processo de aborto como criminosas, independentemente se foi uma tentativa de aborto por ter sofrido violência sexual ou espontâneo, a discriminação perpassa situações que são amparadas legalmente no Brasil. A fragilidade do serviço e a ineficiência no atendimento, são motivadas por questões culturais, religiosas e morais. A atenção no processo de abortamento é desumanizada, sendo um ponto não positivo para a redução da alta taxa de mortalidade materna (SILVA; ARAÚJO, 2011). Conforme Ventura (2009), tirar o direito da privacidade, confidencialidade das informações dadas aos profissionais em quais casos forem, inclusive em situações que o aborto praticado é configurado como crime, os descumprimentos desses direitos são constituídos como um tipo de violência institucional, que viola as normas éticas e legais dos direitos humanos. No estudo de Silva et al (2016) fica explícito essa violência quando se tira o direito de ter anestesia nos procedimentos que são necessários para evitar a dor, servindo assim, como punição à mulher pela realização ou escolha do seu ato. Isto vem ao encontro de Brito et al (2015), que enfatizam essa violência sofrida pela mulher, quando são ameaçadas, tratadas com agressividade e expostas a ambientes compartilhados (alojamento conjunto, com mães e recém-nascidos). Para Strefling et al (2015), o aborto é uma questão de saúde pública que precisa ser discutida entre gestores e profissionais de saúde, e os questionamentos acerca do tema devem ir além da moralidade e legalidade, seja ele espontâneo ou provocado. Por conseguinte, o mesmo autor, diz que, partindo das discussões quanto a abordagem assistencial dada à mulher em situação de abortamento, o Ministério da 17 Saúde, elaborou e publicou a Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento, em 2005, com diretrizes para subsidiar os profissionais e os serviços de saúde quanto a preservar os direitos humanos, dentre eles, sexuais e reprodutivos da mulher. Assim como também, a recomendação de uma assistência acolhedora, buscando construir de decisão da mulher. E trazendo a enfermagem como atuante nesse processo, Pitillin (2016) diz que, os profissionais de enfermagem exercem um papel importante nesse contexto, cabendo-lhes prestar uma assistência humanizada à mulher, respeitando a dignidade, a vida, sem discriminação e cumprindo a ética e o sigilo profissional. Devendo assim, atender as reais necessidades e sem menosprezar o cenário difícil que muitas estão inseridas. Segundo Mortari et al (2012), apesar da problemática do aborto se fazer presente na sociedade, os profissionais encaram com grande complexidade a questão vida x morte. A autora cita: “Vida ou morte biológica de um futuro ser humano; vida ou morte existencial de sonhos, projetos e aspirações; vida ou morte em todos os sentidos, de milhões de mulheres, em consequência das sequelas causadas pelo aborto clandestino” (MORTARI et al., 2012, p. 2) Assim, a enfermagem encara situações que trazem incertezas e conflitos nas condutas a serem tomadas em casos de abortamento, vindo à tona questões éticas, valores pessoais e sentimentais. Enfrentam a dificuldade de compreender escolhas de outras mulheres sem fazer pré-julgamentos. No entanto, quando se trata de um caso de aborto legal parece ser mais difícil de lidar, pois é uma escolha de uma vida ou de outra, exemplifica (LUNARDI; SIMÕES, 2004). Vale notar a contribuição de Silva et al (2016), que diz respeito à escuta da mulher pelo profissional de enfermagem, permitindo o acolhimento e assistência digna e respeitosa. Dentro disso, o autor também menciona que, apesar da atenção aos aspectos psicossociais ficarem a cargo dos psicólogos e assistentes sociais, o atendimento deve ser multiprofissional, fornecendo integralidade nos cuidados humanizado. E inserida na equipe, a enfermagem tem um papel de suma importância ao receber e estar próxima a mulher no centro obstétrico, durante os procedimentos e após (período de recuperação), sendo então, um momento essencial para realizar a escuta qualificada, que é um instrumento de grande relevância no atendimento. 18 Assim, Strefling et al (2015), enfatizam que, para que se preste um cuidado sistematizado com qualidade, é indispensável a junção do saber teórico e prático, bem como, a capacidade de comunicar-se e interagir, procurando compreender a mulher como dependente do cuidado de enfermagem e suas necessidades como direcionamento para ações. E conclui que, a equipe de enfermagem tem como atribuição a educação e a orientação a essa mulher (SILVA et al., 2016). Para Ribeiro e Bolpato (2013), o enfermeiro também deve contribuir não só com a escuta, mas deve intervir na ocorrência de futuros abortos, realizando a prevenção através da educação sexual, instruindo sobre métodos contraceptivos e a função do planejamento familiar, no intuito de informar a mulher da melhor maneira e assim contribuindo para diminuição da alta incidência de abortos, complicações e mortalidade. 2.4 ACOLHIMENTO E ORIENTAÇÕES PÓS-ABORTAMENTO Para se prestar uma assistência de qualidade e humanizada, deve-se considerar o acolhimento e orientações como elementos fundamentais. O acolhimento envolve o ouvir, dar atenção, compreender e solidarizar-se com a mulher. E a orientação implica, de acordo com as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), no repasse de informações necessárias para o autocuidado e tomada de decisões, assim como toda e qualquer explicação que almejesanar dúvidas sobre o assunto (SANTANA et al., 2014). O acolhimento deve partir da equipe de saúde que está à frente da atenção ao abortamento, sendo responsabilidade, a garantia da privacidade, identificação e avaliação dos riscos à saúde, execução de procedimentos técnicos de forma humanizada e a priorização no atendimento conforme a necessidade destas (BRASIL, 2005). Como fazem notar, Strefling et al (2015), o acolhimento não restringe somente técnicas e escuta, mas sim, de um exercício educativo que contempla a relação profissional e mulher. Dentro desse processo o suporte no pré e pós-abortamento deve ser fundamentado no acolhimento e orientações, com intuito de sanar as necessidades biopsicossociais da mulher. Pois, as mulheres que chegam à procura da assistência hospitalar, encontram-se