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APOSTILA DE CONSTITUCIONAL I

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PROFESSOR MARIO BUZZULINI 
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1 
 
 
APOSTILA DE DIREITO CONSTITUCIONAL I 
 
1 – CONSTITUCIONALISMO E DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
ACEPÇÕES DA PALAVRA CONSTITUCIONALISMO 
CONSTITUCIONALISMO é um termo que pode ser empregado para 
designar qualquer sistema jurídico que tenha uma Constituição para regular o 
poder do Estado. Nesse estudo, trataremos do constitucionalismo em seu 
sentido ESTRITO, que estabelece a limitação dos poderes governamentais e 
estabelece um leque de direitos e garantias fundamentais dos cidadãos. Será 
visto como um sistema jurídico dotado de uma constituição do regime 
democrático, que se consolidou a partir das revoluções do século XVIII. 
EVOLUCÃO HISTÓRICA 
A evolução histórica do constitucionalismo representa o poder dos 
governantes contra a liberdade dos governados. Enfoque interdisciplinar, pois 
se conecta com elementos da ciência política. 
O constitucionalismo não é um paradigma igualmente utilizado em todos os 
países. Movimentos constitucionais se diferenciam do constitucionalismo. O 
primeiro se refere ao desenvolvimento do constitucionalismo, daí se verificar 
as diferenças entre o constitucionalismo de um país em relação ao do outro. 
Vejamos a classificação do constitucionalismo 
• Constitucionalismo PRIMITIVO – surgiu nas primeiras coletividades 
humanas, as quais eram geralmente ágrafas, regidas por costumes (convicções 
religiosas), e no seio delas começaram a ser lançadas as primeiras sementes. 
Essas comunidades se baseavam no costume, não havia constituições escritas. 
Porém existiam referências antigas, que a doutrina majoritária, costuma citar 
como exemplo os Hebreus que são considerados os precursores do 
constitucionalismo. Eles de forma costumeira desenvolveram a noção de que 
os poderes dos governantes estariam limitados pelos chamados poderes do 
“senhor”, e os profetas deveriam dar esses limites. 
• Constitucionalismo ANTIGO – a antiguidade greco-latina é uma fonte 
importante do constitucionalismo e para o direito público. Na Grécia antiga 
vigorou uma forma de organização política chamada de “polis”. As cidades 
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podem ser visualizadas como importantes formas de reconhecimento dos 
cidadãos, sobretudo nas cidades-Estado que seguiam o modelo de Atenas de 
democracia direta (os cidadãos participavam ativamente das decisões da 
comunidade). 
Com isso vemos a afirmação da cidadania e dos direitos dos cidadãos. 
Marcado pela supremacia do Estado sobre a sociedade. Sócrates (colocou o 
homem como a medida de todas as coisas, valorizou um governo limitado 
pela lei, e morreu porque observou a lei – “é necessário que os homens bons 
sigam as leis más, para que os homens maus sigam as leis boas”). 
Platão e Aristóteles (obra política) criaram uma teoria de governo, nas formas 
puras e impuras, até hoje seguidas por nós. Se essas formas puras de governo 
(seguir o interesse comum) se degenerassem, haveria uma transição de uma 
forma de governo para outra que também contribuíram para a afirmação do 
constitucionalismo. 
Em Roma também pode ser observada sementes do constitucionalismo. 
Embora não houvesse Constituições escritas nem controle de 
constitucionalidade, havia uma valorização do parlamento e algumas sementes 
que limitavam o poder dos governantes. 
• Constitucionalismo MEDIEVAL – período marcado por uma profunda 
fragmentação política econômica e cultural. Panorama fragmentário, 
desenvolvendo o feudalismo, onde os senhores feudais exerciam não só o 
poder econômico, mas também o poder político. 
Marcado pela prevalência do poder da Igreja. Como contribuição importante, 
podemos citar o desenvolvimento da idéia de que o REI só seria REI se 
respeitasse a Lei, a qual nesse caso, não era o diploma escrito... lei nesse 
momento, era um conceito amplo, que abarca do direito natural e os 
costumes. Descumprindo esse conceito, o REI estaria descumprido as 
“ordens de DEUS”. 
• Constitucionalismo INGLÊS – Magna Carta Libertatum – considerada 
uma Constituição porque estabeleceu uma limitação ao poder do Rei, 
garantindo o direito de propriedade, sobretudo da burguesia. 
Petition of right, bill of rights, são exemplos de pactos escritos que foram 
moldando o constitucionalismo inglês, com a progressiva limitação do poder 
dos governantes e poder da burguesia. Foram se aprimorando as idéias de 
liberdade dos cidadãos, do tribunal do júri, habeas corpus, liberdade religiosa, 
acesso à justiça, e o devido processo legal. 
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O processo de formação do constitucionalismo inglês é peculiar, pois não é 
fruto de revoluções – constituição histórica de governo misto – pois ao longo 
da história foi acomodando diversas forcas (rei, igreja, burguesia), criando um 
governo equilibrado, harmonizando as forças. 
Essa harmonização inspirou Montesquieu. CRÍTICA: não nos levou a outros 
elementos importantes (princípio da supremacia constitucional, porque na 
Inglaterra com a valorização do parlamento, o qual tinha atos Supremos, não 
puderam adotar esse princípio) e também não se afirmou o constitucionalismo 
escrito, e nem a idéia de Rigidez constitucional (divergência na doutrina). 
• Constitucionalismo MODERNO – a rigor, o que entendemos hoje como 
constitucionalismo, surge no constitucionalismo em sua acepção estrita. A 
idade moderna não se inicia muito aberta para a idéia do constitucionalismo, 
pois ela se inicia baseada no absolutismo monárquico, onde a burguesia 
almejava não só poder econômico, mas também político. 
A burguesia tinha uma aliança com o rei, constituindo os primeiros Estados 
absolutistas monárquicos, sendo muito importantes, pois firmaram 02 noções: 
a) noção de territorialidade (território com espaço para exercício do poder 
soberano do Estado); b) afirmação da soberania do poder estatal. Entretanto 
o absolutismo monárquico se tornou um estorvo para a monarquia, 
exatamente por limitar o poder dos governantes. 
Um dos autores que mais contribuiu foi John Locke(tratados sobre o governo 
civil – idéia de relação de fidúcia – direito natural à revolução), que se 
contrapunha às idéias do Leviatã. 02 marcos simbólicos: 
a) a Constituição dos Estados Unidos da América do Norte – 1787 – a 
independência dos EUA, foi um marco importante para a afirmação do 
constitucionalismo moderno – revolução burguesa. Com a declaração de 
independência, foi criada a constituição escrita dos EUA que até hoje está em 
vigor. 
Contratos de colonização – Contribuição importante: em 1º lugar a afirmação 
de uma constituição escrita; em 2º lugar a supremacia constitucional; em 3º 
lugar a idéia de controle de constitucionalidade realizado pelo poder Judiciário 
(Madison X Marbury); em 4º lugar foi o Presidencialismo como sistema de 
governo, porque este é a melhor salvaguarda a separação dos poderes; em 5º 
lugar o Federalismo, porque este, nada mais é do que uma forma de repartição 
vertical de poder; em 6º lugar o Bicameralismo, pois limita o poder do 
parlamento, com a desvantagem de manter a casa dos Lordes – os norte-
americanos criaram o Bicameralismo democrático, onde o povo elege os 
representantes; em 7º lugar contribuiu para a reafirmação da democracia 
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representativa, enfatizando o papel do povo, pois o poder legislativo emana 
do povo. 
b) a Constituição Francesa de 1791 – se desenvolveu de modo totalmente 
contrário do constitucionalismo inglês. Aqui, foi criado através de um 
processo revolucionário, de uma ruptura constitucional através da revolução 
francesa. Foi a revolução liberal burguesa de maior relevância. 
Contribuiu para o constitucionalismo ao criar a Declaração dos direitos do 
cidadão frente a sociedade, afirmandoque só haveria Constituição se o Estado 
prevesse a declaração de poderes e os direito dos cidadãos, posteriormente se 
transformando no preâmbulo da Constituição francesa. 
Contribuições importantes: em 1º Constituição escrita; 2º soberania /mais 
associada à nação e não ao povo – Jackes Rousseau; 3º princípio da separação 
dos poderes, em sua forma Tripartite; 4º previsão de direitos e garantias 
individuais; 5º não edificou a idéia do constitucionalismo no controle de 
constitucionalidade, pois temiam que o Judiciário pudesse restaurar o antigo 
regime (embora estivesse sofrendo mutações), mas podemos observar o 
Conselho de Estado fazendo um controle de constitucionalidade. 
CONCLUSÂO 
As grandes contribuições do constitucionalismo MODERNO foram: 
1) poder constituinte (poder do povo); 
2) afirmação do direito escrito / constituição; 
3) rigidez constitucional; 
4) afirmação de um Estado de direito / império da legalidade constitucional / 
processo de jurisdicização do Estado; 
5) afirmação da legalidade como expressão da vontade popular; 
6) afirmação do princípio da democracia representativa; 
7) afirmação da dignidade da pessoa humana. 
 
CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO 
Final do século XIX para o início do século XX – é um constitucionalismo 
social. Período marcado pela questão social frente ao capitalismo, onde as 
sociedades constatam a exploração dos trabalhadores no socialismo. 
Verifica-se assim a necessidade do Estado intervir no livre jogo das forças 
individuais, passando a um processo de intervenção do Estado para proteger 
os mais fracos (trabalhadores) realizando justiça social. Essa tendência se 
robustece no início do Século XX. 
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Pode citar como marcos desse momento: a Constituição mexicana (1917) e a 
Constituição Alemã (1919) referidas como modelos importantes para a criação 
da Constituição Brasileira de 1934. 
CONTRIBUIÇÕES: 
a) a idéia de um Estado intervencionista na economia, com a idéia de Justiça 
social; 
b) previsão dos direitos sociais e econômicos – direitos de 2º dimensão ou 
geração; 
c) prestações positivas do Estado para implementar direitos sociais e 
econômicos, como educação, moradia, previdência social etc.; 
d) constitucionalismo DIRIGENTE – que muitos negam ser base para a 
Constituição brasileira; 
e) desenvolvimento dos instrumentos de democracia participativa, pois 
verificou-se que a democracia representativa não atendia à vontade do povo, 
pois os governantes atuavam em nome próprio buscando seus próprios 
interesses; 
f) iniciativa popular – plebiscito, referendo, veto popular, Recall etc.; 
g) normas constitucionais programáticas; 
h) relativização do poder legislativo; 
i) previsão ou organização do Estado social de direito, Estado comprometido 
com a Justiça Social. 
 
NEOCONSTITUCIONALISMO 
Nova forma de interpretação surgida após a segunda grande guerra mundial. 
Tem como primeiras referências históricas, a Constituição alemã de 1949 e a 
Constituição Italiana de 1947. Não se inicia ao mesmo tempo em todos os 
países. Na Europa continental se deu com a promulgação das Constituições 
acima descritas; no Brasil, com a Constituição Federativa do Brasil de 1988. 
 Do ponto de vista filosófico, o chamado neoconstitucionalismo é uma 
expressão do pós-positivismo jurídico, que é um novo modelo de 
compreensão e interpretação do direito. Ele representa a superação das 
posições do jus naturalismo e do positivismo jurídico dos séculos XIX e XX, 
porque o jusnaturalismo é uma doutrina dos direitos naturais, fundamentação 
axiológica do direito. 
Essa concepção embora tenha um mérito, é muito critica por tratar de um 
valor justiça único e imutável, pressupondo uma única idéia de justiça. 
Positivismo Legalista – direito legislado – implica no sistema jurídico como 
sistema de normas – teoria de Hans KELSEN. Positivismo Jurídico, embora 
ofereça parâmetros de segurança – dimensão normativista, não contempla o 
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exame da legitimidade e justiça do sistema jurídico; essa discussão se tornou 
nítida com a segunda grande guerra mundial. 
Com tudo isso se criou o PÓS-POSITIVISMO JURÍDICO, aproveitando do 
pós-naturalismo o debate jurídico sobre a justiça realizada na dimensão 
concreta / princípios. Do positivismo ele se apropria da preocupação em 
operacionalizar a aplicação de normas. O NEOCONSTITUCIONALISMO é 
a expressão desse movimento no âmbito da Constituição. No Brasil com a 
CF/88, ele veio a oferecer elementos importantes para o direito brasileiro. 
CARACTERÍSTICAS DO NEOCONSTITUCIONALISMO: 
A) Previsão da forma do Estado constitucional de direito – Estado que 
sintetiza o Estado social de direito, o Estado deve buscar através de suas 
políticas sociais e fins em si mesmo, conciliar legalidade com legitimidade, 
igualdade com liberdade; 
B) As Constituições deixam de ser vislumbradas como meras cartas políticas, 
cartas que ofereciam meras recomendações, pois nele as constituições são 
entendidas como conjunto de normas fundamentais imperativas com ampla 
eficácia jurídica e fundamental para os cidadãos; 
C) Implica a consideração da Constituição não somente em seu sentido 
formal, mas também no sentido substancial ou material – a CF não deve ser 
entendida como um sistema PURO de normas, deve ser entendida também 
como um espelho dos fatos sociais e repositório dos valores mais importantes 
da sociedade; 
D) Previsão de novo valor fundamental do Estado de direito – a dignidade da 
pessoa humana. Proibição de toda e qualquer ação do Estado ou do particular 
que venha a degradar a dignidade do ser humano. Hoje largamente 
reconhecida, promove também a conexão da ordem jurídica interna com a 
ordem jurídica internacional (art. 5º, § 3º, CF/88. – BLOCO de 
constitucionalidade, ampliando os parâmetros para o controle de 
constitucionalidade); 
E) Previsão de amplo aberto e inexaurível catálogo de direitos humanos 
fundamentais. Lembrando que esses direitos não excluem outros direitos 
sociais como saúde, segurança, educação, proteção à maternidade, etc. Direito 
trans-individuais – interesses difusos (art. 216, CF e art. 5º, § 2º, CF); 
F) Normas regras – ex: Brasília é a capital Federal – art. 18, CF; 
G) Desenvolvimento de uma nova interpretação constitucional – 
hermenêutica constitucional – não mais aqueles métodos: gramatical, 
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sociológico, intelectual, etc., mas a colocação de novo métodos como, por 
exemplo: método hermenêutico concretizador e normativo estruturante; 
H) Os princípios constitucionais são normas jurídicas, devem ser levados a 
sério, considerados superiores do ponto de vista axiológico; 
I) Nova teoria da justiça – hoje em dia vem sendo discutida a teoria de John 
Rawls, inserindo 02 princípios: o da liberdade e o da diferença; 
J) Legitimação do ativismo judicial – o poder judiciário está sendo chamado 
para implementar os direitos fundamentais, para promover a concretização do 
regime democrático, podendo examinar o mérito de opções discricionários 
feitas pelo administrador em função da sociedade – RESERVA DO 
POSSÍVEL; 
K) A emergência do fenômeno da constitucionalização do direito. Constitui-
se em 03 sentidos básicos: 
- SENTIDO AMPLÍSSIMO – seria a previsão de uma Constituição como lei 
fundamental e hierarquicamente superior. Não nos ajuda a compreender a 
essência do fenômeno. 
- SENTIDO AMPLO – seria mera previsão do direito infraconstitucional no 
texto da Constituição. O Brasil se identifica com esse sentido, pois prevê os 
diversos ramos do direito, diversos artigos, etc. No Brasil essa Constituição 
prolixa se justifica pelos fatos históricos envolvidos. 
- SENTIDO ESTRITO – seria a própria expansãodos efeitos jurídicos da 
Constituição que se situada no centro do sistema jurídico passa a irradiar a 
aplicação a todos os ramos do direito condicionando a aplicação dos mesmos, 
inclusive a aplicação do direito privado – processo de filtragem 
hermenêutica. Estabelece os vetores para a interpretação e aplicação de 
todos os direitos. 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 Conceito: ramo do saber que se debruça sobre o estudo da constituição. 
 É importante entendermos que a constituição é, por excelência, o 
instrumento que disciplina o poder do Estado, visto que cria os próprios 
elementos constitutivos deste, assim como dispõe sobre os limites e 
obrigações estatais. Sendo assim, vemos que a constituição é o elemento 
central do estudo do direito público, pois este nada mais é do que o ramo de 
estudo que aborda a relação de poder soberano que o Estado exerce tanto no 
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sentido vertical (em relação aos cidadãos, aos particulares), quanto no sentido 
horizontal (em relação a outros Estados). Assim, podemos dizer que estudar a 
constituição é estudar o próprio Estado, pois será ela, repete-se, quem dará os 
contornos e as possibilidades de exercício do poder estatal. 
 Devemos notar que a função constitucional de dar os contornos ao poder 
estatal representa a dimensão constitucional que se realiza no presente, 
enquanto a função de expor todas as possibilidades de exercício do poder do 
Estado representa uma dimensão que se projeta para o futuro, tornando, 
assim, a constituição também um documento programático no que tange à 
evolução do povo, da nação e do próprio Estado. 
 Da perspectiva didática do ensino do direito, o direito constitucional se 
conceitual como um ramo do direito público. Devemos ter em mente que não 
é tarefa das mais simples, como pensam alguns, separar o que é direito público 
do que é direito privado. Enquanto de forma superficial se diz que o direito 
público é aquele em que se verifica a predominância do poder soberano do 
Estado, vê-se que de forma crescente áreas tidas como essencialmente 
privadas, a exemplo do direito civil, passam a apresentar interferência 
gradativa do poder publico, mesmo que como vetor regulador das relações 
entre particulares. 
 Como essa discussão passa ao largo do nosso objetivo neste estudo, 
contentamo-nos em afirmar que o direito constitucional é um ramo do direito 
público nos limites impostos pelo interesse estritamente didático do ensino 
jurídico, mas sempre nos lembrando de que é defensável a tese de que não há 
e nem mesmo é possível a distinção entre público e privado no direito, pois 
ele é um só. 
Conceito de Constituição 
O termo constituição significa o ato de constituir, estabelecer, firmar. É o 
modo pelo qual se constitui alguma coisa, um ser vivo, um agrupamento. 
Em termos jurídicos, a Constituição é uma norma de ordem superior a qual 
expressa a forma, o regime, a estrutura, a organização do Estado, a separação 
dos Poderes, os direitos e garantias individuais e outros assuntos de relevante 
interesse social. 
Em síntese: cabe a Constituição a criação do Estado. 
 
 
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Nas palavras de Alexandre de Moraes: 
"Lei fundamental e suprema de um Estado, que contem normas referentes à estruturação do 
estado, à formação dos poderes públicos, forma de governo e aquisição do poder de governar, 
distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos." 
José Afonso da Silva, assim conceitua o que seja uma Constituição: 
"Constituição é lei fundamental de um Estado, a qual organiza os seus elementos essenciais: 
um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a 
forma do seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, os estabelecimentos de seus 
órgãos e limites de sua ação." 
Objeto da Constituição 
O objeto da Constituição foi evoluindo de acordo com as evoluções sociais, 
políticas e econômicas, de modo que atualmente, em principio o objeto das 
Constituições estão estruturados da seguinte forma: 
 
· Estruturação do estado; 
·Organização dos Poderes e seus órgãos; 
· Disposição sobre o modo de aquisição de poder e a forma de seu exercício; 
· Limitação da atuação do poder; 
· Proteção aos direitos e garantias dos indivíduos; 
· Fixação do regime político; 
· Fixação e disciplina das finalidades sociais e econômicas do Estado; 
· Determinação dos fundamentos dos direitos econômicos, sociais e culturais 
do Estado. 
 