fragilizadas ou culpadas pelo evento, seja ele, espontâneo, 19 induzido ou provocado. Como parte de uma atenção humanizada, o acolhimento deve ser ofertado de maneira respeitosa, o qual se busca a escuta qualificada da mulher e o respeito ao direito de decisão, cabendo então, o profissional de saúde separar suas convicções pessoais para não interferir no atendimento, não desumanizando (BRASIL, 2011; BRITO et al., 2015). Contudo, a Norma Técnica do Ministério da Saúde sobre Atenção Humanizada ao Abortamento traz orientações ao profissional quanto ao planejamento reprodutivo no pós-abortamento (BRASIL, 2005). Aconselhar e orientar sobre complicações, riscos de novos abortamentos, ofertar a anticoncepção imediata em casos de abortos provocados (explicando sobre todos os métodos disponíveis na unidade, lembrando-as que previne a gravidez indesejada, porém, não protege contra as doenças sexualmente transmissíveis), e, por mais complicado que seja distinguir espontâneo de um provocado, o profissional deve considerar o desejo da mulher de uma futura gravidez, mas é importante assegurar o bem estar físico e psicológico, devendo então orienta-la. 20 3. METODOLOGIA 3.1TIPO DE ESTUDO Trata-se de um estudo do tipo descritivo com abordagem qualitativa, no intuito de analisar assistência dos profissionais de enfermagem frente à mulher em processo de abortamento. Esse tipo de pesquisa procura descrever um fenômeno ou contexto em detalhe, principalmente o que está ocorrendo, permitindo compreender, com exatidão, particularidades de um indivíduo, uma situação ou um grupo, com intuito de desvendar a correlação entre os eventos. Em resumo o principal objetivo é realizar a descrição das características de uma determinada população ou o fenômeno. Dentre elas, estudar a característica de um grupo (ex., distribuição por idade, sexo) ou o nível de atendimento de órgãos públicos de uma comunidade, inclusos neste tipo, o levantamento de opiniões, de atitudes e crenças (GIL, 2008; OLIVEIRA; 2011). A abordagem qualitativa, segundo Minayo (2001), abrange um universo de significados, objetivos, ideias, crenças, valores e atitudes, correspondendo a um espaço mais intenso das relações, processos e fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. 3.2 LOCAL DO ESTUDO A pesquisa foi realizada no Hospital Materno Infantil no município de Boa Vista- RR, mediante autorização da instituição (ANEXO A). O hospital possui administração estadual e atende pelo Sistema Único de Saúde-SUS, sendo a única maternidade pública do município de Boa Vista. Referência e responsável pelo atendimento dos (15) municípios, dois países fronteiriços (República Cooperativa da Guiana e República Bolivariana da Venezuela) e dois Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI Leste e DSEI Yanomami). Os serviços ofertados estão dentro da área de ginecologia-obstetrícia e neonatologia. A instituição comporta 274 leitos, que estão distribuídos em 07 alas com nome de flores, mais o Acolhimento, Banco de Leite Humano e o Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais-CRIE (HMINSN, 2017). Assim, a pesquisa ocorreu em dois locais da instituição que recebem pacientes na condição de abortamento. O acolhimento é a porta de entrada de emergências, a 21 mulher em processo de abortamento é atendida primeiramente neste local, passa pela triagem na sala de acolhimento com profissional enfermeiro. E a ala das margaridas sendo o bloco responsável pela admissão da mulher no pré e pós- abortamento, contém uma enfermaria com 06 leitos para internação, as demais enfermarias destinam-se para área de clínica e infectologia. 3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA A população-alvo de estudo consistiu em profissionais de enfermagem atuantes nos setores de acolhimento, e no setor responsável por atender mulheres em pré e pós abortamento. Para a delimitação da amostra utilizou-se como critérios de inclusão: Profissionais enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem que atuavam nos setores citados por um tempo mínimo de seis meses e que aceitaram espontaneamente contribuir para esta pesquisa. Quanto aos critérios de exclusão: foram descartados da amostra os profissionais em período de férias, licença ou afastamento no período da coleta de dados. Além dos critérios de inclusão e exclusão, utilizou-se o esgotamento de novas percepções, ou seja, quando os discursos da equipe de enfermagem tornaram-se repetitivos o objetivo da pesquisa foi atingido. Deste modo, a pesquisa constituiu-se de 13 profissionais de enfermagem (06 enfermeiros, 01 auxiliar de enfermagem e 06 técnicos de enfermagem). 3.4 PROCEDIMENTOS DE COLETAS DE DADOS A pesquisa foi realizada no período de março a novembro de 2017, e a coleta de dados ocorreu no final de julho a agosto do mesmo ano, iniciando com a solicitação da escala de plantões dos setores no qual ocorreu a pesquisa, assim, posteriormente traçado a programação para execução do estudo. A entrevista foi realizada no local de trabalho dos sujeitos, de forma individual, e a partir da disponibilidade dos profissionais e horários, buscando não intervir na rotina de trabalho, convidados a participar da pesquisa, mediante apresentação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-TCLE (APÊNDICE I). 22 O instrumento utilizado para coleta de dados foi a entrevista semiestruturada composta por questões norteadoras relacionadas a assistência da equipe de enfermagem que atende à mulher em processo de abortamento (APÊNDICE II). A entrevista é uma das principais técnicas de coleta de dados, fundamentado através da obtenção de um diálogo entre duas pessoas (pesquisador e participante), seguido de um método para colher informações sobre determinado assunto. Existem diversas maneiras de entrevista, como exemplo, a entrevista semiestruturada, utilizada nesta pesquisa, estas podem ser aplicadas conforme uma série de questões em (roteiro) mas que terão espaços para manifestações de formas abertas e fechadas do participante (MARCONI E LAKATOS, 2010; OLIVEIRA, 2011). Para aquisição dos registros das respostas utilizou-se um gravador, com a permissão dos entrevistados, que para Gil (2008), é um método mais seguro de reproduzir com exatidão as respostas, bem como a preservar o conteúdo da entrevista. Também propicia que o pesquisador escute a gravação várias vezes e escreva, observando pausas para reflexão, dúvidas assim como a mudança na entonação de voz, apurando as narrativas (JUNIOR; JUNIOR, 2011). 