2 - CONCEPÇÕES SOBRE AS CONSTITUIÇÕES 
 
A Teoria da Constituição como conhecimento jurídico, político e filosófico 
deve-se à doutrina alemã. Sua formação e autonomia decorreram da 
preocupação de se chegar a um conceito substantivo de Constituição. Ela 
examina, identifica e critica os limites, as possibilidades e a força normativa do 
Direito Constitucional, ocupando-se em estudar os diversos conceitos de 
Constituição, o Poder Constituinte e a legitimidade da Constituição; reforma 
constitucional; direitos fundamentais e separação de poderes, como elementos 
característicos do Estado de Direito etc. 
 
O vocábulo “Constituição” tem muitos significados, mas há um sentido 
primário: a Constituição é Lei Fundamental ao Estado e ao seu povo, ditando 
ao primeiro os limites de atuação como forma de proteger ou tutelar o 
segundo. 
 
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1 Sentido Sociológico 
 
Ferdinand Lassalle leciona que a Constituição corresponde ao somatório dos 
fatores reais de poder que vigoram em um país. Segundo o mestre alemão: 
“De nada serve o que se escreve numa folha de papel se não se ajusta à 
realidade, aos fatores reais de poder”. 
 
Esses fatores reais de poder, entre nós, estão identificados na força dos 
produtores rurais e dos movimentos de sem terra, no sistema financeiro e nas 
federações empresariais, nos sindicatos e nas centrais sindicais, nas 
corporações militares e civis, dentre outras forças que impõem a forma e o 
conteúdo da Constituição. 
 “Os fatores reais de poder que atuam no seio de cada sociedade são essa 
força ativa e eficaz que informa todas as leis e instituições jurídicas vigentes, 
determinando que não possam ser, em substância, a não ser tal como elas 
são”. 
 
A doutrina de Lassalle é concebida como sociológica por Jorge de Miranda, 
que ao analisar a concordância das normas constitucionais com a realidade do 
processo de poder destaca a existência de Constituições normativas, 
Constituições nominais e Constituições semânticas. Constituição normativa é 
aquela que efetivamente submete o processo de poder às suas regras. Ou seja, 
é respeitada e cumprida, pois reflete os princípios fundamentais do 
constitucionalismo sendo, assim, legítima. 
 
A Constituição nominal é aquela que embora tenha por pretensão representar 
os valores fundamentais da sociedade, não possui regras que representem a 
dinâmica do processo político, pelo que ficam sem realidade existencial. 
Por fim, a Constituição semântica (ou de fachada para Canotilho), serve 
apenas para beneficiar os detentores do poder de fato, instrumentalizando sua 
dominação sobre a sociedade. 
 
2 Direito de Resistência 
 
Direito de resistência é a denominação dada à legítima oposição de um povo a 
regras formais opressivas que não correspondem aos reais anseios de uma 
sociedade, podendo ser manifestado pela desobediência civil ou mesmo por 
uma revolução. 
 
Em síntese, é o direito de descumprir e combater determinações 
governamentais que afrontem as liberdades fundamentais da maioria do povo. 
As liberdades fundamentais segundo leciona Norberto Bobbio, são aquelas 
que “cabem ao homem enquanto tal e não dependem do beneplácito do 
soberano (entre as quais, em primeiro lugar, a liberdade religiosa)”.PROFESSOR MARIO BUZZULINI 
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3. Sentido Político 
 
Carl Schmitt concebe a Constituição no sentido político, pois para ele 
Constituição é fruto da “decisão política fundamental” tomada em certo 
momento. 
 
Para Schmitt há diferença entre Constituição e lei constitucional; é conteúdo 
próprio da Constituição aquilo que diz respeito à forma de Estado, à forma de 
governo, aos órgãos do poder e à declaração dos direitos individuais. Outros 
assuntos, embora escritos na Constituição, tratam-se de lei constitucional 
(observe-se que essas ideias estão próximas as de Constituição material e 
formal). 
 
4. Sentido Jurídico 
 
Segundo Hans Kelsen (sentido lógico-jurídico ou formal) – a Constituição 
consiste na norma fundamental hipotética, pressuposta e não posta pela 
autoridade, concebe o Direito como estrutura normativa, cuja unidade se 
assenta na norma fundamental, já que o fundamento de validade de qualquer 
norma jurídica é a validade de outra norma, ou seja, uma norma superior. O 
ordenamento jurídico é representado por uma pirâmide. 
 
De acordo com a Teoria Pura do Direito, Kelsen destaca vários significados 
de constituição: 
 
Material – é o conjunto de normas que regulam a criação dos preceitos 
jurídicos gerais e prescrevem o processo que deve ser seguido em sua 
elaboração. 
 
Formal – consiste no conjunto de normas jurídicas que só podem ser 
modificadas mediante a observância de prescrições especiais, que têm por 
objetivo dificultar a modificação destas normas. 
 
Sentido amplo – compreende as normas que estabelecem as relações dos 
súditos com o poder estatal. 
 
3 - CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 
 
Quanto ao Conteúdo 
 
• Constituição material ou substancial: conjunto de regras jurídicas 
materialmente constitucionais, que regulam a estrutura do Estado, a 
organização de seus órgãos e os direitos fundamentais. Tais regras podem ou 
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não estar na Constituição e justamente por isso é mais abrangente que a 
Constituição Formal. Há, por exemplo, regras materialmente constitucionais 
disciplinadas em lei ordinária, como o Estatuto dos Estrangeiros. 
 
• Constituição formal: conjunto de regras jurídicas, inseridas no texto unitário 
da Constituição escrita, diga ou não respeito à matéria constitucional. 
Exemplo: o art. 14, § 4.º9, da Constituição Federal, que trata da 
inelegibilidade, é regra formal e materialmente constitucional porque delineia 
o modo de aquisição e exercício do poder. Mas os casos de inelegibilidade não 
são apenas os previstos nesse dispositivo; a Lei Complementar n. 64, de 
18.5.1990 disciplina outras hipóteses, em consonância com o prescrito no § 
9.º10 do próprio art. 14. 
 
• Instrumentais (instrument of government): é aquela lei fundamental 
entendida, essencialmente, como lei processual e não como lei material. 
Estabelece competências, regula o processo e define os limites da ação 
política. Como instrumento de governo, contém as regulamentações 
necessárias para a vida política de uma comunidade. 
 
Vale lembrar o fato de não haver óbices que a norma reúna 
concomitantemente as mesmas características. 
 
Quanto à Forma 
 
• Escritas: suas normas se acham expressas em um ou vários documentos 
escritos. 
 
É o próprio texto escrito da Constituição, ou seja, é o conceito formal de 
Constituição, cuida-se de um texto redigido em um momento de reflexão do 
constituinte originário, podendo ser: 
 
Analítica (expansiva, abrangente ou prolixa) – quando o texto constitucional, 
além de dispor de normas materialmente constitucionais, trata de matérias que 
não deveriam ser tratadas pela Constituição. É, por exemplo, a Constituição 
brasileira, que possui 250 artigos, ADCT, várias emendas etc. 
 
Tais constituições são instáveis, haja vista que necessitam de reiteradas 
modificações. 
 
Sintética (concisa ou negativa) – traz apenas normas materialmente 
constitucionais, como a norte-americana, que possuía inicialmente sete artigos 
e, após dois séculos de existência, foi modificada apenas 27 vezes. São 
sumárias, breves, principiológicas e de grande estabilidade. 
 
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• Não escritas (costumeiras ou históricas): as normas constitucionais não 
constam de um documento único e solene, são textos esparsos, elaborados em 
épocas distintas sendo formadas por usos e costumes válidos como fontes de 
direito. 
Com efeito, ainda que não seja escrita, esta Constituição terá parte do seu 
sistema necessariamente escrito. A rigor a diferença dos Estados que adotam 
esta forma para a escrita, é fonte, isto é, a existência ou não de apenas uma 
única fonte. Portanto, devemos fixar que a Constituição não escrita possui 
várias fontes (costumes, decisões dos tribunais, práticas administrativas e 
textos escritos). 
 
Tais constituições são formadas por meio de um processo histórico, e adotam 
o sistema da common Law. 
 
Segundo o livro Curso de Direito Constitucional, de autoria do Prof. 
Fernando Capez e outros, tem-se ainda: 
 
a) Constituições legais: aquelas cujas normas são escritas, mas não estão 
codificadas, ou seja, estão espelhadas em diversos textos; e 
b) Constituições orais: conjunto de normas proclamadas solenemente pelos 
chefes máximos de um povo para reger a vida de todos, como ocorreu na 
Islândia, no século IX, quando os Vikings instituíram o primeiro parlamento 
livre na Europa. 
 
Quanto ao Modo de Elaboração 
 
• Constituição dogmática: reflete a aceitação de certos dogmas, ideais vigentes 
no momento de sua elaboração, reputados verdadeiros pela ciência política. 
Dogma: ponto mais importante que caracteriza um sistema, um determinado 
modelo, corporifica as opções daquele que elaborou o texto constitucional. 
 
• Constituição histórica: é a Constituição não escrita, resultante de lenta 
formação histórica. Não reflete um trabalho materializado em um único 
momento. 
 
Quanto à Ideologia 
 
• Eclética, pluralista, complexa ou compromissória: possui uma linha política 
indefinida, equilibrando diversos princípios ideológicos. 
 
• Ortodoxa ou simples: possui linha política bem definida, traduzindo apenas 
uma ideologia. 
 
 
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Quanto à Origem ou ao Processo de Positivação 
 
• Constituição outorgada: são aquelas impostas por um grupo ou por uma 
pessoa, sem um processo regular de escolha dos constituintes. Nesse ponto 
podemos traçar a diferença entre Carta Constitucional, expressão reservada às 
constituições outorgadas, e Constituição que objetiva designar as 
promulgadas. 
 
• Constituição promulgada (democrática ou popular): são aquelas elaboradas 
por representantes eleitos pelo povo, de forma livre e consciente, para exercer 
o poder constituinte. 
 
• Constituição cesarista (plebiscitária, referendaria ou bonapartista): trata-se da 
Constituição que, não obstante elaborada sem a participação do povo ou dos 
seus representantes, é submetida a um referendo popular antes de ganhar 
vigência. Recebe esse nome por ter sido um método utilizado por Napoleão 
Bonaparte nos denominados plebiscitos napoleônicos. 
 
• Constituição mista (pactuada, positivada por convenção ou dualista): nessas 
constituições o diploma fundamental não é já uma Carta doada pela vontade 
do soberano, mas um pacto entre o soberano e a representação nacional, em 
regra entre o monarca e o Poder Legislativo. 
 
Parte da doutrina classifica a Constituição, quanto ao modo de positivação, da 
seguinte forma: a) Por convenção ou votada – os representantes do povo, 
mediante assembleia convocada especificamente para tal fim, votam uma nova 
Constituição; e b) Por outorga ou outorgada – quando uma nova Constituição 
é impostaao povo. Nesse caso, é comum a utilização da expressão Carta 
Constitucional. 
 
Ainda nesse esteio, alguns manuais asseguram que todas as constituições 
votadas são democráticas, o que para alguns seria na verdade um equívoco, 
pois para saber se uma Constituição é democrática ou não, deve-se analisar se 
o seu processo de positivação é legítimo. 
 
Malgrado o fato de a maioria das vezes uma Constituição votada ser 
democrática pode ocorrer de uma Constituição votada não ser democrática, 
como a Constituição de 1967, um perfeito exemplo para ilustrar tal 
posicionamento, e a recíproca é verdadeira, pois é possível sim haver uma 
Constituição outorgada e democrática, desde que atenda aos reclames sociais. 
 
“A Carta Constitucional de 1967, segundo prevalece amplamente na doutrina, 
é outorgada quanto à sua origem, já que o Congresso Nacional, convocado 
extraordinariamente pelo AI n. 4 para apreciar a proposta dos militares entre 
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12 de dezembro de 1966 e 24 de janeiro de 1967 não possuía liberdade 
suficiente para alterar de forma substancial o documento. Formalmente, 
contudo, o Congresso aprovou e promulgou a Constituição de 1967, razão 
por que alguns (minoria) classificam tal Carta como sendo uma Constituição 
positivada por convenção, dualista.”). 
 
Quanto à Estabilidade, à Mutabilidade ou à Alterabilidade 
 
• Rígida (ou condicional): demandam processo especial, mais solene e difícil 
para sua alteração do que o da formação das leis ordinárias. Não devemos 
associar rigidez constitucional com estabilidade constitucional, pois a CFRB, 
apesar de rígida, não possui estabilidade (constituição escrita, analítica). 
 
• Flexível (não condicional): é a Constituição que pode ser modificada 
livremente pelo constituinte derivado, utilizando-se do mesmo processo de 
elaboração das leis ordinárias. Não devemos associar flexibilidade com 
instabilidade, já que a Constituição inglesa, apesar de flexível é bastante 
estável. 
 
Constituição plástica – de acordo com a doutrina de Pinto Ferreira, 
Constituição flexível também é chamada de Constituição plástica. Todavia, na 
doutrina de Raul Machado Horta, Constituição plástica possui outro 
significado, sendo, portanto, aquela que para ter eficácia necessita de grande 
regulamentação por parte do legislador infraconstitucional. Para ele, ainda, 
Constituição plástica é aquela suscetível de adaptação a uma nova realidade 
social, por meio de integração normativa futura. 
 
Constituição transitoriamente flexível – o texto constitucional é suscetível de 
reforma, em determinado período, com base no mesmo rito das leis comuns. 
Ultrapassado aquele período, passa a ser rígida. 
 
• Semirrígida: contém uma parte rígida, para alteração das regras 
materialmente constitucionais e outra flexível, para a modificação das regras 
formalmente constitucionais. Foi o caso da Constituição brasileira do império 
(art. 178). 
 
O professor Kildare Gonçalves cita ainda a Constituição fixa, que “somente 
pode ser alterada por um poder de competência igual àquele que a criou 
(poder constituinte originário)”, sendo também conhecida como Constituição 
silenciosa, pois não estabelece, expressamente, o procedimento para sua 
reforma (tem valor apenas histórico). Cita também a Constituição imutável 
(granítica ou intocável), que se pretende eterna, pois se funda na crença de que 
não haveria órgão competente para proceder à sua reforma, sendo incomum 
na atualidade e normalmente relacionada a fundamentos religiosos. 
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Por fim, cumpre dizer que alguns manuais reconhecem ainda a existência de 
uma Constituição moldura que é tão somente a possibilidade do legislador 
atuar livremente dentro dos ditames constitucionais, funcionando a 
Constituição justamente como uma. 
 
Quanto à Função 
 
Esta classificação, apresentada pelo Prof. Manoel Gonçalves Ferreira Filho15, 
tomando por base lições de José Joaquim Gomes Canotilho, não apresenta 
categorias que sejam logicamente excludentes, ou seja, a Constituição poderá 
receber mais de uma destas classificações. 
 
Em geral, fala-se que a Constituição pode ser: 
a) Garantia (quadro ou negativa): tem o escopo de assegurar os direitos 
fundamentais das pessoas, haja vista que toda vez que se enuncia um 
direito, há limitação do poder. Também é conhecida como negativa 
justamente pelo fato de impedir o poder arbitrário do Estado. 
Originou-se a partir da reação popular ao absolutismo monárquico. É 
denominada quadro porque há um quadro de direitos definidos e 
negativa porque se limita a declarar os direitos e, por conseguinte, o que 
não pode ser feito. 
b) Dirigente (abrangente, programática ou doutrinal)16: além de 
organizar e limitar o poder, a Constituição também preordena a atuação 
governamental em um determinado sentido, por meio de planos de 
governo, de “programas” vinculantes (previstos em normas 
programáticas) seja qual for o Partido, são as chamadas diretrizes 
políticas permanentes. É a “Constituição do dever-ser”. A nossa 
Constituição Federal inspirou-se no modelo da Constituição 
portuguesa. 
 
Função prospectiva – está consubstanciada na Constituição dirigente, 
pois se o texto constitucional é voltado para o futuro, a sua finalidade é 
dirigir a ação política e de toda a sociedade, segundo um modelo 
proposto, e para a realização de determinados objetivos, gerais ou 
específicos, informados pela ideia de direito nela consignada. 
 
As normas programáticas possuem eficácia limitada, pois dependem de 
lei. Para que a criação de tal lei não dependesse da boa vontade do 
legislador, o constituinte originário criou dois remédios constitucionais 
processuais para solucionar a desídia, a saber: a) mandado de injunção; 
e b) ADI por omissão. 
 
Há ainda aqueles que destacam a função simbólica da Constituição, 
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considerando o aspecto normativo-político e a realidade social em que 
se insere o ordenamento constitucional. 
 
 
 
4 - TEORIA DO PODER CONSTITUINTE (*) 
 
Introdução 
 O poder constituinte pode ser estudado em uma dupla dimensão: 
originária e reformadora. Trata-se do poder que constitui, que faz e que 
elabora normas constitucionais. O poder constituinte produz normas 
constitucionais tanto ao elaborar a Constituição quanto ao alterá-la. 
 
Na primeira hipótese, diz-se originário, primário, de primeiro grau; na 
segunda, tem-se o poder reformador, derivado, instituído, constituído, 
secundário, de segundo grau, ou, simplesmente, competência constituinte. 
“Entende-se por poder constituinte o poder de elaborar (poder constituinte 
originário) ou de modificar (poder constituinte derivado) a Constituição”. 
 
As normas produzidas pelo poder constituinte – seja o originário, seja o 
reformador – compõem um texto normativo (a Constituição) localizado em 
posição de superioridade, em relação às demais normas do ordenamento 
jurídico de um País. 
 
Poder constituinte originário 
 
Noção 
O poder constituinte originário cria o Estado. Pode fazer isso a partir do 
nada, quando cria o Estado e lhe dá a primeira Constituição, ou a partir de uma 
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ruptura da ordem jurídica existente, quando estabelece um novo tipo de Estado 
e lhe dá uma nova Constituição, substituindo a anterior. 
 
Nesse sentido, o poder constituinte originário cria o Estado, dando a este 
sua primeira forma, partejando o que não existia. Contudo, ele pode também 
recriar o Estado, dando-lhe uma nova forma. Assim, o poder constituinte pode 
criar ou recriar o Estado. 
 
A manifestação constituinte, ao produzir uma nova Constituição, faz 
nascer um novo tipo de Estado.“Antes dessa manifestação, o Estado, tal 
como veio positivado, não existia. Existe, é, a partir da Constituição [...]. 
Historicamente é o mesmo. Geograficamente pode ser o mesmo. Não o é, 
porém, juridicamente” 
 
O poder constituinte dá uma constituição ao Estado e à sociedade. 
Trata-se, sob esta ótica, de uma “vontade política cuja força ou autoridade é 
capaz de adotar a concreta decisão de conjunto sobre modo e forma da 
própria existência política, determinando assim a existência da unidade política 
como um todo” . 
 