3.5 ANÁLISE DE DADOS Os dados foram analisados por meio da Análise de Conteúdo é uma técnica de tratamento de dados coletados, que visa à interpretação de material de caráter qualitativo, assegurando uma descrição objetiva, sistemática e com a riqueza manifesta no momento da coleta dos mesmos (BARDIN, 2006). Há duas funções na aplicação desta técnica, uma seria certificação ou não da hipótese ou questões levantadaspelo pesquisador e a outra é a descoberta do que se está por trás do conteúdo manifesto, indo além do que é manifestado pelo objeto de pesquisa (MINAYO, 2001). Esta Análise constitui-se de três fases, a primeira fase, a pré-análise é desenvolvida para sistematizar as ideias iniciais colocadas pelo quadro referencial teórico e estabelecer indicadores para a interpretação das informações coletadas. Tal fase compreende a leitura geral do material eleito para a análise, no caso de análise de entrevistas, estas já deverão estar transcritas. Em síntese, efetua-se a organização do material a ser investigado, tal sistematização serve para que o analista possa 23 conduzir as operações sucessivas de análise. Concluída a primeira fase, acima descrita, parte-se para a exploração do material, qual constitui a segunda fase. A exploração do material consiste na construção das operações de codificação, considerando-se os recortes dos textos em unidades de registros, a definição de regras de contagem e a classificação e agregação das informações em categorias simbólicas ou temáticas. As categorias iniciais são agrupadas tematicamente, dando origem as categorias intermediárias e estas últimas também aglutinadas em função ocorrência dos temas resultam nas categorias finais. Assim o texto das entrevistas é recortado em unidades de registro (palavras, frases, parágrafos), agrupadas tematicamente em categorias iniciais, intermediárias e finais, as quais possibilitam as inferências. A terceira fase compreende em captar os conteúdos que foram manifestos e latentes contidos em todo o material coletado (entrevistas, documentos e observação). A análise comparativa é realizada através da justaposição das diversas categorias existentes em cada análise, ressaltando os aspectos considerados semelhantes e os que foram concebidos como diferentes (BARDIN, 2006; SILVA; FOSSÁ, 2013). 3.6 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS Respeitaram-se os aspectos éticos, diretrizes e critérios estabelecidos conforme a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde -CNS. O projeto foi encaminhado ao comitê de ética em pesquisa envolvendo seres humanos da Universidade Federal de Roraima (CEP-UFRR), aprovado sob o parecer nº 2.187.791 (ANEXO C). Posteriormente fora qualificado pelo Centro de Ciências da Saúde. As entrevistas ocorreram após a autorização dos participantes por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que tem como intuito instruir sobre os objetivos da pesquisa, bem como, esclarecer sobre riscos e benefícios, tais como o anonimato dos participantes. Para preservar os entrevistados e identificá-los utilizou- se a letra inicial conforme a categoria profissional e a ordem sequencial das entrevistas (Enf.1, Enf.2; TE1, TE2). 24 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram realizadas 13 entrevistas e diante dos dados sociodemográficos dos profissionais de enfermagem observou-se um maior predomínio do sexo feminino. Em relação ao tempo de atuação na unidade, a maioria dos entrevistados atuam entre 01 ano a 10 anos, sendo que é de 12 anos o maior tempo de atuação encontrado. Quanto ao tempo de atuação como profissional variam de 04 anos a 15 anos, sendo o maior tempo de 18 anos. E o tempo de formação dos entrevistados, a maioria tem um tempo maior que 10 anos, respectivamente conforme a tabela abaixo. Tabela 1- Dados pessoais e profissionais dos entrevistados conforme sexo, tempo de formação, tempo de atuação profissional, e tempo de atuação no setor, seguido da sequência de entrevistas realizadas no Hospital Materno Infantil de Boa Vista/RR, 2017. Categoria profissional Sexo Tempo de formação Tempo de atuação profissional Tempo de atuação no setor Setor de trabalho Enf.1 Feminino 12 anos 12 anos 03 anos Margaridas Enf.2 Feminino 14 anos 14 anos 12 anos Acolhimento Enf.3 Masculino 11 anos 11 anos 01 ano Margaridas Enf.4 Feminino 18 anos 18 anos 01 ano Margaridas Enf.5 Masculino 12 anos 12 anos 05 anos Margaridas Enf.6 Feminino 06 anos 02 anos 02 anos Margaridas TE1 Masculino 15 anos 15 anos 03 anos Margaridas TE2 Masculino 13 anos 12 anos 08 anos Margaridas TE3 Feminino 04 anos 04 anos 04 anos Margaridas TE4 Feminino 11 anos 04 anos 01 ano Margaridas TE5 Feminino 16 anos 15 anos 10 anos Margaridas TE6 Feminino 10 anos 07 anos 02 anos Margaridas TE7 Feminino 17 anos 10 anos 01 ano Margaridas Fonte: Autor (2017) Ao questionar os profissionais em relação à participação em capacitações acerca do atendimento às mulheres em abortamento, acesso a protocolos e 25 conhecimento sobre a norma técnica de atenção humanizada abortamento, todos referiram unanimemente que não tiveram acesso à nenhum dos itens citados. Após a realização das entrevistas e em seguida a transcrição na íntegra dos discursos dos profissionais de enfermagem, foi realizada a análise de conteúdo baseada na metodologia proposta. A partir dos dados analisados, obteve-se três categorias, sendo elas: acolhimento e cuidados à mulher; condutas de enfermagem no pós-abortamento e atendimento ao aborto legal. Portanto, serão descritas logo abaixo. 4.1 ACOLHIMENTO E CUIDADOS À MULHER Nessa categoria, percebeu-se que a forma de realizar o acolhimento e os cuidados à mulher em situação de abortamento foram variadas. Quando questionados sobre as ações de cuidados praticados no serviço, os profissionais dão ênfase aos aspectos clínicos e terapêuticos, conforme manifesto nas falas: “Na condição de abortamento ela vai chegar sangrando ou não sangrando, ou já com um ultrassom externo, então o primeiro procedimento é encaminhar para o setor, para ala das margaridas. Aqui a gente vai dá o recebimento dessa paciente, se paciente estiver com dor a gente já encaminha alguma analgesia, é encaminhado para o leito para fazer o que for prescrito na verdade” Enf.1 “[...] põe ela no leito, a gente faz as medicações que o médico prescreve, aí elas têm umas dúvidas, pergunta se quanto tempo ela vai ficar. Mas aí a gente fala assim: que ela vai fazer uma ultrassonografia primeiro para ver se o feto tá vivo ou não. E ver se tá tudo bem e que ela tem que aguardar essa ultrassonografia. ” TE7 “[...] aí já vai colhendo os exames, botando o acesso, arruma o leito da paciente, faz logo a medicação pra dor, aí arruma ela no leito, vê todas as medicações e quais são as outras queixas da paciente, sempre observando o sangramento, qualquer coisa comunica à enfermeira. ” TE2 Observa-se que os cuidados são realizados de forma mecanicista, seguidos dos procedimentos de rotina do setor. 26 Santana et al (2014) referem que é visível que os médicos e a equipe de enfermagem frente a esta assistência estão preparados apenas para lidar com procedimentos, técnicas e o tratamento, e assim acabam por se fechar apenas a essas questões, deixando de lado a moral dos pacientes, o seu psicológico e sentimentos. Corroborado ao autor anterior, Soares et al (2012) mencionam que essa visão tecnicista do cuidado vem desde a formação acadêmica dos profissionais, muitas vezes já pautadas de técnicas e questões burocráticas. No entanto Silva et al (2016) revelam em sua pesquisa que os profissionais de enfermagem dão prioridade à mulher em processo de parto e nascimento, por isso não consideram uma abordagem mais humanitária, sobretudo dos riscos que a mulher em condição de abortamento se expõe. Carvalho e Paes (2014) afirmam que o processo de cuidar requer a aceitação do outro, entendida como uma dimensão humana no plano da intersubjetividade. As ações de enfermagem remetem-nos à integralidade, quando essas consideram o cuidado além da objetividade da assistência à saúde, alcançando a subjetividade da vivência coletiva do sujeito envolvido. Apenas a valorização do indivíduo como um todo faz com que a ação humana seja reconhecida.Essa ação humana no cuidado é colocada em exercício no ato em que se transmite ou recebe o cuidado. Outro aspecto observado nas falas refere-se ao acolhimento destas mulheres, nota-se que essa prática não é realizada por muitos profissionais de nível técnico. Perguntados sobre o assunto, os participantes referem não ser de sua competência: “[...] então assim essa parte [ACOLHIMENTO] aí não é com nós técnicos de enfermagem, a nossa parte é mais dos cuidados, do cuidado à paciente, mas não na parte psicológica, mais na parte física” TE 04 “Geralmente quando vem aborto lá da frente [EMERGÊNCIA] a gente já sabe, até porque a gente evita, porque existe vários tipos de paciente. [...] geralmente quem tem mais esse contato com a paciente de apoio, conversa, o porquê, é mais a psicóloga, então nós [...] o trabalho mesmo em si, ele se restringe mais aos cuidados, no caso né [...] então quando a psicóloga vem, 80% do nosso trabalho foi feito, no caso a gente vai lá só fazer medicação, muitas não querem 27 ser puncionadas, mas depois com a conversa aí fica melhor pra nós, fica mais a menos. ” TE 05 “Acolhimento? Procedimentos normais, a gente punciona, coloca um acesso, colhe um exame se o médico solicitar. É [...] geralmente o médico pede um ultrassom imediato, imediato que a gente diz é quando ela entra lá, já vem encaminhamento, solicitado USG. ” TE 03 “O hospital ele não me apresentou [...] na verdade eu não tenho protocolo de atuação desse serviço, a essa assistência, ao acolhimento a paciente que está abortando, mas geralmente, a gente recebe esses pacientes e vai fazer o que foi solicitado na prescrição, o básico. O nosso serviço, o serviço do nível médio, dos técnicos é mais isso, é fazer o serviço assistencial [...]” TE 07 Nesta última fala evidencia-se que o profissional menciona não realizar o acolhimento com a justificativa que a instituição não fornecer protocolo para tal prática. Assim, nota-se também que os entrevistados confundem o acolhimento com procedimentos normais ou mencionam ser função dos profissionais de psicologia e serviço social. Segundo Brasil (2005) o acolhimento e a orientação são elementos de suma importância para uma atenção de qualidade e humanizada à mulher em situação de abortamento. Acolher, conforme o dicionário Aurélio, significa: “dar acolhida a atender, dar crédito a dar ouvidos a admitir, aceitar, tomar em consideração”. Assim, pode também ser determinado como “receber bem, escutar a demanda, buscar formas de solidarizar-se e entende-las”. Convergindo a este assunto Carvalho e Paes (2014) refere que a prática do acolhimento é uma das dimensões da integralidade expressada pela capacidade dos profissionais em atender e compreender ao sofrimento manifesto pela mulher, que resulta na demanda espontânea. Portanto, a existência da prática dialógica no atendimento a essa demanda é o que confere às práticas de saúde um caráter de prática de conversação, na qual os profissionais de saúde utilizam seus conhecimentos para identificar as necessidades de ações e serviços de saúde para cada sujeito. 28 Todavia, o ato de acolher não deve se resumir apenas a uma atitude voluntária de bondade e favor, nem a ações de triagem da parte administrativa, enfermagem e médica, com o intuito de selecionar os que serão atendidos pelo serviço no momento (BRASIL, 2011). A promoção do acolhimento é responsabilidade de todos os profissionais que compõem a equipe multiprofissional (BRASIL, 2005). Assim, acolhimento é uma das formas de concretizar a humanização das práticas de saúde (BRASIL, 2010). Dentro desse contexto Silva et al (2016) refere a escuta como uma forma de acolhimento, que se integra dentro dessa atenção digna e respeitosa que deve ser ofertada à mulher. Essa atenção deve atender tantos as necessidades psicossociais como físicas, que são específicas com mulheres em situação de abortamento, sendo assim, demanda de uma equipe multiprofissional para contemplar o atendimento humanizado. No entanto, cada profissional realizará sua assistência conforme sua formação, sem deixar de fornecer um cuidado integral. A enfermagem tem seu destaque nesse processo pois são os