Tem-se entendido, também, o poder constituinte como competência, 
capacidade ou energia para cumprir um fim. “Se por ‘poder’ entendemos uma 
competência, capacidade ou energia para cumprir um fim, e por ‘constituinte’ o 
poder que constitui ou dá constituição ao estado, alcançamos com bastante 
precisão o conceito global: poder constituinte é a competência, capacidade ou 
energia para constituir ou dar constituição ao estado, é dizer, para organizá-
lo”. Nota-se, então, que o poder constituinte originário está localizado fora do 
Direito e precede o Estado e a Constituição, os quais, tanto aquele quanto 
esta, são criados por ele. 
 
Natureza 
É bastante controvertida a natureza do poder constituinte. Para alguns, 
de formação jusnaturalista, é poder de direito. Para outros, em regra 
positivistas, trata-se de um poder de fato. 
 
De acordo com a primeira tese, o poder constituinte originário é um 
poder de direito, tendo por fundamento o Direito natural, que é anterior e 
superior ao Direito do Estado. “Deste Direito natural decorre a liberdade de o 
homem estabelecer as instituições por que há de ser governado. Destarte, o 
poder que organiza o Estado, estabelecendo a Constituição, é um poder de 
direito”. 
 
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O poder constituinte originário é compreendido também como um 
poder de fato. Encontra-se vinculado à realidade concreta da vida social em 
determinado espaço territorial. Sob esse enfoque, dizer que é um poder de 
fato equivale a dizer que é um poder político. “Mais até, estamos a falar de um 
poder exclusivamente político, porque originariamente imbricado em toda a 
polis, naqueles raros instantes em que a polis se sobrepõe ao Estado para dizer, 
por ela mesma, sob que tipo de Direito-Constituição quer viver”. 
 
Titular 
A titularidade do poder constituinte tem mudado de acordo com as 
circunstâncias históricas. Primeiro, pertenceu a Deus; depois, ao monarca; 
mais tarde, à nação; atualmente, ao povo. No futuro, essa titularidade poderá 
pertencer a outro. 
 
Deus. Na tradição judaico-cristã, Deus é a única fonte de todo o poder 
que já existiu. Assim, toda autoridade provém de Deus. É ao Seu poder 
(supremo no Universo) que os homens devem estar submetidos. É o que se 
pode encontrar na Epístola de São Paulo aos romanos: “Cada qual seja 
submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não 
venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus”. Se todo o poder 
advém de Deus, a titularidade do poder constituinte a Ele pertence. 
 
Monarca. O monarca, concentrando em suas mãos todo o poder 
terreno, colocava-se como intermediário entre o povo e a divindade: “o 
príncipe é admitido como soberano legítimo porque sendo à imagem de Deus, 
ele não pode por definição contrariar a vontade divina”. Mas a luta travada 
contra o absolutismo “deslocou a soberania do príncipe para a comunidade 
política a fim de romper com a divinização da autoridade real”. 
 
Os monarcas exerciam o poder de modo absoluto. Foi o caso, por 
exemplo, de Luís XIV na França pré-revolucionária. Quando o Rei Sol dizia 
“o Estado sou eu”, estava, em verdade, afirmando que o poder constituinte 
originário lhe pertencia, pois ele detinha em suas mãos todo o poder terreno. 
 
Os revolucionários franceses, sob a influência do pensamento de 
Emmanuel Sieyès, substituíram o titular da soberania. Esta passou a residir 
essencialmente na Nação, ficando proibido a qualquer órgão ou indivíduo, 
especialmente ao monarca, exercer sem responsabilidade algum tipo de 
autoridade que não tivesse sua origem na Nação. 
 
Nação. Na concepção do abade Sieyès, a titularidade do poder 
constituinte pertencia à nação, única fonte legítima capaz de fazer uma 
Constituição. “A nação existe antes de tudo, ela é a origem de tudo. Antes 
dela e acima dela só existe o direito natural “. Quando se desejar construir os 
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fundamentos da ordem jurídica, deve-se recorrer a ela. “Em toda nação livre – e toda 
nação deve ser livre – só há uma forma de acabar com as diferenças, que se produzem 
com respeito à Constituição. Não é aos notáveis que se deve recorrer, é à própria nação. Se 
precisamos de Constituição, devemos fazê-la. Só a nação tem direito de fazê-
la”. 
 
Povo. Nos tempos atuais, tem-se entendido que o titular do poder 
constituinte originário é o povo, um dos elementos constitutivos do Estado. 
Nesse sentido, afirma-se que “a soberania primária, o poder constituinte, 
reside essencialmente no povo, na totalidade e em cada um dos seus 
membros”. 
 
Mais recentemente, em face da elaboração de um Projeto de Constituição 
para a União Européia, a titularidade do poder constituinte originário vem 
enfrentando um processo de transformação. Não obstante haver divergências 
quanto à titularidade do poder constituinte europeu, pode-se afirmar que, 
nesse específico contexto, ela já não pertence tão-somente ao povo. Os 
cidadãos europeus e os Estados membros da União Européia devem ser 
considerados nessa mutação de titularidade, que parece atingir o poder 
constituinte. 
 
Agente 
O agente do poder constituinte originário é aquele que elabora a 
Constituição. O agente não é órgão do Estado ou da Constituição; é órgão da 
sociedade, imbuído da tarefa de fazer uma Constituição e (re)criar o Estado. 
Esse órgão costuma ser a Assembléia Nacional Constituinte ou a Convenção 
Constituinte. 
 
Agente e titular do poder constituinte originário: distinção. Não se 
pode confundir o titular com o agente do poder constituinte originário. O 
titular jamais deixa de existir, apenas se retira de cena. Seu berço está fora do 
âmbito da obra que edita. Ao contrário de seu agente, ele, o titular, não morre. 
“Esse poder não se exaure jamais na obra que edita. Sobrevive ao seu próprio 
labor (mas sempre do lado de fora) e é assim que pode gestar quantas 
Constituições quiser. A qualquer tempo”. 
 
O agente, assim que é constituído, começa a caminhada lenta para sua 
própria extinção. Elaborada a Constituição, ele desaparece, morre, deixa de 
existir. É certo que “no momento em que a Assembléia ou Convenção 
Constituinte promulga sua obra legislativa (o Magno Texto), ela morre de parto, 
sem remissão. Tem o destino trágico (ou glorioso) do louva-a-deus, cuja cabeça 
é devorada pela fêmea durante o acasalamento. Só uma outra Assembléia ou 
Convenção Constituinte é que pode gerar uma nova Constituição”. Em 05 de 
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outubro de 1988, por volta das dezessete horas, promulgada a Constituição, a 
Assembléia Nacional Constituinte brasileira extinguiu-se. Para sempre. 
 
Formas de manifestação 
 
Há várias formas de manifestação do poder constituinte originário: a 
outorga, o bonapartista e a democrática. As duas primeiras não têm 
compromisso com a legitimação democrática do poder e do ordenamento 
jurídico. Prescindem da participação popular. Consistem, sob essa ótica, em 
verdadeira negação do poder constituinte do povo. 
 
A forma democrática de exercício do poder constituinte pode ser 
classificada em quatro modos, conforme o lugar e o momento histórico em 
que tem sido utilizada para a elaboraçãoda Constituição: 
 
a) exercício direto do poder constituinte – um grupo de pessoas que assumiu o poder 
para governar transitoriamente elabora um projeto de Constituição e 
submete-o, diretamente, à apreciação popular. O projeto pode ser aprovado 
por referendo ou, pelo menos em tese, por aclamação. Após tal aprovação, a 
Constituição é promulgada sem que tenha existido uma Assembléia 
Nacional Constituinte; 
b) exercício indireto do poder constituinte – o poder constituinte é exercido por 
um órgão cujos membros são eleitos pelo povo. Esse órgão – Assembléia 
Constituinte ou Convenção Constituinte – elabora a Constituição e a 
promulga. Exemplo: Assembléia Nacional Constituinte de 1988; 
c) forma mista de exercício do poder constituinte – o poder constituinte é exercido 
por um órgão – Assembléia Constituinte ou Convenção Constituinte. 
Elaborada a Constituição, esta é submetida à aprovação popular; 
d) exercício pactuado do poder constituinte – o poder constituinte é exercido de 
forma consensual. O pacto celebrado entre forças antagônicas faz nascer, 
de forma consensual, a Constituição. O equilíbrio de forças, embora 
precário, gera a Constituição pactuada. 
 
 
 Características 
Podem ser apontadas várias características para identificar o poder 
constituinte originário. No âmbito desse estudo, entende-se o poder 
constituinte como sendo inicial, incondicionado e ilimitado. 
 
Inicial. O poder constituinte originário inicia, instaura, inaugura, 
implanta uma nova ordem jurídica. Como já afirmado anteriormente, ele pode 
fazer isso a partir do nada, quando cria o Estado e lhe dá a primeira 
Constituição, ou a partir de uma ruptura da ordem jurídica existente, quando 
estabelece um novo tipo de Estado e lhe dá uma nova Constituição, 
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substituindo a anterior. Na primeira hipótese, ele cria o fundamento de 
validade do ordenamento jurídico. Na segunda, ele substitui esse fundamento. 
 
Com a obra do poder constituinte, algo nasce e algo morre, visto que, a 
um só tempo, o poder constituinte cria e mata, parteja e sepulta. No instante, 
em que o velho e o novo se encontram mortalmente, o poder constituinte 
realiza o féretro de uma Constituição e, ao mesmo tempo, o partejamento de 
outra. Nesse sentido, ele é, a um só tempo, poder constituinte e poder 
desconstituinte. 
 