profissionais que geralmente estão em contato direto com a mulher, desde a entrada até a recuperação clínica. Portanto neste momento a escuta qualificada é um instrumento fundamental desse atendimento. Na fala de Enf.4 percebe-se que o profissional evita realizar à escuta por achar desnecessário, justificando que a mulher já foi ouvida por outros profissionais e muitas vezes encontra-se fragilizada pelo ocorrido: “Porque assim, a paciente que chega aqui para mim, ela já passou pelo médico, passou pela triagem com enfermeiro, já conversou com técnico de enfermagem, até com o maqueiro ela já foi conversando até chegar aqui. Então, muitas vezes essa paciente está triste, chorosa, no meu ponto de vista é muito ruim você ficar falando sobre isso com a mulher. Então ela chegar aqui para eu poder internar, fazer a parte burocrática, acolher e ter que perguntar novamente o que tá acontecendo? [...]” Enf.4 Ainda no que se refere ao acolhimento, percebeu-se nos depoimentos dos entrevistados que a abordagem à mulher, a forma de acolhê-las diferencia-se conforme a etiologia do aborto: 29 “[...] porque quando é espontâneo ela sofre demais, elas já chegam aqui muito chorosas, nervosas, porque era um bebê querido, planejado e não conseguem segurar, então a gente tenta acolher da melhor forma possível.” TE 01 “A gente procura assim até como ser humano né, a gente procura ser o mais cordial possível. Pela situação, porque todo aborto legal a gente sabe que vem proveniente de um estupro, anencéfalo, então aquela paciente tá psicologicamente abalada. A gente preserva o máximo quando o aborto é legalizado.” TE 04 “Nas duas situações? Aborto legal e quando não? [ACOLHIMENTO]. Geralmente tem uma enfermaria pra elas, específicas para curetagem, tem seis leitos, mas nem sempre tem como separar, tem vezes que aqui tá super lotado. E pra aborto legal a gente reserva dois leitos. ” Enf.3 Segundo Santana et al (2014) alguns profissionais de enfermagem ao cuidar de mulheres em processo de abortamento, prestam uma assistência diferenciada a depender da etiologia do aborto, contudo, essa assistência deve ser igualitária a todas as mulheres, independente do seu poder aquisitivo e tipo de aborto. Esta ideia é reafirma Soares et al (2012) ao referirem que assistência de qualidade é um direito da usuária, principalmente quando esta se encontra em situação de vulnerabilidade física e psicológica independente de qual processo esteja passando, seja ele um parto, um aborto provocado ou espontâneo. O atendimento requer um contato próximo e, este por sua vez contribuirá positivamente na recuperação. Tais mecanismos de apoio fazem parte do processo terapêutico, contribuindo na superação de sentimentos como a frustação, angústia e culpa. Assim permite o aprimoramento contínuo na qualidade da assistência. Na pesquisa de Strefling et al (2015) realizada com profissionais de enfermagem sobre gestão e cuidados à mulher que sofreu aborto. As participantes afirmaram que em casos de aborto espontâneo a comunicação com à mulher se torna mais tranquila, tendo em vista que elas se expressam facilmente, portanto o acolhimento ocorre de forma mais natural. Em contrapartida os autores Gesteira et al (2008) são os pensamento e atitudes de profissionais de enfermagem sobre aborto 30 provocado que refletem e influenciam sobre a maneira de prestar atendimento e a forma como relacionam-se com essas mulheres. Sobre as questões emocionais das mulheres relatadas pelos participantes. É importante que os profissionais de enfermagem tenham conhecimento das possíveis alterações físicas e emocionais,para que assim possam auxiliar durante a fase de hospitalização. Sendo imprescindível a promoção da assistência com qualidade e humanizada, tanto em situações de abortamento provocado ou espontâneo, tendo em vista que tal processo abortivo é um momento traumatizante para qualquer mulher (RIBEIRO; BOLPATO, 2013). 4.2 CONDUTAS DE ENFERMAGEM PÓS-ABORTAMENTO Nesta categoria nota-se uma ambivalência nas respostas. Diante dos relatos observa-se que a maioria das orientações se relacionam aos cuidados diante de sangramentos pós-curetagem e da não manutenção de relações sexuais: “[...] a orientação que a gente dá enquanto enfermeiro é com relação à observância do sangramento, é, a observância de febre, a observância também de qualquer anormalidade em relação ao fluxo de sangramento nos pós curetagem no caso e a não manutenção de relação sexual no período de um mês até que tenha a recuperação da paciente.” Enf.1 “Questão de observar sangramento intensivo, evitar relações, evitar uma nova gestação pelo menos nos seis meses iniciais [...]” Enf.2 “[...] pra não engravidarem num período de um ano, porque o aborto depois que é feito a curetagem, elas precisam passar o tempo do útero voltar ao normal, pra conceber de novo. Para que elas não venham ter outro aborto precoce, por conta de tá um próximo do outro e ela engravidar novamente.” TE 01 A recuperação pós-abortamento é rápida, sendo mais prolongada quando o abortamento ocorre ainda no 2º trimestre de gestação. Com relação ao retorno da prática sexual durante esse período, caso não seja de um aborto complicado, a mulher 31 pode ter relações assim que desejar, no entanto, os profissionais precisam informa- las que neste período a recuperação da fertilidade pode ser imediata após o abortamento, sendo assim, a anticoncepção deverá iniciar-se em seguida, ainda que a mulher demonstre não ter interesse em relações sexuais próximas a esta fase de recuperação. Ela deve ser orientada a usar um dos métodos contraceptivos de sua escolha num período de três meses para que possa posteriormente iniciar uma gestação com boas condições, físicas e emocionais. Portanto, é necessário que os profissionais de saúde se disponham destes métodos contraceptivos logo nessa etapa de pós-aborto imediato, servindo até como uma prevenção de eventuais riscos e de uma gravidez indesejada (BRASIL, 2005). Borges (2016), refere-se em sua pesquisa que estudos afirmam que os métodos contraceptivos são adotados positivamente quando ofertados ainda no ambiente hospitalar. Entretanto, tais evidências são predominantes em países que não há restrições legais quanto ao aborto, ou seja, nesses países existe um atendimento adequado a mulher que optou por encerrar a gravidez. Portanto, pouco se conhece dessa prática no Brasil, porém, ainda que o Ministério da Saúde tenha elaborado normas e manuais que servem de subsídio para assistência integral e de qualidade à mulher nesta condição, a atenção no ambiente hospitalar no país ocorre inapropriadamente. Os serviços de saúde responsáveis pelos atendimentos das urgências obstétricas deveriam aproveitar a ocasião valiosa para informar e sensibilizar a mulher sobre o uso destes métodos de barreira para concepção. Tais esclarecimentos e oferta dos meios devem ser amplos, para que a mulher dentro de suas condições socioeconômicas e clínicas possa ser beneficiada (BRASIL, 2002). O Ministério da Saúde (2010) indica que alguns métodos podem ser ofertados antes da mulher receber alta hospitalar. A exemplo os anticoncepcionais hormonais que podem ser administrados logo entre o dia do esvaziamento uterino até o quinto dia pós-aborto; a introdução do dispositivo intrauterino (DIU) após aborto espontâneo ou induzido quando há ausência de sinais infecções e/ou suspeita. No percorrer desse período é de suma importância que a mulher receba instruções sobre métodos contraceptivos, que seja abordado sobre saúde sexual e reprodutiva, a menção do planejamento familiar, independente de qual motivo tenha se dado o aborto da mulher. Em alguns trechos foi evidenciado por alguns entrevistados sobre a questão do planejamento reprodutivo/familiar: 32 “[...] a gente encaminha verbalmente, não tem encaminhamento no papel, pra ela ir no posto de saúde fazer o planejamento familiar [...] tenta mostrar a importância ali no momento da alta do planejamento, dela evitar, as que querem muito pede pra esperar mais um pouco, procurar o médico, muitas delas querem saber a causa, o que aconteceu e aí não tem como saber, então baixar um pouco a ansiedade nesse sentido e encaminha pro posto de saúde e procurar o ginecologista pra ver se na próxima gestão vê se vinga, se dá certo.” Enf.4 “A questão do planejamento familiar, laqueadura, quando a melhor procura por meios de engravidar, de métodos pra não engravidar [..] Algumas são feitas pelo Centro de Referência da Mulher. ” Enf.1 “[...] procurar ambulatório de ginecologia pra acompanhar, pra saber por quê aconteceu aquilo. ” Enf.6 “[...] algumas já saem com encaminhamento quando se faz necessário pro Centro de Referência [...]” Enf.3 Sobre esse assunto Pierre e Clapis (2010), discorrem que o planejamento familiar se constitui de um direito não só das mulheres, mas também dos homens, cabendo ao Estado prover recursos tanto educacionais, bem como, os tecnológicos para que tal direito sejam exercidos. Para isso é necessário que os profissionais de saúde sejam capacitados para o desenvolvimento de ações que abranjam a concepção e a anticoncepção. No entanto, o estudo refere que no Brasil, apesar do planejamento familiar ser de responsabilidade de todos os níveis de atenção em saúde, esse serviço só é ofertado na Atenção Básica, pela Equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF). Em concordância com o autor citado, Borges (2016) menciona que para Organização Mundial de Saúde - OMS e até pelo próprio Ministério da Saúde - MS, o cuidado integral à saúde da mulher em situação de abortamento deve inserir além da oferta de métodos contraceptivos emergenciais, o acesso universal ao planejamento reprodutivo até mesmo orientações para mulheres que desejam uma nova gravidez, 33 para que estas tenham condições benéficas de desenvolvimento saudável à uma gestação futura. Entretanto, isso se torna possível a partir do fortalecimento de todas redes e níveis de atenção, bem como da capacitação de profissionais para que efetivem a implantação desse serviço e dos protocolos que se encontram disponíveis. Tais ações propiciam o acesso à mulher no período de pós-aborto ao aconselhamento reprodutivo e de escolha de métodos contraceptivos de maneira a garantir seus direitos sexuais e reprodutivo. A integração dos serviços de urgência e os responsáveis pelo planejamento familiar deveriam fazer parte da qualidade da atenção ao abortamento e o pós- aborto, havendo a referência e contra referência destes dois serviços (BRASIL, 2002). Sobre a necessidade do planejamento reprodutivo nas unidades hospitalares Silveira et al (2016) referem que em um questionário aplicado com pacientes de 19 hospitais públicos de três capitais do Nordeste mostra como a impessoalidade na atenção, a falta de informações e a carência do planejamento reprodutivo no pós- abortamento ignoram as necessidades concretas das mulheres e sua possibilidade de decidir sobre sua reprodutividade e sexualidade. 4.3 ATENDIMENTO AO ABORTO LEGAL Esta categoria retrata o conhecimento dos profissionais de enfermagem sobre a legalização do aborto e os procedimentos a serem realizados nestas situações. No entanto, percebeu-se que a maioria dos entrevistados mencionam apenas o estupro e os casos de má formação fetal como exemplos de situações legais mais comuns na instituição: “É, o aborto legal quando chegam as pacientes, amaioria que dão entrada aqui é em caso de estupro, aí a família autoriza. Nessa última semana teve um caso, que uma menina, uma criança [...] E também quando, na mesma semana também, teve um caso de um anencéfalo, mas tranquilo, quem faz o procedimento é o médico, a gente só faz a medicação que tá prescrito e soro, manter atenção ali redobrada, alguma queixa da paciente. ” TE2 34 “[...] assim, sobre o abortamento legal, o que eu sei é que tem duas indicações pra abortamento, que seria anencéfalo e estupro, isso requer um protocolo que [...] só isso. Mas que não interfere na minha assistência porque aqui eu sou técnico de enfermagem assistencial, então meu serviço é seguir a prescrição.” TE4 “[...] vai decidir se ela quer a gravidez porque pode ser fruto de um “estrupro” ou então alguma anomalia. Semana passada a gente teve um caso de uma garota de doze anos, ela foi “estruprada” pelo padrasto, aí ela conseguiu toda documentação pra fazer esse aborto legal, ela veio aí foi feito, ela tava com quatro meses.” TE7 “O aborto legal eu sei que ele é uma condição que a mulher hoje, tem a condição de retirar o bebê em três situações, acho que são três situações [...] que pra justiça no caso de anencéfalo, em