Sob tal perspectiva, reconhece-se que, “no fundo, o poder constituinte 
se revela sempre como uma questão de ‘poder’, de ‘força’ ou de ‘autoridade’ 
política que está em condições de, numa determinada situação concreta, criar, 
garantir ou eliminar uma Constituição entendida como lei fundamental da 
comunidade política”. 
 
O momento de ruptura – em que o velho morre e, em seu lugar, nasce o 
novo – representa um ponto alto do constitucionalismo. A nova Constituição, 
fundamento de validade da ordem jurídica, substitui um Estado por outro. 
Porém, “só uma Constituição pode trocar o Estado por outro. Não um 
Estado a trocar sua Constituição por outra. E mais: o Direito feito para o 
Estado tem de permanecer o referencial do Direito feito pelo Estado, durante 
todo o tempo de vigência da obra que uma dada Assembléia Constituinte vier 
a promulgar”. 
 
Desse modo, em 1988, no Brasil, não houve apenas a substituição de 
uma Constituição por outra. O que ocorreu, na verdade, foi a substituição do 
fundamento de validade do ordenamento jurídico. A nova Constituição, fruto 
do poder constituinte originário, criou um novo tipo de Estado, passou a ser o 
núcleo irradiador de legitimidade para todo o ordenamento jurídico. 
 
Incondicionado. A incondicionalidade refere-se ao procedimento. O 
poder constituinte cria as regras de acordo com as quais, em seguida, irá 
trabalhar. Não está condicionado a nenhuma regra jurídica pré-existente, 
podendo expressar-se por meio da forma que escolher. Cria suas próprias 
regras (regimento interno), as quais irá observar para elaborar a Constituição 
(a primeira ou uma nova). Criadas as regras, ele passa a atuar balizado por elas 
para elaborar a Constituição. É incondicionado, assim, porque não precisa 
observar as regras jurídicas que existem e regulam o nascimento de normas 
infraconstitucionais ou de normas constitucionais de reforma. 
Isso já foi constatado pelo teórico do poder constituinte: “Qualquer que 
seja a forma que a nação quiser, basta que ela queira; todas as formas são boas, 
e sua vontade é sempre a lei suprema”. 
 
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23 
 
Pode-se mencionar o exemplo de 1987, quando, ao dar início aos 
trabalhos de elaboração da Constituição, a Assembléia Nacional Constituinte 
aprovou seu Regimento Interno, com base no qual passou a trabalhar. 
 
Ilimitado. O poder constituinte originário não conhece limites para 
atuar. É livre para escolher os valores que pretende assegurar na Constituição. 
Por exemplo, pode estabelecer o Estado federal ou o unitário, instituir ou 
proibir a pena de morte, restringir o direito adquirido etc. 
 
O poder constituinte originário, por ser ilimitado, não fica submetido à 
Constituição que edita. Ao contrário, poderá substituí-la, quando entender 
necessário. “Não só a nação não está submetida à Constituição, como ela não 
pode estar, ela não deve estar, o que equivale a dizer que ela não está”. 
 
Compreendendo a radicalidade do poder constituinte, tem-se afirmado 
que há dois poderes que tudo podem: o poder de Deus no Céu e o poder 
constituinte na Terra. O poder de Deus dá início ao mundo em geral, cuja 
obra terá seqüência com a natureza e os seres humanos. Mas há outro poder – 
o poder constituinte – que dá início à criação do mundo jurídico em 
particular, prescrevendo o modo pelo qual esse mundo jurídico irá receber 
seus complementos, que são necessários e infinitos. 
 
O poder constituinte, em razão de sua ilimitabilidade, pode tudo. 
Todavia, esse poder tudo necessita ser mais bem compreendido. 
 A tese, segundo a qual o poder constituinte é ilimitado, tem sido 
rejeitada. Fala-se, por conseguinte, em uma ‘vontade de constituição’ capaz de 
condicionar a vontade do criador. A doutrina (CANOTILHO, 2002, p. 81) 
mostra a existência de algumas condicionantes, assim resumidas: 
 
a) se a Constituição a ser elaborada deve ter por escopo organizar e limitar o 
poder, então o poder constituinte, ao fazer sua obra, estará condicionado 
por esta “vontade de constituição”. Deseja-se o poder organizado e 
limitado e esta circunstância condiciona a vontade do criador; 
b) o poder constituinte é “estruturado e obedece a padrões e modelos de 
condutas espirituais, culturais, éticos e sociais radicados na consciência 
jurídica geral da comunidade” (CANOTILHO, 2002, p. 81). Esses valores 
condicionam sua atuação; 
c) certos princípios de justiça, impregnados na consciência de homens e 
mulheres, são condicionantes incontornáveis da liberdade e onipotência do 
poder constituinte. Se pode tudo, já não lhe é permitido contrariar os 
princípios de justiça, como, por exemplo, o de que não se deve lesar a 
outrem; 
d) o poder constituinte, embora seja a expressão máxima da soberania popular 
no âmbito do Estado-nação, não pode simplesmente ignorar princípios de 
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Direito Internacional. Ao contrário, deve estar vinculado a alguns desses 
princípios, tais como o princípio da independência, o princípio da 
autodeterminação dos povos, o princípio da prevalência dos direitos 
humanos, o princípio da igualdade entre os Estados, o princípio da defesa 
da paz e o princípio da solução pacífica dos conflitos. 
 
Poder reformador 
 
Noção 
O poder reformador tem vários nomes: poder constituinte reformador, 
poder de reforma constitucional, poder constituintede segundo grau, poder 
constituinte secundário, poder constituído, poder instituído, poder de emenda 
constitucional, poder de emendabilidade, poder constituinte derivado, 
competência reformadora e competência constituinte derivada. 
 
Utilizar-se-á a terminologia poder reformador. Trata-se do poder que, 
previsto na própria Constituição, é encarregado de fazer alterações que esta 
necessita. Sob tal ótica, ele “visa, em última análise, permitir a mudança da 
Constituição, a adaptação da Constituição às novas necessidades, a novos 
impulsos, a novas forças, sem que para tanto seja preciso recorrer ao Poder 
Constituinte originário”. Seu objetivo é “permitir a modificação da 
Constituição dentro da ordem jurídica, sem uma substituição da ordem 
jurídica, sem a ação, quase sempre revolucionária, do Poder Constituinte 
originário”. 
 
O poder reformador atua por meio de duas formas, para alterar a 
Constituição: emenda ou revisão. A emenda deve ser utilizada quando se 
pretende fazer mudanças específicas, pontuais, localizadas (art. 60). A revisão, 
quando o objetivo for realizar alterações gerais na Constituição (ADCT, art. 
3º). Frise-se que, no Brasil, já se fez uma revisão constitucional, não mais 
sendo possível utilizar este mecanismo para alterar a Constituição. 
 
Natureza 
O poder reformador é um poder de Direito. Tem, portanto, natureza 
jurídica, estando submetido às regras estabelecidas na Constituição Federal. 
 
Titular 
Pode-se identificar diferentes titularidades do poder de reforma, 
conforme o olhar do estudioso: a) um órgão estatal, em regra o Parlamento, 
sendo que, no caso brasileiro, seria o Congresso Nacional; b) o próprio titular 
do poder constituinte originário, que é o povo. Se este detém a titularidade do 
poder de fazer a Constituição, nada impediria que a detivesse para reformá-la. 
 
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Agente 
O agente do poder reformador é um órgão estatal, indicado pelo poder 
constituinte originário, devendo estar previsto na própria Constituição. No 
caso brasileiro, é o Congresso Nacional (art. 60, § 2º). Mas não se deve olvidar 
que o agente do poder de reforma constitucional será aquele que o poder 
constituinte originário disser que é. Por exemplo, a Constituição francesa de 
1958 atribuiu ao presidente da República a competência para reformar a 
Constituição. 
 
Formas de manifestação 
O poder reformador, ao alterar a Constituição, pode atuar de duas 
formas: a) aprova a Emenda à Constituição e a promulga; b) aprova a Emenda 
à Constituição e, em seguida, submete à votação popular, para ser ou não 
referendada. Fala-se, nesse caso, em referendo constitucional. 
 
Características 
O poder reformador é derivado, condicionado e limitado. Trata-se, 
portanto, de um poder localizado no campo do Direito que o Estado produz, 
não existente por si, visto ter sido criado pelo poder constituinte originário. 
 
Derivado. O poder de reforma da Constituição deriva do poder 
constituinte originário, que o inseriu na Constituição. Ao contrário do seu 
criador, ele não inaugura, não instaura, não implanta uma nova ordem jurídica. 
Apenas atua no sentido de modificá-la. 
 
Condicionado. O exercício do poder de reforma constitucional deve 
observar os critérios estabelecidos na própria Constituição (art. 60). O 
processo de iniciativa, elaboração, discussão, votação e promulgação da 
Emenda à Constituição será aquele estabelecido pelo poder constituinte 
originário, completado, quando for o caso, por normas regimentais. 
 