caso de estupro [...] quando chegam no caso de estupro, ela chega com boletim de ocorrência.” Enf.03 “[...] com relação ao aborto legal, ela [MULHER] tem direito em alguns casos, casos de estupro, má formação, então, através do Ministério Público tem o direito de interromper a gravidez [...]” Enf.05 Diante dos discursos dos profissionais é notório que o conhecimento acerca do tema é limitado, o que nos mostra ainda a carência de informação sobre a legislação vigente que assegura os casos de aborto legal. Segundo Madeiro e Diniz (2016) no Código Penal Brasileiro a prática do aborto é isento de punição em casos que há risco de vida à mulher ou quando a gestação se deu em decorrência de estupro, e atualmente os casos de anencefalia. Outro ponto observado é a posição que os profissionais de nível técnico se colocam, deixando claro haver uma subordinação ao profissional médico. Na pesquisa de Lunardi e Simões (2004), fora evidenciado que a questão de subordinação está presente na Enfermagem desde sua origem, parece permear, ainda hoje, o exercício profissional. Embora a profissão venha conquistando diferentes e múltiplos espaços, aprimorando sua prática assistencial com conhecimentos de saúde, moral e ética, ainda vemos perpetuadas 35 relações heterônomas estabelecidas há décadas, com uma certa acomodação e passividade em relação às ações e decisões de outros profissionais. Dentro destes mesmos trechos alguns entrevistados relatam os procedimentos burocráticos quando se trata de aborto legal, mencionam que nos casos decorrentes de estupro, segundo um entrevistado, são os casos mais incidentes para realização do aborto legal na instituição, sendo necessário muitas vezes o boletim de ocorrência. Nos casos de anencefalia à mulher deve recorrer ao Ministério Público para solicitar autorização do procedimento, como mencionado pelo participante. Sobre essa questão, a Norma Técnica de Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes de Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes (2012), o Código Penal não exige documento para a prática do abortamento nessa condição, apenas o consentimento da mulher. Entretanto, deve-se orientá-la a procurar a polícia ou a justiça, caso a mulher se negue, ainda assim o direito ao abortamento não poderá ser negado. A interrupção da gestação nos casos de anencefalia também passou a ser direito de assistência sem a necessidade de apresentação judicial autorizada pelo Supremo Tribunal Federal. No entanto, o Conselho Federal de Medicina, através da Resolução de n. 1989, 10 de maio de 2012, determinou critérios para a antecipação terapêutica do parto de anencéfalos (MADEIRO; DINIZ, 2016). O autor supracitado, menciona em seu estudo pesquisas atuais que revelam, que os motivos para as instituições solicitarem tais documentos que autorizem o aborto legal são devidas aos desconhecimentos de normas e do marco legal que regulamenta tal prática nos serviços públicos, bem como do receio profissional de consequências judiciais. Nestes trechos observou-se nas falas a pouca disponibilidade de profissionais na condução do procedimento evidenciados por questões pessoais, bem como a falta de uma equipe multidisciplinar institucionalizada na unidade: “[...] mas tem profissionais que realizam [aborto legal], pois existem profissionais que não realizam o procedimento porque não querem. Eu particularmente não faço, enquanto o feto tiver vivo ali, eu não mexo. Agora quando é um óbito embrionário [...]” Enf.1 36 “[...] na colocação da medicação a uma relutância dos profissionais, por isso alguns, há um ou dois médicos, se eu não me engano, e há um ou dois enfermeiros que fazem esse procedimento [...] não, não seria uma equipe, porque assim, eu participei de um treinamento dois anos atrás que a gente iria instituir uma equipe [...] pelas condições, é que algumas pessoas [...] de suas crenças religiosas não se sentiram, sentiriam a vontade pra fazer [...] Até porque é uma conduta institucional, a paciente tem o direito de se fazer, e precisa que se faça. Então esse médico passa ser obrigado na verdade a fazer essa condição.” Enf.3 “Aqui em Roraima como só temos essa maternidade, a gente é obrigada sim a fazer esse serviço e nós fazemos o serviço aqui também.” Enf.4 Diante das falas percebe-se que há uma necessidade de se implantar uma equipe multiprofissional que esteja responsável para atuar nesses casos, outra observação é quanto à dificuldade dos profissionais procederem esse aborto legal por suas crenças, questões éticas e valores, sendo uma das barreiras para a mulher que busca o serviço. Diante desse contexto, Madeiro e Diniz (2016) expõem em seu estudo que a recusa frequente para realizar aborto por parte dos médicos justifica-se pelas questões morais e religiosas relatadas pelos próprios profissionais quando entrevistados. Ele menciona estudo de Zordo (2012) feito com obstetras e ginecologistas no ano de 2003, mostrando que 85% destes profissionais concordavam com a mulher de interromper a gestação decorrente de estupro, porém apenas 50% estavam disponíveis para realizar o aborto. Cita também uma pesquisa de 2012, na qual 43% dos médicos declaram objeção de consciência por não estarem seguros de que a mulher falava a verdade sobre a violação sexual. Portanto, tal razão para a recusa não se deve às convicções morais e religiosas e, sim do temor social e legal que cerca o tema aborto (FARIAS; CAVALCANTI, 2012). Melo (2011) expõe em seu estudo que impedir à mulher ao direito ao aborto legal é uma violência, se tratando dos casos de violência sexual torna-se ainda mais perverso em vista que a mulher passa de vítima a criminosa por ocasionar a morte do feto. No estudo de Silveira et al (2016), os profissionais afirmaram que participariam integrar uma equipe para realizar abortos legais, tento em vista que a 37 circunstância que se deu a gravidez justificaria a participação nesse caso. Entretanto, na pesquisa sobre a análise das percepções de profissionais de enfermagem de uma maternidade pública sobre assistência a mulher em condição de aborto provocado evidenciou-se que os profissionais entendem como crime até os casos de aborto legal, que são previstos em lei (BENUTE et al., 2012). Outra pesquisa sinalizou que aproximadamente 30% das mulheres