Limitado. Há limites ao poder de reforma constitucional. Ele não é 
livre para agir. As limitações a ele impostas são de várias espécies: processuais, 
circunstanciais, temporais e materiais: 
 
a) limitações processuais – são limitações de forma, de procedimento, de modo de 
fazer. O poder reformador, ao produzir normas constitucionais, terá que 
observar o procedimento estabelecido na Constituição. Assim: 1) o projeto 
de emenda constitucional deve ser subscrito pelo Presidente da República; 
por um terço, no mínimo, de Deputados Federais ou Senadores; ou por 
mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação 
(art. 60, incisos I, II e III); 2) a aprovação da emenda constitucional deve 
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obter, por duas vezes, os votos favoráveis de três quintos dos 
parlamentares, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ou seja, são 
necessários três quintos dos votos, duas vezes na Câmara dos Deputados, e 
três quintos dos votos, duas vezes no Senado (art. 60, § 2º); 
b) limitações circunstanciais – são, por óbvio, limitações de circunstância. Quando 
estiver presente uma das circunstâncias previstas na Constituição (art. 60, § 
1º), esta não poderá ser emendada à Constituição. Desse modo, o poder 
reformador está impedido de atuar quando estiver em vigência o estado de 
sítio, o estado de defesa ou a intervenção federal. Presente uma dessas 
circunstâncias, não pode ser protocolado novo projeto de emenda 
constitucional e as que estiverem tramitando têm seu curso paralisado. 
Superada a circunstância, no entanto, o poder de emendabilidade pode 
retomar seu curso natural; 
c) limitações temporais – O poder de reforma constitucional permanece 
imobilizado por certo lapso de tempo. Em dois momentos, o poder 
constituinte originário criou tais limitações na Constituição de 1988: 1) 
proibiu que a Constituição fosse alterada nos primeiros cinco anos, 
contados da data de sua promulgação pela Assembléia Nacional 
Constituinte (ADCT, art. 3º); 2) proibiu que a matéria constante de 
proposta de emenda constitucional rejeitada ou havida por prejudicada seja 
objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa, ou seja, no mesmo 
ano em que foi rejeitada ou tida por prejudicada (art. 60, § 5º). 
A Constituição de 1824, por exemplo, também estabeleceu uma 
limitação temporal ao poder reformador, impedindo que a Constituição 
pudesse ser alterada nos quatro primeiros anos de vigência (art. 174); 
c) limitações materiais – são limitações impostas ao poder reformador que 
dizem respeito a certas matérias. Há determinadas matérias sobre as 
quais não pode haver emenda constitucional com o escopo de suprimir 
ou restringir. Há limitações materiais explícitas e, também, implícitas. 
 
As limitações materiais explícitas são as do art. 60, § 4º. Não pode haver 
emenda constitucional tendente a abolir (total ou parcialmente) qualquer das 
matérias ali referidas: a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, 
universal e periódico; a separação de poderes e os direitos e garantias 
individuais. 
 
Todavia, há outras limitações que, embora não estejam expressas na 
Constituição (daí serem chamadas de implícitas), incidem sobre o poder de 
reforma constitucional. Podem ser relacionadas as seguintes limitações 
implícitas ao poder reformador: 
 
1) não pode mudar o titular do poder constituinte originário; 2) não pode 
substituir o titular do próprio poder reformador, ou seja, substituir-se a si 
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mesmo por outro; 3) não pode alterar o processo de elaboração da emenda 
constitucional, quando o objetivo for facilitar alterações constitucionais; 4) 
não pode alterar a cláusula que instituiu as cláusulas pétreas, ou seja, não pode 
alterar (revogar total ou parcialmente) o art. 60, § 4º da Constituição Federal e 
5) não pode extinguir o Estado. 
 
Poder constituinte decorrente 
Entende-se por decorrente o poder que, no Estado federal, é concedido 
aos seus membros de elaborarem suas próprias constituições. Torna-se 
importante estudá-lo, na medida em que o Brasil é um Estado federal. 
 
O poder constituinte originário assegurou a cada Estado,como unidade 
da Federação, o poder de organizar-se e de reger-se pela Constituição e pelas 
leis que adotar, dentro dos limites da Constituição Federal (art. 25). Ao prever 
o poder de o Estado-membro organizar-se, concedeu-lhe o poder de criar sua 
própria Constituição, ou seja, criar normas constitucionais estaduais. 
 
Por outro lado, no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, o 
constituinte originário fixou prazo para a elaboração das constituições 
estaduais: “Cada Assembléia Constituinte, com poderes constituintes, 
elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da 
promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta” (art. 
11). 
 
 
 
5 - HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL 
 
Sob a expressão “Hermenêutica Constitucional”, enquadra-se a análise da 
Validade, Vigência, Aplicabilidade, Interpretação e Integração das 
Normas Constitucionais (Visão Abrangente). Na visão em Sentido Estrito 
Hermenêutica Jurídica significa, apenas, interpretação. 
 
Validade 
 
Validade pressupõe elaboração de normas segundo o Processo Legislativo 
Previsto (Validade Formal), bem como, a compatibilidade do Conteúdo das 
Normas com o Ordenamento Vigente (Validade Material). 
 
As Normas Constitucionais Originárias são sempre válidas, pois, foram 
produzidas pelo Poder Constituinte Originário, que é Ilimitado e 
Incondicionado. O STF reconheceu que não cabe a um Poder Constituído 
invalidar Norma produzida pelo Poder Constituinte Originário. O STF, por 
mais de uma vez (ADI 815, 3300) não admitiu a aplicação, no Brasil, da Tese 
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da Inconstitucionalidade de Normas Constitucionais Originárias, Tese esta 
desenvolvida pelo Alemão Otto Bachof. 
 
Segundo esta Tese, seria possível a Declaração de Inconstitucionalidade de 
Normas Originárias da Constituição que violassem um Direito Suprapositivo, 
como o Direito Natural ou, então, que violassem o Núcleo Central da própria 
Constituição, como as Cláusulas Pétreas. 
 
No Brasil, admite-se apenas a possibilidade de Declaração de 
Inconstitucionalidade de Normas Constitucionais Derivadas, ou seja, 
produzidas pelo Poder Constituinte Derivado Reformador (Ex: EC’s). Neste 
caso, pode-se questionar a Validade Formal ou Material. 
 
Vigência 
 
É a qualidade da norma, que dá a ela Força de Execução Compulsória. As 
Normas Constitucionais Originárias e Derivadas tem Vigência Imediata, via 
de regra, salvo, expressa previsão em sentido contrário na própria Norma 
Constitucional. A Repercussão da vigência de uma Nova Constituição em 
relação ao Ordenamento Jurídico Anterior é a seguinte: 
 
a) Em relação a Constituição Anterior: No Brasil, prevalece a posição de 
que a Nova Constituição provoca a Revogação Total ou Ab-rogação da 
Constituição Anterior, salvo, expressa menção em sentido contrário na Nova 
Constituição (art. 34, do ADCT); 
b) Desconstitucionalização: O STF não admitiu no Brasil. Seria o 
fenômeno pelo qual as normas da Constituição Anterior Compatíveis com a 
Nova Constituição, teriam sua Vigência Preservada, mas, com outra natureza, 
pois, passariam a ser Leis Infraconstitucionais. Diante da posição do STF que 
não reconheceu esse fenômeno, só será possível o Reconhecimento da 
Desconstitucionalização, por previsão expressa em uma Futura Constituição 
Brasileira. Da mesma maneira, só será admitida a Repristinação de Normas 
Constitucionais por previsão expressa em uma Futura Constituição. 
 
Consequências da Vigência de uma Nova Constituição em relação a 
uma Legislação Infraconstitucional Anterior 
 
Aplica-se no Brasil o Princípio da Recepção. Isto significa que, a Legislação 
Infraconstitucional Anterior Compatível com a Nova Constituição terá sua 
vigência mantida, sendo recepcionada. Ocorre verdadeira Novação da 
Legislação Anterior. 
 
Para a verificação da Recepção promove-se, apenas, um Juízo de 
Conformidade Material, ou seja, é suficiente que o Conteúdo da Legislação 
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Anterior seja Compatível com a Nova Constituição, não importando a 
presença de eventual Incompatibilidade Formal. Entretanto, só se admite a 
Recepção de Leis que já eram Compatíveis Material e Formalmente com a 
Constituição Anterior. 
 
A Legislação Infraconstitucional Anterior, que contraria a Nova Constituição 
não é Recepcionada. Para o STF, a não Recepção implica Revogação dessa 
Legislação Anterior. Alguns autores sustentam que a não Recepção, provoca a 
Inconstitucionalidade Superveniente, afinal, a Lei era válida sob a Constituição 
Anterior e tornou-se contrária a Nova Constituição. 
 
Porém. esta posição não é admitida pelo STF. Por este motivo, Leis 
Anteriores à Constituição não podem ser questionadas por meio de ADIN. 
As Leis Anteriores só podem ser questionadas mediante ADPF, que provoca 
o Controle Concentrado ou, então, pela Via de Exceção ou Defesa (que é o 
que provoca o Controle Difuso). 
 
Aplicabilidade das Normas Constitucionais 
 
A Primeira Classificação das Normas Constitucionais quanto a aplicabilidade 
foi desenvolvido pelo constitucionalista Norte-Americano Thomas Cooley. 
Segundo esta Doutrina Clássica, as Normas Constitucionais podem ser 
Autoexecutáveis (“self executing”) e, também, podem ser não Autoexecutáveis 
(“nor self executing”). 
 
As Primeiras são Normas Claras, enquanto que, a Segunda depende de 
Regulamentação Posterior. Por este motivo, para a Doutrina Clássica, as 
Normas não Autoexecutáveis não teriam Força Obrigatória, mas, apenas 
recomendariam Posturas Legislativas. Atualmente, prevalece o entendimento 
de que todas as Normas Constitucionais tem Eficácia (Força Obrigatória). O 
que varia é o Grau de Aplicabilidade. 
 
 A classificação mais usada atualmente é a seguinte: 
 
Normas Constitucionais de Eficácia Plena: são normas completas, claras, 
que contém as informações necessárias para a sua compreensão permitindo 
sua Aplicabilidade Imediata. 
 
Normas Constitucionais de Eficácia Contida: também chamadas Normas 
de Integração Restringíveis ou Redutíveis, ou ainda Normas de Eficácia 
Relativa Restringíveis (MHD). Também são normas completas, portanto, de 
Aplicabilidade Imediata, mas, estas normas admitem a Possibilidade de Edição 
de uma Lei ou de uma Providência do Poder Público que restrinja o Direito 
consagrado na própria Norma Constitucional. 
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Exemplo: Ar. 5º, XIII, CF (“XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, 
ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei 
estabelecer”). 
 
Para José Afonso da Silva, também, são Normas de Eficácia Contida, aquelas 
que prevêem a Possibilidade de Restrições a Direitos por razões de 
Necessidade ou Utilidade Pública, Interesse Social, Preservação da Ordem, 
Calamidade Pública, Iminente Perigo Público, entre outras do mesmo Gênero. 
Exemplo: art. 5º, XXV, CF (“XXV - no caso de iminente perigo público, a 
autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao 
proprietário indenização ulterior, se houver dano”). 
 
Normas Constitucionais de Eficácia Limitada (também chamada Normas de 
Integração Completáveis, ou ainda, Normas de Eficácia Relativa, dependente de 
Complementação - Maria Helena Diniz): Estas normas são incompletas e, por isso, 
sua aplicabilidade depende de Regulamentação Posterior. São consideradas 
Normas de Aplicabilidade Diferida ou Mediada. Ex: Art. 153, VII, CF 
(Imposto sobre Grandes Fortunas); Art. 37, VII, CF (Direito de Greve do 
Servidor Público). 
 
José Afonso da Silva identifica entre as normas de Eficácia Limitada, as 
chamadas Normas Institutivas ou de Princípio Institutivo e Normas 
Programáticas ou de Princípio Programático. 
 
 Normas Institutivas: são as que prevêem a possibilidadeou necessidade de 
Criação, Organização ou Disciplina de Competências de Órgãos, Instituições 
em Geral, ou mesmo, de Entes Políticos. Ex: Art. 134, CF, que prevê que os 
Estados DEVEM criar suas Defensorias Públicas; Art. 98, II, CF, que é um 
exemplo de Norma Institutiva Impositiva – Justiça de Paz eleita pelo Voto 
Popular. 
 Normas Programáticas: são aquelas que prevêem a necessidade de 
implementação de Programas Sociais e Econômicos. Para o STF, estas 
normas tem Aplicabilidade Gradativa, uma vez que, há a necessidade de 
Disponibilidade Orçamentária, salvo, quanto ao Mínimo Existencial. 
Todas as Normas Constitucionais de Eficácia Limitada produzem alguns 
efeitos de Imediato, antes mesmo da Regulamentação, como por exemplo, 
provocam a não recepção da Legislação Infraconstitucional Anterior com elas 
Incompatível. Além disso, essas normas também condicionam a atuação 
futura do Legislador que não poderá contrariá-las. 
 
Normas Constitucionais de Eficácia Exaurida ou Esgotada ou Esvaída: 
São aquelas que já cumpriram TODOS os seus Objetivos. As Disposições 
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Transitórias tem vários exemplos – Art. 3º, ADCT, que prevê a Reforma 
Constitucional, que já foi realizada. Art. 2º, ADCT, que previu a realização de 
um Plebiscito para Formas e Sistema de Governo, sendo que esse Plebiscito, 
também já foi realizado. 
 
Normas Constitucionais de Eficácia Absoluta: São as cláusulas pétreas. 
 
 
Interpretação das Normas Constitucionais 
 
Admite-se para a Interpretação Constitucional o emprego de Métodos 
Clássicos, bem como, de Princípios e Métodos utilizados, principalmente ou 
exclusivamente, para a Interpretação da Constituição. 
 
Entre os Métodos Clássicos mais utilizados constam: 
 
a) Método Histórico: busca identificar a vontade do Legislador. Busca a 
Justificativa das Propostas, o porque do Veto. Busca lá atrás a vontade que o 
Legislador adotou para fazer a Lei (art. 12, §1º, CF – Os Portugueses têm o 
mesmo Direito que os Brasileiros Naturalizados – Antigamente o texto dizia 
“Brasileiros Natos” e após, retirou o “Natos”- Entender-se-ia que seriam 
Todos os Brasileiros, natos e naturalizados, mas, o Legislador quis que fosse 
interpretado como “naturalizados”); 
b) Método Teleológico: é o que busca identificar a Finalidade da Norma; 
c) Método de Interpretação Literal ou Gramatical: geralmente, é só o 
ponto de partida para a Interpretação da Norma; 
d) Método de Interpretação Autêntica: é aquela promovida por Ato de 
mesma Natureza daquele que foi objeto da Interpretação; é a hipótese de 
edição de Lei para Interpretar outra Lei ou de Emenda para Interpretar 
Norma Constitucional. 
 
Existem, também, Mecanismos utilizados, exclusiva ou preponderantemente, 
para a Interpretação Constitucional. Esses Mecanismos compreendem 
Princípios e Métodos Interpretativos. São eles: 
 
 Princípio da Supremacia Constitucional – Exclusivo para 
Interpretação Constitucional. É a base para Todas as Leis. 
 Princípio da Unidade Constitucional – Significa que as Normas 
Constitucionais devem ser interpretadas como um Sistema Normativo 
de mesmo Grau Hierárquico. É uma consequência da Interpretação 
Sistemática. 
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 Princípio do Efeito Integrador – Significa que a interpretação dada 
às Normas Constitucionais deve promover a Integração Social e 
Política do Estado e da Sociedade. 
 Princípio da Cedência Recíproca – Diante de eventual conflito entre 
Normas Constitucionais será preciso buscar uma Interpretação 
Conciliatória, Harmonizadora que permita a aplicação de todas essas 
Normas. 
 Princípio da Coloquialidade – Sempre que possível, os termos 
utilizados pela Constituição devem ser Interpretados no Sentido 
Coloquial, ou seja, não Técnico, pois, Constituição é um documento 
essencialmente Político, feito indiretamente pelo Povo e que deve ser 
por ele compreendido. Ex: Quando fala na Liberdade de Associação 
(Não a do CC, mas, em Sentido Amplo) e a Medida Cautelar (No 
sentido de Medida concedida no Início). 
 Princípio da máxima Efetividade das Normas Constitucionais – 
Segundo o qual a interpretação deve visar a máxima Eficácia dos 
objetivos da Constituição. 
 Princípio da máxima Efetividade dos Direitos Fundamentais – 
Em primeiro lugar, significa que, sempre que possível, deve ser dada as 
Normas Constitucionais sobre Direitos Fundamentais uma 
interpretação que favoreça sua Aplicabilidade Imediata. 
Em segundo lugar, significa que, diante de eventual conflito entre uma Norma 
Constitucional sobre Direitos Fundamentais e outra que trate de Assunto 
Diverso, deve ser dada Primazia à Primeira. 
 
 Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade – embora um 
seguimento Doutrinário considere estas expressões sinônimas, a 
maioria, as diferencia. Razoabilidade é o parâmetro de valoração das 
Normas e Atos do Poder Público para verificar se eles estão imbuídos 
do ideal de Justiça. 
Na tentativa de dar a Razoabilidade contornos menos Subjetivos, a Doutrina 
entende que a Interpretação Razoável é a que observa, no mínimo, os valores 
tradicionais de toda Organização Estatal, tais como, Ordem, Paz, 
Solidariedade, dentre outros. A Doutrina também reconhece que a 
Razoabilidade é Limitada pelo próprio Ordenamento Jurídico, sendo chamada 
de Razoabilidade Interna. 
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 Além disso, a Razoabilidade deve adequar-se aos objetivos da própria 
Constituição, o que é a chamada Razoabilidade Externa. 
 
Princípio da Proporcionalidade - significa que o Estado só deverá agir na 
exata medida do necessário. Por isso, o Princípio, também é denominado de 
Princípio da Proibição do Excesso. Seus pressupostos são: Verificação da 
Adequação, Necessidade e da Proporcionalidade em Sentido Estrito, isto é, a 
Realização de uma Ponderação entre o ônus acarretado e as vantagens geradas 
pela atuação Estatal. Vedação do art. 5º, CF, para a utilização de Provas 
Obtidas de forma Ilícita. O STF já chegou a admitir, tomando por base o 
Princípio da Proporcionalidade. 
 
Método de Interpretação Evolutiva - É aquele que busca identificar, não a 
vontade do Legislador, mas sim, a Interpretação que dá a um texto mais 
utilidade à luz da Realidade Social do Momento. É o Método que favorece o 
fenômeno da Mutação Constitucional. Conforme destacou o STF, em 
abril/2010, no julgamento da ADPF 153, o significado válido dos Textos é 
variável no Tempo e no Espaço, Histórico e Culturalmente. A Interpretação 
do Direito não é mera dedução do Texto e, sim, Processo de Contínua 
Adaptação dos significados dos Textos, às novas Realidades. 
 
Método Tópico de Interpretação – é aquele que não parte da Análise do 
Texto Constitucional e, sim, da observação dos Casos Concretos. Leva-se em 
conta cada argumentação apresentada pelos vários Segmentos Sociais, até que 
se reconheça uma como Válida, definindo, então, o significado da Norma 
Constitucional  é a chamada “Teoria da Argumentação”. Observa-se os 
Casos Concretos e, a partir daí, que se extrai a Interpretação da CF. 
 
Obs.: a Doutrina Contemporânea tem seguido, em grande parte, a ideia do 
Alemão Peter Häberle, no sentido de que a Interpretação Constitucional não é 
Tarefa Exclusiva dos Juizes e, sim, de Todos os seguimentos da Sociedade e 
Órgãos do Estado. É o que Häberle denominou de “Sociedade Aberta dos 
Interpretes da Constituição”. 
 
Esta noção foi expressamente adotada no Processo Constitucional, 
principalmente, para democratizar o Controle Concentrado de 
Constitucionalidade. É o fundamento da Previsão Legal da Possibilidade de 
Convocação de Audiências Públicas, no Processo da ADI e das outras Ações 
de Controle Concentrado (ADPF),

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