que abortam sem assistência de saúde preenchiam requisitos legais, sendo assim, possuíam o direito de realizar a interrupção da gestação. No entanto, muitas não recorrem aos serviços de saúde por não encontrarem acolhimento necessário para tal (SILVA et al., 2014). Em uma outrafala, um entrevistado expressa sua posição se caso estivesse no lugar da mulher que sofreu violação sexual: “[...] porque tem um lado que é uma vida, tipo se foi “estrupro”, aí você fica pensando é uma vida, se nascer ela vai sempre associar aquela criança, aquele momento trágico. Então não sei nem assim, se fosse eu, se eu ia querer abortar ou se eu ia continuar.” TE 07 Conforme exposto, o entrevistado relata uma dificuldade comum entre os profissionais de saúde que lidam com abortamento, especificamente os casos legais. A situação gera conflitos, questionamentos de como proceder tendo em vista que se trata de uma vida, no entanto, tal decisão cabe à mulher, bem como o poder de decisão. Sobre assistência, o Código de Ética de Enfermagem, no art.23 preconiza prestar assistência de enfermagem à clientela sem discriminação de qualquer natureza (COFEN, 2007). Em vista disso Brasil (2011) ao prestar atendimento ao abortamento, a equipe de saúde demanda refletir sobre a influência de suas convicções pessoais em sua prática profissional, evitando atitudes discriminatórias, julgamentos e rotulações à mulher. 38 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise da atuação da equipe de enfermagem sobre à mulher em situação de abortamento. Através de um questionário semiestruturado investigou-se sobre esse atendimento nos diversos aspectos, abrangendo desde o acolhimento na porta de entrada até a alta hospitalar da mulher. A partir dos depoimentos dos profissionais percebe-se que ainda há uma grande necessidade de mudanças nessa assistência, no que se diz respeito à mulher em processo de abortamento, visto que profissionais não foram capacitados para atuar nestas situações, assim como o pouco interesse do profissional buscar atualizar- se em benefício da assistência, dentro da área de atuação, portanto, é notório a carência de informação e conhecimento sobre direitos que garantem a prática do aborto legal, legislações, as normas que subsidiam e orientam o profissional frente ao abortamento. Conforme os relatos sobre o acolhimento e cuidados, os profissionais de enfermagem relacionam a acolhida como procedimentos de rotina, ou seja, ofertar um leito arrumado, analgesia, explicar resumidamente o que será feito naquele momento, demonstrando que a parte dos cuidados ocorre de forma mecanicista, centralizado na figura do médico. Evidenciado também que as questões éticas, morais e religiosas disfarçadamente estão por trás da falta desse acolhimento e do cuidado humanizado, o que interfere negativamente nessa assistência. A escuta da mulher como forma de compreender e amenizar o sofrimento, procurar buscar saber o motivo pelo qual levou ou se deu o abortamento é desarticulada desse processo quando em casos de aborto provocado, quando comparado ao aborto espontâneo, observado que dependendo da etiologia o posicionamento profissional é outro, enfatizado pelos profissionais que a mulher que sofreu um aborto espontâneo requer uma atenção maior, com apoio de profissionais psicólogos e assistentes sociais, assim como em situações decorrente da violência sexual. O que demonstra uma conduta discriminatória por parte desses profissionais com à mulher quando se trata de um abortamento induzido e/ou provocado. No que concerne, a conduta da equipe de enfermagem no pós-abortamento. Os profissionais enfatizam uma atenção ao cuidado com o sangramento pós- 39 curetagem, assim como, à orientação à mulher sobre a não manutenção de relações sexuais, todavia, não há menção de oferta e de meios para evitar uma futura gravidez indesejada, tampouco informações sobre a saúde sexual e reprodutiva, o planejamento reprodutivo, que faz parte da Norma Técnica de Atenção Humanizada ao abortamento, do Ministério da Saúde, portanto, deveria estar inclusa dentro da assistência, sendo imprescindível no pós-abortamento. Findado, a última categoria referente ao conhecimento e assistência ao aborto legal os pesquisados afirmam que o procedimento é de responsabilidade do profissional médico, não sendo competência de os profissionais de enfermagem procederem nesses casos. Conforme o Código de Ética dos profissionais de Enfermagem nos casos de abortos legais cabe ao profissional decidir a participação ou não do aborto, apenas há proibição quando em situações de abortamento não legalizado, não poderá cooperar ou provocar a interrupção da gestação. Os entrevistados também mencionaram que na instituição existem profissionais médicos e enfermeiros que prestam a assistência nestes casos, no entanto foi relatado que não há na unidade uma equipe multidisciplinar para estar atuando no serviço de aborto legal, sendo necessário realizar capacitações com todas as equipes que atuam na unidade. Diante disto, ressalta-se a relevância de realizar mais pesquisas sobre esta temática, com foco no profissional, para que se compreenda o posicionamento e a atuação frente a este cuidado, evidente nesta pesquisa que ainda é bastante deficitário. O aborto é um tema polêmico, carregados de preceitos éticos, religiosos e morais que ultrapassam o entendimento de uma questão grave de saúde pública e que deveria ter uma preocupação especial não só da sociedade que condena esta prática, sobretudo dos profissionais que lidam diariamente com esta problemática. 40 6. REFERÊNCIAS ANJOS, K.F; et al. Aborto e saúde pública no Brasil: reflexão sob a perspectivas dos direitos humanos. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 37, n.98, p, 504-514, jul-set, 2013. BARDIN, L. Análise de conteúdo (L. de A. Rego & A. Pinheiro, Trads.). Lisboa: Edições 70, 2006. BAZOTTI, K.D; STUMM, E.M.F; KIRCHNER, R.M. Ser cuidada por profissionais da saúde: percepções e sentimentos de mulheres que sofreram abortamento. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, v. 18, n. 1, p. 147-54, jan-mar, 2009. BENUTE, G.R.G; et al. Influência da percepção dos profissionais quanto ao aborto provocado na atenção à saúde da mulher. 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